Acessibilidade / Reportar erro

Derramando luz fluorescente no mundo dos anticorpos antinúcleo

Autoanticorpos são importantes biomarcadores para a investigação clínica de doenças autoimunes sistêmicas (DAS).11. Tan EM. Autoantibodies to nuclear antigens (ANA): their immunobiology and medicine. Adv Immunol 1982;33:167-240. Com frequência, a triagem para anticorpos antinúcleo (ANA) é iniciada com o consagrado teste de imunofluorescência indireta em células HEp-2 (teste ANA-HEp-2). O teste ANA-HEp-2 foi recomendado pelo American College of Rheumatology como padrão de excelência para triagem de autoanticorpos.22. Solomon DH, Kavanaugh AJ, Schur PH. Evidence-based guidelines for the use of immunologic tests: antinuclear antibody testing. Arthritis Rheum 2002;47(4):434-44. A popularização e expansão no uso desse teste por diversos especialistas nos últimos 15 anos vêm provocando ansiedade e perplexidade em vários casos, nos quais um teste positivo não corresponde à apresentação clínica. Alguns especialistas no campo sugeriram que a interpretação correta do padrão ANA-HEp-2 ajuda na discriminação de um teste positivo em indivíduos autoimunes e não autoimunes. Em particular, o grupo brasileiro assumiu a dianteira na elaboração de um consenso nacional sobre a classificação da nomenclatura dos padrões de ANA. Essa iniciativa foi extremamente bem-sucedida em nosso país e outros programas afins foram desenvolvidos em outras regiões do mundo. Esse número da revista apresenta as resoluções do IV Consenso Brasileiro sobre Nomenclatura dos Padrões de ANA.

O carisma do teste ANA-HEp-2

Provavelmente devido a razões históricas, o teste ANA alcançou fortíssima reputação entre clínicos e leigos. Isso pode ser parcialmente compreendido se nos debruçarmos no cenário médico nos anos 1960 e 1970, quando a ciência médica estava começando a entender o potencial diagnóstico dos autoanticorpos. A princípio, os autoanticorpos foram demonstrados em casos de DRAI. Especificamente, o fator reumatóide foi identificado como marcador para artrite reumatóide,33. Waaler E. On the occurrence of a factor in human serum activating the specific agglutination of sheep corpuscles. Acta Pathol Microbiol Scand 1940;17(2):172-88. e o fenômeno da célula LE foi ligado ao lúpus eritematoso sistêmico (LES).44. Hargraves M, Richmond H, Morton R. Presentation of two bone marrow components, the tart cell and the LE cell. Mayo Clin Proc 1948;23(2):25-8. Logo se percebeu que a base para o fenômeno da célula LE estava nos autoanticorpos contra desoxirribonucleoproteína (o equivalente ao que atualmente denominamos anticorpos anti-nucleossomo ou anti-cromatina). Os primeiros testes de imunofluorescência indireta para demonstração de anticorpos antinúcleo (ANA) se baseavam em cortes de tecido de animais e demonstravam limitada sensibilidade e um grupo restrito de padrões de imunofluorescência. Apesar disso, o teste de imunofluorescência indireta de ANA logo substituiu o teste de célula LE, tendo sido incluído como um dos critérios de classificação para LES.55. Tan EM, Cohen AS, Fries JF, Masi AT, McShane DJ, Rothfield NF et al: The 1982 revised criteria for the classification of systemic lupus erythematosus. Arthritis Rheum 1982;25(11):1271-7.

Um aspecto importante a ser levado em consideração é que o teste ANA era solicitado principalmente por reumatologistas, nefrologistas e dermatologistas, habitualmente para investigar pacientes com alta probabilidade diagnóstica para LES. Isso resultava em uma elevada probabilidade pré-teste, contribuindo para um desempenho diagnóstico favorável do teste. Portanto, não surpreende que o teste ANA tenha alcançado grande reputação como teste diagnóstico específico para LES e doenças afins.

Nos anos de 1980 houve uma mudança de rumo em favor de células HEp-2 como o substrato para o teste; isso acrescentou toda uma nova dimensão ao teste ANA, devido à mais elevada sensibilidade e à vasta gama de novos padrões de imunofluorescência. Foi se percebendo gradativamente que, além do próprio núcleo, havia dúzias de padrões associados a outros compartimentos celulares, a saber, nucléolo, citoplasma, membrana nuclear e aparelho mitótico. As culturas de monocamada de células HEp-2 ofereciam um registro único dos diversos domínios celulares a serem salientados no sistema de imunofluorescência. As fascinantes imagens obtidas no teste ANA-HEp-2 contribuíram decisivamente para o carisma do teste.

