INTRODUÇÃO
Os sistemas e as tecnologias de informação, incluindo sistemas de informação com base na internet têm papel vital e crescente na administração, portanto, um ingrediente indispensável para o sucesso dos negócios (O'BRIEN; MARAKAS, 2013).
Os gastos e investimentos em Tecnologia de Informação (TI) podem incluir uma vasta lista de itens físicos, tais como: equipamentos, assistentes digitais pessoais - e até mesmo iPods, se usados para fins organizacionais - e também instalações, suprimentos (materiais de consumo), arquitetura de redes, telecomunicação e outros componentes de infraestrutura necessários para o funcionamento da TI; também itens não corpóreos que podem absorver tanto quanto ou mais recursos da organização, tais como: software, serviços, treinamento de pessoal próprio e de terceiros, suporte técnico, estabelecimento de processos, modelos de gestão, serviços de armazenagem e segurança dos dados e demais serviços internos ou terceirizados (WEILL, 1992; MEIRELLES, 1988, 2008; LAUDAON; LAUDON, 2009).
Para esta pesquisa os Gastos e Investimentos em Tecnologia de Informação (IGTI) termo de pesquisa de Longo (2014), bem como o respectivo Índice G incluíram as despesas e capital investido em TI, ou seja, Operational Expenditure (OPEX) e Capital Expenditure (CAPEX).
Cada vez mais a TI torna-se um recurso essencial e um fator crítico de sucesso para as organizações (com custo relevante). Os gastos com TI geralmente variam entre 1% a 3% da receita anual e podem chegar até 5 a 10%, ou acima dependendo da atividade da organização (MEIRELLES, 2015).
Os benefícios potenciais e as reconfigurações induzidas pela TI devem resultar em benefícios efetivos para o negócio (ALBERTIN; ALBERTIN, 2009).
Converter tais investimentos em resultados para o desempenho financeiro das organizações permanece, atualmente, como uma das grandes preocupações dos profissionais de TI, dos gestores e de pesquisadores (HU; PLANT, 2001; KOHLI; DEVARAJ, 2003; LIM; DEHNING; RICHARDSON; SMITH, 2011; LUNARDI; BECKER; MAÇADA, 2012; KOHLI; DEVARAJ; OW, 2012).
A conversão ou efetividade da TI significa a obtenção de benefícios de TI (em decorrência dos esforços e investimentos em TI) e que resultem em melhoria dos indicadores de desempenho organizacional (WEILL, 1992; KOHLI; GROVER, 2008; MITHAS; TAFTI; BARDHAN; GOH, 2012).
Há na literatura de TI e em vários contextos, discussões sobre a adequação de instrumentos que permitam a avaliação dos investimentos em TI e como aferir o seu impacto no desempenho empresarial (HITT; BRYNJOLFSSON, 1996; HU; PLANT, 2001; IRANI; LOVE, 2002; WEILL; ROSS, 2004; MAHMOOD; MANN, 2005; REMENYI; BANNISTER; MONEY, 2007; CARCARY, 2008; LIM; DEHNING; RICHARDSON; SMITH, 2011).
Pesquisas de Hu e Plant (2001), de Maçada, Becker e Lunardi (2005), de Gartner, Zwicker e Rodder (2009) foram importantes no processo de nossa pesquisa, bem como de Hu e Plant (2001); Mahmood e Mann (2005); Lee e Kim (2006) que discutem as metodologias para mitigar esta relação. Destacou-se ainda, diversas pesquisas que utilizam variáveis (métricas) contábeis-financeiras e de mercado para identificar o desempenho organizacional.
Logo, para esta pesquisa adotou-se indicadores financeiros e de TI com análise de dados em painel para o período, visando atender ao objetivo geral do trabalho de identificar os impactos dos gastos e investimentos em tecnologia de informação (GITI) no desempenho financeiro das indústrias brasileiras.
1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E DISCUSSÕES
1.1 Análise do Impacto dos Gastos e Investimentos em TI
O real impacto da TI pode permanecer desconhecido e seu potencial não realizado, sendo que são frequentes, na literatura, relatos de projetos fracassados, custos não identificados, benefícios não obtidos, orçamentos não atendidos, retorno limitado de investimentos, ou negativo, além de discrepâncias entre o esperado e o realizado (STRASSMANN, 1997; TINGLING; PARENT, 2004; REMENYI; BANNISTER; MONEY, 2007; CARCARY, 2008).
O fracasso de um projeto de grande monta pode ter consequências sérias, inclusive comprometendo a continuidade da organização (REMENYI, 1999; BANNISTER, McCABE; REMENYI, 2002; REMENYI; GRIFFITHS; DINIZ, 2004). E, tanto excesso, quanto falta de investimentos, podem acabar comprometendo a estrutura e o funcionamento da empresa (LUNARDI; BECKER; MAÇADA, 2012).
Pesquisas e estatísticas de TI revelam que mais de 70% dos projetos foram tumultuados, seja por exceder o prazo, seja por não funcionar como previsto, ou ainda por absorver grandes quantidades de recursos, mas sem oferecer os benefícios prometidos (PAN; PAN; FLYNN, 2004; AL-SHEHAB; HUGHES; WINSTANLEY, 2005; FLYVBJERG; BUDZIER, 2011).
Segundo Maizlish e Handler (2005) e Lunardi et al. (2012), 72% dos projetos de TI são entregues com atraso, ultrapassam seu orçamento, apresentam falta de funcionalidade ou nunca são entregues. Destes 28% de projetos considerados bem sucedido, 45% ultrapassam o orçamento e 68% levam mais tempo que o planejado, dessa forma, metade dos executivos declararam estar insatisfeitos quanto aos custos utilizados e apenas 52% dos projetos concluídos obtêm valor estratégico, o que significa que, somente investir em TI, não representa uma garantia de ganhos para o negócio.
