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Kerion Celsi por Microsporum gypseum

Celsus Kerion caused by Microsporum gypseum

Resumos

Os autores apresentam um caso de Kerion Celsi por Microsporum gypseum em criança do sexo masculino,de 3 anos de idade, natural e procedente do Rio de Janeiro. Revisa-se a literatura, demonstrando a importância do caso.

arthrodermataceae; criança; microsporum


The authors report a case of Kerion Celsi caused by Microsporum gypseum in a 3-year-old boy. The literature was reviewed and demonstrated the significance of the case.

arthrodermataceae; child; Microsporum


CASO CLÍNICO

Kerion Celsi por Microsporum gypseum* * Trabalho realizado no Serviço de Dermatologia do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle - Escola de Medicina e Cirurgia - Universidade do Rio de Janeiro (UNI-RIO).

Celsus Kerion caused by Microsporum gypseum* * Trabalho realizado no Serviço de Dermatologia do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle - Escola de Medicina e Cirurgia - Universidade do Rio de Janeiro (UNI-RIO).

Coaraci Melo-MonteiroI; Carlos José MartinsI; Cristina de Sousa MonteiroII; Maria Bandeira de Melo PaivaII; Renato de Oliveira FagundesII

IProfessor Adjunto

IIPós-graduando em Dermatologia

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Coaraci Melo-Monteiro Rua Conde de Bonfim, 159/308 Tijuca Rio de Janeiro RJ 20520-050 Tel: (21) 2234-3427 E-mail: coaraci@internet.com.br

RESUMO

Os autores apresentam um caso de Kerion Celsi por Microsporum gypseum em criança do sexo masculino,de 3 anos de idade, natural e procedente do Rio de Janeiro. Revisa-se a literatura, demonstrando a importância do caso.

Palavras-chave: arthrodermataceae; criança; microsporum.

SUMMARY

The authors report a case of Kerion Celsi caused by Microsporum gypseum in a 3-year-old boy. The literature was reviewed and demonstrated the significance of the case.

Keywords: arthrodermataceae; child; Microsporum.

INTRODUÇÃO

O kerion Celsi é uma forma clínica de tinha do couro cabeludo que geralmente acomete as crianças. Apresenta-se clinicamente como placa edematosa, bem delimitada, dolorosa, com pústulas e abscessos que drenam pus. Esse quadro traduz uma resposta inflamatória aguda, intensa, do hospedeiro, formada principalmente contra os antígenos do dermatófito envolvido e não a uma infecção bacteriana secundária.1

No Brasil, os agentes etiológicos de kerion Celsi são o Trichophyton verrucosum, o Trichophyton mentagrophytes, o Microsporum canis e o Microsporum gypseum,2,3 que esporadicamente causa infecção humana.4

O Microsporum gypseum é um dermatófito geofílico, isolado pela primeira vez do solo, por Sabouraud, em 1894. Bodin, em 1907, realizou um estudo completo desse fungo com a descrição macroscópica e microscópica de culturas.5

RELATO DO CASO

FVS, do sexo masculino, pardo, três anos de idade, natural e procedente do Rio de Janeiro, apresentando há um mês, segundo o acompanhante, placa elevada, edematosa, de limites precisos, dolorosa, recoberta por crostas hemáticas na periferia, supurativa e localizada no couro cabeludo (Figura 1). A lesão era pruriginosa.


Material crostoso e purulento foi obtido por raspagem da lesão com bisturi objetivando a realização de exame micológico. O exame direto com potassa (KOH) a 20% evidenciou hifas septadas e artrósporos em parasitismo do tipo ectotrix. O material, semeado em meio de Sabouraud com cloranfenicol e actidiona (Mycosel) à temperatura ambiente, permitiu o isolamento de fungo identificado macro e microscopicamente como Microsporum gypseum (Figura 2).


O paciente foi tratado com griseofulvina oral, 250mg por dia, com regressão completa do quadro cutâneo em dois meses e sem apresentar seqüelas.

DISCUSSÃO

O Microsporum gypseum é fungo que também pode ser encontrado em animais como gatos e roedores.6 Dos dermatófitos geofílicos que infectam o homem, o Microsporum gypseum é o mais freqüente, mas, apesar da facilidade com que o mesmo é isolado do solo, as dermatofitoses causadas por ele são casuais, o que sugere certa resistência natural à infecção ou ao pequeno poder patógeno do fungo.5,7,8,9

O paciente em questão morava com os familiares numa residência, em que conviviam com animais como cachorro e gato. Segundo a mãe, a criança tinha contatos freqüentes com o solo do quintal de sua casa.

Setenta e um casos de dermatofitoses por Microsporum gypseum foram diagnosticados no interior do Rio Grande do Sul no período de 1960 a 1990, sendo 10 casos de kerion do couro cabeludo.8

O tratamento de escolha para o kerion Celsi é a administração de griseofulvina, por via oral, na dose de 20-25mg/kg/dia, durante período variável de seis a oito semanas.10

A apresentação desse relato visa chamar a atenção para a baixa incidência de infecção por Microsporum gypseum na cidade do Rio de Janeiro.9

Recebido em 26.07.2001.

Aprovado pelo Conselho Consultivo e aceito para publicação em 14.08.2002.

  • 1. Midgley G, Clayton Y M, Hay R J. Micologia Médica. 1ª ed. São Paulo: Manole, 1998: 38.
  • 2. Lacaz C S, Porto E, Martins J E C. Micologia Médica. 7ª ed. São Paulo: Sarvier,1984: 163.
  • 3. Cucé L C, Fiesta Neto C. Manual de Dermatologia. 2ª ed. São Paulo: Ateneu, 2001: 182.
  • 4. Severo L C, Conci L M A, Amaral A A. Microsporum gypseum - relato de surto de infecção e isolamento do solo. An Bras Dermatol 1989; 64(2): 119-120.
  • 5. Gonçalves A P. Considerações sobre as micoses causadas por Microsporum gypseum. An Bras Dermatol Sif 1953; 1(28):15-26.
  • 6. Offidani A, Simoncini C, Arzem D, Cellini A, Amerio P, Scalise G. Tinea capitis due to Microsporum gypseum in an adult. Mycoses 1998; 41:239-241.
  • 7. Gonçalves A P. Presença do Microsporum gypseum no solo como saprofita. O Hospital 1961;60(4):413-423.
  • 8. Lopes J O, Alves S H, Benevenga J P. Dermatofitose por Microsporum gypseum no interior do Rio Grande do Sul: estudo clínico. An Bras Dermatol 1992; 67(2):71-72.
  • 9. Fernandes N C, Lamy F, Akiti T, Barreiros M G C. Microsporum gypseum infection in Aids patient: a case report. An Bras Dermatol 1998; 73(1):39-41.
  • 10. Elewski B E. Tinea capitis: A current perspective. J Am Acad Dermatol 2000; 42:1-20.
  • Endereço para correspondência
    Coaraci Melo-Monteiro
    Rua Conde de Bonfim, 159/308 Tijuca
    Rio de Janeiro RJ 20520-050
    Tel: (21) 2234-3427
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    Trabalho realizado no Serviço de Dermatologia do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle - Escola de Medicina e Cirurgia - Universidade do Rio de Janeiro (UNI-RIO).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      25 Nov 2003
    • Data do Fascículo
      Jun 2003

    Histórico

    • Aceito
      14 Ago 2002
    • Recebido
      26 Jul 2001
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