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Editorial

Com este número, o 368° de sua história, a Revista Cerâmica encerra mais um ano de sua missão de divulgar o trabalho de pesquisadores e profissionais do Brasil e do exterior sobre a ampla variedade dos materiais cerâmicos, tanto em natureza quanto em aplicação. Até agora, foram 63 anos e contando.

Certamente, a contagem continuará. Há uma grande dose de otimismo nessa afirmação, considerando o momento atual e a perspectiva de futuro da Ciência, Tecnologia e Inovação e, quem diria, Comunicação, que o país vive. Parafraseando o noticiário do momento desse editorial, a previsão orçamentária para 2018 é trágica. Não há muita margem de manobra entre a meta fiscal e os recursos contingenciados para que se criem grandes expectativas, além da previsão de que ela será mesmo trágica. Não há muita luz no final do túnel. E a que ainda houver, que pelo menos ela seja a do Sirius.

Mas se nós, pesquisadores, professores e profissionais, frutos e sementes (e neste caso a ordem está correta, primeiros frutos, depois sementes) de um, dois ou dos três componentes da tríade Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil, não tivermos a coragem, a ousadia de prever em nosso futuro que a Revista continuará, quem terá?

Afinal de contas, são 63 anos de história. Durante esse período, o país foi marcado por tantas outras turbulências, tremores políticos, econômicos e ideológicos envolvendo Ciência, Tecnologia e Inovação. A Revista não conta essa história, mas é parte viva dela. Sobreviveu às inquietações, indefinições, orçamentos escassos e incertezas quanto ao futuro.

A Revista sobrevive, pois neste cenário sempre pouco radiante de dirigentes de uma nação, que ainda não se convenceu que seu crescimento depende de sua capacidade de criar e inovar, nossa comunidade nunca demonstrou escassez das matérias-primas fundamentais da Revista: ideias e atitudes. Correção, gente com ideias e atitudes. Nesses alicerces a Revista foi criada e existe até hoje.

A prova incontestável do futuro da Revista é seu presente.

E seguimos ousando, como sementes do futuro de um país que está se modernizando. Contra a corrente, contra ideais, lentamente, mas se modernizando. À forma de tantas espécies vegetais que crescem nos lugares mais improváveis, em meio ao concreto, frestas de rochas, falésias, enfim. A natureza floreia. A mente humana também. E esta é feita de ideias. Aparentemente levados pela própria dificuldade, ou teimosia, ou ousadia, sempre buscando espaço para se materializar. A Revista tem sido um desses espaços.

Há mais de 63 anos, portanto antes da Revista Cerâmica existir, já se ouvia por essas paragens encontradas pelos europeus, que esse vasto território tem enorme potencial de crescimento. Rico em matérias-primas e fontes de energia, parece que não há outro jeito, a não ser crescer, desenvolver seu potencial, mesmo que a perspectiva imediata seja, novamente, trágica. Já foi trágica antes. Muito provavelmente será trágica novamente no futuro.

Encarregado de motivar os alunos sobre a importância dos materiais para a humanidade, costumo apresentar duas linhas do tempo. Uma com a história natural do gênero humano, e outra com os materiais e produtos cerâmicos desenvolvidos ao longo do mesmo período. Os mais antigos, artefatos resistentes à severa ação do tempo e suas intempéries. Ambas as histórias se iniciaram há milhares de anos e sobreviveram milhões de dificuldades. Assim são os materiais cerâmicos e, pelo jeito, assim são os que trabalham com eles. Resistentes e diversificados, estão eles e estamos nós em todos os lugares. Sempre estiveram e estivemos, como conta a história. E, certamente, sempre estaremos.

É curioso que no turbilhão da escassez de recursos, de indefinições e incertezas, a Revista Cerâmica cresceu em 2017, em número de submissões, artigos publicados e, não obstante, em rigor. Cada vez mais exigente e, ainda assim, mais procurada. Alçada e mantida em estratos superiores dos Qualis-CAPES de áreas afins, a Revista se afirma no cenário nacional e se expande para o mundial, a cada ano, no vai e vem de dificuldades impostas pelas diversas ideologias do que é importante e do que não é para o Brasil. Do que merece destaque do orçamento e do que não merece. Ainda não foram milhares de anos, como os materiais que a Revista aborda. Neste relógio de eras, a existência da Revista conta apenas alguns segundos. Sessenta e três, para ser preciso, mas certamente, o relógio não vai parar. Não há evidências de que estejamos perdendo força.

Ainda que os tempos sejam difíceis e as perspectivas ainda piores, que venha mais um ano, porque este que está próximo do fim, nós vencemos com brilho. Estamos prontos para 2018. Espero que vocês, autores e leitores também. Tenho certeza de que não vamos desistir. Seria contra a nossa natureza, observar, aprender e ensinar sobre materiais cerâmicos e não sermos igualmente resistentes às intempéries que nos cercam.

Antonio Eduardo Martinelli
, Editor Associado

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2017
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