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Psicodinâmica das relações incestuosas: assassinato e renascimento da alma em Preciosa

Psychodynamics of incestuous relationships: murder and rebirth of soul in Precious

Psicodinámica de las relaciones incestuosas: asesinato y el renacimiento del alma en Preciosa

Resumos

A linguagem dos filmes é vigorosa em facilitar processos formativos na clínica de orientação psicanalítica, pois metaforiza situações e contextos humanos, inclusive relações familiares incestuosas (RFIs). O trabalho teve como objetivo discutir um caso fílmico que focaliza RFsI encenadas por um casal parental e por uma filha. Preciosa: uma história de esperança, filme estadunidense dirigido e produzido por Lee Daniels em 2009, foi analisado qualitativamente por meio de teorias e discussões clínicas sobre a psicodinâmica familiar. A família de Preciosa é entendida de modo integrado, havendo mutualidade de influências entre seus diferentes membros, que se relacionam conforme os limites e potencialidades impostos pelo desenvolvimento psicossexual de cada um deles. Todos os envolvidos nas RFIs precisam enfrentar a tarefa de elaborar segredos familiares, os quais são transmitidos por via inconsciente de geração a geração. Preciosa ilustra a importância das funções familiares para a constituição das subjetividades e retrata desafios contemporâneos que se apresentam ao trabalho do clínico.

Abuso sexual; meios de comunicação de massa; transmissão psíquica entre gerações


The language of movies is powerful to facilitate formative processes in clinical psychoanalysis, because it metaphorizes human situations and contexts, including incestuous family relationships (IFR). The study aimed to discuss a filmic case focused on IFR, staged by a parental couple and a daughter. Precious: based on the novel "Push" by Sapphire, American film directed and produced by Lee Daniels in 2009, was qualitatively analyzed through theories and clinical discussions about family psychodynamics. The family of Precious is understood an integrated manner, with mutual influences between its different members, according to they relate to the limits and potentialities of psychosexual development imposed by each. All involved in IFR must address the task of drawing up family secrets, unconscious and transgenerationally transmitted. Precious illustrates the significance of family functions for the formation of subjectivities and portrays contemporary challenges that confront the clinician's work.

Sexual abuse; mass media; psychic transmission between generations


El lenguaje de las películas es vigoroso para facilitar procesos formativos en la clínica de orientación psicoanalítica, porque metaforiza situaciones y contextos humanos, incluyendo relaciones familiares incestuosas (RFI). El trabajo tuvo como objetivo discutir un caso de película centrado en RFI, escenificado por una pareja parental y por una hija. Preciosa, película estadounidense dirigida y producida por Lee Daniels en 2009, fue analizada cualitativamente, por medio de teorías y discusiones clínicas sobre psicodinámica familiar. La familia de Preciosa es entendida de modo integrado, habiendo mutualidad de influencias entre sus diferentes miembros, que se relacionan conforme los límites y potencialidades impuestos por el desarrollo psicosexual de cada uno de ellos. Todos los involucrados en las RFI necesitan enfrentar la tarea de elaborar secretos familiares, los cuales son transmitidos por vía inconsciente y transgeneracional. Preciosa ilustra la importancia de las funciones familiares para la constitución de las subjetividades y retrata los retos contemporáneos que se presentan al trabajo del clínico.

Abuso sexual; medios de comunicación de masas; transmisión psíquica entre las generaciones


ARTIGOS

Psicodinâmica das relações incestuosas: assassinato e renascimento da alma em Preciosa1 1 Apoio e financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Programa Institucional de Bolsas de Extensão e Cultura - Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade Federal de Goiás (PROBEC-UFG).

Psychodynamics of incestuous relationships: murder and rebirth of soul in Precious

Psicodinámica de las relaciones incestuosas: asesinato y el renacimiento del alma en Preciosa

Tales Vilela SanteiroI; Lucas RossatoII; Ana Paula de Melo JuizIII; Gisele Joana GobbettiIV

IProfessor adjunto do Curso de Psicologia da Universidade Federal de Goiás, Regional Jataí

IIPsicólogo graduado pelo curso de Psicologia da Universidade Federal de Goiás, Regional Jataí

IIIPsicóloga graduada pelo curso de Psicologia da Universidade Federal de Goiás, Regional Jataí, ex-bolsista PROBEC-UFG

IVPsicóloga responsável do Centro de Estudos e Atendimento Relativos ao Abuso Sexual (CEARAS) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Rua Ana Dias, 279, Praça José Peres de Assis, Setor Hermosa, CEP 75.803-320, Jataí-GO. E-mail: talessanteiro@hotmail.com

