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Ocorrência e danos de Grapholita molesta (Busck) (Lepidoptera: Tortricidae) em pessegueiros no município de Caldas, MG

Occurrence and damage caused by Grapholita molesta (Busck) (Lepidoptera: Tortricidae) on peach trees, in Caldas, MG

Resumo

This work was carried out to evaluate the damages caused by Grapholita molesta (Busck) in twigs and fruits of peach trees (Prunus persicae) in Caldas, MG, during the growing seasons of 1995/96 and 1996/97. Fruits and twigs from three branches of fifteen plants were examined every 15 days. A great variation in the percentage of twigs damage was obtained throughout each season, especially in the second year, when a peak was observed in the end of January. The averages of the porcentage of damage were estimated in 22,9% and 19,4% in 1995/96 and 1996/97, respectively. The total incidence in fruits was 28,1% during the first year and 21,6% during the second year with peaks well definided in the end of October and beginning of November of 1995/96.

Insecta; oriental fruit moth; yield loss; Prunus persicae


Insecta; oriental fruit moth; yield loss; Prunus persicae

COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

Ocorrência e danos de Grapholita molesta (Busck) (Lepidoptera: Tortricidae) em pessegueiros no município de Caldas, MG

Occurrence and damage caused by Grapholita molesta (Busck) (Lepidoptera: Tortricidae) on peach trees, in Caldas, MG

Brígida SouzaI; Lenira V.C. Santa-CecíliaII; Luís O.V. de SousaII

IUniversidade Federal de Lavras, Departamento de Entomologia, Caixa postal 37, 37200-000, Lavras, MG; E-mail: brgsouza@ufla.br

IIEmpresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais, Centro Tecnológico do Sul de Minas, Caixa postal 176, 37200-000, Lavras-MG; E-mail:scecilia@ufla.br

ABSTRACT

This work was carried out to evaluate the damages caused by Grapholita molesta (Busck) in twigs and fruits of peach trees (Prunus persicae) in Caldas, MG, during the growing seasons of 1995/96 and 1996/97. Fruits and twigs from three branches of fifteen plants were examined every 15 days. A great variation in the percentage of twigs damage was obtained throughout each season, especially in the second year, when a peak was observed in the end of January. The averages of the porcentage of damage were estimated in 22,9% and 19,4% in 1995/96 and 1996/97, respectively. The total incidence in fruits was 28,1% during the first year and 21,6% during the second year with peaks well definided in the end of October and beginning of November of 1995/96.

Key words: Insecta, oriental fruit moth, yield loss, Prunus persicae.

A mariposa oriental Grapholita molesta (Busck, 1916), uma das principais pragas da cultura do pessegueiro, vem ocorrendo freqüentemente no Sul do Estado de Minas Gerais. No entanto, nenhum estudo foi realizado nesta região para obter informações sobre a intensidade de sua infestação visando definir as necessidades de controle. Os danos são provocados pelas lagartas que penetram no tecido vegetal tenro, na região dos ponteiros, alimentando-se dos primórdios foliares e abrindo galerias descendentes, causando a morte da parte atingida. Os maiores prejuízos contudo, são observados nos frutos, onde as lagartas penetram e se desenvolvem causando sua queda ou deixando-os imprestáveis para o consumo (Reichard & Bodor 1972, Salles 1991, Santa-Cecília & Souza 1997). A esses danos, somam-se aqueles provocados pelo fungos e outros insetos que se instalam nas lesões produzidas pela praga. O aparecimento de danos na cultura indica o estabelecimento da sua população, de difícil controle, uma vez que as lagartas encontram-se protegidas dentro dos ramos ou frutos.

O presente trabalho teve como objetivos estimar a intensidade dos danos causados pelas lagartas da mariposa oriental em brotações e frutos do pessegueiro no município de Caldas, MG, e caracterizar o período de maior ataque.

O trabalho foi conduzido na Fazenda Experimental da EPAMIG em Caldas, MG, nos meses de setembro de 1995 a maio de 1996 e setembro de 1996 a fevereiro de 1997, abrangendo os períodos vegetativo e reprodutivo da cultura.

Foram marcadas 15 árvores da cultivar "Biuti", efetuando-se amostragens quinzenais, em três pernadas por planta. Procedeu-se a contagem dos ramos e frutos, sadios e danificados pela praga, a cada amostragem, determinando-se as porcentagens médias de ataque, tendo-se como base os dados obtidos para as 15 árvores. Os frutos atacados foram colhidos e os ramos danificados foram amarrados com barbante logo abaixo da região de ataque, conforme metodologia utilizada por Salles & Marini (1989), para que fossem identificados e não incluídos na avaliação seguinte. O delineamento experimental foi em blocos casualizados, sendo cada bloco constituído por uma árvore; os tratamentos foram representados pelas épocas de amostragem. O número médio de brotações e frutos danificados foram calculados considerando-se a média de 15 árvores e submetidos à análise de variância, utilizando-se a transformação

para sua normalização, e as médias foram comparadas pelo teste de Scott e Knott a 5% de probabilidade. As plantas avaliadas receberam os tratos culturais normais recomendados para a cultura na região, exceto a aplicação de produtos fitossanitários.

