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A presença da reumatologia brasileira no GRAPPA (Group for Research and Assessment of Psoriasis and Psoriatic Arthritis)

CARTA AOS EDITORES

A presença da reumatologia brasileira no GRAPPA (Group for Research and Assessment of Psoriasis and Psoriatic Arthritis)

Prezados Editores,

No sentido de pontuar a participação brasileira no GRAPPA, enviamos a carta a seguir:

A artrite psoriásica (APs) passou a ser identificada como entidade específica após os estudos de Verna Wright em Leeds, no Reino Unido. Já no final da década de 1950, Verna entendia que artrite erosiva na ausência de fator reumatoide sérico associado a intensa atividade inflamatória constituía uma condição clínica distinta da artrite reumatoide e da osteoartrite.1 Alguns anos depois, John Moll, também de Leeds, juntamente com Verna Wright, estabeleceu através de sua clássica publicação os critérios de classificação da APs, incorporando os cinco diferentes tipos de apresentação clínica da doença.2 É interessante destacar que Verna criou a unidade de reumatologia de Leeds em 1964, onde os estudos de APs se firmaram, e faleceu em 1988, tendo sido figura marcante do Congresso Brasileiro de Reumatologia em Belo Horizonte, em 1980, a convite do Prof. Paulo Madureira.

Junto com a evolução dos conhecimentos epidemiológicos e fisiopatológicos, cresceu o conceito de "doença psoriásica" como condição inflamatória sistêmica caracterizada por manifestações clínicas envolvendo diferentes órgãos e associada à comorbidades específicas, como diabetes mellitus e hipertensão. Portanto, e diante da necessidade de aumentar a interação e a compreensão da APs do ponto de vista não apenas reumatológico - mas também dermatológico -, reuniões multidisciplinares tornaram-se realidade e estimularam a criação do GRAPPA - Group for Research and Assessment of Psoriasis and Psoriatic Arthritis, ou Grupo para Pesquisa e Avaliação de Psoríase e de Artrite Psoriásica - em 2003.3

O GRAPPA é uma organização internacional com objetivos educacional, científico e sem fins lucrativos, que promove a cooperação de diversas disciplinas médicas. Atualmente, agrega cerca de 320 pesquisadores de destaque e líderes de opinião dentre reumatologistas, dermatologistas, radiologistas, geneticistas, epidemiologistas, representantes de pacientes e da indústria biofarmacêutica, com cerca de 60% dos integrantes estabelecidos fora da América do Norte. A primeira reunião oficial do GRAPPA foi realizada em agosto de 2003 em Nova Iorque, quando prioridades iniciais de pesquisa foram estabelecidas. Para alcançar seus objetivos e metas, o GRAPPA criou comissões responsáveis por áreas distintas e relevantes à abordagem do paciente com psoríase (PSo) e APs, como as de Avaliação de Articulações Periféricas, Avaliação da Coluna Vertebral, Publicações, Imagem, Website, Instrumentos de Avaliação Clínica, Qualidade de vida/Função/Inclusão, Governança, Histologia/Imuno-histoquímica e Diretrizes do Tratamento. A identificação de biomarcadores e de instrumentos clínicos adequados para avaliação de pacientes com APs, validados para a prática clínica e para estudos clínicos, é fundamental e mandatória; biomarcadores preditores de envolvimento articular em pacientes com PSo e de dano articular na APs estão sendo desenvolvidos em conjunto pelo GRAPPA e pelo OMERACT (Outcome Measures in Rheumatology Clinical Trials), além de instrumentos específicos para diagnóstico, acompanhamento e tratamento, indispensáveis na abordagem do paciente com "doença psoriásica".

Várias atividades têm sido realizadas pelo GRAPPA: publicações, revisões baseadas em evidências, priorização de domínios de investigação e pesquisa por consenso finalizado pelo OMERACT, lançamento de intranet, que possibilita comunicação e publicações, reuniões internacionais de dermatologia e reumatologia, reuniões periódicas em vários países. Projetos de pesquisa com colaboração internacional estão em andamento, abordando aprimoramento e validação de medidas de desfecho para APs, desenvolvimento de instrumentos para avaliar qualidade de vida, função e inclusão, padronização das avaliações histológica e imuno-histoquímica de pele e membrana sinovial, atualização dos critérios de classificação para APs (CASPAR), imagem, impacto socioeconômico e efeito da terapia, produção de vídeo na web para treinamento e projeto de medidas de avaliação de desfechos e resposta.

