Acessibilidade / Reportar erro

Revisão Sistemática das Pesquisas Colaborativas em Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar no Brasil

Systematic Review of Collaborative Research in Special Education in the Brazilian School Perspective

RESUMO:

a implementação da política de inclusão escolar no Brasil tem produzido mudanças que impactam desde a formação docente até a atenção dada aos alunos do público-alvo da Educação Especial nos contextos escolares. Essas modificações vêm sendo acompanhadas por investigações científicas que buscam evidenciar as características desse processo e os problemas surgidos a partir dele. Aos poucos, os pesquisadores começaram a assumir um papel mais ativo nesse processo de transformação do cotidiano escolar inclusivo, o que levou a um aumento na quantidade de pesquisas colaborativas realizadas na área da Educação Especial na perspectiva da inclusão escolar. Neste sentido, nosso objetivo foi descrever e analisar o que tem sido produzido pelas pesquisas-ação colaborativas desenvolvidas na área da Educação Especial na perspectiva da inclusão escolar, no período de 2008 a 2015, tomando como fonte os resumos das teses e dissertações nacionais. Os descritores utilizados foram: pesquisa participante; pesquisa ação; pesquisa colaborativa; pesquisa-ação colaborativa; pesquisa ação crítico-colaborativa; inclusão escolar; e educação especial. A busca foi realizada na base de dados da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações. Os resumos de 41 trabalhos foram analisados com base em um protocolo elaborado para esta investigação. A caracterização das pesquisas evidenciou suas contribuições para a formação dos profissionais que atuam na escola junto aos alunos do público-alvo da Educação Especial; para a inclusão escolar desses alunos; além de apontar as lacunas e possíveis sugestões para a solução de problemas identificados no campo da Educação Especial e da Inclusão Escolar.

PALAVRAS-CHAVE:
Educação Especial; Inclusão Escolar; Pesquisa-ação

ABSTRACT:

The implementation of the school inclusion policy in Brazil has produced changes that impact from teacher training to the attention given to the students targeted by Special Education Service in school settings. These changes have been followed by scientific research that aims to highlight the features of this process and the problems emerged from it. Gradually, researchers have begun to take a more active role in this process of school inclusion routine, which led to an increased amount of collaborative research conducted in the field of Special Education from the school inclusion perspective. In this sense, our objective was to describe and to analyze what has been produced by the collaborative action research developed in the field of Special Education from the perspective of school inclusion, from 2008 to 2015, taking as source the abstracts of the national theses and dissertations. The descriptors were: participant research, action research; collaborative research; collaborative-action research; critic-collaborative action research; school inclusion; Special Education. The search was performed in the Brazilian Digital Library of Theses and Dissertations database. The abstracts of 41 papers were analyzed based on a protocol elaborated for this research. The characterization of the research highlighted their contributions to the training of teachers working in school with the students targeted by Special Education Services; to school inclusion of these students; in addition to point out the gaps and possible suggestions for solving problems identified in the field of Special Education and School Inclusion.

KEYWORDS:
Special Education; School Inclusion; Action-Research

1 Introdução

A política de inclusão educacional no Brasil gerou uma série de mudanças nas escolas e na educação dos alunos público-alvo da Educação Especial (PAEE), categoria que abrange pessoas com deficiências, altas habilidades/superdotação e transtornos globais do desenvolvimento (BRASIL, 2013BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Atualizada pela redação dada pela Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Ministério da Educação, Brasília, DF, 05 abr. 2013, p.1.). Tais modificações devem ter impacto na estrutura física escolar, na composição organizacional, na formação docente, no papel da educação especial, entre outras (PRIETO, 2012PRIETO, R.G. Pesquisa sobre políticas de atendimento escolar a alunos com necessidades educacionais especiais com base em fontes documentais. In: JESUS, D.M.; BAPTISTA, C.R.; VICTOR, S.L. (Org.). Pesquisa e educação especial: mapeando produções. Vitória: EDUFES, 2012. p.41-59.).

A reorganização da educação brasileira, tendo em vista o princípio da inclusão escolar, provocou vários questionamentos sobre a funcionalidade das alterações propostas; a forma como estão sendo executadas e as possibilidades de concretização destas mudanças; a formação dos professores para lidar com os desafios advindos desta nova realidade e etc. (MENDES, 2006MENDES, E.G. A radicalização do debate sobre inclusão escolar no Brasil. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v.11, n.33, p.387-559, 2006.; PRIETO, 2012PRIETO, R.G. Pesquisa sobre políticas de atendimento escolar a alunos com necessidades educacionais especiais com base em fontes documentais. In: JESUS, D.M.; BAPTISTA, C.R.; VICTOR, S.L. (Org.). Pesquisa e educação especial: mapeando produções. Vitória: EDUFES, 2012. p.41-59.; BAPTISTA, 2012BAPTISTA, C.R. Políticas de inclusão escolar: análise de um campo temático e perspectivas de investigação. In: JESUS, D.M.; BAPTISTA, C.R.; VICTOR, S.L. (Org.). Pesquisa e educação especial: mapeando produções. Vitória: EDUFES, 2012. p.89-105.). Muitas pesquisas têm discutido o modo como vem ocorrendo a inclusão escolar no Brasil, quais os problemas encontrados na implementação desta política e quais as possíveis soluções para lidar com as dificuldades vivenciadas neste processo (PADILHA, 2012PADILHA, A.M.L. Necessidade especial do trabalho educativo geral ou necessidades educativas especiais? In: JESUS, D.M.; BAPTISTA, C.R.; VICTOR, S.L. (Org.). Pesquisa e educação especial: mapeando produções. Vitória: EDUFES, 2012. p.127-140.; MIRANDA, 2012MIRANDA, T.G. O grupo de pesquisa em educação inclusiva e necessidades educacionais especiais do PPGE/UFBA. In: MIRANDA, T.G.; GALVÃO FILHO, T.A. (Org.). O professor e a educação inclusiva: formação, práticas e lugares. Salvador: EDUFBA, 2012. p.123-138; BUENO, 2012BUENO, J.G.S. Processos de inclusão/exclusão escolar, desigualdades sociais e deficiência. In: JESUS, D.M.; BAPTISTA, C.R.; VICTOR, S.L. (Org.). Pesquisa e educação especial: mapeando produções. Vitória: EDUFES, 2012. p. 107-125.; KASSAR, 2012KASSAR, M.C.M. Políticas públicas e educação especial: contribuições da UFMS. In: JESUS, D.M.; BAPTISTA, C.R.; VICTOR, S.L. (Org.). Pesquisa e educação especial: mapeando produções. Vitória: EDUFES, 2012. p.77-87.).

