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Análise da produção científica sobre criatividade em programas brasileiros de pós-graduação em psicologia (1994 - 2001)

Analysis of the scientific production on creativity in graduate study programs in psychology (1994 - 2001)

Resumos

Considerando-se a importância da criatividade na sociedade contemporânea, realizou-se esta pesquisa com o objetivo de investigar o que foi produzido sobre a temática entre 1994 e 2001 nos programas de pós-graduação em Psicologia no Brasil. Foram analisados 68 resumos de teses/dissertações, disponíveis na base de dados da Capes. Os resumos foram analisados conforme as categorias identificação, tipo de estudo, temática principal, linguagem artística e referencial teórico. Contatou-se que há uma concentração de trabalhos realizados nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Observou-se uma predominância de estudos experimentais (39%), levantamentos (27,1%) e estudos de caso (18,6%). Quanto à temática enfocada houve certa variação, com trabalhos em diferentes áreas, destacando-se os referentes à prática pedagógica (39,7%). Com relação às abordagens teóricas, as mais utilizadas foram a psicométrica (33,8%) e a psicanalítica (19,1%). Constatou-se, por fim, o crescimento do número de teses/dissertações defendidas nesses últimos anos sobre criatividade, o que pode indicar um maior interesse pela temática.

criatividade; pesquisa "estado da arte"; psicologia


Considering the importance of the creativity in the contemporary society, the purpose of this research was to investigate abstracts of dissertations and theses on creativity produced in the Graduate Study Programs of Psychology in Brazil from 1994 through 2001. Sixty-eight summaries of dissertations and theses, available in CAPES database, were analyzed. The summaries were analyzed according to categories: Identification, Type of Study, Theme, Language and Theoretical Approach. It was noted that there is a concentration of studies carried out in the Southeastern region of Brazil. It was observed a predominance of Experimental Studies (39%), Surveys (27,1%) and Case Studies (18,6%). Regarding the theme, there was diversity, including papers in different areas, with emphasis on Pedagogical Practices (39,7%). Regarding theoretical approaches, the Psychometric (33,8%) and Psychoanalytic (19,1%) were the most applied. It was observed an increase in the number of theses and dissertations on creativity, defended in the previous years, which indicates an increasing interest in the area.

creativity; "state of the art" research; psychology


ARTIGOS

Análise da produção científica sobre criatividade em programas brasileiros de pós-graduação em psicologia (1994 - 2001)

Analysis of the scientific production on creativity in graduate study programs in psychology (1994 - 2001)

Andréa Vieira ZanellaI; Andréia Piana TitonII

IDocente do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC, Doutora em Psicologia da Educação, bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq

IIAcadêmica do Curso de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC, Bolsista PIBIC/CNPq-BIP/UFSC

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Andréa Vieira Zanella Universidade Federal de Santa Catarina Pós-Graduação em Psicologia, Campus Trindade CEP 88010-970, Florianópolis-SC E-mail: azanella@cfh.ufsc.br

RESUMO

Considerando-se a importância da criatividade na sociedade contemporânea, realizou-se esta pesquisa com o objetivo de investigar o que foi produzido sobre a temática entre 1994 e 2001 nos programas de pós-graduação em Psicologia no Brasil. Foram analisados 68 resumos de teses/dissertações, disponíveis na base de dados da Capes. Os resumos foram analisados conforme as categorias identificação, tipo de estudo, temática principal, linguagem artística e referencial teórico. Contatou-se que há uma concentração de trabalhos realizados nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Observou-se uma predominância de estudos experimentais (39%), levantamentos (27,1%) e estudos de caso (18,6%). Quanto à temática enfocada houve certa variação, com trabalhos em diferentes áreas, destacando-se os referentes à prática pedagógica (39,7%). Com relação às abordagens teóricas, as mais utilizadas foram a psicométrica (33,8%) e a psicanalítica (19,1%). Constatou-se, por fim, o crescimento do número de teses/dissertações defendidas nesses últimos anos sobre criatividade, o que pode indicar um maior interesse pela temática.

Palavras-chave: criatividade, pesquisa "estado da arte", psicologia.

