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SOBREVIVÊNCIA E MORTALIDADE DAS ATIVIDADES PRODUTIVAS NO SEGMENTO DE BAIXA RENDA1 1 Recebido em 11/06/2018; aprovado em 20/10/2018.

SURVIVAL AND MORTALITY OF PRODUCTIVE ACTIVITIES IN LOW INCOME SECTOR

SOBREVIVENCIA Y MORTALIDAD DE LAS ACTIVIDADES PRODUCTIVAS EN EL SEGMENTO DE BAJA RENTA

RESUMO

O segmento informal, concentrado em comunidades de baixa renda, vem adquirindo crescente importância no Brasil e no mundo. Sua lógica, no entanto, permanece pouco compreendida. Nesse contexto, um tema relevante diz respeito à temática de sobrevivência e mortalidade dessas unidades produtivas informais. Embora existam pesquisas sobre o tema da mortalidade, estas são voltadas, exclusivamente, para a análise de empresas formalmente constituídas. O presente trabalho propõe, a partir de revisão crítica e adequação da literatura existente, um modelo analítico para investigação das causas de sobrevivência e mortalidade nesse segmento, centrado em três categorias básicas - indivíduo, atividade, ambiente. O modelo é testado na análise de quatro atividades produtivas urbanas (duas ativas e duas extintas), com resultados positivos. Destacam-se, entre eles, que os fatores experiência prévia, dedicação e personalidade do indivíduo, além da sua noção de concorrência como fonte de estímulo e aprendizado, foram importantes para a sobrevivência. Observa-se, no entanto, que tais empreendimentos são dotados de lógica peculiar, exigindo não apenas algumas revisões conceituais como, também, novas pesquisas.

Palavras-chave:
Informalidade; Sobrevivência; Mortalidade; Baixa renda

ABSTRACT

The informal sector, concentrated in low-income communities, has become increasingly important in Brazil and in the world. Its logic, however, remains poorly understood. A relevant topic concerns the survival and mortality of these enterprises. The current studies on this subject are based, exclusively, on the analysis of legally constituted and registered enterprises. The present article searches for the factors underlying the survival and the mortality of the informal microfirms. For this, a analytical model was created, adapted to this sector, based on three pillars (owner, business, environment). The model was successfully tested with four microfirms (two active and two extinct). The results show that the sector are, in fact, endowed with a peculiar dynamics and a logic, requiring review of some analytical concepts and also, new researches.

Keywords:
Informality; Survival; Mortality; Low income

RESUMEN

El segmento informal, concentrado en comunidades de bajos ingresos, viene adquiriendo creciente importancia en Brasil y en el mundo. Su lógica, sin embargo, permanece poco comprendida. Un tema relevante se refiere a la temática de la supervivencia y mortalidad de estos emprendimientos. Aunque existen investigaciones sobre el tema, éstas se dirigen exclusivamente al análisis de empresas formalmente registradas. El presente trabajo busca, avanzar en la búsqueda de las causas de supervivencia y mortalidad de esas actividades productivas informales urbana. Para ello, se elaboró ​​un modelo analítico, adaptado a las características del segmento, basado en tres pilares: dueño, emprendimiento y ambiente, después aplicado, con éxito, en cuatro emprendimientos (dos activos y dos extintos). Los resultados muestran que estos emprendimientos están dotados de lógica y dinámica peculiar, requiriendo revisión de algunos conceptos analíticos y nuevas investigaciones.

Palabras-clave:
Informalidad; Supervivencia; Mortalidad; Bajo renta

INTRODUÇÃO

A pobreza é um fenômeno complexo (MÁRQUEZ; REFICCO; BERGER, 2010MÁRQUEZ, P; REFICCO, E; BERGER, G. Negocios inclusivos: iniciativas de mercado con los pobres de Iberoamérica. Harvard: Harvard University Press, 2010.; SEN; KLIKSBERG, 2010SEN, A; KLIKSBERG, B. As pessoas em primeiro lugar: a ética do desenvolvimento e os problemas do mundo globalizado. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2010.), com múltiplas dimensões e facetas, incluindo desigualdade, exclusão, precariedade e informalidade (CACCIAMALI, 2000CACCIAMALI, M. C. Globalização e Processo de informalidade. Economia e Sociedade, v. 9, n. 1, p. 57-78, 2000. ; KUYUMJIAN; MELLO; SANTOS, 2003KUYUMJIAN, M. M. M; MELLO, M. T. F. N; SANTOS, C. C. B. Vivências cotidianas do trabalho informal em Brasília. Ser Social, n. 9, p. 187-216, 2003.; PERES, 2015PERES, T. B. Informalidade: um conceito em busca de uma teoria. Revista da ABET, v. 14, n. 2, p. 270-289, 2015.). Estudo do Banco Mundial sobre informalidade (Perry et al., 2007PERRY, G. E; MALONEY, W. F; ARIAS, O. S; FAJNZYLBER, P; MASON, A. D; SAAVEDRA-CHANDUVI, J. Informality: exit and exclusion. Washington: The World Bank, 2007.), observa que, para os pobres e vulneráveis, o emprego seria o principal caminho para sair da pobreza. No entanto, em todo o mundo, mais de um bilhão de pessoas em idade ativa não estão participando da força de trabalho formal. Muitas dessas pessoas vão buscar, no autoemprego e na atividade produtiva informal, fonte alternativa de renda.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IGBE, 2003INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Brasil tem mais de 10 milhões de empresas na informalidade. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br/noticias-censo?busca=1&id=1&idnoticia=366&t=brasil-tem-mais-10-milhoes-empresas-informalidade&view=noticia. Acesso em: 08 ago. 2018.
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) existiriam no Brasil um total de 10.335 mil empreendimentos informais urbanos, não agrícolas. Só na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), alvo de interesse do presente artigo, existiria, na mesma data, 307.166 estabelecimentos, incluindo ampla maioria (88%) formada por trabalhadores por conta própria. Deste montante, 86.894 unidades seriam dedicadas ao comércio e à reparação, 55.175 às indústrias da transformação, 18.707 aos serviços de alojamento e alimentação, 33.562 a outros serviços pessoais, coletivos e sociais. Observa-se, no entanto, que tais dados subestimam a real dimensão do segmento informal, uma vez que excluem os trabalhadores domésticos e a chamada "população de rua", onde se insere grande contingente de camelôs e outros vendedores ambulantes.

De maneira geral, as atividades informais compreendem amplo, diversificado, complexo e heterogêneo conjunto de atividades, as mais diferentes. Como observado por Pochmann (2015)POCHMANN, Márcio. O emprego no desenvolvimento da nação. Campinas: Boitempo Editorial, 2015., elas representam muitas vezes uma porta para a absorção de desempregados sem alternativas no mercado formal de trabalho. Isto incluiria, por exemplo, trabalhadores autônomos, artesãos, camelôs, donos de pequenas oficinas, botecos, pequenos empregadores, entre outras atividades localizadas, sobretudo, nas periferias dos centros urbanos ou no interior, todas elas construídas à margem da lei e funcionando como importante alternativa de geração de trabalho e renda. Atualmente, na maioria dos países, sejam eles desenvolvidos ou subdesenvolvidos, prolifera vasta gama de atividades econômicas que, fugindo às obrigações tributárias, deixam de pertencer ao mercado formal (MAIA, 1999MAIA, C. E. S. Informalidade e ilegalidade: faces e disfarces na economia urbana. Boletim Goiano de Geografia, v. 19, n. 2, p. 99-117, 1999.; SCHERER-WARREN, 2003SCHERER-WARREN, I. A problemática da pobreza na construção de um movimento cidadão. Política & Sociedade, v. 2, n. 3, p. 71-94, 2003.).

