Acessibilidade / Reportar erro

Tinea nigra nas formas geográficas em "coração" e "bico do papagaio"

Resumos

Através de ensaios fotográficos foram evidenciadas semelhanças entre máculas hipercrômicas de dois casos de Tinea nigra com imagens do manguezal denominado "Coeur de Voh", localizado na Ilha Francesa da Nova Caledônia (Oceania) e com a formação rochosa, denominada "Bico do Papagaio", localizada na Praia de Cabeçudas, Itajaí, Estado de Santa Catarina (Brasil).

Dermatomicoses; Epidemiologia; Micoses; Tinha


Through a photographic essay, we identified similarities between hyperchromic maculas of two cases of Tinea Nigra with images of a heart-shaped mangrove called "Coeur de Voh", located on the French island of New Caledonia (Oceania) and of a rock formation called "Parrot Beak" located on Cabeçudas Beach, Itajaí, Santa Catarina State (Brazil).

Dermatomycoses; Epidemiology; Mycoses; Tinea


ICONOGRAFIA

Tinea nigra nas formas geográficas em "coração" e "bico do papagaio"* * Trabalho realizado no Ambulatório de Dermatologia da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) - Itajaí (SC), Brasil.

André Luiz RossettoI; Rosana Cé Bella CruzII

IEspecialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD); Professor de Dermatologia do Curso de Medicina da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) - Itajaí (SC), Brasil

IIMestra Farmacêutica-Bioquímica da Universidade do Vale do Itajaí ) - Itajaí (SC), Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: André Luiz Rossetto Av. Alvin Bauer, 655 Sala 203 Centro Médico Vida 88330-643 Balneário Camboriú, SC, Brasil Tel: 47 3367 3407 e-mail: rossettovida@terra.com.br

RESUMO

Através de ensaios fotográficos foram evidenciadas semelhanças entre máculas hipercrômicas de dois casos de Tinea nigra com imagens do manguezal denominado "Coeur de Voh", localizado na Ilha Francesa da Nova Caledônia (Oceania) e com a formação rochosa, denominada "Bico do Papagaio", localizada na Praia de Cabeçudas, Itajaí, Estado de Santa Catarina (Brasil).

Palavras-chave: Dermatomicoses; Epidemiologia; Micoses; Tinha

INTRODUÇÃO

A Tinea nigra (TN) é uma infecção fúngica superficial, crônica e assintomática da camada córnea. O registro da primeira observação clínica foi, em 1891, na Bahia, por Alexandre Cerqueira.1,2,3 A enfermidade só foi amplamente divulgada, após a publicação, em 1916, por seu filho, Antônio G. Cerqueira, como tese de doutorado com o título de Keratomycosis nigricans palmaris.2,3

Em 1921, Parreiras Horta isolou o fungo denominando-o Cladosporium werneckii que, por diversas vezes, ocorreram modificações taxonômicas e, atualmente, sendo aceita a denominação de Hortaea werneckii.4,5

Trata-se de um fungo demáceo, isolado no solo, plantas, ambientes úmidos e locais, com concentração salina elevada, como na areia das praias.4,5

Em 2006, Balestieri Filho, sob a orientação dos autores, isolou o fungo H. werneckii, nas areias secas e úmidas das praias oceânicas do Município de Itajaí, Estado de Santa Catarina (SC), como trabalho de conclusão do Curso de Medicina da Univali.6

Os registros da ocorrência de TN têm sido escassos.2,6,7 Durante o 60º Congresso da SBD em 2005, os autores apresentaram 27 casos de TN, observados durante 10 anos (1995-2004) em SC.7 Os dois casos relatados fizeram parte dessa comunicação e citados como formas análogas as formações da Natureza, denominadas em "coração" e em "Bico do Papagaio".7

Ambos os casos ocorreram em crianças, uma do sexo masculino e a outra do sexo feminino, com idades, respectivamente, de 2 e 3 anos e procedentes de Itajaí-SC.

A figura 1 corresponde à mácula assintomática, única, enegrecida, tamanho de 1,0cm, localizada na junção das falanges proximal e média do 2º quirodáctilo direito, forma geográfica em "coração" e evidenciando uma semelhança com a imagem registrada na natureza denominada de "Coeur de Voh" (Figura 2).



