Variação sazonal do fitoplâncton da região do Saco da Ribeira (Lat. 23º30'S; Long. 45º07'W), Ubatuba, Brasil

Sassi, Roberto; Kutner, Miryam B. B

doi:10.1590/S0373-55241982000200005

Resumos

Estudos sobre a variação sazonal do fitoplâncton e clorofila-a foram desenvolvidos na região de Ubatuba, extremo norte do Estado de São Paulo (Lat. 23º30'S, Long. 45º07'W), através de coletas mensais, durante o período de junho de 1974 a setembro de 1975. Foram também avaliados a temperatura da água, salinidade, oxigênio dissolvido e transparência. Paralelamente, foram obtidos dados pluviométricos da região, referentes ao período considerado. As amostras destinadas aos referidos estudos foram coletadas verticalmente, em três níveis de profundidade: superfície, profundidade de extinção do disco de Secchi e 60 centímetros acima do fundo. Qualitativamente, as diatomáceas apresentaram-se como o grupo mais diversificado e, em segundo lugar, os dinoflagelados. Quantitativamente, a população fitoplanctônica apresentou-se constituída fundamentalmente por fitoflagelados, seguidos por diatomáceas e dinoflagelados. Cianofíceas e silicoflagelados também estiveram presentes, porém em quantidades muito menores. Excluindo-se os fitoflagelados, as espécies mais representativas da população fitoplanctônica da região foram as diatomáceas Nitzchia closterium, Thalassionema nitzschioides, Navicula sp. e o dinoflagelado Gymnodinium sp. O número máximo de células observado, de um modo geral, ocorreu durante o verão, evidenciado tanto pelas contagens (máximo de 1.028.000 células/litro), como pelas determinações de clorofila-a (máximo de 6,86 µg/1); nesta época, houve um máximo de precipitação pluviométrica e modificação na estabilidade térmica da coluna d'água. Os estudos de fracionamento demonstraram que a fração menor que 20 µm (nanofitoplâncton) é a predominante no fitoplâncton total.

Seasonal changes in phytoplankton populations in the chlorophyll-a concentration and on some environmental factors were studied monthly from June 1974 to September 1975 at Ubatuba, northern coast of São Paulo. Water temperatures ranged from 20ºC in August to 29.5ºC in March and salinities from 33.06 º/.. in March to 35.80 º/.. in January. The maximum salinity value observed in January near the bottom, associated with the thermal stratification found only during this month, seems to indicate an oceanic contribution to the enrichment of the local water mass. Pluviometric values ranged from 37.2 mm in August to 468.5 mm in January. Phytoplankton cell counts fluctuated from 64,000 to 1,028,000 cells/l and chlorophyll-a values varied from 0.52 to 6.86 µg/l. Maximum standing-stock was observed during summer, particularly in March, and it is probably associated with land drainage due to precipitation. A second bloom was observed in September 1975, and it is associated probably with the discontinuous impact of the wind. The phytoplankton populations were dominated by unidentified phytoflagellates, followed by diatoms and dinoflagellates. Nitzchia closterium and Thalassionema nitzschioides, along with Navicula sp., were the most representative species of diatoms. Among the dinoflagellates, Gymnodinium sp. was the most important. Blue-green algae and silicoflagellates were poorly represented. The diatoms Chaetoceros simplex, Chaetoceros spp, Nitzchia longissima, Nitzchia spp, Rhizosolenia delicatula and Rhizosolenia stolterfothi were found with high densities, only during bloom periods. The chlorophyll-a fractionation experiments demonstrated that organisms in size classe smaller than 20 µm represented, for all depths, between 54.93 and 98.15 º/.. of the total phytoplankton population.

