Acessibilidade / Reportar erro

Práticas educativas de mães de bebês: efeitos de um programa de intervenção

Prácticas educativas de madres de bebés: efectos de un programa de intervención

Educational practices of babies' mothers: effects of an intervention program

Resumos

Esta pesquisa visa descrever os efeitos de um programa de intervenção com foco nas práticas parentais de mães de bebês mediante comparações pré e pós-teste (comparação intragrupos) realizadas com grupos de mães adolescentes e mães adultas (comparação intergrupos). Participaram 40 mães, sendo 20 adolescentes e 20 adultas. Para a coleta de dados foi utilizado o Inventário de Estilos Parentais para Mães de Bebês (IEPMB), aplicado antes e após a intervenção, sendo esta caracterizada por dez encontros semanais abordando temas referentes ao ciclo do desenvolvimento humano e às práticas parentais. Os resultados apontaram para práticas educativas significativamente melhores para mães adolescentes quando comparados com mães adultas principalmente na primeira avaliação conduzida. O grupo de intervenção foi efetivo para a maioria das participantes, adultas e adolescentes, que melhoraram suas práticas parentais ou as mantiveram adequadas. Discute-se a importância de grupos interventivos para aprimorar as práticas parentais de mães de bebês.

Relação mãe-criança; práticas de criação infantil; intervenção psicológica


Esta investigación tiene como objetivo describir los efectos de un programa de intervención se centra en las prácticas de crianza de las madres de los bebés mediante la comparación pre y post -test (comparación intragrupo) realizado con grupos de madres adolescentes y madres adultas (comparación entre grupos). Los participantes fueron 40 madres, 20 adolescentes y 20 adultos. Para recoger los datos se utilizó el Inventario de Estilos y Prácticas Parentales para las madres de bebés (IEPMB), aplicado antes y después de la intervención, que se caracteriza por diez reuniones semanales sobre temas relacionados con el ciclo de las prácticas de crianza de los hijos y el desarrollo humano. Los resultados mostraron significativamente mejores prácticas educativas para las madres adolescentes en comparación con las madres adultas, especialmente en la primera evaluación realizada. El grupo de intervención fue eficaz para la mayoría de los participantes, adultos y adolescentes, que mejoraron sus prácticas de crianza de los hijos o permanecieron apropriado. Se discute la importancia de los grupos de intervención para mejorar las prácticas de crianza de las madres de los bebés.

Relación madre-niño; prácticas de crianza infantil; intervención psicológica


This research aims to describe the effects of an intervention program focusing on parenting practices of mothers of babies by comparing pre- and post -test (intragroup comparison) performed with groups of adolescent mothers and adult mothers (intergroup comparison). Participants were 40 mothers, 20 adolescents and 20 adults. To collect data we used the Parenting Styles Inventory for Mothers of Babies (IEPMB), applied before and after the intervention, which is characterized for ten weekly meetings on topics related to the cycle of human development and parenting practices. The results showed significantly better educational practices for adolescent mothers compared to adult mothers especially in the first evaluation conducted. The intervention group was effective for most participants, adults and adolescents, who improved their parenting practices or remained appropriate. It discusses the importance of interventional groups to improve parenting practices of mothers of babies.

Mother and child relation; childrearing practices; psychological intervent


ARTIGOS

Práticas educativas de mães de bebês: efeitos de um programa de intervenção1 1 Apoio e financiamento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

Educational practices of babies' mothers: effects of an intervention program

Prácticas educativas de madres de bebés: efectos de un programa de intervención

Sária Cristina NogueiraI; Olga Maria Piazentin Rolim RodriguesII; Elisa Rachel Pisani AltafimIII

IPsicóloga, mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem pela UNESP/Bauru. Bolsista FAPESP

IILivre-docente em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, professora adjunta do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós- Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem da UNESP/Bauru

IIIPsicóloga, mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem pela UNESP/Bauru, doutoranda do Programa de Pós Graduação em Saúde Mental da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP). Bolsista FAPES

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Sária Cristina Nogueira Departamento de Psicologia Av. Eng. Luiz Edmundo Carrijo Coube, 14-01 CEP 17.033-360 Bauru-SP, Brasil E-mail: sariacris@yahoo.com.br

RESUMO

Esta pesquisa visa descrever os efeitos de um programa de intervenção com foco nas práticas parentais de mães de bebês mediante comparações pré e pós-teste (comparação intragrupos) realizadas com grupos de mães adolescentes e mães adultas (comparação intergrupos). Participaram 40 mães, sendo 20 adolescentes e 20 adultas. Para a coleta de dados foi utilizado o Inventário de Estilos Parentais para Mães de Bebês (IEPMB), aplicado antes e após a intervenção, sendo esta caracterizada por dez encontros semanais abordando temas referentes ao ciclo do desenvolvimento humano e às práticas parentais. Os resultados apontaram para práticas educativas significativamente melhores para mães adolescentes quando comparados com mães adultas principalmente na primeira avaliação conduzida. O grupo de intervenção foi efetivo para a maioria das participantes, adultas e adolescentes, que melhoraram suas práticas parentais ou as mantiveram adequadas. Discute-se a importância de grupos interventivos para aprimorar as práticas parentais de mães de bebês.

