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Efeito da temperatura do solo na infectividade e reprodução det Meloidogyne javanica e Heterodera glycines em cultivares de soja

Effect of soil temperature on infectivity and reprodution of Meloidogyne javanica and Heterodera glycines in soybean cultivars

Resumos

A infectividade e a reprodução de Meloidogyne javanica e de Heterodera glycines, em cultivar suscetível e resistente de soja, diferiram, de acordo com a temperatura do solo. A 28ºC o número de massas de ovos, total de ovos, de fêmeas e a porcentagem de sucesso de parasitismo dos juvenis do segundo estádio (J2) em cada cultivar (suscetível e resistentes) de soja infestada com M. javanica foram, significativamente maiores, comparados com as demais temperaturas (32º C, 26º C, 24º C e 20º C). Entretanto, a soma de juvenis do terceiro e quarto estádios (J3 e J4) foi maior em todas as cultivares, quando a temperatura submetida às plantas inoculadas com M. javanica foi de 20º C comparada com as demais temperaturas. A capacidade reprodutiva da fêmea (ovos por fêmea) de M. javanica foi sempre maior na cultivar suscetível em cada temperatura testada, porém, significativamente maior na cultivar suscetível colocada a 32º C comparada com as demais temperaturas. Nas relações H. glycines e soja, as temperaturas testadas proporcionaram valores semelhantes para a população total (fêmeas e cistos) na cultivar resistente. Na cultivar suscetível, a temperatura de 28º C aumentou significativamente o número de fêmeas, total de fêmeas e cistos e a porcentagem de parasitismo de J2 de H. glycines, comparada com todas as demais temperaturas.

Nematóides de galhas; parasistismo; Glycine max


The infectivity and reproduction of Meloidogyne javanica and Heterodera glycines in susceptible and resistant soybean cultivars differs according to soil temperatures. At 28ºC the egg-mass number, total eggs, and females, and percentage of parasitism success of second stage juveniles (J2) in each cultivar (susceptible and resistants) of infested soybean with M. javanica were significantly greater when compared to other temperatures (32º C, 26º C, 24º C and 20º C). However, the sum of third and fourth juvenile stages (J3 and J4) was greater in all cultivars when M. javanica inoculated plants were submitted to 20ºC. The female reproductive capacity (eggs per female) of M. javanica was always greater on susceptible cultivars in each tested temperature, but significantly greater in the susceptible cultivars submitted to 32ºC as compared to other temperatures. On the interaction between H. glycines and resistant soybean cultivars, the different temperatures resulted in similar values for the total population (females + cysts no.) on the resistant cultivars. On susceptible cultivars 28º C increased significantly the number of females, total females + cysts and the percentage of J2 parasitism of H. glycines as compared to all other temperatures.

Root-knot nematode; parasitism; Glycine max


CIÊNCIAS AGRÁRIAS

Efeito da temperatura do solo na infectividade e reprodução det Meloidogyne javanica e Heterodera glycines em cultivares de soja

Effect of soil temperature on infectivity and reprodution of Meloidogyne javanica and Heterodera glycines in soybean cultivars

Hercules Diniz CamposI; Juliana Resende Campos SilvaI; Vicente Paulo CamposII; Luís Henrique Carregal Pereira da SilvaI; Lilian Simara Abreu Soares CostaIII; Willian José Rodrigues da SilvaIV

IFundação de Ensino Superior de Rio Verde/FESURV Rio Verde, GO

IIUniversidade Federal de Lavras/UFLA Departamento de Fitopatologia/DFP Lavras, MG

IIIUniversidade Federal de Lavras/UFLA Departamento de Fitopatologia/DFP Cx. P. 3037 37200-000 Lavras, MG lilianufla@yahoo.com.br

