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SIGNIFICADOS SOBRE SEXUALIDADE EM MULHERES COM FIBROMIALGIA: RESSONÂNCIAS DA RELIGIOSIDADE E DA MORALIDADE1 1 Apoio e financiamento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES; Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq; Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG.

SIGNIFICADOS SOBRE SEXUALIDAD EN MUJERES CON FIBROMIALGIA: RESONANCIAS DE LA RELIGIOSIDAD Y LA MORALIDAD

RESUMO.

A fibromialgia é uma síndrome reumatológica predominantemente feminina e que pode acarretar prejuízos em diferentes esferas da vida. Desse modo, pesquisas sobre a sexualidade desta população têm sido desenvolvidas, com foco, sobretudo, em seus aspectos objetivos. Porém, a sexualidade é atravessada também por fatores mais subjetivos, de ordem psicológica e sociocultural. Assim, este estudo teve como objetivo compreender as ressonâncias da religiosidade e da moralidade nos significados sobre sexualidade de um conjunto de mulheres com fibromialgia. Trata-se do recorte de uma pesquisa mais ampla, determinado pela ocorrência de resultados que não foram visados diretamente. O presente estudo foi norteado pelas propostas do método clínico-qualitativo e contou com a participação de seis mulheres com fibromialgia. A coleta de dados teve como locus um grupo psicanalítico de discussão. As gravações em áudio dos encontros do grupo foram transcritas e constituíram o corpus, tendo sido examinadas segundo os procedimentos metodológicos estabelecidos pela análise de conteúdo. Os resultados revelam que os significados sobre sexualidade, entre a maioria das participantes, são acentuadamente influenciados por restrições estabelecidas pela doutrina cristã e pela denominada ‘moral sexual civilizada’. Tais restrições não dizem respeito à síndrome propriamente dita e, talvez por essa razão, têm sido pouco exploradas na literatura especializada. Logo, recomenda-se, em prol da integralidade do cuidado, que profissionais de saúde e pesquisadores, no trabalho que desenvolvem junto a mulheres com fibromialgia, dediquem maior atenção às possíveis ressonâncias da religiosidade e da moralidade nos significados sobre sexualidade.

Palavras-chave:
Fibromialgia; sexualidade feminina; saúde da mulher

RESUMEN.

La fibromialgia es un síndrome reumatológico predominantemente femenino y que puede acarrear perjuicios en diferentes esferas de la vida. De esa manera, investigaciones sobre la sexualidad de esta población han sido desarrolladas, con enfoque, sobre todo, en sus aspectos objetivos. Sin embargo, la sexualidad también es afectada por factores más subjetivos, de naturaleza psicológica y sociocultural. Así, en este estudio se tuvo como objetivo comprender las resonancias de la religiosidad y de la moralidad en significados sobre sexualidad en un grupo de mujeres con fibromialgia. Se trata del recorte de una investigación más amplia, determinado por la ocurrencia de resultados que no se buscaron directamente. El presente estudio fue norteado por las propuestas del método clínico-cualitativo y tuvo la participación de seis mujeres con fibromialgia. La recolección de datos tuvo como locus un grupo psicoanalítico de discusión. Las grabaciones en audio de los encuentros del grupo fueron transcriptas, constituyeron el corpus y fueron examinadas según los procedimientos metodológicos establecidos por el análisis de contenido. Los resultados revelan que los significados sobre sexualidad, entre la mayoría de las participantes, son fuertemente influenciados por las restricciones establecidas por la doctrina cristiana y la llamada ‘moral sexual civilizada’. Tales restricciones no se refieren al síndrome propiamente dicho y, tal vez por esa razón, han sido poco exploradas en la literatura especializada. Por lo tanto, se recomienda, por el cuidado integral, que los profesionales de salud y los investigadores, al trabajar con mujeres con fibromialgia, dediquen más atención a las posibles resonancias de la religiosidad y de la moralidad en los significados sobre sexualidad.

Palabras clave:
Fibromialgia; sexualidad femenina; salud de la mujer

ABSTRACT.

Fibromyalgia is a predominantly female rheumatologic syndrome that may lead to losses in different spheres of life. Therefore, researches on the sexuality of this population has been developed, focusing, above all, on its objective aspects. However, sexuality is also affected by more subjective factors, of psychological and sociocultural origin. Thus, this study aimed to understand the resonances of religiosity and morality in meanings about sexuality in a group of women with fibromyalgia. This paper is part of a broader research and was determined by the occurrence of results that were not sought directly. This study was based on the clinical-qualitative method propositions, and had the participation of six women with a diagnosis of fibromyalgia. Data were collected in a psychoanalytic discussion group. Audio recordings of the group meetings were transcribed and constituted the corpus. They were examined according to the methodological procedures established by content analysis. Results demonstrate that meanings about sexuality from most participants are sharply influenced by restrictions established by the Christian doctrine and the so-called ’civilized sexual morality’. Those restrictions are not related to the syndrome itself, and this may explain why they have been rarely explored in specialized literature. Therefore, it is recommended, for the sake of comprehensive care, that health professionals and researchers, when working with women with fibromyalgia, pay greater attention to the possible resonances of religiosity and morality in meanings about sexuality.

Keywords:
Fibromyalgia; female sexuality; women’s health

Introdção

O quadro clínico da fibromialgia, basicamente, conjuga dor crônica - musculoesquelética, generalizada e de origem não inflamatória - e perturbações da memória, da atenção, do humor e do sono (Häuser & Fitzcharles, 2018Häuser, W., & Fitzcharles, M. A. (2018). Facts and myths pertaining to fibromyalgia. Dialogues in Clinical Neuroscience, 20(1), 53-62.).Trata-se de uma síndrome reumatológica prevalente em mulheres, sobretudo de meia-idade, visto que acomete de 2,4% a 6,8% da população feminina e de 0,2 a 6,6% da população geral, conforme Marques, Santo, Berssaneti, Matsutani e Yuan (2017Marques, A. P., Santo, A. S. E., Berssaneti, A. A., Matsutani, L. A., & Yuan, S. L. K. (2017). A prevalência de fibromialgia: atualização da revisão de literatura. Revista Brasileira de Reumatologia, 57(4), 356-36. doi: 10.1016/j.rbre.2017.01.005
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). Na maioria dos casos, a remissão completa é rara, de maneira que os sintomas tendem a acarretar prejuízos severos e persistentes em diferentes esferas da vida (Martinez et al., 2017Martinez, J. E., Paiva, E. S., Rezende, M. C., Heymann, R. E., Helfenstein Jr., M., Ranzolin, A., … Assis, M. R. (2017). EpiFibro (Registro Brasileiro de Fibromialgia): dados sobre a classificação do ACR e preenchimento dos critérios diagnósticos preliminares e avaliação de seguimento.Revista Brasileira de Reumatologia,57(2), 129-133. doi: 10.1016/j.rbre.2016.09.012
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). A comunidade científica, por essa razão, tem dedicado atenção crescente às variadas repercussões da fibromialgia.

