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O CONHECIMENTO E O SENTIDO DE REALIDADE NO PENSAMENTO DE SÁNDOR FERENCZI

CONOCIMIENTO Y SENTIDO DE REALIDAD EN EL PENSAMIENTO DE SÁNDOR FERENCZI1 1 Apoio e financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Bolsa Produtividade em Pesquisa.

RESUMO

Nas últimas décadas, a obra do psicanalista húngaro, Sándor Ferenczi, tem sido redescoberta e a importância de suas ideias vem sendo reconhecida. No entanto, o autor é lembrado, sobretudo, por suas inovações técnicas e suas reflexões sobre o trauma, embora sua obra comporte muitas contribuições diversas. Pode-se encontrar, em seus escritos, uma sofisticada teoria epistemológica e metapsicológica, ainda pouco estudada e reconhecida. Trata-se de uma teoria que vai além da de Freud e permite um aprofundamento da compreensão dos processos psíquicos e da própria possibilidade do conhecimento. Esse artigo tem como objetivo analisar e discutir as hipóteses de Ferenczi sobre o desenvolvimento do sentido de realidade, elaboradas em 'O desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios', de 1913, e 'O problema da afirmação do desprazer', de 1926. Procura-se demonstrar como ele desenvolve as hipóteses freudianas sobre a transição do princípio do prazer para o princípio de realidade e argumenta, de maneira original, que a autodestruição é condição para o conhecimento, enriquecendo as concepções metapsicológicas e a compreensão dos processos psíquicos fundamentais.

Palavras-chave:
Sándor Ferenczi; teoria psicanalítica; metapsicologia

RESUMEN.

En las últimas décadas, la obra del psicoanalista húngaro Sándor Ferenczi ha sido redescubierta y la importancia de sus ideas ha sido reconocida. Sin embargo, el autor es recordado, sobre todo, por sus innovaciones técnicas y sus reflexiones sobre el trauma, aunque su obra conlleva muchas otras contribuciones diversas. Se puede encontrar, en sus escritos, una sofisticada teoría epistemológica y metapsicológica, todavía poco estudiada y reconocida. Se trata de una teoría que va más allá de la de Freud y permite una profundización de la comprensión de los procesos psíquicos y de la propia posibilidad del conocimiento. En este artículo se tiene como objetivo analizar y discutir las hipótesis de Ferenczi sobre el desarrollo del sentido de realidad, elaboradas en 'O desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios', de 1913, y 'O problema da afirmação do desprazer', de 1926. Se busca demostrar cómo él desarrolla las hipótesis freudianas sobre la transición del principio del placer hacia el principio de realidad y argumenta de manera original que la autodestrucción es condición para el conocimiento, enriqueciendo las concepciones metapsicológicas y también la comprensión de los procesos psíquicos fundamentales.

Palabras clave:
Sándor Ferenczi; teoría psicoanalítica; metapsicología

ABSTRACT

Over recent decades, the work of the Hungarian psychoanalyst Sándor Ferenczi has been rediscovered and the importance of his ideas has been acknowledged. However, he is remembered mainly for his technical innovations and his reflections on trauma, even though his work contains many other different contributions. A sophisticated epistemological and metapsychological theory can be found in his writings, which is as yet little studied and appreciated. It is a theory that goes beyond Freud and allows for a deeper understanding of mental processes and the possibility of knowledge itself. This article aimed to analyze and discuss Ferenczi’s hypotheses on the development of the sense of reality as they are elaborated in 'O desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios' (1913) and 'O problema da afirmação do desprazer' (1926). It is demonstrated how Ferenczi further develops Freud’s hypotheses on the transition from the pleasure principle to the reality principle. He argues, in an original manner, that self-destruction is the condition for knowledge, thus enriching metapsychological views and the understanding of fundamental mental processes as well.

Keywords:
Sandór Ferenczi; psychoanalytic theory; metapsychology

Introdução

Nas últimas décadas, a obra do psicanalista húngaro, Sándor Ferenczi (1873-1933), saiu do esquecimento e a importância de suas ideias vem sendo reconhecida em uma série de eventos e publicações acadêmicas (Peláez, 2013Peláez, M. G. (2013). Sándor Ferenczi y la intelectualidad húngara del siglo XX. Affectio Societatis, 10(18), 1-11.). Rachman (2007Rachman, A. W. (2007). Sándor Ferenczi´s contributions to the evolution of psychoanalysis. Psychoanalytic Psychology, 24(1), 74-96. Recuperado de:http://dx.doi.org/10.1037/07369735.24.1.74
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) comenta que psicanalistas europeus e americanos têm buscado reabilitar a sua reputação, danificada pelas afirmações de Ernest Jones, de acordo com as quais a sua dissidência em relação à psicanálise freudiana teria ocorrido em função de sua psicopatologia. No entanto, como comenta Câmara e Herzog (2014Câmara, L., & Herzog, R. (2014)..Um e outro: Ferenczi e a epistemologia. Psicologia USP, 25(2), 125-133. Recuperado de: http://dx.doi.org/10.1590/0103-656420130041
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), Ferenczi é lembrado, sobretudo, por suas inovações técnicas e suas reflexões sobre o trauma, embora sua obra comporte várias outras contribuições, que não se limi tam a estas duas linhas de pesquisa e permanecem pouco exploradas. Mészáros (2014Mészáros, J. (2014). Ferenczi in our contemporary world. Psychoanalytic Inquiry, 34, 112-121. Recuperado de: http://dx.doi.org/ 10.1080/07351690.2014.850278
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) argumenta que o legado de Ferenczi é importante não apenas para a psicanálise, mas para o pensamento acadêmico em um sentido mais amplo, principalmente para aqueles que se interessam por abordagens interdisciplinares. Como aponta Guasto (2011Guasto, G. (2011). Welcome, trauma, and introjection: a tribute to Sándor Ferenczi. Journal of American Academy of Psychoanalysis , 39(2), 337-346.), embora Ferenczi seja definido como o autor de uma 'revolução clínica' e se considere geralmente que a técnica é a sua principal preocupação, uma nova metapsicologia pode ser encontrada em seus escritos. Encontramos, na obra do autor em questão, uma sofisticada teorização epistemológica e metapsicológica, ainda pouco estudada e reconhecida, que vai além da de Freud e permite um aprofundamento da compreensão dos processos psíquicos e da possibilidade do conhecimento.