As médias obtidas para o número de brotações danificadas no ano agrícola de 1995/96 diferiram significativamente entre si. O maior ataque foi verificado a partir da primeira semana de avaliação, realizada no final de setembro/95 prolongando-se até a primeira quinzena de fevereiro/96. Após esse período, observou-se um decréscimo significativo no número de brotos atacados, o que pode estar associado à lignificação dos ramos apicais, dificultando o ataque da praga (Fig. 1A). A porcentagem total de brotações danificadas atingiu 22,9 % nesse ano agrícola.


Com relação aos danos causados nos frutos, verificou-se um aumento a partir da primeira avaliação, efetuada na última semana de setembro, quando ainda encontravam-se verdes, porém formados e bem desenvolvidos. A maior intensidade de ataque foi constatada no final de outubro e início de novembro, em frutos já em fase de amadurecimento, verificando-se uma redução gradativa até o final das amostragens (Fig. 1A).

Considerando-se os resultados obtidos para o primeiro ano agrícola, verificou-se uma maior intensidade de ataque nos frutos (total de 28,1%) em comparação com as brotações (total de 22,9%), registrando-se a preferência da praga pelo desenvolvimento nos frutos.

No ano agrícola 1996/97, verificou-se uma intensidade variável de ataque em brotações ao longo das avaliações realizadas (Fig. 1B). De maneira geral, os danos ocasionados pela praga foram crescentes a partir do mês de novembro, atingindo o acme no final de janeiro, com posterior redução. O pico populacional coincidiu com a presença de brotos novos e ausência de frutos, o que certamente contribuiu para intensificar o ataque nas brotações. Esses resultados foram semelhantes àqueles obtidos por Bleicher et al. (1978), que evidenciaram uma maior ocorrência da mariposa oriental nos meses de dezembro a março, no município de Videira, SC.

Quanto aos danos causados nos frutos (Fig. 1B), verificou-se a presença da praga já no mês de setembro, com ocorrência relativamente estável durante todo o período de frutificação, não apresentando um pico de dano característico. No final do mês de novembro não foi encontrado nenhum fruto atacado.

Constatou-se o ataque da praga durante quase todo o período avaliado, verificando-se, contudo, menores porcentagens de frutos danificados em relação ao primeiro ano. Observou-se menor variação na intensidade de ataque para ambos os locais alvo da praga, atingindo danos de 19,4% e 21,6% em ramos e frutos, respectivamente. Verificou-se que os maiores danos em brotações e frutos ocorreram em épocas distintas devido à própria fenologia da planta. Esses períodos estão associados aos estádios mais propícios para o desenvolvimento do inseto, correspondendo à fase de amadurecimento dos frutos e à presença de brotos novos.

O total de brotações e frutos danificados, nos dois anos estudados, foi em média de 21,1% e 24,8%, respectivamente, evidenciando que a mariposa oriental é uma praga-chave para a cultura do pessegueiro na região de Caldas, MG. Esses resultados assemelharam-se àqueles obtidos por Carvalho (1987) que observou danos nos frutos da ordem de 26,6 a 43,3% para as cultivares de pessegueiros de ciclo tardio.

Agradecimentos

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais, FAPEMIG, pela concessão de recursos financeiros e bolsa de estudo que possibilitaram a realização dessa pesquisa; ao técnico Eli C. de Oliveira, pelo valioso apoio durante a condução do experimento.

Literatura citada

Recebido em 25/11/98. Aceito em 12/02/2000.

  • Bleicher, J., E. Bleicher & A.L. Schoreder. 1978. Flutuação populacional da mariposa oriental Grapholita molesta Busck (1916) no município de Videira, Santa Catarina. Florianópolis: EMPASC. 1978. 10p. (EMPASC. Indicação de Pesquisa, 25).
  • Carvalho, R.P.L. 1987. Manejo integrado de pragas do pessegueiro. Toda Fruta 2: 22-28.
  • Reichard, G. & J. Bodor. 1972. Biology of the oriental fruit moth (Grapholita molesta Busck) in Hungary. Acta Phytopathol. Acad. Sci Hung. 7: 279-295.
  • Salles, L.A.B. de & L.H. Marini. 1989. Etiologia do ataque das lagartas de Grapholita molesta (Busck, 1916) (Lepidoptera: Tortricidae) em pessegueiros. An. Soc. Entomol. Brasil 18: 337-345.
  • Salles, L.A.B. de. 1991. Grafolita (Grapholita molesta) bioecologia e controle: 2 ed. Pelotas: EMBRAPA-CNPFT. 1991. 13p. (EMBRAPA-CNPFT. Documentos, 42).
  • Santa-Cecília, L.V.C. & B. Souza. 1997. Reconhecimento e manejo das principais pragas do pessegueiro. Inf. Agropec. 18: 56-62.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Maio 2006
    • Data do Fascículo
      Mar 2000

    Histórico

    • Aceito
      12 Fev 2000
    • Recebido
      25 Nov 1998
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