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Comparação da qualidade de vida nos diferentes tipos de incontinência urinária feminina

Resumos

OBJETIVOS: Comparar o impacto do tipo de incontinência urinária sobre a qualidade de vida em mulheres. MÉTODOS: Foram avaliados retrospectivamente 77 prontuários de mulheres incontinentes que realizaram tratamento fisioterapêutico entre fevereiro de 2005 a outubro de 2006. De acordo com os dados do exame urodinâmico, as mulheres foram classificadas em três grupos: incontinência urinária de esforço (IUE), hiperatividade vesical (HV) e incontinência urinária mista (IUM). As voluntárias responderam a uma anamnese com dados demográficos e ao King's Health Questionnaire, questionário específico para avaliação da qualidade de vida em indivíduos com incontinência urinária. RESULTADOS: A maioria das pacientes (44%) apresentou IUM. A idade das pacientes acometidas por HV foi significativamente maior se comparada à idade das pacientes dos demais grupos. As mulheres acometidas por IUM apresentaram um impacto negativo significativamente maior sobre a qualidade de vida (domínio percepção geral da saúde) e sobre a percepção de que a incontinência afeta de modo negativo a própria vida em comparação com as pacientes dos demais grupos. CONCLUSÃO: Este estudo indicou que pacientes com IUM apresentaram um maior impacto negativo sobre a qualidade de vida.

incontinência urinária; qualidade de vida; saúde da mulher


OBJECTIVES: To compare the impact of the type of urinary incontinence on women's quality of life. METHODS: A retrospective evaluation was conducted on the medical records of 77 incontinent women who underwent physical therapy treatment between February 2005 and October 2006. Based on the urodynamic test data, the women were classified into three groups: stress urinary incontinence (SUI), overactive bladder (OB) and mixed urinary incontinence (MUI). The subjects' history was taken, the women provided demographic data and they answered the King's Health Questionnaire, which is a specific questionnaire for assessing the quality of life among individuals with urinary incontinence. RESULTS: Most of the patients (44%) had MUI. The patients affected by OB were significantly older than the patients in the other groups. The negative impact of incontinence on quality of life (General Health Perception domain) and lifestyle was significantly greater among the women affected by MUI than among the patients in the other groups. CONCLUSION: This study indicated that the negative impact of incontinence on quality of life was greater among patients with MUI.

urinary incontinence; quality of life; women's health


ARTIGOS ORIGINAIS

Comparação da qualidade de vida nos diferentes tipos de incontinência urinária feminina

Dedicação ACI; Haddad MII; Saldanha MESI; Driusso PIII

IDepartamento de Fisioterapia, Universidade Cidade de São Paulo (UNICID), São Paulo (SP), Brasil

IIDepartamento de Uroginecologia, Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros, São Paulo (SP), Brasil

IIIDepartamento de Fisioterapia, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos (SP), Brasil

Correspondência para Correspondência para: Anny Caroline Dedicação Rua Mere Amédea, 415 - apto 81, Vila Maria Alta CEP 02125-001, São Paulo (SP), Brasil e-mail: annydedicacao@hotmail.com

RESUMO

OBJETIVOS: Comparar o impacto do tipo de incontinência urinária sobre a qualidade de vida em mulheres.

MÉTODOS: Foram avaliados retrospectivamente 77 prontuários de mulheres incontinentes que realizaram tratamento fisioterapêutico entre fevereiro de 2005 a outubro de 2006. De acordo com os dados do exame urodinâmico, as mulheres foram classificadas em três grupos: incontinência urinária de esforço (IUE), hiperatividade vesical (HV) e incontinência urinária mista (IUM). As voluntárias responderam a uma anamnese com dados demográficos e ao King's Health Questionnaire, questionário específico para avaliação da qualidade de vida em indivíduos com incontinência urinária.

RESULTADOS: A maioria das pacientes (44%) apresentou IUM. A idade das pacientes acometidas por HV foi significativamente maior se comparada à idade das pacientes dos demais grupos. As mulheres acometidas por IUM apresentaram um impacto negativo significativamente maior sobre a qualidade de vida (domínio percepção geral da saúde) e sobre a percepção de que a incontinência afeta de modo negativo a própria vida em comparação com as pacientes dos demais grupos.