Dentre estes estudos, destacamos aqueles cuja metodologia visa contribuir para a melhoria nas práticas inclusivas fundamentada na reflexão sobre as ações executadas pelos educadores e na transformação a partir desta análise. As investigações desta natureza têm sido caracterizadas como pesquisa-ação ou pesquisa participante (ASSIS; MENDES; ALMEIDA, 2011ASSIS, C.P; MENDES, E.G.; ALMEIDA, M.A. Ensino colaborativo: um relato de experiência sobre o desenvolvimento de parceria colaborativa. Educere et Educare - Revista de Educação, Paraná, v.6, n.11, 2011. Disponível em: <http://e-revista.unioeste.br/index.php/educereeteducare>. Acesso em: 14 out. 2015.
http://e-revista.unioeste.br/index.php/e...
; FERREIRA, 2012FERREIRA, M.C.C. Os movimentos possíveis e necessários para que uma escola faça a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais. In: JESUS, D.M.; BAPTISTA, C.R.; VICTOR, S.L. (Org.). Pesquisa e educação especial: mapeando produções. Vitória: EDUFES, 2012. p.141-156.; GONÇALVES et al., 2012GONÇALVES, P.W. et al. A pesquisa colaborativa como contributo para o desenvolvimento profissional do professor e da cultura científica: mudanças na concepção de natureza e na prática docente. Revista Iberoamericana de Educación / Revista Ibero-americana de Educação, n. 60/3, p.1-13, 2012.).

Segundo Almeida (2010)ALMEIDA, M.L. Uma análise da produção acadêmica sobre os usos da pesquisa-ação em processos de inclusão escolar: entre o agir comunicativo e o agir estratégico. 2010. 233f. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2010., a

[...] pesquisa-ação, em sua acepção crítica, aponta-nos caminhos que empreendem os participantes em situações sociais para uma forma de indagação autorreflexiva, com o objetivo de compreender seus contextos de referência socioeducativos e transformar suas práticas (p.24).

Tripp (2005)TRIPP, D. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.31, n.3, p.443-466, 2005. afirma que a pesquisa-ação é um tipo de investigação ação "[...] que é um termo genérico para qualquer processo que siga um ciclo no qual se aprimora a prática pela oscilação sistemática entre agir no campo da prática e investigar a respeito dela" (p.445-446). Este autor destaca que a pesquisa-ação se diferencia tanto da prática quanto da pesquisa tradicional, pois ao mesmo tempo em que produz mudanças no espaço investigado ela também "[...] é limitada pelo contexto e pela ética da prática" (p.447).

Deste modo, compreendemos que a pesquisa-ação tem sido usada na educação como um instrumento metodológico que visa promover alterações reais nas práticas educacionais, contribuindo para uma efetiva transformação em contextos escolares específicos assim como oferecendo aos pesquisadores ferramentas que podem ser usadas em outros espaços e situações investigadas. Tripp (2005)TRIPP, D. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.31, n.3, p.443-466, 2005. destaca que toda pesquisa-ação é participativa já que todos os envolvidos são afetados pelas mudanças ocorridas durante o processo. Segundo este autor "[...] a pesquisa-ação funciona melhor com cooperação e colaboração porque os efeitos da prática de um indivíduo isolado sobre uma organização jamais se limitam àquele indivíduo" (p.454).

A pesquisa-ação vem sendo utilizada no Brasil desde 1980 (GATTI, 2002GATTI, B.A. A construção da pesquisa em educação no Brasil. Brasília, DF: Plano, 2002.), quando "[...] começa a adquirir intencionalidade claramente emancipatória via reconhecimento da dimensão política que a pesquisa assume no âmbito do desenvolvimento profissional docente" (IBIAPINA, 2008IBIAPINA, I.M.L.M. Pesquisa colaborativa: investigação, formação e produção de conhecimentos. Brasília, DF: Liber Livro Editora, 2008., p.9). Além da contribuição para a formação docente, pode-se destacar a emergente necessidade posta pela pesquisa-ação de uma aproximação entre a universidade e a escola, relação esta que pode ajudar na construção de uma educação de qualidade para todos (PIMENTA, 2005PIMENTA, S.G. Pesquisa-ação crítico-colaborativa: construindo seu significado a partir de experiências com a formação docente. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.31, n.3, p.521-539, 2005.; MOLINA, 2007MOLINA, R. A pesquisa-ação/investigação-ação no Brasil: mapeamento da produção (1966-2002) e os indicadores internos da pesquisa-ação colaborativa. 2007. 177f. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.).