ARTIGOS

Variação sazonal do fitoplâncton da região do Saco da Ribeira (Lat. 23º30'S; Long. 45º07'W), Ubatuba, Brasil

Seasonal variation of phytoplankton in the region of Saco da Ribeira (Lat. 23º30'S; Long. 45º07'W), Ubatuba, Brazil

Roberto Sassi^I; Miryam B. B. Kutner^II

^INEPREMAR e Departamento de Biologia da Universidade Federal da Paraíba

^IIInstituto Oceanográfico da Universidade de Sao Paulo

RESUMO

Estudos sobre a variação sazonal do fitoplâncton e clorofila-a foram desenvolvidos na região de Ubatuba, extremo norte do Estado de São Paulo (Lat. 23º30'S, Long. 45º07'W), através de coletas mensais, durante o período de junho de 1974 a setembro de 1975. Foram também avaliados a temperatura da água, salinidade, oxigênio dissolvido e transparência.

Paralelamente, foram obtidos dados pluviométricos da região, referentes ao período considerado.

As amostras destinadas aos referidos estudos foram coletadas verticalmente, em três níveis de profundidade: superfície, profundidade de extinção do disco de Secchi e 60 centímetros acima do fundo.

Qualitativamente, as diatomáceas apresentaram-se como o grupo mais diversificado e, em segundo lugar, os dinoflagelados.

Quantitativamente, a população fitoplanctônica apresentou-se constituída fundamentalmente por fitoflagelados, seguidos por diatomáceas e dinoflagelados. Cianofíceas e silicoflagelados também estiveram presentes, porém em quantidades muito menores.

Excluindo-se os fitoflagelados, as espécies mais representativas da população fitoplanctônica da região foram as diatomáceas Nitzchia closterium, Thalassionema nitzschioides, Navicula sp. e o dinoflagelado Gymnodinium sp.

O número máximo de células observado, de um modo geral, ocorreu durante o verão, evidenciado tanto pelas contagens (máximo de 1.028.000 células/litro), como pelas determinações de clorofila-a (máximo de 6,86 µg/1); nesta época, houve um máximo de precipitação pluviométrica e modificação na estabilidade térmica da coluna d'água.

Os estudos de fracionamento demonstraram que a fração menor que 20 µm (nanofitoplâncton) é a predominante no fitoplâncton total.

SYNOPSIS

Seasonal changes in phytoplankton populations in the chlorophyll-a concentration and on some environmental factors were studied monthly from June 1974 to September 1975 at Ubatuba, northern coast of São Paulo. Water temperatures ranged from 20ºC in August to 29.5ºC in March and salinities from 33.06 º/.. in March to 35.80 º/.. in January. The maximum salinity value observed in January near the bottom, associated with the thermal stratification found only during this month, seems to indicate an oceanic contribution to the enrichment of the local water mass. Pluviometric values ranged from 37.2 mm in August to 468.5 mm in January. Phytoplankton cell counts fluctuated from 64,000 to 1,028,000 cells/l and chlorophyll-a values varied from 0.52 to 6.86 µg/l. Maximum standing-stock was observed during summer, particularly in March, and it is probably associated with land drainage due to precipitation. A second bloom was observed in September 1975, and it is associated probably with the discontinuous impact of the wind. The phytoplankton populations were dominated by unidentified phytoflagellates, followed by diatoms and dinoflagellates. Nitzchia closterium and Thalassionema nitzschioides, along with Navicula sp., were the most representative species of diatoms. Among the dinoflagellates, Gymnodinium sp. was the most important. Blue-green algae and silicoflagellates were poorly represented. The diatoms Chaetoceros simplex, Chaetoceros spp, Nitzchia longissima, Nitzchia spp, Rhizosolenia delicatula and Rhizosolenia stolterfothi were found with high densities, only during bloom periods. The chlorophyll-a fractionation experiments demonstrated that organisms in size classe smaller than 20 µm represented, for all depths, between 54.93 and 98.15 º/.. of the total phytoplankton population.