CONCLUSÃO: Este estudo indicou que pacientes com IUM apresentaram um maior impacto negativo sobre a qualidade de vida.

Palavras-chave: incontinência urinária; qualidade de vida; saúde da mulher.

Introdução

A Sociedade Internacional de Continência (International Continence Society - ICS) definiu mais recentemente a incontinência urinária (IU) como "perda involuntária de urina"1, podendo ser classificada como: incontinência urinária de esforço (IUE), hiperatividade vesical (HV) ou incontinência urinária mista (IUM).

A IUE é caracterizada pela perda urinária, quando a pressão intravesical excede a pressão uretral máxima na ausência de contração do músculo detrusor. É comum ocorrer em situações de tosse, espirro, risada, salto, ou ainda, atividades como andar ou mudar de posição2,-8. A HV caracteriza-se por perda involuntária de urina, associada ao forte desejo de urinar, estando ou não a bexiga cheia; é associada ao aumento de frequência miccional, noctúria e urge incontinência. Geralmente, as contrações involuntárias do músculo detrusor produzem os sintomas6,9,10. A IUM é a perda de urina associada à urgência e às situações de aumento da pressão intra-abdominal, ou seja, uma associação entre os dois tipos descritos anteriormente3,11.

Embora a IU não faça parte do envelhecimento fisiológico, observa-se um aumento de sua prevalência entre pessoas idosas12,13. É um problema de saúde significante na sociedade moderna, atingindo, no mundo, mais de 50 milhões de pessoas, principalmente as mulheres12, numa relação de ocorrência de 2 mulheres para 1 homem14. Embora as taxas de prevalência da IU variem de acordo com a definição e características dos estudos e população alvo15, é estimado que 8-58% da população feminina adulta geral1 apresentem sintomas de incontinência16,17, sendo que a HV atinge aproximadamente 40% das mulheres que procuram atendimento médico de IU18. No Brasil, quase 10% das mulheres que visitam o ginecologista têm como queixa principal a perda de urina15. Estima-se que o governo dos EUA gaste em torno de 10-16 bilhões de dólares com mulheres incontinentes por ano1, 11. No Brasil, não há estimativas quanto aos gastos anuais.

Frequentemente, a etiologia da IU é multifatorial. Entre os fatores predisponentes, destaca-se o climatério, pela redução dos hormônios femininos; gestação e parto vaginal, sugerindo trauma neuromuscular da musculatura do assoalho pélvico (MAP); função deficiente ou inadequada desses músculos16; alterações neurológicas ou bioquímicas muitas vezes associadas ao processo de envelhecimento; presença de doenças predisponentes como diabetes mellitus, esclerose múltipla, demência, depressão, obesidade, câncer de bexiga, litíase, infecções urinárias de repetição e parkinsonismo. A influência desses fatores ainda não é bem definida3,19.

A IU exerce múltiplos efeitos sobre as atividades diárias, interações sociais e percepção própria de saúde. Os maiores problemas são relacionados ao bem estar social e mental, incluindo problemas sexuais, isolamento social, baixa auto-estima e depressão8,11,20,21, afetando de modo significativo a qualidade de vida, com consequências psicológicas, físicas, profissionais, sexuais e sociais5,11.

Qualidade de vida (QV) é um conceito multidimensional que incorpora aspectos sociais, físicos e mentais do indivíduo. As ferramentas para mensurar QV, geralmente, incluem duas áreas: aspectos gerais sobre relatos de saúde e aspecto específico sobre os efeitos que determinada patologia ou disfunção causam sobre o estilo de vida de determinada pessoa. Este segundo aspecto seria mais sensível para identificar mudanças após o tratamento, sendo valioso na mensuração do processo de avaliação, assim como na comparação de tipos de tratamentos1.

Em 1997, a ICS recomendou a inclusão de questionários de QV como complemento de medidas clínicas5. O King's Health Questionnaire (KHQ) foi desenvolvido na língua inglesa por Kelleher et al.22 e traduzido e validado por Tamanini, D'Ancona e Netto Jr23 para a língua portuguesa. Desde que foi desenvolvido, este questionário mostrou-se confiável e válido na análise de suas propriedades psicométricas, tendo sido validado para 43 idiomas22. É altamente recomendável pela ICS e classificado como nível A para utilização em pesquisas clínicas22,23. Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi comparar o impacto de cada tipo de IU (esforço, hiperatividade vesical e mista) sobre a QV de mulheres.