ABSTRACT

Considering the importance of the creativity in the contemporary society, the purpose of this research was to investigate abstracts of dissertations and theses on creativity produced in the Graduate Study Programs of Psychology in Brazil from 1994 through 2001. Sixty-eight summaries of dissertations and theses, available in CAPES database, were analyzed. The summaries were analyzed according to categories: Identification, Type of Study, Theme, Language and Theoretical Approach. It was noted that there is a concentration of studies carried out in the Southeastern region of Brazil. It was observed a predominance of Experimental Studies (39%), Surveys (27,1%) and Case Studies (18,6%). Regarding the theme, there was diversity, including papers in different areas, with emphasis on Pedagogical Practices (39,7%). Regarding theoretical approaches, the Psychometric (33,8%) and Psychoanalytic (19,1%) were the most applied. It was observed an increase in the number of theses and dissertations on creativity, defended in the previous years, which indicates an increasing interest in the area.

Key words: creativity, "state of the art" research, psychology.

Criatividade é um tema que vem suscitando o interesse de pesquisadores de diferentes campos de saber, entre eles a Psicologia. Alencar e Fleith (2003) afirmam que as contribuições teóricas mais divulgadas e discutidas em relação à literatura sobre Psicologia da Criatividade no Brasil são as da teoria psicanalítica, da Gestalt, dos representantes da Psicologia Humanista, bem como estudos que investigam o papel dos hemisférios cerebrais na produção criativa. Destacam as autoras que, nos últimos 20 anos, surgiram novas contribuições teóricas, com ênfase na influência de fatores sociais, culturais e históricos no desenvolvimento da criatividade, sendo que até os anos 1970 a ênfase era no perfil do indivíduo criativo e no desenvolvimento de programas e técnicas que favorecessem a expressão criativa.

Afirmam ainda as autoras terem sido desenvolvidas nestes últimos anos teorias que apresentam uma visão mais sistêmica do fenômeno criatividade, com destaque para três modelos de criatividade: a teoria de investimento em criatividade de Sternberg, o modelo componencial de criatividade de Amabile e a perspectiva de sistemas de Csikszentmihalyi. Resguardadas as devidas diferenças, estas teorias ressaltam o papel ativo do sujeito no processo criativo e enfatizam os fatores sociais, culturais e históricos no processo de criação e na avaliação do produto criativo.

Para a teoria de investimento em criatividade, proposta por Sternberg e por Lubart na década de 1990, considera-se o comportamento criativo como resultado da inter-relação de seis fatores: da inteligência, dos estilos intelectuais, do conhecimento, da personalidade, da motivação e do contexto ambiental. (Alencar & Fleith, 2003).

O modelo componencial de criatividade, proposto por Amabile nas décadas de 1980 e 1990, define a criatividade a partir de aspectos como originalidade e adequação da resposta, além da possibilidade de vários caminhos para a solução da resposta. Discute a influência no processo criativo dos fatores cognitivos, de personalidade e, principalmente, dos fatores sociais e do papel da motivação. Neste modelo teórico, enfatiza-se a interação de três componentes no processo criativo: as habilidades de domínio, os processos criativos relevantes e a motivação intrínseca (Alencar & Fleith, 2003).

A perspectiva de sistemas, proposta por Csikszentmihalyi, defende o estudo da criatividade com foco nos sistemas sociais, e não nos indivíduos. O fundamental nesta proposta é investigar onde a criatividade se encontra e de que forma o ambiente social, cultural e histórico reconhece ou não uma produção criativa. Nesta perspectiva, a criatividade é entendida como um ato, idéia ou produto que transforma ou modifica um domínio existente. Para que isso aconteça é fundamental os sujeitos terem acesso aos sistemas simbólicos e o contexto social ser receptivo a novas idéias (Alencar & Fleith, 2003).

De acordo com Santeiro, Santeiro e Andrade (2004), os estudos sobre a temática criatividade já foram caracterizados por enfoque unidimensional e por uma diversidade de definições, mas têm caminhado para uma visão mais ampla, voltada para seus diversos aspectos e com enfoque multidimensional. Para compreender a criatividade, destacam os autores, é fundamental visualizar a interação dinâmica entre as características das pessoas (personalidade, habilidades cognitivas) e o contexto onde estão inseridas (família, escola, trabalho).