Palavras-chave: Relação mãe-criança; práticas de criação infantil; intervenção psicológica.

ABSTRACT

This research aims to describe the effects of an intervention program focusing on parenting practices of mothers of babies by comparing pre- and post -test (intragroup comparison) performed with groups of adolescent mothers and adult mothers (intergroup comparison). Participants were 40 mothers, 20 adolescents and 20 adults. To collect data we used the Parenting Styles Inventory for Mothers of Babies (IEPMB), applied before and after the intervention, which is characterized for ten weekly meetings on topics related to the cycle of human development and parenting practices. The results showed significantly better educational practices for adolescent mothers compared to adult mothers especially in the first evaluation conducted. The intervention group was effective for most participants, adults and adolescents, who improved their parenting practices or remained appropriate. It discusses the importance of interventional groups to improve parenting practices of mothers of babies.

Key words: Mother and child relation; childrearing practices; psychological intervent.

RESUMEN

Esta investigación tiene como objetivo describir los efectos de un programa de intervención se centra en las prácticas de crianza de las madres de los bebés mediante la comparación pre y post -test (comparación intragrupo) realizado con grupos de madres adolescentes y madres adultas (comparación entre grupos). Los participantes fueron 40 madres, 20 adolescentes y 20 adultos. Para recoger los datos se utilizó el Inventario de Estilos y Prácticas Parentales para las madres de bebés (IEPMB), aplicado antes y después de la intervención, que se caracteriza por diez reuniones semanales sobre temas relacionados con el ciclo de las prácticas de crianza de los hijos y el desarrollo humano. Los resultados mostraron significativamente mejores prácticas educativas para las madres adolescentes en comparación con las madres adultas, especialmente en la primera evaluación realizada. El grupo de intervención fue eficaz para la mayoría de los participantes, adultos y adolescentes, que mejoraron sus prácticas de crianza de los hijos o permanecieron apropriado. Se discute la importancia de los grupos de intervención para mejorar las prácticas de crianza de las madres de los bebés.

Palabras-clave: Relación madre-niño; prácticas de crianza infantil; intervención psicológica.

O presente artigo tem como foco as práticas parentais de mães de bebês, e a apresentação dos resultados de um programa de intervenção realizado com elas.

A família pode ser considerada a principal promotora da educação infantil. As práticas educativas parentais são as estratégias utilizadas pelos cuidadores para educar, socializar e controlar o comportamento de seus filhos (Gomide, 2006). Essas estratégias possuem uma função primordial no desenvolvimento das crianças, uma vez que constituem a base para a aquisição de repertórios comportamentais dos filhos (Gomide, 2004).

Gomide (2006) descreve sete práticas parentais, sendo duas relacionadas ao desenvolvimento dos comportamentos pró-sociais, as positivas, e cinco, as negativas, relacionadas aos comportamentos anti-sociais. As práticas positivas são: monitoria positiva, que se refere à atenção para a localização dos filhos e acompanhamento das atividades que estes realizam e, comportamento moral, que remete à promoção de valores culturalmente aceitos, como justiça e responsabilidade. As práticas consideradas negativas são: negligência, que envolve a ausência de atenção e afeto; abuso físico e psicológico, que compreende o uso de ameaça, chantagem e castigos físicos; disciplina relaxada, que implica o não cumprimento das regras pré estabelecidas; punição inconsistente, que depende do humor para punir ou reforçar comportamentos e, a monitoria negativa, que compreende o excesso de regras que resulta no não cumprimento delas, criando um clima de hostilidade.

Alvarenga e Piccinini (2008) alertam que as primeiras manifestações de comportamentos externalizantes podem ser detectadas precocemente, aproximadamente entre os 18 e os 24 meses. Tal ideia corrobora a importância de intervenções precoces com as mães, a fim de que adotem práticas parentais positivas desde a mais tenra idade do bebê, buscando prevenir futuros problemas de comportamento.