Materiais e métodos

Sujeitos

Foi realizado um levantamento de todos os prontuários de mulheres que haviam realizado tratamento fisioterapêutico no setor de fisioterapia do Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros - HMLMB, com diagnóstico de IU, realizado por meio do exame urodinâmico, no período de fevereiro de 2005 a outubro de 2006. Foram excluídas as pacientes com doenças neurológicas, neuropatias diabéticas, doença urológica congênita, câncer de bexiga, infecção do trato urinário e bexiga neurogênica. O diagnóstico do exame urodinâmico permitiu a classificação das mulheres em três grupos: IUE, HV e IUM.

No referido período, foram atendidas 112 mulheres, no entanto 80 (30 haviam mudado de telefone e duas haviam falecido) foram contatadas por meio telefônico e/ou contato no Setor de Uroginecologia do referido hospital (acompanhamento ginecológico anual e/ou participação de grupos de tratamento) e informadas das características do projeto. Setenta e sete mulheres consentiram em disponibilizar seus dados contidos no prontuário e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética da Sociedade Educacional Cidade de São Paulo (UNICID), parecer número 13198462.

Procedimentos

Os dados coletados do prontuário referiam-se à primeira avaliação fisioterapêutica realizada, na qual constavam dados demográficos (idade, grau de escolaridade, raça, vida conjugal); avaliação dos sintomas urinários (prática de atividades, interesse sexual, dispareunia e perdas durante a relação sexual); King's Health Questionnaire (KHQ), avaliação funcional do assoalho pélvico (AFA) e desconforto causado pela IU.

O KHQ é composto de 21 questões, divididas em 8 domínios: (1) percepção geral de saúde (1 item), (2) impacto da incontinência urinária (1 item), (3) limitações de atividades diárias (2 itens), (4) limitações físicas (2 itens), (5) limitações sociais (2 itens), (6) relacionamento pessoal (3 itens), (7) emoções (3 itens), (8) sono/disposição (2 itens)14,15. Além destes domínios, existem duas outras escalas independentes: a primeira avalia a gravidade da IU (medidas de gravidade) e a segunda, a presença e intensidade dos sintomas urinários (escala de sintomas urinários). O KHQ é pontuado pelos seus domínios individualmente, não havendo, portanto, escore geral. Os escores variam de 0 a 100 e quanto maior a pontuação obtida, maior é o impacto sobre a qualidade de vida relacionada àquele domínio.

O desconforto das pacientes foi avaliado por meio da Escala Visual Analógica (EVA). Durante a avaliação inicial, era apresentado à paciente um gráfico numérico com escala de 0 a 10, sendo que 0 representava uma vida normal e 10, uma vida muito ruim devido à incontinência urinária24; Em um segundo gráfico, 0 representava a paciente sentir-se sempre seca e 10, extremamente úmida. A resposta era verbal, e o avaliador anotava os resultados.

A AFA havia sido realizada em posição de litotomia, de acordo com protocolo estabelecido pelo setor de fisioterapia. A paciente foi, previamente, conscientizada a realizar uma força como se necessitasse "segurar" a urina, contraindo apenas os músculos do AP. O teste da AFA foi realizado pelo toque vaginal bidigital do fisioterapeuta, que solicitou verbalmente a contração voluntária perineal. Foram solicitadas três contrações com intervalo de um minuto entre uma e outra. O examinador permaneceu com o toque bidigital apenas durante as contrações. Avaliou-se o grau da força muscular em cada contração, classificando-o segundo Ortiz e Nunez25 de grau zero(0): sem função perineal objetiva, nem mesmo à palpação; grau 1: função perineal objetiva ausente, reconhecida somente à palpação; grau 2: função perineal objetiva débil, reconhecida à palpação; grau 3: função perineal objetiva e resistência opositora, não mantida à palpação; grau 4: função perineal objetiva e resistência opositora mantida à palpação por mais de 5 segundos. O resultado de cada contração foi registrado, e o resultado final foi obtido pela média entre os valores dos três registros25.

