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O individualismo-coletivismo no Brasil e na Espanha: correlatos sócio-demográficos

Individualim-collectivism in Brazil and Spain: socio-demographic correlates

Resumos

O presente estudo pretendeu conhecer os correlatos sócio-demográficos do individualismo-coletivismo, considerando três cidades do Brasil (João Pessoa, Brasília e São Paulo) e três da Espanha (Pontevedra, Madri e Barcelona). Um total de 471 brasileiros e 476 espanhóis, estudantes universitários de diversos contextos sócio-demográficos, providenciaram os dados; a maioria era do sexo feminino (76%) e solteiro (91%), com uma média de idade de 22 anos (amplitude de 16 a 55 anos). Estes responderam ao Questionário de Individualismo-Coletivismo e ao Questionário Sócio-Demográfico. Os resultados indicaram que as seguintes variáveis se correlacionaram sistematicamente com a dimensão individualismo-coletivismo: intensidade das amizades, identificação endogrupal e gênero, nesta ordem. Comprovou-se, também, que algumas variáveis são mais adequadas em um país que em outro; por exemplo, a religiosidade no Brasil e o número de amigos íntimos na Espanha. Tais resultados são discutidos à luz dos previamente encontrados na literatura.

Individualismo; Coletivismo; Atitudes; Valores; Cultura


The socio-demographic correlates of individualism and collectivism were investigated in three Brazilian cities (Joao Pessoa, Brasilia and Sao Paulo) and in three Spanish cities (Pontevedra, Madrid and Barcelona). A sample of 471 Brazilian and 476 Spanish undergraduates, from a wide variety of socio-demographic contexts, provided data for the study. The majority was female (76%) and unmarried (91%), with an average age of 22 years (range from 16 to 55). They answered the Individualism-Collectivism Questionnaire and the Socio-Demographic Questionnaire. The results indicated that the following variables are consistently correlated to the individualism-collectivism dimension: degree of friendship, index of identification with in-groups and gender, in this order. It was also observed that some variables are more adequate in one country than another; for example, religiosity in Brazil and the number of close friends in Spain. The findings were discussed in the light of those present in the literature.

Individualism; Collectivism; Attitudes; Values; Culture


O individualismo-coletivismo no Brasil e na Espanha: correlatos sócio-demográficos1 Nota 1 Esta pesquisa compreende parte da Tese de Doutorado do primeiro autor, sob orientação do segundo. Contou com bolsa da CAPES (Proc. DBE Nº 0235/94-6). Questões em relação ao presente artigo e/ou solicitação de parte ou totalidade das análises estatísticas realizadas poderão ser enviadas aos autores.

Valdiney V. Gouveia

Universidade Federal da Paraíba

Miguel Clemente

Universidad de A Coruña

Resumo

O presente estudo pretendeu conhecer os correlatos sócio-demográficos do individualismo-coletivismo, considerando três cidades do Brasil (João Pessoa, Brasília e São Paulo) e três da Espanha (Pontevedra, Madri e Barcelona). Um total de 471 brasileiros e 476 espanhóis, estudantes universitários de diversos contextos sócio-demográficos, providenciaram os dados; a maioria era do sexo feminino (76%) e solteiro (91%), com uma média de idade de 22 anos (amplitude de 16 a 55 anos). Estes responderam ao Questionário de Individualismo-Coletivismo e ao Questionário Sócio-Demográfico. Os resultados indicaram que as seguintes variáveis se correlacionaram sistematicamente com a dimensão individualismo-coletivismo: intensidade das amizades, identificação endogrupal e gênero, nesta ordem. Comprovou-se, também, que algumas variáveis são mais adequadas em um país que em outro; por exemplo, a religiosidade no Brasil e o número de amigos íntimos na Espanha. Tais resultados são discutidos à luz dos previamente encontrados na literatura.

Palavras-chave: Individualismo, Coletivismo, Atitudes, Valores, Cultura.

Abstract

Individualim-collectivism in Brazil and Spain: Socio-demographic correlates

The socio-demographic correlates of individualism and collectivism were investigated in three Brazilian cities (Joao Pessoa, Brasilia and Sao Paulo) and in three Spanish cities (Pontevedra, Madrid and Barcelona). A sample of 471 Brazilian and 476 Spanish undergraduates, from a wide variety of socio-demographic contexts, provided data for the study. The majority was female (76%) and unmarried (91%), with an average age of 22 years (range from 16 to 55). They answered the Individualism-Collectivism Questionnaire and the Socio-Demographic Questionnaire. The results indicated that the following variables are consistently correlated to the individualism-collectivism dimension: degree of friendship, index of identification with in-groups and gender, in this order. It was also observed that some variables are more adequate in one country than another; for example, religiosity in Brazil and the number of close friends in Spain. The findings were discussed in the light of those present in the literature.

Key words: Individualism, Collectivism, Attitudes, Values, Culture.

Embora não sejam orientações recentes no mundo ocidental, o individualismo e o coletivismo passam a ser tema de pesquisa em Psicologia e Sociologia, sobretudo a partir dos anos 80 (Kagitçibasi & Berry, 1989). Isto não nega sua presença prévia enquanto fatores ou dimensões específicas dos valores humanos, a saber (Braithwaite & Scott, 1991): independência, hedonismo, auto-suficiência, autocontrole, aceitação da autoridade etc. Em última instância, ressalta a novidade de considerá-los como dimensões de variação cultural e individual centradas em processos psicossociais, minimizando a perspectiva temporal que anteriormente havia comprometido a teoria da modernização (Gusfield, 1967). A publicação de Culture's consequences (Hofstede, 1984) teve um papel preponderante a respeito, demarcando o embrião que, em palavras de Lonner e Berry (1994), deu origem a um verdadeiro programa de pesquisa. A base deste, não obstante, é comumente um conjunto de hipóteses sem provas empíricas (Triandis, 1994) e dezenas de estereótipos (Kagitçibasi, 1997). Definitivamente, é possível que se saiba mais a respeito destes construtos do que se tem pesquisado realmente.

A respeito desta limitação, parece pertinente a preocupação de Freeman (1997). Este autor assinala que na aplicação dos construtos individualismo e coletivismo para compreender o comportamento social, é possível contemplar uma distinção clara entre as condições "antecedentes" em oposição às "conseqüentes". Comenta, também, que a maioria das pesquisas empíricas levadas a cabo tem focalizado as conseqüências sociais destes construtos, deixando amplamente aberta a especulações a questão de seus determinantes pessoais ou condições antecedentes sócio-culturais. Seu estudo sugere alguns destes fatores ou determinantes em Sri Lanka, porém se limita a um único país de referência, considerando a variabilidade nestas orientações somente em função da diferença rural versus urbano. Estes aspectos motivaram a presente pesquisa, que tem como objetivo principal conhecer a contribuição de um conjunto de potenciais variáveis antecedentes para explicar as pontuações que brasileiros e espanhóis obtêm em uma medida destes construtos, considerando três pontos amostrais que refletem estilos de vida e modos de produção diferenciados dentro de cada país.

