CARTA AO EDITOR
Fisioterapia baseada em evidência: uma nova perspectiva
Filippin LII; Wagner MBII
IPós-Graduação em Medicina: Ciências Médicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Porto Alegre (RS), Brasil
IIDepartamento de Medicina Social, UFRGS
Correspondência para Correspondência para: MW Consultoria Científica Avenida Montenegro, 186/sala 405 CEP 90460-160, Porto Alegre (RS), Brasil e-mail: contatomwc@gmail.com
A demanda por qualidade máxima do cuidado em saúde, combinada com a necessidade de uso racional de recursos tanto públicos quanto privados, tem contribuído para aumentar a pressão sobre os profissionais da área no sentido de assegurar a implementação de uma prática baseada em evidências científicas. O movimento da "Medicina baseada em evidência " (MBE) surgiu na década de 1980 e foi David L. Sackett um dos principais idealizadores deste movimento1.
A prática da Medicina baseada em evidências significa integrar cada especialidade com a melhor evidência clínica disponível proveniente de investigação sistemática1. Esse movimento representou uma mudança radical de um paradigma de conhecimento, que foi baseado em autonomia e na experiência clínica.
A "prática baseada em evidência " (PBE) iniciou mais tarde, nos meados da década de 90, atualmente dispõe de centros onde se estuda e avalia pesquisas na área como o "Centre for Evidence Based Physiotherapy " (CEBP) um centro online onde o profissional dispõe de guidelines, artigos e importantes links para pesquisa2.
A PBE compreende os mesmos conceitos e princípios da MBE, sendo empregada por diferentes profissionais e em diversos contextos de saúde. A PBE tem sido definida como o uso consciente, explícito e ponderado da melhor e mais recente evidência de pesquisa na tomada de decisões clínicas sobre o cuidado de pacientes.
Pesquisas desenvolvidas de forma criteriosa fornecem indícios para auxiliar na tomada de decisão clínica, mas nunca substituem o raciocínio sobre qual a intervenção mais indicada em determinada situação clínica.
A PBE envolve a superação de alguns desafios, como manter-se atualizado diante da crescente disponibilidade de informações na área da saúde; uma busca eficiente da literatura por meio de bons bancos de dados e selecionar estudos relevantes e metodologicamente adequados.
Uma evidência científica, segundo o glossário, é o conjunto de elementos utilizados para suportar a confirmação ou a negação de uma determinada teoria ou hipótese científica. Para que haja uma evidência científica é necessário que exista uma pesquisa realizada dentro de preceitos científicos - e essa pesquisa deve ser passível de repetição por outros cientistas em locais diferentes daquele onde foi realizada originalmente3.
A análise de evidências de pesquisa exige dos profissionais conhecimentos e habilidades para capacitá-los a ter autonomia na avaliação crítica das informações científicas que serão utilizadas para diminuir as incertezas das decisões tomadas na clínica. No entanto, nem todos os estudos são bem desenvolvidos; dessa forma, se faz necessária uma avaliação cuidadosa da sua validade e da aplicabilidade clínica dos resultados.
Os níveis de evidência são hoje utilizados como um norteador para classificar a qualidade dos estudos realizados na área da saúde. A qualidade da evidência pode ser categorizada em três níveis (nível I - evidência forte de, pelo menos, um estudo randomizado, controlado, de delineamento apropriado e tamanho adequado; nível II - evidência de estudos bem delineados sem randomização, coorte ou caso-controle; nível III - opiniões de autoridades respeitadas)4-6.
A Fisioterapia, ao contrário da Medicina, ainda não tem pesquisas suficientes para formar um corpo científico de conhecimento necessário para sustentar a prática baseada em evidências, principalmente estudos com evidências nível I. Portanto, o desenvolvimento de pesquisas na Fisioterapia é fundamental, pois permite a construção de um corpo de conhecimento próprio, propicia a melhoria da assistência de fisioterapia prestada ao paciente, embasada em conhecimento científico, enriquecimento do profissional e da sua prática, bem como possibilita a busca de soluções para os problemas vivenciados no cotidiano.
A prática baseada em evidências vem sendo discutida na literatura e, conforme já mencionamos, várias são as barreiras para sua implementação. Entretanto, essa abordagem poderá contribuir para a mudança da prática de fisioterapia baseada em tradição, rituais e tarefas para uma prática reflexiva baseada em conhecimento científico, promovendo a melhoria da qualidade da assistência.
Nesse cenário, entendemos que a prática baseada em evidências é uma abordagem que incentiva o fisioterapeuta a buscar conhecimento científico por meio do desenvolvimento de pesquisas ou aplicação na sua prática profissional dos resultados encontrados na literatura.
- 1. Sackett DL, Rosenberg WM, Gray JA, Haynes RB, Richardson WS. Evidence based medicine: what it is and what it isn't. BMJ. 1996;312(7023):71-2.
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2Centre for Evidence Based Physiotherapy. [cited 2008 Jan]. Available from: https://www.cebp.nl/
» link - 3. Stetler CB, Brunell M, Giuliano KK, Morsi D, Prince L, Newell-Stokes V. Evidence-based practice and the role of nursing leadership. J Nurs Adm. 1998;28(7-8):45-53.
- 4. Chambers LW. Evidence based healthcare: how to make health policy and management decision. Can Mad Assoc J. 1997;157(11):1598-9.
- 5. Medeiros LR, Stein A. Níveis de evidência e graus de recomendação da medicina baseada em evidências. Revista AMRIGS. 2002;46(1,2):43-6.
- 6. Grimes DA, Schulz KF. An overview of clinical research: the lay of the land. Lancet. 2002;359(9300):57-61.
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
11 Dez 2008 -
Data do Fascículo
Out 2008