Questões sobre a realidade, sobre o que nós conhecemos e como conhecemos, foram alvo da atenção de Freud desde seus primeiros escritos psicanalíticos (Kirshner, 1993Kirschner, L.A. (1993). Concepts of reality and psychic reality in psychoanalysis as ilustrated by the disagreement between Freud and Ferenczi. International Journal of Psycho-Analysis,74, 219-230). Ferenczi também se volta para essa questão e lhe atribui grande importância. No texto 'O desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios' (Ferenczi, 1992Kirschner, L.A. (1993). Concepts of reality and psychic reality in psychoanalysis as ilustrated by the disagreement between Freud and Ferenczi. International Journal of Psycho-Analysis,74, 219-230), ele apresenta algumas hipóteses sobre como se daria a aquisição da capacidade de conhecimento do mundo externo, as quais são retomadas e aprofundadas no texto 'O problema da afirmação do desprazer' (Ferenczi, 1993Kirschner, L.A. (1993). Concepts of reality and psychic reality in psychoanalysis as ilustrated by the disagreement between Freud and Ferenczi. International Journal of Psycho-Analysis,74, 219-230). Neste, o autor retoma as ideias que elaborara em 1913 para reconsiderar o problema em seu conjunto à luz de hipóteses formuladas por Freud na década de 20. Ferenczi formula uma rica teoria sobre o pensamento e o desenvolvimento do sentido de realidade, na qual vincula suas hipóteses àquelas de Freud sobre a negação e sobre o segundo dualismo pulsional e insere, no cerne do processo de desenvolvimento do sentido de realidade, a ideia de Spielrein (2014Spielrein, S. (2014). A destruição como origem do devir. In R. U. Cromberg (Ed. e R.D. Mundt, Trad.), Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise (p. 227-277). São Paulo: Livros da Matriz. (Original publicado em 1912).) de que a destruição é condição para o devir.

Esse artigo tem como objetivo analisar e discutir as hipóteses de Ferenczi sobre o desenvolvimento do sentido de realidade nos dois textos mencionados acima. Procuramos mostrar que ele formula uma teoria original, em muitos aspectos, que aprofunda as concepções metapsicológicas e a compreensão dos processos psíquicos fundamentais.

A aquisição do sentido de realidade

No texto, publicado em 1913, 'O desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios', Ferenczi (1992Ferenczi, S. (1992). O desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios. In S. Ferenczi. Obras completas(Vol. 2, p. 39-54, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em1913.) propõe a existência de diferentes estágios, nos quais a criança adquiriria paulatinamente a capacidade de diferenciar entre o que pertence ao eu e o que pertence ao mundo externo. O psicanalista húngaro retoma a hipótese freudiana, apresentada em 'Formulaciones sobre los dos principios del acaecer psíquico' (1998b), sobre a distinção entre um estágio inicial governado pelo princípio do prazer e outro regido pelo princípio de realidade e aponta que permanece sem explicação, no texto de Freud, se a transição entre os dois estágios se dá progressivamente ou por etapas. Esta é a questão que lhe interessa e para a qual ele busca uma reposta em seu texto de 1923.

No 'Proyecto de psicología' (Freud, 1998dFreud, S. (1998d). Proyecto de Psicología. In S. Freud. Obras completas (Vol. 1, p. 323-407, J. Strachey. ed. e J. L. Etcheverry, trad.). Buenos Aires, AR: Amorrortu Editores. Original publicado em 1950.), redigido em 1895 e publicado em 1950, Freud faz um primeiro esboço de uma teoria sobre o pensamento, a qual é parcialmente retomada em 'La interpretación de los sueños (Freud, 1998aFreud, S. (1998a). La interpretación de los sueños. In S. Freud. Obras completas (Vol. 5, J. Strachey. ed. e J. L. Etcheverry, trad.). Buenos Aires, AR: Amorrortu Editores. Original publicado em 1900.). Neste último texto, o pensamento é concebido a partir da hipótese da 'vivência de satisfação' do recém-nascido. Freud especula que, quando o bebê sente fome pela primeira vez, a excitação acumulada dá origem a descargas motoras como o choro e o grito, as quais funcionam como um meio de comunicação que permite ao adulto reconhecer o estado de carência da criança e propiciar a satisfação da mesma, a partir do fornecimento do alimento. Como consequência, surgiria um registro mnêmico do objeto que propiciou a satisfação, o qual se associaria a representação da fome, de maneira que, diante do ressurgimento desta, haveria uma tendência a ocupar, de forma intensa, a representação do objeto capaz de possibilitar a satisfação da necessidade. Tal tendência é o que Freud denomina de 'desejo'. Esta ocupação intensa culminaria em uma ativação alucinatória da representação desejada e na execução dos movimentos (sucção) capazes de propiciar a satisfação. Ferenczi (1992Ferenczi, S. (1992). O desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios. In S. Ferenczi. Obras completas(Vol. 2, p. 39-54, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em1913.) denomina esse período inicial da vida extrauterina 'estágio da onipotência alucinatória', pois, no caso da criança bem cuidada, tal alucinação se realizaria efetivamente, uma vez que os cuidadores compreenderiam o seu desejo e buscariam satisfazê-lo o mais prontamente possível, de forma a permitir à criança continuar sentindo-se onipotente. No entanto, conforme as hipóteses freudianas, com o desenvolvimento, situações em que a satisfação não ocorresse de forma imediata após a alucinação do objeto e a descarga motora - ou seja, situações em que o desprazer persistisse - fariam com que o investimento alucinatório da representação de desejo e a descarga motora consequente fossem inibidos e a criança passasse a poder diferenciar entre rememoração e percepção. Em vez de alucinar o objeto desejado, a criança passaria a ocupá-lo menos intensamente, de forma que este seria apenas rememorado, em vez de ser alucinado. Ela passaria, então, a ter que aprender a encontrar o objeto no mundo que fosse capaz de propiciar a satisfação - teria que aprender a alcançar a identidade entre a realidade externa e a realidade de pensamento. Com isso, teria início a percepção e o conhecimento do mundo externo.