Como se comprovará a seguir, a inclusão de tais variáveis se baseia em resultados prévios de pesquisas independentes (por exemplo, Cha, 1994; Chen, Meindl & Hunt, 1997; Han & Choe, 1994; Hui & Yee, 1994; Mishra, 1994; Morales, López & Vega, 1992; Yamaguchi, 1994), mas também em especulações teóricas (Kagitçibasi, 1994) e interpretações a posteriori (Triandis, 1994, 1995). Antes de considerá-las separadamente, faz-se necessário compreender o que se está denominando aqui de individualismo e coletivismo.

O estudo do individualismo e coletivismo

Existe uma unanimidade na literatura que situa o coletivismo como uma forma natural de existir, porém o mesmo não se observa em relação ao surgimento do individualismo. Supostamente as sociedades ou culturas são inicialmente coletivistas, avançando no sentido do individualismo ao passo que se fazem mais complexas. É neste contexto que De Tocqueville (1835/1993) identifica a aparição do individualismo no século XIX, comentando que representava então um sentimento novo, desconhecido por seus ancestrais. Lukes (1975), embora identifique as primeiras idéias individualistas na Europa entre os séculos XVIII e XIX, reconhece que desde o princípio do mundo dois grandes sistemas dividiram e polarizaram a humanidade: o individualismo (egoísmo ou interesse pessoal) e o comunismo (associação, interesse geral ou público). Dumont (1987) reúne indícios da existência do individualismo mesmo entre os primeiros cristãos, entendido então como uma forma particular deste tipo de orientação (individualismo-fora-do-mundo). Apesar desta discussão histórica em torno destas orientações sociais e dos ensaios teóricos a respeito (Parsons, 1976), os estudos empíricos que os consideraram conjuntamente só tiveram começo há aproximadamente 20 anos.

Hofstede (1984) foi o grande responsável pelo começo triunfante dos estudos que pretenderam tratá-los. Sua pesquisa, realizada com mais de 100.000 trabalhadores da empresa IBM, localizada em aproximadamente 50 países, procurou identificar dimensões básicas de variação cultural, entre as quais a que corresponde ao individualismo-coletivismo se fez a mais conhecida (Kagitçibasi & Berry, 1989). Este autor a concebe como metas ou valores do trabalho que expressam a "independência emocional de grupos, organizações e outras coletividades" (Hofstede, 1984, p. 157) Sua tipologia propõe classificar as culturas nacionais (países) segundo sua pontuação em metas específicas do trabalho. No caso do individualismo, compreende dar importância a (1) ter um trabalho que lhe permita tempo suficiente para sua vida pessoal e familiar, (2) ter considerável liberdade para adotar sua própria abordagem no trabalho e (3) ter tarefas desafiantes, nas quais possa conseguir um sentido pessoal de realização; o coletivismo expressa a importância atribuída a (1) ter oportunidades de ser treinado (para melhorar suas habilidades ou aprender habilidades novas), (2) ter boas condições físicas de trabalho (boa ventilação e iluminação, espaço físico de trabalho adequado etc.) e (3) usar plenamente suas habilidades e capacidades no trabalho. Estes elementos definem um único fator bipolar, no qual a máxima pontuação corresponde ao individualismo (por exemplo, Estados Unidos) e a mais baixa é indício de coletivismo (por exemplo, Venezuela); países como o Brasil e a Espanha apresentam uma orientação intermediária, não se situando nos extremos.

Depois de Geert Hofstede, possivelmente Harry C. Triandis seja o nome mais conhecido quando este é o tema de interesse. Recuperou parte dos seus estudos sobre a cultura subjetiva e o homem tradicional versus moderno, desenvolvidos sobretudo nos anos 60 e 70, dando forma a seu programa de pesquisa que segue na atualidade. Inicialmente, propôs uma nomenclatura alternativa para estes construtos quando tratavam de processos psicológicos: idiocentrismo para se referir ao individualismo, e alocentrismo quando tratava de identificar o coletivismo. Apresentou diversas definições a respeito (Triandis, Brislin & Hui, 1988; Triandis & et al., 1993), sendo possivelmente a seguinte a mais breve e clara: "O individualismo compreende dois aspectos (separação do indivíduo dos seus grupos de pertença e confiança em si mesmo), o mesmo ocorrendo com o coletivismo (integração familiar e interdependência solidária)" (Triandis & et al., 1986, p. 258). Seus estudos mais recentes apontam para uma estrutura mais complexa, combinando individualismo e coletivismo com os atributos horizontal e vertical, produzindo quatro padrões específicos de orientação, com seu conteúdo central entre parênteses (Triandis, 1995): individualismo horizontal (um ser único, que enfatiza a privacidade), individualismo vertical (orientado ao êxito, ao prestígio), coletivismo horizontal (alguém que dá importância a cooperação, harmonia dentro do grupo) e coletivismo vertical (servidor, cumpridor com os demais). Claramente sua teoria parte de uma estrutura unidimensional, herdada de Hofstede, e logo são identificadas uma estrutura bi e, posteriormente, multidimensional. Apesar de existirem instrumentos específicos para medi-las, os parâmetros psicométricos correspondentes a este último modelo estão ainda em fase de comprovação (Gouveia & Clemente, 1998).

Mesmo não sendo seu objeto específico de estudo, Shalom H. Schwartz desenvolveu uma teoria sobre o individualismo e o coletivismo no âmbito individual de análise (Schwartz, 1990, 1994a). Para tanto, baseou-se no tipo de interesse que cumpre cada um dos seus dez tipos motivacionais, a saber, interesse individual (estão nesta categoria aqueles valores que quando realizados beneficiam a própria pessoa, como poder, êxito, hedonismo, estimulação e autodireção); interesse coletivo (supõe-se que seja prioritariamente o grupo o beneficiado com a adoção dos valores correspondentes, como tradição, conformidade e benevolência); e interesse misto (os valores que o caracteriza são aqueles que, quando assumidos pelos indivíduos, tanto podem beneficiá-los diretamente como a todo o grupo, como universalismo e segurança). Provavelmente, os dois maiores méritos deste autor em relação ao presente tema tenham sido admitir que as orientações individualista e coletivista não são necessariamente contrárias, e conseguir demonstrar que é possível operacionalizar tais construtos a partir dos valores humanos.