IVUniversidade Federal de Lavras/UFLA Departamento de Química/DQI Lavras, MG

RESUMO

A infectividade e a reprodução de Meloidogyne javanica e de Heterodera glycines, em cultivar suscetível e resistente de soja, diferiram, de acordo com a temperatura do solo. A 28ºC o número de massas de ovos, total de ovos, de fêmeas e a porcentagem de sucesso de parasitismo dos juvenis do segundo estádio (J2) em cada cultivar (suscetível e resistentes) de soja infestada com M. javanica foram, significativamente maiores, comparados com as demais temperaturas (32º C, 26º C, 24º C e 20º C). Entretanto, a soma de juvenis do terceiro e quarto estádios (J3 e J4) foi maior em todas as cultivares, quando a temperatura submetida às plantas inoculadas com M. javanica foi de 20º C comparada com as demais temperaturas. A capacidade reprodutiva da fêmea (ovos por fêmea) de M. javanica foi sempre maior na cultivar suscetível em cada temperatura testada, porém, significativamente maior na cultivar suscetível colocada a 32º C comparada com as demais temperaturas. Nas relações H. glycines e soja, as temperaturas testadas proporcionaram valores semelhantes para a população total (fêmeas e cistos) na cultivar resistente. Na cultivar suscetível, a temperatura de 28º C aumentou significativamente o número de fêmeas, total de fêmeas e cistos e a porcentagem de parasitismo de J2 de H. glycines, comparada com todas as demais temperaturas.

Palavras-chave: Nematóides de galhas, parasistismo, Glycine max.

ABSTRACT

The infectivity and reproduction of Meloidogyne javanica and Heterodera glycines in susceptible and resistant soybean cultivars differs according to soil temperatures. At 28ºC the egg-mass number, total eggs, and females, and percentage of parasitism success of second stage juveniles (J2) in each cultivar (susceptible and resistants) of infested soybean with M. javanica were significantly greater when compared to other temperatures (32º C, 26º C, 24º C and 20º C). However, the sum of third and fourth juvenile stages (J3 and J4) was greater in all cultivars when M. javanica inoculated plants were submitted to 20ºC. The female reproductive capacity (eggs per female) of M. javanica was always greater on susceptible cultivars in each tested temperature, but significantly greater in the susceptible cultivars submitted to 32ºC as compared to other temperatures. On the interaction between H. glycines and resistant soybean cultivars, the different temperatures resulted in similar values for the total population (females + cysts no.) on the resistant cultivars. On susceptible cultivars 28º C increased significantly the number of females, total females + cysts and the percentage of J2 parasitism of H. glycines as compared to all other temperatures.

Key words: Root-knot nematode, parasitism, Glycine max.

INTRODUÇÃO

O emprego de cultivares de soja com resistência constitui método de fácil adoção no controle de nematóides do gênero Meloidogyne. Porém, essa resistência a Meloidogyne spp., em outras espécies vegetais, pode ser alterada pela temperatura (ARAÚJO et al., 1982, ALVES; CAMPOS, 2001). No Brasil, a soja é cultivada em diversas regiões, apresentando condições ambientais diversificadas, principalmente quando se trata do fator temperatura, o qual proporciona maior interferência no desenvolvimento do nematóide dentro do hospedeiro. Em temperaturas altas do solo, geralmente os nematóides apresentam alta atividade. Estudos com a cultura do tomateiro (ARAÚJO et al., 1982; HAROON et al. 1993, ALVES; CAMPOS, 2001), feijoeiro, (OWEGA et al., 1990), alface e pimentão (ALVES; CAMPOS, 2001) já evidenciaram menor resistência de cultivares ou maior reprodução de Meloidogyne em temperaturas do solo acima de 28º C.

A adaptação do nematóide de cisto da soja Heterodera glycines a diferentes ambientes tem sido causa de reavaliação de recomendações de controle cultural, embora o emprego de cultivares resistentes, aliado a outras estratégias de controle, constituam caminho eficiente no seu controle. Segundo Niblack (1999), nos países onde já se conseguiram avanços no melhoramento da soja, H. glycines ainda é um sério problema, principalmente em função de sua elevada variabilidade intraespecífica, pois apresenta um grande número de raças fisiológicas, aumentando a sua capacidade de se adaptar em diferentes ambientes e às novas cultivares lançadas. De acordo com Anand et al. (1995), temperatura, raça, genótipo do hospedeiro e a interação entre eles são fatores significantes e importantes na reprodução de H. glycines em soja. Ainda não se conhece bem a reação dos vários genótipos de soja resistentes ao parasitismo de Meloidogyne javanica e de H. glycines a temperaturas do solo. Assim, objetivou-se, neste trabalho, estudar o efeito de temperaturas fixas do solo na infectividade e reprodutividade de M. javanica e de H. glycines raça 3, bem como a demanda de graus-dia para completar o seu desenvolvimento em cultivar susceptível e resistentes de soja.