RESUMO

A linguagem dos filmes é vigorosa em facilitar processos formativos na clínica de orientação psicanalítica, pois metaforiza situações e contextos humanos, inclusive relações familiares incestuosas (RFIs). O trabalho teve como objetivo discutir um caso fílmico que focaliza RFsI encenadas por um casal parental e por uma filha. Preciosa: uma história de esperança, filme estadunidense dirigido e produzido por Lee Daniels em 2009, foi analisado qualitativamente por meio de teorias e discussões clínicas sobre a psicodinâmica familiar. A família de Preciosa é entendida de modo integrado, havendo mutualidade de influências entre seus diferentes membros, que se relacionam conforme os limites e potencialidades impostos pelo desenvolvimento psicossexual de cada um deles. Todos os envolvidos nas RFIs precisam enfrentar a tarefa de elaborar segredos familiares, os quais são transmitidos por via inconsciente de geração a geração. Preciosa ilustra a importância das funções familiares para a constituição das subjetividades e retrata desafios contemporâneos que se apresentam ao trabalho do clínico.

Palavras-chave: Abuso sexual; meios de comunicação de massa; transmissão psíquica entre gerações.

ABSTRACT

The language of movies is powerful to facilitate formative processes in clinical psychoanalysis, because it metaphorizes human situations and contexts, including incestuous family relationships (IFR). The study aimed to discuss a filmic case focused on IFR, staged by a parental couple and a daughter. Precious: based on the novel "Push" by Sapphire, American film directed and produced by Lee Daniels in 2009, was qualitatively analyzed through theories and clinical discussions about family psychodynamics. The family of Precious is understood an integrated manner, with mutual influences between its different members, according to they relate to the limits and potentialities of psychosexual development imposed by each. All involved in IFR must address the task of drawing up family secrets, unconscious and transgenerationally transmitted. Precious illustrates the significance of family functions for the formation of subjectivities and portrays contemporary challenges that confront the clinician's work.

Key words: Sexual abuse; mass media; psychic transmission between generations.

RESUMEN

El lenguaje de las películas es vigoroso para facilitar procesos formativos en la clínica de orientación psicoanalítica, porque metaforiza situaciones y contextos humanos, incluyendo relaciones familiares incestuosas (RFI). El trabajo tuvo como objetivo discutir un caso de película centrado en RFI, escenificado por una pareja parental y por una hija. Preciosa, película estadounidense dirigida y producida por Lee Daniels en 2009, fue analizada cualitativamente, por medio de teorías y discusiones clínicas sobre psicodinámica familiar. La familia de Preciosa es entendida de modo integrado, habiendo mutualidad de influencias entre sus diferentes miembros, que se relacionan conforme los límites y potencialidades impuestos por el desarrollo psicosexual de cada uno de ellos. Todos los involucrados en las RFI necesitan enfrentar la tarea de elaborar secretos familiares, los cuales son transmitidos por vía inconsciente y transgeneracional. Preciosa ilustra la importancia de las funciones familiares para la constitución de las subjetividades y retrata los retos contemporáneos que se presentan al trabajo del clínico.

Palabras-clave: Abuso sexual; medios de comunicación de masas; transmisión psíquica entre las generaciones.

Os meios de comunicação de massa têm sido reconhecidos como potencialmente influentes no modo de pensar e agir das pessoas; eles integram o Zeitgeist pós-moderno e, assim, são recursos que tanto refletem quanto criam cultura. Por essa via, filmes podem simbolizar o homem em suas idiossincrasias e em suas características alinhadas ao coletivo, de modo dinâmico; por meio deles se difundem temas, com teores que se aproximam da realidade cotidiana e da vida das pessoas.

O cinema tem sido utilizado como recurso mediador de formação discutido e pesquisado há tempos (Aguiar, 2009; Dantas, Martins & Vilitão, 2011; Gabbard, 2001), contudo nem sempre isso ocorreu ou ocorre de modo ordenado. Nesse sentido, trabalhos que invistam no esclarecimento sobre como a linguagem fílmica pode ser utilizada são entendidos como profícuos para o público estudantil e profissional de orientação psicanalítica, inclusive porque eles se encontram entre os consumidores dessa expressão artística. Ademais, em meio a diversas contribuições que certos filmes podem prestar para a formação clínica, uma das maiores talvez seja a ampliação da visibilidade sobre problemáticas psíquicas complexas.

O tema do abuso sexual infantil/adolescente (ASI), se por um lado é polêmico e difícil de ser compreendido e estudado, pelo que exige emocionalmente de quem lida com ele, por outro é um dos que têm sido observados com frequência no trabalho do psicólogo clínico. Esteja este profissional no desempenho de atividades de psicoterapia, de avaliação psicológica, de aconselhamento etc., e sejam essas atividades estabelecidas em âmbitos privados ou públicos, individuais ou grupais (Conselho Federal de Psicologia, 1992), as variações da sexualidade humana que lhe são apresentadas são tópico cotidiano a ser refletido e amadurecido.