Uma consequência importante dessa mudança de rumo foi que os autoanticorpos associados a um espectro mais amplo de doenças autoimunes no âmbito da reumatologia ou fora de seus domínios eram passíveis de detecção pelo teste HEp-2-ANA. Em consequência disso, maior número de médicos passou a solicitar o teste.

A síndrome do ANA positivo idiopático

Dissonâncias entre a realidade e a expectativa fundamentada na reputação não são infreqüentes, e isso também vale para qualquer parâmetro utilizado na medicina para diagnóstico e tratamento de pacientes. Com efeito, a dissonância de reputação é precisamente o que temos hoje em dia para o teste ANA-HEp-2. Nada pode estar mais fora da realidade do que o conceito de que um teste ANA-HEp-2 positivo é específico para o diagnóstico de LES ou de qualquer outra doença autoimune sistêmica. No entanto, essa concepção equivocada está firmemente arraigada nas mentes de muitos médicos e pacientes, pelas mesmas razões expostas na seção precedente. No caso do teste ANA-HEp-2, a dissonância tem sua origem em vários fatores, inclusive a mudança na sensibilidade do teste, o cenário clínico no qual o teste é solicitado, e o fenômeno do viés de generalização das observações científicas.

O teste ANA-HEp-2 demonstrou ser muito mais sensível do que os testes da célula LE e ANA com uso de secções histológicas de roedor. O ganho em sensibilidade foi acompanhado por uma perda na especificidade, pois é possível se ter um teste ANA-HEp-2 positivo em pacientes com diversas condições inflamatórias, em doenças infecciosas e neoplásicas e mesmo em indivíduos aparentemente saudáveis. Diversos estudos demonstraram consistentemente a ocorrência de um teste ANA-HEp-2 positivo em 13-20% da população normal, de acordo com o gênero e a idade.66. Mariz HA, Sato EI, Barbosa SH, Rodrigues SH, Dellavance A, Andrade LE. Pattern on the antinuclear antibody-HEp-2 test is a critical parameter for discriminating antinuclear antibody-positive healthy individuals and patients with autoimmune rheumatic diseases. Arthritis Rheum 2011;63(1):191-200.,77. Satoh M, Chan EK, Ho LA, Rose KM, Parks CG, Cohn RD et al: Prevalence and sociodemographic correlates of antinuclear antibodies in the United States. Arthritis Rheum 2012;64(7):2319-27. Em paralelo, o teste ANA-HEp-2 se tornou cada vez mais popular entre diversos especialistas; assim, hoje em dia esse teste é frequentemente solicitado por ginecologistas, neurologistas, internistas, psiquiatras, otorrinolaringologistas, dermatologistas, gastrenterologistas, pneumologistas, entre outros.88. Abeles AM, Abeles M. The clinical utility of a positive antinuclear antibody test result. Am J Med 2013;126(4):342-8. O uso disseminado do teste resulta necessariamente em baixa probabilidade pré-teste.99. Meroni PL, Chan EK, Tincani A, García de la Torre I, Andrade LE: Antinuclear antibody test: when to order? Am J Med. 2013 126(10):e17. http://dx.doi.org/10.1016/j.amjmed.2013.04.022
http://dx.doi.org/10.1016/j.amjmed.2013....
A consequência da frequência relativamente alta de um teste ANA-HEp-2 positivo em pacientes não portadores de DRAI, juntamente com seu uso disseminado, é um número elevado de resultados "falso-positivos". Essa situação vem sendo chamada de síndrome do ANA positivo idiopático.

A síndrome do ANA positivo idiopático é uma espada de dois gumes. Muitos pacientes com queixas musculoesqueléticas e com outros sintomas que podem sugerir DRAI têm a oportunidade de serem examinados por um reumatologista, por causa de um ANA positivo solicitado pelo clínico geral ou por médico de outra especialidade. Mas muito estresse e confusão têm sido causados por um teste ANA-HEp-2 positivo em um paciente sem evidência objetiva de DRAI ou em pacientes com uma apresentação clínica indefinida. Em tais circunstâncias, é frequente que o médicos se vejam diante de dificuldades para interpretar um teste ANA positivo.

