Resumos
A fotografia dermatológica é complementar ao exame dermatológico. Sua função é ser um veículo de informação do conhecimento e sua qualidade depende da perícia do fotógrafo-dermatologista em registrar os elementos relevantes de uma cena. Por isso o dermatologista deve conhecer os princípios básicos da fotografia e os editores dos periódicos devem assegurar que os artigos tenham imagens de alta qualidade. Este artigo sugere critérios para melhorar a qualidade das fotos submetidas aos periódicos.
Dermatologia; Diagnóstico por imagem; Fotografia; Fotografia
Dermatological photography is used as a supplement to dermatological examination with the function of providing additional knowledge and information. Its quality depends on the expertise of the photographer-dermatologist in recording the relevant elements present. Therefore, the dermatologist should know basic principles of photography and the journal editors should ensure that the articles have high-quality images. This article suggests criteria to improve the quality of photographs submitted to journals for publication.
Dermatology; Diagnostic imaging; Photography; Photography
ESPECIAL
Critérios para submissão de fotografias* * Trabalho realizado na Disciplina de Dermatologia do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) - São Paulo (SP), Brasil.
Criteria for submitting photos
Andrelou Fralete Ayres Vallarelli
Doutorado e Mestrado, área de concentração em Clínica Médica, pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) - São Paulo (SP), Brasil
Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Andrelou Fralete Ayres Vallarelli Av. Barão de Itapura. Botafogo Campinas - SP. Nº950, cj. 44 13020-431 andrelou@uol.com.br
RESUMO
A fotografia dermatológica é complementar ao exame dermatológico. Sua função é ser um veículo de informação do conhecimento e sua qualidade depende da perícia do fotógrafo-dermatologista em registrar os elementos relevantes de uma cena. Por isso o dermatologista deve conhecer os princípios básicos da fotografia e os editores dos periódicos devem assegurar que os artigos tenham imagens de alta qualidade. Este artigo sugere critérios para melhorar a qualidade das fotos submetidas aos periódicos.
Palavras-chave: Dermatologia; Diagnóstico por imagem; Fotografia; Fotografia/normas
ABSTRACT
Dermatological photography is used as a supplement to dermatological examination with the function of providing additional knowledge and information. Its quality depends on the expertise of the photographer-dermatologist in recording the relevant elements present. Therefore, the dermatologist should know basic principles of photography and the journal editors should ensure that the articles have high-quality images. This article suggests criteria to improve the quality of photographs submitted to journals for publication.
Keyword: Dermatology; Diagnostic imaging; Photography; Photography/standards
INTRODUÇÃO
Uma fotografia dermatológica só terá eficácia se reproduzir fielmente a manifestação cutânea em questão. Para isto, o fotógrafo-dermatologista deve dominar os princípios básicos de fotografia e o equipamento que irá utilizar.
A fotografia dermatológica deve ser clara e objetiva. Sua função é ser um veículo de registro, divulgação, análise e interpretação do conhecimento. Prestase ao ensino e à consultoria e está isenta da barreira linguística. Sua qualidade depende exclusivamente da perícia e do esforço do autor. 1- 4
O conhecimento dos princípios básicos da fotografia deveria ser adotado de forma curricular nos cursos de residência médica em dermatologia. Isto facilitaria a elaboração de artigos científicos e a utilização de técnicas como dermatoscopia e escanografia de nevos. Muitos periódicos têm recusado artigos baseados na má qualidade das imagens.
O exame dermatológico é uma inspeção visual. Sua análise e o reconhecimento das lesões elementares são recursos essenciais na formação do residente. Sua interpretação auxiliará o dermatologista na elaboração dos diagnósticos diferenciais.5, 6
Os editores dos Anais Brasileiros de Dermatologia (ABD) devem assegurar que os artigos tenham imagens de alta qualidade. Estas imagens são ferramentas poderosas para divulgar o nosso desenvolvimento junto aos nossos pares e à comunidade científica internacional. A qualidade da nossa comunicação representa a qualidade da nossa especialidade e para garantir que as imagens submetidas se enquadrem nos padrões atuais dos ABD solicitamos que os critérios abaixo sejam seguidos.5, 7
COMPOSIÇÃO DA CENA:
Verificar atentamente os detalhes da cena a ser fotografada.