Análise estatística

Os dados foram analisados no programa Statistica. Para a comparação das variáveis quantitativas (idade, número de parto, número de parto vaginal, AFA, KHQ e EVA) entre os grupos, foi utilizado o Teste ANOVA e, nos casos significantes, foi utilizado o Teste pos-hoc de Tukey para discriminar as diferenças; e para a verificação da associação entre as variáveis qualitativas, foi utilizado o Teste Qui-Quadrado. Foi adotado um nível de significância de 5% (p<0,05).

Resultados

A média de idade das voluntárias foi 55,2 + 13,1 anos (34 a 85 anos). A maioria das mulheres (44,16%) apresentou IUM, 40,26% foram diagnosticadas como IUE e 15,58% como HV.

De acordo com a Tabela 1, pode-se observar que a idade das pacientes acometidas por HV é significativamente maior se comparada à idade das pacientes dos demais grupos. Não houve diferença significativa nas demais variáveis.

Conforme exposto na Tabela 2, houve uma associação entre o tipo de IU e a ocorrência de cirurgia ginecológica e o relato de perda urinária durante a relação sexual.

A Tabela 3 refere-se aos escores do KHQ. Pode-se notar que as mulheres acometidas por IUM apresentam um impacto significativamente maior na QV (domínio percepção geral da saúde).

A Tabela 4 refere-se aos dados da EVA. Pode-se notar que as mulheres acometidas por IUM apresentam uma pior percepção do modo como a IU afeta a própria vida, em comparação com as pacientes dos demais grupos.

Discussão

No presente estudo, a maioria das pacientes (44,16%) foi acometida por IUM, diagnosticada por estudo urodinâmico, assim como no estudo de Feldner et al.17. A literatura comumente verifica que a IUE é a mais prevalente entre as mulheres, podendo variar de 12 a 56%, porém, na maioria dos estudos, o diagnóstico é baseado na queixa clínica6,11,19,26. Feldner et al.17 compararam a história clínica e o exame urodinâmico, verificaram uma sensibilidade de 57,7% e especificidade de 79,1%, concluindo que a queixa clínica não deve ser utilizada como único método diagnóstico, sendo de fundamental importância a utilização de exames objetivos como o urodinâmico e a avaliação física11. Colli et al.27, em revisão sistemática da literatura, verificaram que a história clínica apresenta valor preditivo baixo, corroborando os resultados do presente estudo, pois não houve diferença estatística da AFA entre os diferentes tipos de IU (Tabela 1).

As mulheres acometidas por HV apresentavam uma idade estatisticamente superior às mulheres acometidas por IUE e IUM (Tabela 1). Estes são achados semelhantes aos da literatura que relatam ser a IUE a mais comum em mulheres mais jovens3,4,9,15 por apresentar, entre seus fatores de risco, atividades físicas de alto impacto, gestação e parto vaginal com lesão de nervos periféricos, embora, no presente estudo, o número de partos vaginais tenham sido semelhante entre os diferentes grupos (Tabela 1). Já a HV acomete, em maior proporção, as mais idosas por estar relacionada a alterações decorrentes da senilidade, como diminuição da capacidade vesical, perda da habilidade de adiar a micção, maior dificuldade em alterações estruturais e funcionais do esfíncter uretral frente a uma contração involuntária de baixa amplitude e também por ter como fatores predisponentes algumas doenças como: diabetes mellitus, demência e parkinson9,10,14,28,29.

Verificou-se, também, que 74,19% das mulheres acometidas por IUE e 50% acometidas por IUM já haviam sido submetidas a algum tipo de intervenção cirúrgica para o tratamento da incontinência (Tabela 3), mostrando que o procedimento cirúrgico é comum entre as mulheres incontinentes e que a taxa de insucesso da cirurgia é alta, devido aos relatos de recidiva, além de implicar redução das atividades, necessidade de período de repouso, complicações, morbidades e custo elevado17,30.