Como consequência, se encontra suficientemente estabelecido que uma parcela expressiva das pacientes acometidas pela síndrome apresenta alterações na frequência e na satisfação sexual, pelo que se admite que a fibromialgia comumente exerce influência negativa na sexualidade feminina (López-Rodríguez et al., 2019López-Rodríguez, M. M., Fernández, A. P., Hernández-Padilla, J. M., Fernández-Sola, C., Fernández-Medina, I. M., & Granero-Molina, J. (2019). Dyadic and solitary sexual desire in patients with fibromyalgia: a controlled study. Journal of Sexual Medicine, 16(10), 1518-1528. doi: 10.1016/j.jsxm.2019.07.026
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; Collado-Mateo, Olivares, Adsuar, & Gusi, 2020Collado-Mateo, D., Olivares, P. R., Adsuar, J. C., & Gusi, N. (2020). Impact of fibromyalgia on sexual function in women. Journal of Back and Musculoskeletal Rehabilitation. 33(3), 355-361. doi: 10.3233/BMR-170970
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; Blazquez, Ruiz, Aliste, García-Quintana, & Alegre, 2015Blazquez, A. R., Ruiz, E., Aliste, L., García-Quintana, A., & Alegre, J. (2015). The effect of fatigue and fibromyalgia on sexual dysfunction in women with chronic fatigue syndrome. Journal of Sexual & Marital Therapy, 41(1), 1-10. doi: 10.1080/0092623X.2013.864370
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; Burri, Lachance, & Williams, 2014Burri, A., Lachance, G., & Williams, F. M. (2014). Prevalence and risk factors of sexual problems and sexual distress in a sample of women suffering from chronic widespread pain. Journal of Sexual Medicine, 11(11), 2772-2784. doi: 10.1111/jsm.12651
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). Porém, uma revisão da literatura empreendida por Centurion e Peres (2016Centurion, N. B., & Peres, R. S. (2016). A sexualidade em pacientes com fibromialgia: panorama da produção científica.Revista da SPAGESP,17(2), 108-119.) aponta que, nas pesquisas voltadas ao assunto, tem predominado: (1) a utilização de abordagens quantitativas, (2) o emprego de instrumentos de autorrelato e (3) a ênfase na disfunção sexual. E os autores advertem que tal fato pode ser considerado problemático, já que a mera mensuração de dificuldades relativas ao ato sexual propriamente dito não possibilita a exploração das múltiplas facetas da sexualidade, reduzindo-a, assim, a seus aspectos mais objetivos, em especial concernentes ao plano orgânico.

Somando-se a esta advertência, parece razoável propor que o referido reducionismo biológico pode ensejar o estabelecimento de uma relação de causa-efeito entre a fibromialgia e os ‘problemas sexuais’ apresentados por muitas pacientes, o que seria, no mínimo, controverso. Afinal, a sexualidade é atravessada também por fatores mais subjetivos, de ordem psicológica e sociocultural. Saberes oriundos do campo da história, por exemplo, demonstram que, na cultura ocidental, a sexualidade tem sido influenciada pelo Cristianismo5 5 Cumpre assinalar que o Cristianismo possui diversas ramificações. Um detalhamento a respeito ultrapassa o escopo do presente estudo. Contudo, é preciso esclarecer que o denominador comum aos diferentes grupos cristãos é a fé em Jesus Cristo. Desse modo, tanto católicos quanto evangélicos são adeptos do Cristianismo. ao longo dos tempos. Para Vainfas (1992Vainfas, R. (1992). Casamento, amor e desejo no ocidente cristão (2a ed.). São Paulo, SP: Ática.), é representativa disso a equivalência estabelecida pela doutrina cristã, nomeadamente a partir do século XVI, entre o feminino e a maternidade, a qual, em certa medida, fomenta até hoje a circunscrição da procriação como o principal propósito do ato sexual, em particular para as mulheres.

Desde sua origem, a psicanálise tem criticado o regime sexual imposto às mulheres com base no Cristianismo. Tal crítica, como observaram Santos e Ceccarelli (2010Santos, A. B. R., & Ceccarelli, P. R. (2010). Psicanálise e moral sexual. Reverso, 32(59), 23-30.), se apoia na premissa de que, em contraste com o que defendiam e ainda defendem muitas religiões, a privação sexual representa uma marcante fonte de sofrimento psíquico, inclusive para os homens. O texto ‘Moral sexual ‘civilizada’ e doença nervosa moderna’, é emblemático neste sentido. Nele, Freud (1996aFreud, S. (1996a). Moral sexual ‘civilizada’ e doença nervosa moderna. In J. Strachey(Ed.), Edição standart brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, trad., Vol. 9, p. 165-186). Rio de Janeiro, RJ: Imago . Original publicado em 1908.) asseverou que as pessoas em geral sofreriam uma ‘repressão nociva’ determinada pelas exigências da civilização, a qual faria com que apenas a atividade sexual praticada em prol da reprodução no contexto de um casamento pudesse ser admitida. Porém, o autor alertou que haveria, na realidade, uma ‘moral dupla’, pois as transgressões masculinas seriam mais toleráveis do que as femininas. E este fato, para Freud, atestava que a própria sociedade muitas vezes não julga exequíveis as restrições que apregoa no tocante à sexualidade.

