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Modernização urbana e a consolidação da psicologia em Natal - Rio Grande do Norte

Urban modernization and establishment of psychology in Natal - Rio Grande do Norte

Resumos

Partindo do pressuposto de que a Psicologia, como construção socioistórica, somente pode ser compreendida se remetida às condições histórico-culturais de sua produção, este trabalho teve como objetivo estudar a implantação da Psicologia da cidade de Natal, Rio Grande do Norte, em conexão com o seu processo de modernização urbana. São apresentados e discutidos os três momentos dessa implantação: a introdução das idéias psicológicas e seu impacto no desenvolvimento da escola secundária nos primeiros anos do século XX, a inserção da Psicologia no ensino superior e a consolidação da Psicologia, com a criação dos cursos e serviços de Psicologia.

Psicologia e modernização urbana; Psicologia no Rio Grande do Norte; História da Psicologia


From the standpoint that Psychology, as a social-historical construct, is connected with cultural and historical contexts, this study aimed to investigate the development of Psychology in Natal, Rio Grande do Norte, Northeast of Brazil, relating to its process of urban modernization. Three moments of this process are presented and discussed: the early development of psychological ideas and their impact on the secondary education in the first years of the twentieth century, the introduction of Psychology in universities and the establishment of Psychology together with the emergence of undergratuated courses and applied psychology services.

Psychology and urban modernization; Psychology in Rio Grande do Norte; History of psychology


ARTIGOS

Modernização urbana e a consolidação da psicologia em Natal - Rio Grande do Norte

Urban modernization and establishment of psychology in Natal – Rio Grande do Norte

Denis Barros de CarvalhoI; Pablo de Sousa SeixasII; Oswaldo H. YamamotoIII

IMestre em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte

IIEstudante de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e bolsista de Iniciação Científica do programa PIBIC/CNPq/UFRN

IIIDoutor em Educação pela Universidade de São Paulo e professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Grupo de Pesquisas Marxismo & Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Caixa Postal 1622, 59078-970, Natal, RN. E-mail: ohy@uol.com.br

RESUMO

Partindo do pressuposto de que a Psicologia, como construção socioistórica, somente pode ser compreendida se remetida às condições histórico-culturais de sua produção, este trabalho teve como objetivo estudar a implantação da Psicologia da cidade de Natal, Rio Grande do Norte, em conexão com o seu processo de modernização urbana. São apresentados e discutidos os três momentos dessa implantação: a introdução das idéias psicológicas e seu impacto no desenvolvimento da escola secundária nos primeiros anos do século XX, a inserção da Psicologia no ensino superior e a consolidação da Psicologia, com a criação dos cursos e serviços de Psicologia.

Palavras-chave: Psicologia e modernização urbana, Psicologia no Rio Grande do Norte, História da Psicologia.

ABSTRACT

From the standpoint that Psychology, as a social-historical construct, is connected with cultural and historical contexts, this study aimed to investigate the development of Psychology in Natal, Rio Grande do Norte, Northeast of Brazil, relating to its process of urban modernization. Three moments of this process are presented and discussed: the early development of psychological ideas and their impact on the secondary education in the first years of the twentieth century, the introduction of Psychology in universities and the establishment of Psychology together with the emergence of undergratuated courses and applied psychology services.

Key words: Psychology and urban modernization, Psychology in Rio Grande do Norte, History of psychology

INTRODUÇÃO

Como qualquer outra construção socioistórica, a Psicologia mantém estreita conexão com o desenvolvimento histórico-cultural da sociedade na qual se insere. Não é possível concebê-la como um saber autônomo e independente das determinações sociais, tal como fazem a historiografia psicológica tradicional e, não raro, muitos profissionais da área. Estudar a história da Psicologia, pois, além de lançar luzes sobre o desenvolvimento das idéias psicológicas, constitui-se em um valioso meio para compreender o contexto sociocultural em que o conhecimento psicológico é engendrado (Rose, 1999).

Adotar uma perspectiva abrangente e multifária em um estudo histórico, todavia, não é uma tarefa tão simples quanto pode parecer à primeira vista. As ferramentas teóricas produzidas pelos saberes psi1 1 Saberes psi, de acordo com Nikolas Rose (1999), são o conhecimento sobre a subjetividade humana produzido pelas elaborações teóricas nos campos da Psicologia, da Psicopatologia , da Psiquiatria e da Psicanálise. , como regra, não conseguem desvelar os processos sociais subjacentes às supostas atividades científicas autônomas. Para que se compreenda essa dinâmica, é necessário que se utilizem os instrumentos teóricos (conceitos e métodos de pesquisa) produzidos pela História, Sociologia, Antropologia e Filosofia da Ciência e História Cultural2 2 Para uma melhor compreensão desse tópico, remetemos o leitor ao excelente texto de Gergen e Graumann (1996). .

Durante muito tempo - e ainda hoje, isso é muito freqüente - a história da Psicologia tem sido vista a partir de um enfoque considerado individualista, no qual sua origem e desenvolvimento estão associados a certos teóricos milagrosamente “iluminados”, sistemas de pensamento ou eventos ímpares na realidade3 3 A famosa e inócua discussão feita na historiografia psicológica a respeito do dualismo "nomes eminentes" versus "espírito do tempo" é criticada por Danziger (1990), Rose (1996, 1999), devido ao seu idealismo hegeliano ingênuo, que compreende a História como um processo movido por idéias que caracterizam um dado momento civilizatório, de uma parte, ou como se a História fosse resultante de ações isoladas de indivíduos privilegiados. .

Para além da perspectiva exposta, impõe-se abordar a Psicologia na sua articulação com outras disciplinas e com o contexto histórico-cultural, considerando-se vetores políticos, morais e socioantropológicos, e seu vínculo ao cotidiano (Danziger, 1990, 1997; Rose, 1999). Nesta perspectiva, entender o passado torna-se um caminho privilegiado para melhor compreender as forças que atuam no presente, com sua carga valorativa e ideológica, desmistificando certas idéias a fim de objetivar o que realmente se pode esperar da Psicologia, e traçando assim um futuro mais claro e, se possível, mais justo.

A produção historiográfica acerca da Psicologia no Brasil é relativamente recente; não obstante as tentativas de reflexão a respeito do tema possam ser encontradas desde o início do século XX. Nas últimas décadas, houve um aumento na publicação de trabalhos e também o surgimento de uma preocupação com questões metodológicas. Brozek e Massimi (1998) apresentaram as tendências metodológicas dominantes na historiografia da Psicologia no Brasil, configurando-as da seguinte forma: em primeiro lugar, há uma historiografia internalista que visa a reconstruir o desenvolvimento histórico de teorias e métodos psicológicos a partir da lógica própria da Psicologia como ciência. Há uma história cultural da Psicologia, que procura demonstrar as raízes do pensamento psicológico na cultura. Pesquisadores que abraçam uma história crítica também produziram trabalhos em que procuravam demonstrar as relações entre conhecimentos, práticas e técnicas psicológicas com os processos de transformações sociais.