Esse processo, que se intercalaria entre a inibição da alucinação e da descarga motora e o encontro do objeto desejado, seria o pensamento para Freud. Assim, o pensamento seria um processo impulsionado pela tendência a evitar o desprazer, de maneira que o aprendizado, o juízo e o conhecimento do mundo seriam incitados pela necessidade de encontrar um objeto capaz de propiciar a satisfação e, consequentemente, a fuga do desprazer (Freud, 1998aFreud, S. (1998a). La interpretación de los sueños. In S. Freud. Obras completas (Vol. 5, J. Strachey. ed. e J. L. Etcheverry, trad.). Buenos Aires, AR: Amorrortu Editores. Original publicado em 1900., 1998dFreud, S. (1998b). Formulaciones sobre los dos principios del acaecer psíquico. In S. Freud. Obras completas(Vol. 12, p. 217-232, J. Strachey. ed. e J. L. Etcheverry, trad.). Buenos Aires, AR: Amorrortu Editores. Original publicado em 1911.). Freud formula a hipótese de que o pensamento consistiria, inicialmente, na ativação de imagens de movimento, ou seja, em ação. Com a constituição da linguagem, surgiria a possibilidade de um pensamento verbal consciente, de forma que o pensamento e a ação se diferenciariam. A meta imediata da forma primária de pensamento, que consistiria em encontrar o objeto desejado, iria, com o progresso do desenvolvimento psíquico, dando lugar à meta, mais ampla, de conhecimento do mundo externo. Esse pensamento, que Freud denomina 'teórico', e que se acrescentaria ao pensamento 'prático' primário, visaria, em última instância, conhecer o mundo para facilitar o alcance de objetos capazes de satisfazer as necessidades. Portanto, é mantido na teoria o pressuposto de que todo pensamento seria impulsionado pela necessidade e visaria, em última instância, a evitação do desprazer (Caropreso, 2001Caropreso, F. (2001). Pensamento, linguagem e consciência nos textos iniciais de Freud. Paideia, 11(20), 29-38.). A passagem de um processo alucinatório - sem inibições, que ignoraria o mundo externo - a um processo inibido, que levaria em conta a realidade e se adaptaria progressivamente a ela, marcaria a transição do 'princípio do prazer' ao 'princípio de realidade', como esclarece Freud, de forma mais detalhada, em seu texto 'Formulaciones sobre los dos principios del acaecer psíquico' (Freud, 1998bFreud, S. (1998b). Formulaciones sobre los dos principios del acaecer psíquico. In S. Freud. Obras completas(Vol. 12, p. 217-232, J. Strachey. ed. e J. L. Etcheverry, trad.). Buenos Aires, AR: Amorrortu Editores. Original publicado em 1911.).

Ferenczi (1992Ferenczi, S. (1992). O desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios. In S. Ferenczi. Obras completas(Vol. 2, p. 39-54, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em1913.) busca descrever como se daria a substituição do princípio do prazer pelo princípio de realidade e argumenta que este é um processo lento, no qual a onipotência inicial vai, pouco a pouco, cedendo lugar ao reconhecimento da realidade. Nesse processo, o desprazer iria aos poucos sendo tolerado, pois a aquisição do sentido de realidade teria como condição a aquisição da capacidade de aceitar o desprazer. Segundo o autor, a fase inicial do psiquismo, caracterizada pelo sentimento de onipotência, poderia ser dividida em várias etapas.

Tendo em vista o desenvolvimento do ego em relação às pulsões de autoconservação, o primeiro estágio do desenvolvimento psíquico humano consistiria no que ele denomina 'período da onipotência incondicional'. Este estágio corresponderia ao período da vida passado no corpo da mãe, no qual não seria necessário fazer qualquer esforço para conseguir os nutrientes e o oxigênio necessários para a sobrevivência. Esta etapa intrauterina do desenvolvimento psíquico não é abordada na teoria freudiana. Ferenczi (1992Ferenczi, S. (1992). O desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios. In S. Ferenczi. Obras completas(Vol. 2, p. 39-54, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em1913.) argumenta que

[...] se o ser humano tem uma vida psíquica, mesmo inconsciente, no corpo materno - e seria absurdo acreditar que o psiquismo só começa a funcionar no momento do nascimento - ele deve ter, pela própria circunstância de existir, a impressão de que é realmente 'onipotente'. Pois o que é onipotência? É a impressão de ter tudo o que se quer e de não ter mais nada a desejar. É o que o feto poderia pretender no que lhe diz respeito, já que possui constantemente tudo o que lhe é necessário à satisfação de suas pulsões, portanto, nada tem a desejar, é desprovido de necessidades (Ferenczi, 1992Ferenczi, S. (1992). O desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios. In S. Ferenczi. Obras completas(Vol. 2, p. 39-54, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em1913., p. 42, grifo do autor).

Assim, no período da onipotência incondicional, a vida psíquica seria caracterizada por uma quietude isenta de desejos. Ela estaria submetida, de maneira exclusiva - não apenas na imaginação e de forma aproximada, como supõe Freud, mas na realidade e de modo efetivo - ao princípio do prazer.

Após o nascimento, a criança ingressaria no 'período da onipotência alucinatória mágica'. Ferenczi (1992Ferenczi, S. (1992). O desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios. In S. Ferenczi. Obras completas(Vol. 2, p. 39-54, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em1913.) argumenta que, com o nascimento, ocorre uma brutal perturbação no estado de quietude de que a criança desfrutava no útero materno e emerge, então, o primeiro desejo: reencontrar-se na situação perdida. Seguindo as ideias apresentadas por Freud em 'La interpretación de los sueños' (1998aFreud, S. (1998a). La interpretación de los sueños. In S. Freud. Obras completas (Vol. 5, J. Strachey. ed. e J. L. Etcheverry, trad.). Buenos Aires, AR: Amorrortu Editores. Original publicado em 1900.), o autor aponta que a primeira consequência de tal perturbação é o reinvestimento alucinatório do estágio de percepção abandonado. Ele argumenta, como mencionamos anteriormente, que, no caso da criança bem cuidada, os cuidadores compreendem instintivamente o seu desejo e, assim que ela manifesta seu desprazer, a colocam em situações que se aproximam da situação intrauterina. Dessa maneira, do ponto de vista subjetivo, a 'onipotência incondicional' só seria modificada porque a criança teria que passar a investir o que deseja de modo alucinatório. Ainda não haveria a necessidade de modificar algo no mundo externo para obter efetivamente a plena realização de seus desejos. Não estaria presente a noção de relações causais, nem da existência dos cuidadores, de forma que o bebê se sentiria dotado de uma força mágica capaz de concretizar todos os seus desejos, mediante a simples representação de sua satisfação.

