Acessibilidade / Reportar erro

On the ecology of Brazilian medusae at 25º Lat. S

Abstract

A análise de 247 amostras quantitativas de plancton coletadas durante três anos em três estações fixas ao largo de Cananéia, Estado de São Paulo, até 17,2 milhas ao largo e a 28 m de profundidade, revelaram a presença de 28 espécies de medusas, 17 das quais foram estudadas detalhadamente. 1) As oito espécies seguintes podem ser consideradas bons indicadores da massa de água costeira: Podocoryne mínima, Bougainvillia ramosa, Stomotoca dinema, Laodicea minúscula, Obelia spp., Eucheilota ventricularis, E. duodecimalis, E. paradoxica. 2) As seis espécies seguintes são bons indicadores da massa de água da plataforma: Euphysora gracilis, Eucodonium brownei, Turritopsis nutricuia, Proboscidactyla ornata, Amphogona apsteini. 3) Uma espécie é bom indicador de massa de água tropical: Aglaura hemistoma, além disso ocorrem duas espécies ubiquistas. 4) A distribuição das espécies no espaço acompanha de perto a das massas de água. 5) No conjunto essas medusas são mais tolerantes em relação à temperatura do que à salinidade. Isso pode ser devido à procedência das amostras, todas de águas de pequena profundidade e portanto com uma fauna adaptada e sujeita a variações relativamente intensas de temperatura. 6) Não há duas espécies que tenham curvas semelhantes em relação à freqüência/temperatura ou frequência/salinidade, com os mesmos máximos ou com extremos comparáveis. Espécies com preferências semelhantes para salinidade, têm preferências diferentes para temperatura e vice-versa. 7) O plancton é um tipo de ecosistema juvenil, que todavia pode ser relativamente mais ou menos maduro. A massa de água costeira, submetida a mudanças contínuas é a que se mantém em estado mais juvenil de todas as estudadas no presente trabalho, enquanto a massa de água tropical (Corrente do Brasil) é a relativamente mais madura, por ser u'a massa de água velha com variações de menor amplitude e de período mais longo. A massa de água costeira é intermediária entre as duas. 8) Espécies ou fases do ciclo específico que ocupam um alto nível trófico num ecosistema jovem não podem alcançar um nível de independência do ambiente e de eficiência muito altos e portanto ou abandonam a vida planctónica ou não alcançam um nível de eficiência e estabilidade mais altos. 9) Há indícios de que certas espécies toleram concentrações de salinidade inferiores ao ótimo em temperatura baixa e vice-versa salinidade mais alta do que o ótimo favorece a sobrevivência em temperatura mais alta. Esse fato é comparado à relação temperatura/umidade do ar que foi demonstrada para certas espécies terrestres. 10) A tolerância de uma maior amplitude de variação, certos fatores ecológicos como temperatura, salinidade, etc, em condições experimentais por parte de animais planctónicos, pode ser explicada pela existência de competição inter e intraspecífica no ambiente natural, enquanto que no laboratório todos os fatores são mantidos no seu ótimo, afora aquele experimentado. Esse fato é relacionado também com o que tem sido chamado "character displacement" (deslocamento de caracteres). 11) As espécies de medusas da massa de água costeira apresentaram maior número de indivíduos, o que sugere maior produtividade dessa massa de água ou um mais alto nível de maturidade nesse ecosistema.


On the ecology of Brazilian medusae at 25º Lat. S

M. Vannucci

RESUMO

A análise de 247 amostras quantitativas de plancton coletadas durante três anos em três estações fixas ao largo de Cananéia, Estado de São Paulo, até 17,2 milhas ao largo e a 28 m de profundidade, revelaram a presença de 28 espécies de medusas, 17 das quais foram estudadas detalhadamente.

1) As oito espécies seguintes podem ser consideradas bons indicadores da massa de água costeira: Podocoryne mínima, Bougainvillia ramosa, Stomotoca dinema, Laodicea minúscula, Obelia spp., Eucheilota ventricularis, E. duodecimalis, E. paradoxica.

2) As seis espécies seguintes são bons indicadores da massa de água da plataforma: Euphysora gracilis, Eucodonium brownei, Turritopsis nutricuia, Proboscidactyla ornata, Amphogona apsteini.

3) Uma espécie é bom indicador de massa de água tropical: Aglaura hemistoma, além disso ocorrem duas espécies ubiquistas.

4) A distribuição das espécies no espaço acompanha de perto a das massas de água.

5) No conjunto essas medusas são mais tolerantes em relação à temperatura do que à salinidade. Isso pode ser devido à procedência das amostras, todas de águas de pequena profundidade e portanto com uma fauna adaptada e sujeita a variações relativamente intensas de temperatura.

6) Não há duas espécies que tenham curvas semelhantes em relação à freqüência/temperatura ou frequência/salinidade, com os mesmos máximos ou com extremos comparáveis. Espécies com preferências semelhantes para salinidade, têm preferências diferentes para temperatura e vice-versa.

