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Viabilidade do uso de argilas cauliníticas do Quadrilátero Ferrífero para a indústria cerâmica

Availability of the kaolin from Quadrilátero Ferrífero for the ceramic industry

Resumos

Sete amostras compostas, representativas de três ocorrências de argila caulinítica do Quadrilátero Ferrífero, foram caracterizadas física, mineralógica e quimicamente visando seu uso na indústria cerâmica. Apesar da presença predominante de caulinita, variações nos teores de Fe2O3 entre 2 a 44%, refletidos pela presença de goethita e hematita, acarretam diferentes cores que variam entre branco (ACM e DB), amarelo (R5), vermelho amarelado (FS) e vermelho (DV, R1 e AM). Corpos cerâmicos foram queimados a 900 e 1100 °C, sendo que as cores praticamente não mudaram após a queima. Entretanto, somente corpos feitos com DV e R1 cumpriram as especificações técnicas para cerâmica, não apresentando fraturas e atingindo altas resistências à compressão: 96,2 MPa e 64,2 MPa, respectivamente. Para as outras amostras foram testadas misturas com filito (F) nas proporções de 5, 10, 15, 20 e 25% e queima a 900 e 1100 °C. Os melhores resultados dos corpos cerâmicos, com ausência de fraturas, resistências à compressão entre 69,15 e 29,6 MPa e que cumpriram as especificações técnicas, foram obtidos nas proporções: ACM+15F, DB+5F, R5+5F, FS+5F, AM+5F e queima a 900 ºC.

caulim; filito; cerâmica; Quadrilátero Ferrífero


Seven samples from three kaolin deposits of the Quadrilátero Ferrífero were characterized by physical, mineralogical and chemical analyses in order to determine their use in the ceramic industry. Despite the predominant presence of kaolinite, the variations in the Fe2O3 content from 2 to 44%, due to presence of goethite and hematite, resulted in different colors, namely: white (ACM and DB), yellow (R5), yellowed red (FS) and red (DV, R1 and AM). Specimens were burned at 900 and 1100 °C and they almost didn't change color. However, only specimens made with DV and R1 samples reached the technical specifications for the ceramic industry, without fractures and with values of compression strength of 96.2 and 64.2 MPa, respectively. The other samples were made by mixing phyllite in the proportions of 5, 10, 15, 20 and 25% and burned at 900 and 1100 °C. The bricks made with ACM+15F, DB+5F, R5+5F, FS+5F, AM+5F and burned at 900 ºC reached the technical specifications for ceramic industry, without fractures and with values of compression strength between 69.15 and 29.6 MPa.

kaolin; phyllite; ceramic industry; Quadrilátero Ferrífero


Viabilidade do uso de argilas cauliníticas do Quadrilátero Ferrífero para a indústria cerâmica

Availability of the kaolin from Quadrilátero Ferrífero for the ceramic industry

M. G. Peralta-Sánchez; A. M. Morales-Carrera; A. F. D. C. Varajão; M. M. Ferreira

Departamento de Geologia, Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto, Campus Universitário, Morro do Cruzeiro s/n, Ouro Preto, MG 35400-000. anamc73@gmail.com

RESUMO

Sete amostras compostas, representativas de três ocorrências de argila caulinítica do Quadrilátero Ferrífero, foram caracterizadas física, mineralógica e quimicamente visando seu uso na indústria cerâmica. Apesar da presença predominante de caulinita, variações nos teores de Fe2O3 entre 2 a 44%, refletidos pela presença de goethita e hematita, acarretam diferentes cores que variam entre branco (ACM e DB), amarelo (R5), vermelho amarelado (FS) e vermelho (DV, R1 e AM). Corpos cerâmicos foram queimados a 900 e 1100 °C, sendo que as cores praticamente não mudaram após a queima. Entretanto, somente corpos feitos com DV e R1 cumpriram as especificações técnicas para cerâmica, não apresentando fraturas e atingindo altas resistências à compressão: 96,2 MPa e 64,2 MPa, respectivamente. Para as outras amostras foram testadas misturas com filito (F) nas proporções de 5, 10, 15, 20 e 25% e queima a 900 e 1100 °C. Os melhores resultados dos corpos cerâmicos, com ausência de fraturas, resistências à compressão entre 69,15 e 29,6 MPa e que cumpriram as especificações técnicas, foram obtidos nas proporções: ACM+15F, DB+5F, R5+5F, FS+5F, AM+5F e queima a 900 ºC.

