EDITORIAL
Desafios para o avanço da pesquisa em fisioterapia e terapia ocupacional
Challenges for the advance of physical and occupational therapy research
A pesquisa científica no Brasil evoluiu de forma importante nos últimos 40 anos, e vários fatores e atores contribuíram para isso, cabendo destacar a consolidação da política de pós-graduação implementada nas principais universidades do país. Atualmente, o Brasil ocupa o 13º lugar em produção científica global de acordo com a base de dados ISI-Thompson Reuters-Web of Science, e as Ciências da Saúde ocuparam o 3º lugar mundial em 2008, suplantada apenas pelos EUA e Inglaterra
Dados extraídos das duas maiores agências federais de apoio à ciência e tecnologia, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
Diferentes indicadores permitem examinar como se encontram as várias áreas de formação de recursos humanos. Dados apresentados por Guimarães e Avellar2 apontam o grupo da saúde como o maior entre as grandes áreas da pós-graduação, com 725 cursos (17,7% do total), sendo 54% de mestrado, 40% de doutorado e 6% de mestrado profissional. A partir de indicadores quantitativos (número de pesquisadores e docentes que atuam na pós-graduação), a área da saúde foi dividida, em ordem decrescente, em cinco subgrupos: Medicina (1); Odontologia e Saúde Coletiva (2); Enfermagem e Farmácia (3); Educação Física e Nutrição (4) e Fisioterapia e Terapia Ocupacional e Fonoaudiologia (5).
Uma análise focada em alguns indicadores da Fisioterapia e da Terapia Ocupacional permite visualizar seu grau de desenvolvimento e maturidade. A Fisioterapia e a Terapia Ocupacional apresentavam, no ano de referência (2009), oito cursos de pós-graduação nível mestrado, dois, nível doutorado e nenhum mestrado profissionalI; 133 docentes atuando na pós-graduação e, desses, 79 também na graduação; 190 alunos matriculados no mestrado e 75 no doutorado; 226 grupos de pesquisas registrados no CNPq e 53 bolsistas de produtividadeII. Ainda que a Fisioterapia e a Terapia Ocupacional estejam em franca expansão, constituem, junto com a Fonoaudiologia, um subgrupo incipiente dentro da grande área da saúde.
Percorrido um longo caminho até os dias de hoje, faz-se importante não só resgatar os indicadores que sintetizam o trabalho desenvolvido por nós, pesquisadores em Fisioterapia e Terapia Ocupacional, mas principalmente refletir criticamente para apontar possíveis reformas e redirecionamentos para a pesquisa na área. Para além dos dados quantitativos, resta uma questão importante relativa à qualidade e relevância de qualquer pesquisa científica. A qualidade é de responsabilidade interna de cada área e diz respeito à profundidade, abrangência e resolução de problemas e aos desafios específicos e pendentes. A avaliação de qualidade quase sempre é realizada pelos pesquisadores que integram e compõem a área, a conhecida avaliação ou julgamento dos pares. A relevância se refere à aplicabilidade e ao impacto das pesquisas para a sociedade em geral a partir de critérios externos ou fora da área. Ainda que de forma imperfeita e aproximada, esses dois parâmetros são mensurados pelas publicações, citações, financiamentos, prêmios obtidos, dentre outros.
Um possível caminho para se consolidarem os parâmetros de qualidade e relevância na nossa área de conhecimento e diminuir a sua heterogeneidade seria a pós-graduação estimular a interação entre grupos de pesquisas nacionais e, desses, com pesquisadores estrangeiros, incentivando a mobilidade do estudante durante a sua formação. A criação de redes de pesquisadores em torno de temas prioritários, definidos pelos programas ou associações de pós-graduação a partir da produção dos grupos de pesquisa registrados no CNPq, pode fortalecer os cursos novos e favorecer o desenvolvimento de projetos inovadores. Os pós-doutorados, integrados nessas redes de pesquisa e supervisionados por pesquisadores mais experientes, seguramente potencializariam o papel do pós-doutor na geração de conhecimento. A possibilidade do pós-doutor desenvolver trabalhos em grupos distintos ao de sua formação de origem poderá favorecer não só o programa de pós-graduação hospedeiro, mas também evitar que o pesquisador permaneça encapsulado nos mesmos temas trabalhados ao longo de sua formação.
Por fim, o processo de avaliação da pesquisa e dos seus resultados deve ser priorizado e valorizado. Os pareceres de consultores ad hoc, não só para os periódicos da área como para as agências de fomento, devem ser qualificados o suficiente para servir de base para as avaliações e tomada de decisões. É necessário criarmos mecanismos que incentivem os pareceristas a avaliarem criteriosamente a qualidade científico-tecnológica da produção dos pesquisadores que submetem projetos às agências de fomento, agregando valor à informação quantitativa.
São muitos os desafios a serem enfrentados, e essas são algumas ideias apresentadas com o objetivo de estimular a discussão e a nossa mobilização na busca por transformação e superação dos obstáculos para formar cada vez mais e melhor, consolidando a pós-graduação e a pesquisa na área de Fisioterapia e Terapia Ocupacional.
Rosana F. Sampaio
Representante Titular da Fisioterapia e Terapia Ocupacional/CA-MS/CNPq
Tania F. Salvini
Representante Suplente da Fisioterapia e Terapia Ocupacional/CA-MS/CNPq
Referências
- 1. Meneghini R. Visibilidade internacional da produção brasileira em saúde coletiva. Cad Saúde Pública. 2010;26(6):1058-9.
- 2. Guimarães JA, Avellar SO. CT&I no Brasil. Um balanço da capacitação e desempenho atual do sistema de pós-graduação e de pesquisa. 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (4ª CNCTI). 2010;15(31):53-83.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
28 Nov 2011 -
Data do Fascículo
Out 2011