Considerando a importância de se evidenciarem as tendências das pesquisas sobre criatividade no Brasil, investigamos o que vem sendo produzido nos últimos anos no âmbito dos programas de pós-graduação em Psicologia1 1 A área da Educação está sendo investigada em outro projeto de Iniciação Científica (PIBIC/UFSC) por uma acadêmica do curso de Pedagogia, orientada pela prof. Dra. Sílvia Zanatta Da Ros. sobre a temática.

Delimitamos esta investigação ao período de 1994 a 2001, pois identificamos em consulta a bases de dados uma dissertação de mestrado (Santos, 1995) que investiga parte da produção científica da criatividade em programas de pós-graduação de Psicologia e Educação entre 1970 e 1993. Neste estudo a autora analisou 59 resumos de teses e dissertações sobre criatividade, em programas de pós-graduação em Psicologia e Educação de todas as instituições de pós-graduação no Brasil, nos anos de 1970 a 1993. Entre os resultados a autora constatou que a maior parte dos trabalhos tratam de estudos empíricos. Além disso, as abordagens mais utilizadas são a comportamental e a psicométrica, sendo que, dos estudos empíricos, a maioria são pesquisas experimentais realizadas com maior freqüência em escolas, com alunos de 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental. Propomos neste estudo continuar a investigação sobre a produção científica entre 1994 e 2001, procurando evidenciar continuidades e rupturas em relação às tendências evidenciadas por Santos (1995).

MÉTODO

Esta pesquisa caracteriza-se como "estado da arte" ou "estado do conhecimento". De caráter bibliográfico, este tipo de pesquisa se propõe mapear e discutir certa produção acadêmica em determinado campo do conhecimento, na tentativa de responder quais aspectos e dimensões vêm sendo destacados e privilegiados em determinada época e lugar. Tais pesquisas são também reconhecidas por utilizarem procedimentos de caráter inventariante e descritivo sobre o tema investigado, incidindo as análises sobre dissertações/teses, publicações em periódicos e comunicações em anais de congressos e de seminários (Ferreira, 2002).

Optou-se pela análise de resumos de teses e dissertações dos programas de pós-graduação em Psicologia no Brasil reconhecidos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Capes (2004), no período entre 1994 e 2001. A delimitação do ano de 2001 como período final se deve ao fato de que a base de dados da Capes (2004) não disponibilizou, até outubro de 2004, resumos de trabalhos realizados após esse ano.

PROCEDIMENTOS

Buscaram-se no portal da Capes (2004) todas as instituições de ensino superior (IESs) do Brasil com algum programa de pós-graduação em Psicologia reconhecido por aquela entidade. A partir disso, foram obtidos todos os resumos de dissertações e teses das IESs selecionadas que apresentavam relação com a temática da pesquisa, a partir das seguintes palavras-chave: criatividade, atividade criadora, processos de criação, estética.

Na primeira busca na base de dados foram obtidos cento e vinte e quatro resumos que apresentavam as palavras-chave relacionadas. Destes, inicialmente foram selecionados somente aqueles que citavam o termo criatividade entre as palavras-chave do resumo, somando quarenta e um resumos (Tabela 1 em anexo). Considerando-se a grande quantidade de resumos que seriam excluídos por não citarem criatividade como palavra-chave, foi realizada nova leitura dos mesmos e identificados aqueles que apresentavam a criatividade ou processos criativos como tema, selecionando-se desta forma mais vinte e sete resumos (Tabela 2 em anexo). A partir dessa primeira caracterização do material de estudo, feita em conformidade com os procedimentos adotados por Santos (1995), foram delimitadas as seguintes categorias para a análise dos resumos: identificação, tipo de estudo, principal tema em foco, linguagem artística e referencial teórico. Essas mesmas categorias, no entanto, foram analisadas no que se refere à sua adequação em relação ao material analisado, procedendo-se então às modificações necessárias à contemplação da diversidade dos resumos das teses/dissertações investigados.

Na categoria identificação foram especificados: título, autor(a), orientador(a), nível (mestrado ou doutorado), instituição, programa e ano.

Na categoria tipo de estudo discorda-se da divisão entre estudos teóricos e empíricos, tal como proposta por Santos (1995). Conforme Minayo (1999), a divisão entre estudos teóricos e empíricos pressupõe uma falsa oposição e cisão entre teoria e prática; esta é falsa na medida em que pesquisas teóricas podem ter importantes conseqüências práticas e pesquisas aplicadas certamente têm implicações e contribuições teóricas.