O tema da informalidade, no segmento de baixa renda, vem sendo objeto de inúmeras pesquisas. Valarelli e Vale (1997)VALARELLI, M; VALE, G. M. V. Informalidade e cidadania: empreendimento informais no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IBASE, 1997., por exemplo, realizaram um dos primeiros estudos no Brasil. Os autores enfocaram pequenos estabelecimentos produtivos informais localizados nas favelas e periferias da cidade do Rio de Janeiro. Vários outros estudos abordam a temática da informalidade no Brasil ou na América Latina (OIT, 2010b; PAMPLONA; ROMEIRO, 2002PAMPLONA, J. B; ROMEIRO, M. C. Desvendando o setor informal: relatos de uma experiência brasileira. Revista da ABET, v. 2, n. 2, p. 14-36, 2002.; RAKOWSKI, 1994RAKOWSKI, C. A. Convergence and divergence in the informal sector debate: A focus on Latin America, 1984-92. World development, v. 22, n. 4, p. 501-516, 1994.; SANTOS; MACIEL; SATO, 2014SANTOS, J. B. F; MACIEL, R. H. M. O; SATO, L. Trabalhadores informais e a formação de redes socioprodutivas (RSP): considerações teórico-empíricas. Revista de Sociologia Contemporânea, v. 4, n. 2, p. 325-350, 2014. ; SCHERER-WARREN, 2003SCHERER-WARREN, I. A problemática da pobreza na construção de um movimento cidadão. Política & Sociedade, v. 2, n. 3, p. 71-94, 2003.; THEODORO, 2000THEODORO, M. As bases da política de apoio ao setor informal no Brasil. Brasília: Ipea, 2000.; VIANA; TEIXEIRA; FRANCA, 2013VIANA, M. O. S; TEIXEIRA, R. M; FRANCA, V. V. Perfil dos empreendedores individuais e características dos negócios formalizados pelo programa EI em Aracaju, Sergipe. Revista Pensamento Contemporâneo em Administração, v. 7, n. 2, p. 19-40, 2013.). O surgimento do interesse pelo tema da mortalidade de empresas no Brasil também remonta à década de 1990 (VALE; AGUIAR; ANDRADE, 1998VALE, G. M. V.; AGUIAR, M. A; ANDRADE, N. A. Fatores condicionantes da mortalidade de empresas: pesquisa piloto realizada em Minas Gerais. Brasília: Sebrae, 1998.). A partir daí surgiram várias pesquisas, algumas periódicas (SEBRAE, 2011), outras não (ALBUQUERQUE, 2013ALBUQUERQUE, A. F. Fatores de mortalidade de pequenas empresas: análise de empresas do setor varejista a partir do ciclo de vida organizacional. Tese de Doutorado em Engenharia, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2013.; DIAS; GONÇALVES; AUGUSTO, 2014DIAS, C. A; GONÇALVES, R. E. A; AUGUSTO, H. A. Contextualizando a relação natividades versus mortalidade de micro e pequenas empresas no Brasil. In: Fórum de Ensino, Pesquisa e Extensão da Unimontes. Anais... Montes Claros, 2014.; DUTRA; PREVIDELLI, 2010DUTRA, I. S; PREVIDELLI, J. J. Fatores condicionantes da mortalidade de empresas: um estudo dos empreendedores de micro e pequenas empresas paranaenses. Revista Capital Científico-Eletrônica, v. 3, n. 1, p. 29-50, 2010.; SANTOS et al., 2008SANTOS, E. M; CAZARINI, S; OLIVEIRA NETO, J. D; OLIVEIRA, S. R. M. Fatores de sucesso e insucesso do pequeno empreendedor: um olhar sobre seus tipos de personalidade e estilos de aprendizagem. In: EGEPE. Anais..., São Paulo, 2008.).

Em que pese a importância de cada um desses temas - informalidade e mortalidade -, a associação ou união dos dois não parece ter merecido, até o momento, a devida atenção da academia. Em pesquisas realizadas nos últimos 10 anos junto a algumas revistas da área (REAd, RAE, O&S, RAUSP, RAC) e, também, congressos (EnANPAD, Eneo, Egepe, Semead) de administração no Brasil, não se registrou a presença de investigações resultantes da união entre, por um lado, o tema sobrevivência e mortalidade de empresas, e, por outro, o tema da informalidade. Fora do país, é possível encontrar alguma literatura que aborda o tema, conquanto de maneira indireta. (PERRY et al.; 2007PERRY, G. E; MALONEY, W. F; ARIAS, O. S; FAJNZYLBER, P; MASON, A. D; SAAVEDRA-CHANDUVI, J. Informality: exit and exclusion. Washington: The World Bank, 2007.). Perry procurou analisar causas e razões para a informalidade e seu impacto para o crescimento econômico, tecendo apenas breves considerações sobre a associação entre os dois fenômenos, sem se preocupar em aprofundar a análise. O presente trabalho procura, a partir da associação entre as literaturas sobre "sobrevivência e mortalidade" e "informalidade", avançar na busca das causas de sobrevivência e mortalidade das atividades produtivas informais localizadas no segmento de baixa renda da RMBH.

Observa-se que, no estudo de pequenos empreendimentos informais, existem duas vertentes literárias. A primeira, que associa microempresas informais com setores desfavorecidos do mercado de trabalho, considera que os trabalhadores buscam o autoemprego devido à falta de opção de trabalho assalariado. Nesse caso, a informalidade é vista não como escolha, mas como opção extrema. A segunda, que vislumbra o segmento sob a ótica da dinâmica empresarial, considera que muitos empreendedores decidem permanecer, por conveniência, na informalidade. Para Perry et al. (2007PERRY, G. E; MALONEY, W. F; ARIAS, O. S; FAJNZYLBER, P; MASON, A. D; SAAVEDRA-CHANDUVI, J. Informality: exit and exclusion. Washington: The World Bank, 2007., p. 148), "é possível encontrar evidência para ambas as visões, o que sugere que o setor do trabalho por conta própria é bastante heterogêneo”. Para efeito deste trabalho, entende-se por atividade produtiva informal aquela não registrada, onde os indivíduos, excluídos do mercado formal de trabalho e movidos pela necessidade de sobrevivência, buscam seu sustento e o de seus familiares.

O artigo apresenta, na primeira parte, o referencial teórico, que permite, ao final, a concepção de um modelo de análise adaptado às características do segmento de interesse. Na segunda parte, apresentam-se a metodologia e os resultados gerais obtidos. Nas considerações finais são retomadas e aferidas, à luz dos resultados empíricos, as características elencadas no presente artigo como essenciais para a definição e distinção dos empreendimentos informais dos formais, e, a partir daí, aferida a pertinência do modelo analítico proposto. Observa-se, no segmento de interesse, a presença de uma dinâmica e uma lógica que são peculiares, mostrando o acerto da revisão de categorias e dos conceitos analíticos até então vigentes na literatura. Destaca-se, entre os resultados obtidos, que os fatores experiência prévia, dedicação e personalidade do indivíduo, além da sua noção de concorrência como fonte de estímulo e aprendizado, foram importantes para a sobrevivência. Novas pesquisas, que enfoquem esse rico e complexo tecido socioeconômico, deverão levar em consideração tais elementos.

1 BASE TEÓRICA E ELABORAÇÃO DO MODELO DE ANÁLISE

Dada à complexidade do tema, o debate em torno do termo informalidade demandou, ao longo do tempo, reelaborações conceituais (PERES, 2015PERES, T. B. Informalidade: um conceito em busca de uma teoria. Revista da ABET, v. 14, n. 2, p. 270-289, 2015.). Em meados dos anos 70, o termo começou a fazer parte do jargão oficial, sobretudo a partir da pesquisa empreendida pela equipe de Hart, publicada em 1973, onde foram estabelecidos alguns critérios iniciais para a definição do setor informal (PERES, 2015PERES, T. B. Informalidade: um conceito em busca de uma teoria. Revista da ABET, v. 14, n. 2, p. 270-289, 2015.). Esse debate inicial, no seio da OIT, vinculou-se à tradição marxista, vislumbrando os empreendimentos informais como pré-capitalistas. O termo passou a adquirir caráter descritivo, referindo-se, sobretudo, às unidades de produção com características técnicas rudimentares e à escassa regulamentação (OIT, 2010a). Ao longo dos anos, o debate ampliando-se ampliou o que acarretou numa maior complexidade (RAKOWSKI, 1994RAKOWSKI, C. A. Convergence and divergence in the informal sector debate: A focus on Latin America, 1984-92. World development, v. 22, n. 4, p. 501-516, 1994.). Diferentes termos passaram a ser cunhados, tais como: economia subterrânea, invisível, clandestina, oculta ou informal (PORTES; SCHAUFFLER, 1993PORTES, A; SCHAUFFLER, R. De la mano de obra excedente a la empresa dinámica: perspectivas de competencia del sector informal latinoamericano. Estudios Sociológicos, v. 11, n. 33, p. 817-850, 1993.).