Dentre as metas para o futuro, o GRAPPA pretende criar redes de comunicação entre seus membros, a indústria, as ligas de atendimento e agências reguladoras, promover reuniões e comunicação na intranet para compartilhar conhecimentos, desenvolver e realizar pesquisas em colaboração, educação e outros projetos, desenvolver e validar critérios para definir APs, revisar, desenvolver e validar medidas de desfecho eficazes e viáveis para avaliação de APs e PSo, promover registros de pacientes, trabalhar com representantes de pacientes para educação e sensibilização do público, trabalhar com representantes das companhias farmacêuticas para gerar e realizar pesquisas sobre terapias eficazes, trabalhar com representantes das agências reguladoras para estabelecer diretrizes adequadas para aprovação de novas terapias, trabalhar com outras organizações profissionais, como o American College of Rheumatology, a American Academy of Dermatology e o OMERACT para motivar o conhecimento acerca da APs e da PSo nas referidas disciplinas, definir diretrizes de tratamento para as autoridades governamentais e outras partes interessadas.

De fato, nos últimos anos o GRAPPA tem atuado de maneira extraordinária no sentido de promover encontros educacionais e científicos que facilitam o desenvolvimento e a difusão de informação sobre PSo e APs, entre diferentes especialistas médicos que atuam nestas áreas, como nós reumatologistas e dermatologistas. Dessa forma, tem sido possível intensificar pesquisa, diagnóstico, acompanhamento e tratamento da PSo e da APs. Recentemente, em setembro de 2010, graças aos esforços de membros brasileiros do grupo e à ampla receptividade da Sociedade Brasileira de Reumatologia, foi possível realizar a primeira reunião do GRAPPA na América Latina (GRAPPA CBR 2010), durante o XXVIII Congresso Brasileiro de Reumatologia em Porto Alegre, RS, que congregou, entre nós brasileiros, vários participantes, além dos 10 palestrantes estrangeiros convidados. A partir desse evento formou-se um grupo brasileiro dentro do GRAPPA, coeso e reconhecido, que já participa de alguns dos projetos desenvolvidos. Atualmente, esse grupo está definindo metas de trabalho para o futuro que permitam uma participação mais ativa dentro do GRAPPA em harmonia com a comissão de espondiloartrites da Sociedade Brasileira de Reumatologia.

A efetivação desses eventos e de estudos conjuntos entre nós reumatologistas e outros especialistas e profissionais que desejam contribuir para a PSo e a APs visa fornecer evidências científicas para avanços no manejo clínico e terapêutico, tornando possível melhorar a qualidade de vida e o prognóstico dos portadores de APs. Nesse sentido, reuniões sistemáticas conjuntas devem tornar cada vez mais sólida a presença da reumatologia brasileira no âmbito do GRAPPA em nível mundial, que conta com a participação de três dermatologistas (Flávia Lisboa, Marcia Ramos-e-Silva e Cid Sabbag) e oito reumatologistas brasileiros (nós sete, autores desta carta, e Roberto Acayaba de Toledo). Como membros, participamos de várias reuniões anuais e somos incentivados a fazer parte de projetos e comissões específicas.

Cláudia Goldenstein-Schainberg

Professora-Colaboradora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP

Roberto Ranza

Professor da Residência em Reumatologia da Universidade Federal de Uberlândia - UFU

Rubens Bonfiglioli

Professor-Assistente de Reumatologia da Pontifícia Universidade Católica - PUC-Campinas

Sueli Carneiro

Professora Adjunta da Faculdade de Ciências Médicas - UERJ

Dermatologista e Reumatologista do Hospital Universitário - UFRJ

Docente de Pós-graduação em Ciências Médicas - UERJ, e Medicina - UFRJ

Valderilio F. Azevedo

Professor-Assistente em Reumatologia da Universidade Federal do Paraná - UFPR

José Goldenberg

Professor Livre-Docente de Reumatologia da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP

Hospital Israelita Albert Einstein

Morton Scheinberg

Professor Livre-Docente em Imunologia - USP

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Out 2011
  • Data do Fascículo
    Out 2011
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