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Dermatologia comparativa: lesão de ataque por caravela portuguesa (Physalia physalis)

Resumos

Demonstra-se lesão dermatológica, em caprichoso formato de coração, característica de ataque por caravela-portuguesa, em banhista do sexo feminino, 21 anos

Cnidários; Coração; Hidrozoários; Venenos de cnidários


It is reported the case of a 21-year-old female bather with a skin lesion, heart-shaped ,characteristic of attack by jellyfish

Cnidaria; Cnidarian venoms; Heart; Hydrozoa


ICONOGRAFIA

Dermatologia comparativa: lesão de ataque por caravela portuguesa (Physalia physalis)* * Trabalho realizado em Clínica Privada - Natal (RN) - Brasil.

Maria do Carmo Araújo Palmeira QueirozI; Juliana Nascimento de Andrade Rabelo CaldasII

IEspecialista - Médica Dermatologista do Serviço de Dermatologia do Hospital Universitário Onofre Lopes - Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) - Natal (RN), Brasil

IIEspecialista - Médica Dermatologista - Natal (RN), Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Maria do Carmo Araújo Palmeira Queiroz Av. Rodrigues Alves, 930, sala 205, Tirol 59020-200 Natal - RN E-mail: mcarmopalmeira@uol.com.br

RESUMO

Demonstra-se lesão dermatológica, em caprichoso formato de coração, característica de ataque por caravela-portuguesa, em banhista do sexo feminino, 21 anos.

Palavras-chave: Cnidários; Coração; Hidrozoários; Venenos de cnidários

A caravela portuguesa (Physalia physalis), (Figura 1)1 pertence ao reino animal, filo Cnidaria (cnida = urtiga em grego), classe Hydrozoa.2 O filo Cnidaria é composto por animais aquáticos, de estrutura radial, que apresentam tentáculos ao redor da cavidade oral. Em cada tentáculo, há inúmeros corpos ovais, denominados nematocistos, capazes de injetar veneno por um filamento urticante que dispara, quando a célula é tocada.3 A caravela portuguesa é responsável pelo maior número e gravidade dos acidentes desse gênero no Brasil, principalmente no verão.4


O ataque por Physalia physalis pode levar a danos tóxicos (eritema, edema, necrose, ação direta ao miocárdio, tecido nervoso, hepático e renal) e alérgicos (precoces e tardios), incluindo anafilaxia, urticária e formação de granulomas.3 A dor inicia-se logo após a exposição. As reações tardias podem apresentar níveis aumentados de IgG, resposta mediada por células T e reação cruzada com todos os tipos de venenos de medusa.2

Diante de um acidente, é essencial perguntar: como ocorreu, o tempo transcorrido, a descrição da caravela, sintomas locais e sistêmicos? A gravidade depende de diversos fatores, tais quais: número de nematocistos descarregados, estado de saúde e idade do paciente, peso, superfície corporal afetada, comprometimento de extremidades (50% mais severo), local e espessura da pele acometida (perto da cabeça e no dorso, a absorção do veneno é mais rápida). A literatura relata duas mortes por este tipo de caravela.2

O tratamento consiste de desativação dos nematocistos, controle da dor, suporte aos órgãos vitais afetados e, se necessário, a utilização de antídoto contra envenenamento de medusas. No Brasil, os laboratórios que produzem esses imunoderivados são: Instituto Butantan - SP, Fundação Ezequiel Dias - MG e Instituto Vital Brazil - RJ.4

A inativação dos nematocistos é realizada através de lavagem com soro fisiológico e/ou imersão da lesão em ácido acético a 5% ou álcool isopropílico a 70%, 15 a 30 minutos. Como último recurso, utilizar água do mar, sabendo que pode trazer patógenos marinhos a ferida. A remoção dos nematocistos pode ser feita cobrindo a área com creme de barbear, talco e bicarbonato de sódio por uma hora. Após, usar um objeto de ponta romba para raspar a lesão.5 Também pode ser colocada uma fita adesiva potente sobre a lesão e, imediatamente, removê-la. A dor tende a diminuir com a utilização de compressa fria por 5 a 10 minutos. É importante evitar o uso de gelo diretamente sobre a área, pois a água hipotônica do gelo estimula nematocistos não removidos. Não usar compressas quentes, pois aumenta a absorção sistêmica do veneno. Limpar a área três vezes ao dia e aplicar antibióticos tópicos, tais como: clorafenicol ou eritromicina, efetivos para patógenos marinhos.2 Utilizar anti-histamínicos e corticoides tópicos ou sistêmicos, se as reações locais forem importantes, e para minimizar as reações adversas ao antídoto. Usar relaxantes musculares em caso de espasmos graves, profilaxia antitetânica e antibióticos sistêmicos se houver infecção secundária.

A lesão dermatológica observada sobre a região deltoide direita da paciente (Figura 2) assemelha-se a um coração (Figura 3). O coração é um órgão muscular que bombeia o sangue, fazendo-o circular no corpo. No sentido figurado, remete à sensibilidade, à afeição, ao amor.



Recebido em 23.07.2010.

Aprovado pelo Conselho Consultivo e aceito para publicação em 13.09.10.

Conflito de interesse: Nenhum

Suporte financeiro: Nenhum

  • 1. Olhares fotografia on line [Internet] - Foto de Ribeiro R.; publicado em 28 de novembro de 2004. [acesso 19 Dez. 2009]. Disponível em: http://br.olhares.com/caravela_portuguesa_foto72332.html
  • 2. Cristián VK, Marianne KR, María Soledad ZT, Francisco VK, Juan Pedro LJ. Picadura de medusas: actualización. Rev Méd Chile. 2004;132:233-41.
  • 3. Haddad V, Lupi O, Lonza JP, Tyring SK. Tropical dermatology: Marine and aquatic dermatology. J Am Acad Dermatol. 2009;61:733-59.
  • 4. Saude.gov.br [Internet]. Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por Animais Peçonhentos, 2001 [acesso 04 Out. 2009]. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manu_peconhentos.pdf
  • 5. Fischer AA. Atlas of Aquatic Dermatology. New York: Grune & Stratton; 1978.
  • Endereço para correspondência:
    Maria do Carmo Araújo Palmeira Queiroz
    Av. Rodrigues Alves, 930, sala 205, Tirol
    59020-200 Natal - RN
    E-mail:
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    Trabalho realizado em Clínica Privada - Natal (RN) - Brasil.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      21 Jun 2011
    • Data do Fascículo
      Jun 2011

    Histórico

    • Aceito
      13 Set 2010
    • Recebido
      23 Jul 2010
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