Mantiveram-se, no entanto, as categorias estudos téoricos, pesquisa documental, pesquisa "Ex-post-facto", levantamentos e estudos de caso, propostas por Santos, de modo a identificar continuidades e rupturas com os anos anteriores. Desse modo, como estudos teóricos foram considerados aqueles que "analisam um determinado objeto de estudo ou conceito à luz de uma revisão de literatura ou de teorias existentes e estudos que realizam análises críticas a respeito de posições teóricas." (p. 26); a categoria pesquisa documental congrega estudos que se caracterizam pela análise de documentos; pesquisa experimental: "abrange a manipulação de uma ou mais variáveis. Determina um objeto de estudo, seleciona as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, define as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto." (Santos, 1995, p. 25); as pesquisas "ex-post-facto" realizam um estudo sobre situações, consideradas experimentais, que ocorreram naturalmente; Levantamentos: estudos sobre um determinado objeto a partir do questionamento de pessoas; estudos de caso: pesquisas que realizam um estudo amplo e exaustivo sobre determinado(s) objeto(s). Por fim, na categoria outros foram agrupados aqueles estudos que não se enquadram em nenhuma das categorias anteriores.

Os estudos também foram categorizados conforme o lócus de investigação e o público alvo da pesquisa. Para o lócus de investigação foram encontradas as categorias: instituição de ensino regular (inclui Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio); instituição de ensino superior; contextos artísticos específicos; instituições (psiquiátricas, por exemplo); projetos sociais; organizações e empresas; e não passível de classificação.

Com relação ao público alvo, foram elencadas as seguintes subcategorias: alunos; professores/educadores (incluindo os que atuam em contextos educacionais formais e não formais); alunos e professores; empregados em empresas/organizações; usuários de instituições; artistas; grupos; e outros.

Com relação à Temática Principal, após a leitura e identificação das temáticas trabalhadas em cada pesquisa, foram criadas as categorias: prática pedagógica; prática psicológica na Saúde; prática psicológica nas empresas/organizações; vivências estéticas/criativas; avaliação/caracterização do sujeito criativo; concepções de criatividade/criação; outros.

Quanto à linguagem artística abordada nos trabalhos, foram formuladas as seguintes categorias: artes plásticas/visuais; dança/biodança; literatura; música; teatro; linguagens híbridas; e não passível de classificação. Utilizou-se esta categoria em função da freqüência com que as linguagens artísticas aparecem nos trabalhos que tratam da temática investigada, sendo que a categorização dos trabalhos permite identificar se algum tipo de linguagem artística vem sendo privilegiado nas pesquisas de mestrado/doutorado.

Para classificar os estudos em relação ao referencial teórico, foram utilizadas as categorias propostas por Santos e criadas outras a partir do levantamento do referencial teórico citado em cada resumo. Foram usadas as seguintes categorias: abordagem psicométrica, que inclui "estudos sobre variáveis psicológicas a partir da aplicação de testes ou escalas padronizadas." (Santos, 1995, p. 26); abordagem fenomenológica: "caracteriza-se por ter como tema o fenômeno entendido como único objeto experiencial possível, cujo sentido e essência deverão ser desvelados para se chegar à 'coisa mesma', através do hermenêutico, rigososo" (Santos, 1995, p. 27); abordagem histórico-cultural: ênfase nos processos históricos culturais e no método dialético; abordagem psicanalítica, categoria esta que inclui representantes de diferentes escolas da psicanálise, como Winnicott, Lacan, Klein e Freud; não passível de classificação inclui os resumos que não especificaram o referencial teórico utilizado no trabalho; e outras.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A apresentação dos dados diz respeito ao total dos trabalhos analisados nesta pesquisa, a saber, 68 resumos, sendo 41 estudos que utilizam a palavra criatividade como palavra-chave e 27 que utilizam a criatividade como tema. Serão apresentadas as porcentagens em cada categoria, pois se trata de um estudo exploratório. Quanto à distribuição dos trabalhos por unidade da Federação, constatou-se que há uma concentração da produção acadêmica brasileira em Psicologia sobre a temática criatividade, entre 1994 e 2001, no Estado de São Paulo (70% dos trabalhos analisados). O Estado do Rio de Janeiro concentra 12% das produções, o Distrito Federal 10%, o Rio Grande do Sul 7% e Minas Gerais, 1%. Não foram encontradas pesquisas sobre o tema em outros estados brasileiros no período analisado.Se considerarmos as regiões brasileiras, constata-se que 83% dos trabalhos analisados foram produzidos na Região Sudeste. Isso pode estar relacionado com a concentração de universidades pioneiras em pesquisa nessa região, com programas de pós-graduação já consolidados. Francisco (2002), ao investigar o "estado da arte" sobre dificuldades de aprendizagem escolar, também verificou a concentração de pesquisas nessa região.

