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Influência do climatério nas disfunções sexuais em mulheres com doenças reumáticas

Caro editor,

A investigação da função sexual feminina é um tema crescentemente explorado, pela atual associação dessa à qualidade de vida das mulheres, assunto de interesse dos pesquisadores. Parabenizamos os autores Ferreira et al.1Ferreira CC, Mota LMH, Oliveira ACV, Carvalho JF, Lima RAC, Simaan CK, et al. Frequência de disfunção sexual em mulheres com doenças reumáticas. Rev Bras Reumatol. 2013;53:35–46. pelo manuscrito publicado nesta revista, intitulado "Frequência de disfunção sexual em mulheres com doenças reumáticas". Nesse artigo, os autores pesquisam a frequência de disfunções sexuais em diversas doenças reumáticas, como lúpus eritematoso sistêmico (LES), artrite reumatoide (AR), esclerose sistêmica (ES), síndrome do anticorpo antifosfolípide (SAF) e fibromialgia (FM). Foi verificado que as mulheres com FM e ES foram as que apresentaram maior prevalência de disfunção sexual.

Estudos como esses são incontestavelmente importantes, haja vista que abordam um tema pouco investigado quando associado a doenças reumáticas.2Shahar MA, Hussein H, Sidi H, Shah SA, Mohamed Said MS. Sexual dysfunction and its determinants in Malaysian women with rheumatoid arthritis. Int J Rheum Dis. 2012;15:468–77.,3Araujo DB, Borba EF, Abdo CHN, Souza LAL, Goldenstein-Schainberg C, Chahade WH, et al. Função sexual em doenças reumáticas. Acta Reumatol Port. 2010;35:16–23. A sexualidade envolve muito além do ato sexual, é um aspecto integrante da vida do ser humano, e a disfunção sexual sabidamente acomete muitas mulheres, porém, além de tema pouco explorado pela classe médica, também é pouco relatado pelas mulheres, seja por vergonha ou por acharem que é uma passagem normal relacionada com a idade. Por esse e outros motivos, o funcionamento sexual não pode ser negligenciado durante consultas médicas ou na vida das pessoas, sobretudo daquelas que conhecidamente têm afecções associadas, que por diversas razões podem levar a disfunções sexuais.4Basson R. Women's sexual dysfunction: revised and expanded definitions. CMAJ. 2005;172:1327–33.

Como abordado na literatura e bem discutido pelos autores,1Ferreira CC, Mota LMH, Oliveira ACV, Carvalho JF, Lima RAC, Simaan CK, et al. Frequência de disfunção sexual em mulheres com doenças reumáticas. Rev Bras Reumatol. 2013;53:35–46. as doenças reumáticas podem levar a importante impacto negativo na vida sexual por fatores relacionados à própria doença, como dor, rigidez matinal, edema de articulações e fadiga, ou ao tratamento, no qual os medicamentos usados podem levar à redução da libido.5Kraimaat FW, Bakker AH, Janssen E, Bijlsma JW. Intrusiveness of rheumatoid arthritis on sexuality in male and female patients living with a spouse. Arthritis Care Research. 1996;9:120–5.,6Lee KU, Lee YM, Nam JM, Lee HK, Kweon YS, Lee CT, et al. Antidepressant-induced sexual dysfunction among newer antidepressants in a naturalistic setting. Psychiatry Investig. 2010;7:55–9.

Entretanto, ressaltamos que no presente estudo as pacientes que tiveram maior prevalência de disfunção sexual tinham idade compatível com a fase do climatério, que compreende a faixa etária da menopausa.7Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Manual de atenção à mulher no climatério/menopausa. Brasília: Ministério da Saúde; 2008. Esse aspecto é de grande relevância na investigação de disfunção sexual, pois é nessa fase que comumente ocorrem mudanças clínicas em consequência das alterações hormonais.8Nappi RE, Lachowsky. Menopause and a sexuality: prevalence of symptoms and impact on quality of life. Maturitas. 2009;63:138–41.