Palavras-chave: caulim, filito, cerâmica, Quadrilátero Ferrífero.

ABSTRACT

Seven samples from three kaolin deposits of the Quadrilátero Ferrífero were characterized by physical, mineralogical and chemical analyses in order to determine their use in the ceramic industry. Despite the predominant presence of kaolinite, the variations in the Fe2O3 content from 2 to 44%, due to presence of goethite and hematite, resulted in different colors, namely: white (ACM and DB), yellow (R5), yellowed red (FS) and red (DV, R1 and AM). Specimens were burned at 900 and 1100 °C and they almost didn't change color. However, only specimens made with DV and R1 samples reached the technical specifications for the ceramic industry, without fractures and with values of compression strength of 96.2 and 64.2 MPa, respectively. The other samples were made by mixing phyllite in the proportions of 5, 10, 15, 20 and 25% and burned at 900 and 1100 °C. The bricks made with ACM+15F, DB+5F, R5+5F, FS+5F, AM+5F and burned at 900 ºC reached the technical specifications for ceramic industry, without fractures and with values of compression strength between 69.15 and 29.6 MPa.

Keywords: kaolin, phyllite, ceramic industry, Quadrilátero Ferrífero.

INTRODUÇÃO

A ampla distribuição de depósitos argilosos caulinítica no Quadrilátero Ferrífero despertou o interesse pela sua pesquisa desde o início do século XIX [1]. Entretanto, apesar dos inúmeros trabalhos [2-10], estes, de caráter genérico, visaram essencialmente a gênese destes corpos ficando o estudo da sua potencialidade para a indústria de cerâmica em um segundo plano. Ressalta-se, portanto a importância dos trabalhos mineralógicos, cristaloquímicos e micromorfológicos de detalhe [11-20] que forneceram uma caracterização detalhada de algumas ocorrências, dados estes imprescindíveis para estudos aplicativos. Neste contexto estudos realizados nos corpos argilosos cauliníticos do depósito de Padre Domingos [18] e, do Morro do Caxambu [20-23] forneceram uma detalhada caracterização desses corpos com a definição e descrição das diferentes fácies presentes, sendo algumas destas selecionadas para o presente estudo, que objetiva a análise da viabilidade de sua aplicação na indústria cerâmica.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram estudadas argilas de três localidades no Quadrilátero Ferrífero (Fig. 1): i) depósito de Padre Domingos, localizado no sinclinal Moeda; ii) Morro do Caxambu, no sinclinal Dom Bosco; e iii) taludes ao lado da rodovia BR-040.


No depósito de Padre Domingos as três fácies, previamente definidas [18] como arenito coesivo maciço (ACM), diamictito branco (DB) e diamictito vermelho (DV), foram utilizadas como matérias primas neste estudo. No Morro do Caxambu, das quatro fácies previamente definidas [21-23]: fragmentária, argilosa maciça, nodular e argilosa friável, somente argilosa maciça (AM) e argilosa friável (FS) foram selecionadas devido ao seu maior conteúdo na fração argila (< 2 mm). Amostras de dois taludes (R1 e R5) da rodovia BR-040, também foram coletadas. Adicionalmente, como material aditivo foi utilizado filito (F) da Formação Fecho do Funil, Grupo Piracicaba, Supergrupo Minas, que é o embasamento destes depósitos. Os filitos são utilizados na indústria cerâmica como matéria prima fundente [24] como também na elaboração de massas para revestimentos [25, 26], tanto na forma natural ou beneficiada [27], substituindo parcialmente o feldspato pelo seu alto teor de potássio proveniente da mica muscovita.

A coleta das amostras foi realizada em pelo menos cinco pontos distribuídos da base ao topo de cada fácies/talude selecionada, com a finalidade de se obter amostras bem representativas e características. Para cada ponto de amostragem, 10 kg de amostras foram coletadas, secadas a temperatura ambiente, destorroadas e homogeneizadas, sendo, em seguida, preparadas sete amostras compostas, representativas de cada fácies/talude, e designadas com o mesmo nome da fácies/talude de coleta.

Análises granulométricas por peneiramento a úmido, utilizando as peneiras 5, 10, 18, 35, 60, 120, 230 e 400 mesh, que representam os limites dos tamanhos de partículas: grânulo, areia e silte, de acordo com a escala Wenthworth, foram efetuadas. Para essa análise, 50 g de cada amostra foram misturadas com 500 mL de uma solução dispersante de metassilicato de sódio 0,1% p/v, agitadas e mantidas em repouso por 12 h. Em seguida, as misturas foram novamente agitadas por 5 h e peneiradas. O material retido em cada peneira foi secado a 70 ºC, pesado e calculado o percentual de cada fração. O tamanho médio das partículas da fração silte fino+argila foi analisado em granulômetro a laser 1064 Cilas.