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(Manuscrito recebido em 01/Fev./1982; aceito em 02/Out./1982)

AIDAR-ARAGÃO, E. 1980. Alguns aspectos da autoecologia de Skeletonema costatum (Greville) Cleve, de Cananéia (25şS-48şW) com especial referência ao fator salinidade. Tese de doutorado. Universidade de São Paulo, Instituto Oceanográfico, 2 vol.
AVARIA, P. S. 1965. Diatomaceas y silicoflagelados de la Bahía de Valparaiso. Revta Biol. mar., 12(1/2/3):61-119.
BRAUN, J. G. & REAL, F. 1981. Algunas comparaciones entre el nanoplancton y el fitoplâncton de red en aguas de las Islas Canarias. Boln Inst. esp. Oceanogr., 6(1):99-105.
COLLIER, A. & MURPHY, A. 1952. Very small diatoms: preliminary notes and description of Chaetoceros galvestonensis Science, N. Y., 136(3518):780-782.
CREITZ, G. I. & RICHARDS, F. A. 1955. The estimation and characterization of the plankton population by pigment analysis. III. J. mar. Res., 14:211-216.
DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), São Paulo. 1972. Atlas pluviométrico do Estado de São Paulo (período: 1941-1970). São Paulo, DAEE, xii+84p.
HALLEGRAEFF, G. M. 1981. Seasonal study of phytoplankton pigments and species at a coastal station off Sydney: importance of diatoms and the nanoplankton. Mar. Biol., 61:107-118.
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HULBURT, E. M. & CORWIN, N. 1970. Relation of phytoplankton to turbulence and nutrient renewal in Casco Bay, Maine. J. Fish. Res. Bd Can., 21:2081-2090.
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______ & SASSI, R. 1979. Dinoflagellates from the Ubatuba region (Lat. 23ş30'S, Long 45ş06'W), Brazil. In: Taylor, D. L. & Seliger, eds. Toxic dinoflagellate blooms. New York, Elsevier North Holland, p. 169-172.
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TEIXEIRA, C.; TUNDISI, J. & KUTNER, M. B. B. 1965. Plankton studies in a mangrove environment. II. The standing-stock and some ecological factors. Bolm Inst. oceanogr., S Paulo, 14:13-41.
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TUNDISI, J.; TEIXEIRA, C.; TUNDISI, T. M.; KUTNER, M. B. B. & KINOSHITA, L. 1978. Plankton studies in a mangrove environment. IX. Comparative investigations with coastal oligotrophic waters. Revta bras. Biol., 38(2):301-320.
UTERMÖHL, H. 1931. Über das umgerkehrte Mikroskop. Arch. Hydrobiol. Plankt., 22:643-645.
VIEIRA, A. A. H. 1975. Estudos experimentais em fitoplâncton marinho. Culturas e aspectos ecofisiológicos. Dissertação de mestrado. Universidade de São Paulo, Instituto Oceanográfico, 115 p.

Datas de Publicação

Publicação nesta coleção
04 Jun 2012
Data do Fascículo
1982

Histórico

Recebido
01 Fev 1982
Aceito
02 Out 1982

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[1] AIDAR-ARAGÃO, E. 1980. Alguns aspectos da autoecologia de Skeletonema costatum (Greville) Cleve, de Cananéia (25şS-48şW) com especial referência ao fator salinidade. Tese de doutorado. Universidade de São Paulo, Instituto Oceanográfico, 2 vol.

[2] AVARIA, P. S. 1965. Diatomaceas y silicoflagelados de la Bahía de Valparaiso. Revta Biol. mar., 12(1/2/3):61-119.

[3] BRAUN, J. G. & REAL, F. 1981. Algunas comparaciones entre el nanoplancton y el fitoplâncton de red en aguas de las Islas Canarias. Boln Inst. esp. Oceanogr., 6(1):99-105.

[4] COLLIER, A. & MURPHY, A. 1952. Very small diatoms: preliminary notes and description of Chaetoceros galvestonensis Science, N. Y., 136(3518):780-782.

[5] CREITZ, G. I. & RICHARDS, F. A. 1955. The estimation and characterization of the plankton population by pigment analysis. III. J. mar. Res., 14:211-216.

[6] DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), São Paulo. 1972. Atlas pluviométrico do Estado de São Paulo (período: 1941-1970). São Paulo, DAEE, xii+84p.

[7] HALLEGRAEFF, G. M. 1981. Seasonal study of phytoplankton pigments and species at a coastal station off Sydney: importance of diatoms and the nanoplankton. Mar. Biol., 61:107-118.

[8] HARVEY, H. M. 1955. The chemistry and fertility of the seawater. London, Cambridge Univ. Press, 217 p.

