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Síndrome do anticorpo antifosfolipídeo

EDITORIAL

Síndrome do anticorpo antifosfolipídeo

A síndrome do anticorpo antifosfolipídeo (SAF) é uma doença sistêmica autoimune caracterizada por trombose arterial e venosa, morbidade gestacional e presença de níveis de anticorpo antifosfolipídeo elevados e persistentemente positivos.1

O tratamento da SAF é cercado de controvérsias, especialmente pela ausência de estudos clínicos de boa qualidade. Na prevenção primária de trombose, os estudos clínicos apresentam resultados distintos.2,3 O conceito de fatores de risco associados aos eventos trombóticos e o tipo e o número de anticorpos antifosfolipídeos positivos são conceitos atuais e que devem ser levados em conta na decisão terapêutica, seja medicamentosa ou de mudança de hábitos de vida.

Para prevenção secundária, indica-se a anticoagulação plena por tempo indeterminado, mas o alvo terapêutico ainda é motivo de discussão. Apesar de estudos retrospectivos sugerirem menor número de recorrências com índice internacional normalizado (INR) elevado, os estudos prospectivos não corroboram esses achados.4,5 Entretanto, a inclusão de pacientes com trombose arterial nesses protocolos foi pequena, o que torna difícil uma conclusão definitiva sobre o INR-alvo nessa manifestação.

As questões obstétricas também geram discussão: teratogenicidade associada à varfarina6 e esquema posológico da heparina em pacientes com SAF vascular apresentam poucas evidências científicas.7

Esforços coletivos internacionais foram criados com o objetivo de desenhar e conduzir estudos prospectivos de boa qualidade em pacientes portadores de anticorpos antifosfolipídeos, incluindo a criação de um banco de dados multicêntrico.8 Com isso, novas perspectivas se abrem e em um futuro próximo teremos respostas baseadas em melhores evidências relativas ao tratamento da SAF, incluindo o uso de hidroxicloroquina para prevenção primária, uso de novos anticoagulantes e terapia biológica.

Diante da necessidade de melhorar o entendimento e o tratamento, e de estabelecer recomendações para reumatologistas e outros especialistas sobre o manejo da SAF, a comissão da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) de SAF e Vasculopatia, com o apoio da SBR e da Associação Médica Brasileira (AMB), publica essa diretriz, elaborada a partir da formulação de nove questões clínicas relevantes e controversas relacionadas ao tratamento da SAF, baseada na melhor evidência científica disponível.

Finalizada essa primeira publicação, nossa comissão avança para os objetivos traçados para os próximos dois anos: elaboração e publicação das diretrizes de diagnóstico de SAF e elaboração e publicação das diretrizes e das cartilhas para pacientes de Granulomatose com Poliangeite e Arterite de Takayasu. Além disso, a comissão vem trabalhando junto à AMB para inclusão na tabela de procedimentos os testes anti-beta2glicoproteína I IgM/IgG, anticardiolipina IgA, antiproteinase 3 e antimieloperoxidase.

Adriana Danowski

Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE), Rio de Janeiro, RJ, Brasil

E-mail: adrid@globo.com

Roger A. Levy

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil

  • 1
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  • 2
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  • 3
    Erkan D, Harrison MJ, Levy RA, Peterson M, Petri M, Sammaritano L, et al. Aspirin for primary thrombosis prevention in the antiphospholipid syndrome: a randomized, double-blind, placebo-controlled trial in asymptomatic antiphospholipid antibodypositive individuals. Arthritis Rheum. 2007;56:2382-91.
  • 4
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  • 6
    Levy RA, Jesús GR, Jesús NR. Obstetric antiphospholipid syndrome: still a challenge. Lupus. 2010;19:457-9.
  • 7
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  • 8
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Out 2015
  • Data do Fascículo
    Abr 2013
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