Birman (1999Birman, J. (1999).Cartografias do feminino. São Paulo, SP: Editora 34.) sublinhou que a psicanálise, já à altura de seu surgimento, se distanciou da sexologia da segunda metade do século XIX, a qual abordava a sexualidade exclusivamente no registro do comportamento e considerava a maturação biológica dos órgãos genitais sua pré-condição. De acordo com o autor, Freud, a despeito de ter encontrado grande resistência no meio médico, sustentou que a sexualidade possuí autonomia quanto à reprodução, pois teria como objetivo essencial a obtenção de prazer, além de que realçou que há múltiplas possibilidades quanto à sua manifestação. Logo, a feminilidade e a masculinidade não poderiam ser qualificadas como condições restritas a mulheres e homens, respectivamente, conforme indicam, com base em diferentes argumentos, obras como ‘Três ensaios sobre a teoria da sexualidade’ (Freud, 1996bFreud, S. (1996b). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In J. Strachey (Ed.),Edição standart brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, trad., Vol. 12, p. 121-252). Rio de Janeiro, RJ: Imago . Original publicado em 1905.), ‘A dissolução do complexo de Édipo’ (Freud, 1996cFreud, S. (1996c). A dissolução do complexo de Édipo. In J. Strachey (Ed), Edição standart brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, trad., Vol. 19, p. 189-199). Rio de Janeiro, RJ: Imago. Original publicado em 1924.) e ‘Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos’ (Freud, 1996dFreud, S. (1996d). Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos. In J. Strachey(Ed), Edição standart brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud(J. Salomão, trad., Vol. 9, p. 268-286). Rio de Janeiro, RJ: Imago. Original publicado em 1908.).

Em contrapartida, faz-se necessário apontar que, no texto ‘Sexualidade feminina’, Freud (1996eFreud, S. (1996e). Sexualidade feminina. In J. Strachey(Ed.), Edição standart brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, trad.,Vol. 21, p. 229-251). Rio de Janeiro, RJ: Imago . Original publicado em 1931.) postulou - talvez como reflexo do patriarcalismo vigente à sua época - que o desenvolvimento sexual de mulheres e homens gravitaria em torno da presença/ausência do falo. Tal posicionamento tem sido questionado, inclusive no âmbito da psicanálise. Birman (1999Birman, J. (1999).Cartografias do feminino. São Paulo, SP: Editora 34.), por exemplo, o fez estabelecendo aproximações entre as mulheres da atualidade e a personagem-título da ópera Carmen, de Georges Bizet, embora esta tenha estreado em 1875. Ocorre que, para o autor, Carmen, de maneira transgressora, sinalizou que a sexualidade feminina, mais do que negativamente pela falta do falo, seria conformada positivamente pelo desejo das mulheres, bem como ilustrou que, mediante a troca de afeto em igualdade de condições entre homens e mulheres, tanto o ato sexual propriamente dito quanto o relacionamento amoroso poderiam assumir um caráter mais lúdico. E estes seriam indicadores da nova versão do feminino construída pela releitura, iniciada nos anos 1980, das teses lançadas pelo movimento feminista nas duas décadas anteriores.

Valença (2003Valença, M. C. A. (2003). A feminilidade em Freud e na contemporaneidade: repercussões e impasses (Dissertação de Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica, Universidade Católica de Pernambuco, Recife.), por seu turno, explorou certas intersecções da psicanálise com outras disciplinas, buscando, com isso, elucidar algumas nuances da sexualidade na contemporaneidade. A autora se diferenciou por contemplar a cultura narcísica e seus desdobramentos para as mulheres, sendo que, a partir de tal perspectiva, argumentou que o corpo feminino seria erotizado em excesso na atualidade, já que possuiria o status de objeto de consumo. Consequentemente, emergiria a ‘mulher corpo-sexo’, uma nova referência do feminino segundo a qual a sexualidade deveria ser usufruída sem limites. Porém, tratar-se-ia de uma referência que, revelando-se inacessível para muitas mulheres, implicaria em sofrimento psíquico, ou, podendo ser vivenciada, conduziria a um sentimento de vazio.

Também partindo da psicanálise, mas sem a ela se restringir, Costa (2004Costa, J. F. (2004). O vestígio e a aura: corpo e consumismo na moral do espetáculo. Rio de Janeiro, RJ: Garamond.) acrescentou contribuições originais ao debate sobre a sexualidade ao sublinhar que, na atualidade, as imagens possuem um valor per se, de sorte que o sujeito contemporâneo se tornou “[...] um espectador passivo de um mundo de aparências” (p. 227). Como resultado, o corpo - nomeadamente das mulheres, conforme nosso entendimento - é considerado digno do interesse alheio somente enquanto jovem e saudável, além de que deve se apresentar com uma fachada compatível com as tendências em voga, oferecendo-se como uma espécie de mercadoria. O autor defendeu ainda que isso ocorreria porque a partir dos filtros estabelecidos pelos meios de comunicação de massa é que se apreenderia a forma mais apropriada de amar, relacionar-se afetivamente ou viver sexualmente.

Em suma, diferentes saberes colocam em relevo o fato de que a sexualidade é perpassada por variados fatores subjetivos. Para que os mesmos possam ser mais pormenorizadamente contemplados em pesquisas sobre a sexualidade de mulheres com fibromialgia, Centurion e Peres (2016Centurion, N. B., & Peres, R. S. (2016). A sexualidade em pacientes com fibromialgia: panorama da produção científica.Revista da SPAGESP,17(2), 108-119.) recomendam o emprego de abordagens qualitativas. Outrossim, os autores sugerem que o recurso para estratégias de coleta de dados capazes de oferecer ampla liberdade de expressão às participantes é capaz de contribuir para o avanço dos conhecimentos científicos atualmente disponíveis ao fomentar investigações mais nuançadas. Não obstante, o levantamento bibliográfico realizado para os fins do presente estudo revela que são escassas as pesquisas com tais características.

Em uma dessas pesquisas, Mazo e Estrada (2019Mazo, J. P. S., & Estrada, M. G. (2019). Changes in erotic expression in women with fibromyalgia. Paidéia, 29, e2923. doi: 10.1590/1982-4327e2923
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) constataram, mediante a realização de entrevistas, que mulheres com fibromialgia frequentemente se ressentem do ceticismo de seus parceiros quanto aos sintomas de que elas padecem, e que isso gera repercussões sexuais negativas. Já Jiménez et al. (2017Jiménez, T. M. M., Fernández-Sola, C., Hernández-Padilla, J. M., Casado, M. C., Raynal, L. H. A., & Granero-Molina, J. (2017). Perceptions about the sexuality of women with fibromyalgia syndrome: a phenomenological study. Journal of Advanced Nursing, 73(7), 1646-1656.doi: 10.1111/jan.13262
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) verificaram, a partir de dados coletados em grupos focais e entrevistas, que a sexualidade de pacientes acometidas pela síndrome, para além da dor crônica, tende a ser afetada por determinantes que dificilmente se prestam a objetivação, como os sentimentos de medo e culpa. E García-Campayo e Alda (2004García-Campayo, J., & Alda, M. (2004). La vivencia de la sexualidad en pacientes con fibromialgia: un estudio cualitativo. Archivos de Psiquiatría, 67(3), 157-167.), também lançando mão de grupos focais e entrevistas, igualmente constataram que o medo - no caso, especificamente da dor - foi apontado como o principal responsável pela diminuição da frequência sexual vivenciada pelas mulheres com fibromialgia pesquisadas.