Em resumo, embora cada um destes modelos teóricos aborde atributos psicológicos diferentes (metas do trabalho, atitudes e valores, respectivamente), os estudos indicam certa convergência entre eles (Gouveia & Ros, 2000; Oishi, Schimmack, Diener & Suh, 1998; Ros & Gouveia, no prelo). Isto não exclui a possibilidade de serem diferentes sob aspectos concretos. Por exemplo, considerando especificamente os modelos recentemente propostos por Triandis e Schwartz, Gouveia (no prelo) observa que são diferentemente explicados por variáveis de caráter social e demográfico. Em todo caso, parece pertinente apresentar uma definição consensual destes construtos (Kim, Triandis, Kagitçibasi, Choi & Yoon, 1994):

O individualismo descreve um tipo de orientação em que, no âmbito interpessoal, os indivíduos são considerados como discretos, autônomos, auto-suficientes e respeitosos quanto aos direitos dos demais. Do ponto de vista social, são definidos como entidades abstratas e universais. Seus status e papéis não são predeterminados ou adscritos, senão definidos por seus êxitos (por exemplo, educacional, ocupacional e econômico). Sua interação com os demais se baseia em princípios racionais, como igualdade, eqüidade (justiça), não interferência e separabilidade. Os indivíduos com objetivos similares tomam parte em seus respectivos grupos. Leis, regras e regulações são institucionalizadas com o fim de proteger os direitos individuais, cada qual sendo capaz de expressar os seus próprios através de meios informais e formais (como o sistema legal). O Estado é governado através de eleições democráticas, cujo propósito é manter os direitos individuais e a viabilidade das instituições públicas. Como resultado, nas culturas individualistas, cada pessoa é animada a ser autônoma, autodirigida, única e assertiva, e a valorizar a intimidade e a liberdade de eleição.

O coletivismo, por sua vez, enfatiza o bem comum e a harmonia social acima dos interesses individuais. Todos os indivíduos são concebidos como unidos em uma rede de interrelações, encaixados e situados em papéis e estatus particulares. São atados por relações que põem ênfase em uma sorte ou destino comum; cada qual é animado a colocar os interesses do endogrupo por diante dos seus próprios. Do ponto de vista social, os deveres e as obrigações são prescritos por papéis, e os indivíduos perdem prestígio se falham em cumprí-los. As concessões e os compromissos são os ingredientes essenciais para promover as concepções do papel e da virtude da justiça; a ordem social é mantida quando cada um cumpre com seus papéis e deveres. As instituições são percebidas como uma extensão da família, e o paternalismo e moralismo legal (ou seja, os valores morais institucionalizados em códigos legais) são imperativos. Com o fim de promover o bem-estar coletivo e a harmonia social, as pessoas são encorajadas a suprimir alguns dos seus desejos individualistas e hedonistas. Como resultado, a interdependência, o apoio social, o destino comum e o cumprimento são alguns dos seus aspectos mais importantes.

Assumir as definições antes apresentadas não implica, necessariamente, renunciar a um modelo multidimensional do individualismo e coletivismo. A proposta de Triandis e seus colaboradores é sem dúvida interessante (Singelis, Triandis, Bhawuk & Gelfand, 1995; Triandis, 1995), permitindo contemplar ao mesmo tempo a hierarquia de poder (horizontal versus vertical) e as orientações sociais em questão, admitindo que não necessariamente os individualistas ou coletivistas o são 100% e em todos os contextos. Porém, considerando que ainda não existe uma medida transculturalmente válida destes construtos (Gouveia & Clemente, 1998), parece prudente lidar com instrumentos cujos parâmetros psicométricos são mais conhecidos e, realizando análises fatoriais panculturais, identificar a estrutura mais adequada para os países tratados aqui. Este aspecto será contemplado na introdução dos resultados; é momento agora de considerar as variáveis sócio-demográficas que podem ser úteis para explicar as pontuações individualistas e coletivistas.

Correlatos sócio-demográficos

Existem diferentes formas de abordar os atributos sócio-demográficos. No nível cultural de análise, Gouveia e Ros (2000) sugerem separar o conjunto de variáveis macro-sociais e macro-econômicas e estudar seus efeitos sobre a classificação dos países em individualistas e coletivistas. Estudos desta natureza são sem dúvida necessários. Este, por exemplo, sugere que o primeiro tipo de variáveis é mais adequado para explicar a variabilidade das pontuações dos países no modelo de Shalom H. Schwartz, enquanto que o segundo se revelou mais pertinente com relação ao modelo de Geert Hofstede. Não obstante, o presente estudo se limita ao nível individual de análise; apesar da correlação direta e significativa entre as pontuações dos modelos nos níveis individual e cultural (Schwartz, 1994b), sua equivalência em relação às variáveis externas nem sempre é viável. Por exemplo, não é possível obter um índice de divórcio ou conhecer a taxa de natalidade por pessoa. O conjunto de variáveis ou fatores antecedentes a serem estudados são os seguintes:

Idade. É considerada uma das mais relevantes para explicar o individualismo e o coletivismo. Sugere-se que as pessoas mais velhas apresentam uma pontuação média maior no coletivismo e menor no individualismo do que as mais jovens, ou seja, quanto mais anos têm uma pessoa, é mais provável que apresente uma orientação tendente a coletivista (Han & Choe, 1994; Hui & Yee, 1994; Mishra, 1994; Triandis, 1995; Yamaguchi, 1994). Não obstante, parece ser que a influência desta variável está condicionada pelo tipo de individualismo ou de coletivismo avaliado. Por exemplo, dividindo sua amostra em participantes menores de 20 anos (percentil 25) e maiores de 26 (percentil 75), Morales et al. (1992) descrevem que apenas com respeito a seus fatores "Auto-suficiência com busca de êxito" e "Interdependência e ajuda mútua" se observou a contribuição da idade; não ocorreu o mesmo com seus fatores "Auto-atribuição dos próprios êxitos e independência emocional com respeito ao endogrupo" e "Independência na eleição de companheiro(a) e não aceitação de responsabilidade nos fracassos das pessoas do endogrupo". Chen et al.(1997) observam uma relação da idade com o coletivismo vertical (r = 0,25, p < 0,01), mas não com o horizontal. Finalmente, em uma amostra de Sri Lanka, Freeman (1997) não observou nenhuma correlação significativa desta variável com seus fatores de idiocentrismo (individualismo) e alocentrismo (coletivismo) (r < ±0,05, p > 0,05).