Propõe-se, aqui, uma outra angulação analítica no estudo do desenvolvimento histórico da Psicologia, qual seja tomar a Psicologia como um conjunto de saberes, técnicas e práticas criado no contexto da modernidade e difundido pelo processo de modernização a partir de sua relação com a instância de mediação, que é a cidade (Lefebvre, 1968/1991, 1999).

A cidade objeto do presente estudo sobre o desenvolvimento da Psicologia como discurso acadêmico e prática profissional é Natal, capital do Estado do Rio Grande do Norte, localizada na região Nordeste do Brasil. A modernização urbana dessa cidade ocorre em três momentos distintos: 1) a transformação da cidade colonial em uma cidade moderna, no período de 1889-1930; 2) a consolidação da modernidade urbana, após a II Guerra Mundial (1945-1965); 3) a urbanização turística, a partir da primeira metade da década de oitenta (Lopes Júnior, 1997; Oliveira, 1997; Santos, 1998; Soares, 1999).

A Psicologia surge nesssa cidade como disciplina escolar com sua implantação, de forma parcial, nos currículos das principais instituições de ensino secundário da capital potiguar: o Atheneu, a Escola Normal e a Escola Doméstica, durante os cinco primeiros lustros do século XX. Em 1945, a Psicologia aparece no primeiro currículo da Escola de Serviço Social, primeira instituição de ensino superior regular de Natal. O Centro de Psicologia Aplicada, primeira instituição psicológica do Rio Grande do Norte, seria criado em 1965 (Campos, 1998).

Os primeiros psicólogos que trabalhariam e residiriam em Natal apareceram na cidade no início da década de setenta. O primeiro curso de Psicologia seria criado em 1977, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Em 1981, a primeira turma de estagiários do curso de Psicologia da UFRN popularizou a Psicologia Humanista de Carl Rogers, numa Natal que se transformava em uma cidade de consumo (Carvalho, 2001a). Nesse contexto é que se desenvolverá o presente estudo.

O DISCURSO PSICOLÓGICO PRESENTE NAS ESCOLAS MÉDIAS: A PSICOLOGIA NA ESCOLA NORMAL, NO ATHENEU E NA ESCOLA DOMÉSTICA

A educação brasileira no século XIX, apesar da intensa discussão a respeito da necessidade de escolarização da população em várias províncias, é profundamente limitada, em virtude das características políticas e culturais de uma sociedade escravista e autoritária, com baixíssima capacidade de investimento das províncias (Farias Filho, 2000).

Durante todo o período imperial, apenas um instrumento legal acerca da instrução primária foi promulgado no Brasil: a lei de 15 de novembro de 1827, que tinha como objetivo a organização do ensino no país. A referida lei determinou, no seu artigo 1º, a criação de escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos. O artigo 6º definia o currículo como composto por leitura, escrita, as quatro operações de aritmética, prática de quebrados, decimais e proporções, noções gerais de geometria prática, gramática da língua nacional, os princípios de moral cristã e de doutrina da religião católica. O artigo 11º prescrevia o funcionamento de escolas de meninas nas cidades e vilas mais populosas.

O advento da República traz como uma de suas conseqüências a autonomia dos Estados, que passaram a legislar e a administrar os recursos destinados à educação.

A primeira reforma republicana do ensino secundário do Rio Grande do Norte, ocorrida no século passado (1908-1914), trouxe não somente abertura para expansão e melhoria da educação, mas novas concepções pedagógicas para atender a uma realidade em mudança ou, mesmo, modificar a própria realidade do Rio Grande do Norte. Apesar da conotação extremamente utilitarista que se impunha à educação na época, uma nova visão é acrescida: a de um educador que entenda e discrimine seus alunos respeitando o que estes têm de subjetivo. Tal preocupação com a subjetividade tornar-se-á mais clara na proposta da Escola Nova (também conhecida como Escola Ativa), vetor de propagação das teorias e técnicas psicológicas4 4 Dentre as diversas abordagens ao assunto, sugerimos a discussão apresentada por Vidal (2000). .

Na Escola Normal de Natal, em 18 de maio de 1909, o advogado e educador Nestor de Santos Lima (Carvalho, 2001b) assume a cadeira de Pedagogia. A idéia de educação da Escola Normal, que tinha como objetivo formar professores para a rede educacional do Estado, começa a ser modificada com o ingresso do referido professor, inserindo noções de Psicologia como sendo essenciais para o real entendimento da criança. Na verdade, essa perspectiva objetivar-se-á apenas em 1913, com o aparecimento da cadeira de Pedologia na referida escola.

Em 1922, era criada a Escola Normal de Mossoró, cujo primeiro diretor também seria o primeiro professor das disciplinas de Pedagogia e Pedologia - o advogado e professor, formado em 1911 na Escola Normal de Natal - Eliseu Vianna (Carvalho, 2001c), que estudara direito em Fortaleza, tendo sido influenciado pelas mudanças educacionais ocorridas no vizinho Estado. Em 1930, Vianna publicaria dois artigos no jornal A República, escrevendo a respeito dos testes psicológicos. Nota-se, então, que a Psicologia, mesmo como discurso teórico, já versa sobre um assunto de cunho muito mais prático com a menção à psicometria.

No primeiro artigo, Testes Mentais, Eliseu Vianna explica a importância dos testes psicológicos, um pouco de seu histórico e fundamentação, as inovações para o campo das ciências e, principalmente, exemplos de aplicação bem-sucedidos , para convencer o leitor não só de sua importância, mas também da eficácia de sua aplicação na construção do novo projeto educacional. Mas é no seu segundo artigo, Testes de Escolaridade, que Eliseu Vianna defenderá mais ampla e abertamente a utilização dos testes, chegando inclusive a sugerir a substituição das provas tradicionais por testes psicológicos.

A idéia da utilização dos testes inclusive é assimilada por outros profissionais, como bem expressa o professor Nestor dos Santos Lima, numa conferência em 1934 (ano em que também deixaria a Escola Normal), estando assim praticamente consolidado um discurso psicológico, nos seus aspectos mais aplicados, na Escola Normal da capital norte-riograndense.