MATERIAL E MÉTODOS

Obtenção do inóculo de Meloidogyne javanica e de Heterodera glycines

M. javanica foi inoculada em soja (Glycine max (L.) Merrill), cultivar EMBRAPA 20 (Doko RC), semeada em vasos em casa de vegetação. Raízes galhadas foram coletadas e os ovos foram extraídos, utilizando-se a técnica de Hussey e Barker (1973). A suspensão de ovos livres de impureza foi colocada em câmara de eclosão e mantida em temperatura de 26 ± 2º C. Apenas os juvenis de segundo estádio (J2), produzidos após 72 horas, foram usados nos ensaios.

O inóculo utilizado de H. glycines foi a raça 3, confirmada pelos testes em cultivares e linhagens diferenciadoras, conforme descrito por Niblack (1992). Plantas de soja, cultivar EMBRAPA 20 (Doko RC) foram inoculadas com ovos de Heterodera glycines raça 3 e mantidas em vasos de argila em casa de vegetação. Trinta dias após, as plantas infectadas foram retiradas dos vasos. Os sistemas radiculares foram colocados em peneira de 0,85 mm sobrepostas a de 0,18 mm e direcionados jatos de água que deslocaram as fêmeas e cistos. Os ovos dos cistos foram obtidos, utilizando a metodologia descrita por Dias et al., (1999). Para isso, as fêmeas e cistos foram rompidos, pressionando um Becker sobre eles na própria peneira de 0,18 mm, acoplada a outra de 0,025 mm. Os ovos liberados foram recolhidos na peneira de 0,025 mm e submetidos à centrifugação em solução de sacarose composta de 454 g de açúcar por litro de água, a 2000 rpm por 1 minuto, para a eliminação de impurezas. A seguir, os ovos foram colocados em câmara de eclosão e mantidos à temperatura de 26 ± 2º C. Nos ensaios foram empregados apenas J2, produzidos após 72 horas.

Penetração e desenvolvimento de Meloidogyne javanica ou Heterodera glycines raça 3 em raiz de soja suscetível e resistente crescida em diferentes temperaturas do solo (Ensaio 1)

Sementes de soja da cultivar EMBRAPA-20 (suscetível a M. javanica e H. glycines), MGBR-46 (Conquista) e BRSMG Garantia (resistentes a M. javanica) e BRSMG Liderança (resistente a H. glycines raça 3) foram desinfestadas com hipoclorito de sódio 1% por 1 minuto e colocadas para germinar em bandejas contendo areia grossa umedecida em sala climatizada a 27 ± 2º C. Após 3 dias da semeadura, as sementes germinadas com radícula de 2 cm foram transferidas para os tubos de ensaio contendo 50 cm3 da mistura solo e areia grossa (2:1) desinfestada com brometo de metila na dosagem de 150 cm3 / m3 da mistura, e previamente umedecida. Quarenta e oito horas após, infestou-se o substrato de cada tubo com 100 J2 de M. javanica ou de H. glycines e, em seguida, foram mantidos em sala climatizada a 27 ± 2º C.

Aos 4 dias após a inoculação, 6 plantas de cada cultivar foram utilizadas para avaliar a penetração de J2 no sistema radicular. Os demais tubos com plantas foram colocados em recipientes de aço inoxidável, de 1200 cm3 e, ao redor, foi adicionada areia grossa, previamente umedecida. Em seguida, o conjunto foi colocado em banho-maria próprio para aquecer vasos (ALVES; CAMPOS, 2001) e instalados em sala climatizada. Dessa forma, a areia nos recipientes e a mistura de solo e areia no interior dos tubos de ensaio foram aquecidos. As temperaturas utilizadas nos banhos-maria foram 20, 24, 28 e 32 ± 0,3º C. Nos banhos-maria foram colocados sensores imersos na areia contida nos recipientes de aço inoxidável com as plantas e suspensos a 0,5 m acima deles para registrar a temperatura e umidade interna e externa dos recipientes. Os sensores foram conectados a cabos e estes, a "datallogers", que registraram os dados a cada 60 minutos. Em seguida, esses dados foram descarregados em computador por meio do programa Pclink 4p.