1.2 Medidas Contábeis e de Mercado para Análise da Conversão da TI
Os pesquisadores da área de TI têm feito progressos significativos especialmente relacionados à análise do valor da TI e às capacidades para o desempenho da empresa (MITHAS; TAFTI; BARDHAN; GOH, 2012; KOHLI; GROVER, 2008; LIM; DEHNING; RICHARDSON; SMITH, 2011).
Em comparação com o corpo de pesquisa da literatura sobre o valor de TI, a literatura sobre sistemas e gestão de informação (TI/MIS) - Accounting Information Systems (AIS) é muito menos extensa, mas este campo de literatura vem se destacando, com boas contribuições (DEHNING; RICHARDSON, 2002; MASLI; RICHARDSON; SANCHEZ; SMITH, 2011; LIM; DEHNING; RICHARDSON; SMITH, 2011).
Lim, Dehning, Richardson e Smith (2011) apresentam uma meta-análise voltada às pesquisas relevantes sobre os impactos dos investimentos em TI no desempenho financeiro da empresa. Os autores categorizaram as medidas de desempenho financeiro com base no mercado, ou com base na contabilidade, destacando suas características.
O principal argumento para uso de medidas de mercado consiste na vantagem teórica, por representarem melhor os benefícios futuros esperados do investimento em TI. Por outro lado, medidas de mercado são medidas amplas de desempenho, facilmente confundidas com outros fatores, como diferenças de risco, as mudanças na competição e as mudanças no ambiente da informação. Sendo assim, os estudos que examinaram os gastos de TI são mais propensos a encontrar evidências do impacto sobre o desempenho em medidas baseadas em contabilidade (LIM; DEHNING; RICHARDSON; SMITH, 2011).
Também Masli, Richardson, Sanchez e Smith (2011) apontam que, no nível da empresa, as informações contábeis são amplamente disponíveis e, assim, pesquisas vêm utilizando uma variedade de métricas contábeis.
Alguns trabalhos mostraram que existe correlação serial forte em medidas contábeis, que o pesquisador deve levar em conta ao medir o desempenho atual ou o desempenho futuro (HU; PLANT, 2001; DEHNING; RICHARDSON; ZMUD, 2007; MASLI; RICHARDSON; SANCHEZ; SMITH, 2011).
De qualquer forma, em pesquisas para compreender as potenciais contribuições do investimento em TI para o desempenho financeiro, deve-se reconhecer que as métricas contábeis, ao nível da empresa são medidas de resumo (MASLI; RICHARDSON; SANCHEZ; SMITH, 2011). E, sempre que possível, os pesquisadores devem analisar medidas mais específicas de desempenho do processo, tais como o giro de estoque e mudanças de despesas (DEHNING; RICHARDSON; ZMUD, 2007; MASLI; RICHARDSON; PETERS, 2010; MASLI; RICHARDSON; SANCHEZ; SMITH, 2011; LIM; DEHNING; RICHARDSON; SMITH, 2011).
1.3 Pesquisas Selecionadas com enfoque em Métricas Contábeis
Conforme Tabela 1, contendo as abordagens, as variáveis adotadas e os resultados obtidos em diferentes épocas, observa-se que os pesquisadores tendem a utilizar dados anuais para os gastos de TI e medidas contábeis-financeiras, especialmente indicadores de rentabilidade e lucratividade (HITT; BRYNJOLFSSON, 1996; DEVARAJ; KOHLI, 2000; PARENTE; VAN HORN, 2007; ARAL; WEILL, 2007; SHIN, 2006; NICOLAOU, 2004; MENON; LEE; ELDENBURG, 2000; MITHAS; TAFTI; BARDHAN; GOH, 2012).
Tabela 1 Síntese de pesquisas com métricas contábeis e de mercado
Pesquisa | Abordagem Analítica | Tipo de Medida | Variáveis de TI e de Desempenho | Variável de Desempenho | Síntese do Resultado (pontos- chave) |
---|---|---|---|---|---|
Kohli et al. (2012) | Regressão | De Mercado, Contábil e Operacional | Investimento em TI; Valor de mercado dos ativos; Ativos totais (AT) - valor de book; Retorno sobre ativos (ROA); Receita líquida total; Idade do hospital e outras variáveis (ocupação, serviços hospitalares). | Lucro operacional (EBITDA) Relação Valor de Mercado (Ativo Total) e Valor de Ativo (contábil) | A influência do investimento em TI na empresa é mais significativa estatisticamente no valor da empresa. O impacto do investimento em TI não ficou evidenciado no retorno sobre ativos (ROA) e lucro operacional para o conjunto de hospitais. O impacto global de TIé melhor compreendido com medidas contábeis combinadas com de mercado. |
Mithas et al. (2012) | Regressão em painel | Contábil | Orçamento anual de TI, despesas operacionais, receitas (vendas), gastos com pesquisa e desenvolvimento (R&D), gastos da indústria (razão capital-indústria). | Lucro Líquido | TI tem um impacto positivo na rentabilidade. O efeito dos investimentos em TI sobre vendas e rentabilidade é maior do que a de outros Investimentos discricionários (empublicidade discricionária e Gastos em pesquisas e desenvolvimento (R&D). |
Henderson et al. (2010) | Regressão | De Mercado e Contábil | Despesas (gastos) com TI, Gastos com Pesquisa e Desenvolvimento (R&D), Gastos em publicidade, Investimentos de capital. | Valor de mercado, Valor contábil registrado (book value) e ganhos. | Gastos de TI podem explicar o desempenho futuro. A falta de informação confiável de gastos com TI pode levar a preços incorretos de mercado. |
Dunn et al. (2009) | Regressão | De Mercado e Contábil | Offshoring1 de TI (empregos) | O retorno sobre os ativos (ROA), Fluxo de caixa operacional e valor de mercado. | As empresas relatam maiores ganhos e fluxos de caixa operacionais na sequência de um offshoring de TI; O mercado desconta offshoring de TI, mas o desconto é reduzido, o número relativo de empregos deslocados (transferidos) aumenta. |