Gênero. Segundo Cha (1994), as mulheres são mais centradas na família que os homens, e isto pode explicar seu maior nível de coletivismo. Sem apresentar explicações de seus resultados, Morales et al. (1992) observaram uma diferença entre homens e mulheres que apoia a idéia de que estas são mais coletivistas. Alguns autores reforçam a concepção de um individualismo a favor dos homens. Por exemplo, Platow e Shave (1995) descrevem que estes apresentam uma pontuação estatisticamente mais alta que as mulheres nas escalas de Competição e Maestria, fatores que costumam estar associados com o individualismo (Johnson & Norem-Hebeisen, 1979). Existem evidências, também, de que comparadas com os homens, as mulheres se percebem como mais similares a seus endogrupos (Triandis, Bontempo, Villareal, Asai & Lucca, 1988) e são mais relacionais entre si (Kashima et al., 1995), sugerindo uma tendência coletivista. Não obstante, é necessário dizer que não em todas as pesquisas se comprova uma diferença entre homens e mulheres com respeito a estes construtos (Chen et al., 1997; Han & Choe, 1994; Newman, 1993).

Educação. É necessário diferenciar entre tipo de educação e nível educacional. A respeito do primeiro atributo, Triandis (1995) sugere que quanto mais tradicionalmente educada seja uma pessoa, mais tenderá ao coletivismo. Comenta que na educação infantil os pais individualistas costumam empregar um padrão de aceitação/independência, que assegura a autoconfiança dos seus filhos; por outro lado, os pais coletivistas empregam um padrão de aceitação/dependência, sugerindo a conformidade dos filhos (Kagitçibasi, 1994). Estes dados são em parte evidentes na pesquisa de Gouveia e Nevares (1998), em que se indica que pais autodirigidos desejam que seus filhos adotem valores com esta conotação, enquanto que pais conformistas esperam que seus filhos se orientem por este padrão valorativo. Com relação ao segundo atributo antes indicado, existem evidências de que os anos de estudo ou o nível educacional é importante para explicar as variações nos construtos em questão. Han e Choe (1994) descrevem que aqueles que têm menor escolaridade são mais prováveis apresentar ações amigáveis e atitudes favoráveis em relação a um membro do seu grupo profissional de referência; Mishra (1994) assinala que as pessoas que têm mais anos de estudos provavelmente apresentam maior prontidão a adotar valores típicos dos individualistas; e Freeman (1997) observa uma correlação inversa e significativa do nível educacional com seu fator alocentrismo (r = -0,29, p < 0,001), porém esta é escassa no que diz respeito ao idiocentrismo (r = -0,02, p > 0,05). Por outro lado, Chen et al.(1997) indicam que existe uma correlação direta e estatisticamente significativa entre anos de escolaridade e coletivismo horizontal, ainda que não comprove o mesmo a respeito do coletivismo vertical.

Níveleconômico. Mesmo que a variável riqueza seja uma das mais consideradas para a explicação da variabilidade na dimensão cultural individualismo-coletivismo proposta por Geert Hofstede (Chinese Culture Connection, 1987; Schwartz, 1994b), no âmbito das pesquisas a nível individual de análise não costuma haver uma correspondência. Não obstante, é possível que a tendência seja a mesma encontrada por este autor (Han & Choe, 1994). Freeman (1997) obtém uma medida sócio-econômica composta por renda anual e produtos existentes na residência (por exemplo, televisão, automóvel, geladeira etc.), e observa que, entre as pessoas de Sri Lanka, esta é uma variável importante no momento de estimar o tipo de orientação social, como se deduz das correlações observadas: idiocentrismo (r = -0,37, p < 0,001) e alocentrismo (r = 0,14, p < 0,01).

Independência econômica. Embora sejam escassos os dados a respeito desta variável, Kagitçibasi (1994) sugere que este é um atributo decisivo no momento de definir o tipo de orientação fomentado na socialização familiar. Descreve que, quando se observa uma dependência tanto econômica quanto emocional, produz-se um modelo de coletivismo; a plena independência material e emocional caracterizariam o individualismo. Teoriza também a respeito de uma terceira orientação, que seria independência econômica e interdependência emocional. Qualquer que seja o caso, parece bastante útil conhecer sua relação empírica com os construtos em questão. Diferente da variável anterior, que tanto pode considerar os ganhos do indivíduo isoladamente como de todos os demais membros da família, sem que necessariamente haja uma contraposição entre ambos, esta se caracteriza justamente por avaliar o quanto a pessoa se diferencia ou é economicamente independente da sua família.

Religiosidade. Em geral, quanto maior a religiosidade mais coletivismo. Schwartz e Huismans (1995) confirmam esta hipótese em uma amostra formada por judeus israelitas, protestantes holandeses, católicos espanhóis e ortodoxos gregos. O grau de religiosidade dos participantes se correlacionou inversamente com os tipos motivacionais que teoricamente contemplam o individualismo: hedonismo, -0,39, estimulação, -0,34, autodireção, -0,33, êxito, -0,13 e poder, -0,08, e o fez de forma direta com aqueles valores que põem ênfase nos aspectos coletivistas: benevolência, 0,15, tradição, 0,54, e conformidade, 0,30 (p < 0,05 para todos). Resultados bastante similares são oferecidos por Gouveia, Clemente e Vidal (1998) em uma amostra independente de estudantes universitários espanhóis.

Relação interpessoal e Identificação endogrupal. É extensa a lista de autores que de alguma forma tratam destes aspectos (Gudykunst, 1988; Hui, 1988; Mann, 1988; Schwartz, 1990; Shwalb, Shwalb & Murata, 1991; Smith & Bond, 1993; Triandis, 1994; Triandis, Brislim & Hui, 1988). Existe bastante consenso de que para os individualistas ou nas culturas em que este é o ator predominante, é típico a presença de muitos endogrupos, mas com relações casuais ou contratuais entre seus membros, com pouca vinculação emocional. Os endogrupos são definidos pela similaridade em atributos adquiridos (crenças, ocupações) ou interesses pessoais, e são mais abertos dado o caráter variável dos seus membros. Os afetos se reservam à família nuclear ou a um número reduzido de pessoas, e, por conseguinte, tais indivíduos costumam se identificar com poucos endogrupos. Cada um deve se valer por si mesmo, havendo menos disposição a se sacrificar pelos endogrupos e, conseqüentemente, estes têm influência moderada sobre determinadas condutas da pessoa. Aquelas que são de culturas coletivistas costumam ter poucos endogrupos, que são em geral extensos (por exemplo, a família ou o clã), predominantemente definidos em função de atributos adscritos (religião, raça), e nos quais seus membros mantêm estreitas relações entre si, e com interesse mútuo. Os grupos são fechados devido a constância dos seus membros. Espera-se geralmente que estes se sacrifiquem em favor do endogrupo, e que velem por sua harmonia interior. Este influencia a maioria das condutas dos seus membros, e esta influência costuma ser intensa.