O estetoscópio e as três dimensões do teste ANAHEp-2

Sopros cardíacos são sinais sobejamente conhecidos de cardiopatia, sendo cuidadosamente investigados no exame clínico. Mas também é do conhecimento geral que nem todos os sopros são clinicamente significativos. De fato, sabe-se que muitos indivíduos saudáveis apresentam alguma forma de sopro cardíaco. Para ajudar na interpretação da auscultação cardíaca, existe à disposição uma ampla gama de parâmetros que devem ser levados em consideração. Exemplificando, um leve sopro mesossistólico de baixa intensidade auscultado no quarto espaço intercostal adjacente à borda esquerda do esterno em um menino de 7 anos provavelmente não tem maior significado, ao contrário de um sopro diastólico áspero com uma onda retrógrada pré-sistólica auscultada no ápice cardíaco em uma mulher com 30 anos. Cardiologistas e internistas treinados ficarão atentos e tomarão decisões a respeito ao prosseguimento da investigação, levando em consideração essas nuances.

Analogamente ao teste ANA-HEp-2, o estetoscópio e o procedimento de auscultação cardíaca representam um aspecto bastante carismático na medicina. Mas o carisma não é o único aspecto em comum entre o estetoscópio e o teste ANA-HEp-2. Como ocorre com o estetoscópio, uma miríade de nuances existe na interpretação do teste ANA-HEp-2. Esses aspectos podem ser divididos em três dimensões. A cuidadosa análise das três dimensões do teste ANA-HEp-2 oferece um guia útil para a correta interpretação dessa importante investigação sorológica. A primeira e mais óbvia é o resultado qualitativo: negativo ou positivo. A segunda, também bastante intuitiva, é semi-quantitativa e se refere à concentração de autoanticorpos na amostra analisada. Geralmente essa dimensão é expressa como o título de reatividade. Quanto mais elevado for o título, mais alta será a concentração de autoanticorpos na amostra. O raciocínio intuitivo, de que resultados com título elevado são mais relevantes sob o ponto de vista clínico em comparação com resultados com título mais baixo no teste ANA-HEp-2, é geralmente correto, mas existem várias exceções que fazem com que essa regra seja bastante relativa. Com efeito, existem pessoas com um teste ANA-HEp-2 positivo em diluições de até 1/5.120, bem como pacientes com LES com um teste positivo em baixo título, por exemplo, 1/80 ou 1/160.

A terceira dimensão do teste ANA-HEp-2 diz respeito ao padrão de imunofluorescência e oferece uma coleção bastante rica de informações. Ela reflete a distribuição topográfica dos antígenos que estão sendo identificados pelos autoanticorpos presentes na amostra. Os diversos autoantígenos têm padrões de distribuição específicos no interior da célula e essa relação ficará enriquecida se analisarmos o comportamento dinâmico ao longo dos sucessivos estágios do ciclo celular. Frequentemente uma cuidadosa análise do padrão de imunofluorescência permite a sugestão de certas especificidades dos autoanticorpos com graus de confiança variáveis. Entretanto, nem todos os padrões de imunofluorescência permitem uma firme afirmativa acerca das possíveis especificidades de autoanticorpos associadas. A robustez da relação entre determinado padrão de imunofluorescência e os autoanticorpos associados varia conforme o padrão em questão.