Em relação às universidades onde os trabalhos analisados foram produzidos, destacam-se a Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP), com a produção de 26,4% das teses e dissertações; a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com 20,6% dos trabalhos; a Universidade de São Paulo (USP), com 19,1%; a Universidade de Brasília (UnB), com 8,8%; a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com 5,9% dos trabalhos cada. As demais, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Católica de Brasília (UCB) e a Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), juntas, concentram 7,4% da produção acadêmica analisada.

Conforme a Figura 1, verifica-se que a produção no mestrado teve uma pequena variação durante os anos de 1994 a 1999, a qual oscilou entre cinco e sete dissertações defendidas por ano. Essa produção teve um aumento significativo no ano 2000, passando para dez dissertações defendidas nesse ano. Em relação às teses de doutorado, durante os anos de 1994 a 1998 e em 2001, encontrou-se no máximo uma produção por ano; destacam-se o ano de 1999, com três teses, e o ano de 2001, com 8 teses.


Observa-se, em relação ao total de títulos (figura 1), que houve um aumento no número de teses e dissertações a partir de 1999, o que pode estar relacionado a um maior interesse dos pesquisadores pela temática. Isso também pode estar relacionado com o contexto da sociedade contemporânea que estaria trazendo a criatividade à tona devido às demandas impostas pela "(...) modificação constante das técnicas de produção e por uma necessidade permanente de invenções" (Ponce, citado por Vasconcelos, 2001). Mas essa tendência somente poderá ser confirmada com novas pesquisas.

Em relação aos orientadores das teses e dissertações analisadas, constatou-se que onze professores orientaram 63,3% delas, considerando-se aqueles que orientaram dois ou mais trabalhos. Destaca-se nessa relação (Ver Tabelas 1 e 2) a professora Solange Muglia Wechsler, da PUCCAMP, com 22% do total das produções analisadas; Gilberto Safra, da PUC-SP, com 7,5%; Eunice M. L. S. de Alencar, com 5,9% (UCB e UnB); Edda Bomtempo (USP), João Augusto Frayze-Pereira (USP) e Suely Belinha Rolnik (PUC-SP) com 4,5% cada; Albertina Mitjáns Martinez (UNB), Juracy Cunegatto Marques (PUC-RS), Lúcia Rabelo de Castro (UFRJ), Luis Cláudio Mendonça Figueiredo (PUC-SP) e Maria Helena Mira Novaes (PUC-Rio) com 2,9% cada. A distribuição dos demais 36,7% das pesquisas analisadas se deu entre professores que orientaram apenas uma dissertação ou tese.

Quanto à categoria tipo de estudo, contatou-se que 39% das pesquisas analisadas são representados por: pesquisa experimental; 27,1%, levantamentos; 18,6%, estudos de caso; 13,2%, estudos teóricos; 8,5%, pesquisa documental; e 1,7%, pesquisa "ex-post-facto". Entre as pesquisas classificadas como outras (5,1%) foram citadas a "pesquisa-ação" e a "pesquisa de campo". Esses índices aproximam-se dos resultados encontrados por Santos (1995), no período de 1970 a 1993, quando constatou que somente 18,64% dos estudos eram teóricos. Contribuíram para a manutenção dessa tendência as características dos programas de pós-graduação no Brasil, que vêm reduzindo significativamente, nas últimas décadas, o tempo para titulação. Estudos teóricos requerem experiência e fundamentação teórica consistente dos pesquisadores, o que nem sempre é possível consolidar no espaço de tempo de um mestrado ou mesmo de um doutorado.