Cuidar e educar os filhos nos primeiros anos de vida, utilizar-se de prática educativas positivas e desenvolver um estilo parental adequado, representa um desafio para os pais (Bornstein & Bornstein, 2007). Muitas vezes os pais sentem-se despreparados e possuem dúvidas sobre qual a melhor maneira de agir com seus filhos. As demandas da maternidade implicam diversas mudanças na vida da família e a tarefa de cuidar e educar os filhos pode estar relacionada com a fase da vida na qual os pais se encontram. Dessa forma, vivenciar a maternidade na fase da adolescência pode ser diferente de vivenciá-la na fase adulta.

De acordo com uma revisão de literatura há uma série de riscos para a saúde relacionados com a gravidez na adolescência, tanto para a mãe quanto para o bebê (Dias & Teixeira, 2010). A maternidade na adolescência, por ser um acontecimento concorrente com as demandas dessa fase da vida, como a qualificação profissional e inserção no mercado de trabalho, na perspectiva cultural atual, pode acarretar problemas que vão se desdobrando no decorrer da vida do indivíduo e dos seus descendentes (Pinheiro, 2000). Nas mães adolescentes as mudanças relacionadas as demandas da maternidade acabam limitando ou prejudicando o seu envolvimento em atividades importantes para o seu desenvolvimento durante esse período da vida, como escola e lazer (Dias & Teixeira, 2010).

Um estudo constatou que a maior dificuldade das mães adolescentes diz respeito ao fator financeiro, por não terem ainda concluído seus estudos e não trabalharem, não dispõem de recursos adequados para prover o sustento de seus filhos (Andrade, Ribeiro, & Silva, 2006). Outra pesquisa visando identificar os fatores socioeconômicos, incluindo a escolaridade, entre mães adolescentes e adultas jovens na cidade de Maceió, revelou que as mães adolescentes apresentaram baixa escolaridade em relação às adultas jovens (Kassar, Lima, Albuquerque, Barbieri, & Gurgel, 2006).

Apesar de alguns estudos salientarem implicações negativas da maternidade adolescente, pesquisas mostram que, muitas vezes, a gravidez pode ser desejada pelas jovens, pois é considerada como uma via de acesso a um novo estatuto de identidade e de reconhecimento através do papel materno (Dias & Teixeira, 2010). Os autores enfatizam que dependendo do contexto social em que a adolescente vive, o significado da gestação, assim como o impacto dessa experiência de vida no desenvolvimento da jovem, pode assumir diferentes contornos.

A maternidade, na fase da adolescência ou na fase adulta, estabelece a seguinte condição: ainda que não totalmente preparados os pais se veem às voltas com a necessidade de cuidar e educar seus filhos. Educá-los implica a utilização de práticas parentais que podem atuar como fatores de risco ou mecanismos de proteção ao desenvolvimento do indivíduo.

Entre os fatores de risco potencialmente modificáveis que contribuem para o desenvolvimento de problemas comportamentais e emocionais em crianças, está a qualidade das práticas parentais (Sanders & Morawska, 2005). Os pais podem aprender novas estratégias para cuidar e educar seus filhos por meio de programas de intervenção para pais que têm como objetivo apoiar e reforçar as capacidades parentais e promover o desenvolvimento de novas competências. Esses programas visam oferecer os conhecimentos e as habilidades que os pais necessitam para cumprir de maneira eficaz suas responsabilidades na criação de seus filhos e para lhes proporcionar experiências e oportunidades que favoreçam a aprendizagem e o desenvolvimento (Trivette & Dunst, 2009).

Tendo em vista que a maternidade pode ser vivenciada diferentemente de acordo com a fase do desenvolvimento em que as mães se encontram (adolescência ou fase adulta), os programas de intervenção deveriam trabalhar aspectos especificos relacionados a essas fases. Assim, as mães poderiam lidar melhorar com outras demandas, que podem influenciar no relacionamento com seu filho.

Faz parte da prática profissional do psicólogo a realização de grupos interventivos, que podem ter diferentes objetivos. Num estudo de revisão de literatura, elaborado por Rios e Williams (2008), evidencia-se a importância de intervenções precoces como estratégias para prevenção ou interrupção de problemas de comportamentos na infância. As intervenções realizadas com pais, sejam elas de natureza remediativa ou preventiva, possibilitam a aprendizagem estratégias educativas adequadas (Bolsoni-Silva, 2003). Quando os pais e os filhos aprendem outras formas de obter reforçadores através de comportamentos socialmente habilidosos, os comportamentos problema e as práticas educativas negativas podem perder sua funcionalidade, o que faria com que fosse reduzida sua ocorrência (Leme, Bolsoni-Silva, & Carrara, 2009).

