Acessibilidade / Reportar erro

Escabiose na cabeça e pescoço: nós a estamos reconhecendo?

Scabies involving head and neck: do we recognize it?

Resumos

Apesar de o acometimento de cabeça e pescoço de crianças mais velhas e adultos na escabiose ser conhecido, a literatura é pobre em sua descrição. Estudados 124 pacientes com escabiose clássica com cinco anos de idade ou mais, para pesquisa, descrição e registro fotográfico das lesões de cabeça e pescoço. Esses locais foram acometidos em 35,8% dos casos, e as lesões mais encontradas foram crostas hemáticas, pápulas eritematosas com e sem escoriações ou crostas sobrepostas e descamação adjacente.

Cabeça; Diagnóstico; Escabiose; Pescoço


Although the head and neck are known to be affected by scabies in older children and adults, the literature is quite scarce on this topic. A study with 124 patients aged 5 years or older with classic scabies was carried out to investigate, describe and photographically register lesions on head and neck. These sites were affected in 35.8% of cases, and the lesions more often observed were crusts, erythematous papules with or without excoriations and crusts, and scaling around lesions.

Diagnosis; Head; Neck; Scabies


COMUNICAÇÃO

Escabiose na cabeça e pescoço: nós a estamos reconhecendo?* * Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – Recife (PE), Brasil. Conflito de interesse / Conflict of interest: Nenhum Suporte financeiro / Financial funding: Nenhum

Scabies involving head and neck: do we recognize it?

Fabiana Thais KovacsI; Vera Magalhães da SilveiraII; Aurilene Monteiro BandeiraIII

IMestre em Medicina Tropical pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Professora substituta do Departamento de Dermatologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – Recife (PE), Brasil

IIDoutora em Doenças Infecciosas e Parasitárias pela Universidade Federal de São Paulo, Unifesp. Professora titular do Departamento de Medicina Tropical da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – Recife (PE), Brasil

IIIDoutora em Medicina Tropical pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Professora adjunta do Departamento de Dermatologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – Recife (PE), Brasil

Endereço para correspondência/Mailing Address Endereço para correspondência/Mailing Address: Fabiana Thais Kovacs Av. Eng. Domingos Ferreira 636 sala 509, Boa Viagem 51011 050 Recife - PE Tel./Fax: (81) 34259296 (81) 34650615 e-mail: fabianatk@hotmail.com

RESUMO

Apesar de o acometimento de cabeça e pescoço de crianças mais velhas e adultos na escabiose ser conhecido, a literatura é pobre em sua descrição. Estudados 124 pacientes com escabiose clássica com cinco anos de idade ou mais, para pesquisa, descrição e registro fotográfico das lesões de cabeça e pescoço. Esses locais foram acometidos em 35,8% dos casos, e as lesões mais encontradas foram crostas hemáticas, pápulas eritematosas com e sem escoriações ou crostas sobrepostas e descamação adjacente.

Palavras-chave: Cabeça; Diagnóstico; Escabiose; Pescoço

ABSTRACT

Although the head and neck are known to be affected by scabies in older children and adults, the literature is quite scarce on this topic. A study with 124 patients aged 5 years or older with classic scabies was carried out to investigate, describe and photographically register lesions on head and neck. These sites were affected in 35.8% of cases, and the lesions more often observed were crusts, erythematous papules with or without excoriations and crusts, and scaling around lesions.

Keywords: Diagnosis; Head; Neck; Scabies

COMUNICAÇÃO

Cabeça e pescoço de crianças mais velhas e adultos imunocompetentes não raro são afetados na escabiose, mas há pouca descrição das lesões observadas. 1 O diagnóstico é clínico, pois o raspado tem baixa sensibilidade.2 Realizado estudo para dar subsídios no diagnóstico da infestação nesses locais.

