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Sobre a fertilidade das praias dos rios que drenam o Estado do Acre

COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

Sobre a fertilidade das praias dos rios que drenam o Estado do Acre

Marcondes Lima da Costa; Henrique Diniz Farias de Almeida; José de Arimatéia Rodrigues do Rego; Alciney Miranda da Costa; Érica Cristina Acácio Viana; Milta Mariane da Mata Martins; Rômulo Simões Angélica

Ao tempo da primeira corrida de nordestinos, no século XIX, para as então remotas terras do sudoeste da Amazônia, hoje correspondentes ao Estado do Acre, fugindo da seca dos anos 1880 e atraídos pelo ouro negro (látex da seringueira), eles se depararam com muitas terras, muita água e muitas praias. Surpreendeu-se com uso que os índios faziam das praias para o cultivo de subsistência (Figuras 1 e 2). Para suprir as próprias necessidades, que o mundo adverso, distante de tudo, não lhes provia, passaram a fazer uso desses "solos" intermitentes, típicos do verão (estiagem). Essa atividade passou a ser uma rotina de todo cidadão de bem e trabalhador que vive nas barrancas dos rios Purus, Juruá e seus afluentes, até hoje. Que as terras e solos do Acre são férteis, isto não é nenhuma novidade, pois há muito tempo vem sendo noticiado pela sabedoria popular (Carneiro, 1930), pelo desenvolvimento agigantado de vários cultivares (banana - Musa sapientum, abacaxi - Ananás comosus, mandioca - Manihot esculenta crantz), pelas pesquisas do Radambrasil (1976) e da UFAC (1988). As praias não têm merecido tanto atenção das pessoas, certamente por se tratarem de "solos" geralmente quartzoso e sem matéria orgânica, indisponível em boa parte do ano e está restrito ao uso da comunidade ribeirinha, humilde e pobre. As praias do Acre se comportam de maneira oposta. Urgia, portanto, investigar uma possível origem geológica para tal fenômeno. Isto foi possível a partir do projeto SELENMERAS, uma pesquisa multidisciplinar e interinstitucional, apoiado pelo CNPq através do Edital Universal 476874-1, iniciado em 2002.

Figura 1
- Vista aérea de praia formada ao longo de um meandro (rio Iaco).
Figura 2
- Praias cultivadas com milho e feijão (Rio Envira).

Nessa oportunidade foram coletadas 14 amostras (Figura 3) de sedimentos praianos, nas quais foram realizadas análises no intuito de quantificar e identificar a origem da fertilidade dos mesmos. Os sedimentos se revelaram mais sílticos e compostos por quartzo, esmectita, illita, (caolinita) e feldspatos. São ricos em CaO, K2O e MgO (acima de 1%) relativamente a outros sedimentos de praias fluviais.

Figura 3
- Mapa de localização e amostragem.

O pH das águas dos rios que banham essas praias e transportam os sedimentos é alcalino (8 a 8,30).

As análises de fertilidade (Tabela 1) classificam os sedimentos dessas praias como cambissolos eutróficos, ou seja, férteis, semelhantes a muitos solos de terra-firme de várias regiões do Acre, confirmando a sabedoria popular ribeirinha sobre a alta fertilidade das praias dos rios que drenam o Acre. Dispensam, assim, o roçado, a queima e também a capina.

Tabela 1
- Análise de fertilidade.

Agradecimentos

Ao CNPq pelo apoio financeiro através do Projeto SELENMERAS (Proc. 476874-01); o apoio de campo da FUNTAC-Acre e laboratorial do Museu Paraense Emílio Goeldi.

Referências Bibliográficas

ALDRIGUE, M.L., LIMA, H.C. Caracterização física, química e físico-química do abacaxi [Ananás comosus (L.) Merril variedade Gigante-de-tarauacá]. Rio Branco: UFAC, 1988. p 81-88. (Série B - Ciência e Tecnologia1).

RADAMBRASIL. Levantamento de recursos naturais (geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação, uso potencial da terra). 1976, Folha SC. 19, Rio Branco, v. 12. Rio de Janeiro. DNPM.

CARNEIRO, H.R. Relatório do Período de Janeiro do ano de 1928 a outubro do ano 1929. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1930. 286 p.

Artigo recebido em 08/07/2003 e aprovado em /2003.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Out 2003
  • Data do Fascículo
    Jun 2003
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