Programas para pais tem-se mostrado como estratégias de prevenção efetivas Mejia, Calam & Sanders, 2012). No entanto, os autores ressaltam a importância da realização de pesquisas nessa área em países em desenvolvimento, já que a maioria das pesquisas sobre a eficácia desses programas tem sido realizado em países desenvolvidos (Mejia et al., 2012). No Brasil, programas de intervenções têm sido realizados para desenvolver habilidades parentais, e tem apresentado resultados positivos (Bolsoni-Silva, Bitondi, & Marturano, 2008; Bolsoni-Silva, Carrara, & Marturano, 2008). No entanto, são escassos na literatura nacional relatos de programas de intervenção realizados com mães adultas e adolescentes de crianças de zero a dois anos.

A identificação de mudanças nas práticas parentais, a partir de um programa de intervenção desenvolvido junto a mães de bebês, além de permitir a verificação da sua efetividade, poderá fornecer subsídios para a elaboração de outros programas com a mesma finalidade, o que poderá ser um grande avanço no estudo das práticas parentais maternas. De acordo com uma revisão de literatura nacional constatou-se a existência de uma lacuna de estudos que focalizem as práticas parentais durante o primeiro ano de vida da criança e uma carência de instrumentos fidedignos que possam ser utilizados para esta investigação (Macarini, Martins, Minetto & Vieira, 2010).

O presente estudo

No Centro de Psicologia Aplicada (CPA), de uma universidade pública de uma cidade de porte médio, no interior paulista, ocorre desde 1999, o projeto de extensão "Acompanhamento do desenvolvimento de bebês: avaliação e orientação aos pais", que prevê a avaliação do desenvolvimento de crianças e orientações aos pais. No ano de 2006 percebeu-se que um número expressivo de mães adolescentes participava do projeto e, durante os atendimentos, apresentavam diversas dúvidas nos cuidados e orientação dos comportamentos de seus filhos. Os possíveis problemas associados à maternidade na adolescência justificaram a preocupação com essa população. Decidiu-se, então, realizar um programa de intervenção para mães adolescentes. Um dos focos do mesmo seriam as práticas educativas, focalizando o aumento das positivas e, consequentemente, a diminuição das negativas.

No início apenas as mães adolescentes eram convidadas a participar do programa de intervenção, todavia, para verificar se as práticas parentais das mães adolescentes eram típicas do comportamento materno ou da idade, mães adultas passaram a ser convidadas e intervenções foram conduzidas com os dois grupos de mães.

A hipótese subjacente a este trabalho é a de que, ao fornecer informações para as mães de bebês, esclarecer dúvidas, expor conhecimentos e promover reflexões temáticas (família, maternidade, práticas parentais, desenvolvimento infantil e projeto de vida), o programa de intervenção Aspectos Biopsicossociais da Maternidade atuaria de forma preventiva com vistas a melhorar o relacionamento entre as mães e seus bebês. Tal intervenção almeja que as participantes utilizem práticas educativas mais eficazes junto a seus bebês, já que teriam uma maior compreensão sobre esses temas.

A presente pesquisa teve como objetivo avaliar a efetividade de um programa de intervenção realizado com mães adolescentes e mães adultas, mediante a comparação das práticas educativas maternas, nos momentos pré-intervenção e pós-intervenção (comparação intra e intergrupos).

MÉTODO

Participantes

Para a composição da amostra foi estabelecido que as participantes fossem mães biológicas de crianças com idade mínima de um mês e máxima de 18 meses, residentes em Bauru.

O programa de intervenção Aspectos Biopsicossociais da Maternidade pode ser realizado tanto de maneira remediativa, com mães com algum tipo de risco já identificados, quanto de maneira preventiva, sem a realização de um diagnóstico prévio. Dessa forma, na presente pesquisa decidiu-se por não considerar o resultado da avaliação das práticas educativas como critério de inclusão no estudo.

O recrutamento das participantes foi realizado a partir do projeto de extensão "Acompanhamento do desenvolvimento de bebês: avaliação e orientação aos pais" que funciona em um Centro de Psicologia Aplicada (CPA), de uma universidade pública de uma cidade de porte médio, no interior paulista. Participaram da pesquisa 40 mães, sendo 20 mães adolescentes e 20 mães adultas.

As mães adolescentes tinham de 15 a 19 anos (Média=17; MED=17; DP=1,05) e as adultas tinham de 20 a 43 anos (Média=28,3; MED=26,5; DP=6,72). No início do estudo os bebês filhos das mães adolescentes tinham idade média de 5,4 meses (MED=4; DP=2,6), e os bebês filhos de mães adultas tinham em média 13 meses de idade (MED=15; DP=6,8). Os bebês das mães adultas eram 14 do sexo masculino e seis feminino enquanto que, das mães adolescentes, eram 11 do sexo masculino e nove do sexo feminino. Todas as participantes eram moradoras da zona urbana da cidade.