Foi empregado o delineamento estatístico inteiramente casualizado em fatorial 3 x 4, para o ensaio com M. javanica, com 3 cultivares (EMBRAPA 20, MGBR-46, BRSMG Garantia) e 4 temperaturas, e fatorial 2 x 4 para o ensaio com H. glycines, com 2 cultivares (EMBRAPA 20 e BRSMG Liderança) e 4 temperaturas, em 6 repetições.

Aos 4 dias após a inoculação, isto é, antes das plantas serem transferidas para o banho-maria, e aos 20 dias após a inoculação dos J2, as plantas foram retiradas, jorrando-se água nas bordas dos tubos. Os sistemas radiculares foram lavados sobre peneira de 0,075 mm, para que não houvesse perda de raiz ou fêmeas no caso de H. glycines. Em seguida, as raízes foram submetidas ao clareamento dos tecidos em hipoclorito de sódio a 1,5% por 6 minutos para aquelas colhidas aos 4 dias após a inoculação e de 10 minutos, para aquelas 20 dias a partir da inoculação. As raízes foram enxaguadas em água corrente para eliminar todo o resíduo de hipoclorito de sódio. Foram transferidas para tubo de vidro e adicionada uma solução corante diluída até cobrí-las, preparada com 3,5 gramas de fucsina ácida + 250 mL de ácido láctico + 750 mL de água destilada (adaptado de Byrd et al., 1983) e diluída 1:29 (1 mL de solução corante inicial + 29 mL de água destilada). Em seguida, foram imersas nesse corante e mantidas por 2 minutos em banho-maria com a água em ebulição. O resfriamento total foi feito em condições ambiente durante a noite. As raízes foram, então, lavadas para eliminar o excesso de corante e recolocadas nos tubos, cobertas com solução de glicerina 1:1 (glicerina pura + água destilada) e deixadas em repouso por no mínimo duas horas. Todas as raízes foram colocadas em lâmina de vidro, sobre as quais foram colocadas gotas de glicerina pura. Outra lâmina de vidro foi sobreposta e, assim, estava pronta para a observação no microscópio de objetiva invertida. Quantificou-se, aos 4 dias da inoculação, o número de J2 (M. javanica ou H. glycines) que penetrou no sistema radicular. Aos 20 dias, quantificou-se o número de juvenis do terceiro e quarto estádios de M. javanica conjuntamente (J3 + J4), o número de fêmeas de M. javanica ou H. glycines por sistema radicular, e o percentual de sucesso no parasitismo de ambos, o qual foi obtido, dividindo-se o número de fêmeas pelo número de J2 penetrados x 100, bem como a capacidade reprodutiva do J2 de M. javanica, isto é, o número de ovos produzidos por fêmea.

Reprodução de Meloidogyne javanica e de Heterodera glycines raça 3 em raiz de soja suscetível e resistentes crescidas em diferentes temperaturas do solo (Ensaio 2)

Plântulas de soja de cultivar suscetível e resistente foram cultivadas em tubos de ensaio contendo solo e areia grossa em mistura e inoculadas com M. javanica ou H. glycines, como nos demais ensaios. Empregaram-se os mesmos tratamentos e delineamento experimental do ensaio anterior.

Aos 28 dias da inoculação, as plantas desenvolvidas nas mesmas condições já descritas no ensaio anterior, e infestadas com M. javanica, foram retiradas dos tubos jorrando-se água em seus bordos. Os sistemas radiculares foram lavados e imersos por 15 minutos em solução de floxina B 0,0015% para a coloração das massas de ovos de vermelho. Em seguida, o sistema radicular foi colocado sobre papel toalha por 10 minutos para retirar o excesso de água seguido da contagem do número de massas de ovos por sistema radicular. Para a avaliação do número de ovos, utilizou-se a técnica de Hussey e Barker (1973). Em microscópio de objetiva invertida, estimou-se o número total de ovos de M. javanica por sistema radicular (total) e a capacidade reprodutiva por fêmea, cujo valor foi obtido dividindo-se o número de ovos por sistema radicular pelo número de fêmeas por sistema radicular.