Mendes (2008)MENDES, E.G. Pesquisas sobre inclusão escolar: revisão da agenda de um grupo de pesquisas. Revista Eletrônica de Educação, São Carlos, v.2, n.1, p.3-25, 2008. ressalta que um volume grande de pesquisas já evidenciou os problemas das práticas e políticas de inclusão escolar, sendo agora necessário que os estudos científicos produzam conhecimentos que permitam a mudança nas práticas escolares. A autora destaca que os pesquisadores devem sair da condição de "[...] expectadores, observadores e delatores, e isso implica em vivenciar o cotidiano das escolas e buscar o caminho da colaboração entre educação regular e especial" (p.19).

Damiani (2008)DAMIANI, M.F. Entendendo o trabalho colaborativo em educação e revelando seus benefícios. Educar, Curitiba, n.31, p.213-230, 2008., a partir de uma ampla revisão da literatura acerca do trabalho colaborativo, destacou que o "[...] desenvolvimento de atividades de maneira colegiada pode criar um ambiente rico de aprendizagens acadêmicas e sociais" (p.224) para toda a comunidade escolar. É necessário que o planejamento e execução de uma ação colaborativa envolvam professores, gestores e comunidade. Além de demandar "[...] tempo, apoio, recursos, acompanhamento, e, acima de tudo, persistência" (MENDES, 2008MENDES, E.G. Pesquisas sobre inclusão escolar: revisão da agenda de um grupo de pesquisas. Revista Eletrônica de Educação, São Carlos, v.2, n.1, p.3-25, 2008., p.15).

Partindo da necessidade de estudar "com" os atores envolvidos no processo de inclusão escolar e não apenas "sobre" eles, são propostas as pesquisas colaborativas. Estes estudos estão inseridos no conjunto de pesquisas de cunho participativo e podem ser denominadas de diferentes maneiras: pesquisa colaborativa, pesquisa-ação colaborativa, pesquisa-ação crítico-colaborativa, etc. (FERREIRA, 2012FERREIRA, M.C.C. Os movimentos possíveis e necessários para que uma escola faça a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais. In: JESUS, D.M.; BAPTISTA, C.R.; VICTOR, S.L. (Org.). Pesquisa e educação especial: mapeando produções. Vitória: EDUFES, 2012. p.141-156.; GONÇALVES et al., 2012GONÇALVES, P.W. et al. A pesquisa colaborativa como contributo para o desenvolvimento profissional do professor e da cultura científica: mudanças na concepção de natureza e na prática docente. Revista Iberoamericana de Educación / Revista Ibero-americana de Educação, n. 60/3, p.1-13, 2012.). Estas distintas abordagens teórico-metodológicas derivam da pesquisa-ação, perspectiva que tem sido difundida como uma proposta de transformação social e de emancipação dos sujeitos, que deve proporcionar ressignificações ao longo de todo o percurso investigativo, caracterizando-se como um procedimento pedagógico e político.

Franco (2005)FRANCO, M.A.S. Pedagogia da pesquisa-ação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.31, n.3, p.483-502, 2005. ressalta que a pesquisa-ação no Brasil aparece nos trabalhos com pelo menos três conceituações distintas: pesquisa-ação colaborativa; pesquisa-ação crítica; e pesquisa-ação estratégica. A autora caracteriza a pesquisa-ação colaborativa como sendo aquela que parte de uma solicitação do grupo de referência, isto é "[...] a função do pesquisador será a de fazer parte e cientificizar um processo de mudança anteriormente desencadeado pelos sujeitos do grupo" (p.485). A pesquisa-ação crítica, por sua vez, é definida como sendo aquela que produz uma transformação

[...] percebida como necessária a partir dos trabalhos iniciais do pesquisador com o grupo, decorrente de um processo que valoriza a construção cognitiva da experiência, sustentada por reflexão crítica coletiva, com vistas à emancipação dos sujeitos e das condições que o coletivo considera opressivas [...] (FRANCO, 2005FRANCO, M.A.S. Pedagogia da pesquisa-ação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.31, n.3, p.483-502, 2005., p.485).

Deste modo, a pesquisa-ação crítica nasce da imersão na práxis do grupo investigado da qual são extraídos os conflitos e as perspectivas latentes, e as modificações resultam das negociações ocorridas no coletivo. Portanto, as pesquisas-ação colaborativas assumem também, na maior parte das experiências, um caráter crítico. Entretanto, quando a transformação é planejada e avaliada somente pelo pesquisador, sem a participação direta dos sujeitos neste processo, esta pesquisa é qualificada como pesquisa-ação estratégica (FRANCO, 2005FRANCO, M.A.S. Pedagogia da pesquisa-ação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.31, n.3, p.483-502, 2005.; PIMENTA, 2005PIMENTA, S.G. Pesquisa-ação crítico-colaborativa: construindo seu significado a partir de experiências com a formação docente. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.31, n.3, p.521-539, 2005.).

De acordo com Ibiapina (2008)IBIAPINA, I.M.L.M. Pesquisa colaborativa: investigação, formação e produção de conhecimentos. Brasília, DF: Liber Livro Editora, 2008., a pesquisa colaborativa aparece no cenário educacional internacional na década de 1980 e chega ao Brasil na década de 1990, sendo apresentada como "uma alternativa para o desenvolvimento de estudos considerados emancipatórios" (p.25). A diferença entre esse tipo de estudo e os demais encontra-se na

[...] valorização das atitudes de colaboração e reflexão crítica, visto que os pares, calcados em decisões e análises tornam-se co-parceiros, co-usuários e co-autores de processos investigativos delineados a partir da participação ativa, consciente e deliberada (IBIAPINA, 2008IBIAPINA, I.M.L.M. Pesquisa colaborativa: investigação, formação e produção de conhecimentos. Brasília, DF: Liber Livro Editora, 2008., p.26).