Das mães adultas, três possuíam Ensino Superior completo, 15 tinham Ensino Médio completo e, duas, o Ensino Fundamental completo. Das mães adolescentes seis tinham o Ensino Médio completo, 12, o Ensino Fundamental completo e duas não haviam concluído o Ensino Fundamental.

Material

Para a avaliação das práticas educativas parentais, pré- e pós-intervenção, foi utilizado o "Inventário de Estilos Parentais para Mães de Bebês (IEPMB)" adaptado de Gomide (2006) por Altafim, Schiavo e Rodrigues (2008). Essa adaptação foi necessária, pois não foi encontrado na literatura nacional um instrumento de avaliação de práticas parentais para mães de bebês.

Este instrumento consiste em 25 itens, agrupados a partir de seu conteúdo em cinco conjuntos de práticas parentais: Monitoria Positiva, Negligência, Abuso Físico, Disciplina Relaxada e Punição Inconsistente. As respostas são dadas em uma escala de likert de 3 pontos, em que a resposta "sempre" vale 2 pontos; "às vezes", 1 ponto; e "nunca", 0 (zero) ponto. Portanto, cada prática educativa pode ter a pontuação máxima de 10 pontos. Nas práticas parentais negativas quanto maior a pontuação piores são as práticas parentais, já para a prática monitoria positiva quanto maior o escore melhores são as práticas. O IEPMB tem sido utilizado em diversas pesquisas e tem se mostrado um instrumento eficiente e de fácil aplicação, para a identificação precoce de práticas parentais (Altafim, Rodrigues, & Schiavo, 2008; Rodrigues, Altafim, & Schiavo, 2011).

Procedimentos

Ao aceitarem participar da pesquisa as participantes receberam todas as informações pertinentes ao projeto em relação aos horários e atividades realizadas. O projeto no CPA, sendo aprovado pelo Comitê de Ética local da universidade de origem dos pesquisadores. Todas as providências referentes à ética em pesquisa com seres humanos foram tomadas, incluindo a assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de acordo com a Resolução 196/96 do CONEP.

A pesquisa foi realizada em três etapas: 1) avaliação das práticas parentais (pré-intervenção) por meio da aplicação do IEPMB; 2) realização do programa de intervenção Aspectos Biopsicossociais da Maternidade; 3) avaliação das práticas parentais (pós-intervenção) por meio da aplicação do IEPMB. Ao todo, foram conduzidos dois grupos de mães adolescentes e quatro grupos de mães adultas.

O programa de intervenção Aspectos Biopsicossociais da Maternidade foi conduzido em dez encontros semanais com as mães adolescentes, e nove encontros semanais com as mães adultas. Os encontros eram realizados em grupo, com duração de duas horas cada um, constituindo-se em um programa sem custos para as mães. Os temas abordados nos encontros foram: ciclo vital, maternidade, desenvolvimento infantil, práticas parentais, sexualidade e projeto de vida. Cada tema foi discutido em um encontro, com exceção do tema estilos e práticas parentais e sexualidade que foram realizados em dois encontros cada um. Para o grupo de mães adolescentes foi incluído um encontro com o tema adolescência. O Quadro 1 apresenta detalhadamente a descrição dos encontros.


Para análise dos dados

Foram realizadas análises descritivas e de comparação intra-grupo (Pré-intervenção X Pós- Intervenção). As análises foram conduzidas separadamente em relação a cada grupo, de mães adolescentes (Grupo 1) e mães adultas (Grupo 2). Para as comparações intra-grupo das avaliações pré e pós-intervenção foi utilizado o teste não paramétrico de Wilcoxon e para as comparações intergrupos utilizou-se o teste Mann Whitney. O nível de significância adotado no estudo foi de 6% (p< 0,06). As análises foram processadas por meio do Statistical Package for Social Sciences (SPSS, versão 19.0).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No Grupo 1, das mães adolescentes, comparando-se os dados da 1ª e da 2ª aplicação do IEPMB (Tabela 1), verifica-se que, de acordo com teste de Wilcoxon, houve uma melhora estatisticamente significativa para a prática Monitoria Positiva a partir da participação no programa de intervenção (p=0,05). Já para as práticas negativas não foram verificadas diferenças significativas entre as duas avaliações (pré- e pós-intervenção). Os dados sugerem que a participação no programa foi importante para a melhora da prática Monitoria Positiva.