Diferentes pesquisadores já realizaram revisões bibliográficas sobre o setor, muitas vezes associando-o à “teoria da marginalidade” (CUNHA, 2006). Em linhas gerais, o que se colocava era sempre a provável relação entre as atividades consideradas tipicamente não capitalistas e o restante da economia capitalista, o que pressupunha uma evolução gradual e progressiva em direção à urbanização/industrialização/assalariamento/pleno emprego. Esse seria o destino, cedo ou tarde, das “outras” economias.

Em pesquisa patrocinada pelo Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (UNHabitar), os autores Pampona e Romeiro (2002)PAMPLONA, J. B; ROMEIRO, M. C. Desvendando o setor informal: relatos de uma experiência brasileira. Revista da ABET, v. 2, n. 2, p. 14-36, 2002. buscaram analisar o segmento informal urbano na região do ABC Paulista, à luz das principais alterações econômicas lá ocorridas. Observaram que durante a década de 1990 "foram eliminados 120 mil postos de trabalho na indústria [...], reduziu-se a qualidade do emprego e explodiu o desemprego. Nesse período 100 mil pessoas foram incorporadas ao setor informal da região" (PAMPONA; ROMEIRO, 2002PAMPLONA, J. B; ROMEIRO, M. C. Desvendando o setor informal: relatos de uma experiência brasileira. Revista da ABET, v. 2, n. 2, p. 14-36, 2002., p. 15). Nesse contexto, as unidades produtivas informais poderiam ser caracterizadas como de pequena escala, em geral unipessoais, com limitada divisão de trabalho, em geral não assalariado, precária relação capital/trabalho e baixo nível tecnológico. A prioridade de seus agentes seria a criação de emprego e a geração de renda para os envolvidos.

Segundo De Soto (1987, p. 46)DE SOTO, H. Economia subterrânea: uma análise da realidade peruana. Rio de Janeiro: Globo, 1987., a informalidade configura-se como uma “zona de penumbra que tem extensa fronteira com o mundo legal, onde os indivíduos se refugiam quando os tributos para cumprir as leis excedem os seus benefícios”. Para Cacciamali (2000CACCIAMALI, M. C. Globalização e Processo de informalidade. Economia e Sociedade, v. 9, n. 1, p. 57-78, 2000. , p. 158), o termo informal refere-se menos aos critérios convencionados adotados pela OIT (2010a)ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Economia Informal: aspectos conceituais e teóricos. OIT, 2010a. Disponível em: http://www.ilo.org/brasilia/publicacoes/WCMS_227055/lang--pt/index.htm. Acesso em: 7 ago. 2018.
http://www.ilo.org/brasilia/publicacoes/...
, relacionando-se mais às "formas de organização de unidades produtivas operadas por empresas familiares ou associações entre outros indivíduos”. Estas “não se baseiam no trabalho assalariado, não possuem um registro contábil padrão, além de não se constituírem como entidades legais separadas de seus proprietários”.

À luz das grandes transformações que tiveram lugar, a partir dos anos 1990, nos sistemas produtivos a nível global, resultando em flexibilização e precarização das relações de trabalho e ampliação do desemprego, a concepção sobre informalidade, dentro da própria OIT, evoluiu para uma compreensão do fenômeno como resultante de um desenvolvimento capitalista desigual, que resultaria na complementariedade entre o formal e o informal (LIMA, 2013LIMA, J. C. Dicionário temático desenvolvimento e questão social: 81 problemáticas contemporâneas. São Paulo: Annablume, 2013.). O novo conceito passa a associar o setor informal, em todas suas variedades, a "economia informal", essa composta por empresas, ocupações e trabalhadores envolvidos, sejam esses proprietários ou empregados não assalariados, desprovidos de estabilidade e da proteção dos direitos trabalhistas.

O informal passa a ser visto como um espaço econômico particular (CACCIAMALI, 2000CACCIAMALI, M. C. Globalização e Processo de informalidade. Economia e Sociedade, v. 9, n. 1, p. 57-78, 2000. ) de compra e venda de força de trabalho, mas sem vínculo com a seguridade social. Seria um espaço dinâmico, em permanente transformação, dependendo da própria dinâmica capitalista. Muitos autores, no entanto, associam o fenômeno da informalidade não apenas com mudanças institucionais e produtivas em nível do sistema global, mas também com problemas históricos e estruturais de uma economia em desenvolvimento. No caso brasileiro, destaca-se a relativa estagnação econômica dos últimos anos, que teria levado à informalidade parte substancial da mão de obra (SANTOS; KREIN; CALIXTRE, 2012SANTOS, A. L; KREIN, J. D; CALIXTRE, A. B (Orgs.). Micro e pequenas empresas: mercado de trabalho e implicação para o desenvolvimento. Rio de Janeiro: Ipea, 2012.).

Ao analisar as práticas do segmento informal na cidade de Brasília, Kuyumjian, Mello e Santos (2003)KUYUMJIAN, M. M. M; MELLO, M. T. F. N; SANTOS, C. C. B. Vivências cotidianas do trabalho informal em Brasília. Ser Social, n. 9, p. 187-216, 2003. enfocam algumas dimensões básicas, incluindo rotina, representação, renda, estado, papel das mulheres e solidariedade. Sobre a rotina, mostram os autores como o cotidiano é, sempre, permeado pela insegurança provocada pela contingência do mercado e pelas incertezas sobre o futuro. Sobre renda, observa como ampla maioria dos indivíduos possui na informalidade única fonte de renda. Sobre solidariedade, esta se manifesta de diferentes maneiras, a exemplo da cooperação familiar e, no caso dos feirantes, no apoio de colegas. Sobre representação, esta serviria para distinguir o segmento formal - onde impera o profissional - do informal, onde persiste a noção, por exemplo, de “biscateiro” e de “quebra-galho”. Neste segmento, a informalidade possui a capacidade de alterar o eixo da necessidade devido às circunstâncias, introduzindo a urgência e o imediatismo de decisões e ajustamentos.

De fato, a premência da necessidade e a ausência de qualificação ou de maior profissionalismo de muitos dos indivíduos que atuam nesse mercado vêm atraindo a atenção de pesquisadores (KREIN; CALIXTRE, 2012; SANTOS, 2006SANTOS, A. L. Trabalho em pequenos negócios no Brasil: impactos da crise do final do século XX. Tese de doutorado em Economia, Universidade Estadual de Campinas, 2006.; SANTOS). Para esses autores, a reduzida qualificação profissional, a baixa instrução formal e o pouco capital acumulado (SANTOS; REIN; CALIXTRE, 2012SANTOS, A. L; KREIN, J. D; CALIXTRE, A. B (Orgs.). Micro e pequenas empresas: mercado de trabalho e implicação para o desenvolvimento. Rio de Janeiro: Ipea, 2012.) tornam tais indivíduos muito vulneráveis. Como observado por Montenegro (2013)MONTENEGRO, M. R. Reflexões para uma teoria da localização da economia popular nas metrópoles brasileiras. Boletim Campineiro de Geografia, v. 3, n. 1, p. 37-54, 2013., os empreendimentos informais concentram-se, em sua maioria, em parcelas desvalorizadas do tecido urbano. Além disso, possuem baixo nível de capitalização e trabalham com uma escala mínima de mercado, suficiente apenas à perpetuação de sua própria existência. Para Márquez, Reficco e Berger (2010)MÁRQUEZ, P; REFICCO, E; BERGER, G. Negocios inclusivos: iniciativas de mercado con los pobres de Iberoamérica. Harvard: Harvard University Press, 2010., as redes locais, formadas por familiares, amigos, vizinhos, entre outros, dariam a sustentação para empreendimentos no segmento de baixa renda, onde imperam as atividades informais. Observa o autor como a participação em determinadas redes de sociabilidade desdobra-se, muitas vezes, na prestação de pequenos serviços entre os próprios membros das redes.