O "Coeur de Voh" é uma vista aérea parcial, em forma de coração, do Manguezal da Nova Caledônia (Nouvelle-Caledónie, France: 20º56'S - 164º39'E), localizado numa ilha francesa da Oceania e registrado pelo fotógrafo Yann Arthus-Bertrand em 1990.8

A figura 3 evidencia duas máculas assintomáticas, marrom-escuras, localizadas na região palmar esquerda, sendo a lesão menor, na região tenar, tamanho de 1,5cm, forma geográfica em "Bico do Papagaio" e assemelha-se à formação rochosa denominada de Bico do Papagaio (Figura 4).



O Bico do Papagaio tem 4,5m de altura e recebeu esse nome por assemelhar-se a cabeça de um gigantesco pássaro, sendo esculpida acidentalmente, em uma rocha, durante as explosões em 1914, na abertura da Estrada da Praia de Cabeçudas, Itajaí (26º54'06''S - 48º39'40''W).9

Nos dois casos, a confirmação diagnóstica foi feita através dos exames micológicos identificando na micromorfologia da cultura, em meio de Sabouraud, o fungo H. werneckii.

A terapêutica instituída foi antifúngicos tópicos, sendo oxiconazol, no caso, em "coração" e isoconazol, no caso, em "Bico de Papagaio", que evoluíram com o desaparecimento das lesões, após quatro semanas do tratamento, e sem recidivas durante o acompanhamento de cinco anos.

Os autores concluem que as formas geográficas das máculas da TN podem revelar imagens curiosas quando comparadas às existentes na natureza.

Recebido em 13.08.2010.

Aprovado pelo Conselho Consultivo e aceito para publicação em 31.08.10.

Conflito de interesse: Nenhum

Suporte financeiro: Nenhum

  • 1. Cerqueira AG. Keratomycosis nigricans palmaris [Tese]. Salvador: Faculdade de Medicina da Bahia; 1916.
  • 2. Marques SA, Camargo RMP. Tinea nigra: relato de caso e revisão da literatura brasileira. An Bras Dermatol. 1996;71:431-5.
  • 3. Silva F. A propósito da "Tinea nigra" (kerato-mycosis nigricans palmaris). Brasil Med. 1930;44:591-3.
  • 4. McGinnis MR. Taxonomic of Exophiala werneckii and relationship to Miscrosporum mansonii. Sabouraudia. 1979:145-154.
  • 5. Martins JEC, Melo NT, Heins-Vaccari EM. Tinha negra. Atlas de micologia médica. São Paulo: Editora Manole Ltda; 2005. p. 32-4.
  • 6. Balestieri Filho LA. Isolamento do fungo Hortaea werneckii nas areias secas e úmidas das praias oceânicas de Itajaí, SC, Brasil [Monografia]. Itajaí (SC): Universidade do Vale do Itajaí; 2006.
  • 7. Rossetto AL, Cruz RCB, Angelo MV, Correa PR. Tinea nigra: Estudo clínico e epidemiológico de vinte e sete casos observados no Vale do Itajaí, Estado de Santa Catarina, durante período de 10 anos. An Bras Dermatol. 2005;80(Supl 2):S124-5.
  • 8. Yann Arthurs-Bertrand, org. [Homepage] [acesso 13 jun 2010.] Disponível em: http://www.yannarthusbertrand2.org/index.php?option=com_datsogallery&Itemid=27&func=detail&catid=3&id=992&p=1&l=819
    » link
  • 9. Linhares J. O que a memória guardou. Itajaí: Editora Univali, 1997. p. 127.
  • Endereço para correspondência:
    André Luiz Rossetto
    Av. Alvin Bauer, 655 Sala 203
    Centro Médico Vida
    88330-643 Balneário Camboriú, SC, Brasil
    Tel: 47 3367 3407
    e-mail:
  • *
    Trabalho realizado no Ambulatório de Dermatologia da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) - Itajaí (SC), Brasil.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      16 Maio 2011
    • Data do Fascículo
      Abr 2011

    Histórico

    • Recebido
      13 Ago 2010
    • Aceito
      31 Ago 2010
    Sociedade Brasileira de Dermatologia Av. Rio Branco, 39 18. and., 20090-003 Rio de Janeiro RJ, Tel./Fax: +55 21 2253-6747 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
    E-mail: revista@sbd.org.br