Malgrado a relevância destas pesquisas qualitativas, bem como das pesquisas quantitativas citadas e problematizadas anteriormente, novos estudos sobre a sexualidade de pacientes acometidas pela síndrome se mostram necessários, até mesmo para subsidiar o desenvolvimento - conforme recomendado por instituições especializadas, como a European League Against Rheumatism (Macfarlane et al., 2017Macfarlane, G. J., Kronisch, C., Dean, L. E., Atzeni, F., Häuser, W., Fluß, E., Jones, G. T. (2017). EULAR revised recommendations for the management of fibromyalgia. Annals of Rheumatic Disease, 76(2), 318-328.doi: 10.1136/annrheumdis-2016-209724
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) - de intervenções multidisciplinares orientadas pela perspectiva do cuidado integral. Ocorre que questões relativas à sexualidade geralmente têm sido negligenciadas no âmbito dos tratamentos oferecidos a tal população, embora não possam ser apartadas de outros componentes da vida de qualquer pessoa (Bazzichi et al., 2012Bazzichi, L., Giacomelli, C., Rossi, A., Sernissi, F., Scarpellini, P., Consensi, A., & Bombardieri, S. (2012). Fibromyalgia and sexual problems. Reumatismo, 64(4) 261-267. doi: 10.4081/reumatismo.2012.261
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).

Tendo em vista o que precede, empreendemos uma pesquisa qualitativa voltada à sexualidade de mulheres com fibromialgia. O presente estudo se afigura como um recorte de tal pesquisa e tem como objetivo, mais especificamente, compreender as ressonâncias da religiosidade e da moralidade em significados sobre sexualidade na referida população. O recorte se justifica considerando-se que os resultados relativos a este tópico em particular derivam, em nosso entendimento, do fenômeno conhecido como ‘serendipidade’, visto que podem ser qualificados como descobertas científicas acidentais. Isso porque, como será detalhado adiante, não foram visados diretamente, mas, tendo surgido, se revelaram interessantes e originais.

De antemão, contudo, cabe esclarecer que as participantes, até um determinado momento da coleta de dados, não haviam se manifestado a respeito de questões religiosas ou morais, sendo que, quando o fizeram, foram devidamente acolhidas pela pesquisadora responsável a fim de evitar qualquer constrangimento à liberdade expressiva das mesmas. Adicionalmente, julgamos pertinente explicitar que os termos ‘religiosidade’ e ‘moralidade’ serão utilizados no presente estudo, em consonância com definições oferecidas por dicionários gerais, para aludir à disposição aos princípios e aos valores preconizados por religiões ou estabelecidos por modalidades de consciência coletiva vigentes em uma determinada sociedade, respectivamente.

Método

Desenho metodológico

O presente estudo foi desenvolvido com base nas propostas do método clínico-qualitativo. Trata-se, conforme Turato (2013Turato, E. R. (2013). Tratado de metodologia da pesquisa clínico-qualitativa: construção teórico-epistemológica, discussão comparada e aplicações nas áreas de saúde e humanas (6a ed.). Petrópolis, RJ: Vozes.), de um refinamento, voltado aos settings das vivências em saúde, dos métodos qualitativos oriundos das ciências humanas. E ressalte-se que, conforme o autor, as pesquisas clínico-qualitativas tipicamente se beneficiam de aportes psicanalíticos tanto como parâmetro para viabilizar uma postura clínica na coleta de dados quanto como ferramentas para a análise de dados. Todavia, o diálogo de saberes - ainda que tomando a psicanálise como ponto de partida - oriundos de diferentes campos é valorizado nas pesquisas clínico-qualitativas.

Participantes

Participaram do presente estudo seis mulheres, as quais preencheram os seguintes critérios de inclusão: (1) apresentavam diagnóstico de fibromialgia há, no mínimo, seis meses, (2) possuíam de 40 a 60 anos de idade e (3) eram alfabetizadas. Não houve, portanto, restrições em relação a outras variáveis na seleção das participantes. Conforme a Tabela 1, a maioria delas se situava na faixa dos 50 anos de idade e se dedicava às atividades do lar, sendo que houve certa diversificação quanto ao nível de escolaridade e ao tempo de diagnóstico. A Tabela 1 ainda revela que a maioria era casada, que todas tinham filhos e que três delas se identificaram como evangélicas, duas como católicas e uma como espírita.

Tabela 1
Caracterização das participantes, por idade, escolaridade, ocupação, tempo de diagnóstico, estado civil, filhos e religião

Não obstante, é preciso esclarecer que as informações referentes à religião foram veiculadas pelas participantes a partir do momento em que as mesmas, espontaneamente, passaram a discorrer sobre questões religiosas ou morais, ao passo que as informações sobre idade, ocupação, diagnóstico, estado civil e filhos foram solicitadas no início da coleta de dados pela pesquisadora responsável. E deve-se acrescentar que as participantes não haviam sido indagadas previamente sobre suas respectivas religiões considerando-se que, como já mencionado, não era o intento inicial da pesquisa da qual deriva o presente estudo explorar especificamente o tópico em pauta.

O número de participantes foi determinado pelas especificidades do locus estabelecido para a coleta de dados, pois considerou-se que seria imprescindível viabilizar o contato visual e incentivar a interação entre as mulheres. Ademais, ressalte-se que as participantes foram selecionadas por conveniência, ou seja, pela facilidade de acesso pelos pesquisadores, tendo sido recrutadas junto à Associação dos Reumáticos de Uberlândia e Região (ARUR). Trata-se de uma organização não governamental, sem fins lucrativos, reconhecida como entidade de utilidade pública municipal, estadual e federal. Seu propósito é oferecer apoio especializado a pacientes reumatológicos por meio de atividades culturais e ações de saúde. As ações de saúde são executadas na sede da instituição por uma equipe multidisciplinar composta por fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos, e visam à promoção da qualidade de vida dos pacientes. Os psicólogos, especificamente, são responsáveis por atendimentos individuais e grupais, os quais têm assumido diferentes formatos ao longo do tempo e são ofertados conforme demanda espontânea ou a partir de encaminhamentos.