Identificação geoespacial. Apesar da concepção de que o individualista se caracteriza por apresentar uma mente aberta (Triandis, 1994), dando prioridade a valores como autodireção (Schwartz, 1990), pouco se conhece especificamente sobre sua visão e identificação com distintas unidades geoespaciais: município, estado, região, país e continente. Triandis (1995) comenta que a maior mobilidade geográfica é indício de individualismo, suposição que parece se corroborar com os dados de Freeman (1997). Este autor observa que a fluidez no inglês e a soma de experiências ultramares, definidos como um índice de exposição a culturas globais individualistas, estão correlacionadas de forma direta com o individualismo (r = 0,10, p < 0,05) e inversa com o coletivismo (r = 0,31, p < 0,05). No geral, espera-se que quanto mais individualista uma pessoa, mais ênfase dará a critérios universais de orientação, sendo portanto mais provável que se identifique com espaços geográficos macros (país, continente) do que os coletivistas. Estes últimos apresentam uma visão menos cosmopolita do mundo, dando prioridade ao local e regional. A respeito desta diferenciação, parece bastante pertinente a classificação de Merton (1949/1972) que contempla dois estilos de homem: o localista versus o cosmopolita.

Finalmente, é preciso dizer que a lista de variáveis apresentada previamente compreende uma seleção, não sendo necessariamente exaustiva. Existem indícios que sugerem considerar outras variáveis, a exemplo do estatus ocupacional e da zona de moradia dos participantes. Chen et al. (1997) comprovaram que quanto mais elevado é o posto na hierarquia da organização, mais coletivista é a pessoa. É necessário destacar que possivelmente a relação entre status ocupacional/social e as orientações em questão não é sempre linear; Marshall (1997), por exemplo, descreve que o individualismo ascende ao passar da classe social baixa à média, mas quando se considera a mudança desta à classe alta, esta tendência se inverte. Quanto à zona de residência, concebe-se que as pessoas que residem em áreas urbanas sejam mais individualistas e as que vivem na zona rural sejam mais coletivistas (Hofstede, 1984, 1991; Triandis, 1995). Embora existindo dados que apoiam esta diferenciação (Freeman, 1997; Han & Choe, 1994; Mishra, 1994), não é possível deixar de constatar a presença de elementos e traços genéricos do individualismo no pensamento ou na conduta das pessoas do setor rural (Clemente, 1992).

Resumindo, o individualismo e o coletivismo apresentam múltiplos antecedentes sócio-demográficos. Conhecer seu padrão de associação e/ou seu poder explicativo poderia contribuir, por exemplo, para compreender determinadas variações observadas entre as pessoas no que se refere a adotá-los, e isto ajudaria a avaliar o papel da cultura para sua definição. Procurando atender a este propósito, serão realizadas análises intra e pancultural do padrão de associações destas variáveis com as citadas orientações.

Método

Definição Operacional das Variáveis

A variável critério, o individualismo e coletivismo, corresponde às pontuações obtidas em um instrumento de medida destes construtos; as demais variáveis são aqui detalhadas. No caso da idade e do gênero, dispensam maiores comentários; unicamente, perguntou-se diretamente quantos anos a pessoa tinha na época da coleta dos dados, sendo a resposta dada em escala contínua, e se tabulou o gênero do seguinte modo: 0 = Homem, 1 = Mulher. As variáveis restantes são definidas a seguir:

Educação. Uma vez que a escolaridade dos participantes era idêntica, foi considerado o nível escolar da sua mãe. Esta decisão baseou-se no fato de que, em ambas culturas, estas são as responsáveis diretas pela educação dos filhos. A pontuação foi a seguinte: 1 = Sem Estudos, 2 = Escolaridade Fundamental, 3 = Escolaridade Média e 4 = Estudos Universitários.

Nível econômico. Foram solicitadas duas informações aos participantes: (1) de quanto dinheiro em média dispunham ao mês. Considerando a diferença de moeda e do seu poder de compra, os valores correspondentes foram transformados dentro dos países, adotando-se a pontuação T = 50 + 10z; e (2) indicação sobre se na sua residência habitual se dispunha dos seguintes objetos: (a) máquina de lavar louças, (b) forno microondas, (c) ar condicionado, (d) computador e (e) carro. As respostas podiam ser "não" ou "sim", sendo a pontuação correspondente transformada em dummy, com os valores 0 e 1, respectivamente. Uma análise de Componentes Principais permitiu criar um índice de pertença material, excluindo o item ar condicionado, que apresentou uma saturação de 0,23, sendo bastante inferior as demais que estiveram entre 0,58 e 0,73. Dado a correlação entre ambos indicadores (r = 0,15, p < 0,001), decidiu-se optar pelo último por refletir melhor o contexto econômico da pessoa.

Independência econômica. O participante deveria assinalar uma única alternativa entre três possíveis, com as seguintes pontuações: 1 = Recebo dinheiro da minha família e ela me mantém, 2 = Trabalho esporadicamente, motivo pelo qual minha família me ajuda, e 3 = Mantenho-me com minha renda.

Religiosidade. Para não tratar com religião, que nos dois países é predominantemente católica, decidiu-se perguntar o quanto a pessoa era religiosa. Sua resposta deveria ser dada em escala de cinco pontos, com os seguintes extremos: 0 = Nada religioso e 4 = Muito religioso.

Relações Interpessoais. Foram solicitados três tipos de informações: (1) número de amigos conseguidos nos 12 últimos meses, (2) número de amigos íntimos, e (3) grau das amizades, esta última indicada em escala de cinco pontos com os extremos: 0 = Superficiais e 4 = Estáveis.

Identificação endogrupal. Foi considerado neste caso o grau de identificação com cinco potenciais endogrupos, a saber: sua família (pai, mãe, irmãos), seus familiares em geral (avós, tios, primos), seus colegas de estudo ou trabalho, sua namorada ou esposa e seus amigos. As respostas foram dadas em escala de cinco pontos, com os seguintes extremos: 0 = Nada identificado e 4 = Totalmente identificado. Comprovou-se a possibilidade de criar um índice geral de identificação endogrupal; uma análise dos Componentes Principais revelou um único componente, explicando 37,6% da variância total, com saturações entre 0,32 (identificação com os colegas) e 0,82 (identificação com os familiares). Este índice é o que se utilizará.

Identificação geoespacial. Para cada uma das unidades geoespaciais indicadas (Município, Estado, Região, País e Continente) a pessoa deveria indicar o quanto se sentia identificado. Para tanto, utilizava uma escala de resposta com cinco alternativas, apresentando os seguintes extremos: 0 = Nada identificado e 4 = Totalmente identificado. Uma análise de Componentes Principais revelou a presença de dois componentes, que conjuntamente explicavam 70,3% da variância total. Realizada a rotação varimax, tais componentes ficaram definidos como "visão localista" (identificação com o Município, o Estado e a Região) e "visão cosmopolita" (identificação com o País e o Continente). Ambos serão utilizados.