No entanto, uma vez que o desejo de satisfações pulsionais surgiria periodicamente, sem que o mundo externo tivesse conhecimento do instante em que a pulsão se manifestasse, a partir de certo momento, a representação alucinatória deixaria de acarretar a realização efetiva do desejo. Esta passaria a ter como condição a produção de certos sinais pela criança, de forma que passaria a ser necessário efetuar um trabalho motor para que a situação se modificasse no sentido do seu desejo, ou seja, para que a 'identidade de representação' fosse seguida pela 'identidade de percepção'. A criança passaria a usar descargas motoras como se fossem sinais mágicos, cuja emissão - com um auxílio externo do qual ela não teria nenhuma suspeita - traria a satisfação. Assim, surgiria uma linguagem gestual, que permitiria ao bebê exprimir necessidades específicas, as quais, na maioria das vezes, seriam efetivamente satisfeitas, de modo que ela poderia continuar sentindo-se onipotente. Ferenczi (1992Ferenczi, S. (1992). O desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios. In S. Ferenczi. Obras completas(Vol. 2, p. 39-54, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em1913.) caracteriza, assim, um terceiro estágio de onipotência: o 'período da onipotência com a ajuda de gestos mágicos'.

Esses três estágios iniciais do desenvolvimento psíquico, descritos acima, têm em comum o fato de se apresentarem como períodos em que, de uma forma ou de outra, predomina a onipotência - 'incondicional, alucinatória, com o auxílio de gestos mágicos'. Nesses estágios, ainda não haveria a necessidade de o sujeito se diferenciar do mundo externo. Dessa maneira, toda a fase de onipotência estaria vinculada ao predomínio de experiências introjetivas.

Com o aumento da quantidade e da complexidade das necessidades, as condições outrora eficazes para a obtenção da satisfação deixariam de sê-lo. Assim, pouco a pouco, o sentimento de onipotência seria abandonado. O ser humano seria, então, obrigado a diferenciar de seu eu certas coisas más que não obedecem a sua vontade. Estas passariam a constituir um 'mundo externo', de forma que surgiria a diferenciação entre os conteúdos subjetivos e os conteúdos objetivos. Assim, o estágio de onipotência, que corresponderia a uma fase de introjeção, cederia lugar paulatinamente ao 'estágio de realidade', que corresponderia a uma fase de projeção (Ferenczi, 1992Ferenczi, S. (1992). O desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios. In S. Ferenczi. Obras completas(Vol. 2, p. 39-54, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em1913.).

O conceito de 'introjeção' é definido por Ferenczi como “[...] a extensão ao mundo externo do interesse, auto-erótico na origem, pela introdução dos objetos exteriores na esfera do ego” (Ferenczi, 1991bFerenczi, S. (1991b). O conceito de introjeção. In S. Ferenczi. Obras completas (Vol. 1, p. 181-184, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes Original publicado em 1912., p. 181). Segundo Pinheiro (2016Pinheiro, T. (2016). Ferenczi. São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.), tal conceito pode ser considerado o precursor fundamental da hipótese freudiana do narcisismo. A projeção, em contrapartida, é concebida como a exclusão de objetos, anteriormente integrados ao ego, para o mundo externo. Em 'Transferência e introjeção' (Ferenczi, 1991aKirschner, L.A. (1993). Concepts of reality and psychic reality in psychoanalysis as ilustrated by the disagreement between Freud and Ferenczi. International Journal of Psycho-Analysis,74, 219-230), ele esclarece:

[...] quando a criança exclui os 'objetos' da massa de suas percepções, até então unitárias, para formar com eles o 'mundo externo' e, pela primeira vez, opõe-lhes o 'ego' que lhe pertence mais diretamente; quando distingue, pela primeira vez, o 'percebido' objetivo (Empfindung) do vivenciado subjetivo (Gefühl), está efetuando, na realidade, a sua primeira operação projetiva, a 'projeção primitiva' (Ferenczi, 1991aFerenczi, S. (1991a). Transferência e introjeção. In S. Ferenczi. Obras completas (Vol. 1, p. 77-108, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes. Original publicado em1909., p. 85, grifo do autor).

Segundo Ferenczi (1992Ferenczi, S. (1992). O desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios. In S. Ferenczi. Obras completas(Vol. 2, p. 39-54, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em1913.), no estágio de realidade, a criança permaneceria por um período investindo o mundo externo com qualidades de si mesma, de maneira que ela passaria por um 'período animista', no qual todas as coisas lhe pareceriam animadas e ela buscaria reencontrar, em cada objeto, seu próprio órgão ou funcionamento. Assim, seriam estabelecidas relações simbólicas profundas entre o corpo humano e o mundo dos objetos; a diversidade do mundo externo seria figurada por meio de seu corpo. Com essa hipótese, segundo Bastos (1993Bastos, L. A. M. (1993). Transferência e desenvolvimento do ego: uma abordagem ferencziana. Percurso,(10),45-49. Recuperado de:http://revistapercurso.uol.com.br/pdfs/p10_texto08.pdf
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), começa a emergir a noção de ego corporal, que viria a ser desenvolvida por Freud nos anos subsequentes. Tal relação simbólica entre os objetos externos e o corpo será também enfatizada e desenvolvida por Melanie Klein em sua teoria (Petot, 1991Petot, J. M. (1991). Melanie Klein I: primeiras descobertas e primeiro sistema. São Paulo, SP: Perspectiva.). Para Ferenczi (1992), essa aptidão para a figuração simbólica possibilitaria um aperfeiçoamento da linguagem gestual, que permitiria ao infante expressar desejos relacionados diretamente ao seu corpo, assim como desejos relacionados à modificação do mundo externo.

Dessa forma, como comenta Alvarez (1997Alvarez, C. M. N. (1997). Um estudo sobre a transferência na obra de SándorFerenczi(Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.), o fato de a criança ser levada a projetar não significa que ela deixe de realizar introjeções. Ao contrário, a introjeção se impõe como um mecanismo capaz de estabelecer o próprio universo simbólico do sujeito ao fazer com que ele invista os objetos do mundo externo a partir de sua própria forma autoerótica de investimento. Verztman (2002Verztman, J. S. (2002). O observador do mundo: a noção de clivagem em Ferenczi. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, 5(1), 59-78. Recuperado de:https://dx.doi.org/10.1590/S1516-14982002000100005
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) aponta que o processo introjetivo seria o responsável pela capacidade da criança de se inserir no mundo.

Aos poucos, o simbolismo gestual seria substituído pelo simbolismo verbal e a linguagem acabaria sobrepondo-se aos outros modos de representação, uma vez que as palavras permitiriam uma versão muito mais econômica e precisa dos desejos. Seguindo as hipóteses de Freud (1998aFreud, S. (1998a). La interpretación de los sueños. In S. Freud. Obras completas (Vol. 5, J. Strachey. ed. e J. L. Etcheverry, trad.). Buenos Aires, AR: Amorrortu Editores. Original publicado em 1900.), Ferenczi (1992Ferenczi, S. (1992). O desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios. In S. Ferenczi. Obras completas(Vol. 2, p. 39-54, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em1913.) argumenta que as associações verbais tornariam possível o pensamento consciente, ao permitirem que os processos associativos produzissem qualidades sensoriais. O pensamento consciente por meio de signos verbais tornaria possível a melhor adaptação à realidade e seria a realização mais alta do aparelho psíquico, coloca o autor.