A Escola Doméstica foi criada em 1914, tendo sido implantada pela Liga de Ensino do Rio Grande do Norte, instituição privada generosamente subsidiada pelo Governo do Estado. A Liga de Ensino foi criada em 23 de julho de 1911, tendo como grande idealizador o intelectual e político Henrique Castriciano.

A Escola Doméstica possuía um ideal inovador: a transformação do Brasil pela educação. Segundo o idealizador da escola, o povo brasileiro possuía muitas qualidades e potencialidades, porém era indisciplinado e relegado ao analfabetismo e ao desamparo. A peculiaridade dessa perspectiva, entretanto, é a ênfase na família, pois apenas enfocando-a é que conseguiríamos educar e disciplinar melhor o homem que faria parte da sociedade. No raciocínio de Castriciano, a mulher seria a peça-chave nesse processo, pois a ela caberia a responsabilidade de criação e educação da criança. Para tanto, as jovens senhoras deveriam ter uma formação científica e cultural, a fim de desempenhar com competência a sua, até então, “tarefa natural” de ser mãe. Necessário se faz destacar que, apesar de essa educação voltada para a mulher ser considerada moderna, comparada aos modelos católicos existentes (como o Colégio Imaculada Conceição, que havia sido criado pelas irmãs Dorotéias em 1902, ensinando as primeiras letras, noções de corte e costura e bordado), o intuito do seu projeto pedagógico não era realmente a emancipação feminina, mas um aprimoramento de suas funções “naturais”, voltadas para sua carreira de esposa e de mãe, e não de profissional independente e emancipada. Um bom exemplo disso está nas proficiências aprendidas na escola, como cuidados científicos com a criança (puericultura), economia do lar e culinária com cardápios em francês, apenas para citar alguns exemplos.

É justamente neste cuidado científico com a criança que se insere a Psicologia5 5 Para uma melhor, compreensão da aplicabilidade da Psicologia (da qual o uso de conhecimentos psicológicos na de cadeira de puericultura da Escola Doméstica foi um exemplo) na resolução de problemas sociais e sua reverberação na elaboração do conhecimento psicológico, ver Danziger (1990) e Rose (1999). . O laboratório de Puericultura da Escola Doméstica foi o primeiro espaço de aplicação prática dos conhecimentos psicológicos na cidade do Natal.

Mil novecentos e dezenove foi o ano da criação do Instituto de Puericultura da Escola Doméstica, fundado por Varela Santiago, também criador do Jardim de Infância dessa instituição de ensino (Carvalho, 2001d). Este seria o primeiro curso de puericultura ministrado no Rio Grande do Norte. O programa abrangia toda a vida da criança, desde o nascimento até o fim da primeira infância. Seu conteúdo era o seguinte:

Puericultura: Cuidados aos recém-nascidos. Peso e temperatura. Alimentação. O berço e os vestidos. Vacinação. Dentição. Higiene da pele, da boca, do nariz, da garganta, dos olhos, dos ouvidos; cuidados em casos de acidentes. O choro, a palavra, o andar, o nervosismo das crianças. Psicologia experimental aplicada à educação infantil (Carvalho, 2001a , p. 106).

Através da puericultura, as mulheres assumem um papel essencial pois é “Ella [que] vai encarregar-se da formação do caracter dos nossos filhos, do desenvolvimento racional da saúde, da intelligencia, da vontade dos pequeninos seres de hoje, mas cidadãos d’amanham, responsaveis pelos destinos da pátria” (Fernandes, 1911, p. 1), de acordo com a compreensão do jurista e educador Sebastião Fernandes (Carvalho, 2001e).

A idéia era que a mulher fosse incutindo na criança, desde cedo, as práticas de respeito, higiene e disciplina. Em termos de ações do Estado, educadoras com formação científica deveriam repassar para a educação infantil os hábitos acima citados em espaços educacionais chamados jardins-de-infância, em conformidade com a fala de Castriciano (1993): (devemos) “conhecer melhor a alma da creança e cultivar-lhe a saude como o jardineiro cuida das plantas” (p. 302).

A Escola Doméstica, portanto, inovava a educação norte-riograndense, com a presença de uma Psicologia Experimental, estudada no laboratório de puericultura, com ênfase na aplicação desse conhecimento ao desenvolvimento infantil, podendo ser considerada a instituição mais importante para o desenvolvimento de uma cultura psicológica em terras potiguares. De acordo com E. Barros (2000), no período de 1923-1925 é implantada a disciplina Psicologia Pedagógica, que estudava os principais temas da Psicologia Geral: cognição, volição, percepção memória e pensamento.

O programa completo da disciplina era o seguinte:

A criança: seu desenvolvimento físico e mental. Organização nervosa. Glândulas de secreção interna. Sentidos, memória, atenção, imaginação. Temperamento, vontade, carácter. Reações sensoriais, motrizes e emotivas. Aparecimento e desenvolvimento da linguagem; expressão lúdica. Desenvolvimento lógico. Testes mentais e pedagógicos.

Escalas psicométricas. Educação: objetivo, fatores, meios, agentes, necessidade. Noções de educação física positiva e negativa. Escola e família: a harmonia que deve existir na ação de ambas. Fatores. Dificuldades. A formação dos hábitos. A ética prática. Da educação moral. Fases. Religião. Sentimento religioso. A formação social e cívica da mulher. A influência da escola. Educação Estética: o belo. Como deve a mãe promover a educação de seus filhos. Respeito à liberdade da criança (Carvalho, 2001a, p. 106-107).

O Atheneu Norte-Riograndense, primeiro colégio potiguar, foi criado pelo presidente provincial Basílio Quaresma através da Lei nº 30, de 30 de março de 1835. Na sua fase inicial, o Atheneu não teve grande importância devido ao reduzido número de pessoas formadas pela instituição e suas fracassadas tentativas de transformação num centro melhor de formação de professores. É apenas na República que sua importância na formação cultural e política dos natalenses aumenta, organizando-se como principal instituição que reúne a “cultura” da cidade (E. C. Barros, 2000).

A primeira inserção do discurso psicológico no Atheneu ocorre em 1911, mediante o Decreto nº 250, que reformulou o sistema de ensino do Estado. O novo regimento do Atheneu, publicado com o Decreto supramencionado, institui a disciplina Lógica e Phisyo-psychologia. Esta disciplina expressa, com extrema clareza, a dificuldade de a Psicologia se diferenciar de suas duas fontes: a Filosofia e a Fisiologia (Danziger, 1990).

Em 1919, o jurista Floriano Cavalcanti ensinou a disciplina Psicologia, Lógica e História da Filosofia, instituída no Atheneu pela Lei n nº 395, de 16 de dezembro de 1915. Floriano Cavalcanti foi um intelectual de suma importância na história potiguar, não apenas enquanto jurista, mas como pensador da cultura e da sociedade da época, o qual considerou a importância do conhecimento psicológico na compreensão dos fatos históricos (Carvalho, 2001f).