Kobelsky et al. (2008) | Regressão | De Mercado e Contábil | Nível de orçamento de TI | Retorno operacional sobre vendas (ROS), retorno sobre ativos (ROA); desempenho das ações. | Níveis de TI orçados pode influenciar ambos o desempenho da empresa e o retorno para o acionista. No contexto o orçamento de TI proporciona orientação; e níveis idiossincráticos (específicos) têm diferentes impactos. |
Parente e Van Horn (2007) | Regressão Logística | Contábil | Mandato de TI (posse), total de custos de ativos, volume (leitos, desocupação, dias de internação). | Retorno operacional sobre ativos (ROA) | Encontram o efeito marginal da adoção de TI em atividades com fins lucrativos. Na produtividade - efeito nos custos; em atividades em hospitais sem fins lucrativos - |
aumentam os serviços prestados (volume de atendimento). | |||||
Aral e Weill (2007) | Regressão - Modelo de efeitos fixos | Contábil | Gastos com TI e ativos de TI -Infraestrutura, transacional, Informacional e Estratégico. | Retorno sobre ativos (ROA), Margem Líquida, Q de Tobin, o CPV e Receita Produtos novos | Investimento em ativos específicos de TI explica Diferenças de desempenho. |
Anderson et al. (2006) | Regressão - Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) | De Mercado e Contábil | Gastos relacionados ao Bug do milênio (Y2K), Lucros, Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), crescimento de vendas e crescimento dos ativos. | Proporção do valor de mercado e valor de book (contábil) | Gastos relacionados com TI gastos da passagem de milênio(Y2K) aumentou o valor da empresa nas indústrias onde a TI desempenha um papel transformador. |
Shin (2006) | Regressão | Contábil | Gastos de TI (orçamento), Retorno sobre Ativos (ROA) e Retorno sobre PL (ROE). | Margem Bruta | Orçamento de TI e sua interação com a direção estratégica. A questão da interação de TI e dedireção estratégica contribui parao desempenho financeiro,particularmente na margem bruta. |
Nicolaou (2004) | Séries de Tempo (Regressão) | Contábil | Investimentos em ERP - Enterprise Resource Planning systems. | Índices de rentabilidade, Custos | Características de implementação,escolha do fornecedor, módulos implementados e período de tempo de implementação de ERP e efeitos no desempenho. |
Hu e Plant (2001) | Análise de séries de tempo Modelo de causalidade de Granger2 | Contábil e de Mercado | Investimentos em TI, Custos Operacionais, Crescimento de Vendas e Produtividade. | Rentabilidade – sobre Ativos (ROA) e sobre PL ( ROE). | Mensuração do valor da TI.Dificuldade em encontrar causalidade instantânea entreinvestimento em TI e desempenho da empresa. Modelo de pesquisa para investigar se os investimentos emTI nos anos anteriores contribuíram para as mudanças subsequentes em medidas de desempenho (custo operacional, produtividade, crescimento devendas e rentabilidade). |
Menon et al. (2000) | Função de Produção Cobb-Douglas | Contábil | Dispêndio com Ativo Fixo (TI para área médica), Funcionários de TI e trabalho não-TI. | Receita Hospitalares (de Encargos dos pacientes). | Gastos de TI e Ativos de TI (áreamédica) têm uma influênciapositiva sobre a produção deserviços em hospitais. |
Devaraj e | Regressão | Contábil | TI (trabalho, apoio e | Receita do | Investimento em TI leva a uma |
Kohli (2000) | Investimentos de capital), BPR | hospital, mortalidade de paciente, e nível de satisfação. | maior rentabilidade e resultados de qualidade entre os hospitais. | ||
Hitt e Brynjolfsson (1996) | Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) Função de Produção Cobb-Douglas | Contábil | Gastos em TI, Ativos de Não-TI, intenside de capital, relação dívida / capital próprio, quota de mercado, mão de obra, crescimento de vendas | Retorno sobre o Ativo (ROA), Retorno sobre o PL (ROE). | Investimento em TI proporciona aumento da produtividade e valor para o consumidor, mas nãona rentabilidade da firma. |
Fonte: Elaborado pelos autores
Há pesquisadores que preferem adotar a associação de métricas contábeis e de mercado; nestas pesquisas, em geral, relacionam os indicadores de TI, margens internas e indicadores do mercado de ações (HU; PLANT, 2001; ANDERSON; BANKER; RAVINDRAN, 2006; HENDERSON; KOBELSKY; RICHARDSON; SMITH, 2010; DUNN; KOHLBECK; MAGILKE, 2009; KOBELSKY; RICHARDSON; SMITH; ZMUD, 2008; KOHLI; DEVARAJ; OW, 2012).
Sobre obtenção dos dados e perspectivas, Masli, Richardson, Sanches e Smith (2011) lembram que a qualidade de dados permanece um dos problemas para a pesquisa que analisa os investimentos em TI e as contribuições para o valor do negócio.
Lim, Dehning, Richardson e Smith (2011), afirmam que os estudos de gastos de TI costumam ter tamanhos de amostras maiores, o que também melhora a precisão. Porém, a disponibilidade de dados de gastos com TI é limitada, uma vez que as empresas não informam em separado, despesas ou investimentos em TI nas demonstrações financeiras, sendo essa uma das implicações para pesquisadores e profissionais de AIS.
1.4 Efeito Tardio da TI - Lag Effect
O efeito defasado (tardio), ou lag effect tem sido identificado por muitos estudos realizados na área de SI/TI, como assimetria entre investimento e retorno. O efeito tardio de determinados investimentos de TI no desempenho e em outros benefícios que lhe são conferidos ocorrem, em geral, devido à complexidade e à extensão da iniciativa de TI, tornando a avaliação desta com o desempenho da organização bem mais complicada e exigindo análises que considerem um espaço de tempo mais longo (HU; PLANT, 2001; DEVARAJ; KOHLI, 2003; LEE; KIM, 2006; SEDDON; CALVERT; YANG, 2010; MITHAS; TAFTI; BARDHAN; GOH, 2012).
