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Tabelas de vida de Fannia pusio (Wied.) (Diptera: Fanniidae)

Fannia pusio's (Wied.) (Diptera: Fanniidae) life table

Resumos

Vários aspectos da dinâmica populacional de F. pusio (Wiedemann) foram estudados no laboratório. Os adultos foram coletados em Monte-Mor, SP, Brasil. Os adultos foram mantidos no laboratório e alimentavam-se de um meio rico em leite em pó, açúcar, levedo de cerveja e gaze embebida em água. Como meio de oviposição forneceu-se ração fermentada de animal. A taxa reprodutiva (Ro) e a taxa de incremento natural (Rm), mais elevada ocorreram a 27ºC com taxa de 48,18 e 0,1849, respectivamente. O maior tempo de geração foi a 20ºC.

Insecta; taxa reprodutiva; temperatura; taxa de incremento natural


Several aspects of the population dynamic of F. pusio (Wiedemann) were studied in the laboratory. Adults were collected in Monte-Mor, SP, Brazil. Adults were kept in the laboratory and were fed with powdered milk, sugar and brewers yeast. Water was offered in separate vials. Fermented food for laboratory animals was used as oviposition medium. The reprodutive rate (Ro) and the rate of natural increase (Rm) were higher at 27ºC, with rates of 48,18 and 0,1849, respectively. The greater generation time occurred at 20ºC.

Insecta; reprodutive rate; temperature; rate of natural increase


COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

Tabelas de vida de Fannia pusio (Wied.) (Diptera: Fanniidae)

Fannia pusio's (Wied.) (Diptera: Fanniidae) life table

Carlos H. MarchioriI; Ângelo P. PradoII

IDepartamento de Biologia, Caixa postal 23-T, Instituto Luterano de Ensino Superior de Itumbiara, 75500-000, Itumbiara, GO

IIDepartamento de Parasitologia, Caixa postal 6109, UNICAMP, 13081-970, Campinas, SP

RESUMO

Vários aspectos da dinâmica populacional de F. pusio (Wiedemann) foram estudados no laboratório. Os adultos foram coletados em Monte-Mor, SP, Brasil. Os adultos foram mantidos no laboratório e alimentavam-se de um meio rico em leite em pó, açúcar, levedo de cerveja e gaze embebida em água. Como meio de oviposição forneceu-se ração fermentada de animal. A taxa reprodutiva (Ro) e a taxa de incremento natural (Rm), mais elevada ocorreram a 27ºC com taxa de 48,18 e 0,1849, respectivamente. O maior tempo de geração foi a 20ºC.

Palavras-chave: Insecta, taxa reprodutiva, temperatura, taxa de incremento natural.

ABSTRACT

Several aspects of the population dynamic of F. pusio (Wiedemann) were studied in the laboratory. Adults were collected in Monte-Mor, SP, Brazil. Adults were kept in the laboratory and were fed with powdered milk, sugar and brewers yeast. Water was offered in separate vials. Fermented food for laboratory animals was used as oviposition medium. The reprodutive rate (Ro) and the rate of natural increase (Rm) were higher at 27ºC, with rates of 48,18 and 0,1849, respectively. The greater generation time occurred at 20ºC.

Key words: Insecta, reprodutive rate, temperature, rate of natural increase.

A família Fanniidae pode ser reconhecida pela presença da cerda submediana na tíbia posterior, ou pela presença da primeira nervura anal (A1) pequena e a segunda nervura (A2) curvada fortemente que se estendida interceptaria a primeira (Chillcott 1960). As larvas são achatadas dorsoventralmente apresentando processos laterais proeminentes em cada segmento (Kettle 1984),

A família é composta por quatro gêneros: Australofannia Pont, Euryomma Stein, Fannia Robineau-Desvoidy e Piezura Rondani. O gênero Fannia caracteriza-se por apresentar duas fortes cerdas dorsocentrais presuturais (Pont 1977). F. pusio pertence ao grupo canicularis (Albuquerque et al. 1981) e ao subgrupo pusio, cujos machos apresentam o abdome trimaculado dorsalmente com pernas e tórax pretos (Seago 1954). Os adultos são encontrados freqüentemente associados ao ambiente modificado pelo homem, com suas larvas criando-se em matéria orgânica em decomposição (Pont 1977).