Nessa direção, de modo geral, a seguinte indagação fomentou o processo de pesquisa: o que Preciosa veicula para favorecer o aprendizado sobre ASI e sobre dinâmica familiar incestuosa, a partir de um vértice psicanalítico? Diante dessa indagação, esse trabalho teve como objetivo discutir o filme dirigido e produzido por Lee Daniels (2009), para ponderar a utilidade dele no processo formativo do clínico envolvido em situações de ASI intrafamiliar.

Na atualidade, o ASI tornou-se um problema de saúde pública. Embora existam alguns fatores de risco que aumentam a probabilidade de sua ocorrência, como a negligência parental e/ou institucional, o fato é que é um fenômeno que atinge diversos setores e classes sociais, indiscriminadamente (Aded, Dalcin, Moraes & Cavalcanti, 2006; Kiem, 2008; Lee & Kim, 2011; Ramirez, Pinzon-Rondon & Botero, 2011). O impacto social do ASI fez com que, especificamente no Brasil, em 2000 fosse lançado o Programa Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-Juvenil e o dia 18 de maio tenha sido definido como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes (Brasil, 2010).

É sabido que o abuso sexual não é um fenômeno da contemporaneidade, ele é referido desde as civilizações mais antigas; contudo, maior ênfase na questão da sexualidade tem sido dada depois que ocorreu a reforma dos costumes e a reforma religiosa no século XVII (Aded et al., 2006). Para melhor compreensão do ASI, termos como violência sexual infantil, abuso sexual infantil e exploração sexual infantil, apesar de girarem em torno de um mesmo assunto, precisam ser elucidados e diferenciados.

A violência sexual é caracterizada pela violação dos direitos sexuais, no sentido de abusar ou explorar o corpo e a sexualidade de crianças e adolescentes. O abuso utiliza a sexualidade de uma criança ou adolescente para a prática de qualquer ato de natureza sexual, e a exploração é marcada pela utilização de menores para fins sexuais e é mediada por lucro, objetos de valor ou outros elementos de troca (Brasil, s.n.).

Ainda enquadrados como termos referentes ao ASI, infância e adolescência estão incluídos no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 08.069/1990), no qual se considera a pessoa de até doze anos de idade incompletos como criança e aquela entre doze e dezoito anos como adolescente. Ademais, também são conhecidas as inúmeras variações subjetivas e culturais embutidas nesse modo de compreensão das etapas iniciais do ciclo vital (Eizirik & Bassols, 2013).

Nesse sentido, o ASI tem sido definido como todo ato ou jogo sexual, relação hetero ou homossexual em que o agressor esteja em estágio de desenvolvimento psicossexual mais adiantado do que a criança ou o adolescente (Habigzang & Caminha, 2008). Ele vai desde uma carícia íntima, manipulação de genitália, mama ou ânus, exploração sexual, voyeurismo, exibicionismo até a penetração vaginal, anal ou oral. De todo modo, trata-se de uma forma de violência que envolve poder, coação e/ou sedução, além de duas desigualdades básicas, a de gênero e a de geração, existentes entre os envolvidos (Araújo, 2002).

Na maior parte das vezes o ASI ocorre entre pessoas próximas e conhecidas, principalmente entre membros da família. Neste último caso é caracterizado como intrafamiliar, sendo o ofensor parente próximo da vítima. O extrafamiliar ocorre quando ele não é parente próximo, podendo ser alguém de convívio no círculo familiar, ou completamente estranho.

A maioria dos casos de ASI intrafamiliar relatados envolvem o pai e os filhos. Cabe destacar que todo ato sexual de um familiar próximo com outro membro é caracterizado como incestuoso. Para Gobbetti e Cohen (2002), o incesto se manifesta através do relacionamento sexual entre pessoas que são membros de uma mesma família (exceto os cônjuges), sendo que a família não é definida apenas pela consanguinidade ou mesmo afinidade, mas, sobretudo, pela função parental social exercida pelas pessoas dentro do grupo.

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MÉTODO

O filme estadunidense Preciosa: uma história de esperança (Daniels, 2009) foi utilizado como base material de discussão (pesquisa documental). Ele foi assistido plano por plano e repetidas vezes. A análise qualitativa fundamentou-se em teorias sobre a psicodinâmica familiar e em discussões clínicas que consideraram Preciosa como caso. Essa última afirmativa implica em dizer que o estudo do caso da protagonista do filme foi concebido por meio do intercruzamento de duas metodologias de pesquisa reconhecidas no campo teórico psicanalítico: (a) o estudo de caso qualitativo, porque executado para obtenção de um conhecimento aprofundado sobre determinado sujeito; e (b) a aplicação de teorias psicanalíticas ao campo artístico.