Amostra

Participaram no estudo 947 estudantes universitários matriculados nos dois primeiros anos do curso de Psicologia de universidades públicas. Estes foram distribuídos eqüitativamente entre brasileiros (N = 471) e espanhóis (N = 476), provenientes de três pontos amostrais em cada país, a saber: Paraíba (N = 151), Distrito Federal (N = 167) e São Paulo (N = 153), e Pontevedra (N = 147), Madri (N = 164) e Barcelona (N = 165), respectivamente. A coleta dos dados foi realizada nas suas capitais correspondentes. O critério para escolha destes pontos amostrais se deveu a diferenciação de níveis de desenvolvimento econômico correspondentes entre os países; o primeiro de cada um é menos desenvolvido e com maior porcentagem de habitantes vivendo no meio rural; o segundo apresenta um meio termo, representando o centro da administração pública, e o terceiro é o mais próspero economicamente, com atividades predominantemente industriais e menor porcentagem de pessoas na zona rural.

Os participantes não apresentaram diferença estatisticamente significativa em relação às principais variáveis demográficas, como a idade (t < 1) e o gênero (X² < 1), mas sim no que se refere ao grau de religiosidade [t (928) = 9,67, p < 0,01], sendo os brasileiros mais religiosos (M = 2,0) do que os espanhóis (M = 1,3).

Instrumentos

Três questionários foram respondidos, dos quais dois são utilizados no presente estudo: (1) Questionário de Individualismo-Coletivismo. Elaborado inicialmente em língua inglesa, este instrumento se compõe de 29 itens respondidos em escala de cinco pontos, tipo Likert, com os seguintes extremos: 1 = Discordo totalmente e 5 = Concordo totalmente (Triandis et al., 1988). Embora seus autores sugiram a presença de três fatores, Morales et al. (1992) encontraram quatro que melhor explicavam as pontuações dos espanhóis. Em função da baixa consistência interna observada para os fatores em ambos estudos (Gouveia & Clemente, 1998), decidiu-se não assumir uma estrutura fatorial determinada, comprovando-a no grupo total de participantes. A tradução desta escala ao português, realizada por dois psicólogos bilíngües, considerou também sua versão original em inglês; e (2) Questionário Sócio-Demográfico. Uma página com 15 perguntas descritivas foi incluída no final do questionário geral. Nela, enfatizava-se inicialmente o caráter anônimo e confidencial das respostas, sendo tratadas no seu conjunto. A seguir eram apresentadas as perguntas, começando por sexo e concluindo com o grau de escolaridade dos pais do respondente. Foram elaboradas concomitantemente suas versões em espanhol e português, contando uma vez mais com a colaboração de dois psicólogos bilíngües.

Procedimento

Apesar da diversidade cultural em que foi realizada a coleta dos dados, os colaboradores foram instruídos a seguir um procedimento padrão que consistia no seguinte: (1) solicitar ao professor responsável pela disciplina seu horário; (2) pedir a colaboração dos alunos presentes na sala de aula no sentido de responder os questionários, indicando que esta seria voluntária e que quem quisesse poderia deixar a sala a qualquer momento; (3) enfatizar que as respostas deveriam ser individuais e que não deixassem nenhum item em branco; e (4) informar que os dados seriam tratados de modo estatístico, assegurando o anonimato e a confidencialidade das respostas. Em geral uma média de 20 minutos foi suficiente para concluir a aplicação.

Resultados

Inicialmente, comprovou-se a estrutura fatorial mais adequada para a medida de individualismo e coletivismo, realizando uma análise pancultural dos Componentes Principais, com rotação varimax. Os resultados indicaram a presença de até nove componentes com valor próprio (eigenvalue) igual ou superior a 1, explicando conjuntamente 54,7% da variância total. O primeiro componente, com valor próprio de 3,98 foi responsável pela explicação da quarta parte desta variância (13,7%), sendo o mais facilmente interpretável; um total de 16 itens apresentaram saturação superior a 0,35, valor adotado como ponto de corte. Seus cinco itens principais denotam a idéia de individualismo: "Para ser superior é necessário estar só", "Os filhos não deveriam se sentir orgulhosos mesmo se um dos seus pais fosse homenageado por suas contribuições à comunidade", "Triunfar é tudo", "Minha felicidade não está relacionada com o bem-estar dos meus companheiros" e "Não se deveria esperar que as pessoas fizessem alguma coisa pela vizinhança, a não ser que lhes pagassem". Seu índice de consistência interna (Alfa de Cronbach) foi de 0,74, com correlações item-total entre 0,28 e 0,43 (M = 0,33). O segundo maior componente se definiu com saturações negativas naqueles itens que previamente tinham saturado no primeiro fator, sendo portanto sua negação ou indicação de coletivismo. Neste sentido, decidiu-se considerar aqui uma estrutura unifatorial, cuja máxima pontuação é indício de individualismo e a mínima é interpretada como sendo coletivismo.

Para compreender mais sobre as diferenças entre brasileiros e espanhóis em termos de suas orientações individualista e coletivista, as amostras deste estudo foram comparadas em função de sua pontuação no fator individualismo-coletivismo (INDCOL). Os resultados são descritos na Tabela 1.

A média de INDCOL para brasileiros (M = 34,1) e espanhóis (M = 34,8) não diferiu estatisticamente [t(936) = 1,48, p = 0,14]. Quando são consideradas as médias de INDCOL obtidas pelos participantes em função da região onde tinham vivido a maior parte de suas vidas, observa-se inicialmente uma diferença estatisticamente significativa [F (5/932) = 2,39, p = 0,04]. Não obstante, esta se dilui ao realizar a prova post hoc de Scheffé; a maior diferença (2,6 pontos) foi comprovada entre as pessoas de Pontevedra (M = 35,9) e São Paulo (M = 33,3), mas não se revelou significativa (p > 0,05).

Uma vez que as pessoas das amostras de ambos países não diferiram em suas pontuações no INDCOL, decidiu-se considerar a média do grupo total de participantes (34,4) e compará-la com o ponto mediano teoricamente esperado para a medida efetuada (48 pontos, amplitude de 16 a 80). A diferença entre estes valores (13,6) é considerada estatisticamente significativa [t (937) = 58,38, p < 0,001], sugerindo que brasileiros e espanhóis compartilham um padrão de orientação mais tendente ao coletivismo.

Chegado este ponto, resta conhecer a correlação das variáveis sócio-demográficas com a pontuação na orientação individualismo-coletivismo. Os resultados correspondentes são apresentados na Tabela 2, que descreve tanto os coeficientes segundo os países amostrais como o conjunto total de participantes (última coluna).