A presença da Psicologia no Atheneu era muito mais teórica do que prática. Apesar de a Psicologia Experimental ser o conhecimento dominante, sua presença deveria complementar a análise de outros conhecimentos, sobretudo, o filosófico. Este fato não era injustificado, pois o Atheneu seguia uma lógica utilitarista da educação imposta desde a reforma do ensino secundário em 1908. O currículo do Ginásio Potiguar era determinado pelos exames de preparação das faculdades, principalmente de Direito e Medicina.

A INSERÇÃO DA PSICOLOGIA NO ENSINO DE NÍVEL SUPERIOR

Acompanhando o desenvolvimento urbano, a Psicologia natalense insere-se no ensino superior a partir da década de 40, mais especificamente, no período da Segunda Grande Guerra. A Segunda Guerra Mundial mudou radicalmente o perfil da cidade de Natal. A instalação de bases militares em 1941 reativou a vocação militar da cidade. A chegada de grande contingente militar demandou um aumento na quantidade de serviços nas áreas de construção, infra-estrutura urbana (transportes, hotéis e pensões) e abastecimento . Natal é invadida por centenas de favelados em 1942. A imigração contribuiu para que a cidade praticamente dobrasse sua população em dez anos: de 55.000 habitantes em 1940, atinge o número de 103.000 habitantes em 1950 (Clementino, 1995). Com o fim da guerra e a retirada das tropas estadunidenses, ao problema do aumento populacional adiciona-se uma crise generalizada provocada pelo desemprego. As tradicionais frentes de trabalho são iniciadas, mas não conseguem resolver a crise social que começava a se fazer sentir. O aumento da mendicância, da vagabundagem, da prostituição, o surgimento de um grande número de crianças e adolescentes delinqüentes passaram a preocupar as autoridades e segmentos da hierarquia da Igreja Católica.

Diante desse panorama do pós-guerra, a Juventude Feminina Católica (JFC), criada no contexto do apostolado social da Igreja, em 1945, juntamente com a Legião Brasileira de Assistência (LBA), criaria a Escola de Serviço Social de Natal, visando à formação de técnicos capazes de lidar com as questões levantadas pela crise econômica e (um motivo menos explícito) para evitar o crescimento de movimentos sociais que visassem transformar a sociedade brasileira. Primeiro curso de nível superior do Estado do Rio Grande do Norte, o curso de Serviço Social se torna também a primeira instituição de ensino superior a inserir a Psicologia enquanto disciplina na sua grade curricular.

Segundo Teixeira (1947), a primeira monitora do curso, as razões para a criação da Escola de Serviço Social de Natal foram:

1) As necessidades da região, que demandava a presença de trabalhadoras sociais em número até maior do que a região Sudeste;

2) o número reduzido de assistentes sociais formadas pelas escolas do Sudeste não permitia que fosse possível convidá-las para o trabalho no Nordeste;

3) questões econômicas e afetivas tornavam praticamente impossível enviar estudantes para as escolas do Rio ou de São Paulo. Além disso, uma vez formadas, essas jovens poderiam não ter mais interesse de voltar para sua região de origem.

Em Natal, não existiam condições para que as moças continuassem seus estudos pós-secundários. As normalistas estavam descontentes com os reduzidos vencimentos que recebiam e desejavam ter outras possibilidades de trabalho. O número de alunas que concluíam o curso secundário era cada vez maior, sem que as mesmas tivessem nenhuma formação posterior. A influência estadunidense fez com que muitas jovens da classe média passassem a procurar trabalho.

A disciplina de Psicologia era ministrada por um distinto potiguar, Padre Nivaldo Monte. Irmão e discípulo do ilustre Cônego Luís Monte, o padre Monte foi um dos grandes estudiosos e divulgadores da Psicologia no Estado. Assumiu a direção da Escola de Serviço Social e, a partir de 1947, passou a publicar livros pela Editora Vozes – alguns deles sobre Psicologia6 6 Os livros são: Formação do caráter (1947), Os temperamentos (1968) e A Dor (1947). . Nivaldo Monte passou também a ensinar Psicologia na Escola Doméstica e na Escola Normal. O programa da disciplina de Psicologia, ministrada pelo padre Nivaldo Monte, constava de:

Psicologia: 50 horas7 7 Tabela adaptada de Teixeira (1947). Em 1950, o tema "métodos da Psicologia" foi acrescentado ao programa. Em 1952 acresceu o "estudo da psicologia das idades". Em 1954, é incluído o estudo da "psicologia das mulheres" (Carvalho, 2001a).

• Introdução – A psicologia experimental e a psicologia filosófica. As orientações fundamentais na psicologia experimental: correntes conscientista, fisiologista e vitalista. Os métodos da psicologia experimental.

• Psicologia Experimental – Psicologia Analítica: O reflexo. A consciência, o inconsciente e o subconsciente. Sensação. Percepção. Imaginação. Associação. Memória. Instinto. Inteligência: idéia, juízo, raciocínio. As tendências sensoriais. Emoção e paixão. Vontade e livre-arbítrio. Os sentimentos.

• Psicologia Sintética ou Diferencial – Tipos psicológicos. O temperamento e o caráter. Características psicológicas de cada sexo e de cada idade.

• Psicologia Filosófica: a ciência e o estudo da Alma. As grandes teses da psicologia filosófica: a existência da alma, a espiritualidade da alma e a imortalidade da alma.

Outra grande fonte de conteúdo psicológico, no referido curso, foram os trabalhos de conclusão. Esses eram reflexões teóricas sobre um tema específico (monografia) ou relatórios de estágios. Examinemos, então, um resumo dos três mais importantes trabalhos que lidavam com a temática psicológica.

A monografia O Serviço Social: contribuição valiosa na formação da personalidade, de Maria Crinaura Freire Alves, apresentada em dezembro de 1950, foi a primeira a tratar de tema psicológico. Na introdução do seu trabalho, Alves (1950) apresenta a evolução do Serviço Social no século XX. Ela divide essa evolução em duas etapas: a primeira, chamada fase sociológica e compreendida entre 1900 e 1920, acentua com certo exclusivismo as influências sociais nos desajustamentos. Todo desequilíbrio teria origem na organização equivocada da sociedade. A segunda etapa seria marcada pelo predomínio do paradigma Psicológico; caracterizado pela compreensão do valor das emoções, dos afetos, do subconsciente e do “eu”, ou seja, o Serviço Social passaria a buscar nas ciências psicológicas o fundamento científico de sua prática.