Ferenczi (1992Ferenczi, S. (1992). O desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios. In S. Ferenczi. Obras completas(Vol. 2, p. 39-54, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em1913.) sustenta que, com o ingresso no estágio de realidade, apesar de começar a emergir a diferenciação entre o ego e o mundo externo, o sentimento de onipotência continuaria presente, por um período, e seria abandonado pouco a pouco. O autor argumenta que, de início, os desejos que a criança conceberia sob a forma de pensamento seriam tão pouco numerosos e complexos que o meio conseguiria facilmente adivinhá-los, em sua maior parte, e buscaria realizá-los rapidamente. Dessa maneira, a criança ainda acreditaria deter poderes mágicos, motivo pelo qual essa fase inicial do estágio de realidade é denominada 'período dos pensamentos e palavras mágicas'.

Como esclarece o autor em 'O problema da afirmação do desprazer' (Ferenczi, 1993Ferenczi, S. (1993). O problema da afirmação do desprazer. In S. Ferenczi. Obras completas (Vol. 3, p. 293-404, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em 1926.), a onipotência pessoal seria gradualmente abandonada e transferida para outras pessoas (pais, deuses...), até que, em um último estágio - um 'estágio científico de reconhecimento do mundo' -, o sentimento de onipotência seria finalmente abandonado.

Pode-se dizer, portanto, que, para Ferenczi (1992Ferenczi, S. (1992). O desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios. In S. Ferenczi. Obras completas(Vol. 2, p. 39-54, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em1913.), o desenvolvimento do sentido de realidade seria um processo gradual, impulsionado pela frustração e pela necessidade de adaptação. A seguinte passagem sintetiza de forma clara suas concepções.

O desenvolvimento do sentido de realidade apresenta-se em geral como uma série de sucessivos impulsos de recalcamento, aos quais o ser humano é forçado pela necessidade, pela frustração que exige adaptação, e não por 'tendências para a evolução' espontâneas. O primeiro grande recalcamento torna-se necessário pelo processo de nascimento que, com toda certeza, faz-se sem colaboração ativa, sem 'intenção' por parte da criança. O feto preferiria muito permanecer na quietude do corpo materno, mas é implacavelmente posto no mundo, deve esquecer (recalcar) seus modos de satisfação preferidos e adaptar-se a outros. O mesmo jogo cruel repete-se a cada estágio de desenvolvimento (Ferenczi, 1992Ferenczi, S. (1992). O desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios. In S. Ferenczi. Obras completas(Vol. 2, p. 39-54, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em1913., p. 51-52, grifo do autor).

Essas hipóteses formuladas em 1913 são complementadas e desenvolvidas em 1926.

O conhecimento tem como condição a ambivalência e a autodestruição

No texto 'O problema da afirmação do desprazer', Ferenczi (1993Ferenczi, S. (1993). O problema da afirmação do desprazer. In S. Ferenczi. Obras completas (Vol. 3, p. 293-404, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em 1926.) reconhece que, no momento da formulação das hipóteses de 1913, não era possível esclarecer quais processos internos acompanham a passagem do estágio de onipotência ao de realidade. Segundo ele, tal esclarecimento se tornou possível com a formulação da teoria freudiana do segundo dualismo pulsional e com as ideias apresentadas por Freud no texto 'La negación' (Freud, 1998cFreud, S. (1998c). La negácion. In S. Freud. Obras completas (Vol. 19, p. 249-257, J. Strachey. ed. e J. L. Etcheverry, trad.). Buenos Aires, AR: Amorrortu Editores. Original publicado em 1925.).

Em 'La negación' (Freud, 1998cFreud, S. (1998c). La negácion. In S. Freud. Obras completas (Vol. 19, p. 249-257, J. Strachey. ed. e J. L. Etcheverry, trad.). Buenos Aires, AR: Amorrortu Editores. Original publicado em 1925.), Freud dá um passo além em sua teorização sobre a passagem do princípio do prazer ao princípio de realidade ao propor a hipótese de que a negação da realidade consiste em uma etapa intermediária entre a ignorância e o reconhecimento da mesma. Após um período solipsista, em que a realidade externa seria simplesmente ignorada, haveria um período de negação, no qual o mundo externo - estranho ao ego e, portanto, hostil a este - poderia ter acesso à consciência apesar do desprazer, na medida em que este último fosse negado. Nesse caso, como diz Ferenczi: “[...] a ignorância por alucinação negativa já não tem êxito completo e o desprazer não é mais ignorado, mas converte-se no conteúdo da percepção sob a forma de negação” (Ferenczi, 1993Ferenczi, S. (1993). O problema da afirmação do desprazer. In S. Ferenczi. Obras completas (Vol. 3, p. 293-404, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em 1926., p. 394)

Dessa maneira, haveria uma etapa inicial em que o mundo externo desprazeroso seria ignorado, uma etapa intermediária em que este seria negado, até que, por fim, surgiria o reconhecimento, a afirmação, do desprazer. O problema da aquisição do sentido de realidade seria, portanto, o problema da aceitação do desprazer. A questão que o autor levanta é: “[...] o que deve acontecer para que desapareça o último obstáculo a essa aceitação, e para que a 'afirmação de um desprazer', ou seja, o desaparecimento da tendência ao recalcamento, passe a ser possível?” (Ferenczi, 1993Ferenczi, S. (1993). O problema da afirmação do desprazer. In S. Ferenczi. Obras completas (Vol. 3, p. 293-404, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em 1926., p. 394, grifo do autor). O pensamento de Freud indica, diz ele, que a afirmação do desprazer é sempre um processo duplo, uma vez que primeiro ocorre uma tentativa de negar o desprazer enquanto fato, e, em seguida, um novo esforço para negar a negação.