Já existe no Brasil numerosos estudos do tipo colaborativo que, segundo Damiani (2008)DAMIANI, M.F. Entendendo o trabalho colaborativo em educação e revelando seus benefícios. Educar, Curitiba, n.31, p.213-230, 2008., demandariam um longo tempo para ser revisado. Esta autora tem realizado pesquisas sobre atividades colaborativas e já desenvolveu uma ampla revisão da literatura sobre este tema, mas sem se propor a estruturar um estado da arte reunindo os trabalhos por ela "considerados metodologicamente sólidos e teoricamente relevantes" (p.213), visando divulgar parte do conhecimento produzido acerca do trabalho colaborativo em educação.

Molina e Garrido (2010)MOLINA, R.; GARRIDO, E. A produção acadêmica sobre pesquisa-ação em educação no Brasil: mapeamento das dissertações e teses defendidas no período de 1966 e 2002. Formação Docente, Belo Horizonte, v.2, n.2, p.27-40, 2010. Disponível em: <http://formacaodocente.autenticaeditora.com.br>. Acesso em: 15 out. 2015.
http://formacaodocente.autenticaeditora....
desenvolveram um estudo teórico sobre a produção brasileira em pesquisa-ação em educação. Neste, os autores mapearam as dissertações e teses, defendidas entre os anos de 1966 a 2002 em programas de pós-graduação em educação, visando mostrar quais instituições tinham maior experiência na área da pesquisa-ação, quais os temas de pesquisa foram mais explorados e quais apresentavam menor índice de investigação. Dentre outras coisas, os autores concluíram que a maioria dos estudos encontrados se constituiu de pesquisas colaborativas. Como o foco desta pesquisa foi caracterizar as investigações qualificadas como pesquisa-ação, os autores não focaram sua atenção nas questões abordadas especificamente pelas pesquisas colaborativas.

Almeida (2010)ALMEIDA, M.L. Uma análise da produção acadêmica sobre os usos da pesquisa-ação em processos de inclusão escolar: entre o agir comunicativo e o agir estratégico. 2010. 233f. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2010., em sua tese de doutorado, analisou os pressupostos teórico, metodológico e epistemológico da pesquisa-ação utilizados em estudos sobre inclusão escolar. Nesta pesquisa, foram estudadas dissertações e teses circunscritas à área da Educação Especial, defendidas no Brasil entre os anos de 1999 e 2008. A partir de um estudo do tipo estado da arte a autora caracterizou os fundamentos e princípios da pesquisa ação desenvolvida sobre inclusão escolar. Seus resultados evidenciaram, entre outras coisas, que muitas investigações qualificadas como pesquisa-ação, desenvolvidas na área da Educação Especial na perspectiva da inclusão escolar, enquadram-se numa concepção colaborativa e crítica.

Considerando as investigações fundamentadas em perspectivas teórico-metodológicas voltadas para a construção de uma prática reflexiva, Almeida (2011)ALMEIDA, M.L. A prática pedagógica na educação especial: a contribuição da pesquisa-ação. Revista FACEVV, Vila Velha, n.6, p.105-122, 2011. ressalta o crescimento de pesquisas colaborativas realizadas na área de Educação Especial. Nestas, destaca-se a possibilidade de construção de conhecimentos através da colaboração e, o trabalho colaborativo é apontado como principal meio para a construção de práticas pedagógicas inclusivas.

De um modo geral, constata-se que há aumento quantitativo de estudos qualificados como pesquisa-ação colaborativa na área da Educação Especial, resultando na necessidade de sistematização dessa produção. Nesse sentido, questionamos: como se caracterizam as teses e dissertações nacionais qualificadas como pesquisas colaborativas, defendidas no período de 2008 a 2015, na área da Educação Especial na perspectiva da inclusão escolar?

Vários trabalhos têm sido publicados em formato de artigos em revistas científicas, em anais de eventos ou ainda no formato de dissertações e teses. O interesse por considerar, observar, estas duas últimas fontes se justifica pela intenção de analisar o que tem sido produzido pelos programas de pós-graduação acerca da temática, visto que estes programas cumprem um importante papel na produção científica.

O período temporal de 2008 a 2015 foi definido considerando-se que essa produção mais recente não foi sistematizada por outros pesquisadores, além de 2008 ser um marco inicial importante por ser o ano de publicação da Política Nacional da Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva pelo Ministério da Educação (BRASIL, 2008BRASIL. Política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Brasília, DF: MEC/SEESP, 2008.).

Espera-se que a síntese das estratégias metodológicas, dos principais resultados e conclusões obtidos nestas investigações, possa contribuir para o avanço tanto das pesquisas quanto das intervenções voltadas para uma mudança positiva na inclusão escolar do público-alvo da educação especial.

Considerando a importância de mapear as pesquisas colaborativas realizadas sobre a inclusão escolar no Brasil, definiu-se como objetivo deste trabalho descrever e analisar o que tem sido produzido pelas pesquisas-ação colaborativas desenvolvidas na área da Educação Especial na perspectiva da inclusão escolar, no período de 2008 a 2015, tomando como fonte as teses e dissertações nacionais.

2 Método

Este estudo se caracteriza como uma revisão sistemática, que consiste numa investigação que toma como fonte de dados a bibliografia disponível sobre determinado tema. Sampaio e Mancini (2007)SAMPAIO, R.F.; MANCINI, M.C. Estudos de revisão sistemática: um guia para síntese criteriosa da evidência científica. Revista Brasileira de Fisioterapia, São Carlos, v.11, n.1, p.83-89, 2007. afirmam que este tipo de estudo oferece um resumo das investigações relacionadas a uma determinada temática "mediante a aplicação de métodos explícitos e sistematizados de busca, apreciação crítica e síntese da informação" (p.84).

As informações foram coletadas a partir dos resumos de dissertações e teses indexadas na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) encontrada no endereço http://bdtd.ibict.br/vufind/. Esta busca foi realizada através de uma associação em pares entre os seguintes descritores: pesquisa participante; pesquisa ação; pesquisa colaborativa; pesquisa-ação colaborativa; pesquisa ação crítico-colaborativa; inclusão escolar; educação especial (Quadro 1).