De modo geral, Preciosa é um relato retrospectivo feito pela protagonista sobre sua condição de vida aos 16 anos. Ela é negra, analfabeta, obesa e mãe solteira de dois filhos resultantes de relações sexuais mantidas desde os três anos de idade com o próprio pai, figura ausente no filme, exceto nas memórias incestuosas que protagoniza. A mãe, Mary, presente fisicamente, fomenta o cenário geral de abuso sexual e de violência física e psicológica direcionado a Preciosa. Além disso, o contexto familiar retratado é empobrecido em aspectos socioculturais e afetivos.

O filme pode ser entendido a partir de três eixos principais, que se sobrepõem uns aos outros. No primeiro a direção de arte acentua os mal-estares vividos por Preciosa, carregando os cenários de tons escuros e insalubres. Nestes momentos trata-se de um filme violento, tanto no que explicita quanto no que sugere ao espectador em termos de violências que podem ser perpetradas contra um ser humano; mas num segundo modo de olhar, Preciosa devaneia, em especial ao integrar abusos, ocorridos tanto no ambiente familiar quanto na escola e nas ruas. Estes são instantes nos quais as cores vibrantes dominam a tela e levam o espectador a compartilhar de belos momentos que povoam sua mente.

Uma terceira forma de compreender os conteúdos do filme pode ser circunscrita aos voos que Preciosa alça para construir uma identidade diferenciada da de sua família de origem. São ocasiões nas quais ela busca fortalecer-se como pessoa, na medida em que se propõe a estudar e a se aprimorar em suas funções maternas. A amizade construída com uma professora, Ms. Rain, pode ser vista como um divisor simbólico a partir do qual ela experimenta variações de relações humanas com maior sustento no afeto e na empatia. Neste texto os três momentos serão considerados nas discussões, mas a opção dos autores não será a de expor em detalhes nem cenas nem diálogos, pois se acredita que o filme seja de conhecimento geral.

SOBRE A PSICODINÂMICA FAMILIAR

Falceto e Waldemar (2013) e Pincus e Dare (1987) discutem a importância de se considerar a família de modo integrado, não bastando analisar e compreender os indivíduos que a compõem. Referem-se à família e às interações mantidas entre seus membros considerando também o entorno social. Essa posição teórico-metodológica permite estudar os papéis que os membros de uma família atribuem uns aos outros, de forma consciente ou inconsciente, porque a família inteira se estrutura sob a influência deles.

A vinda de um bebê instaura uma espécie de drama familiar no qual existem dois protagonistas, que são o recém-nascido e a sua mãe, além de um ator coadjuvante imprescindível: o pai. Embora nos últimos anos os papéis paternos tenham sido progressivamente mais reconhecidos pela família, pela sociedade e pela comunidade acadêmica psicanalítica, quando o bebê nasce, a ênfase tem sido dada à relação mãe-bebê.

No mundo mental, inicialmente há uma relação simbiótica entre mãe e bebê: este sente a mãe como uma extensão de seu próprio corpo e a mãe, por sua vez, dedica-se totalmente às necessidades dele, ajudando-o a atribuir significado à suas próprias sensações. Considera-se, neste ponto, que há uma erotização do filho pela mãe, um processo necessário ao desenvolvimento emocional do recém-nascido. Entende-se aí a importância de um terceiro, que no ideal de família seria o pai, para pôr limites nesta relação, que, se perdurar por tempo maior que o necessário, torna-se também abusiva e pode prejudicar o desenvolvimento saudável da criança.

Pelo fato de tender a estar mais distanciado da díade mãe-filho, o pai terá um importante papel a desempenhar: quanto mais ele tiver prazer em acompanhar os cuidados e as necessidades exigidas pela chegada do bebê, menos provável é que a mãe se isole ou tenha, por exemplo, depressão. O pai, em desfrutando de saúde mental neste momento familiar crucial, tem a condição de catalisar reflexões sobre as repercussões da chegada da criança.

Neste sentido, o casal é entendido como uma instância que sofre inúmeros atravessamentos e perdas, em meio ao ganho de uma nova estrutura familiar: é tempo de elaborar a vida a três. O modo como cada parceiro viveu a infância terá reflexões e influências na capacidade de readaptação a esta nova situação. Pode haver dificuldades se eles não conseguirem se reestruturar. Se ambos os pais nunca experimentarem verdadeiramente um relacionamento a três – e aqui a referência é feita às experiências psíquicas primordiais vividas em âmbito edípico – é mais difícil eles serem capazes de abandonar a vida a dois e experimentar um relacionamento triangular. Isso pode se agravar ao despertar da sexualidade da criança, ao longo de sua biografia (Pincus & Dare, 1987).