As variáveis na tabela acima estão ordenadas segundo a magnitude de correlação apresentada com o INDCOL, independente do país (análise pancultural). Como é possível observar, as três primeiras são sistematicamente as mais correlacionadas com este fator. Os participantes do sexo feminino, com amizades no geral mais estáveis e maior identificação com os diversos endogrupos, estão mais predispostos a adotar opiniões e atitudes mais coletivistas (pouco individualistas). No caso específico dos países, embora assumir uma visão localista seja indício de menor individualismo no Brasil, isto parece ser mais o caso quando se adota uma visão cosmopolita; a maior religiosidade é também indicativo de baixo individualismo neste país. Na Espanha, o maior número de amigos íntimos e a independência econômica expressam uma orientação mais tendente ao coletivismo. As variáveis restantes, a saber: número de colegas conseguidos nos 12 últimos meses, nível econômico, escolaridade da mãe e idade do participante não se revelaram satisfatórias neste contexto.

Finalmente, complementando as análises estatísticas prévias, uma regressão linear múltipla foi realizada, adotando-se o método stepwise e fixando como variável critério o nível de INDCOL; como variáveis antecedentes foram consideradas as que apresentaram um coeficiente de correlação significativo em uma das amostras tratadas. Em relação ao Brasil, três foram as variáveis selecionadas: intensidade das amizades, gênero e visão cosmopolita, nesta ordem [F(3/392) = 14,25, p < 0,001]; o R múltiplo foi 0,31 (R²Ajustado = 0,09). No caso da Espanha, foram selecionadas a identificação endogrupal, a intensidade das amizades, o gênero e a independência econômica [F(4/370) = 9,02, p < 0,001], com R múltiplo de 0,30 (R²Ajustado = 0,08). Por último, foram considerados todos os participantes; os resultados indicaram a contribuição de seis variáveis, a saber: intensidade das amizades, identificação endogrupal, gênero, número de amigos íntimos, independência econômica e grau de religiosidade [F(6/764) = 14,12, p < 0,001]; o R múltiplo observado foi de 0,32 (R²Ajustado = 0,09).

Discussão

O presente estudo representa um esforço no sentido de estimar a contribuição de algumas variáveis antecedentes para compreender a variabilidade nas orientações individualista e coletivista. Procura apresentar provas para um tema cercado de estereótipos, considerando tanto as respostas inter como intra-culturais. Nenhum estudo foi encontrado nesta direção; os que realizaram Freeman (1997) e Vadello e Cohen (1999) limitam-se a um único país, Sri Lanka e Estados Unidos, respectivamente. Estes últimos autores, embora considerem diferentes pontos amostrais nos Estados Unidos, tratam de criar um índice de coletivismo com variáveis macro-sócio-econômicas (por exemplo, razão casamento-divórcio, porcentagem de pessoas com mais de 65 anos vivendo sozinhas, porcentagem de pessoas sem afiliação religiosa etc.). Não obstante, é necessário reconhecer suas limitações, sendo possivelmente duas as mais evidentes: (1) considerou unicamente estudantes universitários no início do curso, o que implica uma amostra de jovens com aproximadamente 20 anos de idade, com uma orientação mais horizontal, primando pela justiça social (Triandis & Gelfand, 1998); e (2) a medida utilizada de individualismo e coletivismo é muito específica, tratando sobretudo do componente vertical do individualismo (ideal de triunfo, êxito). Estas questões precisarão ser resolvidas no futuro, considerando os participantes da população geral e utilizando outros instrumentos de medida. A construção e/ou validação de escalas na linha teórica que propõem Triandis e seus colaboradores poderia ser um passo fundamental (Singelis et al., 1995; Triandis, 1995; Triandis & Gelfand, 1998).

Em relação aos resultados observados, no geral apoiam os previamente encontrados. Como descreve Hofstede (1984), o Brasil e a Espanha parecem mesmo apresentar uma tendência mais ao coletivismo, ao menos quando se tem como referência uma estrutura unifatorial e bipolar com ênfase no individualismo vertical. Porém, apesar desta orientação social convergente, é possível identificar variáveis sócio-demográficas específicas que funcionam de modo diferente nestes países (por exemplo, número de amigos íntimos, grau de religiosidade). É necessário estar atento a estas diferenças, mas também reconhecer que existe um padrão comum de antecedentes que ajuda a explicar o individualismo-coletivismo; como descrito na introdução, os coletivistas são mais provavelmente pessoas do sexo feminino e que se identificam com os diversos endogrupos (Triandis, 1995); no geral suas amizades costumam ser mais estáveis.

A diferença dos resultados encontrados por Hofstede (1984), o nível econômico não se revelou uma variável adequada para compreender o grau de individualismo-coletivismo dos participantes. Talvez esta variável funcione melhor no âmbito das culturas nacionais, mas não em relação às pessoas individuais. Em relação à variável classe social, Marshal (1997) descreve sua complexidade quando as respostas das pessoas são diretamente consideradas; o aumento do individualismo não é linear como ocorre quando se consideram indicadores dos países (por exemplo, Produto Interno Bruto, renda per capita). Não obstante, deve ser assinalado como uma explicação alternativa o fato dos universitários pertencerem a classes sócio-econômicas média-altas, com menor variabilidade na variável em questão do que se fossem consideradas pessoas da população geral.

A idade dos participantes compreende uma variável que a literatura indica como das mais importantes para estimar as pontuações no individualismo-coletivismo (Han & Choe, 1994; Hui & Yee, 1994). Nos resultados antes descritos isso não ocorreu. É provável que a pouca variabilidade dos participantes em termos desta variável seja uma explicação, já que são todos estudantes no início do curso. Pesquisas futuras ajudarão a dirimir esta dúvida.

Uma vez que todos os participantes tinham o mesmo nível de escolaridade, decidiu-se considerar a escolaridade da sua mãe; todavia, esta não resultou numa variável satisfatória para explicar as pontuações no fator analisado. Talvez tivesse sido mais importante tratar o tipo de educação que esta recebeu (tradicional, moderno, etc.), pois possivelmente seria evidenciado na socialização dos seus filhos. Triandis (1995) comenta que uma educação tradicional produz uma orientação coletivista. Esta questão precisará ser analisada em outros estudos.