Coleta de dados

A coleta de dados teve como locus um grupo psicanalítico de discussão. Conforme Emilio (2010Emilio, S. A. (2010). O grupo psicanalítico de discussão como dispositivo de aprendizagem e compartilhamento. Vínculo, 7(2), 35-43.), dois aspectos básicos diferenciam tal modalidade grupal de outras em que a discussão em grupo é empregada como principal estratégia para operacionalizar a troca de experiências: (1) porque a mesma é desenvolvida ao longo de um número de encontros limitado e pré-definido e (2) porque, justamente devido à característica anterior, necessariamente o coordenador deve iniciar os encontros com alguma atividade selecionada para despertar associações e, ao mesmo tempo, circunscrever a temática a ser abordada. Atividades que podem ser empregadas para tanto vão da apresentação de uma canção ou o excerto de um filme à leitura de um texto, dentre diversas outras possíveis, como esclarece a referida autora.

Faz-se necessário sublinhar que a literatura sobre grupos psicanalíticos de discussão ainda é bastante limitada, de forma que as bases teórico-metodológicas específicas de tal modalidade grupal não foram descritas em detalhes. Fazê-lo aqui seria inviável. Entretanto, esclarecemos que, em nossa experiência com o desenvolvimento de grupos psicanalíticos de discussão para fins de pesquisa6 6 Uma das pesquisas já publicadas em que empregamos grupos psicanalíticos de discussão como locus para a coleta de dados é aquela de autoria de Silva e Peres (2016). , tem sido decisivo para o manejo dos encontros - a fim de preservar a atitude continente do coordenador - a utilização de intervenções não interpretativas. Tais intervenções, notoriamente, são mais comuns nas psicoterapias de orientação psicanalítica do que na ‘psicanálise-padrão’ e se ancoram em desenvolvimentos conceituais contemporâneos. Além disso, temos nos guiado pelas premissas epistemológicas psicanalíticas, de acordo com as quais a comunicação de conteúdos emocionais mais profundos depende da concessão de ampla liberdade expressiva ao interlocutor. E isso, a nosso ver, é possível mesmo quando não se trabalha com a associação-livre ‘tradicional’, mas se prioriza uma atitude acolhedora e uma escuta compreensiva.

Ressalte-se que foram realizados, no total, quatro encontros do grupo, com cerca de 01h30min cada, em datas e horários compatíveis com a disponibilidade das participantes. Esse número de encontros foi definido em função de nossa experiência prévia com o desenvolvimento de grupos psicanalíticos de discussão para fins de pesquisa. Todos os encontros foram coordenados por um dos pesquisadores (a 1ª autora do presente estudo) e realizados na sede da ARUR, sendo gravados em áudio com a autorização prévia das participantes. Devido ao objetivo estabelecido para esta oportunidade, serão contemplados aqui especificamente os resultados relativos ao quarto e último encontro7 7 Estiveram presentes neste quarto encontro todas as seis mulheres selecionadas como participantes do presente estudo. Mas é interessante mencionar que, apenas no primeiro encontro, mais uma mulher esteve presente. , em que se buscou retomar e concluir a discussão sobre o tema ‘o ser mulher com fibromialgia e a sexualidade’, que fora iniciada no encontro anterior. Para tanto, a canção Amor e sexo, de autoria de Rita Lee e Roberto Carvalho, foi utilizada como disparador.

Análise de dados

As gravações em áudio dos encontros do grupo foram transcritas, integral e literalmente, constituindo, assim, o corpus do presente estudo. Posteriormente, as transcrições foram examinadas - como é comum em pesquisas clínico-qualitativas - segundo os procedimentos metodológicos estabelecidos pela análise de conteúdo, em conformidade com as recomendações de Bardin (2016Bardin, L. (2016). Análise de conteúdo (ed. rev., L. A. Reto, trad.). São Paulo, SP: Edições 70. Original publicado em 1977.). São eles: (1) leitura flutuante dos dados e formulação de hipóteses iniciais (pré-análise), (2) agregação dos dados em categorias preliminares (exploração do material) e (3) definição das categorias, demarcação de conteúdos latentes e manifestos e elaboração de inferências (tratamento dos resultados). As categorias, cabe explicitar, correspondem a agrupamentos de relatos que são organizados pelos pesquisadores por dedução frequencial, com base na constatação de repetições numéricas, ou por análise categorial, a partir da identificação de equivalências e similaridades, sendo que a segunda opção foi adotada no presente estudo.

Cuidados éticos

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição de filiação dos pesquisadores (parecer 1.240.462). Todas as participantes formalizaram sua anuência mediante a assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, documento que registrou o compromisso com a preservação do sigilo quanto à identidade das participantes e com a oferta gratuita de um atendimento psicológico focal a ser prestado com a finalidade de prover a ventilação dos sentimentos suscitados se a coleta de dados acarretasse qualquer espécie de desconforto emocional. Igualmente foi garantido às participantes o direito de declinar da participação a qualquer momento. Entretanto, nenhuma delas solicitou o referido atendimento psicológico ou declinou da participação.

Resultados e discussão

A análise categorial realizada conduziu à configuração de três categorias. Em face do objetivo estabelecido para o presente estudo, será abarcada uma delas. Esta categoria, em contraste com as demais, reúne relatos apresentados exclusivamente no quarto e último encontro do grupo, durante o qual a canção Amor e sexo foi empregada como disparador a fim de possibilitar a retomada e a conclusão da discussão sobre o tema ‘o ser mulher com fibromialgia e a sexualidade’, como já mencionado. Todavia, este propósito acabou sendo atingido apenas parcialmente, pois as participantes privilegiaram um debate sobre as reverberações da religiosidade e da moralidade nos significados sobre sexualidade. E isso ocorreu a partir do momento em que os versos da referida canção que se veem a seguir foram considerados em sua literalidade pelas participantes: “Amor é cristão /Sexo é pagão [...], Amor é divino/ Sexo é animal”.

O Relato 1 ilustra o referido fato: “Ele [o sexo] é pagão para as pessoas que não conhecem a Deus” (Rosana). E o mesmo se aplica ao Relato 2: “Eu acho que o amor é divino mesmo, é um sentimento que vem do próprio Jesus Cristo, que teve um amor enorme” (Ione). Tais relatos obviamente remetem à canção empregada como disparador, porém, assim como diversos outros de teor equivalente apresentados na sequência do encontro pelas demais participantes, revelam a influência de preceitos religiosos e morais que norteiam o modo como o amor e o sexo são compreendidos por elas. Relembrando que três participantes se identificaram como evangélicas e duas como católicas, conclui-se que o Cristianismo se mostrou predominante entre as participantes. E vale reforçar que a doutrina cristã estabelece uma postura rígida acerca da sexualidade, segundo a qual a prática sexual restrita à ‘aliança matrimonial’ é enquadrada como uma espécie de pré-condição para a salvação, como destacam Santos e Ceccarelli (2010Santos, A. B. R., & Ceccarelli, P. R. (2010). Psicanálise e moral sexual. Reverso, 32(59), 23-30.). Logo, fora do casamento, a castidade - em especial por parte das mulheres - ainda é apontada pelo Cristianismo como o único caminho possível em direção a Deus, posicionamento este que remonta ao século III (Vainfas, 1992Vainfas, R. (1992). Casamento, amor e desejo no ocidente cristão (2a ed.). São Paulo, SP: Ática.).