As disfunções sexuais na fase de transição do período reprodutivo para o não reprodutivo são mais evidenciadas. Nessa fase, as mulheres estão mais vulneráveis a disfunções sexuais por relação direta com os sintomas da menopausa e pelo aumento da idade.8Nappi RE, Lachowsky. Menopause and a sexuality: prevalence of symptoms and impact on quality of life. Maturitas. 2009;63:138–41.,9Ornat L, Martínez-Dearth R, Muñoz A, Franco P, Alonso B, Tajada M, et al. Sexual function, satisfaction with life and menopausal symptoms in middle-aged women. Maturitas. 2013;75:261–9. No climatério, as mulheres vivenciam complexa interação de experiências individuais que afetam diretamente seu estado psicossocial e seu estilo de vida, além de mudanças metabólicas relacionadas com a diminuição gradual dos níveis de estradiol.1010 Valadares AL, Machado VS, Da Costa-Paiva LS, De Souza MH, Osis MJ, Pinto-Neto AM. Sexual activity in Brazilian women aged 50 years or older within the framework of a population-based study. Menopause. 2014;21:295–300.,1111 Valadares AL, Pinto-Neto AM, Osis MJ, Conde DM, Sousa MH, Costa-Paiva L. Sexuality in Brazilian women aged 40 to 65 years with 11 years or more of formal education: associated factors. Menopause. 2008;15:264–9. Estudos prévios verificaram que ter 50 anos ou mais, estar em transição menopausal ou pós‐menopausal, não ter um parceiro sexual fixo, apresentar sinais de fogachos, insônia, depressão, nervosismo, sedentarismo, hipertensão arterial, incontinência urinária e baixa autopercepção de saúde são variáveis significativamente associadas a baixos escores de sexualidade.

Por fim, entendemos que o objetivo do presente estudo foi investigar a prevalência de disfunção sexual em mulheres com doenças reumáticas; entretanto, acreditamos que a fase em que as mulheres com diagnóstico de ES e FM tiveram maior prevalência de disfunção sexual, por estar sob influência da idade e consequentemente da fase do climatério, culmina com a menopausa.

De fato, estudos complementares que possibilitem analisar a influência desses fatores são necessários para enriquecer o achado do presente estudo, bem como colaborar com possíveis intervenções futuras para auxílio no tratamento com maior chance de demonstrar mais efeitos benéficos.

Referências

  • 1
    Ferreira CC, Mota LMH, Oliveira ACV, Carvalho JF, Lima RAC, Simaan CK, et al. Frequência de disfunção sexual em mulheres com doenças reumáticas. Rev Bras Reumatol. 2013;53:35–46.
  • 2
    Shahar MA, Hussein H, Sidi H, Shah SA, Mohamed Said MS. Sexual dysfunction and its determinants in Malaysian women with rheumatoid arthritis. Int J Rheum Dis. 2012;15:468–77.
  • 3
    Araujo DB, Borba EF, Abdo CHN, Souza LAL, Goldenstein-Schainberg C, Chahade WH, et al. Função sexual em doenças reumáticas. Acta Reumatol Port. 2010;35:16–23.
  • 4
    Basson R. Women's sexual dysfunction: revised and expanded definitions. CMAJ. 2005;172:1327–33.
  • 5
    Kraimaat FW, Bakker AH, Janssen E, Bijlsma JW. Intrusiveness of rheumatoid arthritis on sexuality in male and female patients living with a spouse. Arthritis Care Research. 1996;9:120–5.
  • 6
    Lee KU, Lee YM, Nam JM, Lee HK, Kweon YS, Lee CT, et al. Antidepressant-induced sexual dysfunction among newer antidepressants in a naturalistic setting. Psychiatry Investig. 2010;7:55–9.
  • 7
    Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Manual de atenção à mulher no climatério/menopausa. Brasília: Ministério da Saúde; 2008.
  • 8
    Nappi RE, Lachowsky. Menopause and a sexuality: prevalence of symptoms and impact on quality of life. Maturitas. 2009;63:138–41.
  • 9
    Ornat L, Martínez-Dearth R, Muñoz A, Franco P, Alonso B, Tajada M, et al. Sexual function, satisfaction with life and menopausal symptoms in middle-aged women. Maturitas. 2013;75:261–9.
  • 10
    Valadares AL, Machado VS, Da Costa-Paiva LS, De Souza MH, Osis MJ, Pinto-Neto AM. Sexual activity in Brazilian women aged 50 years or older within the framework of a population-based study. Menopause. 2014;21:295–300.
  • 11
    Valadares AL, Pinto-Neto AM, Osis MJ, Conde DM, Sousa MH, Costa-Paiva L. Sexuality in Brazilian women aged 40 to 65 years with 11 years or more of formal education: associated factors. Menopause. 2008;15:264–9.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Mar-Apr 2015
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