O efeito defasado dos investimentos em TI pode ser maior do que o efeito (impacto) imediato. Por isso, é necessário considerar um intervalo de tempo entre o investimento em TI e o desempenho da empresa (HU; PLANT, 2001; LEE; KIM, 2006; LUNARDI; BECKER; MAÇADA, 2012).
1.5 Embasamento para o Modelo de Pesquisa
Visando compreender e dar destaque ao modelo de pesquisa, detalhado no Método da Pesquisa, a seguir apresenta-se alguns estudos antecessores que evidenciam a efetividade de conversão dos gastos e investimentos em TI, que se traduz em melhoria do desempenho organizacional, conforme Figura 1.

Fonte: Elaborado pelos autores
Figura 1 Modelos para evidenciar a conversão dos Investimentos em TI na Performance
Primeiramente, apresenta-se o modelo de McKeen, Heather e Parent (1999), relacionando de forma direta o investimento com o desempenho organizacional.
No trabalho de Weill (1989) surgiu o conceito de conversão eficaz da TI ou efetividade de conversão. O mesmo salienta a necessidade de separar os diferentes tipos de investimento e combiná-los com medidas de desempenho organizacionais adequados, além da necessidade de considerar fatores como compromisso de gestão e experiência anterior com TI, podendo interferir na eficácia com que a empresa converte investimento em saídas úteis. E, Weill e Broadbent (1998) dão destaque para a classificação dos objetivos da TI, necessidades informacional, estratégica, transacional e de infraestrutura. Lucas (1999) reforça os tipos de investimentos e o uso apropriado da TI como alavancadores de desempenho; no seu modelo, admite que outras variáveis, além TI, podem direcionar o desempenho organizacional.
Dehning e Richardson (2002) apresentam entre 1997 a 20013 um quadro de referência das pesquisas sobre avaliação dos impactos dos investimentos em TI no desempenho da firma. Os autores se detêm em medidas de desempenho organizacionais mais relevantes para os pesquisadores de AIS. Segundo os autores os investimentos em TI podem gerar impacto direto ou indireto para o processo de negócio, sendo que ambos (direto e indireto) determinam o desempenho global da organização e adotam medidas contábeis e de mercado.
Todos os modelos de pesquisa apresentados aproximam-se em termos de evidenciação, reconhecendo que os investimentos em TI podem gerar impactos na performance organizacional (desempenho).
2 MÉTODO DE PESQUISA
2.1 População e Coleta de Dados
A população da pesquisa foi composta pelas companhias brasileiras, de capital aberto, do ramo industrial, com ações ativas na BOVESPA, totalizando 119 companhias, para as quais foram coletadas as informações contábil-financeiras do período de 2001 a 2011, junto ao banco de dados da Economática. A coleta foi completada por meio de uma survey, para obtenção dos dados específicos das indústrias no que se refere à tecnologia de informação. Obteve-se ao final de coleta dos dados primários uma amostra com 53% da população estudada.
2.2 Modelo e Construtos
A evolução das pesquisas anteriores serviu de base para o modelo híbrido adotado, restringindo-se em esclarecer a efetividade de conversão dos gastos e investimentos em TI no desempenho financeiro da firma (WEILL, 1989, 1992; WEILL; BROADBENT, 1998; McKEEN; HEATHER; PARENT, 1999; LUCAS, 1999; MAÇADA, 2001; DEHNING; RICHARDSON, 2002).
A seguir apresenta-se a descrição das hipóteses. Na Figura 2, contemplando o objetivo da pesquisa, os investimentos em TI (prévios e presentes), bem como a variação destes gastos durante todo o período de análise são evidenciados no modelo.
Hipótese 1a: A variação dos gastos e investimentos em tecnologia de informação (Δ%IGTI) tem uma relação positiva com o aumento da receita da firma no período.
Hipótese 2a: A variação dos gastos e investimentos em TI tem uma associação negativa com os custos (despesas) operacionais da empresa.
Hipótese 3a: Os Gastos e investimentos em TI têm uma relação positiva com o aumento da rentabilidade sobre ativos (ROA).
Hipótese 1b: Os gastos e investimentos em TI realizados previamente impactam no resultado financeiro operacional (ROP) no período atual.
Hipótese 2b: Gastos e investimentos em TI do período atual (ano corrente) ou do período anterior impactam no ROP atual.
Hipótese 3b: A melhoria prévia da margem de custos da indústria possui relação positiva com a melhoria do resultado operacional atual.
2.3 Variáveis e Operacionalização
Adotou-se a análise de dados em painel, para identificar como os gastos e investimentos em TI e outras variáveis independentes selecionadas impactam no Resultado Operacional (ROP). O índice EBIT, do acrônimo Earning Before Interest and Taxes, no Brasil, Lucro antes dos Juros, Imposto de Renda e Constribuição Social, foi adotado para representar a variável dependente ROP, devido ao reconhecimento da literatura e respaldo da legislação quanto a sua importância e adequação para representar o lucro operacional. O EBIT corresponde a medida de lucro mais ligada ao resultado de natureza operacional auferido pela organização, que não inclui resultado financeiro, dividendos ou juros sobre o capital próprio, resultado de equivalência patrimonial e outros resultados não operacionais (MARQUES; CARNEIRO JR; KUHL, 2008; MATARAZZO, 2010).
Além da variável dependente ROP, a matriz de dados foi composta por 11(onze) variáveis independentes, conforme apresentadas na Tabela 2.