Difratogramas de raios X, em preparações não orientadas, foram obtidos em um difratômetro Rigaku Geiegrflex D/Max-B com radiação monocromática CuKα, em faixa angular entre 2 e 70º e velocidade de 1,2 °/min.

Análises termodiferenciais (ATD) e termogravimétricas (ATG) foram feitas entre 25 e 1100 °C sob atmosfera de nitrogênio com um equipamento TA SDT 2960, com taxa de aquecimento 20 ºC/min, com alumina como material padrão.

Análises químicas dos elementos maiores e menores foram feitas em equipamento Philips - PANalytical MagiX com amostrador automático PW 2540, equipado com tubo de ródio a 2,4 kW.

O limite de liquidez e o índice de plasticidade foram determinados de acordo com as NBR 6459 [28] e NBR 7180 [29], respectivamente, utilizando um aparelho Casagrande da Viatest-Pattrol, uma balança Marte AS 2000C e uma estufa FABBE.

Para a preparação dos corpos de prova, as amostras compostas foram peneiradas a #35 mesh (0,425 mm) e designadas com o mesmo nome da fácies/talude de coleta. Corpos de prova prismáticos (7,0 cm x 2,0 cm x 1,5 cm) foram confeccionados com 8,5% de umidade [30], determinada com uma balança Marte ID200, com uma prensa hidráulica Alfred Jamsler. A pressão aplicada variou de acordo com a obtenção de corpos sem fissuras, assim: 8 t para ACM, DB, R5, FS e AM; 3 t para DV; 2 t para R1 e; 5 t para todas as misturas. A queima, em duas temperaturas, 900 e 1100 °C, foi feita em uma mufla Grion com 4 a 5 patamares de aquecimento: 100 °C/12 h, 400 °C/2 h, 600 °C/2 h, 900 °C/3 h e a 1100 °C/3 h. As temperaturas de queima de 900 e 1100 °C utilizadas nesse trabalho correspondem, respectivamente, ao valor mínimo e máximo de temperatura empregado para a utilização de argilas comuns (argilas cauliníticas) no setor da cerâmica vermelha [31]. Os ensaios de queima preliminares mostraram que somente para as amostras DV e R1 foi possível a obtenção de corpos cerâmicos sem fraturas. Desta forma, para as amostras restantes (ACM, DB, R5, FS e AM) foram feitas misturas com filito (F) nas proporções de 5, 10 e 20%. Para ACM ainda foi necessária a adição de 25% de F, para obter um resultado mais eficiente. Essas misturas foram denominadas de acordo com o nome da amostra e com o teor aditivo, por exemplo, para ACM: ACM+5F, ACM+10F, ACM+15F, ACM+25F. Para cada amostra composta, com aditivo e nos corpos cerâmicos foi determinada a densidade, usando um Multipicnômetro Quantachrome com gás hélio, assim como a superfície específica e a porosidade pelo método de BET (Brunauer, Emmett e Teller) em um analisador automático Quantachrome Nova 1000 com absorção de N2 a -196 ºC e desgasificação a 60 ºC/5 h.

A quantificação da retração linear foi feita relacionando as dimensões dos corpos de prova (em cru) com os corpos cerâmicos (após queima a 900 e a 1100 º C). Os valores de absorção de água, de acordo com a norma NBR 8947 [32], foram obtidos relacionando o peso dos corpos cerâmicos secos com o seu peso após fervidos em água durante duas horas. Os ensaios mecânicos de resistência à compressão, de acordo com a norma NBR 6460 [33], foram feitos utilizando a mesma prensa hidráulica da confecção dos corpos de prova.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos das análises granulométricas (Tabela I) indicam que todas as amostras são predominantemente compostas por silte fino + argila (SF+A), com mais de 81%, exceto R1 que apresenta 46,5% dessa fração. O diâmetro médio (DM) das partículas dessa fração varia entre 5,9 a 13,0 µm; em F é 16,9 µm.