Na investigação de Santos (1995) também a pesquisa experimental e os levantamentos apareceram com maior freqüência que os demais tipos de estudo. A diferença de percentuais, no entanto, é significativa: enquanto de 1970 a 1993 constatou-se que 62,5% das pesquisas sobre criatividade eram experimentais, na última década estas ficaram em 39%. Os levantamentos, por sua vez, tiveram discreto crescimento, passando de 25% para 27,1%, assim como as pesquisas documentais, que passaram de 5% para 8,5%. Os estudos de caso é que tiveram um aumento considerável: enquanto nas décadas de 70, 80 e 90 restringiram-se a 5% das pesquisas investigadas, na última década (94 a 2001) corresponderam a 18,6% das teses e dissertações analisadas.

Com relação ao lócus de investigação, obtiveram-se os seguintes resultados: 25% foram realizados em instituições de ensino regular; 23,7% em contextos artísticos específicos; 18,6% em instituições de ensino superior; 10,2% em instituições; 8,5% em organizações/empresas; 1,7% em projetos sociais. Além disso, 7 (11,9%) dos estudos que não se caracterizavam como teóricos não foram passíveis de classificação, pois nos resumos não constavam os locais de investigação.

Santos (1995), ao realizar a categorização dos trabalhos produzidos de 1970 a 1993, encontrou 48 trabalhos empíricos, dos quais 19 não foram passíveis de classificação quanto ao lócus de investigação. Entre os que ela classificou, 96,5% foram realizados em escolas. Disso se constata que houve, na última década, uma diversificação quanto aos locais em que foram realizadas as pesquisas sobre criatividade. Esses dados podem estar relacionados com a ampliação dos campos de atuação da psicologia enquanto profissão e com o reconhecimento de se trabalhar com essa temática em locais diversos e com públicos variados.

Em relação aos sujeitos das investigações, verificou-se que: 26,6% são alunos, sejam do ensino regular, médio, superior ou de contextos não formais, como aulas de dança; 11,8% são professores, sejam do ensino regular, médio, superior ou de outros contextos, como em um estudo que se refere a educadores afro-descendentes; 11,8% são empregados em empresas/organizações; 11,8% são artistas; 10,2% dos estudos investigaram ao mesmo tempo alunos e professores; 10,2%, usuários de instituições; e 8,5%, grupos. Por fim, dos 59 estudos subcategorizados quanto aos sujeitos, 5 (8,5%) foram classificados como outros, categoria que inclui sujeitos referidos como idosos, mulheres, casais, homens e mulheres.

Santos (1995), ao categorizar os trabalhos empíricos quanto aos sujeitos, não conseguiu subcategorizar 7 dos 48 trabalhos que analisou. Dos 41 categorizados, 83% foram trabalhos com alunos; 14,6% com professores; e 2,4% com outros sujeitos. Neste aspecto também se constatam diferenças significativas nos dois períodos analisados, sendo a produção científica da última década caracterizada pela diversidade de sujeitos investigados, ainda que aproximadamente 50% deles tenham sido alunos e/ou professores.

Em relação ao tema principal em foco nos trabalhos analisados nesta investigação, destaca-se que: 39,7% dos trabalhos trataram de alguma questão relacionada com a prática pedagógica, incluindo aqueles com ênfase no aluno ou no professor; 22,1% enfatizaram questões relacionadas a vivências estéticas/criativas, principalmente com ênfase em artistas; 10,3% trataram de questões relacionadas com a prática do psicólogo nas empresas/organizações; 8,8% temas referentes à prática psicológica na Saúde; 8,8% de avaliação/caracterização do sujeito criativo; 7,4% de concepções de criatividade/criação; e 2,9% de outros temas.

Dos 68 trabalhos analisados nesta pesquisa, 22 foram caracterizados quanto ao uso de alguma linguagem artística. Destaca-se que 40,9% desses 22 trabalhos usaram artes plásticas/visuais; 13,6%, literatura; 9%, música; 4,6% usaram dança/biodança; 4,6% teatro; e 27,3% usaram linguagens híbridas, ou seja, mais de uma linguagem artística.