Tabela 2 Detalhamento das variáveis
Variável | Pesquisas | Equação | Descrição da Variável |
---|---|---|---|
Resultado Operacional |
Mithas et al. (2012)
Kohli et al. (2012) Lunardi et al.(2012) |
ROPt = EBIT | Lucro antes dos Juros e Imposto de Renda. |
Gastos em TI |
Meirelles, (1985, 2015)
Hu e Plant (2001) Aral e Weill (2007) Henderson et al.(2010) Kohli et al. (2012) |
![]() |
Investimentos, Custos e Despesas destinadas à Tecnologia de Informação (Valor Anual). |
Custo Operacional |
Hu e Plant (2001)
Lunardi et al. (2012) |
CustOpt = Dadm + Dvendas | Valor anual das Despesas Administrativas ede Despesas de Vendas, excluídos despesas financeiras. |
Retorno sobre Ativos (ROA) |
Dunn et al. (2009)
Kobelsky et al. (2008) Parente e Van Horn (2007); Aral e Weill (2007) Hu e Plant (2001) Hitt e Brynjolfsson (1996) |
![]() |
Indicador de Rentabilidade sobre AtivoTotal (ROA-Return on Assets). |
Giro do Ativo |
Dehning et al. (2007)
Lunardi et al. (2012) |
![]() |
Traduz o giro, ou seja, a Receita expressa o volume de negócios pelos investimentos totais(AT). |
Retorno sobre o PL (ROE) |
Hu e Plant (2001)
Hitt e Brynjolfsson (1996) |
![]() |
Representa a rentabilidade Operacional do PL, obtido da divisão do (ROP) peloPatrimônio Líquido (PL). |
Custo do Produto Vendido | Aral e Weill (2007) | CusProdt = CPV | Valor do Custo do Produto Vendido (totaldo custo de produção, mais adicionais davenda) |
Margem de Contribuição Bruta | Shin (2006) | MCt = RO – CVar | Evidencia o resultado parcial, obtido do cálculo da Receita Líquida, deduzidos os Custos Variáveis de Produção. |
Margem de Contribuição Operacional | Shin (2006) | MCOpert = MC –VarVendas | Evidencia o resultado parcial, a partir doResultado da MC deduzidos os Custos Variáveis de Vendas (incluíndo impostos deVendas). |
Crescimento de Vendas |
Hu e Plant (2001)
Hitt e Brynjolfsson (1996) Lunardi et al. (2012) |
![]() |
Representa a Variação das Vendas (Crescimento ou Redução no período (Vtinicial- tfinal). |
Capital de Giro |
Dunn et al. (2009)
Beasley et al. (2009) |
CapGiro = ACOp | Indica os recursos no curto prazo relacionados às operações (disponível,créditos e estoques), obtido no Ativo Circulante. |
Liquidez Corrente |
![]() |
Índice de Liquidez de curto prazo evidencia a capacidade de saldar as obrigações dentro do ano. |
Fonte: Elaborado na pesquisa
2.4 Características do Modelo Adotado
Os dados em painel permitem a avaliação da relação dinâmica entre as variáveis, possibilitando a incorporação de uma possível existência de correlação entre os valores presentes e passados da variável dependente (ROP) e os valores contemporâneos e passados das demais variáveis independentes ou explicativas (IGTI, ROA, LiqC, Giro-Ativo, ROE, Cap-Giro e MCOper). Além disso, é importante considerar a característica específica de cada empresa analisada, apesar de não ser possível observá-la (por exemplo, política, missão e estratégia da empresa).
Para o estudo, o efeito específico da empresa é considerado fixo e invariante no tempo. Admite-se ainda, neste modelo, uma possível correlação entre as variáveis explicativas e o efeito fixo específico de cada empresa (endogeneidade).
Foram utilizadas as informações referentes ao período de 2001 a 2011, compreendendo 11(onze) instantes de tempo, sendo que para não ocorrer uma redução excessiva no tamanho de amostra para a estimação do modelo, foram consideradas defasagens de até dois instantes de tempo. A regressão estimada neste trabalho apresenta a seguinte parametrização:
Sendo:
i = a N; para t = 2003, ..., 2011
εit = μi + νit
E [μi] = E [νit = E [μi νit] = 0
Onde: xit, xi,t-1, xi,t-2 são vetores de variáveis explicativas contemporâneas e defasadas de um e dois instantes de tempo, respectivamente, de dimensão 1 x p e β o vetor de coeficientes, p x 1. associado a esses regressores. O componente de erro do modelo, εit. é composto por dois elementos ortogonais: um componente aleatório idiossincrático vit e efeitos individuais fixos constantes no tempo, µi.
Por construção, a variável dependente defasada é correlacionada com o efeito fixo, que é parte do componente de erro do modelo. Desta forma, caso o modelo (Equação 1) seja estimado pelo método de mínimos quadrados ordinários, os coeficientes estimados serão viesados.
A solução adotada para o problema consiste em transformar os dados de modo a eliminar o efeito fixo:
Simplificando, a representação da variação ficou assim:
Pode-se observar que, após a transformação, a variável dependente defasada apresenta ainda um componente endógeno, uma vez que o termo yi,t-1 é, por definição, correlacionado com vi,t-1.
Arellano e Bond (1991) propuseram a utilização dos valores defasados de yi,t-1 como instrumentos4 para Δyi,t-1 sob a hipótese de que não exista correlação serial em vit. Dessa forma, yi,t-2 é matematicamente relacionado com Δyi,t-1 e, ao mesmo tempo, não correlacionado com o erro em primeira diferença Δvit=vit-vi,t-1.
À medida que o painel avança no tempo, sucessivas defasagens podem ser incorporadas, gerando assim um subconjunto de instrumentos válidos para cada período disponível. O mesmo processo pode ser aplicado no caso das demais variáveis explicativas, consideradas como potencialmente endógenas. Arellano e Bond (1991) desenvolveram um procedimento de estimação linear via método dos momentos generalizado (GMM), Generalized Method of Moments, que utiliza os sucessivos valores defasados das variáveis endógenas como instrumentos para a primeira diferença dessas variáveis.
As estimativas geradas pelo estimador GMM dependem da validade dos instrumentos empregados na identificação das variáveis endógenas que foi testada empregando-se o teste de Sargan.