7) O plancton é um tipo de ecosistema juvenil, que todavia pode ser relativamente mais ou menos maduro. A massa de água costeira, submetida a mudanças contínuas é a que se mantém em estado mais juvenil de todas as estudadas no presente trabalho, enquanto a massa de água tropical (Corrente do Brasil) é a relativamente mais madura, por ser u'a massa de água velha com variações de menor amplitude e de período mais longo. A massa de água costeira é intermediária entre as duas.

8) Espécies ou fases do ciclo específico que ocupam um alto nível trófico num ecosistema jovem não podem alcançar um nível de independência do ambiente e de eficiência muito altos e portanto ou abandonam a vida planctónica ou não alcançam um nível de eficiência e estabilidade mais altos.

9) Há indícios de que certas espécies toleram concentrações de salinidade inferiores ao ótimo em temperatura baixa e vice-versa salinidade mais alta do que o ótimo favorece a sobrevivência em temperatura mais alta. Esse fato é comparado à relação temperatura/umidade do ar que foi demonstrada para certas espécies terrestres.

10) A tolerância de uma maior amplitude de variação, certos fatores ecológicos como temperatura, salinidade, etc, em condições experimentais por parte de animais planctónicos, pode ser explicada pela existência de competição inter e intraspecífica no ambiente natural, enquanto que no laboratório todos os fatores são mantidos no seu ótimo, afora aquele experimentado. Esse fato é relacionado também com o que tem sido chamado "character displacement" (deslocamento de caracteres).

11) As espécies de medusas da massa de água costeira apresentaram maior número de indivíduos, o que sugere maior produtividade dessa massa de água ou um mais alto nível de maturidade nesse ecosistema.

Full text available only in PDF format.

Texto completo disponível apenas em PDF.

9 - REFERENCES

(Received 19/3/63)

Publ. nº 182 do Inst. Ocean. da USP.

