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O humor no entrecruzamento da política e do trabalho numa perspectiva psicanalítica

Humor en la intersección de la política y del trabajo en una perspectiva psicoanalítica

RESUMO.

Este é um estudo teórico que tem por objetivo analisar a implicação política do humor no trabalho contemporâneo. Para tal, utiliza-se do referencial teórico psicanalítico freudiano, da crítica social e da subjetivação para analisar o trabalho na contemporaneidade. Parte-se da hipótese de que o humor nas organizações tem como principal funcionalidade revelar excessos e dogmas mantidos pelo trabalho, permitindo uma releitura desses, e sugere modificações no contexto de trabalho que perpassam a crítica ao poder constituído, convidando o coletivo à criação de um novo espaço de trabalho. Percebe-se que o humor inaugura um novo discurso social, tendo sua origem no desamparo. Guarda uma função social, mas persegue a política, sem a qual não se eleva. Portanto, porta a denúncia de hipocrisias e idealizações comuns a um grupo, e desterritorializa algo previamente estabelecido por um sujeito, uma instituição ou forma de governo. Descrever o atual cenário político neoliberal, onde se assenta o discurso falicista ou gerencialista do trabalho, e permite reconhecer nos elementos sociais do humor contribuições ao mundo laboral contemporâneo.

Palavras-chave:
Humor; psicanálise; trabalho

RESUMEN.

Este es un estudio teórico que tiene como objetivo analizar la implicación política del humor en el trabajo contemporáneo. Para ello, se utiliza del referencial teórico psicoanalítico freudiano, de la crítica social y de la subjetivación para analizar el trabajo en la contemporaneidad. Se parte de la hipótesis de que el humor en las organizaciones tiene como principal funcionalidad revelar excesos y dogmas mantenidos por el trabajo, y permite una relectura de los mismos, como también sugiere modificaciones en el contexto de trabajo que pasan por la crítica al poder constituido, y así invita el colectivo a la creación de un nuevo espacio de trabajo. A partir del presente estudio, se percibe que el humor inaugura un nuevo discurso social, y tiene su origen en el desamparo. Guarda una función social, pero persigue la política, sin la cual no se eleva. Por lo tanto, el humor denuncia hipocresías e idealizaciones comunes a un grupo, y deja sin territorio algo previamente establecido por un sujeto, una institución o forma de gobierno. Describir el actual escenario político neoliberal, donde se asienta el discurso falicista o gerencialista del trabajo, permite reconocer en los elementos sociales del humor contribuciones al mundo laboral contemporáneo.

Palabras clave:
Humor; psicoanálisis; trabajo

ABSTRACT.

This is a theoretical study that aims at analyzing the political implication of humor in contemporary work. For this purpose, Freud's psychoanalytical theory, the social critic reference and subjectivation are used to analyze the work in the contemporaneity. It is assumed that humor at organizations has as its main functionality to reveal the excesses and dogmas maintained by work, allowing the reinterpretation of them, and suggests changes in a work context that permeate the critic to the constituted power, inviting the collective to the creation of a new workspace. From the present study, it is noticed that humor inaugurates a new social speech, and its origin lies in the helplessness. It keeps the social function, but pursues the policy, without which it can not rise. Therefore, humor denounces hypocrisies and idealizations common to a group and dispossesses something previously established by either the subject or an institution or way of government. Describing the neoliberal political scenery, where the phallicist or managerial speech of work is placed, allowing recognizing in the humor social elements contributions to the contemporary labor work.