A partir da literatura até aqui referida, algumas características inerentes ao segmento informal de nosso interesse podem ser elencadas: são atividades exercidas fora do abrigo da lei e não registradas (DE SOTO, 1987DE SOTO, H. Economia subterrânea: uma análise da realidade peruana. Rio de Janeiro: Globo, 1987.); tamanho diminuto do empreendimento, em geral unipessoal; ausência de separação propriedade/empreendimento ou capital e trabalho (CACCIOMALI, 2000CACCIAMALI, M. C. Globalização e Processo de informalidade. Economia e Sociedade, v. 9, n. 1, p. 57-78, 2000. ); ausência de trabalho assalariado; de seguridade social; de registros contábeis; (CACCIOMALI, 2000CACCIAMALI, M. C. Globalização e Processo de informalidade. Economia e Sociedade, v. 9, n. 1, p. 57-78, 2000. ); instabilidade; ausência de estabilidade e de direitos trabalhistas (OIT, 2010a); recursos limitados; ênfase na geração de emprego e renda (PAMPLONA; ROMEIRO, 2002PAMPLONA, J. B; ROMEIRO, M. C. Desvendando o setor informal: relatos de uma experiência brasileira. Revista da ABET, v. 2, n. 2, p. 14-36, 2002.); crescimento limitado por circunstâncias ambientais/locais (MARQUEZ et al., 2010MÁRQUEZ, P; REFICCO, E; BERGER, G. Negocios inclusivos: iniciativas de mercado con los pobres de Iberoamérica. Harvard: Harvard University Press, 2010.); baixa qualificação formal; falta de alternativa e premência da necessidade (SANTOS; REIN; CALIXTRE, 2012SANTOS, A. L; KREIN, J. D; CALIXTRE, A. B (Orgs.). Micro e pequenas empresas: mercado de trabalho e implicação para o desenvolvimento. Rio de Janeiro: Ipea, 2012.). Em acréscimo, podemos citar o caráter refratário dessas unidades a mecanismos convencionais de políticas públicas.

Em contraposição a essas características, pode-se apresentar o conjunto de características que distinguiriam os empreendimentos formais, incluindo: presença de registros nos órgãos competentes (Junta comercial, e-social empresa; etc.); presença de trabalho assalariado regular e estável; especialização de trabalho; preocupação com o lucro; registros contábeis; preocupação com a lucratividade do negócio e com o crescimento; possibilidade de expansão para outros mercados.

Alguns autores reconhecem a existência de uma zona de transição entre os segmentos informal e formal (CUNHA, 2016; DE SOTO, 1982DE SOTO, H. Economia subterrânea: uma análise da realidade peruana. Rio de Janeiro: Globo, 1987.; PAMPLONA; ROMEIRO, 2002PAMPLONA, J. B; ROMEIRO, M. C. Desvendando o setor informal: relatos de uma experiência brasileira. Revista da ABET, v. 2, n. 2, p. 14-36, 2002.; VARELLI; VALE, 1997VALARELLI, M; VALE, G. M. V. Informalidade e cidadania: empreendimento informais no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IBASE, 1997.). No interior dessa zona movediça e fluida situar-se-iam, por exemplo, algumas microempresas. Observam Valarelli e Vale (1997)VALARELLI, M; VALE, G. M. V. Informalidade e cidadania: empreendimento informais no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IBASE, 1997. que, em contextos desfavoráveis, microempresas podem passar à informalidade. Da mesma maneira, em contextos muito favoráveis, pequenas unidades produtivas informais, inclusive as de baixa renda, podem se formalizar, transformando-se em microempresas ativas no mercado. Tal é o defendido por Perry et al. (2007)PERRY, G. E; MALONEY, W. F; ARIAS, O. S; FAJNZYLBER, P; MASON, A. D; SAAVEDRA-CHANDUVI, J. Informality: exit and exclusion. Washington: The World Bank, 2007., que salientam que atividades produtivas muito pequenas, quando conseguem se desenvolver, acabam por se formalizar. Para De Soto (1987), não faltaria interesse na formalização. Vendedores de rua, por exemplo, teriam todo interesse em se formalizar para poder, inclusive, ter acesso à propriedade.

Embora não exista uma literatura específica sobre mortalidade no segmento informal, observa-se que, no segmento formal, ela é ampla e diversificada. Para o presente trabalho, foram analisados 26 artigos que continham, nos títulos ou nas palavras-chave, o termo mortalidade e que, ao mesmo tempo, abordaram os fatores/motivos que levam à mortalidade e sobrevivência empresarial (ALBUQUERQUE, 2013ALBUQUERQUE, A. F. Fatores de mortalidade de pequenas empresas: análise de empresas do setor varejista a partir do ciclo de vida organizacional. Tese de Doutorado em Engenharia, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2013.; DIAS; GONÇALVES; AUGUSTO, 2014DIAS, C. A; GONÇALVES, R. E. A; AUGUSTO, H. A. Contextualizando a relação natividades versus mortalidade de micro e pequenas empresas no Brasil. In: Fórum de Ensino, Pesquisa e Extensão da Unimontes. Anais... Montes Claros, 2014.; DUTRA; PREVIDELLI, 2005DUTRA, I. S; PREVIDELLI, J. J. Fatores condicionantes da mortalidade de empresas: um estudo dos empreendedores de micro e pequenas empresas paranaenses. Revista Capital Científico-Eletrônica, v. 3, n. 1, p. 29-50, 2010.; ECKERT et al., 2013ECKERT, A; MECCA, M. S; BIASIO, R; MACARI, T. D. Gestão de pequenas empresas: identificação e análise dos fatores de mortalidade das empresas em um município da Serra Gaúcha. Revista Escola de Negócios, v. 1, n. 1, p. 1-16, 2013.; SANTOS et al., 2008SANTOS, E. M; CAZARINI, S; OLIVEIRA NETO, J. D; OLIVEIRA, S. R. M. Fatores de sucesso e insucesso do pequeno empreendedor: um olhar sobre seus tipos de personalidade e estilos de aprendizagem. In: EGEPE. Anais..., São Paulo, 2008., entre outros). A pesquisa foi concluída quando se atingiu o estágio de saturação teórica, onde os artigos adicionais passaram a não acrescentar novidade à reflexão. Os trabalhos selecionados permitiram identificar um conjunto extenso de motivos/fatores intervenientes ao processo de sobrevivência ou mortalidade de empresas. A partir daí, buscou-se agrupar e classificar as variáveis em três grandes categorias (Quadro 1). Para tanto, utilizou-se, em primeiro momento, o modelo proposto por Ferreira et al., (2012)FERREIRA, L. F. F. et al., Análise quantitativa sobre a mortalidade precoce de micro e pequenas empresas da cidade de São Paulo. Gestão e Produção, v. 19, n. 4, p. 811-823, 2012., onde os fatores de sobrevivência e mortalidade são agrupados em três grandes conjuntos, a saber: a) inerentes ao empreendedor; b) relativos ao negócio; e c) relacionados ao ambiente externo do negócio.

Quadro 1
Classificação dos fatores de sobrevivência e/ou de mortalidade segundo as categorias da literatura corrente

Como já observado, não foi encontrada nenhuma pesquisa sobre os fatores de sobrevivência e mortalidade de unidades produtivas informais. Breve menção ao tema foi feito no livro editado por Perry et al. (2007)PERRY, G. E; MALONEY, W. F; ARIAS, O. S; FAJNZYLBER, P; MASON, A. D; SAAVEDRA-CHANDUVI, J. Informality: exit and exclusion. Washington: The World Bank, 2007. e publicado pelo World Bank, onde se procura analisar as implicações da dinâmica das microempresas - a maioria informal - sobre a mortalidade, observando que quando as unidades produtivas são muito jovens, muitas delas tendem a ser muito pequenas. No Brasil, estudo conduzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE - (2003)INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Brasil tem mais de 10 milhões de empresas na informalidade. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br/noticias-censo?busca=1&id=1&idnoticia=366&t=brasil-tem-mais-10-milhoes-empresas-informalidade&view=noticia. Acesso em: 08 ago. 2018.
https://censo2010.ibge.gov.br/noticias-c...
sobre a economia informal urbana apresenta alguns elementos que permitiriam reflexões nesse campo, embora o foco do trabalho não tenha sido, exatamente, a análise da mortalidade. No caso da RMBH, 77% das empresas sobreviveram no período pesquisado, enquanto 11% sobreviveram entre 7-11 meses, 6,2% entre 4-6 meses, e 5,2% até 3 meses. A partir dessa pesquisa, é possível identificar taxas de mortalidade, mas não os fatores associados ao fenômeno.