Tem sido muito enfatizada a diferenciação dos padrões de ANA-HEp-2 em que existe a coloração das placas mitóticas cromossômicas. Considerando que a cromatina, a principal substância dos cromossomos, é alvo importante de autoanticorpos associados a LES (anti-DNA nativo, anti-nucleossomo, anti-histonas), os padrões que englobam o núcleo como um todo e a placa de metáfase poderiam ser interpretados como indicativos de anticorpos anti-cromatina ou anti-DNA nativo. Mas nuances morfológicas desvendam um cenário heterogêneo. Uma coloração hialina homogênea das placas cromossômicas mitóticas e uma coloração homogênea do núcleo em interfase são, de fato, compatíveis com anticorpos anti-DNA nativo e anti-nucleossomo. Por outro lado, uma coloração em padrão fino denso salpicado do núcleo em interfase e uma coloração em padrão denso grosso das placas mitóticas cromossômicas são compatíveis com anticorpos anti-DFS70/LEDGF1010. Ochs RL, Stein TW Jr, Peebles CL, Gittes RF, Tan EM. Autoantibodies in interstitial cystitis. J Urol 1994;151(3):587-92.,1111. Dellavance A, Viana VS, Leon EP, Bonfa ES, Andrade LE, Leser PG. The clinical spectrum of antinuclear antibodies associated with the nuclear dense fine speckled immunofluorescence pattern. J Rheumatol 2005;32(11):2144-9.. O primeiro padrão indica forte possibilidade de LES e o segundo praticamente exclui esse diagnóstico.66. Mariz HA, Sato EI, Barbosa SH, Rodrigues SH, Dellavance A, Andrade LE. Pattern on the antinuclear antibody-HEp-2 test is a critical parameter for discriminating antinuclear antibody-positive healthy individuals and patients with autoimmune rheumatic diseases. Arthritis Rheum 2011;63(1):191-200.,1212. Mahler M, Parker T, Peebles CL, Andrade LE, Swart A, Carbone Y, et al. Anti-DFS70/LEDGF antibodies are more prevalent in healthy individuals compared to patients with systemic autoimmune rheumatic diseases. J Rheumatol 2012;39(11):2104-10. A relação entre padrões de ANA-HEp-2 e autoanticorpos específicos alcança um elevado grau de confiabilidade em padrões complexos, nos quais a distribuição do autoantígeno ocorre em mais de um compartimento celular, de modo tão dinâmico e peculiar ao longo do ciclo celular que o torna virtualmente exclusivo para aquele autoantígeno. Considerando que pouquíssimas macromoléculas compartilham a mesma "coreografia celular", são observadas associações muito específicas. Alguns exemplos de tal situação são o padrão de centrômero,1313. Moroi Y, Peebles C, Fritzler MJ, Steigerwald J, Tan EM. Autoantibodies to centromere (kinetochore) in scleroderma sera. Proc Natl Acad Sci USA 1980;77(3):1627-31. o padrão do antígeno nuclear de proliferação celular (PCNA),1414. Takasaki Y, Fishwild D, Tan EM. Characterization of proliferating cell nuclear antigen recognized by autoantibodies in lupus sera. J Exp Med 1984;159(4):981-92. os padrões NuMA-1 e NuMA-2,1515. Andrade LE, Chan EK, Peebles CL, Tan EM. Two major autoantigen-antibody systems of the mitotic spindle apparatus. Arthritis Rheum 1996;39(10):1643-53.,1616. Whitehead CM, Winkfein RJ, Fritzler MJ, Rattner JB. The spindle kinesin-like protein HsEg5 is an autoantigen in systemic lupus erythematosus. Arthritis Rheum 1996;39(10):1635-42. o padrão CENP-F,1717. Casiano CA, Humbel RL, Peebles C, Covini G, Tan EM. Autoimmunity to the cell cycle-dependent centromere protein p330d/CENP-F in disorders associated with cell proliferation. J Autoimmun 1995;8(4):575-86. e o padrão Scl-70.1818. Dellavance A, Gallindo C, Soares MG, da Silva NP, Mortara RA, Andrade LE. Redefining the Scl-70 indirect immunofluorescence pattern: autoantibodies to DNA topoisomerase I yield a specific compound immunofluorescence pattern. Rheumatology (Oxford, England) 2009;48(6):632-7.

Em nosso país, a percepção da importância da identificação e classificação corretas dos diversos padrões ANA-HEp-2 foi logo reconhecida por vários especialistas. O primeiro Consenso Brasileiro para Pesquisa de Autoanticorpos em HEp-2 ocorreu em 2000,1919. Dellavance A. Gabriel Jr A, Cintra AFU, Ximenes AC, Nuccitelli B, von Mühlen CA et al. The first Brazilian Consensus for Standardization of ANA in HEp-2 cells. J Bras Patol Med Lab 2002;38(3):207-16. por iniciativa de Paulo Francescantonio, da Universidade Católica de Goiás, com o incentivo de Paulo Leser, da Escola Paulista de Medicina. Desde então, ocorreram mais três edições do Consenso Brasileiro, cada uma delas fazendo avançar e complementando as realizações das edições precedentes.2020. Dellavance A, Gabriel Jr G, Cintra AFU, Ximenes AC, Nuccitelli B, Taliberti BH et al. II Brazilian Consensus on Antinuclear Antibodies in HEp-2 Cells. Definitions for standardization of autoantibody testing against the nucleus (ANA HEp-2), nucleolus, cytoplasm, and mitotic apparatus, as well as its clinical associations. Rev Bras Reumatol 2003;43(3):129-40.