Incluídos 124 pacientes com idade igual ou superior a cinco anos e diagnóstico clínico de escabiose clássica. Foram fotografadas lesões na cabeça e no pescoço que pudessem ser atribuídas à escabiose, como pápulas, crostas, pústulas, nódulos, descamação, escoriações ou vesículas, e feito raspado, com lâmina única para cada local isoladamente: couro cabeludo, face, pescoço ou região auricular, pré e retroauricular.

As lesões foram assim classificadas: a) confirmadas com o raspado: qualquer apresentação clínica com raspado positivo,3 b) diagnosticadas clinicamente: pápulas eritematosas com ou sem crostículas e crostículas isoladas, com raspado negativo, excluídas outras dermatoses, c) apenas suspeitas: não consideradas devidas à escabiose pela não exclusão de outras doenças, como placas e máculas eritêmato-escamosas, pústulas, vesículas, e raspado negativo. Estudo aprovado pelo Comitê de Ética da UFPE.

Os pacientes tinham de cinco a 79 anos (média = 36,8; SD = 18,1). Lesões no pescoço e ou cabeça que poderiam fazer diagnóstico diferencial com escabiose estavam presentes em 46%, sendo que em 10,2% foram classificadas como apenas suspeitas nas duas áreas. Os demais 35,8% apresentavam lesões de escabiose diagnosticadas clinicamente ou com raspado em uma ou mais dessas áreas.

Entre os 24 com lesões no couro cabeludo, havia três confirmados com raspado e sete com diagnóstico clínico, sendo uma imunodeprimida. Apresentavam crostas hemáticas e seroemáticas, pápula eritematosa ou eritêmato-crostosa e descamação adjacente. Entre os 14 com lesões apenas suspeitas, os diagnósticos diferenciais eram dermatite seborréica com e sem escoriação, demodecidose e herpes-zóster (Tabela 1).

Na face, foram diagnosticados um paciente com raspado e cinco clinicamente, sendo três destes imunossuprimidos. Observadas pápulas eritêmato-escoriadas e crostas hemáticas. Entre as lesões apenas suspeitas, o diagnóstico diferencial era acne, zoster e trauma por acidente automobilístico.

Na região auricular e retroauricular, quatro pacientes tiveram diagnóstico por raspado, e 11 clinicamente. Apresentavam crostas hemáticas, mácula eritêmato- escoriada e pápulas eritematosas com e sem escoriação (Figura 1). Deles, um era contactante de escabiose crostosa, e outra tinha Aids. Entre os seis pacientes com lesões apenas suspeitas, os diagnósticos diferenciais eram estrófulo, dermatite seborréica e demodecidose.


No pescoço, as lesões dos sete pacientes com diagnóstico por raspado e dos 26 clinicamente foram pápulas eritematosas com e sem escoriação e crostas. Três eram contactantes de escabiose crostosa, e dois eram imunossuprimidos. Entre os quatro com lesões apenas suspeitas, os diagnósticos diferenciais eram acne, estrófulo infectado e demodecidose.

Na escabiose clássica descreve-se no couro cabeludo placa eritêmato-crosto-exulcerada4 ou lesão tipo dermatite seborréica,5 porém nenhum dos pacientes aqui relatados com esta última apresentação teve confirmação com raspado, o que ocorreu com os de crosta hemática e seroemática, pápula eritematosa e pápula eritêmato-crostosa. No Ceará, encontraramse lesões de escabiose em face, pescoço ou couro cabeludo em 10% dos pacientes com cinco anos ou mais,6 tipo papulocrostosas (comunicação pessoal). Neste estudo, os sete pacientes com diagnóstico clínico de escabiose no couro cabeludo tinham pápulas eritematosas com e sem escoriação, crostas e descamação adjacente.

Em pacientes imunodeprimidos a infestação acima do pescoço é mais observada e pode ser eritêmato- escamocrostosa.7 Entre os seis pacientes com lesões na face, três tinham co-morbidades, incluído o único com raspado positivo. As lesões foram pápulas eritêmato-escoriadas e crostas hemáticas.