Nas cultivares infestadas com H. glycines, o substrato e o sistema radicular da planta de cada unidade experimental foram retirados dos tubos cuidadosamente e colocados sobre peneira de 0,85 mm sobrepostas à outra de 0,18 mm, e lavados sob jato de água. Em seguida, o sistema radicular inteiro e o material retido na peneira de 0,18 mm foram recolhidos e analisados em lupa. Quantificou-se o número de fêmeas e cistos por planta.

Na análise de variância, para os dois ensaios, utilizou-se o programa Sisvar. Os dados relativos ao número de J3 + J4 e número de massas de ovos de M. javanica foram transformados em raiz de x + 0,5 para a realização da análise de variância. Na comparação das médias, utilizou-se o teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Acúmulo de graus-dias para o desenvolvimento de M. javanica e de H. glygines

Para o cálculo dos graus-dias, a partir da penetração dos J2 nas plantas, tomou-se como base a equação utilizada por Tyler (1933), que estimou o limiar de desenvolvimento para Meloidogyne spp. em 10º C. A equação mencionada foi K = y (t Tb), em que K = constante térmica expressa em graus-dia; y = número de dias para o desenvolvimento pós-penetração do J2 no nematóide, que foi de 24 dias; t = temperatura média do substrato no aquecedor tipo banho-maria; Tb = temperatura base (10º C). Para H. glycines, foi utilizado 5º C como temperatura base, conforme sugerido por Alston e Schmitt (1988) e Schneider et al. (1989), y = 24 dias.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Efeito da temperatura sobre a infectividade e reprodução de M. javanica

A temperatura do solo (de 20º C e 32º C), proporcionou semelhante (P 0,05) sucesso de parasitismo de Meloidogyne javanica na cultivar suscetível (EMBRAPA 20) e nas resistentes (MGBR-46 e BRSMG Garantia), embora a penetração de juvenis do segundo estádio (J2) tenha sido maior (24%) (P 0,05) na suscetível, comparada com às resistentes. Entretanto, o número de outros estádios (J3 + J4 e fêmeas), capacidade reprodutiva, reprodução (massa de ovos e total de ovos) foi maior na cultivar suscetível em comparação com as resistentes (Tabela 1).

Valores de parâmetros avaliados nos ensaios sobre o efeito da temperatura na infectividade e reprodução de M. javanica em cultivares de soja

Dessa forma, muitos J2 de M. javanica que penetraram nas raízes não tiveram sucesso na formação do sítio de alimentação, mesmo na cultivar suscetível, mas a alta capacidade reprodutiva das fêmeas na cultivar suscetível denota alta eficácia de suas células gigantes, no fornecimento de alimento aos juvenis e fêmeas, comparada com as resistentes, produzindo 2,3 a 3,0 vezes mais ovos (total de ovos), comparada, ainda às, resistentes.

Os efeitos resultantes das temperaturas do solo analisados individualmente em cada cultivar de soja infestada com M. javanica diferiram entre si em cada parâmetro avaliado. O número de massas de ovos, total de ovos, de fêmeas e a porcentagem do sucesso de parasitismo dos J2 em cada cultivar foi, significativamente, maior em todas as cultivares (suscetível e resistentes) quando a soja infestada com M. javanica foi crescida a 28º C, indicando aceleração dos eventos ocorridos na pós embriogênese e na postura bem acima nas plantas submetidas às demais temperaturas. Na fase embrionária (dentro do ovo), a temperatura de 28ºC continuamente ou alternada com temperatura baixa (5º C e 10º C) acelera drasticamente a produção de J2 de M. javanica (CAMPOS et al., 2008). Entretanto, essa aceleração nos eventos de pós-embriogênese e postura de M. javanica nas cultivares resistentes (MGBR-46 e BRSMG Garantia) afeta o mecanismo de resistência dessas cultivares. Contudo, esse efeito não se manifestou a 32º C, nas cultivares resistentes (Tabela 2) como ocorrido em tomateiro com gene Mi inoculado com M. javanica e mantidos em temperaturas de 29,1 e 32º C (INOMOTO et al., 1995). Segundo Dropkin (1969), a resistência a Meloidogyne conferida pelo gene Mi em tomateiro é reduzida em temperaturas a partir de 28º C. A redução da resistência de tomateiro, pimentão e alface a M. javanica e/ou a M. incognita também foi observada por Alves e Campos (2001), quando as plantas foram mantidas em sala climatizada em temperaturas do solo de 29,3º C.