Quadro 1
Relação de trabalhos encontrados por descritores.

Durante este levantamento foram selecionadas as pesquisas que apresentaram os descritores em seus títulos, resumos ou palavras-chave; que estavam circunscritas ao campo da inclusão escolar ou que tivessem como foco a escolarização do Público-Alvo da Educação Especial (PAEE) nas escolas regulares; e que tenham sido defendidas entre os anos de 2008 e 2015. Foram excluídos os trabalhos realizados fora do contexto de escolarização; os que não tiveram como alvo os alunos PAEE; aqueles que não abordavam o tema educação especial ou inclusão escolar; e os estudos teóricos.

Inicialmente, foram encontrados 2.040 trabalhos (Quadro 1), dos quais foram selecionados, em uma primeira triagem, 61 pesquisas, sendo 32 dissertações e 29 teses. O restante foi desconsiderado por se enquadrar nos critérios de exclusão ou por serem trabalhos repetidos. Após leitura analítica dos resumos dos trabalhos selecionados foi realizada uma segunda triagem, que resultou na escolha de 20 dissertações e 18 teses. Foram retirados 18 trabalhos (nove dissertações e nove teses) por se tratar de tipos de pesquisa que não se adequam a este estudo e cinco (três dissertações e duas teses) por serem trabalhos repetidos.

Os resumos das 38 pesquisas escolhidas foram analisados com base em um protocolo contendo as seguintes categorias: autor; título; ano/local de defesa; tipo de pesquisa; objetivos; participantes; local da pesquisa; procedimento de coleta/análise; processo de intervenção/formação; resultados/discussão/conclusões. Estas informações foram organizadas em um quadro geral a fim de auxiliar no processo de sistematização e análise dos dados.

3 Resultados e discussão

A princípio, os 38 trabalhos analisados foram classificados em relação ao ano de defesa. Constatou-se que dois foram finalizados em 2008; três em 2009; dois em 2010; um em 2011; oito em 2012; dez em 2013; nove em 2014; três em 2015.

Quanto ao local de defesa das pesquisas: 16 (oito dissertações e oito teses) foram defendidas em programas de pós-graduação situados no estado de São Paulo; cinco (quatro dissertações e uma tese) em Goiás; cinco (uma dissertação e quatro teses) no Rio de Janeiro; cinco (duas dissertações e três teses) no Ceará; quatro (dissertações) no Paraná; uma (dissertação) em Santa Catarina; uma (tese) no Rio Grande do Sul; e uma (tese) na Paraíba.

Em relação a denominação da metodologia, foram encontrados 23 estudos qualificados como pesquisa colaborativa (13 dissertações e 10 teses), 10 como pesquisa-ação (quatro dissertações e seis teses) e cinco pesquisas participante (três dissertações e duas teses).

De modo geral, os objetivos dos estudos foram caracterizados como analíticos, descritivos, propositivos e interventivos. Os temas abordados nestes foram categorizados e agrupados em 11 temáticas. O Quadro 2 mostra os títulos dos trabalhos analisados organizados de acordo com a caracterização e a classificação temática dos objetivos:

Quadro 2
Caracterização e classificação dos trabalhos analisados.

Os participantes identificados nos trabalhos analisados, foram: professores de classe comum; professores de SRM; professores de Educação Especial; professor de educação física; supervisor pedagógico; gestores; pesquisador; estagiários; terapeuta ocupacional; fisioterapeutas; fonoaudiólogos; psicólogos; tradutor intérprete de língua de sinais; alunos sem deficiência; alunos com deficiência física, visual e intelectual; surdos; com transtorno do espectro autista; com altas habilidades/superdotação; com síndrome de Down; e com paralisia cerebral. Vários foram os contextos de realização dos estudos como: a escola comum; escola especial; classe especial; classe comum; SRM; ambiente virtual; sistema de ensino municipal.

Em todos os trabalhos analisados a coleta de dados se deu a partir do uso de múltiplas técnicas e instrumentos como a observação (participante ou não), entrevista (individual, grupo focal), questionário, avaliação (escalas, protocolos, provas) e sessões reflexivas. Os registros foram feitos através de diários de campo, filmagens, fotografia e audiogravação. Em relação à análise dos dados, a maioria dos trabalhos realizou análise de conteúdo, outros fizeram análise microgenética ou análise quantitativa.

Os processos de intervenção realizados, em sua maioria, tiveram como foco a formação docente com objetivos diversos, tais como: para trabalhar com o ensino colaborativo, para atuar na sala de recurso multifuncional, para lidar com o público alvo da educação especial (PAEE). Alguns estudos se voltaram para a formação de outros profissionais que atuam na escola ou para profissionais da saúde, no que se refere ao uso de tecnologias assistivas com alunos PAEE. As intervenções abordaram também a criação de um programa de áudio para a promoção do acesso à leitura e à literatura por pessoas com deficiência visual; a estruturação do atendimento educacional especializado (AEE) com base no coensino; além da construção de referências para organização e gestão da escola na diversidade.

Os resultados e conclusões dos trabalhos analisados foram organizados nas seguintes categorias: ensino-aprendizagem; atuação docente; formação de professores; e formação de outros profissionais da escola e da saúde que atuam em parceria com a escola.