  • ANDREWARTHA, H. G. 1961. Introduction to the study of animal populations. xvii+281 pp. London, Methuen.
  • BIERI, R. 1957. Chaetognatha fauna off Peru in 1941. Pac. Sci., vol. 2, n.ş 3, pp. 255-264.
  • BROWN, W. L. & WILSON, E. O. 1956. Character displacement. Syst. Zool., vol. 5, pp. 49-64.
  • EMILSSON, I. 1961. The shelf and coastal waters off Southern Brazil. Bol. Inst. Ocean., vol. 11, n.ş 2, pp. 101-112.
  • FRASER, J. H. 1952. The Chaetognatha and other zooplankton of the Scottish area and their value as biological indicators of hydrological conditions. Scot. Home Dept., Mar. Res. Publ. n.ş 2, pp. 3-52.
  • FRASER, J. H. 1955. The plankton of the water approaching the British Isles in 1953. Scot. Home Dept., Mar. Res. Publ. n.ş 1, pp. 2-12.
  • GLOVER, R. S. 1961. Biogeographical boundaries: the shapes of distributions. Oceanography. Amer. Ass. Adv. Sc., pp. 201-228.
  • HEDGPETH, J. W. 1957. Treatise on marine ecology and paleontology. Sandy beaches, vol. 1. Mem. Geol. Soc. Amer., vol. 67, pp. 587-608.
  • KINNE, O. 1958. Adaptation to salinity variations. Some facts and problems. Physiological adaptation. Symp., Woods Hole 1957, pp. 92-105.
  • KRAMP, P. L. 1961. Synopsis of the medusae of the world. J. Mar. Biol. Ass. U.K., vol. 40, pp. 1-469.
  • KROHN, A. J. & ORIANS, G. H. 1962. Ecological data in the classification of closely related species. Syst. Zool., vol. 11, pp. 119-126.
  • LE BRASSEUR, R. J. 1959. Sagitta lyra, a biological indicator species in the subarctic waters of the eastern Pacific Ocean. J. Fish. Res. Bd. Canada, vol. 16, pp. 795-805.
  • LEGARÉ, J. E. H. 1961. Estudios preliminares del zooplancton en la región de Cariaco. Bol. Inst. Ocean. Cumaná, vol. 1, n.ş 1, pp. 191-218.
  • MARGALEF, R. 1958. Temporal succession and spatial heterogeneity in phytoplankton. Perspectives Mar. Biol., pp. 323-349. Berkeley, Univ. Cal. Press.
  • MARGALEF, R. 1959. Ecología, biogeografía y evolución. Rev. Univ. Madrid, vol. 8, pp. 221-273.
  • MARGALEF, R. 1961a. Hidrografía y fitoplancton de una area marina de la costa meridional de Puerto Rico. Inv. Pesq., vol. 18, pp. 33-96.
  • MARGALEF, R. 1961b. Distribución ecológica y geográfica de las especies del fitoplancton marino. Inv. Pesq., vol. 19, pp. 81-101.
  • PETERSEN, K. W. & VANNUCCI, M. 1960. The life cycle of Koellikerina fasciculata (Anthomedusae, Bougainvilliidae). Pubbl. Staz. Zool. Napoli, vol. 31, pp. 473-492.
  • RUSSELL, F. S. 1935. On the value of certain plankton animals as indicators of water movements in the English Channel and North Sea. J. Mar. Biol. Ass. U.K., vol. 20, pp. 309-332.
  • RUSSELL, F. S. 1936. Observations on the distribution of plankton animal indicators made on Col. E.T. Peel's Yacht "St. George" in the mouth of the English Channel, July 1935. J. Mar. Biol. Ass. U.K., vol. 20, pp. 507-522.
  • RUSSELL, F. S. 1953. The medusae of the British Isles, xiii+530 pp. 35 pls. Cambridge Univ. Press.
  • SUND, P. N. 1961. Some factors of the autecology and distribution of Chaetognatha in the Eastern Tropical Pacific. Bull. Interam. Trop. Tuna Comm., vol. 5, pp. 307-340.
  • THIEL, M. E. 1936. Systematische Studien zu den Trachyline der Meteor expedition. Zool. Jahrb. Syst., vol. 69, pp. 1-92.
  • THORSON, G. 1946. Reproduction and larval development of Danish marine bottom invertebrates. Medd. Komm. Havundersg. Kbh. Plankton S., vol 4, n.ş 1, pp. 1-523.
  • VANNUCCI, M. 1949. Hydrozoa do Brasil. Bol. Fac. Fil. Ciênc. Letr. Univ. S. Paulo, n.ş 99, Zool. n.ş 14, pp. 219-266, pls. 1-3.
  • VANNUCCI, M. 1957. On Brazilian Hydromedusae and their distribution in relation to different water masses. Bol. Inst. Ocean., vol. 8, pp. 23-109.
  • VANNUCCI, M. 1958. Considerações em torno das hydromedusas da região de Fernando de Noronha. Bol. Inst. Ocean., vol. 9, pp. 3-12.
  • VANNUCCI, M. 1960a. On the intraspecific variation and biology of Merga tergestina (Anthomedusae, Pandeidae). Pubbl. Staz. Zool. Napoli, vol. 31, pp. 392-420.
  • VANNUCCI, M. 1960b. On the young stage of Eucheilota duodecimalis (Leptomedusae). An. Acad. Bras. Ciênc, vol. 32, pp. 395-397.
  • VANNUCCI, M. 1961. Plancton coletado durante a VI viagem do N/Oc. "Almirante Saldanha" : relatório. Contr. Avuls. Inst. Ocean., Ocean. Biol., n.ş 1, pp. 1-15.
  • VANNUCCI, M. 1962a. Zooplankton standing stock off the South Brazilian coast. Rapp. Proc. Verb. Cons. Int. Rech. Mer, vol. 153, pp. 223. Abstract.
  • VANNUCCI, M. 1962b. Preliminary results of the study of the Zooplankton standing stock off the South Brazilian coast at 25ş lat S. Contr. Avuls. Inst. Ocean., Ocean. Biol., n.ş 3, pp. 1-28.
  • VANNUCCI, M. & ALMEIDA PRADO, M. S. A. de 1959. Sobre as coletas de plancton da III e IV viagens do N/Oc. "Almirante Saldanha". Contr. Avuls. Inst. Ocean., Ocean. Biol., n.ş 1, pp. 1-16+9 d. 1,2.
  • VANNUCCI, M. & QUEIROZ, D. Plâncton coletado durante a viagem do N/Oc. "Almirante Saldanha": relatório. Contr. Avuls. Inst. Ocean., Ocean. Biol. (Under press), and unpublished.
  • VANNUCCI, M. & REES, W. J. 1961. A revision of the genus Bougainvillia (Anthomedusae). Bol. Inst. Ocean., vol. 11, n.ş 2, pp. 57-100.
  • WERNER, B. & AURICH, H. 1955. Über die Entwicklung des Polypen von Ectopleura dumortieri von Beneden und die Verbreitung der planktonischen Stadien in der südlichen Nordsee (Athecatae Anthomedusae). Helgol. Wiss. Meeresunt., vol. 5, n.ş 2, pp. 234-250.
  • ZOPPI, E. 1961. Medusas de la region este de Venezuela. Bol. Inst. Ocean. Cumaná., vol. 1, n.ş 1, pp. 173-239.

Publication Dates

  • Publication in this collection
    13 June 2012
  • Date of issue
    1963

History

  • Received
    19 Mar 1963
Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo Praça do Oceanográfico, 191, 05508-120 São Paulo SP Brasil, Tel.: (55 11) 3091 6513, Fax: (55 11) 3032 3092 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: amspires@usp.br