Quanto ao referencial teórico utilizado nos trabalhos, obtiveram-se os seguintes resultados: abordagem psicométrica, 33,8% dos trabalhos; abordagem psicanalítica, 19,1%; abordagens híbridas, 7,4%; abordagem fenomenológica, 5,9%; abordagem histórico-cultural, 4,4%; e outras abordagens, que utilizaram referenciais como os de Jung, Nietzsch, Deleuze e Guatarri, 8,8%. Por fim, 20,6% dos trabalhos não puderam ser classificados quanto ao referencial teórico, por omitirem nos resumos informações que permitissem essa categorização. Destaca-se que nenhum dos resumos analisados apresenta os referenciais da teoria de investimento em criatividade de Sternberg, do modelo componencial de criatividade de Amabile ou da perspectiva de sistemas de Csikszentmihalyi, apontados por Alencar e Fleith (2003) como teorias que enfatizam os aspectos sociais, culturais e históricos envolvidos em uma perspectiva multidimensional para o estudo da criatividade.

Santos (1995) classificou os trabalhos em sua pesquisa nas seguintes abordagens: psicométrica, comportamental, psicogenética, psicosociológica, humanista e fenomenológica. Dos 59 trabalhos que analisou, 18 (30,5%) não puderam ser classificados quanto à abordagem de estudo. Dentre as abordagens citadas, as que apresentaram maior incidência foram a comportamental e a psicométrica, com 43,9% e 29,2% respectivamente. Pode-se observar que a abordagem psicométrica se mantém nos dois períodos investigados com aproximadamente 30% dos estudos.

Santos (1995), ao investigar o "Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil/CNPq" em 1993, identificou apenas um grupo que estudava o tema criatividade, situado em Brasília e com projeção internacional. Conforme pesquisa realizada nesse Diretório (CNPq, 2005), utilizando a palavra-chave criatividade para as áreas de Ciências Humanas/Psicologia, foram encontrados 11 grupos que investigam a temática criatividade (Ver Tabela 3). Diferenças são observadas quando da análise das linhas de pesquisa encontradas, na medida em que em algumas a criatividade é foco e em outras está relacionada a temáticas diversas. Além disso, constata-se que vários pesquisadores destes grupos também são orientadores de teses/dissertações analisadas nesta investigação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise da produção científica sobre a temática criatividade nas teses e dissertações de programas de pós-graduação em Psicologia no Brasil na última década – 1994-2001 - sinaliza a ocorrência de mudanças significativas, se comparada com a produção de 1970 a 1993; por outro lado, continuidades também foram evidenciadas. Ressaltamos que a pesquisa de Santos (1995) abrangia os resumos de teses e dissertações do programas de pós-graduação em Psicologia e em Educação e a ora empreendida restringiu-se aos programas de pós-graduação em Psicologia.

Apesar de a pesquisa realizada referir-se a apenas uma área do saber, evidencia-se o aumento significativo de produções científicas sobre criatividade, considerando-se que Santos (1995) encontrou 59 teses/dissertações no período de 1970 a 1993, enquanto de 1994 a 2001 foram encontrados 68 trabalhos apenas na área da Psicologia. Wechsler e Nakano (2003) também constataram o aumento do número de produções científicas sobre esta temática, incluindo-se teses/dissertações e artigos. Isso pode ser resultado da expansão dos programas de pós-Graduação em Psicologia no Brasil e ao mesmo tempo indicador da importância atribuída a esta temática no contexto contemporâneo, podendo estar relacionado, entre outros fatores, à relevância da criatividade tanto para a reflexão sobre o psiquismo humano e sua constituição quanto para as intervenções psicológicas. Afirma Lev S. Vygotsky (1993) que o processo criador permite ao ser humano reelaborar e criar a partir de elementos de experiências passadas e presentes, projetando-se no futuro. A pesquisa sobre a temática é, portanto, fundamental se o compromisso assumido, enquanto ciência e profissão, volta-se para a emancipação humana e a potencialização da vida.

Se por um lado constata-se este aumento nas produções sobre criatividade nos últimos anos, por outro observa-se que metade das pesquisas continuam vinculadas a teorias tradicionais da Psicologia: aproximadamente 50% dos estudos aqui investigados são fundamentados nas abordagens psicométrica e psicanalítica.

A concentração de trabalhos na Região Sudeste e na Centro-Oeste, por sua vez, explicita uma realidade social marcada pela distribuição desigual da produção científica. Necessário, no entanto, esclarecer que a maioria dos programas de pós-graduação em Psicologia se encontram na Região Sudeste brasileira, porém recebem alunos de diversos estados brasileiros, os quais, por sua vez, deveriam se constituir como porta-vozes e divulgadores dessa produção.