Em relação ao processo de ensino-aprendizagem, os resultados dos estudos permitiram concluir que: a) O coensino é um modelo de serviço favorável à inclusão de alunos PAEE na classe comum, especialmente de pessoas com autismo, deficiência intelectual e síndrome de Down; b) A compreensão pelo professor de seu papel como mediador pode colaborar para sua atuação junto a alunos com deficiência intelectual ou visual; c) O ensino do PAEE deve ser diversificado, envolvendo diferentes recursos, estratégias de ensino, a cooperação entre alunos e a atuação colaborativa entre os profissionais da educação, e d) As atividades individualizadas, flexibilização e adaptação curricular, elaboradas para atender aos alunos PAEE, devem ser relacionadas aos objetivos de ensino propostos para a classe como um todo.

No que se refere à atuação docente, os achados das pesquisas apontaram que: a) As ações colaborativas podem contribuir para a superação de problemas vividos pelos professores da SRM, b) É necessário a existência de espaços físicos adequados para o desenvolvimento de práticas pedagógicas eficientes, além de uma rede de apoio colaborativa, c) Pode-se questionar a funcionalidade do trabalho desenvolvido nas SRM junto aos alunos PAEE, em virtude das dificuldades demandadas e da falta de estrutura para que o professor possa responder adequadamente a estas demandas, d) Há necessidade de elaboração de planejamentos de ensino individuais (PEI) para os alunos PAEE, para isso, deve ser estimulada a prática de elaboração do PEI de forma articulada e colaborativa entre todos os profissionais (educação comum, educação especial e saúde) que atuam na educação do PAEE; e) A disciplina de música pode ser ensinada para alunos com deficiência intelectual e surdos, desde que sejam criados recursos adaptados para isso.

No que tange a formação de professores, os estudos abordaram tanto a formação inicial, afirmando que esta deve incentivar a pesquisa na área da educação inclusiva, quanto a continuada. Os resultados mostraram que: a) A formação continuada do professor de educação especial e do ensino comum deve ocorrer de acordo com suas demandas de atuação, devendo promover uma reflexão sobre sua própria prática e possibilitar o planejamento das aulas, b) A formação do professor para o uso de recursos de informática e de tecnologias assistivas é necessária para que seja feito o uso adequado desses recursos, e c) O ensino colaborativo ou coensino contribui para a formação continuada dos professores da educação especial e da classe comum.

Por fim, os estudos dispostos na categoria formação dos demais profissionais escolares e da saúde que atuam em colaboração com a escola, destacaram que: a) O trabalho colaborativo é importante para a formação de todos os profissionais da educação que atuam com a inclusão do PAEE; b) Ações colaborativas transdisciplinares entre diferentes profissionais de distintas áreas de atuação e disciplinas contribuem para a formação profissional e para a produção de materiais; c) O trabalho colaborativo do Terapeuta Ocupacional no contexto escolar e os profissionais da escola, através da consultoria colaborativa, pode contribuir para a inclusão do PAEE; d) O papel do supervisor educacional é fundamental para a organização do trabalho de inclusão na escola; e) É importante o desenvolvimento da gestão compartilhada na construção de escolas inclusivas; f) A família deve ser envolvida nas discussões acerca da inclusão escolar dos alunos PAEE.

A análise geral dos trabalhos mostra que desde 2008 vem ocorrendo um aumento na quantidade de estudos qualificados como pesquisas colaborativas, pesquisa-ação ou pesquisa participante, sobre a temática da inclusão escolar, sendo que o maior número de trabalhos encontrados situa-se entre os anos de 2012 e 2014. Nota-se que a busca aqui realizada considerou somente os trabalhos publicados na BDTD até o primeiro semestre de 2015, o que pode influenciar na pequena quantidade de trabalhos encontrados neste ano.

A maioria dos estudos apreciados, um total de 21 pesquisas, foi produzida em programas de pós-graduação situados na região sudeste, em universidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Cabe destacar que a Universidade Federal de São Carlos (UFScar), onde está o único Programa de Pós-Graduação em Educação Especial do Brasil, foi responsável por boa parte das publicações desta área. Isto justifica a maior quantidade de trabalhos, que investigam o contexto de inclusão escolar numa perspectiva colaborativa, está no estado de São Paulo.

Dentre as pesquisas analisadas, a maioria está qualificada como pesquisa colaborativa. O que reflete o aumento no número de estudos que buscam não somente descrever e analisar os contextos educacionais, mas, principalmente, propor mudanças e intervir nestes espaços, conforme mostram os objetivos de todos os estudos aqui analisados de produzir conhecimento e formação.

Segundo Ibiapina (2008)IBIAPINA, I.M.L.M. Pesquisa colaborativa: investigação, formação e produção de conhecimentos. Brasília, DF: Liber Livro Editora, 2008. a pesquisa colaborativa "surge no âmbito da educação como alternativa para o desenvolvimento de estudos considerados emancipatórios" (p.25), os quais nascem de uma vertente emancipatória da pesquisa ação. Neste sentido, o diferencial da pesquisa-ação colaborativa está na

Valorização das atitudes de colaboração e reflexão crítica, visto que os pares, calcados em decisões e análise construídas por meio de negociações coletivas, tornam-se co-parceiros, co-usuários e co-autores de processos investigativos delineados a partir da participação ativa, consciente e deliberada (IBIAPINA, 2008IBIAPINA, I.M.L.M. Pesquisa colaborativa: investigação, formação e produção de conhecimentos. Brasília, DF: Liber Livro Editora, 2008., p.26).

As pesquisas focadas aqui tiveram a escola como principal locus de investigação e os participantes foram o próprio pesquisador, professores e demais profissionais da escola e da saúde que atuavam em parceria neste espaço. Os principais instrumentos de coleta usados foram a observação, entrevista e avaliação. Todas as teses e algumas dissertações focalizaram a proposição de intervenções voltadas para a formação profissional, com o intento de criar condições diferenciadas e mais efetivas de ensino-aprendizagem dos alunos PAEE em situação de inclusão.