21. Dellavance A, Gabriel Jr A, Nuccitelli B, Taliberti BH, von Mühlen CA, Bichara CDA et al. Third Brazilian Consensus for autoantibodies screening in HEp-2 cells (ANA). Recommendations for standardization of the autoantibody testing in HEp-2 cells, quality control, and clinical associations. Rev Bras Reumatol, 2009;49(2):89-109.
-2222. Francescantonio PLC, Cruvinel WM, Andrade LEC, Dellavance A, Taliberti BH et al. IV Brazilian Consensus in Autoantibody Testing in HEp-2 Cells. Rev Bras Reumatol 54:44-50 Em cada edição, numerosos especialistas da área acadêmica e de laboratórios particulares discutem a fundo diversos aspectos, como a definição, nomenclatura, associações imunológicas e relevância clínica dos diversos padrões ANA-HEp-2. Cada uma das edições publicou um documento final aprovado por todos os participantes, e todos foram amplamente divulgados em vários tipos de mídia. As recomendações do Grupo de Consenso vêm sendo amplamente adotadas pela maioria dos laboratórios clínicos e universitários no país. Clínicos interessados têm tido acesso a essas informações em artigos científicos, websites e séries de conferências. A transmissão das recomendações do Consenso contribuiu muito para melhorar a capacidade de interpretação e diferenciação dos diversos padrões ANA-HEp-2 pelos analistas em todo o país. O presente número da Revista Brasileira de Reumatologia oferece as atas do IV Consenso Brasileiro para Pesquisa de Autoanticorpos em HEp-2 ocorrido durante o XXIX Congresso Brasileiro de Reumatologia em 2012, em Vitória. Além das importantes discussões concernentes a aspectos críticos na metodologia para a determinação de autoanticorpos, novos padrões ANA-HEp-2 foram caracterizados e incorporados ao algoritmo de classificação.

Iniciativas afins foram efetuadas em diferentes partes do mundo. A iniciativa francesa foi publicada em 2005, informando a melhora e harmonização progressivas na metodologia para a realização do teste, bem como na comunicação do título e do padrão por mais de 600 laboratórios em todo o país.2323. Pham BN, Albarede S, Guyard A, Burg E, Maisonneuve P. Impact of external quality assessment on antinuclear antibody detection performance. Lupus 2005;14(2):113-9. Foram considerados apenas padrões nucleares: homogêneo, salpicado, e centromérico. A iniciativa alemã enfatizou as recomendações técnicas para a realização do teste, tendo considerado sete padrões nucleares (o nucléolo foi considerado como sendo um tipo de padrão nuclear) e quatro padrões citoplasmáticos. As recomendações foram publicadas em 2009, e incluíram uma proposição detalhada e engenhosa da associação de padrões ANA-HEp-2, especificidades de autoanticorpos e possíveis doenças.2424. Sack U, Conrad K, Csernok E, Frank I, Hiepe F, Krieger T, et al. Autoantibody detection using indirect immunofluorescence on HEp-2 cells. Ann N Y Acad Sci 2009;1173:166-73. A iniciativa da Europa Setentrional é aquela que maiores semelhanças tem com o Consenso Brasileiro. A iniciativa envolveu especialistas da Dinamarca, Grã-Bretanha e Suécia. Suas recomendações foram publicadas em 2010 e oferecem um conjunto extremamente detalhado de padrões nucleares, nucleolares, citoplasmáticos e do aparelho mitótico. Fotografias de alta qualidade foram disponibilizadas para cada padrão, tendo sido estabelecidas associações entre especificidades de autoanticorpos e associações clínicas.2525. Carballo GO, Igénito FB, Ginaca AA, Carabajal P, Costa MA, Balbaryski J. First Argentine Consensus for standardization of Antinuclear Antibodies by Indirect Immunofluorescence- HEp-2. Acta Bioquím Clín Latinoam 2012;46(1):3-13. Mais recentemente, foi publicada a iniciativa argentina, que nos traz um algoritmo cuidadosamente organizado com muita semelhança com o Consenso Brasileiro.2626. Wiik AS, Hoier-Madsen M, Forslid J, Charles P, Meyrowitsch J. Antinuclear antibodies: a contemporary nomenclature using HEp-2 cells. J Autoimmun 2010;35(3):276-90.