A partir de algumas considerações sobre fenômenos clínicos e sobre as hipóteses formuladas por Freud em 'La interpretación de los sueños' (Freud, 1998aFreud, S. (1998a). La interpretación de los sueños. In S. Freud. Obras completas (Vol. 5, J. Strachey. ed. e J. L. Etcheverry, trad.). Buenos Aires, AR: Amorrortu Editores. Original publicado em 1900.), Ferenczi (1992Ferenczi, S. (1992). O desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios. In S. Ferenczi. Obras completas(Vol. 2, p. 39-54, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em1913.) argumenta que, sem renunciar ao pressuposto fundamental da psicanálise de que a busca pelo prazer é a tendência fundamental do psiquismo, a possibilidade da afirmação do desprazer só pode ser compreendida levando-se em consideração a compensação e a evitação de um desprazer ainda maior. Isso é evidente no pensamento freudiano, assim como nas ideias apresentadas por Ferenczi em seu texto de 1913. No entanto, algo mais seria necessário para compreender esse processo. Ele defende a necessidade de um novo elemento para esclarecer como se torna possível a aquisição do sentido de realidade: a presença do desintrincamento pulsional.

Para ilustrar suas hipóteses, o autor usa o exemplo de uma criança que deseja mamar. Se a criança é apaziguada no momento certo, ela só conhece a si mesma, ou seja, permanece alheia a existência de coisas estranhas a ela, inclusive de sua mãe. Portanto, não tem sentimentos, nem bons nem maus, a respeito dos objetos, os quais, na verdade, não existem para ela. Quando a criança sofre o desprazer da fome e da sede, argumenta Ferenczi (1993Ferenczi, S. (1993). O problema da afirmação do desprazer. In S. Ferenczi. Obras completas (Vol. 3, p. 293-404, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em 1926.), se produz uma espécie de 'desintrincamento pulsional' na vida psíquica, o qual se manifesta pela descarga motora descoordenada, pelo choro e demais descargas reflexas. Ao reencontrar o seio, este deixa de ser algo indiferente, ou seja, algo sempre à disposição e que, portanto, não precisa ser conhecido. O seio, então, torna-se uma 'representação de objeto' e passa a ser alvo de amor e de ódio.

Esse exemplo, diz Ferenczi (1993Ferenczi, S. (1993). O problema da afirmação do desprazer. In S. Ferenczi. Obras completas (Vol. 3, p. 293-404, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em 1926.), ilustra as hipóteses freudianas, apresentadas em 'La negación' , segundo as quais o objetivo primário do teste de realidade não é encontrar o objeto correspondente ao que é representado, mas 'reencontrá-lo' e de que, para que tal teste ocorra, é necessário que tenham sido perdidos objetos que outrora proporcionaram uma satisfação real. Tal exemplo ilustraria também o fato de que a 'ambivalência', resultante do desintrincamento pulsional, é absolutamente necessária para que apareça uma 'percepção de objeto'. Nós não tomamos conhecimento das coisas que nos amam sempre. Estas são simplesmente incluídas em nosso ego subjetivo, argumenta o autor. Por outro lado, as coisas que nos são e sempre foram hostis são simplesmente ignoradas. Já as coisas que não estão incondicionalmente à nossa disposição - aquelas de que gostamos porque nos satisfazem e que detestamos porque não nos obedecem sempre - dão origem a traços mnêmicos, aos quais se liga um caráter de objetividade. Assim, apenas os objetos que desejamos e que nos frustram, ou seja, que são alvos de sentimentos ambivalentes poderiam ser representados; poderiam vir a ser conhecidos. A aquisição do sentido de realidade teria como condição, portanto, a ambivalência resultante do desintrincamento pulsional e teria como objetivo obter domínio sobre tais objetos. Nas palavras do autor,

[...] Tudo se passa como se as duas espécies de pulsões se neutralizassem mutuamente quando o ego se encontra em repouso, à maneira da eletricidade negativa e positiva num corpo elétrico inerte e como se nos dois casos influências externas particulares fossem necessárias para separar as duas espécies de correntes e torná-las de novo ativas. O aparecimento da ambivalência seria, portanto, uma espécie de medida defensiva, uma aptidão geral para a resistência ativa que representaria, assim como o fenômeno psíquico que o acompanha, o reconhecimento do mundo objetivo, um dos meios de controlá-lo (Ferenczi, 1993Ferenczi, S. (1993). O problema da afirmação do desprazer. In S. Ferenczi. Obras completas (Vol. 3, p. 293-404, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em 1926., p. 398).

No entanto, embora o desintrincamento pulsional permitisse a percepção dos objetos externos, ele não garantiria uma visão 'objetiva', imparcial, dos mesmos. Ao contrário, tais objetos se tornariam, alternadamente, alvos de um amor e de um ódio igualmente intensos, coloca Ferenczi (1993Ferenczi, S. (1993). O problema da afirmação do desprazer. In S. Ferenczi. Obras completas (Vol. 3, p. 293-404, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em 1926.). Para que a objetividade fosse alcançada, seria necessário ocorrer um novo intrincamento pulsional, ou seja, seria preciso que as pulsões liberadas fossem novamente inibidas e voltassem a se unir. O autor especula que talvez fosse esse o processo que asseguraria a inibição e o adiamento da ação até que a identidade entre a realidade externa e a realidade de pensamento fosse alcançada. Dessa maneira, a capacidade de julgar e agir de modo objetivo seria, essencialmente, a das tendências de ódio e de amor para se neutralizarem mutuamente.

Na passagem do estágio de onipotência ao estágio de realidade, o primeiro passo doloroso seria perceber que uma parte das coisas boas não fazem parte do ego e que é preciso diferenciá-la como 'mundo externo'. Seria preciso perceber também que algo desagradável pode ser produzido no próprio ego. Temos que aceitar que algumas coisas desagradáveis, as quais antes acreditávamos pertencerem ao mundo, na verdade, nos pertencem e temos que aceitar também que coisas boas, as quais tínhamos a ilusão de nos pertencerem, na verdade, fazem parte do mundo externo. Segundo Ferenczi, esse reconhecimento teria como condição o desintrincamento pulsional. O passo seguinte no processo de afirmação do desprazer, ou de reconhecimento da realidade, se daria a partir do novo intrincamento pulsional, que permitiria uma neutralização das pulsões de vida e de morte e uma percepção mais imparcial do objeto. Dessa forma, para conhecer os objetos de forma objetiva, seria necessário inibir a agressividade a eles direcionada, o que seria feito a partir da ligação promovida pela pulsão de vida. Por isso, o autor afirma que “[...] o reconhecimento do mundo externo corresponde, de fato, a uma realização parcial do imperativo cristão: Ama os teus inimigos” (Ferenczi, 1993Ferenczi, S. (1993). O problema da afirmação do desprazer. In S. Ferenczi. Obras completas (Vol. 3, p. 293-404, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em 1926., p. 400).