Ter um local que propicie distância suficiente paraque sepossafazerumafoto do corpo inteiro do paciente, se necessário.
Utilizar fundo com cores monocromáticas neutras como cinza, azul e preferencialmente negro, que absorve as sombras provocadas pela luz do flash. Evitar tecidos brilhantes.
Não economizar tempo para escolher a lesão mais significativa (relevante) e interessante que expresse com clareza o que se quer evidenciar.
Remover todo objeto que possa desviar a atenção da principal manifestação, como brincos, pulseiras, colares, relógios e outros adereços. As manifestações cutâneas de interesse devem estar livres de curativos, marcas de esparadrapos, crostas, esmaltes, próteses e etc. Ou seja, os pacientes devem estar livres de qualquer elemento que não a pele. Salvo se houver relação causa e efeito.
Centralizar o objeto a ser fotografado. Ele deve ocupar a maior parte do espaço retangular disponível no visor ou no display da câmera. Este espaço deve ser utilizado de forma racional, harmoniosa e equilibrada, sem interferências e com o máximo de aproveitando possível. Não deixar espaços vazios, planos desfocados ou elementos que não pertençam à cena.
Posicionar a câmera com bom senso. Se o maior eixo da imagem a ser fotografada for vertical, posicionar a câmera no modo retrato. Se horizontal, no modo paisagem.
Tirar fotografias partindo de distâncias maiores (panorâmicas), a seguir distâncias médias, e finalmente detalhes ou close-ups que evidenciem os elementos mais importantes.
Escolher as melhores imagens para submissão.
Nas fotografias demonstrativas de seguimento (antes e depois), tentar reproduzir fielmente na segunda os ajustes, iluminação e posicionamento utilizados na primeira.4, 5, 8
FOTOGRAFIA DERMATOLÓGICA
Para evitar imagens desfocadas, acionar o cursor a meio caminho ou deslocar suavemente a câmera em várias direções até que o sistema de lentes encontre o foco. Deixar acionado o sonorizador que indica quando a câmera encontrou o foco. Utilizar tripé se não tiver firmeza suficiente. Corrigir a dioptria.
Respeitar a distância mínima imposta pela objetiva. Não é aconselhável o uso de câmeras de foco fixo na execução de fotografia dermatológica.
Utilizar equipamentos que permitam objetivas intercambiáveis ou que proporcionem maior qualidade da imagem e mais recursos ópticos, tais como diferentes distancias focais, rigor na focagem - mesmo em pequenas distâncias -, enquadramento preciso, observação prévia da profundidade de campo, luz medida através da objetiva -TTL, flashs com controle da intensidade luminosa e diversos acessórios e adaptadores para microscópios e dermatoscópios.
Evitar a utilização de objetivas com menor distância focal (grande-angular ou lentes com distancia focal 28mm), pois ocorrerá a formação de imagens deformadas e com menos detalhes perceptíveis.
Evitar utilizar o zoom digital. A aproximação e ampliação real de um objeto são obtidas com a utilização do zoom óptico, lentes especiais "macro" foles ou filtros de aproximação. A potência da lente é dada pela distância focal (distância entre a lente e a imagem nítida de um objeto situado no infinito). Quanto maior for a distância focal, maior será a imagem. A maior distância focal amplia o detalhe, proporciona menores ângulos de vista e menor profundidade de campo e exagera a falta de nitidez no movimento da máquina. 4, 5, 8
MACROFOTOGRAFIA:
Na macrofotografia (close-up) uma objetiva de 50mm pode focalizar um objeto a uma distância de 23cm com ampliação da ordem de 0,5. Uma macro de 200mm focaliza um objeto a 58cm e produz imagem de tamanho real.
As lentes de 55mm ou 60mm e ou 105mm são ideais para fotografias macro em dermatologia. Anéis ou tubos de extensão, foles, lentes de aproximação (close-up) são outros acessórios.