O teste de Sargan é um teste estatístico utilizado para verificar se há restrições de identificação de um modelo estatístico. Os resíduos deverão ser correlacionados com o conjunto de variáveis exógenas se os instrumentos forem verdadeiramente exógenos (WOOLDRIDGE, 2010, p.135).
Além disso, o modelo pressupõe a ausência de correlação serial no erro idiossincrático vit. condição necessária para a consistência do estimador GMM5. Para testar esse pressuposto, foi utilizado o teste desenvolvido por Arellano e Bond (1991), aplicado aos resíduos em diferenças. Sob a hipótese nula de ausência de correlação serial de segunda ordem nos distúrbios em primeira diferença, Δvit. não existe correlação de primeira ordem nos distúrbios em nível.
3 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
3.1 Análise dos impactos dos GITI no Desempenho Financeiro (ROP)
Conforme explicado na metodologia, devido à presença de heterogeneidade não observável na forma de efeito fixo, o modelo pelo método de mínimos quadrados ordinários (MQO) não se mostra adequado. Para tratar o efeito fixo, foi utilizado o modelo ajustado de Arellano e Bond (1991).
As análises foram efetuadas com o software estatístico Data Analysis and Statistical Software STATA® versão 12.0. Inicialmente, todas as variáveis explicativas foram incluídas no modelo e aquelas não significantes foram eliminadas uma a uma por ordem de significância. Para o ajuste deste modelo, foi considerado o nível de significância de 5%.
Algumas variáveis foram mantidas no modelo como variável de controle, apesar de não serem significantes6 (ROE, crescimento de vendas e defasagens de algumas variáveis que tiveram algum período significante).
No Apêndice (A) encontram-se as medidas-resumo das variáveis analisadas. Na Tabela 3 deu-se destaque para as estimativas dos coeficientes do modelo inicial e algumas variáveis não se mostraram significativas.
Tabela 3 Estimativa dos coeficientes do modelo de regressão inicial
ROP(t) | Coeficiente | Erro Padrão Robusto[1] | Z | p | Intervalo de Confiança de 95% para o coeficiente |
---|---|---|---|---|---|
ROP | |||||
ROP(t-1) | 0,02 | 0,04 | 0,59 | 0,556 | [-0,05 ; 0,09] |
ROP(t-2) | 0,07 | 0,04 | 1,84 | 0,065 | [0,00 ; 0,14] |
ROA | |||||
ROA(t) | 0,49 | 0,16 | 3,08 | 0,002 | [0,18 ; 0,81] |
ROA(t-1) | -0,04 | 0,07 | -0,61 | 0,539 | [-0,17 ; 0,09] |
ROA(t-2) | -0,08 | 0,04 | -1,91 | 0,056 | [-0,17 ; 0,00] |
LiqC | |||||
LiqC(t) | 0,028 | 0,015 | 1,83 | 0,068 | [-0,002 ; 0,058] |
LiqC(t-1) | -0,02 | 0,02 | -1,3 | 0,193 | [-0,06 ; 0,01] |
LiqC(t-2) | 0,01 | 0,01 | 1,13 | 0,26 | [-0,01 ; 0,03] |
Giro-Ativo | |||||
Giro-Ativo(t) | -0,05 | 0,04 | -1,18 | 0,237 | [-0,13 ; 0,03] |
Giro-Ativo(t-1) | 0,01 | 0,03 | 0,3 | 0,768 | [-0,05 ; 0,06] |
Giro-Ativo(t-2) | -0,04 | 0,03 | -1,1 | 0,27 | [-0,10 ; 0,03] |
ROE | |||||
ROE(t) | 0,003 | 0,006 | 0,52 | 0,601 | [-0,009 ; 0,015] |
ROE(t-1) | 0 | 0 | 0,76 | 0,445 | [-0,01 ; 0,01] |
ROE(t-2) | 0 | 0,01 | 0,58 | 0,563 | [-0,01 ; 0,01] |
Cap-Giro | |||||
Cap-Giro(t) | -0,11 | 0,06 | -1,93 | 0,054 | [-0,21 ; 0,00] |
Cap-Giro(t-1) | 0,09 | 0,04 | 2,24 | 0,025 | [0,01 ; 0,17] |
Cap-Giro(t-2) | 0,05 | 0,03 | 1,55 | 0,121 | [-0,01 ; 0,12] |
IGTI | |||||
IGTI(t) | 1,79 | 3,22 | 0,55 | 0,579 | [-4,52 ; 8,10] |
IGTI(t-1) | -1,09 | 3,04 | -0,36 | 0,72 | [-7,05 ; 4,87] |
IGTI(t-2) | 5,82 | 3,48 | 1,67 | 0,094 | [-1,00 ; 12,63] |
MCOper | |||||
MCOper(t) | 0,53 | 0,2 | 2,58 | 0,01 | [0,13 ; 0,93] |
MCOper(t-1) | 0,25 | 0,17 | 1,43 | 0,151 | [-0,09 ; 0,59] |
MCOper(t-2) | -0,04 | 0,08 | -0,51 | 0,609 | [-0,19 ; 0,11] |
Crescimento de Vendas (%) | |||||
Crescimento de Vendas(t) | -0,01 | 0,04 | -0,32 | 0,75 | [-0,09 ; 0,07] |
Crescimento de Vendas(t-1) | 0 | 0,03 | 0,08 | 0,937 | [-0,05 ; 0,06] |
Crescimento de Vendas(t-2) | 0,03 | 0,01 | 1,96 | 0,05 | [0,00 ; 0,06] |
Constante | -0,06 | 0,14 | -0,44 | 0,661 | [-0,34 ; 0,22] |
Coleta finalizada em Outubro de 2012Fonte: Dados da pesquisaNotas:[1] Erro Padrão corrigido para potencial existência de heterocedasticidade e auto correlação serial nos componentes de erro nas informações de uma mesma empresa.Teste de auto correlação nos resíduos em primeira diferença de ordem 1: p=0,107; ordem 2: p=0,500 e ordem 3: p=0,585.Teste de Sargan (teste da validade de sobre identificação das restrições): p=0.550.Número de observações - 434 relativas a 63 empresas
3.2 Resultados Finais e Análise
Por fim a Tabela 4 evidencia as estimativas dos coeficientes do modelo de regressão final (reduzido), com as variáveis selecionadas, assim como as variáveis de controle (ROE e Crescimento de Vendas).