A segunda monografia é O problema médico-social do doente mental, de Sônia Galvão de Campos, apresentada em 1959. O trabalho se divide em três partes: na primeira, aborda a Casa de Saúde de Natal (histórico, funcionamento, o serviço social); na segunda parte, descreve a atuação do serviço social junto ao doente; na terceira, o trabalho do serviço social psiquiátrico junto à família. Na conclusão do seu trabalho, Sônia Campos (1959) apresenta algumas sugestões para a melhoria das condições de vida da população, entre as quais, uma maior disseminação de consultórios de higiene mental e uma ação mais direta junto aos escolares, aos pais, operários, comerciários e outros trabalhadores, visando principalmente à profilaxia, como também um tratamento mais adequado. A configuração das idéias psicológicas como essenciais à manutenção da ordem pública torna-se cada vez mais evidente no discurso das assistentes sociais natalenses.

Em 1961, Lúcia Gusmão apresenta a monografia O Serviço Social numa clínica pedagógica de menores excepcionais. O trabalho está dividido em três partes: na primeira, ela apresenta um histórico da Clínica Pedagógica Heitor Carrilho. Na segunda, ela descreve o “menor excepcional”8 8 Preferimos manter a expressão usada pela autora, apesar da sua imprecisão. – seus problemas e possibilidades – e na última, descreve a ação do assistente social junto ao menor e sua família.

O objetivo da Clínica Pedagógica consistia em oferecer ao “menor excepcional” aquilo que sua família não podia oferecer. A autora lembra que o número possível de crianças excepcionais em Natal era de aproximadamente seis mil, o que equivale a três por cento da população total da cidade. Uma ameaça à ordem, portanto, silenciosamente se configura na capital potiguar, tornando-se um dos mais ameaçadores males da modernização célere da cidade9 9 De fato, os primeiros grupos de crianças e delinqüentes da cidade de Natal surgiram após o término da Segunda Guerra Mundial, quando a miséria e a pobreza se espraiaram na efêmera prosperidade da cidade potiguar, que, após a saída dos soldados estadunidenses, viu crescer o desemprego e a violência em seu meio. . Gusmão (1961) não é pessimista quanto a essa questão; acredita que a profilaxia dos desajustamentos sociais pode ser realizada, desde que alguns cuidados sejam tomados. Em suas palavras: “ Precisamos dar uma assistencia (sic) especializada ao menor excepcional, oferecendo-lhe oportunidade de tornar-se útil a si e a sua comunidade. Isso só o conseguiremos, se lhe proporcionar um ambiente adequado onde se possa produzir alguma coisa sob supervisão especializada” (p. 44).

Figura de destaque no meio psiquiátrico natalense, Severino Lopes da Silva teria também um importante papel na história da Psicologia local ao criar a Clínica Heitor Carrilho em 1955 e a Casa de Saúde Natal, em 1956, as primeiras instituições psiquiátricas privadas do Estado. Além de servirem como locais de estágios para as assistentes sociais, como já referiremos ao discutirmos os trabalhos de conclusão de curso, essas instituições forneceram alguns cursos de Psicologia para universitários. O conteúdo desses cursos era extremamente diversificado, constando desde noções de Psicologia Geral, passando pelo estudo da consciência, até uma breve discussão sobre práticas psicoterápicas. Severino Lopes, além das já citadas contribuições, cria também a disciplina Psicologia Médica, em 1961, na recém-inaugurada Faculdade de Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Campos, 1998).

A CONSOLIDAÇÃO DA PSICOLOGIA EM NATAL

O surgimento de um novo ciclo de modernização urbana de Natal ocorre atrelado a uma nova forma de produção econômica: a de espaços como signos de fruição estética. Acompanhando Lopes Júnior (1997), chamaremos esse processo de urbanização turística. Isso significa que o processo de modernização urbana da cidade, iniciada no começo do século XX, sofre uma substancial mudança na década de oitenta, de modo que é possível denominá-lo de pós-modernização urbana ou modernização urbana tardia, enfatizando sua diferenciação da modernização urbana simples, que se consolidou em Natal na década de quarenta.

A cidade que surge dessa forma de modernização urbana é marcada pela valorização do consumo, pela ênfase no prazer e pelo aparecimento de lugares de consumo como espaços econômicos dinâmicos e inovadores. Neste contexto é que a Psicologia se consolida como conhecimento acadêmico, obtém sua autonomia institucional, além de conseguir ter a instalação de sua primeira agência formadora.

A Psicologia, portanto, aparece profissionalmente em Natal como produtora de serviços que logo se tornam vinculados à cultura hedonista que surge na cidade.

No dia oito de abril de 1962, o então governador Aluísio Alves cria a Fundação José Augusto, que tem como uma de suas finalidades a manutenção da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Natal (FFCL). A FFCL é resultante da incorporação, pelo Governo Estadual, da antiga Faculdade de Filosofia de Natal, criada em 12 de março de 1955 pela Associação dos Professores do Rio Grande do Norte. Em 1960, eram criados naquela antiga faculdade os cursos de Pedagogia e Didática.

A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Natal passa a ser um dos mais importantes canais de divulgação da Psicologia através da disciplina Psicologia da Educação, oferecida ao cursos de História, Geografia e Letras Neolatinas.

O psiquiatra Francisco Quinho Chaves graduou-se em Medicina pela Faculdade de Recife, realizando sua especialização em psiquiatria na antiga Universidade do Brasil (Rio de Janeiro), sob a orientação de Leme Lopes, de quem se tornou assistente.

Em 1964, de volta a Natal, passa a lecionar a disciplina de Psicologia da Educação, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Natal. Como havia sido técnico, em Recife, da equipe de José Octávio Freitas Filho10 10 De acordo com Mokrejs (1993), José Octávio de Freitas Filho foi um dos primeiros a se interessar por terapia psicanalítica em Pernambuco, tendo organizado um grupo de estudos. Além de Freud, Freitas Filho também citava os culturalistas, como Fromm e Horney. , que havia criado um serviço de Psicologia, Chaves Filho (1996) – para introduzir uma forma de aprendizagem mais técnica no curso de Pedagogia, resolve criar um serviço semelhante em Natal. Após a aprovação do Diretor da Faculdade de Filosofia - prof. Francisco das Chagas Pereira - é criado, em 18 de setembro de 1965, o Centro de Psicologia Aplicada (CEPA), primeira instituição especificamente psicológica do Rio Grande do Norte. A pedagoga Vanilda Paiva Chaves, que havia tido um treinamento no CEPA do Rio de Janeiro, passa a ser a primeira diretora da recém-criada instituição, que começa a funcionar no porão da Fundação José Augusto, na rua São José do Mipibu, Petrópolis (Campos, 1998).