O Relato 3 é emblemático do alinhamento das participantes às restrições estabelecidas pelo Cristianismo quanto à sexualidade: “Nós temos vontade de fazer sexo porque somos carnais, mas você espera o amor de Deus para fazer o casamento, para depois vir o sexo” (Rosana). E o Relato 4 pode ser considerado o paroxismo desse alinhamento, na medida em que, por meio dele, uma participante, que se apresentou como divorciada, reportou que havia retomado o relacionamento amoroso com seu ex-marido - que vivia na edícula de sua casa quando da coleta de dados - mas, de sua parte, o ato sexual dependeria da reoficialização do matrimônio: “Eu não estou casada com ele [o ex-marido]. A minha religião, pelo que eu aprendo da palavra de Deus, é que eu não posso fazer sexo com uma pessoa que eu não sou casada” (Ione).

Logo, os relatos citados se distanciam das novas figurações do feminino descritas pela psicanálise contemporânea graças ao trabalho de autores como Birman (1999Birman, J. (1999).Cartografias do feminino. São Paulo, SP: Editora 34.). A resposta positiva apresentada por Rosana a um questionamento da pesquisadora responsável pela coleta de dados (“Então, depois do casamento, ele [o sexo] deixa de ser pagão?”) inclusive demonstra claramente que, para ela, o casamento é capaz de transformar a natureza das relações sexuais, atenuando sua aura supostamente pecaminosa. Tal questionamento, vale destacar, foi feito pela pesquisadora após o Relato 5: “[...] as pessoas, assim, dentro da palavra de Deus, quando vai se relacionar, casar, o sexo tem que vir depois do casamento, né? Não antes” (Rosana). E o Relato 6 evidencia que Antônia compartilha desta concepção: “Ele [o sexo] não é pecado se [...] Se você fazer com o seu marido, com a pessoa que vai ter respeito com o teu corpo, porque o corpo do meu marido é meu, e o meu é do meu marido” (Antônia).

A desvalorização das mulheres que cedem ao ‘pecado’ e iniciam suas vidas sexuais antes do casamento pode ser apontada como outro aspecto do alinhamento das participantes ao regime sexual cristão e foi colocado em relevo por meio do Relato 7: “Eu acho que [quando a mulher não se casa virgem] piora [o casamento], porque a mulher já não tem valor. A mulher não tem o valor merecido que ela deveria ter, o homem nunca vai valorizar ela” (Rosana). Entendemos que tal fenômeno está diretamente associado ao fato de que a satisfação das ‘necessidades sexuais’ do esposo, para algumas participantes, integra o rol de obrigações da esposa, como se depreende do Relato 8: “Coitado dele [do marido] [...] A gente [a esposa] tem que entender que ele tem necessidades [sexuais]” (Solange).

Mazo e Estrada (2019Mazo, J. P. S., & Estrada, M. G. (2019). Changes in erotic expression in women with fibromyalgia. Paidéia, 29, e2923. doi: 10.1590/1982-4327e2923
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), a propósito, reportaram resultados semelhantes quanto a isso, pois verificaram que, para muitas mulheres com fibromialgia, manter relações sexuais com seus parceiros é visto como um dever associado ao gênero. Entre as participantes do presente estudo, tal posicionamento aparentemente, se justificaria na medida em que, de acordo com o Relato 6, já citado, o matrimônio implicaria, tanto para o homem quanto para a mulher, na posse do corpo alheio. Sendo assim, as participantes parecem compactuar com a sacramentalização do casamento promovida estrategicamente pela doutrina cristã no século XII, conforme Vainfas (1992Vainfas, R. (1992). Casamento, amor e desejo no ocidente cristão (2a ed.). São Paulo, SP: Ática.), com o intuito de estender o poder da igreja à vida íntima do casal. Norma, porém, deu a entender que o sexo, talvez mais do que uma obrigação, seria um diferencial do matrimônio em comparação com os relacionamentos de outra natureza, conforme o Relato 9: “Se não tiver o sexo, [o casamento] vira amizade” (Norma).

Consequentemente, haveria, para algumas participantes, uma polarização entre os gêneros amparada em antigas representações sobre o masculino e o feminino. O Relato 10 é um exemplo disso, pois evidencia uma visão patriarcal de acordo com a qual, no âmbito do matrimônio, competiria ao esposo cuidar da esposa, sobretudo pela suposta fragilidade que a caracterizaria: “Ele [meu marido] cuida de mim, eu sou a esposa, então o certo é o homem cuidar da mulher [...] a mulher cuida do homem com as coisas de casa, lavando, passando, arrumando, dando prazer [sexual]” (Rosana). Porém, tal cuidado aparentemente se entrelaçaria com o controle e o domínio, ou com a posse, nos termos do Relato 6, discutido anteriormente. A esposa, por seu turno, deveria se encarregar dos afazeres domésticos e - como sugerido pelo Relato 8 e explicitado pelo Relato 10, ambos já citados - satisfazer sexualmente o esposo, assumindo uma postura submissa totalmente oposta àquela que, conforme Birman (1999Birman, J. (1999).Cartografias do feminino. São Paulo, SP: Editora 34.), é um dos indicadores do feminino na contemporaneidade.

Ressalte-se que o Relato 11 demonstra que as participantes chegaram, inclusive, a cogitar que o amor, por parte dos homens, apresentaria algumas especificidades, pois estaria intrinsecamente vinculado ao sexo: “O amor do homem é mais embaixo” (Solange). Ou, em outras palavras, o erotismo seria prerrogativa do masculino. Não obstante, a naturalização do poder do homem foi alvo de questionamentos por parte de algumas participantes, sugerindo certa consonância com o movimento de tessitura de novos papéis e lugares sociais para as mulheres que se têm observado a partir dos anos 1980. Isso se vê no Relato 12: “A criação da gente era isso mesmo: casar virgem [...] Eu cresci com isso na cabeça, e a gente era submissa, sim. [...] Só que a gente quer mostrar as nossas asas. E todo mundo fala: ‘está com as asinhas de fora’. E eu estou amando” (Norma).