Desgagné (2007)DESGAGNÉ, S. O conceito de pesquisa colaborativa: a idéia de uma aproximação entre pesquisadores universitários e professores práticos. Revista Educação em Questão, Natal, v.29, n.15, p.7-35, 2007. afirma que

A pesquisa colaborativa se articula a projetos cujo interesse de investigação se baseia na compreensão que os docentes constroem, em interação com o pesquisador, acerca de um aspecto da sua prática profissional, em contexto real. Em consequência, o papel do pesquisador, no referido projeto colaborativo, se articula essencialmente em função de balizar e orientar a compreensão construída durante a investigação (p.10).

Ibiapina e Sousa (2010)IBIAPINA, I.M.L.M.; SOUSA, J.R.B. Enade, pesquisa colaborativa e método instrumental de Vygotsky: delineamentos de uma pesquisa. In: ENCONTRO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO DA UFPI, 6., 2010, Teresina. Anais eletrônicos... Teresina: UFPI, 2010. Disponível em: <http://leg.ufpi.br/ppged/index/pagina/id/4072>. Acesso em: 15 fev. 2016.
http://leg.ufpi.br/ppged/index/pagina/id...
e Pimenta (2005)PIMENTA, S.G. Pesquisa-ação crítico-colaborativa: construindo seu significado a partir de experiências com a formação docente. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.31, n.3, p.521-539, 2005. discutem que a pesquisa colaborativa envolve produção de conhecimento e formação profissional. Este espaço de investigação favorece a produção de saberes que irão contribuir para a profissionalização docente, já que estes serão construídos em situações colaborativas. Isto significa que a pesquisa colaborativa lida não apenas com a análise de um determinado espaço e de práticas nele desenvolvidas, mas também tem o compromisso com mudanças nesse espaço e nas práticas.

O cumprimento deste objetivo que caracteriza a pesquisa colaborativa pode ser observado nos resultados e conclusões dos estudos analisados. Estes corroboram a necessidade da estruturação de um trabalho colaborativo entre todos os profissionais que atuam na escola e em todos os espaços que compõem a escola inclusiva, como as SRM, o AEE e demais ações que visem a inclusão do aluno PAEE.

Desgagné (2007)DESGAGNÉ, S. O conceito de pesquisa colaborativa: a idéia de uma aproximação entre pesquisadores universitários e professores práticos. Revista Educação em Questão, Natal, v.29, n.15, p.7-35, 2007. destaca que a finalidade da atuação docente é a aprendizagem de seus alunos, portanto o foco da pesquisa colaborativa, que tem o professor e demais profissionais da educação como principais atores, seria lidar com o ponto de vista destes sujeitos acerca das situações práticas a serem exploradas.

Em síntese, a pesquisa colaborativa envolve uma díade de ações, a formação e a construção de conhecimentos. Tratando-se de inclusão escolar, esta dupla função pode contribuir para mudanças no espaço escolar, a partir da formação dos profissionais envolvidos nesse processo, que estarão refletindo sobre suas práticas e propondo ações a partir destas reflexões. Esta seria a grande contribuição destes estudos para o contexto socioeducacional inclusivo.

4 Considerações finais

Encerramos esta discussão retomando a pergunta que orientou este estudo: como se caracterizam as teses e dissertações nacionais qualificadas como pesquisas colaborativas, defendidas no período de 2008 a 2015, na área da Educação Especial na perspectiva da inclusão escolar?

De modo geral, estes trabalhos trazem como principal aspecto a investigação em contextos socioeducacionais, visando a transformação destes espaços a partir da intervenção através da parceria entre pesquisador e profissionais da educação. Estas mudanças fundam-se, principalmente, na problematização das práticas executadas pelos profissionais envolvidos e nas reflexões sobre os seus fazeres, buscando melhorá-los. Estas são as bases da pesquisa colaborativa.

Podemos afirmar que os estudos qualificados como pesquisas colaborativas em inclusão escolar realizados no Brasil estão procurando cada vez mais contribuir para mudanças efetivas no contexto de ensino de alunos PAEE. Isto produz uma mudança importante no cenário investigativo educacional, visto que, nós pesquisadores estamos deixando de somente apontar os problemas nas políticas e práticas de inclusão escolar, como também, começamos a contribuir para uma melhora deste cenário, cumprindo, assim, um importante papel social da pesquisa.

Finalmente, cabe destacar que os referenciais teóricos adotados nessas pesquisas, embora todas se autodenominem como pesquisa-ação, colaborativa ou participante, são variados, assim como os princípios que definem a compreensão que se tem de como deve ser conduzida e delineada esse tipo de pesquisa. Entretanto, o que eles têm em comum é a ênfase na construção de conhecimento e na formação, dispondo a mudança como foco.