As coletas foram realizadas na Granja Capuavinha situada no município de Monte-Mor-SP. É uma granja de porte médio com um plantel de 420.000 aves da linhagem "Hyline".

Utilizou-se um puçá com uma abertura de 50 cm de diâmetro, construído de organza, armação de metal e cabo de madeira, que era passado sobre o esterco acumulado para a coleta das moscas. Os adultos coletados no campo foram colocados em um congelador por 2 min, para serem anestesiados pelo frio facilitando a separação das demais espécies. Após a separação eram transferidos para uma gaiola (30 cm de comprimento x 15 cm de largura x 15 cm de altura), contendo gaze embebida em água no seu interior, uma mistura de leite em pó, levedo de cerveja e açúcar para a alimentação das moscas. Para a manutenção da colônia no laboratório, ração de camundongo fermentada foi fornecida como meio de oviposição. As desovas obtidas foram depositadas em frasco plástico, contendo ração fermentada para o desenvolvimento das larvas após a eclosão dos ovos. A abertura dos frascos era vedada com organza presa com elástico, para impedir a saída dos adultos após a emergência. O frasco era transferido para uma gaiola para emergência dos adultos. Os adultos e seus estágios imaturos eram mantidos na sala de criação, sob temperatura de 27ºC, umidade de 60±5% e fotoperíodo de 12:12 (L.E.).

Um total de 25 fêmeas de mesma idade foram observadas diariamente. Anotava-se o número de fêmeas sobreviventes e o número de ovos produzidos, para os cálculos da tabela de vida. Três temperaturas foram utilizadas; 20, 27 e 33ºC (Marchiori 1996). O experimento foi executado em câmara climática com umidade de cerca de 65% e fotoperíodo de 12 :12 (L.E.).

Os cálculos para os parâmetros definidos na tabela de vida foram feitos usando-se o programa Life 48 Basic de About-Setta et al. (1986) onde:

M - número de ovos diários;

L - número de fêmeas vivas diárias;

X - idade real das fêmeas (desde o estágio de ovo);

Mx - taxa de fecundidade;

Lx - proporção de sobreviventes na idade X;

MxLx - progênie fêmea por taxa de fêmeas sobreviventes no tempo;

RML - MXLX. Exp. (Rm.x);

Ro - taxa reprodutiva;

Rm - taxa intrínsica de incremento natural.

A taxa reprodutiva (Ro) mais elevada foi 48,18 e ocorreu a 27ºC, na qual se obteve também a maior fecundidade. A temperatura de 20ºC apresentou taxa intermediária, 29,21, e a taxa mais baixa foi 3,39, obtida a de 33ºC (Tabelas 1, 2 e 3), refletindo longevidade e fecundidade menores, parâmetros utilizados para o cálculo da taxa reprodutiva (Ro).

A fecundidade e longevidade de adultos de F. pusio foram determinadas nas temperaturas constantes de 20, 27 e 33ºC. A média do número de ovos depositados por fêmeas foi de 324, 342 e 55, e a média do número de ovos depositados por fêmea diariamente foi de 7, 10,1 e 2,6, respectivamente. Nas três temperaturas a longevidade média foi de 26, 18,5 e 12 dias, respectivamente (Marchiori 1995). Aproximadamente 585 graus-dias foram necessários para o desenvolvimento do estádio de ovo até adulto de F. pusio (Marchiori 1996).

Fletcher et al. (1990) verificaram que em Musca domestica L. (Diptera: Muscidae) houve diminuição da fecundidade com a elevação da temperatura. Para Rockstein (1957), a reprodução das fêmeas é afetada pelos extremos de temperatura mais rapidamente que outras funções fisiológicas.

A longevidade e a fecundidade das fêmeas de F. pusio são influenciadas pela dieta. Dietas compostas de carboidratos e proteínas aumentam a longevidade e a fecundidade das fêmeas (Marchiori 1995).

A temperatura de 33ºC foi prejudicial tanto para a longevidade quanto para a taxa reprodutiva de F. pusio, pois, provavelmente parte da energia destinada a essa função fisiológica estaria sendo desviada com a finalidade de manter seu balanço hídrico em níveis aceitáveis para sua sobrevivência (Marchiori 1995).