Pode-se afirmar que, no geral, o conjunto dos empreendimentos informais possui características bastante diferenciadas e, consequentemente, não é passível de ser abordado ou analisado da mesma maneira que o formal. Levando-se em consideração, por um lado, uma avaliação crítica do conjunto de peculiaridades do segmento informal, explicitadas no presente trabalho (atividades exercitas fora do abrigo da lei e não registradas; tamanho diminuto do empreendimento, em geral unipessoal; ausência de separação propriedade/empreendimento ou capital e trabalho; ausência de trabalho assalariado; de seguridade social; de registros contábeis; instabilidade; ausência de estabilidade e de direitos trabalhistas; recursos limitados; maior preocupação com a geração de emprego e renda; crescimento limitado por circunstâncias ambientais/ locais; baixa qualificação formal; falta de alternativa e premência da necessidade), e, por outro, uma avaliação também crítica de categorias/fatores de sobrevivência e mortalidade até então relatados na literatura, foi possível elaborar um modelo particular, especialmente concebido para análise de unidades informais.

Para isso, as categorias propostas por Ferreira et al. (2012)FERREIRA, L. F. F. et al., Análise quantitativa sobre a mortalidade precoce de micro e pequenas empresas da cidade de São Paulo. Gestão e Produção, v. 19, n. 4, p. 811-823, 2012. - Empreendedor, Negócio e Ambiente Externo -, adequadas à análise de empreendimentos formais, foram ajustadas, gerando três novas categorias a denominar: i.) indivíduo (ou empreendedor); ii.) atividade produtiva (ou negócio), e; iii.) ambiente socioeconômico (ou ambiente externo). No que diz respeito aos fatores, alguns foram revistos, outros eliminados, a exemplo de “problemas particulares com os sócios”, “escolha de um bom administrador” ou, então, “presença de mão de obra qualificada” - incompatíveis com as características elencadas do segmento informal (Quadro 2).

Quadro 2
Categorias de análise propostas e respectivos fatores associados

2 METODOLOGIA E RESULTADOS OBTIDOS

Trata-se de uma pesquisa de natureza exploratória (BAUER; GASKELL; ALLUM, 2002BAUER, M. W; GASKELL, G. (Orgs.) Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Editora Vozes, 2002.; BONOMA, 1985BONOMA, T. V. Case research in marketing: opportunities, problems, and a process. Journal of Marketing Research, v. 22, n. 2, p. 199-208, 1985.; CRESWELL, 2010CRESWELL, J. W. (Ed.) Projeto de pesquisa métodos qualitativo, quantitativo e misto. Porto Alegre: Artmed, 2010. ; BAUER; GASKELL, 2002BAUER, M. W; GASKELL, G; ALLUM, N. C. Qualidade, quantidade e interesses do conhecimento. In: BAUER, M. W; GASKELL, G. (Orgs.) Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Editora Vozes, 2002, p. 17-36.; GODOY, 1995aGODOY, A. S. A pesquisa qualitativa e sua utilização em administração de empresas. Revista de Administração de Empresas, v. 35, n. 4, p. 65-71, 1995a., 1995bGODOY, A. S. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. Revista de Administração de Empresas, v. 35, n. 2, p. 57-63, 1995b., 1995cGODOY, A. S. A Pesquisa Qualitativa: tipos fundamentais. Revista de Administração de Empresas, v. 35, n. 3, p. 20-29, 1995c., 2005GODOY, A. S. Refletindo sobre critérios de qualidade da pesquisa qualitativa. Revista Eletrônica de Gestão Organizacional, v. 3, n. 2, p. 80-89, 2005.; MINAYO; SOUZA; SANTOS, 2005MINAYO, M. C. S; ASSIS, S. G; SOUZA, E. R. Avaliação por triangulação de métodos: abordagem de programas sociais. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2005. ), lastreada em entrevistas em profundidade, realizadas junto a quatro diferentes tipos de empreendimentos informais localizados na Região Metropolitana de Belo Horizonte, sendo: i.) primeiro no setor de comércio (revenda de produtos); ii.) segundo no setor de transformação (produção e venda de chinelos decorativos); iii.) terceiro em serviços de alimentação (produção de pães, roscas e bolos), e; iv.) quarto em serviços pessoais (Feng Shui). Por ocasião da coleta de dados, dois deles encontravam-se ativos há mais de dois anos; e dois extintos, todos vinculadas ao Programa de “Apoio ao Empreendedorismo”, da Rede Cidadã. A Rede Cidadã é uma Organização Social, de âmbito Nacional, sem fins lucrativos, cuja missão é “promover a cidadania, constituindo redes de voluntários, empresas, sociedade civil e governo, gerando maior valor social” (REDE CIDADÃ, 2015). Observa-se que a Rede Cidadã forneceu, inicialmente, relação de cerca de quarenta pessoas por ela atendidas (todas mulheres). Temendo discutir o assunto da informalidade, dado ao caráter ilegal da qual se reveste tais unidades, a maioria recusou-se a participar das entrevistas. As identidades dos empreendedores foram, por motivos éticos, preservadas. Visando manter sua privacidade, a nomenclatura adotada foi “A” e “B” para ativas, “C” e “D” para extintas.

A análise, considerada uma das etapas mais difíceis da pesquisa, compreendeu no “exame, na categorização [e] na tabulação das evidências [...] para tirar conclusões baseadas empiricamente” (YIN, 2010YIN, R. K. Estudo de Caso: Planejamento e Métodos. Porto Alegre: Artmed, 2010., p. 154). À análise qualitativa, foi empregada a estratégia da “generalização analítica” (YIN, 2010YIN, R. K. Estudo de Caso: Planejamento e Métodos. Porto Alegre: Artmed, 2010.). A categorização dos dados se deu em três etapas distintas. Na primeira, a busca dos fatores de sobrevivência e mortalidade resultou em total de 75 (setenta e cinco) categorias. Cada uma delas se constituiu de trechos selecionados das falas dos entrevistados, associada, ao mesmo tempo, a categorias identificadas na literatura acerca das temáticas de interesse. A segunda, destinada ao refinamento da primeira, por sua vez, resultou na constituição de 19 (dezenove) categorias intermediárias. Finalmente, na terceira foi realizada a classificação e a agregação dos dados, escolhendo as categorias teóricas ou empíricas responsáveis pela especificação do tema. As categoriais iniciais e intermediárias apresentadas anteriormente ampararam a construção das categorias finais, sendo as mesmas constituídas por três grandes grupos denominados: “Indivíduo”, “Atividades produtivas informais” e “Ambiente Socioeconômico”. Estes grupos permitiram avaliar as respectivas experiências e práticas cotidianas associadas a dimensões do fenômeno de interesse.

A primeira respondente “A” possui 56 anos de idade, é divorciada e mora com uma filha de 37 anos, sua ajudante, em um bairro da periferia de Belo Horizonte/MG. Com escolaridade limitada (4ª série do Ensino Fundamental), demonstra possuir garra, força de vontade e capacidade de trabalho. Em sua atividade, a mesma produz pães, roscas, biscoitos, salgados e marmitex para venda, garantindo o sustento da família. De origem modesta, foi acostumada a trabalhar nos serviços domésticos desde a infância (8 anos de idade), momento em que relata ter aprendido a cozinhar apenas observando sua mãe nos afazeres da cozinha. Trabalhou em várias casas de família, inclusive com carteira assinada, onde desenvolveu algumas de suas habilidades e adquiriu alguns contatos.

A partir da parceria com a Rede Cidadã, ela pode participar de diferentes cursos, a exemplo do de informática, além de assistir a palestras sobre temas diversos. Seu linguajar reflete seu senso de observação, e, também, suas idiossincrasias. Para ela, o conceito de lucro apresenta-se como conceito de sobra, "o lucro é a sobra". Nesse mesmo relato, observa-se como consegue sobreviver sem crédito, compartilhando custos com eventuais parceiros. Seus contatos, como amigas, antigas patroas e profissionais da Rede Cidadã foram considerados muito importantes para a sobrevivência de seu negócio.

Como não possui endereço fixo para a comercialização dos produtos, “A” realiza a produção em sua residência, comercializando-os em feiras e eventos organizados por diversas instituições parceiras da Rede de Economia Solidária de Belo Horizonte. Estes são os pontos fortes da sua atividade. Como pontos de fragilidade, ela destaca a dificuldade de acesso ao crédito. Por fim, afirma que o sonho é crescer e poder contratar mão de obra para lhe ajudar.