Tabela 4 Estimativa dos coeficientes do modelo final
ROP(t) | Coeficiente | Erro Padrão robusto | Z | p | Intervalo de Confiança de 95%para o coeficiente |
---|---|---|---|---|---|
ROP | |||||
ROP(t-1) | -0,02 | 0,03 | -0,68 | 0,499 | [-0,08 ; 0,04] |
ROP(t-2) | 0,04 | 0,02 | 2,65 | 0,008 | [0,01 ; 0,08] |
ROA | |||||
ROA(t) | 0,49 | 0,16 | 2,97 | 0,003 | [0,17 ; 0,81] |
ROA(t-2) | -0,08 | 0,03 | -2,7 | 0,007 | [-0,13 ; -0,02] |
LiqC | |||||
LiqC(t) | 0,024 | 0,008 | 2,82 | 0,005 | [0,007 ; 0,04] |
ROE | |||||
ROE(t) | 0,004 | 0,006 | 0,6 | 0,551 | [-0,008 ; 0,016] |
Cap-Giro | |||||
Cap-Giro(t) | -0,1 | 0,05 | -1,97 | 0,049 | [-0,2009 ; -0,0003] |
Cap-Giro(t-1) | 0,05 | 0,07 | 0,81 | 0,419 | [-0,08 ; 0,18] |
Cap-Giro(t-2) | 0,1 | 0,06 | 1,56 | 0,119 | [-0,02 ; 0,22] |
IGTI | |||||
IGTI(t-2) | 7,3 | 3,59 | 2,03 | 0,042 | [0,26 ; 14,33] |
MCOper | |||||
MCOper(t) | 0,52 | 0,18 | 2,98 | 0,003 | [0,18 ; 0,87] |
MCOper(t-1) | 0,24 | 0,15 | 1,65 | 0,098 | [-0,04 ; 0,53] |
Crescimento de Vendas (%) | |||||
Crescimento de Vendas(t-1) | 0,03 | 0,02 | 1,74 | 0,082 | [-0,004 ; 0,068] |
Crescimento de Vendas(t-2) | 0,04 | 0,02 | 1,62 | 0,104 | [-0,01 ; 0,09] |
Constant | -0,16 | 0,06 | -2,63 | 0,009 | [-0,29 ; -0,04] |
Coleta finalizada em Outubro de 2012Fonte: Dados da pesquisaNotas: Teste de auto correlação nos resíduos em primeira diferença de ordem 1: p=0,121; ordem 2: p=0,555 e ordem 3: =0,619.Teste de Sargan (teste da validade de sobre identificação das restrições: p=0,430.Número de observações: 434 (63 empresas).
Conforme Tabela 4, observa-se que foram significantes no modelo o ROP de dois anos atrás (p=0,008), ROA no valor presente (p=0,003) e 2 (dois) anos atrás (p=0,007), LiqC no ano atual (p=0,005), Capital de Giro do ano presente (p=0,049), IGTI de dois anos atrás (p=0,042) e MCOper no valor presente (p=0,003).
A partir do modelo final, pode-se afirmar que o aumento de 1% no IGTI, ocorrido há dois anos, acarreta um aumento de 7,3% no ROP atual, mantidas as demais variáveis do modelo controladas (quando estamos comparando duas empresas similares com LiqC, Capital de Giro, MCOP, etc. em patamares semelhantes).
Além disso, é possível observar que o aumento de 1% no ROP de dois períodos anteriores, o aumento de 1% no ROA presente, o aumento de 1% no LiqC presente e o aumento de 1% no MC Oper atual acarretam, respectivamente, um aumento de 0,04%, 0,49%, 0,024% e 0,52% no ROP atual. O modelo final apresentou resíduos não correlacionados até a ordem 3 e o teste de Sargan não rejeitou a validade dos instrumentos (p=0,430), satisfazendo às condições do modelo de Arellano e Bond.
Os resultados mostraram que houve algumas situações novas em relação ao modelo inicialmente proposto: i) o aumento da variável ROAt-2 (de dois períodos passados) impacta negativamente na variável resposta ROP atual; ii) o aumento da variável Capital de Giro atual possui correlação negativa também com o ROP atual; iii) acreditava-se inicialmente que a melhoria prévia da margem de contribuição (anos passados) impactava no ROP atual, contudo esta hipótese não foi confirmada; iv) a hipóteses de que a variável Rentabilidade do Capital Próprio (ROE) de anos anteriores está associada ao ROP atual não foi significante no modelo, também não foi confirmado que os investimentos em TI prévios provocam a melhoria da rentabilidade atual.
Sendo assim, foi possível confirmar as seguintes hipóteses, em relação à variação dos investimentos de TI no período e adotando o modelo dinâmico:
H1a A variação dos gastos e investimentos em tecnologia de informação (Δ%IGTI) tem uma relação positiva com o aumento da receita da firma no período.
H2a A variação dos gastos e investimentos em TI tem uma associação negativa com os custos (despesas) operacionais da empresa.
H1b Os gastos e investimentos em TI realizados previamente impactam no resultado financeiro operacional (ROP) no período atual.