Chouela8 referiu ser comum o ácaro estar na prega retroauricular, mas descreveu as lesões como "variáveis".8 No presente estudo foram observadas pápulas eritematosas com e sem escoriação, crostas hemáticas e mácula eritêmato-escoriada. O Demodex sp foi encontrado em três pacientes cujas lesões foram classificadas como apenas suspeitas. Apesar de ser encontrado na pele sã, pode ocasionar eritema, pápulas, pústulas, descamação.9

Em crianças mais velhas ou adultos com escabiose clássica, parte dos estudos recomenda uso do escabicida abaixo do pescoço,10 outra recomenda tratar também a cabeça e o pescoço.1,3 A confusa expressão "do pescoço para baixo" não esclarece se o pescoço está parcial ou completamente incluído na área a ser tratada ou dela excluído.10 No estudo aqui apresentado, havia lesões no pescoço em 26,8% dos pacientes, da base à linha de implante capilar, facilmente identificadas.

Como medicações tópicas podem ter efeitos colaterais, é interessante o exame de cabeça e pescoço nesse grupo para deliberar sobre seus respectivos tratamentos. q

Recebido em 12.01.2007.

Aprovado pelo Conselho Consultivo e aceito para publicação em 01.11.2007.

  • 1. Chosidow O. Scabies and pediculosis. Lancet. 2000;355:819-26.
  • 2. Palicka P, Malis L, Samsinak K, Zitek K, Vobrazkova E. Laboratory diagnosis of scabies. J Hyg Epidemiol Microbiol Immunol. 1980;24:63-70.
  • 3. Buffet M, Dupin N. Current treatments for scabies. Fundam Clin Pharmacol. 2003;17:217-25.
  • 4. Elmros T, Hornqvist R. Infestation of scabies in the scalp area. Acta Derm Venereol. 1981;61:360-2.
  • 5. McDonald L, Smith M. Diagnostic dilemmas in pediatric/adolescent dermatology: scaly scalp. J Pediatr Health Care. 1998;12:80-4.
  • 6. Heukelbach J, Wilcke T, Winter B, Feldmeier H. Epidemiology and morbidity of scabies and pediculosis capitis in resource-poor communities in Brazil. Br J Dermatol. 2005;153:150-6.
  • 7. Roberts L, Huffam S, Walton S, Currie B. Crusted scabies: clinical and immunological findings in seventyeight patients and a review of the literature. J Infect. 2005;50:375-81.
  • 8. Chouela E, Abeldano A, Pellerano G, Hernandez M. Diagnosis and treatment of scabies: a practical guide. Am J Clin Dermatol. 2002;3:9-18.
  • 9. Karincaoglu Y, Bayram N, Aycan O, Esrefoglu M. The clinical importance of demodex folliculorum presenting with nonspecific facial signs and symptoms. J Dermatol. 2004;31:618-26.
  • 10. Karthikeyan K. Treatment of scabies: newer perspectives. Postgrad Med J. 2005;81:7-11.
  • Endereço para correspondência/Mailing Address:
    Fabiana Thais Kovacs
    Av. Eng. Domingos Ferreira 636 sala 509, Boa Viagem
    51011 050 Recife - PE
    Tel./Fax: (81) 34259296 (81) 34650615
    e-mail:
  • *
    Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – Recife (PE), Brasil.
    Conflito de interesse / Conflict of interest: Nenhum Suporte financeiro / Financial funding: Nenhum
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      25 Abr 2008
    • Data do Fascículo
      Fev 2008

    Histórico

    • Recebido
      12 Jan 2007
    • Aceito
      01 Nov 2007
    Sociedade Brasileira de Dermatologia Av. Rio Branco, 39 18. and., 20090-003 Rio de Janeiro RJ, Tel./Fax: +55 21 2253-6747 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
    E-mail: revista@sbd.org.br