[9] HULBURT, E. M. & CORWIN, N. 1970. Relation of phytoplankton to turbulence and nutrient renewal in Casco Bay, Maine. J. Fish. Res. Bd Can., 21:2081-2090.

[10] KUTNER, M. B. B. 1972. Variação estacional e distribuição do fitoplâncton na região de Cananéia. Tese de doutorado. Universidade de São Paulo, Instituto de Biociências, 104 p.

[11] ______ & SASSI, R. 1979. Dinoflagellates from the Ubatuba region (Lat. 23ş30'S, Long 45ş06'W), Brazil. In: Taylor, D. L. & Seliger, eds. Toxic dinoflagellate blooms. New York, Elsevier North Holland, p. 169-172.

[12] MAGLIOCCA, A. & KUTNER, A. S. 1965. Sedimentos de fundo da Enseada do Flamengo, Ubatuba. Contrçoes Inst. oceanogr. Univ. S Paulo, sér. Oceanogr. biol., (8):1-14.

[13] MARGALEF. R. 1974. Ecologia. Barcelona, Ediciones Omega, 915 p.

[14] REVELANTE, N. & GILMARTIN, M. 1976. Temporal sucession of phytoplankton in the northern Adriatic. Neth. J. Sea Res., 10(3):377-396.

[15] SMAYDA, T. J. 1957. Phytoplankton studies in lower Narragansett Bay. Limnol. Oceanogr., 2(4):342-357.

[16] ______ 1958. Biogeographical studies of marine phytoplankton. Oikos, 9(2):158-191.

[17] SOURNIA, A. 1969. Cycle annuel du phytoplancton et de la production primaire dans les mers tropicales. Mar. Biol., 3(4):227-303.

[18] STRICKLAND, J. D. H. & PARSONS, T. R. 1965. A manual of sea water analysis. Bull. Fish. Res. BdCan., (167):1-311.

[19] TEIXEIRA, C. 1973. Preliminary studies of primary production in the Ubatuba region (Lat. 23ş30'S, Long. 45ş06'W), Brazil. Bolm Inst, oceanogr., S Paulo, 22:49-58.

[20] ______ 1979. Produção primária e algumas considerações ecológicas da região de Ubatuba (Lat. 23ş30'S, Long. 45ş06'W), Brasil. Bolm Inst, oceanogr., S Paulo, 28(2):23-28.

[21] TEIXEIRA, C. & TUNDISI, J. G. 1981. The effects of nitrogen and phosphorus enrichments on phytoplankton in the region of Ubatuba (Lat. 23ş30'S, Long. 45ş06'W), Brazil. Bolm Inst, oceanogr., S Paulo, 30(1):77-86.

[22] TEIXEIRA, C.; TUNDISI, J. & KUTNER, M. B. B. 1965. Plankton studies in a mangrove environment. II. The standing-stock and some ecological factors. Bolm Inst. oceanogr., S Paulo, 14:13-41.

[23] TSUJI, T. & ADACHI, R. 1979. Distribution on nano-phytoplankton including fragile flagellates in the sub-tropical northwestern Philippine Sea. J. oceanogr. Soc. Japan, 35:173-178.

[24] TUNDISI, J. G. 1969. Produção primária, "standing-stock" e fracionamento do fitoplâncton na região lagunar de Cananéia. Tese de doutorado. Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, 130 p.

[25] TUNDISI, J.; TEIXEIRA, C.; TUNDISI, T. M.; KUTNER, M. B. B. & KINOSHITA, L. 1978. Plankton studies in a mangrove environment. IX. Comparative investigations with coastal oligotrophic waters. Revta bras. Biol., 38(2):301-320.

[26] UTERMÖHL, H. 1931. Über das umgerkehrte Mikroskop. Arch. Hydrobiol. Plankt., 22:643-645.

[27] VIEIRA, A. A. H. 1975. Estudos experimentais em fitoplâncton marinho. Culturas e aspectos ecofisiológicos. Dissertação de mestrado. Universidade de São Paulo, Instituto Oceanográfico, 115 p.