Ferenczi (1993Ferenczi, S. (1993). O problema da afirmação do desprazer. In S. Ferenczi. Obras completas (Vol. 3, p. 293-404, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em 1926.) ressalta que o processo de inclusão de partes hostis do mundo externo no ego e de renúncia a partes amadas deste, implicado no reconhecimento e na adaptação à realidade, envolve uma modificação 'masoquista' da direção da agressão. Podemos inferir que tal masoquismo pode ser entendido em dois sentidos. Por um lado, partes que antes eu tinha a ilusão de me pertencerem têm que ser destruídas; tenho que renunciá-las. Por outro, partes minhas hostis que eram projetadas no mundo têm que ser incluídas no ego, portanto, a agressividade voltada para o mundo deve voltar-se para o ego. Esta autodestruição de partes do ego, no entanto, traria como consequência o devir; ela seria a impulsora do processo de conhecimento e adaptação à realidade, uma vez que seria a partir dela que surgiria a possibilidade de representação dos objetos externos e que o sentido de realidade se desenvolveria. Nas palavras do autor,

[...] o mais surpreendente nessa autodestruição é o fato de que neste caso (na adaptação, o reconhecimento do mundo circundante, a formulação de um julgamento objetivo), a destruição converte-se verdadeiramente na 'causa do devir'. É tolerada uma destruição parcial do ego, mas somente com o objetivo de construir, a partir do que restou, um ego capaz de resistência ainda maior [...], ao passo que Eros, liberto por ocasião do desintrincamento pulsional, transforma a destruição num devir, num desenvolvimento contínuo das partes que permaneceram incólumes (Ferenczi, 1993Ferenczi, S. (1993). O problema da afirmação do desprazer. In S. Ferenczi. Obras completas (Vol. 3, p. 293-404, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em 1926., p. 402, grifo autor).

Nessa passagem, Ferenczi se refere à hipótese apresentada por Sabina Spielrein em 'A destruição como origem do devir' (Spielrein, 2014Spielrein, S. (2014). A destruição como origem do devir. In R. U. Cromberg (Ed. e R.D. Mundt, Trad.), Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise (p. 227-277). São Paulo: Livros da Matriz. (Original publicado em 1912).), de que a destruição traria como consequência necessariamente a criação. Neste texto, a autora sustenta que a destruição, impulsionada pelo 'instinto de morte' (Todesinstinkt), seria condição para a criação; para o devir. Para ela, o instinto sexual (Sexualinstinkt) seria composto por um impulso destrutivo - pelo instinto de morte - e outro reprodutivo e a destruição seria condição para o surgimento do novo e para a preservação da vida.

O conceito de Spielrein de instinto de morte se distancia significativamente do de Freud. Entre outras coisas, para ela, o instinto de morte seria interno ao instinto sexual e não um impulso independente e oposto aquele de preservação da vida. Além disso, de acordo com suas hipóteses, o instinto de morte não visaria à aniquilação da vida como um todo, mas a destruição do ego e tal destruição seria condição e traria necessariamente como consequência a criação de algo novo, diferentemente de Freud (Caropreso, 2016Caropreso, F. (2016). O instinto de morte segundo Sabina Spielrein.Psicologia USP,27(3), 414-419. Recuperado de:http://dx.doi.org/10.1590/0103-656420150058
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, 2017Caropreso, F. (2017). The death instinct and the mental dimension beyond the pleasure principle in the works of Spielrein and Freud.International Journal of Psychoanalysis, 98, 1741-1762.). Embora Ferenczi mantenha o pressuposto freudiano de que a pulsão de morte é uma classe de pulsões independente da pulsão de vida, distanciando-se, nesse aspecto, de Spielrein, ele a vincula a um aspecto construtivo ao propor que a destruição é condição para o devir; que a destruição do ego é condição para a representação e o conhecimento do mundo. Nesse ponto, suas hipóteses se aproximam daquelas da psicanalista. Harris (2015Harris, A. (2015). Language is there to bewilder itself and others: theoretical and clinical contributions of Sabina Spielrein. Journalof American Psychoanalytic Association, 63(4),727-67.) argumenta que é possível encontrar ecos de Spielrein no pensamento de Ferenczi.

Para Ferenczi, portanto, a destruição de partes anteriormente incorporadas ao ego permitiria a constituição de traços mnêmicos, de forma que a pulsão de destruição daria o impulso inicial no processo de aquisição do sentido de realidade. O passo seguinte, contudo, seria dado por Eros.

Irei mesmo ao ponto de considerar os traços mnêmicos como cicatrizes de 'impressões traumáticas, produtos da destruição' que Eros, infatigável, decide não obstante empregar no seu sentido, ou seja, na preservação da vida: faz deles um novo sistema psíquico que permite ao ego orientar-se melhor em seu meio ambiente e formar julgamentos mais sólidos. De fato, só a pulsão de destruição 'quer o mal' e é Eros quem 'dela extrai o bem' (Ferenczi, 1993Ferenczi, S. (1993). O problema da afirmação do desprazer. In S. Ferenczi. Obras completas (Vol. 3, p. 293-404, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em 1926., p. 402, grifo do autor).

Dessa maneira, a autodestruição é que tornaria possível a constituição de traços mnêmicos, de forma que a memória seria seu produto. Da autodestruição dependeria a possibilidade de reconhecimento e de julgamento; dependeria a possibilidade de diferenciação entre percepção e rememoração, que estaria na base do pensamento e da adaptação ao mundo exterior. Moreno e Coelho (2013Moreno, M. M. A., & Coelho Jr., N. E. (2013). Trauma, memory, and corporeal acts: a dialogue between Freud and Ferenczi. International Forum of Psychoanalysis, 22(1), 17-25. Recuperado de: http://dx.doi.org/10.1080/0803706X.2011.652167
http://dx.doi.org/10.1080/0803706X.2011....
) esclarecem que, ao comentarem as hipóteses ferenczianas sobre o trauma, diante da impossibilidade de eliminar a excitação, a única válvula de segurança da psique é a autodestruição, uma espécie de adaptação autoplástica à situação. Eros, no entanto, pode inibir o processo dando lugar a uma nova consolidação, de forma que toda adaptação seria precedida por uma tentativa inibida de desintegração. Assim, usando as palavras de Gondar (2013Gondar, J. (2013). Ferenczi e o sonho. Cadernos de psicanálise, 35(29), 27-39. Recuperado de: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/cadpsi/v35n29/a02.pdf
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), para Ferenczi, “[...] os movimentos de criação e expansão se fazem a partir de fragmentos, restos de uma destruição ou de uma autodestruição ativa” (Gondar, 2013Gondar, J. (2013). Ferenczi e o sonho. Cadernos de psicanálise, 35(29), 27-39. Recuperado de: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/cadpsi/v35n29/a02.pdf
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, p. 32).