Chegará um tempo em que a criança experimentará uma situação diferente: ela ama os pais, mas sofre o processo conflitante dos sentimentos de amor e ódio ligados a eles, o que constitui a essência da situação edipiana. O complexo edípico é fundamental no desenvolvimento psíquico da criança, desde que ocorra de forma saudável e se mantenha somente na fantasia e não avance para o campo da ação. Com o desenvolvimento da maior parte das culturas, o tabu do incesto é tido como universal e seu rompimento, inaceitável (Gobbetti, 2006).

Para a nova mãe é importante que a união com o bebê não implique a exclusão do pai. Ela deve saber que a partir daquele momento a relação deixa de ser dual, uma vez que envolve também o marido, e ao mesmo tempo não pode vir a se tornar uma relação a dois, apenas entre ela e o filho: a relação passa a ser a três. O casal precisa desenvolver condições de apoio mútuo, de modo que a mãe possa desenvolver sua preocupação materna primária (Lobo, 2008), livre de culpa ou ressentimento, e que o pai sinta-se o mais integrado possível.

Para a criança crescer em um ambiente favorável, seus pais deveriam se sentir suficientemente seguros e capacitados para lidar com as novas exigências que os aguardam. Eles precisariam, também, compreender seus próprios limites e ter consciência de seus sentimentos confusos diante da nova experiência, o que, naturalmente, dependerá da estrutura emocional e sociocultural de cada um deles. Em termos teóricos, é esperado que os pais recebam o bebê de modo maduro. Caso ocorra algo em que eles procedam de forma menos amadurecida do ponto de vista emocional, desejando ser tratados como bebês, experimentarão vivências psíquicas profundamente arraigadas em seus processos inconscientes, vinculados a frustrações, fracassos e desamparos de toda a ordem.

A amamentação e as experiências sensórias e psíquicas evocadas por ela são outro ponto importante a ser estimado, porque esta atividade fornece à maioria das mães uma profunda satisfação e para muitas pessoas é uma experiência comovedora - contudo pode ter diferentes implicações para o pai. Tal como sugerido anteriormente, alguns sentimentos inconscientes podem ser reavivados pela experiência da maternidade/paternidade, como fantasias incestuosas do pai em relação à mãe, levando-o a querer compartilhar do leite materno e sugar os seios da mãe; mas o convencional é que a mãe não tenha os mesmos sentimentos. O que anteriormente ela considerava órgãos para serem usufruídos como fonte de prazer com seu parceiro, agora também passa a ser uma fonte de satisfação para o seu bebê. Ela pode sentir-se repelida pelo desejo de seu marido de competir com o bebê, caso ele queira continuar a usar os seios como fonte de prazer erótico para si mesmo. Pincus e Dare (1987) analisam a situação familiar como uma estrutura em que os papéis entre seus membros vão influenciar a atuação deles próprios, de modo mais ou menos inconsciente.

Conforme as relações mantidas, a estrutura familiar vai se erigindo. Nesse cenário é fundamental que o casal parental se sinta incluído no processo e que as relações se desenvolvam de forma integrada, o que tanto mais ocorrerá quanto mais os genitores puderem meditar e dialogar sobre suas experiências passadas e atuais de filhos e pais. Em situações contrárias, segredos familiares passarão a vigorar de modo cada vez mais fortalecido, e tenderão a se repetir de geração em geração, até ao ponto de tornarem-se mitos, que, enquanto tais, não perdem a força e tendem a redundar em adoecimentos nas dinâmicas familiares, porque não elaborados (Pincus & Dare, 1987).

O fenômeno das relações incestuosas somente pode ser entendido na complexidade do âmbito familiar. Não há abuso, seja o sexual ou qualquer outro, que se propague entre membros de uma determinada família de modo desvinculado da sua própria história. Sobre isso cabe lembrar que as observações teóricas sobre psicodinâmica familiar foram amparadas essencialmente em Pincus e Dare (1987), embora outros estudos psicanalíticos que relevam a necessidade de compreender a transgeracionalidade familiar tenham sido desenvolvidos na realidade brasileira (Gomes & Zanetti, 2009; Scorsolini-Comin & Santos, 2012).

DISCUSSÕES POSSÍVEIS

Preciosa é uma obra a um só tempo verossímil e séria, humana e delicada, além de bem-conduzida técnica e emocionalmente, características que favorecem sua visibilidade e a tornam fértil para estudos acadêmicos (Godoi & Neves, 2012). O filme, conquanto remeta a 1987, exibe uma realidade que acomete milhões de crianças e adolescentes no mundo mesmo nos dias atuais, em que menores experimentam situações incestuosas, geradoras de adoecimento e de confusão de papéis na dinâmica familiar.

No decorrer das cenas do filme, Preciosa demonstra insatisfação com a cor de sua pele e com seu corpo. Com frequência ela se olha no espelho e se vê como outra pessoa, sinalizando sua baixa autoestima e autoimagem negativa. Essa forma de perceber-se parece dever-se, ao menos em parte, não somente às características de sua personalidade, mas também às influências de sua mãe, que a todo instante ridiculariza suas características físicas.

