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A autoria e seus critérios

Authorship and its criteria

EDITORIAL

A autoria e seus critérios

Authorship and its criteria

Em junho de 2005, a respeitada revista Science publicou o que parecia ser um dos maiores avanços da ciência: a possibilidade da clonagem terapêutica. O estudo, realizado na Universidade de Seul e assinado por Woo Suk Hwang e 24 co-autores, demonstrava a viabilidade da clonagem a partir da implantação do núcleo de uma célula somática em um oócito enucleado.

Em novembro do mesmo ano, Gerald Schatten, pesquisador da Universidade de Pittsburgh e co-autor de Hwang, acusou-o de mentir sobre as origens dos oócitos empregados em trabalho anterior, publicado em 2004. Uma comissão dessa universidade investigou o papel de Schatten no escândalo e concluiu por seu comportamento científico inadequado na pesquisa. Schatten fugira às responsabilidades de autor ao não detectar as inconsistências do trabalho e também por não obter a aprovação de cada um dos co-autores antes da submissão ao periódico. Para completar o parecer devastador, a comissão sugeriu que Schatten não merecia figurar como autor já que sua participação resumira-se a sugerir a contratação de um fotógrafo profissional para a foto do cão clonado.

Embora sejam numerosos os ensinamentos extraídos desse episódio, interessa-nos especificamente nesse editorial um dos mais delicados pontos em uma publicação científica: a autoria e seus critérios.

O International Committee of Medical Journal Editors, cujas recomendações são seguidas pelos Anais Brasileiros de Dermatologia, define autor como "aquele com real participação intelectual no estudo publicado". Especificamente, determina que "o critério de autoria deve ser baseado 1) em contribuições substanciais para a concepção e o desenho do trabalho, coleta, análise e interpretação dos dados; 2) redação do artigo e sua revisão crítica; e 3) aprovação final da versão a ser publicada". Os verdadeiros autores devem satisfazer às três condições.

Embora aparentemente simples e definitivamente objetivos, tais critérios são com freqüência negligenciados por razões que oscilam do inocente desconhecimento à fraude deliberada.

Duas são as práticas, ambas perversas e incorretas, mais comuns: autores convidados e autores fantasmas. Os primeiros são aqueles que aceitam, ou impõem, sua participação, mesmo que essa seja escassa ou até mesmo inexistente. Os convites visam aumentar as possibilidades de publicação com a inclusão de um nome de peso, retribuir favores, estimular a colaboração ou simplesmente manter boas relações. É desnecessário destacar, embora esteja longe de ser fato isolado, que a mera posição de chefia de serviço ou departamento não constitui per se critério de autoria.

Autores fantasmas, ou invisíveis, são aqueles que, embora tenham efetivamente redigido o texto, não recebem os devidos créditos ou não são listados na autoria. São relativamente comuns, embora não exclusivos, nas publicações oriundas de indústrias farmacêuticas ou fabricantes de equipamentos cujo conteúdo é orquestrado de forma a evidenciar as qualidades e minimizar os defeitos.

Os Anais Brasileiros de Dermatologia pressupõem a integridade científica de seus colaboradores. Reserva-se, contudo, o inalienável direito de exercer o controle necessário para afastar fantasmas e intrusos. q

Bernardo Gontijo

Editor Científico dos Anais Brasileiros de Dermatologia

Everton Siviero do Vale

Editor Científico Associado

Silvio Alencar Marques

Editor Científico Associado

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Abr 2008
  • Data do Fascículo
    Dez 2007
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