Além disto, no trabalho ora executado, o efeito da temperatura de 28º C foi maior na cultivar resistente BRSMG Garantia, proporcionando a M. javanica a produção de ovos (total de ovos) bem próxima da cultivar suscetível EMBRAPA 20 e menor do que na resistente MGBR-46 (Tabela 2). Entretanto, a soma de J3 + J4 foi maior em todas as cultivares quando a temperatura submetida às plantas inoculadas foi de 20º C. Porém, pior em todos os demais parâmetros avaliados (n.º de fêmeas, massas de ovos, total de ovos, percentagem de sucesso de parasitismo dos J2 e capacidade reprodutiva) (Tabelas 1 e 2). Dessa forma, a temperatura de 20º C afeta apenas o desenvolvimento pós-embrionário (J3 + J4 dentro do hospedeiro) independente da resistência do hospedeiro. Nesses estádios (J3 e J4), as relações alimentares com o hospedeiro inexistem (KARSSEN; MOENS, 2006) e a duração deles é curta (3 dias), período em que J3 e J4 usam o hospedeiro, praticamente, como abrigo. Mas a formação de fêmeas e a postura, que constituem os próximos passos do ciclo, são exigentes nutricionalmente (KARSSEN; MOENS, 2006). Portanto, é possível que na temperatura de 20º C os J2 tenham sucesso na formação de células gigantes, o que propicia a alimentação no estádio de J2, mas que são, na maioria, incapazes de suprir nutricionalmente as fêmeas e muito menos a postura. Estudos posteriores deveriam ser direcionados para a mensuração volumétrica e dos aspectos fisiológicos das células gigantes de plantas infestadas por Meloidogyne sp. em diferentes temperaturas e correcioná-los com a reprodução. De forma auxiliar, a temperatura de 20º C também pode ser fisiologicamente mais favorável para a evolução dos estádios J3 e J4. Por exemplo, a temperatura de 10º C propicia a multiplicação celular dentro do ovo de M. javanica, mas impede o avanço do seu desenvolvimento embrionar para gástrula e formação dos juvenis (CAMPOS et al., 2008).

As temperaturas acima de 24ºC favorecem bem as relações M. javanica e as cultivares de soja estudadas em todos os parâmetros avaliados, comparadas com a temperatura de 20º C (Tabelas 1 e 2).

No número total de ovos, as cultivares resistentes infestadas com M. javanica proporcionaram, aproximadamente, 10 vezes mais ovos a 24º C em relação a 20º C, com essa proporção diminuindo na suscetível (EMBRAPA 20) (Tabela 2). Na cultivar suscetível (EMBRAPA 20), em cada temperatura testada, o total de ovos foi sempre maior, comparado às resistentes. Na comparação do efeito das diferentes temperaturas no total de ovos de M. javanica na cultivar suscetível, as temperaturas de 28º C e 32º C proporcionaram maior ( P 0,05) reprodução do que as demais (Tabela 2). A capacidade reprodutiva de fêmeas (ovos / fêmea) de M. javanica foi sempre maior na cultivar suscetível em cada temperatura testada, porém, significativamente maior (P 0,05) na cultivar suscetível colocada a 32ºC comparada às demais temperaturas (Tabela 2).

