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Diagnóstico por imagem do punho na síndrome do túnel do carpo

Image diagnosis of carpal tunnel syndrome

VINHETA IMAGENOLÓGICA IMAGENOLOGIC VIGNETTE

Diagnóstico por imagem do punho na síndrome do túnel do carpo(* * Trabalho realizado no Departamento de Diagnóstico por Imagem da Universidade Federal de São Paulo (DDI/Unifesp/EPM), São Paulo, SP, Brasil. )

Image diagnosis of carpal tunnel syndrome

Elizabete TurriniI; André RosenfeldI; Yara JulianoI; Artur da Rocha Corrêa FernandesI; Jamil NatourII

IDDI/Unifesp/EPM

IIDisciplina de Reumatologia da Unifesp/EPM

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Jamil Natour. Disciplina de Reumatologia da Unifesp/EPM. Rua Botucatu, 740 CEP 04023-900, São Paulo, SP, Brasil.

INTRODUÇÃO

A síndrome do túnel do carpo (STC) resulta da compressão do nervo mediano no túnel do carpo, sendo a neuropatia mais comum da extremidade superior.

O túnel do carpo é um espaço restrito, elíptico, confinado ventralmente pelo retináculo dos flexores, inelástico e resistente e, dorsalmente, pela superfície anterior dos ossos do carpo. As maiores estruturas que passam pelo túnel são: quatro tendões flexores superficiais dos dedos e quatro tendões flexores profundos, tendão do flexor longo do polegar, e o nervo mediano.

A incidência de STC na população geral é menor do que 1%, podendo ser encontrados, entretanto, valores acima de 15% em trabalhadores de risco, sendo a tendinite o achado mais comum.

A compressão da STC é causada pela discrepância entre a capacidade rígida do canal e o volume de seu conteúdo. Dado que o volume do conteúdo e a capacidade do canal variam com a posição do punho em relação ao eixo do antebraço, os períodos de compressão podem ser inconstantes, e os sintomas resultantes tendem a flutuar (Tabela 1).

A STC ocupacional é causa de absenteísmo no trabalho e de disputas legais. Como a incidência de STC continua a aumentar, a avaliação acurada desses pacientes torna-se de fundamental importância.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico é clínico e determinado pela história e exame físico. Setenta por cento dos pacientes têm entre 40 e 70 anos de idade, e as mulheres são afetadas de três a cinco vezes mais do que os homens. Os sintomas da STC são fraqueza, hiperestesia ou parestesia no território do nervo mediano.

O exame físico do paciente com suspeita de STC inclui dois sinais: Tinel e Phalen. O sinal de Tinel é pesquisado com a percussão do punho, sendo positivo com dor ou formigamento no polegar e no indicador ou entre os dedos médios. O sinal de Phalen é pesquisado com a flexão a 90° do punho; se os sintomas forem reproduzidos em 60 segundos, é considerado positivo.

A avaliação neurofisiológica é um método de diagnóstico muito sensível e, eventualmente, utilizado para confirmar o diagnóstico clínico. Quando o diagnóstico clínico de STC é duvidoso, a eletromiografia pode ajudar, desde que haja comprometimento substancial das fibras nervosas; a eletromiografia positiva confirma a suspeita clínica de STC, mas, se negativa, não a afasta. A sensibilidade para o teste eletrodiagnóstico do nervo mediano varia entre 49% e 84%, enquanto especificidades de 95% ou mais têm sido registradas.

DIAGNÓSTICO POR IMAGEM

O diagnóstico por imagem é importante nos casos duvidosos e, especialmente, nos sintomas recorrentes ou não aliviados após a liberação cirúrgica do túnel do carpo. Enquanto as radiografias simples e a tomografia computadorizada representam valor diagnóstico limitado, exceto pela avaliação da estenose óssea do carpo e calcificações de partes moles, a ultra-sonografia e a ressonância magnética (RM) permitem a visualização direta da compressão do nervo mediano e outras estruturas de partes moles do túnel do carpo.

As grandes vantagens do ultra-som na STC são a de permitir a realização de um exame rápido, dinâmico, em tempo real, e a de representar baixo custo. O exame, no entanto, demonstra algumas limitações, como na avaliação das estruturas ósseas (Figura 1).