ILUMINAÇÃO:
Ao se fotografar muito próximo do objeto, sob luz natural, poderá não haver luminosidade suficiente. Quanto mais próxima a lente estiver da lesão, menos planos estarão focados. Para evitar estas duas situações, utilizar, se sua câmera possuir, o ajuste (modo) prioridade de abertura. Posicionar a câmera paralelamente ao plano da pele, pois na posição inclinada a profundidade de campo pode ser facilmente perdida. A extensão da lente (objetiva) pode obstruir a luz proveniente do flash incorporado à câmera. Para evitar isso, utilizar flash circular ou flash portátil posicionado para que a luz incida lateralmente ao objeto.
Utilizar flash circular, espelhos refletores e lentes macro 60mm ou 105mm para as fotografias da cavidade oral.
Utilizar, sempre que possível, o flash eletrônico, pois a potência e temperatura de cor são constantes (5550K). A iluminação ambiente sofre alterações ao longo do dia interferindo na qualidade de cor. 4, 9- 12
AJUSTES DO EQUIPAMENTO
Ajustar a câmera para 3 megapixels ou mais. A imagem deverá permanecer com resolução suficiente para ser editada, se necessário.
Ajustar a câmera no modo Super fine ou fine para obter fotos com melhor qualidade.
Todas as câmeras digitais captam a imagem no formato RAW (formato nativo, proprietário de cada fabricante) que depois é convertida em formatos JPEG (Joint Photographic Experts Group) e TIFF (Tagged Image File Format). A qualidade da imagem pode ser ajustada no equipamento nos modos: RAW + JPEG Fine, Normal e Basic e JPEG Fine, Normal e Basic.
Ajustar o modo ISO (ASA) no valor 100 para maior resolução.
Ao ajustar o modo macro, para fotografias de maior aproximação, o sistema procura maior abertura f possível e elege a melhor velocidade, comprometendo a profundidade de campo.
Ajustar o Balanço do branco [White balance - (WB)]se for realizar fotografias sob a luz ambiente. Se a fotografia for feita numa sala com luz fluorescente, ajuste o WB para luz fluorescente e assim sucessivamente.4, 9- 12
CRITÉRIOS PARA ENVIO:
Os autores são responsáveis por enviar imagens com as características o mais próximo possível da realidade ou fotos originais. A manipulação incorretados ajustes pode impedir que a imagem submetida aos ABD possa ser editada.
Inserir imagens originais digitais ou digitalizadas sob a forma de arquivos nos formatos com extensão "jpeg" e "tiff" e resolução mínima de 300 ppi (dpi).
Evitar manipulações excessivas. Alguns procedimentos digitais como a compressão JPEG introduzem cores ou tons de pixels que não deveriam estar presentes na imagem original (ruído). O ruído pertence ao processo e não à imagem captada.
Não enviar imagens salvas nos programas Microsoft Word ou Microsoft Power Point.
Submeter o arquivo digital no modo de cor original. Para a maioria das câmeras digitais, este modo é o de cor RGB. Mesmo que a maioria das revistas e jornais utilize o processo CMYK para impressão, é melhor permitir que o departamento gráfico do jornal faça esta conversão.
Após "baixar" as fotos no computador você pode escolher o formato de arquivo. Se optar pelo JPEG, ajustar a mais alta qualidade. 12
Não enviar arquivos com 72 dpi. Sugerimos que os arquivos sejam salvos com 300dpi. Para que esta operação não altere a quantidade de pixels siga "passo a passo" os ajustes existentes no programa Photoshop®, utilizado pela maioria das pessoas:
1 Clicar em <Image> na barra de comandos do programa. Na janela <
Image Size
> estão determinados o número de pixels na horizontal e vertical e o valor da resolução (seta) a ser modificado de 72 para 300ppi (
).
2 A seguir, desativar o item Resample Image (seta). Notar que as dimensões em pixels, presentes na parte superior da janela, permaneceram bloqueadas (Figura 2).
3 Ajustar a resolução em 300 ppi (pixels/inch) (
).
4 Finalmente, ativar o item
Resample Image
e clicar em OK.4, 9-12 (Figura 4).
Aprovado pelo Conselho Editorial e aceito para publicação em 05.4.2011.
Conflito de interesse: Editor-associado da revista Anais Brasileiros de Dermatologia.
Suporte financeiro: Nenhum
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
16 Maio 2011 -
Data do Fascículo
Abr 2011
Histórico
-
Recebido
05 Abr 2011