Ferenczi (1993Ferenczi, S. (1993). O problema da afirmação do desprazer. In S. Ferenczi. Obras completas (Vol. 3, p. 293-404, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em 1926.) afirma que o trabalho de pensamento, que se insere entre a sensibilidade e a ação, consiste em um trabalho de cálculo entre dois objetos capazes de provocar um desprazer maior ou menor. Esse trabalho de cálculo seria efetuado de maneira inconsciente, de forma que só o seu produto se tornaria consciente. Assim, o pensamento, que seria impulsionado pela autodestruição e pela ambivalência e que permitiria a adaptação à realidade, consistiria em um cálculo inconsciente que visaria minimizar o desprazer.

Em 'O desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios', Ferenczi (1992Ferenczi, S. (1992). O desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios. In S. Ferenczi. Obras completas(Vol. 2, p. 39-54, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em1913.) defende uma perspectiva filogenética atrelada ao desenvolvimento do sentido de realidade. Ele diz acreditar que um dia será possível estabelecer um paralelo entre os diferentes estágios evolutivos do ego e as etapas percorridas pela espécie humana. Dessa maneira, sustenta que, assim como propôs Freud, o caráter da espécie seria o precipitado da história da espécie. No texto de 1926 sobre o problema da afirmação do desprazer, Ferenczi (1993)Ferenczi, S. (1993). O problema da afirmação do desprazer. In S. Ferenczi. Obras completas (Vol. 3, p. 293-404, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em 1926. argumenta que o desenvolvimento orgânico apresenta protótipos da adaptação progressiva do ser vivo à realidade do mundo externo.

Certos organismos primitivos parecem ter permanecido no estágio narcísico, pois aguardam passivamente a satisfação de seus desejos e morrem se esta lhe é recusada. Estes, especula o autor, encontram-se tão próximos do ponto de emergência para fora do inorgânico que sua pulsão de destruição tem muito menos caminhos para percorrer e mostra-se, portanto, muito mais eficaz. Em um estágio mais evoluído, o organismo é capaz de rejeitar partes de si mesmo que constituem fontes de desprazer e de salvar, assim, a sua própria vida (autotomia). Em outra etapa do desenvolvimento, surge a capacidade de adaptação à realidade, uma espécie de reconhecimento orgânico do mundo exterior que é manifesto no modo de vida dos seres que vivem em simbiose, mas igualmente em todo ato de adaptação. Ferenczi (1993Ferenczi, S. (1993). O problema da afirmação do desprazer. In S. Ferenczi. Obras completas (Vol. 3, p. 293-404, A. Cabral, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original publicado em 1926.) afirma que sua concepção 'bioanalítica' permite distinguir processos primários e secundários mesmo no nível orgânico, por conseguinte, processos que, no domínio psíquico, são considerados como graus de desenvolvimento intelectual. No entanto, diz ele, a adaptação orgânica é caracterizada por certa rigidez, manifesta nos processos reflexos, ao passo que a capacidade de adaptação psíquica comporta uma disposição permanente para o reconhecimento de novas realidades e a capacidade de inibir a ação até o término do ato de pensar.

Considerações finais

Conforme as hipóteses de Ferenczi, após um estágio inicial solipsista, caracterizado pelo sentimento de onipotência, no qual só existiria o ego e no qual qualquer espécie de desprazer seria ignorada, a criança passaria a identificar como constituindo o mundo externo o que é desprazeroso e como constituindo seu próprio ego o que é fonte de prazer. Nessa fase, em vez de ser ignorado, o desprazer seria negado. Para que o desprazer pudesse ser reconhecido, o indivíduo teria que se tornar capaz de perceber que há coisas nele que são fontes de desprazer e que há coisas que são fonte de prazer, mas que não lhe pertencem. Tal percepção teria como condição a ambivalência resultante do desintrincamento pulsional. Esta possibilitaria o surgimento dos traços mnêmicos e o reconhecimento dos objetos externos. Ferenczi argumenta que é preciso destruir o que antes pertencia ao ego para poder reconhecê-lo enquanto algo externo e que é preciso voltar a amá-lo para conhecê-lo de forma objetiva. Assim, um novo intricamento pulsional seria imprescindível para uma apreensão mais objetiva do mundo externo. Ele ressalta que esse processo envolve uma modificação masoquista da direção da agressão; envolve uma autodestruição do ego, a qual se converte na causa do devir. Uma destruição parcial do ego é tolerada com o objetivo de construir, a partir do que restou, um ego mais forte, capaz de adaptar-se à realidade. A autodestruição seria, portanto, condição para a memória, para o conhecimento, o juízo e a adaptação à realidade.

A teoria de Ferenczi sobre a aquisição do sentido de realidade parte de hipóteses freudianas, mas vai além dessas, uma vez que na obra de Freud não está presente uma descrição tão detalhada de quais seriam as etapas desse processo, assim como não há uma teorização explícita sobre os processos pulsionais que o acompanhariam.O psicanalista húngaro propõe que a vida psíquica tem início já no período intrauterino, período de máxima sensação de onipotência, pela submissão exclusiva ao princípio do prazer. Com isso, ele recua o início da vida psíquica em relação à concepção freudiana. Ferenczi descreve as etapas da passagem do princípio de prazer ao princípio de realidade, ressaltando o abandono gradual da onipotência, e usa as hipóteses freudianas sobre as pulsões de vida e de morte e sobre o mecanismo da negação para esclarecer os processos internos que o acompanhariam. Assim, ele extrai da teoria freudiana algumas consequências para a compreensão da aquisição do sentido de realidade que não foram extraídas ou explicitadas pelo próprio autor. Como Spielrein, ele coloca a pulsão de morte como a impulsora do desenvolvimento psíquico, vinculando-a a um aspecto construtivo que não está explícito na obra freudiana. Dessa maneira, a ideia desta autora de que a destruição é condição para o devir é inserida no cerne do processo de conhecimento e de adaptação ao mundo externo.

Podemos dizer, portanto, que Ferenczi elabora uma teoria original sobre o processo envolvido na aquisição do conhecimento objetivo. Sua contribuição teórica permanece ainda pouco explorada e reconhecida e merece maior atenção daqueles que se interessam pela teoria psicanalítica e pela história das ideias psicológicas.

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    Apoio e financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Bolsa Produtividade em Pesquisa.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Fev 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    25 Abr 2018
  • Aceito
    26 Set 2018
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