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Força muscular e mortalidade na lista de espera de transplante de fígado

CARTA AO EDITOR

Força muscular e mortalidade na lista de espera de transplante de fígado

Parabenizamos os autores Carvalho EM, Isern MRM, Lima PA, Machado CS, Biagini AP e Massarollo PCB pelo artigo intitulado "Força muscular e mortalidade na lista de espera de transplante de fígado", recentemente publicado nesta revista1. Esse assunto é de grande importância para os profissionais que atuam diretamente com pacientes com distúrbios metabólicos, pois a avaliação adequada desses indivíduos pode auxiliar na recuperação tanto nos períodos pré quanto pós-operatório. Um melhor entendimento da evolução desses pacientes tanto em relação à força muscular quanto ao desempenho funcional é fundamental para a elaboração de um programa de reabilitação específico para essa população.

Estudos relatam que esse grupo de pacientes frequentemente apresenta alterações musculares respiratórias e periféricas. Augusto et al.2 avaliaram a força muscular respiratória de 29 pacientes que aguardavam para realizar o transplante de fígado e que foram avaliados e classificados de acordo com a Escala de Child-Pugh. Evidenciou-se que os pacientes classificados como Child C apresentaram diminuição significativa nas pressões respiratórias máximas dos músculos inspiratórios e expiratórios quando comparados com os pacientes Child A e B.

Nosso grupo de pesquisa recentemente publicou um artigo comparando a função pulmonar, a condição funcional e a qualidade de vida de pacientes candidatos ao transplante hepático e no período de 1, 3, 6, 9 e 12 meses pós-operatório. Os resultados demonstram que existe uma alteração na força dos músculos inspiratórios, na distância percorrida no teste da caminhada dos seis minutos (avaliação funcional) e no domínio da capacidade funcional do questionário de qualidade de vida Short Form-36 (SF-36) quando comparado o período pré-transplante com os conseguintes meses de pós-operatório. Isso demonstra que o transplante de fígado apresenta-se como uma alternativa no tratamento das hepatopatias avançadas, já que todos as variáveis apresentaram melhora significativa depois do transplante, no entanto não existe uma linearidade na resposta desses indivíduos3.

Segundo van den Berg-emons et al.4, a fadiga muscular pode permanecer pelo período de até um ano após realizado o procedimento. Da mesma forma, Aadahl et al.5 relatam que indivíduos que realizam o transplante hepático não só reduzem seus níveis de atividade física bem como sofrem um aumento da fadiga mental, o que foi avaliado por meio de questionário multidimensional de fadiga, o que interferiria diretamente na motivação desses indivíduos. Esses estudos demonstram que, mesmo após a substituição do órgão, os pacientes ainda podem apresentar limitações funcionais e sintomas como astenia, fadiga física, entre outros5,6.

Em decorrência das alterações demonstradas por esse grupo de pessoas, surge a necessidade da elaboração de um programa de reabilitação especificamente destinado àqueles pacientes que aguardam em lista de espera e, principalmente, àqueles que realizam o transplante, pois a recuperação funcional dessa população poderia ser acelerada.

Krasnoff et al.7 realizaram um ensaio clínico randomizado com pacientes que se submeteram ao transplante hepático, os quais foram divididos em dois grupos, um realizou treinamento físico e aconselhamento dietético, e outro somente realizou o acompanhamento rotineiro do serviço, sem a realização de atividade física. Os resultados demonstraram que a capacidade ao exercício e a composição corporal dos indivíduos podem ser modificadas se mudanças comportamentais na alimentação e na atividade física forem realizadas precocemente.

O presente estudo, publicado por Carvalho et al.1, teve o objetivo de avaliar a força de músculos respiratórios e de mão em pacientes na lista de espera para o transplante de fígado e associá-la à mortalidade, e, para isso, foi realizada a avaliação da força muscular respiratória (PImáx) em pacientes que aguardavam em lista de espera, e afirmou-se que a PImáx foi um preditor de mortalidade. Entendemos que, para se chegar a tal conclusão, um tratamento estatístico mais detalhado dos dados, em que o teste de sobrevida e a análise uni e multivariada deveriam ser utilizados. No entanto, a afirmação trazida pelo estudo de que pacientes que aguardam em lista de espera podem ir a óbito antes de realizar o procedimento é verdadeira.

As críticas destinadas ao estudo não invalidam os resultados apresentados pelos autores, pois cada vez mais trabalhos científicos que investigam indivíduos com distúrbios metabólicos que realizam o transplante hepático são de fundamental importância para a área da saúde, já que uma melhor elucidação das alterações clínicas apresentadas pelos pacientes serão entendidas pelos profissionais quando da aplicação de suas técnicas fisioterapêuticas.

Luiz Alberto Forgiarini Junior

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre (RS), Brazil

Carolina da Silva Stumpf

Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul, Porto Alegre (RS), Brazil

Adriane Dal Bosco

Centro Universitário Metodista - IPA, Porto Alegre (RS), Brazil

Alexandre Simões Dias

Centro Universitário Metodista - IPA, Porto Alegre (RS), Brazil

  • 1. Carvalho EM, Isern MRM, Lima PA, Machado CS, Biagini AP, Massarollo PCB. Força muscular e mortalidade na lista de espera de transplante de fígado. Rev Bras Fisioter. 2008;12(3):235-40.
  • 2. Augusto VS, Castro e Silva O, Souza MEJ, Sankarankutty AK. Evaluation of the respiratory muscle strength of cirrhotic patients: relationship with Child-Turcotte-Pugh Scoring System. Transplant Proc. 2008;40(3):774-6.
  • 3. Barcelos S, Dias AS, Forgiarini Jr LA, Monteiro MB. Transplante hepático: repercussões na capacidade pulmonar, condição funcional e qualidade de vida. Arq Gastroenterol. 2008;45(3):186-91.
  • 4. van den Berg-Emons R, van Ginneken B, Wijffels M, Tilanus H, Metselaar H, Stam H, et al. Fatigue is a major problem after liver transplantation. Liver Transpl. 2006;12(6):928-33.
  • 5. Aadahl M, Hansen BA, Kirkegaard P, Groenvold M. Fatigue and physical function after orthotopic liver transplantation. Liver Transpl. 2002;8(3):251-9.
  • 6. Painter P, Krasnoff J, Paul SM, Ascher NL. Physical activity and health related quality of life in liver transplantation recipients. Liver Transpl. 2001;7(3):213-9.
  • 7. Krasnoff JB, Vintro AQ, Ascher NL, Bass NM, Paul SM, Dodd MJ, et al. A randomized trial of exercise and dietary counseling after liver transplantation. Am J Transpl. 2006;6(8):1896-905.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Jun 2009
  • Data do Fascículo
    Abr 2009
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