Nas famílias incestuosas é corriqueiro ambos os pais terem histórico de abuso sexual em sua origem familiar, não importando quem tenha sido denunciado por ter cometido o abuso. Tal fato leva a crer que a própria união do casal já contém indícios da repetição do ciclo da dinâmica incestuosa. Essas situações remetem Preciosa ao interjogo existente no sadomasoquismo de suas relações familiares e confirmam o que Fenichel (citado por Gabbard, 2008) observara há tempos, no que tange a pacientes masoquistas: eles se submetem aos abusos também como defesa contra a ansiedade de separação. Igualmente, eles se convencem de que uma relação sadomasoquista e abusiva configura a única forma disponível de relação de objeto: mantê-la é avaliado como menos ameaçador do que perdê-la.

Sentimentos de culpa nas crianças e adolescentes de famílias incestuosas são frequentes porque muitas vezes é no relacionamento sexualizado com o adulto que eles identificam um "ser visto", além de sentirem prazer pela relação erotizada. Apesar de serem os pais quem deveria impor limites à realização dos desejos edípicos, eles nem sempre têm condições emocionais para fazê-lo. É bastante comum mães de famílias incestuosas culparem as filhas pelo abuso, dizendo que elas seduzem os companheiros, tal como demonstrado no filme. Desse modo, Mary usa de um argumento que incute culpa pelos transtornos familiares, e quando o faz, isenta-se de eventuais responsabilidades e atualiza o mito familiar segundo o qual Preciosa é acusada de roubar o parceiro de sua própria mãe.

Habigzang e Caminha (2008) discutem o fato de o incesto ser poderoso porque o alcance de sua devastação é maior quando comparado a outras violências sexuais praticadas contra menores e porque está inserido nas constelações emocionais próprias aos conflitos familiares. Essa situação se agrava ainda mais quando se considera a presença contínua do agressor, que perpetua, assim, uma experiência psíquica devastadora, numa mente em construção que, por suas características, está pouco apta a defender-se. A criança se vê obrigada a conviver com a situação incestuosa e tem seu mundo externo e interno abalado, o que lhe suscita profundos sentimentos de insegurança.

Ressalta-se que Preciosa mantinha relações sexuais incestuosas tanto com o pai quanto com a mãe, já que em uma das cenas do filme Mary se masturba e chama a filha para junto dela, para prestar ajuda. Entende-se que esta é uma abordagem sensível de Lee Daniels (2009), pois existem poucos trabalhos que enfoquem o abuso sexual entre mães e filhos, a despeito de a experiência clínica com estas famílias mostrar a presença de abusos sexuais nessas relações como menos reconhecidos do que aqueles que usualmente são objeto de denúncias formais. Na maioria das vezes, situações abusivas não são percebidas enquanto tais nem pela família nem pela sociedade, devido ao acesso quase irrestrito da mãe ao corpo dos filhos. Elas podem ser configuradas por uma amamentação prolongada por um tempo muito maior que o necessário do ponto de vista biopsicossocial (mães que amamentam filhos de três, quanto, cinco anos ou mais), ou até por cuidados de higiene estendidos, como mães que dão banho em filhos adolescentes (Gobbetti, 2000).

Mary também pode ser vista como uma vítima secundária no processo de ASI (Araújo, 2002). Diante do fato de o companheiro abusar sexualmente da filha, ela recusa-se a aceitar a traição do marido, e com isso vive sentimentos ambivalentes em relação a Preciosa: sente-se culpada por não protegê-la, enciúma-se e se enraivece. Culpar a filha pela sedução seria um arranjo psíquico para suportar o impacto da violência, da desilusão e da frustração, o que fica bastante esclarecido nas cenas finais do filme, quando ela é entrevistada pela assistente social. A esse respeito, desde estudos iniciais de Freud (1905/1976a) e Fenichel (citado por Gabbard, 2008), pedófilos eram tidos como pessoas que evitam a ansiedade de castração ao buscarem relações com crianças para obter gratificação sexual porque estas oferecem menor resistência e evocam menos ansiedade, quando comparadas com parceiras adultas.

Existindo nexo nos sentimentos de Mary enquanto vítima secundária, o fato é que o papel reservado a ela é o de cuidadora, e isso não deve ser perdido de vista ao se analisarem situações semelhantes, em contextos fílmicos ou reais. Contrariamente ao que se esperaria de uma relação mãe-filha com características de adoecimento como as retratadas no filme, a saúde mental de Preciosa demonstra robustez imediatamente após o desfecho da entrevista com a assistente social. Quando ela decide não compartilhar dos sentimentos da mãe à custa dos próprios, diferencia-se dela, o que parece ser simbolizado pela distância física encenada.