Valores de parâmetros avaliados nos ensaios sobre o efeito da temperatura na infectividade e reprodução de H. glycines em cultivares de soja

As relações de H. glycines e soja foram analisadas na cultivar EMBRAPA-20 (suscetível) e em BRSMG Liderança (resistente). A suscetibilidade da EMBRAPA 20 se observou numa análise conjunta (soma dos efeitos de todas as temperaturas), em que a porcentagem do sucesso de parasitismo dos J2, número total de fêmeas + cistos e número de fêmeas foram maiores ( P 0,05) comparados com a resistente BRSMG Liderança. Contudo, o número de J2 que penetrou na resistente foi maior (P 0,05) do que na suscetível sem resultar em aumento do sucesso do parasitismo, produção de fêmeas e cistos nos tecidos da cultivar resistente (Tabela 3).

Gourd et al., (1993), relataram emigração de J2 de H. glycines, após 2 horas de inoculação em algumas cultivares resistentes de soja. Portanto, a resistência de BRSMG Liderança ocorre após a penetração do J2. Kim e Riggs (1992) observaram eficácia de J2 de H. glycines na penetração de raízes de cultivares resistentes de soja, como Peking, Forrest e Bedford, porém não formaram o sítio de alimentação interrompendo o seu desenvolvimento.

A temperatura de 28º C aumentou significativamente o número de fêmeas, total de fêmeas + cistos e a porcentagem do sucesso de parasitismo dos J2 de H. glycines, apenas na cultivar suscetível (EMBRAPA 20) com decréscimos progressivos e significantes nas temperaturas de 24 e 20º C e os menores valores (P 0,05) nas temperaturas de 20 e 32º C. Contudo, na cultivar resistente (BRSMG Liderança) o sucesso de parasitismo e número de fêmeas foram mais altos (P 0,05) à temperatura de 24º C, sem discriminar o efeito das demais temperaturas, porém a população total (fêmea + cistos) não foi afetada pelas temperaturas testadas (Tabela 3).

Dessa forma, a expressão dos genes para resistência a H. glycines não é afetada por temperatura elevada como na relação M. javanica e soja, mas, sim, a suscetibilidade.

Requerimento térmico

Foi diferente o requerimento térmico entre o desenvolvimento de M. javanica e H. glycines. Vinte e oito graus centígrados foi a melhor temperatura para o desenvolvimento e reprodução de M. javanica nas cultivares de soja testadas, exigindo requerimento térmico acumulado de 425,76 graus-dia. Já H. glycines teve o seu parasitismo favorecido no intervalo de 24 a 28º C, e o requerimento térmico acumulado nesse intervalo foi de 452,64 e 545,76 graus-dias, respectivamente. Alves e Campos (2001), utilizando temperatura de 29,3º C, encontraram maior parasitismo de M. javanica e M. incognita raça 3, em tomateiro, a 540 graus-dia. H. glycines, Alston e Schmitt (1988) observaram que o melhor intervalo para o desenvolvimento foi com temperaturas médias, variando entre 21 e 31º C, acumulando 429 ± 24 graus-dia. Lauritis et al. (1982) verificaram que, entre 5 e 30º C, 25º C, proporcionou desenvolvimento mais rápido de H. glycines raça 3, acumulando 420 graus-dia. Já, no intervalo de 5 e 32º C, Schneider et al. (1989) encontraram um acúmulo de 520 graus-dia.

Estudos futuros devem ser direcionados para o efeito da temperatura nos eventos, após a penetração, enfocados, principalmente, na migração interna do J2 e na formação do sítio de alimentação. A temperatura afeta a expressão da resistência e suscetibilidade das cultivares de soja.

CONCLUSÃO

A temperatura de 28º C aumentou a reprodução de M. javanica, tanto nas cultivares resistentes como na suscetível. Já, na soja infectada por H. glycines, o número de fêmeas, total de fêmeas + cistos e a porcentagem do sucesso de parasitismo, foram maiores na cultivar suscetível a 28º C, porém, na resistente, o número de fêmeas e a porcentagem do sucesso de parasitismo foram maiores na temperatura 24º C.

Recebido em 30 de março de 2010 e aprovado em 30 de maio de 2011

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Dez 2011
  • Data do Fascículo
    Out 2011

Histórico

  • Aceito
    30 Maio 2011
  • Recebido
    30 Mar 2010
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