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Em discussão a periodicidade de uma publicação cientifica

EDITORIAL

Em discussão a periodicidade de uma publicação cientifica

Maria Lúcia Boarini

Este número inaugura uma nova fase da Psicologia em Estudo, em termos de periodicidade, que passará a ser quadrimestral. Para nós este fato pode ser motivo de júbilo, se considerarmos que, sem perder o padrão de qualidade, incrementamos o número das edições a serem publicadas durante o ano, sem contar (como sempre) com uma estrutura de apoio para o trabalho de editoração, embora neste ano de 2004 já um pouco aliviados pelo apoio financeiro institucional proporcionado pelo CNPq. Entendemos que, com esta mudança, Psicologia em Estudo pode melhor atender à demanda e desta forma imprimir uma nova “velocidade” ao fluxo da produção cientifica a nós confiada para divulgação.

Não obstante, se satisfeitos estamos com esta nova fase, contraditoriamente esta “velocidade” também nos conduz ao terreno da preocupação. Queremos com isto dizer que, no campo das ciências humanas, esta “velocidade” pode revelar-se uma má conselheira, se absorvida sem critérios. A especificidade desta área do conhecimento a diferencia visceralmente, se assim podemos dizer, das áreas biológicas, exatas e outras do gênero. Nestas a obsolescência é uma ameaça constante, sobretudo quando há uma dependência direta de novas tecnologias, de novas descobertas etc. Na área de humanas, cujo objeto de estudo é a investigação de processos sociais, culturais, psicológicos etc., o arcaico não se faz sentir tão prontamente; pelo contrário, como afirmava o importante filósofo Francis Bacon (1561-1626), “A verdade é filha do tempo e não da autoridade”. Aliás, este pressuposto é válido para qualquer campo de saber, sobremaneira quando se trata da área de humanas.

Assim temos claro haver uma linha tênue entre os benefícios e os problemas que poderão advir da agilização de uma nova velocidade na publicação dos periódicos da área de humanas. Por um lado esta “velocidade” pode facilitar a divulgação de trabalhos que, em principio, são interessantes para o avanço do saber. Atualmente, em virtude do pequeno número de periódicos de Psicologia que mantêm a regularidade e a continuidade das edições, há uma verdadeira obstrução das possibilidades de publicação (estamos convergindo nossa atenção para a área da Psicologia). Por outro lado, esta mesma “velocidade” pode estimular e facilitar ainda mais o produtivismo nada interessante para o conhecimento, de certa forma presente em nossos dias. Ora - dirão alguns - o processo de revisão pelos pares é uma forma de garantir a qualidade das publicações. Sem dúvida, é inestimável a importância da consultoria ad hoc. Buscando na linguagem um recurso para traduzir nosso sentimento em relação aos conselheiros ad hoc, diremos que eles são “a alma” de uma publicação científica. A eles devemos tributo se nosso periódico Psicologia em Estudo vem conseguindo manter um razoável rigor em suas edições. Entretanto, através de nossa experiência na editoria deste periódico e “desabafos” de alguns profissionais, já podemos vislumbrar um certo esgotamento de alguns consultores que, pelo seu conhecimento e tradição de publicação, são continuamente solicitados, não apenas- diga-se de passagem - a emitir parecer sobre artigos, mas também para avaliar projetos de pesquisa, auxílio de bolsa etc. Sob esta perspectiva há que se considerar, também, os demais protagonistas que organizam, administram, enfim, que trazem a público o periódico cientifico. Via de regra, os editores e demais integrantes destas publicações são professores, que continuam com todas as atribuições de docentes e, neste sentido, também devem atender a todas as exigências próprias deste cargo (aulas, publicações, participação em reuniões etc.). Além disso, a existência de uma publicação desse tipo geralmente resulta da determinação pessoal de um editor, quando de fato deveria constituir-se em uma responsabilidade compartilhada.

Enfim, estas são algumas das nossas inquietações, que parecem transformar o percurso da produção editorial, no âmbito das Academias, em um verdadeiro “fio da navalha”, que esmorece parte da nossa euforia ao transformar Psicologia em Estudo em um periódico quadrimestral. Mas, como diz nosso querido escritor português José Saramago, “não tenha pressa, mas não perca tempo”. Vamos aceitar mais este desafio sem perder de vista o discernimento.

Assim, seguimos reunindo neste número mais uma série de estudos produzidos por autores de diferentes instituições e procedências; produções cujas idéias necessariamente instigam à reflexão, concordando-se ou não com o que está sendo publicado. Afinal, a discordância historicamente sempre teve um importante lugar como propulsora das mudanças vividas pela sociedade. Aos leitores cabe avaliar e posicionar-se teoricamente. Com certeza, os autores e nós agradecemos a interlocução. Talvez seja esta uma forma de “não perder tempo” sem ter pressa, como diz o mestre Saramago.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jul 2004
  • Data do Fascículo
    Abr 2004
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