Com 47 anos de idade e ensinos médio e técnico em decoração, a segunda respondente, “B”, é divorciada e possui dois filhos, com idades de 29 e 31 anos. O interesse pela decoração é antigo, mas a atividade não começou como fonte de renda. Quando casada, a decoração era tida como satisfação pessoal, utilizada apenas em sua casa. Começou a atividade de maneira irregular, pois a vida pessoal começava a ficar desorganizada. Após o divórcio, os filhos foram morar com o pai. Ela perdeu grande parte da renda, associada a aluguel. Com isso, não pode manter as despesas. Repentinamente, encontrou-se “sem teto, sem nada, sem rumo”. Cansada de passar dificuldades, inclusive fome, algumas vezes, decidiu investir em seu “dom”. Criou, assim, em 2007, sua atividade produtiva de Feng Shui.

Foi nesta ocasião que surgiu a oportunidade de trabalhar de maneira formal. De acordo com “B”, de certa forma, uma empresa a obrigou a ser um negócio formal devido à necessidade de possuir CNPJ, contador, nota fiscal, etc. Após idas e vindas, oscilando nos negócios e no nível pessoal, fechou sua empresa e começou a trabalhar como massagista, de maneira informal. Em 2009, voltou a trabalhar no ramo, novamente de maneira informal. Passou a se dedicar a ele, de corpo e alma. O negócio prosperou. Chegou a ter uma secretária e uma assistente, voluntária. Criou seu próprio blog e sua página no Facebook, onde divulga seu trabalho, atendendo em residências. Entre seus parceiros (aliados) nessa empreitada, cita a Rede Cidadã e a ABD (Associação Brasileira de Decoração).

A terceira respondente, “C”, possui 47 anos de idade e ensino médio completo, é viúva e mora com seus cinco filhos, com idades entre 13 e 20 anos. Após o casamento, com a chegada dos filhos, ficou difícil sair de sua casa e ir trabalhar fora, onde atuava como balconista em uma farmácia. Seu período como vendedora deu-lhe, segundo ela, segurança e experiência para lidar com o público, além de conhecer procedimentos que a auxiliaram no momento em que começou a lidar com a venda de seus próprios produtos, chinelos decorativos.

Seu primeiro contato com o ramo de atividade era apenas uma complementação de renda. No entanto, com a morte do esposo, a atividade tornou-se importante fonte de renda, ao lado da pensão do marido. A produção era realizada em sua residência e contava com a parceria de uma amiga. Chegavam a vender, em média, 100 pares de chinelos/mês. O ponto de venda era uma barraca em um espaço cedido pela Prefeitura. Sua clientela era formada, em grande parte, por uma rede direta e indireta de conhecidos e amigos, muitos deles do próprio bairro. Uma vez encerradas as atividades da feira pela Prefeitura, “C” relata que sair de "porta em porta" para vender seu produto seria muito difícil, encerrando assim suas atividades.

Com 32 anos de idade, a quarta respondente, “D”, é solteira e mora com os pais. Com curso superior completo em enfermagem, trabalha, atualmente, à noite, como enfermeira em um hospital público, e, durante o dia, em uma empresa de telefonia. A renda não era suficiente para sua sobrevivência. Buscou, por isso, forma de complementá-la. Assim, em 2014, entrou para o ramo de cosméticos. Passou a atuar como revendedora dos produtos da empresa Mary Kay, vendendo-os aos contatos de trabalho, aos vizinhos e aos clientes e funcionários de clínicas particulares, acessados através de seus contatos.

Esta escolha se deu pelo fato de trabalhar com questões de beleza, tanto como negócio quanto para uso próprio, e, também, por influência da mãe, que durante determinado período fora revendedora. Tal atividade sobreviveu, de maneira sistemática, até meados de 2016. Depois disso, foi sendo aos poucos desativada, apesar de algumas pessoas da sua rede de amigos ainda continuarem recorrendo a ela para aquisição de produtos.

Para “D”, sua falta de organização foi um dos principais motivos que a levou a dívidas crescentes e à consequente desmotivação. Ela reconhece que não “corria atrás” e não se dedicava o suficiente para o sucesso da atividade. Ela pondera: “eu acho que é assim, como toda empresa, se você não dedica, você não consegue. Eu tinha que vender, eu tinha que divulgar, e eu não o fazia.” Segundo seu relato, a estabilidade financeira (e pessoal) estava ligada à possibilidade de realizar concurso público, sonho que conseguiu realizar há cinco anos, quando pode ingressar como enfermeira em hospital público. A atividade no ramo de cosméticos não era, portanto, sua prioridade.

O Quadro 3, ao final desse item, apresenta, de maneira resumida, evidências empíricas associadas a cada um dos fatores elencados no modelo teórico. Alguns destes fatores merecem análise minuciosa. Entre eles situam-se, dentro da categoria indivíduo, o fator personalidade; dentro da categoria atividade produtiva, os fatores planejamento e gestão; dentro da categoria ambiente socioeconômico, os fatores burocracia (onde se insere a temática da formalização); competição; clientes e crise econômica.

Na dimensão indivíduo, observa-se que esses, no caso das ativas, demonstraram comprometimento com suas respectivas atividades. Tal situação talvez se explique devido ao fato de as duas empreendedoras ativas dependerem, exclusivamente, de suas respectivas atividades para sua sobrevivência, diferentemente daquelas extintas, onde a atividade era vista como possível forma de complementação de renda. Na dimensão atividade produtiva, observa-se, nos casos das ativas, um esforço mais sistemático de usar, ainda que de maneira incipiente, algumas ferramentas de gestão; ou, mesmo, tentativa de recorrer, ainda que de forma amadora, ao planejamento.

Na dimensão ambiente socioeconômico, por sua vez, o termo burocracia associa-se, na visão das entrevistadas, diretamente ao tema da formalização. Embora todas demonstrem sentir certa rejeição, a respondente “A” entende como “mal necessário” para seu crescimento, enquanto a respondente “B” precisou se formalizar quando teve a oportunidade de realizar um trabalho melhor e em maior volume. Já as respondentes cujas atividades, já extintas, eram vistas como “renda complementar”, foram indiferentes quando abordadas sobre este assunto.

A concorrência também foi vista de forma divergente entre os grupos. No grupo das ativas, a concorrência foi abordada de forma respeitosa e colaborativa. Para as respondentes, são os concorrentes os maiores contribuintes para o aperfeiçoamento e o monitoramento da aceitação e qualidade dos seus produtos ou serviços. Ao contrário, para as respondentes cujas empresas foram extintas, a concorrência foi abordada com certo descaso. Para elas, além de não enxergarem a existência dos concorrentes, caso os mesmos existissem, não eram passíveis de preocupação, considerando o diferencial e a qualidade dos seus produtos. Ressalta-se aqui, possível miopia ou desconhecimento destas empreendedoras do mercado no qual estavam inseridas.

Alinhada à temática da concorrência, abordamos a satisfação dos clientes, pois, naturalmente, cliente insatisfeito tende a migrar para a concorrência mais próxima. Nesse ponto, o grupo das respondentes ativas demonstrou grandes preocupações com esse assunto. A respondente “A” relatou a realização de entrevistas sistematizadas em parceria com ONGs que, além de formatarem as entrevistas para os clientes, aplicam e compilam os resultados, encaminhando-os à empreendedora. Da mesma forma, a respondente “B” realiza entrevistas pontuais junto aos clientes, além de acompanhar de forma rotineira os comentários postados nas redes sociais e em seu blog, criados com esse intuito. Ao contrário, as respondentes das atividades extintas não possuíam esse mesmo hábito. A “C” não investigava tal satisfação, tendo como “termômetro” apenas se o cliente voltava a procurar por seus produtos. Já a “D” afirmou apenas que confiava na qualidade dos produtos Mary Kay, e acreditava na satisfação dos clientes devido à “fama” da empresa.