No Grupo 2, das mães adultas, comparando-se os dados da 1ª e da 2ª avaliação do IEPMB, verifica-se que não houve diferença significativa para a prática Monitoria Positiva (Tabela 2). Quanto aos dados das práticas parentais negativas, em Abuso Físico, observa-se que houve uma piora da 1ª para a 2ª aplicação do IEPMB , estatisticamente significativa de acordo com teste de Wilcoxon (p= 0,05). Não foram verificadas diferenças significativas no pré e pós teste entre as outras três práticas negativas (Negligência, Punição Inconsistente e Disciplina Relaxada).

Verifica-se que na 1ª avaliação as mães de ambos os grupos apresentaram um escore alto para a prática monitoria positiva e um escore baixo para as práticas negativas, ou seja, antes de iniciarem o programa já apresentavam práticas parentais adequadas. Mesmo não apresentando em seus repertórios práticas que se constituíam como um fator de risco para o desenvolvimento dos bebês, as mães aceitaram participar do programa interventivo o que sugere interesse e preocupação com as questões da maternidade.

Pesquisas têm demonstrado que os estilos e práticas parentais passam por mudanças significativas ao longo do desenvolvimento da criança, decorrentes de modificações no comportamento infantil (Piccinini, Frizzo, Alvarenga, Lopes, & Tudge, 2007; Rodrigues, Altafim & Schiavo, 2011; Marin, Piccinini, & Tudge, 2011). A estabilidade, assim como mudanças nas práticas educativas parentais, tendem a estar presentes ao longo do desenvolvimento da criança (Marin, Piccinini & Tudge, 2011). Nos dois primeiros anos de vida, o bebê tem demandas diferentes e que mudam rapidamente, dificultando a identificação por parte das mães de quais práticas utilizar e quais os desdobramentos das mesmas no decorrer do tempo.

A maioria das participantes do presente estudo manteve a utilização de práticas parentais adequadas nas duas avaliações realizadas. Para a maioria delas o programa foi efetivo à medida que aumentou a utilização da prática monitoria positiva pelas mães adolescentes e manteve um escore alto para as mães adultas. Em relação às práticas negativas manteve baixo o escore em ambos os grupos, com exceção da prática abuso físico que teve um aumento significativo após a intervenção no grupo de mães adultas.

Na comparação dos grupos de mães adolescentes e adultas (comparação intergrupos) verificou-se diferença significativa na avaliação pré-intervenção para as práticas Abuso Físico (p=0,01), Negligência (p=0,01) e Disciplina Relaxada (p=0,01), indicando que as mães adultas utilizam-se mais dessas práticas (Tabela 3). Não foram verificadas diferenças significativas para as práticas Monitoria Positiva e Punição Inconsistente. Na avaliação pós-intervenção verificou-se diferença estatisticamente significativa entre os grupos para as práticas Abuso Físico (p=0,01) e Negligência (p=0,00), apontando para desempenho pior no grupo das mães adultas. A diferença entre os grupos na prática Disciplina Relaxada não se manteve na avaliação pós-intervenção, indicando que após o grupo as mães adultas e adolescente utilizavam-se dessa prática de forma semelhante, observa-se que a pontuação média das mães adultas melhorou na avaliação pós-intervenção. Ressalta-se que dentre as práticas negativas a Disciplina Relaxada foi a mais utilizada por ambos os grupos.

Nos casos em que houve piora nas práticas parentais negativas, seria interessante realizar uma investigação de outras variáveis como, por exemplo, a influência da idade dos bebês. De acordo com Rodrigues et al. (2011), uma das variáveis que pode estar relacionada com a piora nas práticas parentais de algumas participantes após um grupo de intervenção é a idade do bebê já que, à medida que os bebês crescem, as práticas parentais maternas podem piorar, pois o bebê passa a interagir mais com o ambiente e exigir uma maior atenção da mãe.

Alvarenga e Piccinini (2008) alertam que as práticas negativas podem resultar em comportamentos externalizantes na infância e adolescência. É possível que o excesso de choro em bebês até 12 meses possa ser um comportamento externalizante que, para Piccinini et al. (2007), podem suscitar nas mães o aumento de práticas como Abuso Físico que aumentou para o grupo das mães adultas.

O uso de punição corporal em práticas educativas parentais foi investigado em um estudo nacional e os resultados revelaram que a maioria das famílias das 472 crianças e dos adolescentes pesquisados utilizou ou ainda utilizava punições corporais (86%), especialmente tapas e palmadas (Weber, Viezzer & Brandenburg, 2004). Assim, é importante que futuras intervenções e orientações dadas às mães de bebês ofereçam informações sobre as consequencias negativas da utilização da prática Abuso Físico, mesmo que as mães não utilizem essa prática, pois podem vir a utilizar quando as crianças crescerem.