De acordo com Chaves Filho (1996), “ O enfoque dado ao CEPA, naquele momento, era clínico. Buscava-se e pesquisava-se no comportamento humano, a sua patologia, o anormal” (p. 110). O CEPA, portanto, funcionava como uma instituição auxiliar no diagnóstico psiquiátrico. Alguns dados nos ajudarão a entender melhor essa ênfase no diagnóstico psiquiátrico que marcou o primeiro ano do CEPA. Das setenta e seis pessoas atendidas no primeiro ano de funcionamento, de acordo com o fichário do arquivo da instituição, trinta e sete foram encaminhadas para atendimento, com a seguinte distribuição por agentes encaminhadores: escola, 2 encaminhamentos; outros, 3 encaminhamentos; psiquiatras, 32 encaminhamentos.

Além disso, como nos mostra a Tabela 1, o número de psicodiagnósticos corresponde a mais da metade dos procedimentos realizados pelo CEPA.

Apesar dessa característica, era a escola o local privilegiado da intervenção diagnóstica dos técnicos do CEPA11 11 O encaminhamento de crianças pelas escolas evidencia uma incipiente psicologização dos problemas escolares em Natal. .

O Centro de Psicologia Aplicada, concomitantemente com os serviços técnicos que produziu, foi também responsável pela divulgação do conhecimento psicológico através de seminários e palestras. Um dos temas mais controvertidos nesses seminários foi o da sexualidade.

A sexualidade do natalense começou a ser discutida e questionada a partir da década de sessenta. Um marco dessa mudança foi a publicação do artigo Natalense – esse neurótico sexual, escrito por Marcos Aurélio de Sá e publicado na Tribuna do Norte em sua edição do dia quatro de junho de 1967. O texto, na verdade, comenta um conjunto de dados produzido pelo Centro de Psicologia Aplicada (CEPA) da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Natal.

O CEPA apresentou um levantamento realizado com 154 pessoas, de ambos os sexos e com idade entre 14 e 50 anos, aplicando um teste de inteligência geral (Fator G ou Teste de Raven) e os testes de personalidade PMK e o Rorscharch .

O jornalista começa seu artigo definindo que um neurótico sexual é um indivíduo que não se realiza, ou se realiza por meios anormais, em suas relações sexuais (Sá, 1967). Em seguida, faz uma afirmação desconcertante: três em cada cinco habitantes de Natal são neuróticos sexuais. A Tabela 2 nos mostra a tabulação completa dos dados:

No ano seguinte, o seminário Psiquismo do adolescente: sexo, costumes, idéias e rebeldia, promovido pela Cadeira de Psicologia da Faculdade de Filosofia e pelo Serviço de Psicologia Aplicada (o novo nome do antigo CEPA)12 12 A mudança de CEPA para SEPA ("Serviço", em vez de "Centro") se deveu à existência de uma instituição homônima, o Centro de Psicologia Aplicada, no Rio de Janeiro, detentora do registro da sigla. seria realizado. O objetivo era debater os problemas gerais dos adolescentes, a partir dos dados de uma pesquisa feita por alunos do curso de Pedagogia, com uma amostra de 1.200 estudantes de diversos estabelecimentos de ensino de Natal, com idade entre 14 e 18 anos. Os resultados do seminário foram resumidos em uma reportagem publicada no jornal Tribuna do Norte, do dia 20 de junho de 1968:

O adolescente de Natal se considera avançado; afirma que seus pais são contra seus ideais avançados; considera a incompreensão dos mais velhos (sic) mas apesar disto acham seus pais atualizados; é a favor da mini-saia; apóia os cabeludos e concorda com a roupas coloridas dos hippies; o sexo masculino acha em sua maior parte que o homossexualismo é natural, enquanto que o feminino acha que é doença; o masculino é a favor do amor livre, porém não quer casar-se com moça que não seja virgem (Carvalho, 2001a, p. 3).

O seminário também concluiu que os adolescentes que não estão preparados para aceitar as proibições e imposições morais familiares podem ter problemas de ordem homossexual, assinalando uma mudança na postura das instituições de ensino no que diz respeito às questões sexuais dos adolescentes, provocada pela modernização dos costumes que se gestava na cidade.

A Faculdade de Filosofia seria incorporada à Universidade do Rio Grande do Norte, criada em 1958 e federalizada em 1960. O Serviço de Psicologia Aplicada (SEPA) passaria a ser um órgão complementar, subordinado diretamente ao Reitor da Universidade.

O SEPA da UFRN tinha um corpo técnico, no início da década de setenta, composto somente por pedagogas e sob a supervisão de um psiquiatra. O conselheiro Paulo Rosas, do Conselho de Psicologia da Segunda Região (com sede em Recife e abrangendo os Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas), para regulamentar o funcionamento do único serviço psicológico do Estado do Rio Grande do Norte, sugere a contratação de dois psicólogos pernambucanos (Francisco Correia e Ana Lobo), que foi realizada em dois de janeiro de 1971. O contrato previa que os dois ensinassem na Faculdade de Educação a disciplina Testes e Medidas Educacionais e atendessem no SEPA13 13 Todas as informações sobre o desenvolvimento do SEPA e da criação do Curso de Psicologia foram retiradas de Campos (1998). .

Em março de 1972, chega a Natal a psicóloga gaúcha Nilza Maria Molina Mendes, graduada na faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul em 1968. A convite do Reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Genário Fonseca, ela assume o cargo de diretora do SEPA. Nesse mesmo ano, a Resolução nº 74 de 20, de dezembro, do Conselho de Ensino e Pesquisa (CONSEPE) regulariza o estágio em Psicologia Clínica14 14 A resolução, contudo, contrariava frontalmente a Lei no 4.119/62 - que regulamentava a prática e a formação profissional do psicólogo. (psicodiagnóstico e orientação vocacional) no SEPA para os alunos do Curso de Pedagogia, o que ocorreria até 1976, quando é criado o Curso de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o primeiro do Estado potiguar. O reitor Domingos Gomes de Lima, em meados da década de setenta, conversa com o psiquiatra Quinho Chaves – em um encontro ocorrido nos Estados Unidos, onde este último se encontrava estudando – a respeito da importância e viabilidade da criação de um curso de Psicologia. Os motivos mais óbvios para esse interesse seriam o fato de a cidade de João Pessoa (PB) já possuir dois cursos e a necessidade de expandir o número de cursos da UFRN para que houvesse um aumento de verbas destinadas à instituição.

