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Caso para diagnóstico

Resumos

Esteatocistoma múltiplo é um raro transtorno genético autossômico dominante que se caracteriza por múltiplos cistos dérmicos de tamanho variável e assintomáticos. Descreve-se o caso de um paciente do sexo masculino, de 23 anos, com quadro clínico e evolutivo típicos dessa desordem.

Cistos; Mutação; Queratina-17


Steatocystoma multiplex is a rare genetic disorder, autosomal dominant, that is characterized by multiple asymptomatic dermal cysts which vary in size. It is described here the case of a 23 year-old male patient with a typical clinical and evolutional progression of this disease.

Cysts; Mutation; Keratin-17


QUAL O SEU DIAGNÓSTICO?

Caso para diagnóstico

Alexandre Moretti de LimaI; Sheila Pereira da RochaI; Carolina Mayana de Ávila BatistaII; Carmelia Matos Santiago ReisIII; Isabel Irene Rama LealIV; Lucas Emanuel de Lima AzevedoV

IEspecialista em clínica médica pela Sociedade Brasileira de Clínica Médica; residente em dermatologia do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN/SES) - Brasília (DF), Brasil

IIAluna da graduação de medicina da Escola Superior de Ciências da Saúde/Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (ESCS/Fepecs); interna do sexto ano de medicina da ESCS/Fepecs - Brasília (DF), Brasil

IIIDoutora em dermatologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); supervisora da residência médica em dermatologia do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN/SES) - Brasília (DF), Brasil

IVEspecialista em patologia e citologia; preceptora de dermatopatologia da residência médica em dermatologia do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN/SES) - Brasília (DF), Brasil

VResidente em dermatologia do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN/SES) - Brasília (DF), Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Nilton Di Chiacchio Rua Dr. Cesar, 62, conj. 35, Santana CEP 02013-000 São Paulo (SP) E-mail: ndichia@terra.com.br

RESUMO

Esteatocistoma múltiplo é um raro transtorno genético autossômico dominante que se caracteriza por múltiplos cistos dérmicos de tamanho variável e assintomáticos. Descreve-se o caso de um paciente do sexo masculino, de 23 anos, com quadro clínico e evolutivo típicos dessa desordem.

Palavras-chave: Cistos; Mutação; Queratina-17

HISTÓRIA DA DOENÇA

Homem de 23 anos notou o surgimento de "caroços" no pescoço há cinco anos, com aumento progressivo no número dessas lesões nas regiões ântero-superior do tórax e inguinal, algumas evoluindo para lesões eritematosas com drenagem de conteúdo amarelado e com odor forte. Negava sintomas sistêmicos. Antecedentes: negava lesões semelhantes em familiares. Ao exame apresentava lesões pápulo-nodulares de 0,5 a 2,0 cm, de coloração amarelada ou da cor da pele, principalmente na porção ântero-superior do tórax, região cervical lateral (Figura 1) e região inguinal bilateral. Exame histopatológico de fragmento de pele retirado da região anterior do tórax demonstrava a presença de formação cística na derme com glândula sebácea em sua parede (Figura 2) e revestida por epitélio pavimentoso estratificado típico cuja camada córnea mostrava aspecto ondulado, refringente e fortemente eosinofílico (Figura 3). Exames laboratoriais sem alterações.




COMENTÁRIOS

Esteatocistoma múltiplo (EM) é um raro transtorno genético que se caracteriza por múltiplos cistos dérmicos de tamanho variável e assintomáticos.1,2,3 Sua etiopatogenia permanece obscura, porém existem várias teorias para sua origem, tais como: os EMs são resultados de cistos sebáceos de retenção; têm natureza nevoide ou hamartomatosa; ou são uma variedade de cisto dermoide.4

As lesões são comumente encontradas na região do tronco e nas extremidades proximais, embora outros locais também sejam descritos, como axilas, vulva, região central do tórax e região inguinal (comum em mulheres).4 Em outras regiões, como face e couro cabeludo, as lesões são raramente encontradas.3 Apresentam um crescimento lento e um conteúdo que pode ser líquido ou cremoso.1 Embora a maioria das lesões sejam assintomáticas, algumas delas podem inflamar e supurar.3

Os diagnósticos diferenciais incluem várias doenças: acne conglobata ou nódulo-cística, hidroadenite supurativa, cisto dermoide, milia, cisto piloso, cisto mixoide e pseudofoliculite da barba.4

A doença começa na adolescência ou no início da idade adulta e incide igualmente em ambos os sexos. Tem caráter autossômico dominante, embora vários casos esporádicos tenham sido descritos.1,2 Tem sido associada com paroníquia congênita tipo 2, líquen plano hipertrófico, hidroadenite supurativa, acroceratose verruciforme e hipo-hidrose.1,5

A mutação da queratina 17, uma proteína encontrada em diversas estruturas epiteliais, tais como leito ungueal, folículos pilosos e glândulas sebáceas, tem sido implicada na gênese do esteatocistoma familiar, bem como da paroníquia congênita tipo 2. Nos casos esporádicos não foi encontrada essa mutação, o que sugere um caráter multifatorial dessa doença.2,6

Histologicamente, os esteatocistomas são cistos dérmicos revestidos por epitélio pavimentoso estratificado típico, cuja camada córnea mostra aspecto ondulado, refringente e fortemente eosinofílico. Glândulas sebáceas geralmente estão presentes na parede do cisto e pelos podem ocorrer em sua cavidade.1,4

As opções de tratamento são escassas e poucas têm um resultado satisfatório.1,2 Embora essa condição não represente uma ameaça à saúde do indivíduo, frequentemente é um problema cosmético, justificando assim o tratamento. A aspiração por agulha proporciona uma diminuição do tamanho das lesões, entretanto o resultado persiste apenas por alguns meses.7 A excisão cirúrgica, realizada por várias técnicas, também é descrita.1 Injeção de corticoide intralesional e incisão com drenagem são boas opções para as lesões inflamadas.2 A isotretinoína é conhecida por possuir propriedades anti-inflamatórias e por esse motivo é indicada para as lesões supuradas, porém com recidivas em alguns casos.8,9 A associação de isotretinoína e crioterapia em lesões não supuradas mostrou boa resposta clínica e cosmética. A crioterapia e a dermabrasão também podem ser utilizadas, mas mostraram resultados limitados, além de deixarem cicatriz residual.7 O uso do laser de CO2 é uma técnica ideal para o tratamento de lesões múltiplas e/ou localizadas em áreas esteticamente importantes, como a face, por não necessitar de anestesia, tratar as lesões em sessão única e ser um procedimento minimamente invasivo, apresentando cura rápida, bons resultados estéticos e baixa porcentagem de recidivas.10

Aprovado pelo Conselho Editorial e aceito para publicação em 04.10.2010.

Suporte Financeiro: Nenhum

Conflito de Interesses: Nenhum

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  • Endereço para correspondência:
    Nilton Di Chiacchio
    Rua Dr. Cesar, 62, conj. 35, Santana
    CEP 02013-000 São Paulo (SP)
    E-mail:
  • *
    Trabalho realizado no ambulatório de dermatologia do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN/SES) - Brasília (DF), Brasil
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      21 Mar 2011
    • Data do Fascículo
      Fev 2011

    Histórico

    • Recebido
      04 Out 2010
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