CONCLUSÕES
A presente pesquisa teve como objetivo geral analisar o impacto dos gastos e investimentos em TI no resultado operacional das indústrias brasileiras. Alguns destaques da pesquisa referem à quantidade de dados analisados, especialmente, considerando as pesquisas anteriores no contexto nacional, seja para o período de tempo, pois possibilitou captar a dinâmica da questão de pesquisa e compreender melhor o desempenho financeiro das indústrias, com base em indicadores, que foram fundamentais para nortear esta pesquisa: (1) Gastos e Investimentos em TI (GITI/IGTI), que representa o montante de recursos destinados a TI (OPEX/CAPEX); (2) Resultado Operacional (ROP), representando o desempenho financeiro, genuíno da atividade; (3) Crescimento de Vendas, representando a evolução das receitas operacionais das companhias estudadas; (4) Custos Operacionais (CustOp), variável composta na pesquisa pelas despesas anuais administrativas e de vendas.
Reconhecendo as experiências de pesquisas anteriores e que amostras maiores proporcionam maior confiança nos resultados. Após a coleta de dados primários, especialmente dos gastos e investimentos em TI, obteve-se dados completos e validados para mais da metade (53%) da população da pesquisa.
A pesquisa empírica permitiu concluir que as indústrias que mais investiram em TI no período, obtiveram melhor desempenho financeiro (resultado operacional). Esta conclusão foi fundamentada após as análises, por meio do modelo econométrico, adotado para análise de dados em painel, que inseriram variáveis descontadas (t: dados do período atual; t-1: de um ano antes; t-2: dados de dois anos anteriores).
Salienta-se, ainda, que o método adotado possibilitou uma descrição da evolução das variáveis do estudo e o modelo de ajuste do efeito fixo de Arellano-Bond (1991), um procedimento de estimação linear via Método dos Momentos Generalizados, do inglês Generalized Method of Moments (GMM). O respectivo modelo adotou análise de dados em painel; dessa forma, possibilitou a identificação da relação dinâmica entre as variáveis, ou seja, a correlação entre os valores presentes e passados (anos anteriores) da variável resposta - Resultado Operacional (ROP) e entre os valores presentes e passados das demais variáveis explicativas (IGTI, ROA, LiqC, Giro-Ativo, ROE, Cap-Giro e MCOper).
No modelo, foram significantes o Indicador de Gastos e Investimentos em TI IGTIt-2, de dois anos atrás (p=0,042), impactando no Resultado Operacional Atual, ROPt. Os resultados mostraram significância nos gastos prévios e não no IGTI atual ou no ano imediatamente anterior, que pode ser explicada pelo efeito tardio, ou lag effect.
Levando em conta o efeito tardio dos investimentos, na pesquisa foi proposto defasagens de todas as variáveis do modelo para dois anos e o período atual (três instantes de tempo). Esta escolha foi por parcimônia, visando dar maior robustez às estimativas do modelo de Regressão, ou seja, dos valores nas colunas de coeficiente.
Analisando os resultados verifica-se que há diferenças significativas relacionadas ao uso da TI e a associação com o desempenho econômico-financeiro nas empresas pesquisadas, em especial do Resultado Operacional (ROP), o indicador do desempenho financeiro organizacional, conforme já destacado, genuinamente da atividade do setor estudado. É possível constatar a partir do modelo da pesquisa e com base nos resultados, que o aumento de 1% no Índice de Gastos e Investimentos em TI ocorridos há dois anos acarreta um aumento de 7,3% no Resultado Operacional (atual).
Esta constatação estimula novas pesquisas, porém é oportuno registrar sua relevância tanto no aspecto acadêmico, como para o contexto empresarial, uma vez considerado as condições do modelo de pesquisa e variáveis financeiras, as organizações, ao investir em TI, vêm obtendo, após um período de tempo, a melhoria dos seus indicadores financeiros, especialmente na esfera operacional.
No processo de investigação empírica, também foram analisadas a variação percentual (Δ% 2001-2011) das seguintes variáveis: i) melhoria de Vendas, ii) Variação de Custo Operacional e iii) Melhoria da Rentabilidade sobre Ativo (ROA). Houve confirmação da associação positiva dos Investimentos em TI do período com o Crescimento da Receita em 0,637 e associação negativa com Custos Operacionais em menor grau -0,332. Confirmando o crescimento de vendas e redução de custos. Não houve significância em relação à Rentabilidade sobre Ativos (ROA) para o período nas indústrias analisadas.
O desenvolvimento desta pesquisa possibilitou algumas contribuições com implicações gerenciais, assim como implicações acadêmicas. Primeiramente as contribuições acadêmicas referem-se:
Ao desenvolvimento de um modelo para testar hipóteses teóricas extraídas da literatura de TI;
Ao fato do trabalho aprofundar e ampliar as discussões existentes sobre a avaliação dos investimentos em TI e sobre a forma que as pesquisas estão aferindo o impacto destes investimentos no desempenho financeiro;
À adoção de uma inovação quanto ao método, na pesquisa empírica, pois buscou, por meio de análise dinâmica e tratamento do efeito fixo, eliminar a correlação espúria, evitando falhas de metodologia.
Constatou-se a limitação quanto ao acesso dos dados específicos de TI. No decorrer da pesquisa, algumas companhias selecionadas não concordaram em dar informações complementares sobre os investimentos em TI e, em outros casos, havia falhas de informações para todo o período de 2001 até 2011, compreendido na pesquisa. Mas que não prejudicou o desenvolvimento da pesquisa e suas proposições. Esta limitação foi observada em outros trabalhos empíricos.
Para pesquisas futuras, no contexto avaliação do valor da TI para o negócio e mensuração dos investimentos no desempenho, há a possibilidade de:
Buscar medidas de avaliação por tipos de investimento em TI, visando compreender como os investimentos em TI podem resultar em capacidades de TI que, por sua vez, podem impactar no desempenho dos negócios;
Utilizar dummies de tempo nas regressões, visando mitigar os resultados apurados e possíveis interferências no desempenho; e
Adotar o modelo utilizado nesta pesquisa com a associação de análise de clusters (AC), para verificar se há diferenças significativas na forma como cada agrupamento mostra a relação dos GITIs nas variáveis de desempenho financeiro.