Por fim, sobre os efeitos da crise econômica e da situação política na qual o país se encontra, a única que alega estar sofrendo os impactos foi a respondente “A”. Assim, supõe-se que os resultados foram mascarados por situações específicas percebidas durante as entrevistas. No caso da respondente “A”, sua resposta vai ao encontro do cenário vivenciado por ela nas feiras. Segundo ela, o “dinheiro sumiu” e as pessoas diminuíram significativamente as compras. No caso da “B”, o fato de afirmar que a crise não a afetou poderia estar sendo tamponado pelo momento pessoal em que vive. Isto é, ela mesma diminuiu a quantidade de atendimentos devido a grave doença da irmã, o que a impede de enxergar se a clientela se afastou por causa da crise. Quanto às respondentes “C” e “D”, pode-se perceber que a extinção das empresas se deu um pouco de forma simultânea ao aparecimento da crise, o que pode ter ocultado seus efeitos, visto que a atividade se encerraria independentemente da situação econômica do país.

Quadro 3
Evidências empíricas segundo as categorias e os fatores elencados no modelo teórico

A partir destes resultados, foi possível inferir que algumas considerações pautadas na literatura acerca dos negócios formais também podem ser observadas no contexto da informalidade. Entretanto, outras, vistas como verdadeiras na formalidade, demonstraram não se aplicar ao contexto da informalidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho não apenas avançou na explicitação e posterior verificação empírica das características inerentes ao segmento informal como, também, pode testar a pertinência do conjunto de categorias e fatores de mortalidade especificados no modelo analítico, elencado a partir dessas mesmas características. Retomando-se as características inerentes aos empreendimentos informais, como explicitadas previamente (atividades exercitas fora do abrigo da lei e não registradas; tamanho diminuto do empreendimento, em geral unipessoal; ausência de separação propriedade/empreendimento ou capital/trabalho; instabilidade; ausência de trabalho assalariado; de seguridade social; de registros contábeis; limitação de recursos; preocupação com geração de emprego e renda; crescimento limitado por circunstâncias ambientais/ locais; alta de alternativa e premência da necessidade; baixa qualificação formal), observa-se que os quatro empreendimentos pesquisados podem se ajustar perfeitamente. São eles dotados das mesmas peculiaridades, a exceção da última elencada - baixa qualificação -, não atendida por uma das unidades pesquisadas. Trata-se do caso da empreendedora que possui curso superior de enfermaria e o empreendimento informal funciona como alternativa de complementação de salário em um hospital, o que mostra uma das faces do fenômeno da precarização do mercado de trabalho, com baixa remuneração para certas categorias profissionais.

As três categorias de análises sobre mortalidade e sobrevivência (indivíduo, atividade produtiva e ambiente socioeconômico) e seus respectivos fatores, previamente elencados no modelo teórico, foram testados empiricamente, apresentando resultados positivos. Observa-se, porém, que embora essas três categorias de fatores pareçam, à primeira vista, distintas, na prática, elas podem se encontrar bastante imbricadas umas às outras. O Sebrae (2011) corrobora esta afirmação ao dizer que as empresas encerram suas atividades não apenas devido a única causa ou fator, mas, sim, por uma sucessão de falhas ou problemas que, por não serem resolvidos no tempo apropriado, levam à paralisação de suas atividades. Ou seja, existe grande interação entre certos elementos associados às características do indivíduo, à atividade produtiva e ao meio socioeconômico onde esse se insere. Observa-se que, no caso de unidades produtivas muito pequenas, como as aqui analisadas, o dono pode se confundir com o empreendimento; o local onde mora pode ser, também, o local onde trabalha e gera seu sustento.

É assim, por exemplo, que a respondente A (e outras) faz de sua casa o local de produção; usa de um bem de consumo pessoal (por exemplo, seu fogão ou geladeira) como bem de produção ou capital; teve em sua filha uma auxiliar; recorre a vizinhos ou conhecidos como parceiros na divisão dos riscos e benefícios de certas iniciativas produtivas; ou, então, quando C ou D buscavam seus colegas e conhecidos para acessar clientes, etc. (KUYUMJIAN et al., 2003KUYUMJIAN, M. M. M; MELLO, M. T. F. N; SANTOS, C. C. B. Vivências cotidianas do trabalho informal em Brasília. Ser Social, n. 9, p. 187-216, 2003.). Prevalece, nesse segmento, uma mistura intensa entre dimensões de trabalho/renda, vida pessoal e contexto social, e, também, entre trabalho e capital ou entre vida social e mercado, etc., expondo certas dimensões de atividades pré-capitalistas.

Os resultados gerais desta pesquisa permitiram elucidar algumas dimensões relevantes do fenômeno analisado, avançando em novas considerações. Em primeiro lugar, a população de baixa renda encontra muitas vezes nas unidades produtivas informais caminho alternativo para a inclusão social e para a busca pela subsistência. Se, por um lado, o ciclo da inclusão social se fortalece quando o indivíduo/empreendedor obtém sucesso em seu negócio, pois ele pode não apenas se consolidar no mercado, como ampliar seu empreendimento, gerar empregos e, eventualmente, até se formalizar; por outro, o insucesso tende a retroalimentar o ciclo da pobreza (CACCIAMALI, 2000CACCIAMALI, M. C. Globalização e Processo de informalidade. Economia e Sociedade, v. 9, n. 1, p. 57-78, 2000. ), visto que muitas vezes o auto emprego se apresenta, ao indivíduo, como alternativa extrema para geração de renda. Tais situações foram identificadas na pesquisa realizada.

Em segundo lugar, alguns dos fatores elencados na literatura acerca dos negócios formais também podem ser observados no contexto da informalidade, tais como o papel da experiência prévia, da personalidade, das redes de relacionamentos, dos recursos da atividade produtiva, da relação com parceiros, fornecedores, concorrentes, etc. Tal afirmação vai ao encontro dos estudos de Valarelli e Valle (1997)VALARELLI, M; VALE, G. M. V. Informalidade e cidadania: empreendimento informais no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IBASE, 1997.. Os autores afirmaram existirem elementos essenciais ao sucesso de qualquer novo empreendimento, seja formal ou informal. Inserem-se, aí: a existência (ou possibilidade de criação) de mercado para o produto; as condições materiais básicas para o início da atividade; a qualificação do empreendedor e a sua rede de relações (formais e informais). Entretanto, a maior parte dos fatores, observados no contexto formal, não se aplica ao contexto informal. De fato, a abordagem do segmento informal exige a utilização de alguns novos conceitos, a exemplo da substituição da palavra lucro por renda (PAMPLONA; ROMEIRO, 2002PAMPLONA, J. B; ROMEIRO, M. C. Desvendando o setor informal: relatos de uma experiência brasileira. Revista da ABET, v. 2, n. 2, p. 14-36, 2002., PERRY et al., 2007PERRY, G. E; MALONEY, W. F; ARIAS, O. S; FAJNZYLBER, P; MASON, A. D; SAAVEDRA-CHANDUVI, J. Informality: exit and exclusion. Washington: The World Bank, 2007.) ou sobra, como identificado nesta pesquisa.

Em terceiro lugar, observa-se, nesse segmento, a presença de conceitos diferenciados, distinguindo a linguagem (consequentemente, a vivência) aí presente daquela passível de ser observada no mundo dos negócios formais (PAMPLONA; ROMEIRO, 2002PAMPLONA, J. B; ROMEIRO, M. C. Desvendando o setor informal: relatos de uma experiência brasileira. Revista da ABET, v. 2, n. 2, p. 14-36, 2002., PERRY et al., 2007PERRY, G. E; MALONEY, W. F; ARIAS, O. S; FAJNZYLBER, P; MASON, A. D; SAAVEDRA-CHANDUVI, J. Informality: exit and exclusion. Washington: The World Bank, 2007.). É assim que uma das empreendedoras estudadas se refere ao conceito de “sobras”, ao invés de se referir ao conceito de lucro, amplamente utilizado no mundo dos negócios. Observa-se, em vários dos relatos, que esse público é permeado por léxico próprio, por atitudes talvez provenientes, em parte, da baixa escolaridade e da falta de experiência prévia no mundo dos negócios. Mas, talvez, prevaleça também nesse segmento, uma lógica diferente de se observar e apreender o mundo, como evidenciado no caso relatado da distribuição das "sobras" quando “A” afirma que tudo “é divido em partes iguais para todos que trabalharam”. De fato, tal afirmativa distancia-se do universo formal no qual várias teorias envolvem e mensuram os lucros, desde as mais objetivas como as de acordo com os princípios contábeis, geralmente aceitos, até aquelas mais subjetivas, que levam em consideração as teorias econômicas, as intenções empresariais, as expectativas futuras, o resultado econômico, etc. (KASSAI, 2010KASSAI, J. R. O que é lucro operacional? 2010. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/1233205/mod_resource/content/1/O%20que%20%C3%A9%20Lucro%20Operacional%20%28original%29.pdf. Acesso em: 08 ago. 2018.
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.p...
).