Os pais devem participar de grupos de intervenção com o objetivo de refletir sobre suas práticas educativas (Bolsoni-Silva et al., 2008; Rios & Williams, 2008). O estudo de Sartori e Van Der Sand (2004) reforça essa importância a partir dos resultados obtidos com grupos de mães de bebês que apontaram para resultados positivos desta prática.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo pretendeu analisar os efeitos de um programa de intervenção junto a dois grupos de mães de bebês. Observou-se que a maioria das práticas negativas ainda não são freqüentes no repertório comportamental das mães adolescentes e adultas, e que as participantes mantiveram nas duas avaliações a utilização de práticas parentais adequadas. Este resultado demonstra que os primeiros anos de vida do bebê são uma ótima fase para a realização de intervenções preventivas, tanto para fortalecer e o instalar a utilização de práticas positivas como para minimizar e/ou eliminar a utilização de práticas negativas, uma vez que as práticas parentais e os padrões de relação ainda estão sendo estabelecidos.

Sugere-se que novos estudos realizem a intervenção com grupos avaliados como de risco em relação às práticas educativas, para avaliar a efetividade do programa em modificar as práticas parentais inadequadas dos pais. O programa conduzido focalizou temas gerais e, entre eles, as práticas parentais. Todavia, são necessários investimentos pontuais em práticas parentais a partir da aplicação do IEPMB. É possível que temas focalizados nas dificuldades identificadas possam surtir mais efeito nas práticas educativas, gerando mudanças mais efetivas.

Sugere-se que futuras pesquisas realizem comparações entre grupos experimentais e grupos-controle, de forma a mensurar a variável idade do bebê. No presente estudo, os bebês filhos de mães adultas eram mais velhos, o que pode ter influenciado nos resultados obtidos. Outra sugestão é avaliar o efeito do programa na modificação de outras variáveis, além das práticas educativas parentais, tais como o comportamento das crianças e conflitos familiares, bem como incluir medidas de seguimento (follow-up).

Há que se destacar, por fim, a importância de se estender os programas de intervenção com mães de bebês aos pais, como estratégia para criar espaços de reflexão das práticas educativas e seus desdobramentos para o desenvolvimento infantil.