O diretor do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA), João Batista Ferreira da Silva, criou – através da Portaria nº 010/76-DC de 28 de maio de 1976 – uma comissão composta por quatro professores, a saber: Padre Agnelo Barreto, José Pires, Maria Dilma Siqueira e Rosa de Fátima Torres Lima, esta última a única psicóloga da comissão,15 15 Rosa de Fátima Torres Lima concluiu seu curso na Universidade de Brasília e retornou a Natal em 1972, sendo, portanto, a primeira psicóloga natalense a exercer a sua profissão na cidade. para estudar a viabilidade de funcionamento do Curso de Psicologia, a ser criado pelo Universidade.

Antes mesmo de a comissão apresentar seu parecer, a imprensa natalense divulgava a criação do curso de Psicologia da UFRN. A comissão, considerando que o corpo docente disponível era reduzidíssimo e que somente três psicólogas ensinavam na UFRN (Nilza Molina, Rosa de Fátima e Maria Ruth Dantas de Araújo, oriunda da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), decidiu propor que o curso não fosse criado naquele momento.

O reitor ignora o parecer e o Curso de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte é criado pela Resolução nº 89 do CONSEPE, em 29 de setembro de 1976.

Em 1977, o curso começa a funcionar, com apenas três psicólogas no corpo docente. Em 1980, o Departamento de Psicologia é criado, mas somente começa a funcionar no dia 24 de novembro de 1981, sendo a professora Rosa de Fátima sua primeira chefe. A criação do Departamento de Psicologia pode ser considerada um marco no processo de construção da autonomia acadêmica da Psicologia no Rio Grande do Norte. No final da década de setenta, alguns psicólogos são contratados e “uma onda paulista” invade o Departamento de Psicologia, trazendo novas idéias e influências para a cidade.16 16 Os professores José Márcio Capriglione e José Queiroz Pinheiro, graduados pela Universidade de São Paulo, e Maria Emília Yamamoto e Oswaldo Hajime Yamamoto, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, são os componentes dessa "ala paulista", que influenciará o desenvolvimento acadêmico da Psicologia norte-riograndense.

Com o início do Curso de Psicologia, algumas mudanças ocorrem no SEPA. Embora legalmente fosse um órgão suplementar vinculado diretamente ao Reitor da Universidade, o Serviço de Psicologia Aplicada passa a receber, a partir de 1981, os alunos estagiários em Psicologia Clínica do Curso de Psicologia, servindo, portanto, de Clínica-Escola.

Embora essa situação fosse deplorada por alguns psicólogos docentes, que prefeririam a retirada dos técnicos do SEPA, o Serviço Aplicado de Psicologia estava nas mãos das pedagogas, que continuavam aplicando testes e fazendo psicodiagnóstico. Na verdade, em 1976 – mesmo com a presença de duas psicólogas em seu quadro de funcionários – o SEPA tem uma sucessão de diretoras pedagogas na sua direção.17 17 Havia uma discreta disputa de poder entre as pedagogas e as psicólogas. Além disso, como o cargo de diretor passou a ser bem remunerado, algumas pessoas acionaram a cultura patrimonialista da velha politicalha potiguar para conseguirem ocupar o cargo. Somente em 1980, quando a instituição se preparava para receber os primeiros estagiários do curso de Psicologia, é que uma psicóloga, Maria Ruth Dantas de Araújo, voltaria a dirigir o SEPA.

O estágio em Psicologia é de fundamental importância para a formação profissional. É nele que o aluno começa a se tornar, de fato, um psicólogo. A prática se torna uma constante neste período, fazendo com que o estagiário sinta como é o espaço em que atua o profissional, como deve ser sua postura, sua fala, seus gestos e, principalmente, seu silêncio. O supervisor acadêmico desempenha um papel essencial neste processo. De acordo com Ana Maria Jacó-Vilela (1996, p. 8),

A peculiaridade desse lugar ocupado pelo supervisor introduz também um modo de funcionamento específico à prática psi: o entendimento de que a formação não se encerra com a obtenção do diploma de graduação mas deve continuar ainda por longos anos, implicando principalmente em terapia e supervisão.

Os primeiros estágios do curso de Psicologia da UFRN ocorreram no período 1981-1985, sob a égide da Psicologia Humanista e o predomínio das idéias de Carl Rogers. Professoras psicólogas supervisoras, contratadas no momento em que o curso começava a se preparar para oferecer estágio, determinaram a hegemonia do humanismo na Psicologia Clínica norte-riograndense. As professoras Elza Maria do Socorro Dutra e Cosma Nogueira Linhares podem ser consideradas como as responsáveis pela introdução das idéias de Rogers no Rio Grande do Norte. A psicoterapia humanista, mais precisamente, seria a atividade clínica predominante no início da década de oitenta em Natal.

A oferta da psicoterapia humanista no SEPA representa um outro marco na história da cidade de Natal. Pela primeira vez na capital potiguar era oferecido um serviço psicoterápico capaz de atender uma razoável quantidade de pessoas. A abordagem psicanalítica, restrita à prática de uns poucos psiquiatras, não pode difundir maciçamente em Natal a cultura psicológica que pode ser considerada como uma das principais características da classe média “intelectualizada” moderna (Figueira, 1985)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Psicologia, assim como a Sociologia, é um típico produto da cultura urbano-industrial desenvolvida nas grandes cidades européias e estadunidenses, a partir do último quartel do século dezenove (Carvalho, 2001a).

Partimos do suposto de que um veio fecundo de análise seria considerar a Psicologia como “Psicotecnologia”, mais do que como uma desinteressada área do conhecimento. Nessa perspectiva, o percurso deste trabalho foi descrever a inserção de algumas psicotécnicas na vida cotidiana natalense, sem a pretensão de exaurir o assunto. O desenvolvimento acadêmico do discurso psicológico na capital potiguar, desde sua inserção nas escolas secundárias natalenses até sua consolidação com a criação do Curso de Psicologia da UFRN, foi marcado pela sua vinculação com tarefas práticas, na qual se aplicavam técnicas produzidas alhures em um desconhecido contexto local.