Referências

  • ALMEIDA, M.L. Uma análise da produção acadêmica sobre os usos da pesquisa-ação em processos de inclusão escolar: entre o agir comunicativo e o agir estratégico. 2010. 233f. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2010.
  • ALMEIDA, M.L. A prática pedagógica na educação especial: a contribuição da pesquisa-ação. Revista FACEVV, Vila Velha, n.6, p.105-122, 2011.
  • ASSIS, C.P; MENDES, E.G.; ALMEIDA, M.A. Ensino colaborativo: um relato de experiência sobre o desenvolvimento de parceria colaborativa. Educere et Educare - Revista de Educação, Paraná, v.6, n.11, 2011. Disponível em: <http://e-revista.unioeste.br/index.php/educereeteducare>. Acesso em: 14 out. 2015.
    » http://e-revista.unioeste.br/index.php/educereeteducare
  • BAPTISTA, C.R. Políticas de inclusão escolar: análise de um campo temático e perspectivas de investigação. In: JESUS, D.M.; BAPTISTA, C.R.; VICTOR, S.L. (Org.). Pesquisa e educação especial: mapeando produções. Vitória: EDUFES, 2012. p.89-105.
  • BRASIL. Política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva Brasília, DF: MEC/SEESP, 2008.
  • BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Atualizada pela redação dada pela Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Ministério da Educação, Brasília, DF, 05 abr. 2013, p.1.
  • BUENO, J.G.S. Processos de inclusão/exclusão escolar, desigualdades sociais e deficiência. In: JESUS, D.M.; BAPTISTA, C.R.; VICTOR, S.L. (Org.). Pesquisa e educação especial: mapeando produções. Vitória: EDUFES, 2012. p. 107-125.
  • DAMIANI, M.F. Entendendo o trabalho colaborativo em educação e revelando seus benefícios. Educar, Curitiba, n.31, p.213-230, 2008.
  • DESGAGNÉ, S. O conceito de pesquisa colaborativa: a idéia de uma aproximação entre pesquisadores universitários e professores práticos. Revista Educação em Questão, Natal, v.29, n.15, p.7-35, 2007.
  • FERREIRA, M.C.C. Os movimentos possíveis e necessários para que uma escola faça a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais. In: JESUS, D.M.; BAPTISTA, C.R.; VICTOR, S.L. (Org.). Pesquisa e educação especial: mapeando produções. Vitória: EDUFES, 2012. p.141-156.
  • FRANCO, M.A.S. Pedagogia da pesquisa-ação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.31, n.3, p.483-502, 2005.
  • GATTI, B.A. A construção da pesquisa em educação no Brasil Brasília, DF: Plano, 2002.
  • GONÇALVES, P.W. et al. A pesquisa colaborativa como contributo para o desenvolvimento profissional do professor e da cultura científica: mudanças na concepção de natureza e na prática docente. Revista Iberoamericana de Educación / Revista Ibero-americana de Educação, n. 60/3, p.1-13, 2012.
  • IBIAPINA, I.M.L.M. Pesquisa colaborativa: investigação, formação e produção de conhecimentos. Brasília, DF: Liber Livro Editora, 2008.
  • IBIAPINA, I.M.L.M.; SOUSA, J.R.B. Enade, pesquisa colaborativa e método instrumental de Vygotsky: delineamentos de uma pesquisa. In: ENCONTRO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO DA UFPI, 6., 2010, Teresina. Anais eletrônicos... Teresina: UFPI, 2010. Disponível em: <http://leg.ufpi.br/ppged/index/pagina/id/4072>. Acesso em: 15 fev. 2016.
    » http://leg.ufpi.br/ppged/index/pagina/id/4072
  • KASSAR, M.C.M. Políticas públicas e educação especial: contribuições da UFMS. In: JESUS, D.M.; BAPTISTA, C.R.; VICTOR, S.L. (Org.). Pesquisa e educação especial: mapeando produções. Vitória: EDUFES, 2012. p.77-87.
  • MENDES, E.G. A radicalização do debate sobre inclusão escolar no Brasil. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v.11, n.33, p.387-559, 2006.
  • MENDES, E.G. Pesquisas sobre inclusão escolar: revisão da agenda de um grupo de pesquisas. Revista Eletrônica de Educação, São Carlos, v.2, n.1, p.3-25, 2008.
  • MIRANDA, T.G. O grupo de pesquisa em educação inclusiva e necessidades educacionais especiais do PPGE/UFBA. In: MIRANDA, T.G.; GALVÃO FILHO, T.A. (Org.). O professor e a educação inclusiva: formação, práticas e lugares. Salvador: EDUFBA, 2012. p.123-138
  • MOLINA, R. A pesquisa-ação/investigação-ação no Brasil: mapeamento da produção (1966-2002) e os indicadores internos da pesquisa-ação colaborativa. 2007. 177f. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
  • MOLINA, R.; GARRIDO, E. A produção acadêmica sobre pesquisa-ação em educação no Brasil: mapeamento das dissertações e teses defendidas no período de 1966 e 2002. Formação Docente, Belo Horizonte, v.2, n.2, p.27-40, 2010. Disponível em: <http://formacaodocente.autenticaeditora.com.br>. Acesso em: 15 out. 2015.
    » http://formacaodocente.autenticaeditora.com.br
  • PADILHA, A.M.L. Necessidade especial do trabalho educativo geral ou necessidades educativas especiais? In: JESUS, D.M.; BAPTISTA, C.R.; VICTOR, S.L. (Org.). Pesquisa e educação especial: mapeando produções. Vitória: EDUFES, 2012. p.127-140.
  • PIMENTA, S.G. Pesquisa-ação crítico-colaborativa: construindo seu significado a partir de experiências com a formação docente. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.31, n.3, p.521-539, 2005.
  • PRIETO, R.G. Pesquisa sobre políticas de atendimento escolar a alunos com necessidades educacionais especiais com base em fontes documentais. In: JESUS, D.M.; BAPTISTA, C.R.; VICTOR, S.L. (Org.). Pesquisa e educação especial: mapeando produções. Vitória: EDUFES, 2012. p.41-59.
  • SAMPAIO, R.F.; MANCINI, M.C. Estudos de revisão sistemática: um guia para síntese criteriosa da evidência científica. Revista Brasileira de Fisioterapia, São Carlos, v.11, n.1, p.83-89, 2007.
  • TRIPP, D. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.31, n.3, p.443-466, 2005.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 2017

Histórico

  • Recebido
    18 Ago 2016
  • Revisado
    19 Abr 2017
  • Aceito
    17 Maio 2017
Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial - ABPEE Av. Eng. Luiz Edmundo Carrijo Coube, 14-01 Vargem Limpa, CEP: 17033-360 - Bauru, SP, Tel.: 14 - 3402-1366 - Bauru - SP - Brazil
E-mail: revista.rbee@gmail.com