Essas iniciativas independentes em vários países refletem a importância desse assunto. Além disso, expressam a preocupação dos especialistas com a necessidade de harmonizar as informações fornecidas pela análise com vistas ao teste ANA-HEp-2. Com efeito, essas diversas iniciativas isoladas estão a indicar que chegou a hora de se realizar um Consenso Mundial sobre Padrões ANA. Essa percepção foi levada em conta pela liderança do Comitê de Padronização de Autoanticorpos, afiliado à União Internacional de Sociedades de Imunologia (International Union of Immunology Societies, IUIS) e à Organização Mundial da Saúde (OMS). Dentro dessa linha, o Comitê de Padronização de Autoanticorpos comissionou o XII Seminário Internacional de Autoanticorpos e Autoimunidade (12th International Workshop on Autoantibodies and Autoimmunity, IWAA) para implementação do seminário para o Consenso Internacional sobre Padrões ANA (International Consensus on ANA Patterns, ICAP). Com a participação de especialistas renomados oriundos de todas as partes do mundo, o ICAP acontecerá durante o primeiro dia do XII IWAA, que ocorrerá em São Paulo de 28 a 30 de agosto de 2014. Este será um evento que irá abrir caminho para um significativo progresso no diagnóstico sorológico das doenças autoimunes sistêmicas.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Tan EM. Autoantibodies to nuclear antigens (ANA): their immunobiology and medicine. Adv Immunol 1982;33:167-240.
  • 2
    Solomon DH, Kavanaugh AJ, Schur PH. Evidence-based guidelines for the use of immunologic tests: antinuclear antibody testing. Arthritis Rheum 2002;47(4):434-44.
  • 3
    Waaler E. On the occurrence of a factor in human serum activating the specific agglutination of sheep corpuscles. Acta Pathol Microbiol Scand 1940;17(2):172-88.
  • 4
    Hargraves M, Richmond H, Morton R. Presentation of two bone marrow components, the tart cell and the LE cell. Mayo Clin Proc 1948;23(2):25-8.
  • 5
    Tan EM, Cohen AS, Fries JF, Masi AT, McShane DJ, Rothfield NF et al: The 1982 revised criteria for the classification of systemic lupus erythematosus. Arthritis Rheum 1982;25(11):1271-7.
  • 6
    Mariz HA, Sato EI, Barbosa SH, Rodrigues SH, Dellavance A, Andrade LE. Pattern on the antinuclear antibody-HEp-2 test is a critical parameter for discriminating antinuclear antibody-positive healthy individuals and patients with autoimmune rheumatic diseases. Arthritis Rheum 2011;63(1):191-200.
  • 7
    Satoh M, Chan EK, Ho LA, Rose KM, Parks CG, Cohn RD et al: Prevalence and sociodemographic correlates of antinuclear antibodies in the United States. Arthritis Rheum 2012;64(7):2319-27.
  • 8
    Abeles AM, Abeles M. The clinical utility of a positive antinuclear antibody test result. Am J Med 2013;126(4):342-8.
  • 9
    Meroni PL, Chan EK, Tincani A, García de la Torre I, Andrade LE: Antinuclear antibody test: when to order? Am J Med. 2013 126(10):e17. http://dx.doi.org/10.1016/j.amjmed.2013.04.022
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.amjmed.2013.04.022
  • 10
    Ochs RL, Stein TW Jr, Peebles CL, Gittes RF, Tan EM. Autoantibodies in interstitial cystitis. J Urol 1994;151(3):587-92.
  • 11
    Dellavance A, Viana VS, Leon EP, Bonfa ES, Andrade LE, Leser PG. The clinical spectrum of antinuclear antibodies associated with the nuclear dense fine speckled immunofluorescence pattern. J Rheumatol 2005;32(11):2144-9.
  • 12