A área do nervo mediano é mais bem obtida no ultra-som na altura do rádio distal ou no pisiforme, que é considerado o túnel do carpo proximal, sendo a localização esperada para o edema máximo do nervo. Assumindo uma forma elíptica, a área do nervo no túnel do carpo proximal não deveria ser maior do que 10 mm².

Apesar do custo elevado, a RM pode fornecer maiores informações diagnósticas e anatômicas sobre a importância das estruturas de partes moles do túnel do carpo. A primeira vantagem da RM é a capacidade de distinguir entre os tipos de tecido, baseada no conteúdo de água e de gordura. Com o ajuste de uma série de parâmetros, as imagens podem ser adquiridas e relacionadas à quantidade de moléculas de prótons presentes em cada imagem. Outra vantagem é a capacidade de realizar qualquer seqüência de imagem em qualquer plano (Figuras 2 e 3).



Os principais achados de STC usando-se a RM são: o aumento do nervo mediano na entrada do túnel do carpo, melhor avaliado na altura do pisiforme; o achatamento do nervo mediano na região do hamato; o aumento da intensidade de sinal do nervo mediano na seqüência ponderada em T2; e o abaulamento do retináculo dos flexores.

CONCLUSÃO

O diagnóstico de STC é clínico. Pode ser auxiliado pela eletroneuromiografia, havendo um crescente interesse na utilização das modalidades de imagem para auxiliar a compreender as causas desta síndrome.

A RM e o ultra-som podem mostrar doenças do túnel do carpo em pacientes com STC de forma mais definida que os demais métodos de imagem. Deve-se, entretanto, lembrar que o diagnóstico da STC é eminentemente clínico, sendo o exame complementar de imagem apenas ocasionalmente solicitado; quando o mesmo for negativo, não afasta definitivamente o diagnóstico.

Em razão da excelente resolução de contraste, a RM é superior na detecção de graus moderados de compressão do nervo mediano e na identificação de potenciais causas de STC, assim como em tenossinovites dos flexores ou em lesões ocupando espaço. O baixo custo e a rapidez, entretanto, favorecem o uso do ultra-som como estudo inicial da imagem na avaliação do túnel do carpo, principalmente considerando-se que os critérios de imagem para o diagnóstico de STC aplicam-se a ambos os casos.

REFERÊNCIAS

1. Pierre-Jerome E, Bekkelund SI, Mellgren SI, Nordstrøøm R: Bilateral fast magnetic resonance imaging of the operated carpal tunnel. Scand J Plast Reconstr Hand Surg 31: 171-7, 1997

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3. Sernik RA: Síndrome do Túnel do Carpo com indicação de tratamento cirúrgico:avaliação ultra-sonográfica. (Tese) São Paulo: Universidade de São Paulo; 2001.

4. Chen P, Maklad N, Redwine M, Zellit D: Dynamic high-resolution sonography of the carpal tunnel. Am J Roentgenol 168: 533-7, 1997.

5. Lee D, Holsbeeck MT, Janeuski PK, Ganos DL, Ditmar DM, Darian UB: Diagnosis of carpal tunnel syndrome: ultrasound versus electromyography. Radiol Clin North Am 37: 859-72, 1999.

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8. Wong SM, Griffith JF, Hui ACF, Lo SK, Fu M, Wong KS: Carpal Tunnel Syndrome: Diagnostic Usefulness of Sonography; Radiology 232: 93-9, 2004.

9. Turrini E: Avaliação do túnel do carpo por ressonância magnética em pacientes com diagnóstico de lesões por esforços repetitivos ou distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho. (Tese) São Paulo:Universidade Federal de São Paulo; 2002.

Responsáveis: Artur da Rocha Corrêa Fernandes e Jamil Natour

  • Endereço para correspondência
    Jamil Natour.
    Disciplina de Reumatologia da Unifesp/EPM.
    Rua Botucatu, 740
    CEP 04023-900, São Paulo, SP, Brasil.
  • *
    Trabalho realizado no Departamento de Diagnóstico por Imagem da Universidade Federal de São Paulo (DDI/Unifesp/EPM), São Paulo, SP, Brasil.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      16 Jan 2006
    • Data do Fascículo
      Abr 2005
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