Recebido em 31/08/2011

Aceito em 15/11/2013

  • Altafim, E.R.P., Schiavo, R.A., & Rodrigues, O.M.P.R. (2008). Práticas parentais de mães adolescentes: um estudo exploratório. Temas sobre Desenvolvimento, São Paulo, 16, 104-110.
  • Alvarenga, P., & Piccinini, C. A. (2008). Práticas educativas maternas e indicadores do desenvolvimento social no terceiro ano de vida. Psicologia: Reflexão e Crítica, 22 (2), 191- 199.
  • Andrade, P. R., Ribeiro, C. A., & Silva, C. V. (2006). Mãe adolescente vivenciando o cuidado do filho: um modelo teórico. Revista Brasileira de Enfermagem (REBEn), 59 (1), 30-5.
  • Bolsoni-Silva, A. T. (2003). Habilidades Sociais Educativas, variáveis contextuais e problemas de comportamento: Comparando pais e mães de pré-escolares. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil.
  • Bolsoni-Silva, A. T., Bitondi, F., & Marturano, E. M. (2008). Intervenção em grupo para pais: a importância do diagnóstico comportamental individual. In M. R. Cavalcante (Org.). Análise do Comportamento: Avaliação e Intervenção (cap. 6, pp. 79-100). São Paulo: Roca.
  • Bolsoni-Silva, A. T., Carrara, M., & Marturano, E. M. (2008). Intervenção em grupo para pais: o que estar atento quanto à intervenção e às habilidades terapêuticas? In M. R. Cavalcante. (Org.). Análise do Comportamento: Avaliação e Intervenção (cap. 7 , pp. 102-135). São Paulo: Roca.
  • Bornstein, L., & Bornstein, M.H. (2007). Parenting styles and child social development. In R. E. Tremblay, R. G. Barr, & R. De.V. Peters (Eds.) Encyclopedia on Early Childhood Development [online](pp. 1-4). Montreal, Quebec: Centre of Excellence for Early Childhood Development. Retrieved Mar 03,2012, from http://www.child-encyclopedia.com/documents/BornsteinANGxp.pdf
  • Dias, A. C. G., & Teixeira, M. A. P. (2010). Gravidez na adolescência: um olhar sobre um fenômeno complexo. Paidéia (Ribeirão Preto), 20(45), 123-131.
  • Gomide, P.I.C. (2004). Pais presentes, pais ausentes: regras e limites. Petrópolis, RJ: Vozes.
  • Gomide, P.I.C. (2006). Inventários de Estilos Parentais (IEP): modelo teórico, manual de aplicação, apuração e interpretação. Rio de Janeiro: Editora Vozes.
  • Kassar, S. B., Lima, M.C., Albuquerque, M.F.M., Barbieri, M.A., & Gurgel, R.Q. (2006). Comparações das condições socioeconómicas e reprodutivas entre mães adolescentes e adultas jovens em três maternidades públicas de Maceió, Brasil. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, Recife, 6 (4), 397- 403.
  • Leme, V. B. R., Bolsoni-Silva, A. T., & Carrara, K. (2009). Uma análise comportamentalista de relatos verbais e práticas educativas parentais: Alcance e limites. Paidéia (Ribeirão Preto), 19, 239-247.
  • Macarini, S. M., Martins, G. D. F., Minetto, M. F. J., & Vieira, M. L. (2010). Práticas parentais: uma revisão da literatura brasileira. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 62(1), 119-134.
  • Marin, A. H., Piccinini, C. A., & Tudge, J. (2011). Estabilidade e mudança nas práticas educativas maternas e paternas ao longo dos anos pré-escolares da criança. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24, 71-79.
  • Mejia, A., Calam, R., & Sanders, M. (2012). A Review of Parenting Programs in Developing Countries: Opportunities and Challenges for Preventing Emotional and Behavioral Difficulties in Children. Clinical Child and Family Psychology Review, 15(2), 163-175.
  • Piccinini, C. A., Frizzo, G.B., Alvarenga, P., Lopes, R.S., & Tudge, J. (2007). Práticas Educativas de pais e mães de crianças aos 18 meses de idade. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 23 (4), 369-378.
  • Pinheiro, V. S. (2000). Repensando a maternidade na adolescência. Estudos de Psicologia, 5(1), 243-151.
  • Rios, K.S.A., & Williams, L.C.A. (2008). Intervenção com famílias como estratégia de prevenção de problemas de comportamento em crianças: uma revisão. Psicologia em Estudo (Maringá), 13 (4), 799- 806.
  • Rodrigues, O. M. P. R., Altafim, E. R. P., & Schiavo, R. A. (2011). Práticas parentais de mães adultas e adolescentes com bebês de um a doze meses. Aletheia (ULBRA), 34, 96-108.
  • Sanders, M.R., & Morawska, A. (2005). Can changing parental knowledge, dysfunctional expectations and attributions, and emotion regulation improve outcomes for children? In R. E. Tremblay, R. G. Barr, & R. De. V. Peters (Eds.) Encyclopedia on Early Childhood Development [online] (pp. 1-12). Montreal, Quebec: Centre of Excellence for Early Childhood Development. Retrieved Mar 04, 2012, from http://www.child-encyclopedia.com/documents/Sanders-MorawskaANGxp.pdf
  • Sartori, G. S., & Van Der Sand, I. C. P. (2004) Grupo de gestantes: espaço de conhecimentos, de trocas e de vínculos entre os participantes. Revista Eletrônica de Enfermagem, 6 (2), 153-165.
  • Trivette, C. M., & Dunst, C.J. (2009). Community-based parent support programs. In R. E. Tremblay, R. G. Barr, & R. De. V. Peters (Eds.) Encyclopedia on Early Childhood Development [online] (pp. 1-7). Montreal, Quebec: Centre of Excellence for Early Childhood Development. Retrieved Mar 03, 2012, from http://www.child-encyclopedia.com/documents/Trivette-Dunstangxp_rev.pdf
  • Weber, L. N. D., Viezzer, A. P., & Brandenburg, O. J. (2004). O uso de palmadas e surras como prática educativa. Estudos de Psicologia (Natal), 9, 227-237.
  • Endereço para correspondência:
    Sária Cristina Nogueira
    Departamento de Psicologia
    Av. Eng. Luiz Edmundo Carrijo Coube, 14-01
    CEP 17.033-360 Bauru-SP, Brasil
    E-mail:
  • 1
    Apoio e financiamento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      23 Jun 2015
    • Data do Fascículo
      Dez 2013

    Histórico

    • Recebido
      31 Ago 2011
    • Aceito
      15 Nov 2013
    Universidade Estadual de Maringá Avenida Colombo, 5790, CEP: 87020-900, Maringá, PR - Brasil., Tel.: 55 (44) 3011-4502; 55 (44) 3224-9202 - Maringá - PR - Brazil
    E-mail: revpsi@uem.br