Entre as questões em aberto a merecerem investigação na seqüência deste estudo, figuram: a recepção, por parte dos usuários, dos serviços psicológicos no momento em que foram introduzidos massivamente em Natal (os testes a partir de meados da década de sessenta e a psicoterapia no início da década de oitenta); uma história da psicoterapia em Natal que considere a importância da ação dos psicólogos na popularização desse serviço (a década de noventa representa um marco que assinala uma significativa mudança, com a instalação de centros de formação das mais diversas abordagens, com a vaga lacaniana e o crescimento das terapias corporais como exemplos); a relação da Psicologia com a condição feminina, algo que não é um apanágio da capital potiguar18 18 A importância que a Psicologia teve na Escola Normal, na Escola Doméstica e no curso de Serviço Social não foi ainda avaliada. Algumas mulheres tiveram um papel importante no ensino da Psicologia antes da criação do Curso (como exemplos, Leora James, que ensinou noções de Psicologia na disciplina Pedagogia da Escola Doméstica durante os primeiros anos da instituição 󞨯-1922] e Elsa Sena, na Escola normal e na Faculdade de Educação no final da década de cinqüenta e no início da década seguinte) . Também acreditamos que seria profícuo um estudo da presença de idéias psicológicas e da Psicologia Científica na obra dos mais importantes intelectuais natalenses, especialmente Antônio Marinho, Antônio de Souza (o Policarpo Feitosa), Henrique Castriciano, Nestor dos Santos Lima, Câmara Cascudo, Sebastião Fernandes, Edgar Barbosa, Floriano Cavalcanti, Nilo Pereira e padre Monte. Um estudo mais sistemático a respeito da produção mais técnica sobre a Psicologia (os estudos sobre testes psicológicos de Eliseu Viana, Luís Antônio dos Santos Lima e Antônio Fagundes, como também os textos do padre Nivaldo Monte sobre dor e temperamentos) também seria importante. Da mesma forma, a criação do estudos de pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, juntamente com o surgimento do primeiro curso de Psicologia em uma instituição privada (a Universidade Potiguar), marcaria o início de um novo período na história da Psicologia natalense, no final da década de noventa. Com isso, a Psicologia, como saber e profissão, chegaria à maturidade na terra natal de Luís da Câmara Cascudo.

A história continua...

Recebido em 18/12/2002

Revisado em 03/05/2002

Aceito em 10/05/2002

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  • Endereço para correspondência

    Grupo de Pesquisas Marxismo & Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Caixa Postal 1622, 59078-970, Natal, RN.
    E-mail:
  • 1
    Saberes
    psi, de acordo com Nikolas Rose (1999), são o conhecimento sobre a subjetividade humana produzido pelas elaborações teóricas nos campos da Psicologia, da Psicopatologia , da Psiquiatria e da Psicanálise.
  • 2
    Para uma melhor compreensão desse tópico, remetemos o leitor ao excelente texto de Gergen e Graumann (1996).
  • 3
    A famosa e inócua discussão feita na historiografia psicológica a respeito do dualismo "nomes eminentes"
    versus "espírito do tempo" é criticada por Danziger (1990), Rose (1996, 1999), devido ao seu idealismo hegeliano ingênuo, que compreende a História como um processo movido por idéias que caracterizam um dado momento civilizatório, de uma parte, ou como se a História fosse resultante de ações isoladas de indivíduos privilegiados.
  • 4
    Dentre as diversas abordagens ao assunto, sugerimos a discussão apresentada por Vidal (2000).
  • 5
    Para uma melhor, compreensão da aplicabilidade da Psicologia (da qual o uso de conhecimentos psicológicos na de cadeira de puericultura da Escola Doméstica foi um exemplo) na resolução de problemas sociais e sua reverberação na elaboração do conhecimento psicológico, ver Danziger (1990) e Rose (1999).
  • 6
    Os livros são:
    Formação do caráter (1947),
    Os temperamentos (1968) e
    A Dor (1947).
  • 7
    Tabela adaptada de Teixeira (1947). Em 1950, o tema "métodos da Psicologia" foi acrescentado ao programa. Em 1952 acresceu o "estudo da psicologia das idades". Em 1954, é incluído o estudo da "psicologia das mulheres" (Carvalho, 2001a).
  • 8
    Preferimos manter a expressão usada pela autora, apesar da sua imprecisão.
  • 9
    De fato, os primeiros grupos de crianças e delinqüentes da cidade de Natal surgiram após o término da Segunda Guerra Mundial, quando a miséria e a pobreza se espraiaram na efêmera prosperidade da cidade potiguar, que, após a saída dos soldados estadunidenses, viu crescer o desemprego e a violência em seu meio.
  • 10
    De acordo com Mokrejs (1993), José Octávio de Freitas Filho foi um dos primeiros a se interessar por terapia psicanalítica em Pernambuco, tendo organizado um grupo de estudos. Além de Freud, Freitas Filho também citava os culturalistas, como Fromm e Horney.
  • 11
    O encaminhamento de crianças pelas escolas evidencia uma incipiente psicologização dos problemas escolares em Natal.
  • 12
    A mudança de CEPA para SEPA ("Serviço", em vez de "Centro") se deveu à existência de uma instituição homônima, o Centro de Psicologia Aplicada, no Rio de Janeiro, detentora do registro da sigla.
  • 13
    Todas as informações sobre o desenvolvimento do SEPA e da criação do Curso de Psicologia foram retiradas de Campos (1998).
  • 14
    A resolução, contudo, contrariava frontalmente a Lei no 4.119/62 - que regulamentava a prática e a formação profissional do psicólogo.
  • 15
    Rosa de Fátima Torres Lima concluiu seu curso na Universidade de Brasília e retornou a Natal em 1972, sendo, portanto, a primeira psicóloga natalense a exercer a sua profissão na cidade.
  • 16
    Os professores José Márcio Capriglione e José Queiroz Pinheiro, graduados pela Universidade de São Paulo, e Maria Emília Yamamoto e Oswaldo Hajime Yamamoto, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, são os componentes dessa "ala paulista", que influenciará o desenvolvimento acadêmico da Psicologia norte-riograndense.
  • 17
    Havia uma discreta disputa de poder entre as pedagogas e as psicólogas. Além disso, como o cargo de diretor passou a ser bem remunerado, algumas pessoas acionaram a cultura patrimonialista da velha politicalha potiguar para conseguirem ocupar o cargo.
  • 18
    A importância que a Psicologia teve na Escola Normal, na Escola Doméstica e no curso de Serviço Social não foi ainda avaliada. Algumas mulheres tiveram um papel importante no ensino da Psicologia antes da criação do Curso (como exemplos, Leora James, que ensinou noções de Psicologia na disciplina Pedagogia da Escola Doméstica durante os primeiros anos da instituição 󞨯-1922] e Elsa Sena, na Escola normal e na Faculdade de Educação no final da década de cinqüenta e no início da década seguinte)
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      13 Dez 2004
    • Data do Fascículo
      Jun 2002

    Histórico

    • Revisado
      03 Maio 2002
    • Recebido
      18 Dez 2000
    • Aceito
      10 Maio 2002
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