De acordo com Bushnell et al.1, a IU é um problema de saúde comum entre as mulheres. É mais do que uma simples condição fisiológica, deve-se levar em consideração fatores relevantes como tipo, frequência, severidade, fatores desencadeantes, impacto social, efeitos na higiene e impacto sobre a qualidade de vida (física, emocional e social). Burgio et al.31 verificaram que a satisfação da paciente não está só relacionada à diminuição da incontinência, pois nem todas as mulheres que se tornaram continentes estavam completamente satisfeitas, demonstrando a necessidade da introdução de métodos que avaliem esse impacto, como os questionários específicos para a qualidade de vida32. Oh et al.6 compararam os resultados do exame de teste do absorvente com as respostas que as pacientes deram a um questionário generalista de qualidade de vida (o Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form General Health Survey-SF-36) e a um questionário específico para a IU, o Incontinence quality of life-IQoL, validado e reproduzido na língua inglesa por Wagner et al.33; Foi verificado que as pacientes que apresentaram os graus mais severos de IU de acordo com o teste do absorvente foram as que demonstraram um maior impacto na qualidade de vida, detectado pelo questionário específico em quase todos os domínios; o mesmo não ocorreu com o questionário generalista, sendo que apenas 2 domínios apresentaram resultados significativos, demonstrando que os questionários de condições específicas aplicados a uma determinada doença são mais sensíveis para as questões clínicas relevantes do que os questionários gerais.

O KHQ é autoadministrável e demora aproximadamente 5 minutos para ser respondido. Esse é um questionário válido, confiável e amplamente utilizado para pesquisas clínicas9,15,34,35, pois é capaz de avaliar aspectos tão importantes quanto a percepção do impacto da IU nas vidas das pacientes e as medidas de sua gravidade. A QV relacionada à saúde é uma medida subjetiva, respondida por cada paciente; o questionário deve ser conveniente e de fácil compreensão e, além disso, deve ter propriedades psicométricas suficientemente boas e sensíveis a mudanças clínicas8.

Em relação ao impacto que a IU acarreta sobre a QV, verificado pelo KHQ, observou-se que os 3 tipos de incontinência causam grande impacto na QV das pacientes (Tabela 3), visto que a média dos escores do KHQ permaneceu acima de 50 na maioria dos domínios17. Oh e Ku7 concluíram que, embora não seja uma condição fatal, a IU causa depressão, ansiedade e baixa satisfação de vida3,4,14, levando a um impacto sobre a QV. Verificaram ainda que pacientes com IU referem mais depressão, solidão e tristeza do que a população comum, e a taxa de depressão nas pacientes com IU compara-se à de outros pacientes acometidas por doenças crônicas, como diabetes e doenças cardíacas20.

No presente estudo, também pode-se verificar que o impacto sobre a QV varia bastante entre as mulheres incontinentes, o que pode ser observado na Tabela 3, visto que o desvio-padrão manteve-se elevado em todos os grupos nos diferentes domínios, sugerindo o caráter subjetivo da avaliação de QV. A subjetividade pode ocorrer em decorrência da diversidade de fatores sociais, culturais, religiosos e higiênicos.

As mulheres acometidas por IUM apresentaram um escore maior em todos os domínios do KHQ em comparação com as mulheres acometidas por HV e IUE, no entanto houve diferença significativa apenas no domínio percepção geral de saúde (Tabela 3), e tiveram uma percepção mais negativa sobre o impacto causado pela IU quando comparadas aos demais grupos (Tabela 4); corroborando os achados da literatura6,7,11,13,17,36. Este fato pode ocorrer por essas mulheres apresentarem uma fusão entre os sintomas da IUE, que incluem perda de urina ao realizar atividades que aumentem a pressão intra abdominal, com os sintomas da HV, urgência miccional, urge-incontinência, noctúria e aumento da frequência.

Os resultados encontrados ressaltam a importância da avaliação da QV, pois permite ao fisioterapeuta um melhor embasamento para traçar e direcionar o tratamento, levando-se em consideração o impacto e o desconforto causado pela IU.

Conclusão

O estudo permitiu concluir que a IU causa um impacto negativo importante e substancial sobre a QV das pacientes, e há uma pior percepção geral de saúde em mulheres com diagnóstico de IUM.

Recebido: 20/02/2008 – Revisado: 11/06/2008 – Aceito: 16/09/2008

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  • Correspondência para:

    Anny Caroline Dedicação
    Rua Mere Amédea, 415 - apto 81, Vila Maria Alta
    CEP 02125-001, São Paulo (SP), Brasil
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      27 Mar 2009
    • Data do Fascículo
      Abr 2009

    Histórico

    • Recebido
      20 Fev 2008
    • Revisado
      11 Jun 2008
    • Aceito
      16 Set 2008
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