A desumanização visualizada nas representações de Mary pode ser uma resposta de mulheres que na contemporaneidade se sentem impotentes no mundo adulto. A partir de experiências psíquicas dessa natureza elas podem empregar seu poder materno para danificar seus filhos do ponto de vista emocional e corporal (Raphael-Leff, 2007), mas em nível profundo elas o fazem como modo de agredir-se a si mesmas, caracterizando a maternidade perversa, consumada no alastramento de patologias sadomasoquistas entre as gerações, nas quais a mãe trata seu filho como parte de si e maltrata-o como expressão de seu ódio contra si mesma (Welldon, 2002 citado por Raphael-Leff, 2007).

Outro aspecto a ser considerado quando se discute a dinâmica das famílias em Preciosa é o referente à comorbidade de seus membros, sendo as relações sexuais apenas uma faceta de problemas vividos pelas pessoas que as constituem. Desse modo, estruturas psíquicas individuais pregressas, anteriores à existência da própria família, continuam eternizadas pelos membros adultos, que por sua vez as potencializam nos filhos.

O prolongamento do abuso sexual também merece alguns comentários. Essa situação pode prejudicar seriamente o desenvolvimento emocional, cognitivo e comportamental da criança ou adolescente, particularmente no caso de incesto (Malgarim & Benetti, 2011). Neste sentido, a maioria das relações sexuais incestuosas ocorre durante um longo período.

Em estudo realizado no Centro de Estudos e Atendimento Relativos ao Abuso Sexual, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Gobbetti, 2000), notou-se que a maioria das relações incestuosas tinha uma duração superior a um ano, sendo exceção a ocorrência de apenas um episódio, o que sugere ser o relacionamento sexual característica do funcionamento familiar. Desse modo, a duração da relação incestuosa assume uma importância qualitativa, pois significa não apenas um abuso sexual intrafamiliar prolongado, mas principalmente, uma mudança no tipo de relações existente na família. Uma relação sexual incestuosa que dure mais de um ano indica que os envolvidos apresentam praticamente uma relação conjugal, seja entre pai e filha seja entre irmãos, por exemplo; é a demonstração concreta da troca de papéis na esfera familiar.

Além do mais, os envolvidos em relações sexuais incestuosas podem desenvolver inúmeros problemas, como depressão, ansiedade, déficit de atenção, transtorno alimentar, dissociativo e de personalidade borderline, além do mais comum de todos: o de estresse pós-traumático (Habigzang & Caminha, 2008). Estes e outros problemas podem ser visualizados em Preciosa. Por essa via, Preciosa, ao ser agredida fisicamente pela mãe, rememora cenas de abusos praticados pelo pai e visualiza cenas de comidas gordurosas; porém automaticamente ela entra em uma fantasia de ser famosa e assediada por fãs. Parece associar os castigos maternos aos seus sentimentos da díade prazer e culpa.

A dissociação psíquica ilustrada pela protagonista caracteriza-se por uma variedade de mecanismos mentais envolvidos no desprendimento do mundo externo, nos quais ocorre distração, paralisia, evitação, fuga, fantasia, despersonalização, etc. Em várias cenas é possível observar que Preciosa funciona psiquicamente conforme processos dissociativos, algo semelhante ao observado nos casos estudados por Malgarim e Benetti (2011): quando a mãe lhe joga um objeto e Preciosa cai ao chão e quando alguns garotos a derrubam na rua. Outro tópico interessante marcado no filme seria quando Mary retoma a morte do marido, ocorrida por complicações de saúde relativas à soropositividade, o que pode ser útil para traçar fantasias de morte decorrentes da atuação incestuosa, a qual tem como princípio a destruição da família e dos sujeitos, mesmo que mascarada por relações eróticas.

Eventos abusivos como os vividos por Preciosa costumam ser recordados por reiteradas vezes e de diversas formas, impelindo ao reviver emocional desses abusos, com intensos sofrimentos psicológicos ou reatividade fisiológica. Também é comum ocorrer a busca inconsciente de repetidos relacionamentos abusivos. Todas estas ocorrências ilustram a compulsão à repetição, uma tendência inconsciente a reproduzir experiências desagradáveis que podem ser interpretadas como estando a serviço da pulsão de morte (Freud, 1920/1976b).

Esse aglomerado de situações esquematiza o incesto como fenômeno de alta complexidade, difícil de enfrentar para todos os envolvidos, sobretudo para a criança, mas também para sua família, pois a denúncia do segredo explicita a violência familiar (Costa, Penso, Rufini, Mendes & Borba, 2007; Gobbetti, 2006). O evento fundamental que marca e simboliza mudanças comportamentais ou psíquicas em Preciosa é o fato de ela ter sido encaminhada para uma escola alternativa. Nesta instituição suas incapacidades de administrar a própria vida passaram a ser problematizadas.