As amostras da rodovia apresentam os mais altos valores de areia, sendo 18,1% em R5 e 46,% em R1. Nas amostras de Padre Domingos essa fração varia entre 5,3 e 7,2% e nas do Morro do Caxambu entre 4,7 e 9,9%. No aditivo F essa fração areia atinge valores mínimos (1,6%). A presença de silte e pequenas proporções de areia nas amostras favorecem a obtenção de algumas características das cerâmicas, tal como não trincamento, retração, vitrificação, etc. [34]. As proporções adequadas para cerâmica vermelha podem variar entre 4 a 7% de areia, 29 a 50% de silte e 45 a 62% de argila [35]. Somente as amostras DV, AM e R1 contêm partículas de tamanho grânulo, atingindo um máximo de 11,8% em AM. Valores de índice de plasticidade (IP) entre 17,0 e 51,6 (Tabela II), portanto superior a 15, indicam materiais altamente plásticos [36]. Pode-se notar que o diâmetro médio das partículas finas guarda relação com a plasticidade, pois as amostras com partículas menores refletem em menores índices de plasticidade, enquanto as com partículas maiores, apresentam maiores IP. Já no aditivo não foi possível obter valores de limites de Atterberg nem IP, portanto não apresentou plasticidade.

A mineralogia das sete amostras compostas (Figs. 2 e 3) é similar, predominando caulinita e, secundariamente, quartzo, hematita, feldspato, muscovita e goethita. As análises térmicas diferenciais corroboraram esta composição. O filito (Figs. 2 e 3) é constituído principalmente por muscovita (M), caulinita (K) e quartzo (Q). Nas misturas podem ser identificados todos os minerais contidos nas argilas e no aditivo F. Nos corpos cerâmicos obtidos a 900 ºC (Figs. 2 e 3) ainda pode ser identificada mica (em menores proporções), quartzo, feldspato e hematita, pois a estrutura cristalina da caulinita foi destruída e, a goethita transformou-se em hematita [37]. Já nos corpos a 1100 ºC (Figs. 2 e 3) além do quartzo e hematita, aparece a mulita (Mu), sendo esta bem evidente na amostra DV.



A composição química das amostras compostas indica a relação SiO2/Al2O3 próxima de 1 (Tabela III). Exceção ocorre em R1 cuja relação é > 5 devido ao alto conteúdo de quartzo (Fig. 2D). Já no aditivo F, corroborando os dados mineralógicos, a sílica é quase o dobro do que a alumina, devido a presença predominante de muscovita. A presença deste mineral reflete no elevado teor em K2O (7,9%), que influencia diretamente no ponto de fusão das cerâmicas e na composição química das misturas [38, 39]. Foi observado o início da fase liquida a partir dos 900 °C para misturas de fases tipo caulim-mica, atingindo o intervalo de 1050 °C a 1100 °C para misturas tipo mica-caulim [39]. A temperatura de desidroxilação da muscovita pode variar em função dos diferentes polimorfos estruturais ocorrendo de 750 °C a 1050 °C [40]. Adicionalmente, este autor mostra que o efeito de moagem pode também interferir na temperatura de desidroxilação deste mineral. No presente trabalho observa-se que a 900 ºC ocorreu fusão parcial da mistura estando ainda presente menores proporções da muscovita, como demonstrado pela diminuição da intensidade do pico a 2θ=8,9°; já a 1000 ºC a fusão deste mineral foi total (Figs. 2 e 3).

As cores apresentadas pelas amostras [41]: brancas para ACM (5YR-8/1) e DB (5YR-8/1), vermelho amarelado (5YR-5/6) para FS, amarelo (10YR-8/6) para R5 e vermelhas para AM (2.5YR-4/6), R1 (2.5R-4/8) e DV (2.5R-5/8) estão diretamente relacionadas ao conteúdo em ferro. Assim, as amostras de cor branca possuem menores proporções de Fe2O3 com valores próximos a 2%, enquanto nas mais vermelhas como DV o conteúdo de ferro é maior a 44%. Após a queima, em geral, não houve mudança de cores, somente DV, R5 e AM apresentaram algumas variações, porém pouco significativas.

A Tabela IV mostra os valores de densidade, superfície específica por BET e porosidade para as amostras compostas, antes e após a queima, e das misturas após a queima. Pode-se verificar o aumento da densidade após a queima devido às mudanças que ocorrem com a estrutura cristalina dos minerais: a caulinita é destruída e a goethita se transforma em hematita. Este incremento é marcante nas amostras mais ricas em ferro, como DV e AM, que atingem após a queima valores de densidade superiores a 3 g/cm3 devido a presença predominante de hematita (d=5,26 g/cm3) e mulita (d=3,23 g/cm3).