    Mahler M, Parker T, Peebles CL, Andrade LE, Swart A, Carbone Y, et al. Anti-DFS70/LEDGF antibodies are more prevalent in healthy individuals compared to patients with systemic autoimmune rheumatic diseases. J Rheumatol 2012;39(11):2104-10.
  • 13
    Moroi Y, Peebles C, Fritzler MJ, Steigerwald J, Tan EM. Autoantibodies to centromere (kinetochore) in scleroderma sera. Proc Natl Acad Sci USA 1980;77(3):1627-31.
  • 14
    Takasaki Y, Fishwild D, Tan EM. Characterization of proliferating cell nuclear antigen recognized by autoantibodies in lupus sera. J Exp Med 1984;159(4):981-92.
  • 15
    Andrade LE, Chan EK, Peebles CL, Tan EM. Two major autoantigen-antibody systems of the mitotic spindle apparatus. Arthritis Rheum 1996;39(10):1643-53.
  • 16
    Whitehead CM, Winkfein RJ, Fritzler MJ, Rattner JB. The spindle kinesin-like protein HsEg5 is an autoantigen in systemic lupus erythematosus. Arthritis Rheum 1996;39(10):1635-42.
  • 17
    Casiano CA, Humbel RL, Peebles C, Covini G, Tan EM. Autoimmunity to the cell cycle-dependent centromere protein p330d/CENP-F in disorders associated with cell proliferation. J Autoimmun 1995;8(4):575-86.
  • 18
    Dellavance A, Gallindo C, Soares MG, da Silva NP, Mortara RA, Andrade LE. Redefining the Scl-70 indirect immunofluorescence pattern: autoantibodies to DNA topoisomerase I yield a specific compound immunofluorescence pattern. Rheumatology (Oxford, England) 2009;48(6):632-7.
  • 19
    Dellavance A. Gabriel Jr A, Cintra AFU, Ximenes AC, Nuccitelli B, von Mühlen CA et al. The first Brazilian Consensus for Standardization of ANA in HEp-2 cells. J Bras Patol Med Lab 2002;38(3):207-16.
  • 20
    Dellavance A, Gabriel Jr G, Cintra AFU, Ximenes AC, Nuccitelli B, Taliberti BH et al. II Brazilian Consensus on Antinuclear Antibodies in HEp-2 Cells. Definitions for standardization of autoantibody testing against the nucleus (ANA HEp-2), nucleolus, cytoplasm, and mitotic apparatus, as well as its clinical associations. Rev Bras Reumatol 2003;43(3):129-40.
  • 21
    Dellavance A, Gabriel Jr A, Nuccitelli B, Taliberti BH, von Mühlen CA, Bichara CDA et al. Third Brazilian Consensus for autoantibodies screening in HEp-2 cells (ANA). Recommendations for standardization of the autoantibody testing in HEp-2 cells, quality control, and clinical associations. Rev Bras Reumatol, 2009;49(2):89-109.
  • 22
    Francescantonio PLC, Cruvinel WM, Andrade LEC, Dellavance A, Taliberti BH et al. IV Brazilian Consensus in Autoantibody Testing in HEp-2 Cells. Rev Bras Reumatol 54:44-50
  • 23
    Pham BN, Albarede S, Guyard A, Burg E, Maisonneuve P. Impact of external quality assessment on antinuclear antibody detection performance. Lupus 2005;14(2):113-9.
  • 24
    Sack U, Conrad K, Csernok E, Frank I, Hiepe F, Krieger T, et al. Autoantibody detection using indirect immunofluorescence on HEp-2 cells. Ann N Y Acad Sci 2009;1173:166-73.
  • 25
    Carballo GO, Igénito FB, Ginaca AA, Carabajal P, Costa MA, Balbaryski J. First Argentine Consensus for standardization of Antinuclear Antibodies by Indirect Immunofluorescence- HEp-2. Acta Bioquím Clín Latinoam 2012;46(1):3-13.
  • 26
    Wiik AS, Hoier-Madsen M, Forslid J, Charles P, Meyrowitsch J. Antinuclear antibodies: a contemporary nomenclature using HEp-2 cells. J Autoimmun 2010;35(3):276-90.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Feb 2014
Sociedade Brasileira de Reumatologia Av Brigadeiro Luiz Antonio, 2466 - Cj 93., 01402-000 São Paulo - SP, Tel./Fax: 55 11 3289 7165 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: sbre@terra.com.br