A escola representa, assim, um marco fundamental no decorrer da biografia de Preciosa, especialmente pelo papel desempenhado pela professora, que parece cumprir uma função materna, representada psiquicamente por sua continência e pela das colegas, pessoas que compartilhavam um status social e pessoal semelhante ao da protagonista. Após alguns embates iniciais estabelecidos entre todas essas personagens, empatia e amizade marcaram a tônica das aulas. De uma estudante em completo fracasso escolar, apática e excluída, ela se tornou uma pessoa ativa tanto no processo de ler/escrever quanto em outras esferas de seu viver. Esse aspecto emancipador envolto na educação de Preciosa foi desenvolvido por Godoi e Neves (2012).

Quando vai até a assistente social reconciliar-se com Preciosa, Mary narra a história do nascimento dela. Suas ambivalências emocionais em relação a Preciosa se escancaram: sentia amor, mas ao mesmo tempo, em sua experiência psíquica sentia raiva por ter sido trocada quando ela ainda era bebê. Nessa cena parece não ser plausível compreender a dinâmica familiar de Preciosa sem considerar as experiências traumáticas provavelmente constituintes do mundo psíquico de sua mãe. A cena é também exemplo de situações em que a negação, um mecanismo de defesa reconhecidamente imaturo (Gabbard, 2008), pode ser ricamente ilustrada e compreendida em suas funções na vida psíquica do ser humano envolvido em situação abusiva incestuosa, porque os sentimentos de Mary existem e são violentíssimos, porém não lhe pertencem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Preciosa beneficia o olhar que um clínico pode ter da estrutura familiar incestuosa, especialmente se subsidiado por teorias como as aqui enfocadas. Em paralelo, instiga o espectador a sentir as emoções envolvidas nas relações abusivas e mostra as violências nelas embutidas, ajudando-o a perceber que as sexuais são apenas uma dentre as várias possíveis, além de esclarecer a importância das funções familiares para a constituição das subjetividades. Naturalmente, a linguagem utilizada é focada num público alvo amplo, que inclui psicólogos de orientação psicanalítica como uma das possibilidades. Os elementos encenados são ordenados pelo diretor de modo que Preciosa não seja uma peça didática por si mesma. Analisar o filme como aqui se propôs implica em suprimir a necessidade subjacente a qualquer cinema comercial, por parte de quem o produz: o angariar de bilheteria. Por exemplo, nem sempre uma pessoa que sofre ASI teria condições de refazer sua histórica pessoal ao ponto de superá-la de modo tão construtivo quanto a protagonista do filme parece ter conseguido. Outra observação importante de frisar é que o filme Preciosa pode ser utilizado como um filme exemplar sobre o tema do ASI, embora não se tenha pretendido, com dele, realizar generalizações sobre tema de tão alta complexidade.

O filme ilustra mecanismos psíquicos de defesa acionados subjetivamente mediante realidades de extrema violência, que têm sido apresentados como desafios contemporâneos ao trabalho clínico. Cenas que denotam transgeracionalidade de vínculos incestuosos requerem olhar atento aos aspectos inconscientes dos personagens. Por essa via, Preciosa pode demonstrar que intervenções com integrantes de relações incestuosas são capazes de favorecer resiliência emocional semelhante à observada em Preciosa. Caso não se criem condições para essa ocorrência, parece provável que a repetição das situações abusivas possam incidir em gerações futuras da mesma família e até se alastrar para outras relações. Também por isso, a protagonista demonstra a possibilidade de desenvolvimento emocional em contexto familiar de miséria material e afetiva.

Preciosa pode auxiliar o clínico no processo de edificação de sua identidade profissional, pois lhe presta mais informações sobre uma faceta humana que é das mais visíveis na atualidade, mas que geralmente é incompreendida e deturpada. Além disso, embora seja uma produção estrangeira, o filme metaforiza realidades presentes na sociedade brasileira.

Estudar o caso de Preciosa e os psicodinamismos de sua família implica em discernir aspectos das realidades externas e internas de seus integrantes. Assassinatos reais e simbólicos provavelmente marcarão essa empreita e muitos segredos precisarão ser trazidos à luz, nomeados e elaborados.

É relevante entender que a subjetividade da protagonista, assim como a de pacientes que vivem situações semelhantes à dela, sempre estará vinculada a recursos pessoais e culturais disponíveis, os quais abrangem os familiares e os educacionais. Transpondo personagens do set para a realidade da clínica, também no setting é possível promover o renascimento de almas menos adoecidas e mais integradas emocionalmente.

Recebido em 15/07/2013

Aceito em 19/03/2014

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      10 Out 2014
    • Data do Fascículo
      Mar 2014

    Histórico

    • Recebido
      15 Jul 2013
    • Aceito
      19 Mar 2014
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