Algumas variáveis foram aqui consideradas de modo exploratório, sem que houvesse uma base sólida de sustentação empírica ou teórica. Foram estes os casos da identificação geoespacial, dos amigos realizados nos 12 últimos meses e da independência econômica. A primeira, curiosamente, não denota que o individualista seja alguém com uma visão mais universalista e cosmopolita do mundo; o que realmente assinala é o individualista como alguém que não se identifica com nenhuma unidade geoespacial, possivelmente em razão da sua preocupação exclusiva com os seus interesses pessoais e os daqueles que o rodeiam. A segunda variável antecedente se revelou ortogonal às orientações em questão; esperava-se sua correlação direta com o individualismo e inversa com o coletivismo. Uma explicação plausível foi confiar na memória dos participantes para recuperar informações de até um ano atrás; pode ser também uma explicação que as pessoas não saibam exatamente o que significa a condição "colegas". Finalmente, a independência econômica deveria ser indício de maior individualismo, e ocorreu exatamente o contrário. Não foi encontrada nenhuma explicação razoável para este resultado; é possível que a opção "Mantenho-me com minha renda" seja ambígua, podendo refletir tanto independência como falta de condição econômica por parte dos pais. A situação pouco variável dos participantes, geralmente sustentados por seus pais, pode ser igualmente um fator distrator. Em todo caso, não se descartam explicações alternativas, podendo a última palavra ser dada unicamente a partir de novos estudos.

Ainda que o interesse neste estudo tenha sido com o nível individual de análise, a possibilidade de comparar as pessoas em diferentes pontos amostrais no Brasil e na Espanha permite uma reflexão sobre seus padrões culturais de orientação. Tais culturas podem resumir o estilo relacional do mundo ibero-americano, onde a "simpatia" é o principal script (Triandis, Marín, Lisansky, & Betancourt, 1984): põe-se ênfase no respeito aos demais, na amizade e na harmonia nas relações interpessoais, aspectos que evidenciam seu caráter mais tendente ao coletivismo (ver Tabela 1). Apesar desse padrão de orientação comum, é impossível deixar de assinalar algumas especificidades; por exemplo, a identificação geoespacial se correlacionou com a pontuação no INDCOL unicamente entre os brasileiros (r médio = -0,14, p < 0,01), enquanto que o número de amigos íntimos o fez exclusivamente na amostra de espanhóis (r = -0,14, p < 0,01). A identificação geoespacial na Espanha ultrapassa a dimensão da orientação social adotada pelas pessoas; compreende um aspecto político e histórico refletido na complexidade da divisão do seu território e na multiplicidade de idiomas falados neste país (Andrés Orizo, 1996; Torregrosa, 1994). No caso do Brasil, os resultados devem ser entendidos em função da natureza do construto tratado (predominantemente individualismo vertical); as pessoas que assumem esta orientação, dando importância ao êxito pessoal e ao poder, estão menos predispostas a se identificar com espaços geográficos específicos. Com respeito à segunda variável, é possível que a orientação para o "envolvimento leal", que caracteriza predominantemente os espanhóis quando comparados com os brasileiros (Smith, Dugan & Trompenaars, 1996), ajude a entender os resultados. Enquanto para os primeiros ser individualista pode significar ter um número reduzido de amigos íntimos e leais, para os outros este não é um fator diferenciador; no presente estudo os brasileiros disseram geralmente ter mais amigos íntimos (M= 4,5, DP = 3,35) do que os espanhóis (M =3,5, DP = 2,26) [t (808) = 5,31, p < 0,001].

Conclusão

Foi possível demonstrar aqui a contribuição de algumas variáveis sócio-demográficas para compreender as pontuações no individualismo-coletivismo. Neste sentido, espera-se que os objetivos iniciais tenham sido alcançados. A repetida menção à necessidade de novos estudos evidencia uma área ainda fundamentada em incertezas e especulações; foram dados os primeiros passos para uma avaliação transcultural de algumas destas variáveis. Será preciso acrescentar à presente lista; por exemplo, a razão número de cômodos por habitantes em uma residência, a freqüência com que as pessoas saem sozinhas, a idade com que o jovem tem a intenção de deixar a casa dos seus pais, o número de filhos que pretende ter etc.

Embora não seja possível descartar a importância dos dados apresentados, será necessário avançar para uma compreensão multidimensional do individualismo e coletivismo. Neste estudo se assumiu uma estrutura unidimensional, tal como o fez Hofstede (1984) no nível cultural de análise; porém, existem evidências de que as variáveis antecedentes apresentam diferentes padrões de associações com os diversos fatores destas duas orientações sociais (Chen et al., 1997; Morales et al., 1992). Traduzir e validar modelos e medidas de outras culturas não é sempre a melhor solução; os instrumentos de países desenvolvidos têm dado ênfase ao individualismo (Hofstede, 1984; Triandis et al., 1988), embora cerca de 70% da população mundial apresente uma orientação coletivista (Hofstede, 1991).

Finalmente, é importante para países do Terceiro Mundo a consideração das orientações protoindividualista (Triandis, 1988) e individualista expressivo (Parsons, 1976). A primeira compreende principalmente uma forma de sobreviver, não de relacionar-se com outras pessoas. Pode ser confundida com o coletivismo, porém se diferencia deste no sentido de colocar a ênfase na própria pessoa, nos valores de estabilidade pessoal, sobrevivência e saúde. Caçadores e pescadores são personagens típicos desta orientação; necessitam muitas vezes estar sozinhos para subsistir. A segunda é identificada como típica de hispano-américa; descreve uma tendência a cristalizar em torno aos pontos de referência relacionais, especialmente a família e a comunidade local; desestimam-se as orientações instrumentais e busca-se o reconhecimento pessoal.

Agradecimentos

Os autores agradecem o apoio da CAPES e a contribuição dos professores Álvaro Tamayo, Balsem Pinelli Júnior, Fransisca Fariña Rivera, Hartmut Günther, José A. Hernández, Miguel Angel Vidal Vázquez, Pilar de Paúl e Robson Medeiros de Araújo na coleta de parte dos dados utilizados.

Sobre os autores

Valdiney V. Gouveia, doutor em Psicologia pela Universidad Complutense de Madrid, Espanha, é professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal da Paraíba. Endereço para correspondência: Universidade Federal da Paraíba, CCHLA – Departamento de Psicologia, 58059-900, João Pessoa, PB E-mail: vgouveia@cchla.ufpb.br ou vvgouveia@uol.com.br.

Miguel Clemente, doutor em Psicologia pela Universidad Complutense de Madrid, é professor do Departamento de Psicología, Area de Psicología Social, da Universidad de A Coruña, Espanha. E-mail: clemen@udc.es.

Recebido em 24.07.00

Revisado em 08.10.00

Aceito em 20.10.00

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  • Nota

    1 Esta pesquisa compreende parte da Tese de Doutorado do primeiro autor, sob orientação do segundo. Contou com bolsa da CAPES (Proc. DBE Nº 0235/94-6). Questões em relação ao presente artigo e/ou solicitação de parte ou totalidade das análises estatísticas realizadas poderão ser enviadas aos autores.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      05 Abr 2001
    • Data do Fascículo
      Dez 2000

    Histórico

    • Recebido
      24 Jul 2000
    • Revisado
      08 Out 2000
    • Aceito
      20 Out 2000
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