Tal movimento, a propósito, se ancora no reconhecimento de que a positivação do desejo das mulheres não incorre em virilização fálica, conforme Birman (1999Birman, J. (1999).Cartografias do feminino. São Paulo, SP: Editora 34.). O Relato 12, portanto, contrasta com os Relatos 8 e 10, dentre outros, ao enfatizar que o rompimento com as amarras sexuais determinadas por uma ‘criação’ rígida, que instituía a submissão das mulheres como preceito básico, é algo não apenas possível, mas, também, gratificante para elas. A expressão ‘mostrar as asas’, assim, não parece se dever ao acaso, já que, tendo sido empregada por Norma com conotação positiva, alude a um movimento de empoderamento e emancipação que seria capaz de levá-la a alçar voos mais altos.

Diante do exposto, é possível perceber como as participantes, sem terem sido solicitadas diretamente a fazê-lo, se engajaram em um debate sobre os desdobramentos da religiosidade e da moralidade em significados sobre sexualidade. E cabe aqui esclarecer que os relatos da maioria delas remetem àquilo que Freud (1996aFreud, S. (1996a). Moral sexual ‘civilizada’ e doença nervosa moderna. In J. Strachey(Ed.), Edição standart brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, trad., Vol. 9, p. 165-186). Rio de Janeiro, RJ: Imago . Original publicado em 1908.) denominou de ‘moral sexual civilizada’. Para o autor, a sexualidade, em um primeiro momento da civilização, poderia se manifestar livremente, mas, em nome do convívio em sociedade, foi operacionalizada uma intensa repressão por meio da qual a atividade sexual fora do matrimônio e/ou cujo objetivo básico não fosse a procriação se tornou desautorizada. A moral sexual civilizada seria resultante desse processo, sendo que, para Freud, estaria em plena vigência no início do século XX, gerando sofrimento psíquico para homens e mulheres.

Em nosso entendimento, embora tenham se passado mais de 100 anos desde a descrição da moral sexual civilizada, a mesma parece afetar a sexualidade da maioria das participantes, de maneira mais ou menos acentuada. Freud (1996aFreud, S. (1996a). Moral sexual ‘civilizada’ e doença nervosa moderna. In J. Strachey(Ed.), Edição standart brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, trad., Vol. 9, p. 165-186). Rio de Janeiro, RJ: Imago . Original publicado em 1908.), inclusive, assinalou que a moral sexual civilizada injustamente seria aplicada com mais rigor às mulheres do que aos homens, o que confere sustentação teórica a tal raciocínio. E é interessante sublinhar ainda que, para o autor, as relações sexuais no contexto do matrimônio não viriam a compensar as restrições que, antes dele, se justificariam nos termos da moral sexual civilizada, o que conduziria à desilusão conjugal. Tal tese coloca em relevo outra possível vertente da insatisfação referida pela maioria das participantes no tocante a seus parceiros em diversos momentos.

Por fim, faz-se necessário mencionar que, algumas participantes, talvez espelhando a moral sexual civilizada, se mostraram críticas quanto à existência de uma suposta dissociação entre o amor e o sexo por parte dos jovens - sobretudo entre as mulheres - na atualidade. O Relato 13 o exemplifica: “Ele [o sexo] [...] é levado muito para essas coisas [prostituição e traição]. Não estou falando de religião, mas, hoje em dia, os jovens estão muito assim: sexo, sexo” (Solange). Em certo sentido, tal atitude crítica pode ser entendida como uma recusa radical da ‘mulher corpo-sexo’ descrita por Valença (2003Valença, M. C. A. (2003). A feminilidade em Freud e na contemporaneidade: repercussões e impasses (Dissertação de Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica, Universidade Católica de Pernambuco, Recife.) como nova referência do feminino, pois se ancora na crença de que a sexualidade deve ser utilizada pelas mulheres de modo bastante restrito como meio de obtenção de prazer.

E esta crença aparentemente tem como corolário, ao menos para Antônia, a valorização de um tipo de amor de natureza platônica em função do qual a aproximação física seria dispensável, conforme o Relato 14: “A gente apaixonava, né? Mas não fazia nada, só olhava [...]. Você, só de olhar, o coração disparava, não chegava nem perto, não tinha coragem [...] Aquilo era amor, só pegava na mão e o corpo todo já tremia. Eu acho que aquilo era o amor” (Antônia). Tal natureza platônica equivale àquela que, segundo Costa (2004Costa, J. F. (2004). O vestígio e a aura: corpo e consumismo na moral do espetáculo. Rio de Janeiro, RJ: Garamond.), era preconizada pela educação sentimental burguesa do século XIX. Logo, destoa da corpolatria que, para o autor, predomina nos dias de hoje.

Tendo em vista o que precede, conclui-se que, no que tange à maioria das participantes, os significados sobre sexualidade são notadamente influenciados por restrições estabelecidas pela doutrina cristã e pela moral sexual civilizada. Algumas, assim, ainda parecem consentir com uma distinção bastante conservadora entre o masculino e o feminino, ao passo que outras - compondo uma minoria - afirmaram que têm buscado experimentar mais liberdade, inclusive sexual. Estes resultados revelam, com ineditismo, que questões religiosas e morais, para além da fibromialgia, podem impactar negativamente a sexualidade de pacientes acometidas pela síndrome. Logo, acrescentam em relação aos achados de pesquisas prévias, quantitativas ou qualitativas, a exemplo daquelas desenvolvidas por Mazo e Estrada (2019Mazo, J. P. S., & Estrada, M. G. (2019). Changes in erotic expression in women with fibromyalgia. Paidéia, 29, e2923. doi: 10.1590/1982-4327e2923
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), Jiménez et al. (2017Jiménez, T. M. M., Fernández-Sola, C., Hernández-Padilla, J. M., Casado, M. C., Raynal, L. H. A., & Granero-Molina, J. (2017). Perceptions about the sexuality of women with fibromyalgia syndrome: a phenomenological study. Journal of Advanced Nursing, 73(7), 1646-1656.doi: 10.1111/jan.13262
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), Blazquez et al. (2015Blazquez, A. R., Ruiz, E., Aliste, L., García-Quintana, A., & Alegre, J. (2015). The effect of fatigue and fibromyalgia on sexual dysfunction in women with chronic fatigue syndrome. Journal of Sexual & Marital Therapy, 41(1), 1-10. doi: 10.1080/0092623X.2013.864370
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), Burri et al. (2014Burri, A., Lachance, G., & Williams, F. M. (2014). Prevalence and risk factors of sexual problems and sexual distress in a sample of women suffering from chronic widespread pain. Journal of Sexual Medicine, 11(11), 2772-2784. doi: 10.1111/jsm.12651
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) e García-Campayo e Alda (2004García-Campayo, J., & Alda, M. (2004). La vivencia de la sexualidad en pacientes con fibromialgia: un estudio cualitativo. Archivos de Psiquiatría, 67(3), 157-167.). E os relatos apresentados pelas participantes a esse respeito, vale reforçar, decorreram de um redirecionamento espontâneo, por parte das mesmas, do foco do quarto e último encontro do grupo psicanalítico de discussão que funcionou como locus para a coleta de dados.