Em relação à superfície específica, tanto nos corpos cerâmicos obtidos a partir das amostras compostas, quando com as misturas, observa-se que esses valores diminuem à medida que a temperatura de queima aumenta e, portanto, também diminui a microporosidade. Essas mudanças são mais evidentes nas amostras com maior teor de Fe2O3 como DV, onde o incremento de temperatura propicia a brusca diminuição da superfície específica acompanhada pela diminuição da microporosidade e aparecimento de macroporos [42] relacionados com o aumento do tamanho de grão da hematita [37, 43-45].

O aumento do tamanho do grão nas amostras, que é uma das características da sinterização [46], pode ser observado nas microfotografias obtidas em MEV (Fig. 4). Nessas mostra-se também a presença de microtrincas que não foram observadas a olho nu nos corpos cerâmicos.


Os ensaios tecnológicos apresentaram absorção de água (Tabela V), entre 13,23% para 9.R1 e 30,4% para 9.R5+5F. De acordo com as especificações para tijolos cerâmicos esses valores devem estar entre 8 e 25% [47]. Assim, a maior parte dos corpos cerâmicos aqui obtidos cumpre essas especificações. Entretanto, observações macroscópicas dos corpos de prova mostraram a presença de microfissuras que podem ser relacionadas aos corpos de prova com maiores valores de absorção de água, como o caso da amostra 9.R5+5F. Entretanto, as proporções de absorção de água podem ser relacionadas com a presença das microfissuras e com a porosidade dos corpos cerâmicos.

A retração linear (Tabela V) mostrou o valor mínimo de 0,28% para 9.ACM+15F e máximo de 7,53% para 1.AM+10F. Entretanto após queima dos corpos R1 houve uma pequena expansão das dimensões em valores próximos a 0,5%.

A resistência mecânica à compressão (Tabela V) foi alta sendo, com um mínimo valor de 16,5 MPa para 1.FS+10F e o máximo de 67,2 Mpa para 1.DV. Esses valores são superiores às especificações técnicas para tijolos cerâmicos que indicam valores mínimos de 1 MPa [47].

CONCLUSÕES

As diferentes técnicas de análises usadas para a caracterização mineralógica, física e química das argilas de três localidades do Quadrilátero Ferrífero, assim como o estudo tecnológico dos corpos cerâmicos obtidos a partir dessas argilas naturais e de misturas com filito, permitiram concluir que as amostras DV do depósito Padre Domingos e R1 do talude ao lado da rodovia, no Sinclinal Moeda usadas no seu estado natural, são as que apresentaram as melhores características tecnológicas e atingiram as especificações técnicas, resultando em corpos cerâmicos sem fraturas e resistências à compressão superiores às normas. Tal fato pode ser atribuído aos maiores teores de Fe2O3 em DV e, deste óxido em associação com SiO2 em R1. As demais argilas naturais não atingiram as especificações para tijolos cerâmicos, sendo, portanto necessário o uso do aditivo filito muscovítico para obtenção de características tecnológicas adequadas. A adição deste componente com as misturas de ACM, DB, R5 e FS, segundo as proporções de: ACM+15F, DB+5F, R5+5F, FS+5F, AM+5F, apesar de não ter provocado a fusão total da mistura a 900 ºC resultou em corpos com características físicas e mecânicas adequadas à indústria de cerâmica vermelha. Esses corpos cerâmicos apresentaram menor retração linear, maior resistência à compressão e ausência de fissuras.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a contribuição financeira da FAPEMIG e do CNPq e a colaboração técnica dos laboratórios de: materiais cerâmicos, difração de raios X, fluorescência de raios X, microscopia eletrônica de varredura e geoquímica ambiental, do Departamento de Geologia; BET e de tratamento de minérios do Departamento de Minas; de análises térmicas do Departamento de Química e de ensaios mecânicos do Departamento de Metalurgia da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Agradecemos ainda o suporte técnico do Laboratório de Ensaios Cerâmicos do Departamento de Petrologia e Metalogenia, Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista.

(Rec. 30/07/2010 Rev. 16/09/2010, 07/11/2010 Ac 18/11/2010)

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Jan 2012
  • Data do Fascículo
    Set 2011

Histórico

  • Recebido
    30 Jul 2010
  • Revisado
    16 Set 2010
  • Aceito
    18 Nov 2010
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