Em quarto lugar, o segmento apresenta uma dinâmica muito diferenciada, que repercute na própria lógica de sobrevivência e mortalidade (PERRY et al., 2007PERRY, G. E; MALONEY, W. F; ARIAS, O. S; FAJNZYLBER, P; MASON, A. D; SAAVEDRA-CHANDUVI, J. Informality: exit and exclusion. Washington: The World Bank, 2007.). Não parece coincidência o fato das duas atividades ativas se constituírem, para os indivíduos envolvidos, na única e exclusiva fonte de renda. Consequentemente, eles não teriam outra opção, a não ser a de se desdobrar para se manterem ativos e garantir a própria sobrevivência. Tal situação difere das duas atividades extintas, onde os indivíduos contavam com alternativas de renda, ainda que precárias. Ao mesmo tempo, uma atividade simplesmente não é encerrada, da noite para o dia. Ela vai sendo desativada aos poucos, enquanto o indivíduo se engaja em outras possibilidades de renda. Essa discussão pode ter importantes contribuições a partir de estudos dedicados à análise do empreendedorismo por oportunidade x necessidade, como, por exemplo, o de Vale, Corrêa e Reis (2014)VALE, G. M. V.; CORRÊA, V. S.; REIS, R. F. Motivações para o empreendedorismo: necessidade versus oportunidade? Revista de Administração Contemporânea, v. 18, n. 3, p. 311-327, 2014.. Nele, os autores afirmam que indivíduos empreendedores podem ser movidos por diferentes motivações. Se, de fato, os empreendedores movidos por oportunidade apresentam perfil mais competitivo - hipótese a ser comprovada em novas pesquisas -, então se deve dar maior atenção a empreendedores movidos, por exemplo, pela pressão do desemprego.

Em quinto lugar, os dados de campo permitem sugerir que as fronteiras entre a informalidade e a formalidade são muito tênues e podem ser ultrapassadas, com frequência, dependendo do ambiente de negócios. Alguns autores (CUNHA, 2006; PAMPLONA; ROMEIRO, 2002PAMPLONA, J. B; ROMEIRO, M. C. Desvendando o setor informal: relatos de uma experiência brasileira. Revista da ABET, v. 2, n. 2, p. 14-36, 2002.) fazem menção à zona de transição existente entre o setor informal e a microempresa, pois, em contextos desfavoráveis, microempresas podem passar à informalidade. Em contextos muito favoráveis, pequenos negócios informais, inclusive os de baixa renda, podem se formalizar, transformando-se em microempresas ativas no mercado (PAMPLONA; ROMEIRO, 2002; PERRY et al., 2007PERRY, G. E; MALONEY, W. F; ARIAS, O. S; FAJNZYLBER, P; MASON, A. D; SAAVEDRA-CHANDUVI, J. Informality: exit and exclusion. Washington: The World Bank, 2007.; VALARELLI; VALE, 1997VALARELLI, M; VALE, G. M. V. Informalidade e cidadania: empreendimento informais no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IBASE, 1997.). Dessa maneira, uma atividade pode se formalizar em um momento de certa expansão ou expectativa favorável, como foi o caso da atividade “B”, podendo regredir à informalidade, ou vice-versa. Como já observado, a fronteira entre a informalidade e as pequenas unidades produtivas formais é muito tênue, passível de ser atravessada em certos momentos, dependendo do ambiente e das condições da própria atividade. Observa-se que no próprio decorrer da seleção dos casos pesquisados, grande parte dos contatos preliminares informou que, apesar de terem encerrado suas atividades, a crise os obrigou a retomá-las. No entanto, eles não as consideravam uma atividade bem-sucedida. No segmento estudado, o próprio conceito de atividade ativa ou não, sucesso ou fracasso deve ser visto de maneira relativa.

Esse conjunto de constatações atesta o carácter provocador e inovador da presente pesquisa. Com efeito, ela foi capaz de avançar em contribuições de natureza analítica para o estudo do fenômeno de sobrevivência e mortalidade de negócios no segmento de baixa renda, aqui descritas como atividades produtivas informais. Persistem, no entanto, limitações advindas da natureza da investigação realizada. Uma delas diz respeito ao próprio tamanho e à peculiaridade da seleção utilizada. O total de quatro unidades produtivas estudadas foi considerado o mínimo necessário à condução da pesquisa. Número maior de unidades empíricas de análise necessariamente tornará novas pesquisas mais interessantes, permitindo da triangulação maior robustez na extrapolação das evidências. No caso dessa presente pesquisa, isso não foi possível, como salientado, por resistência dos indivíduos em abordarem o tema da informalidade. Outro ponto diz respeito ao papel do gênero, que pode ser considerado um viés da presente pesquisa. Isso ocorreu dada a natureza da clientela atendida pela Rede Cidadã, predominantemente feminina. No entanto, os homens atuam, certamente, em parcela significativa das atividades informais. Tais pontos devem ser abordados em futuras pesquisas.

Também restam lacunas a serem sanadas, conclamando por novas pesquisas, que poderiam investigar, por exemplo: i) quais os motivos que levam indivíduos a saírem da informalidade e retornarem a ela? A atividade informal pode, com o tempo, prosperar e se formalizar. Pode, no entanto, ser passível de descontinuidade (registro de Mortalidade) pelo simples fato de ter sido transformada em outra iniciativa produtiva, mantida pelo mesmo indivíduo (VALARELLI; VALE, 1997VALARELLI, M; VALE, G. M. V. Informalidade e cidadania: empreendimento informais no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IBASE, 1997.). Outra questão diz respeito à natureza das redes mais utilizadas e sua importância no contexto da informalidade. Vale e Guimarães (2010), por exemplo, avaliam que as redes sociais podem influenciar positivamente nas possibilidades de sobrevivência das empresas no mercado. Já Santos, Maciel e Sato (2014)SANTOS, J. B. F; MACIEL, R. H. M. O; SATO, L. Trabalhadores informais e a formação de redes socioprodutivas (RSP): considerações teórico-empíricas. Revista de Sociologia Contemporânea, v. 4, n. 2, p. 325-350, 2014. ressaltam que as redes na informalidade se formam, geralmente, com procedência no núcleo familiar, quando pessoas são arregimentadas para auxiliar na confecção ou distribuição do que é comercializado, ou na prestação de serviços em espaços públicos. Há, portanto, possibilidade de expansão da rede para vizinhos, parentes e amigos proveniente da relação social e, notadamente, do nível de confiança. Uma outra, ainda, seria avaliar o impacto dos tributos na formalização dos informais. Segundo Schneider (2008), a maioria dos fatores de mortalidade faz referência a custos, como no caso do aumento de tributos (39%), na falta de condições de pagar impostos (25%) e na intensidade da regulação governamental. As intervenções fiscais têm forte influência nas decisões dos empreendedores sobre o custo/benefício das ações, pois acresce o custo de oportunidade e diminui a possibilidade de renda gerada pelo empreendimento.

Finalmente, uma questão que continua a se impor se relaciona a quais seriam, de fato, os possíveis impactos de um maior apoio técnico e de melhores políticas públicas nas atividades produtivas informais na população de baixa renda? Sabe-se, segundo GEM (2015), que é condição limitante ao empreendedorismo no Brasil a educação e capacitação, em especial nos níveis básico, fundamental e técnico. Historicamente, tais segmentos têm como foco a formação de mão de obra para o mercado de trabalho ou para setor público sem a devida ênfase ao empreendedorismo. Além disso, faltam políticas públicas adequadas às necessidades dos empreendedores, e há excesso de burocracia para abertura, funcionamento e encerramento dos negócios (GEM, 2015). Todas essas pesquisas poderão contribuir para melhor consolidação de conceitos e compreensão desse espaço desordenado, complexo e dinâmico da economia, ainda hoje tão pouco conhecido nas dimensões aqui pretendidas.

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    Recebido em 11/06/2018; aprovado em 20/10/2018.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Dec 2018

Histórico

  • Recebido
    11 Jun 2018
  • Aceito
    20 Out 2018
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