Parece razoável cogitar que os resultados aqui reportados, possivelmente, não teriam sido verificados do modo como foram se a canção Amor e sexo não tivesse sido empregada como disparador. Apesar disso, tais resultados não foram visados diretamente, como já informado. Afinal, os relatos das participantes sobre o tópico em pauta, cabe reforçar, vieram à tona a partir do momento em que quatro versos da referida canção foram considerados em sua literalidade pelas participantes. E há que se considerar que (1) os versos em questão se repetem uma única vez e (2) a canção soma, no total, 50 versos. Para além disso, compreendemos que a alusão à noção de ‘serendipidade’ se justifica também levando-se em conta que, conforme exposto previamente, as participantes se apresentaram como adeptas de suas respectivas religiões apenas quando passaram a discorrer sobre questões religiosas ou morais.

Outrossim, ainda que dispuséssemos previamente de informações sobre a religião das participantes, seria precipitado, em nosso entendimento, presumir que seus significados sobre sexualidade se revelariam influenciados pela religiosidade e pela moralidade com tamanha intensidade. Ocorre que não se deve perder de vista que a religiosidade e a moralidade determinam ‘regras de conduta’ que podem ser seguidas de forma mais ou menos rigorosa, dependendo do nível de abertura do indivíduo aos valores e princípios que lhes conferem sustentação, em que pese a religião autodeclarada. Vide o caso dos denominados ‘católicos não-praticantes’. Precisamente por essa razão, o cenário religioso brasileiro, em que o Cristianismo notoriamente tem prevalecido ao longo do tempo, proporciona um pano de fundo para os resultados veiculados nesta oportunidade, mas não é suficiente para explicá-los por completo. Em suma: compreendemos que os relatos das participantes refletem a complexidade dos arranjos entre determinantes psicológicos e fatores socioculturais em torno dos quais a sexualidade de cada pessoa pode se construir.

Considerações finais

O presente estudo demonstra que os significados sobre sexualidade de mulheres com fibromialgia podem ser afetados acentuadamente por questões de ordem religiosa e moral, as quais não dizem respeito à síndrome propriamente dita e que, talvez por essa razão, têm sido pouco exploradas na literatura especializada. Logo, parece razoável propor que os resultados aqui reportados contribuem para o avanço do conhecimento atualmente disponível sobre o assunto, bem como fornecem elementos a serem considerados na assistência multidisciplinar a tal população. E salientamos que a opção por uma modalidade grupal como locus para a coleta de dados, em nosso entendimento, foi decisiva para tanto, pois viabilizou a obtenção de um corpus bastante frutífero, pelo que é recomendada em pesquisas futuras como forma de estimular a expressão das participantes.

Contudo, é preciso sublinhar que o presente estudo foi desenvolvido com base em relatos apresentados exclusivamente em um encontro de um grupo psicanalítico de discussão por um conjunto específico de mulheres com fibromialgia. Portanto, não são passíveis de generalizações estatísticas estabelecidas a priori pelos pesquisadores. Mas, como ocorre em qualquer pesquisa qualitativa, possibilidades de extrapolação dos resultados para outros contextos podem ser definidas a posteriori pela comunidade científica. E isso se deve ao fato de que, se as pesquisas quantitativas tipicamente privilegiam a validade externa, relativa especialmente aos resultados, nas pesquisas qualitativas, em contrapartida, há maior preocupação com a validade interna, concernente à adequação dos procedimentos metodológicos como um todo em face do desafio de viabilizar uma compreensão aprofundada do fenômeno em questão.

À guisa de conclusão, do presente estudo pode ser extraída a constatação de que, no contexto do trabalho que desenvolvem junto a mulheres com fibromialgia, é imprescindível que os profissionais de saúde valorizem a sexualidade como um importante componente da vida. Nesse processo, até mesmo para que não incorram em um reducionismo biológico impeditivo da integralidade do cuidado, devem se mostrar atentos às possíveis ressonâncias da religiosidade e da moralidade nos significados sobre sexualidade. Ocorre que tais significados podem auxiliar cada pessoa a organizar uma série de dimensões de sua existência. Novas pesquisas com esse enfoque também podem ser consideradas bem-vindas, em particular se contarem com a participação de adeptas de outras religiões, para além daquelas assumidas pelas participantes do presente estudo. Tais indicações, inclusive, se revestem de maior pertinência considerando-se que se observa no país um marcante movimento conservador impulsionado pela presença cada vez maior de certos grupos religiosos nos círculos políticos e midiáticos brasileiros.

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  • 1
    Apoio e financiamento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES; Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq; Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG.
  • 5
    Cumpre assinalar que o Cristianismo possui diversas ramificações. Um detalhamento a respeito ultrapassa o escopo do presente estudo. Contudo, é preciso esclarecer que o denominador comum aos diferentes grupos cristãos é a fé em Jesus Cristo. Desse modo, tanto católicos quanto evangélicos são adeptos do Cristianismo.
  • 6
    Uma das pesquisas já publicadas em que empregamos grupos psicanalíticos de discussão como locus para a coleta de dados é aquela de autoria de Silva e Peres (2016)Silva, M. A. B. P., & Peres, R. S. (2016). O imaginário coletivo de agentes comunitárias de saúde em relação a usuários de saúde mental. Vínculo, 13(2), 55-65.
  • 7
    Estiveram presentes neste quarto encontro todas as seis mulheres selecionadas como participantes do presente estudo. Mas é interessante mencionar que, apenas no primeiro encontro, mais uma mulher esteve presente.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Nov 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    05 Dez 2018
  • Aceito
    21 Fev 2020
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