F. pusio mostrou-se mais tolerante às altas temperaturas, sendo, portanto, mais abundante durante as estações quentes do ano. Como a temperatura média na região durante a maior parte do ano é alta (27ºC), isso explicaria em parte o sucesso da F. pusio em relação a Fannia caniculares (L.) e Fannia femoralis (Stein), as quais se desenvolvem mais rapidamente em temperaturas baixas (Marchiori 1996).

A taxa intrínseca de incremento natural (Rm) mais elevada foi 0,1849 a 27ºC, seguida por 0,1009 à temperatura de 20ºC. A menor taxa de crescimento foi 0,0670 a 33ºC (Tabela 4).

A taxa de incremento natural (Rm) é dependente da fecundidade, longevidade e do tempo de desenvolvimento do inseto, que por sua vez, é afetado pela temperatura, umidade, dieta e idade (Marchiori 1995).

Com relação ao tempo de geração (T), a temperatura que ocasionou o tempo maior foi 20ºC (33,41 dias) e a menor foi a de 33ºC com 19,88 dias. A 27ºC, o tempo de geração foi de 20,95 dias (Tabela 4). Observou-se que na temperatura mais baixa o tempo de geração foi maior do que nas temperaturas mais elevadas (Marchiori 1996).

As tabelas de vida são de grande valia para a compreensão da dinâmica populacional da espécie, pois nela constam os dados de uma população com relação à taxa de mortalidade (Silveira Neto et al. 1976), sobrevivência, taxa de reprodução, fertilidade, longevidade e tempo de desenvolvimento.

Literatura Citada

Recebido em 15/07/98. Aceito em 15/08/99.

  • Abou-Setta, M.M., C.C. Childers & R.W. Sorrell. 1986. Life 48: basic computer program to calculate tife-table parameters for na insect or mite species. Fla. Entomol. 69: 690-697.
  • Albuquerque, D.O., D. Pamplona & C.J.B. Carvalho. 1981. Contribuição ao conhecimento dos Fannia R. D., 1830 da região Neotropical (Diptera: Fanniidae). Arq. Mus. Nac. Rio de Janeiro, n. 56, 34p.
  • Chillcott, J.F. 1960. A revision of the Neartic species of Fanniidae (Diptera: Muscidae). Can. Entomol. Suplement. 14: 295p.
  • Fletcher, M.G., R.C. Axtell & R.E. Stinner. 1990. Longevity and fecundity of Musca domestica (Diptera: Muscidae) as a function of temperature. J. Med. Entomol. 27: 922-926.
  • Kettle, D. S. 1984. Medical and Veterinary Entomology. New York, John Wiley & Sons, 658p.
  • Marchiori, C.H. & A.P. Prado. 1995. Longevidade e fecundidade de Fannia pusio (Wiedemann, 1830) (Diptera: Fanniidae), em laboratório. Rev. Brasil. Biol. 55: 571-575.
  • Marchiori, C.H. & A.P. Prado. 1996. Efeito da temperatura no desenvolvimento dos estágios imaturos de Fannia pusio (Wiedemann, 1830) (Diptera: Fanniidae), em laboratório: Rev. Brasil. Biol. 56:93-98.
  • Pont, A. C. 1977. A revision of Australian Fanniidae (Diptera: Calyptrata). Aust. J. Zool. (Suppl.) n. 51, 60p.
  • Rockstein, M. 1957 Longevity of males and female house flies. J. Gerontol. 12: 253-246.
  • Seago, J.M. 1954. The Pusio group of the genus Fannia Robineau-Desvoidy, with descriptions of new species (Diptera: Muscidae). Am. Mus. Novitates. 1-13.
  • Silveira Neto, S.S., O. Nakano, D. Barbin, & N.A.V. Nova. 1976. Manual de Ecologia dos Insetos. São Paulo, Ed. Agronômica Ceres, 419p.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Maio 2006
  • Data do Fascículo
    Set 1999

Histórico

  • Aceito
    15 Jul 1999
  • Recebido
    15 Jul 1998
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