Permanece também o predomínio da pesquisa experimental, porém em percentual significativamente menor que no período analisado por Santos (1995). O crescimento dos estudos de caso pode indicar mudanças no que se refere às indicações metodológicas dos programas de pós-graduação, que podem estar mais suscetíveis ao acolhimento de trabalhos que buscam aprofundar análises qualitativas a partir de situações específicas. Por sua vez, se até 1993 predominavam investigações realizadas em contextos escolares, na última década constata-se uma diversificação considerável quanto ao lócus da pesquisa, o que de certa forma expressa o interesse e inserção de psicólogos em contextos sociais variados. A diversidade de sujeitos também foi constatada, bem como alguns estudos que trabalham não somente com um segmento mas com foco em relações, caso das pesquisas que trabalharam com professores e alunos.

Também se pode observar, pela variedade dos grupos e dos temas encontrados, que a criatividade, além de aparecer como foco de algumas investigações, também é relacionada com uma diversidade de temáticas.

A Educação aparece como área privilegiada de estudos sobre esta temática, com foco na avaliação da criatividade de professores/alunos e treinamento, entre outros. Wechsler e Nakano (2003) também constataram que o enfoque predominante nas teses e dissertações tem sido o educacional, identificando problemas e propondo sugestões para a melhoria da educação brasileira por meio da criatividade. Interessa saber com que objetivo e a partir de que concepção de sujeito se deseja avaliar ou desenvolver sujeitos criativos – se voltados para a autonomia e emancipação dos sujeitos, mediados por atividades criativas que se produzem a partir de condições sociais e históricas, ou em concepções meramente reprodutivistas, posto que a criatividade é concebida como condição apriorística de sujeitos a-históricos. A resposta a essa questão, no entanto, só é possível com a investigação em profundidade desses trabalhos, o que foge ao escopo desta pesquisa.

Por fim, gostaríamos de destacar que a qualidade dos resumos analisados constitui uma limitação para as análises empreendidas. Diversos resumos não deixavam claros aspectos importantes como referencial teórico utilizado, método de pesquisa, entre outros. Esses problemas também foram relatados por Ferreira (2002) e por Santos (1995), apontando a necessidade de maior atenção por parte dos pesquisadores na elaboração dos resumos e na utilização das palavras-chave. A análise de resumos, no entanto, continua sendo relevante na medida em que possibilita certo rastreamento do já construído, orientando o leitor na pesquisa bibliográfica de um determinada área.

Recebido em 25/10/2005

Aceito em 30/04/2005

  • Alencar, E. M. L. S. & Fleith, D. S. (2003). Contribuições teóricas recentes ao estudo da criatividade. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 19(1), 1-8.
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  • Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico/CNPq (2005). Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil. Disponível em: <http://lattes.cnpq.br/buscaoperacional>. (Acessado em 14/03/2005).
  • Ferreira, N. S. A. (2002). As pesquisas denominadas "estado da arte". Educação e Sociedade: Revista quadrimestral de Ciência da Educação, 9(1), 257-272.
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  • Minayo, M. C. S. (1999, 6ª ed.). O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo/Rio de Janeiro: Hucitec/Abrasco.
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  • Santos, A.T. (1995). Estudo da criatividade no Brasil: análise das teses/dissertações em Psicologia e Educação (1970/1993). Dissertação de Mestrado, Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas.
  • Vasconcelos, M. S. (Org.) (2001). Criatividade, psicologia, educação e conhecimento do novo. São Paulo: Moderna.
  • Vygotski, L.S. (1993). La imaginación y el arte en la infancia. Madrid: Akal.
  • Wechsler, S. M. & Nakano T. C. (2003). Produção científica brasileira em criatividade: o estado da arte. Escritos Educacionais, 2(2), 43-50.
  • Endereço para correspondência

    Andréa Vieira Zanella
    Universidade Federal de Santa Catarina
    Pós-Graduação em Psicologia, Campus Trindade
    CEP 88010-970, Florianópolis-SC
    E-mail:
  • 1
    A área da Educação está sendo investigada em outro projeto de Iniciação Científica (PIBIC/UFSC) por uma acadêmica do curso de Pedagogia, orientada pela prof. Dra. Sílvia Zanatta Da Ros.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      14 Out 2005
    • Data do Fascículo
      Ago 2005

    Histórico

    • Aceito
      30 Abr 2005
    • Recebido
      25 Out 2005
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