Keywords:
Humor; psychoanalysis; work

Introdução

Freud trata diretamente do humor em dois de seus escritos: na obra Os Chistes e sua relação com o inconsciente (1996aFreud, S. (1996a). Os chistes e sua relação com o inconsciente. In J. Strachey(Ed.), Edição standard brasileira das Obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 8). Rio de Janeiro, RJ: Imago. Originalmente publicado em 1905.) e no escrito Humor (1996bFreud,S. (1996b). Humor. In J. Strachey(Ed.), Edição standard brasileira das Obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 11, p. 361-751). Rio de Janeiro, RJ: Imago . Originalmente publicado em 1927.). Nesse último, ele é caracterizado como um dom raro, precioso e rebelde. Ao analisar as duas obras, Mezan (2005)Mezan, R. (2005). A ilha dos tesouros: relendo a piada e sua relação com o inconsciente. In A. Slavutzky & D. Kupermann(Orgs.), Seria trágico... se não fosse cômico: humor e psicanálise (p.129-198). Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira . entende que a questão do prazer, central no argumento da primeira obra, foi enquadrada excessivamente em um modelo econômico. No segundo escrito, à luz da teoria do narcisismo, do investimento pulsional e sob a ótica da sublimação, Freud pôde acrescentar uma nova dinâmica à teoria do humor. Esse último estudo distancia-se do modelo quantitativo ao descrever as características humorísticas compostas pelo caráter transgressor, a formação de laços sociais, a invencibilidade do Eu e a sustentação do prazer. Inaugura ainda uma nova maneira de pensar a sociabilidade, diferente daquela que tipifica os grupos e a massa, onde vigora a proibição do pensamento e a pobreza erótica.

Este artigo apresenta a evolução do conceito de humor nos estudos psicanalíticos, centrado na abordagem freudiana, e tem como objetivo compreender sua implicação social e política no trabalho contemporâneo. Parte da hipótese de que o emprego do humor nas organizações teria como principal funcionalidade revelar excessos e dogmas mantidos pelo trabalho, o que permite uma releitura desses. Trata-se de um estudo teórico e é parte da dissertação de mestrado intitulada Função social e política do humor no trabalho (Gama, 2018Gama, L. P. (2018). A função social e política do humor no trabalho (Dissertação de Mestrado). Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília, Brasília. Recuperado de:http://repositorio.unb.br/handle/10482/32537
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).

O estudo teórico foi realizado através de busca metódica e sistematizada dos temas ‘humor’ e ‘psicanálise’, além do estudo das duas obras freudianas que tratam da temática (1905 e 1927). Para essa pesquisa, foi definido o período temporal de 17 anos. Esse intervalo temporal dilatado é explicado por tratar-se de um estudo teórico acrescido do fato de ser uma temática com produção reduzida. Em relação à temática ‘trabalho’, foram pesquisados autores especializados na vertente da racionalidade crítica e na subjetivação do trabalho.

Esta análise permite pensar como e quando, nos contextos laborais, surge o movimento de compartilhamento social, comum ao humor, de forma a revelar formações idealizadoras, por vezes sustentadas desmedidamente, em contextos autoritários e contrários aos vínculos sociais. Explicitar esta dinâmica viabiliza uma via política no trabalho ao desterritorializar dogmas estigmatizantes que impedem projetos futuros. Essa dinâmica, formação de laços sociais e transformação política no trabalho, apresenta-se como potência para o trabalho vivo, e assim a emancipação dos sujeitos.

O humor

Freud (1996a)Freud, S. (1996a). Os chistes e sua relação com o inconsciente. In J. Strachey(Ed.), Edição standard brasileira das Obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 8). Rio de Janeiro, RJ: Imago. Originalmente publicado em 1905. descreve os tipos de comicidades diferenciadas entre witz (aqui traduzido por piadas), o humor, e outras espécies de cômico (mímica, caricatura, paródia, travestismo e desmascaramento). A ironia, apesar de muito confundida com a piada, é considerada uma subespécie do cômico. O cômico se comporta diferentemente das piadas, por contentar-se com duas pessoas: a primeira, que constata o cômico, e a segunda, em quem se constata. A relação estabelecida é objetal. A terceira pessoa, a quem se conta a coisa cômica, intensifica o processo, mas nada lhe acrescenta. A mímica, a caricatura, a paródia, o travestismo e o desmascaramento dirigem-se contra pessoas e objetos que reivindicam autoridade e respeito, que são em algum sentido percebidas como sublimes. A fonte do prazer cômico é a comparação entre duas despesas, ambas atribuídas ao pré-consciente, algo apreendido, sem maiores acréscimos.

Na piada, a terceira pessoa é indispensável para a complementação do processo de produção de prazer. Entretanto, diferente do cômico, a segunda pessoa pode estar ausente. Freud (1996a)Freud, S. (1996a). Os chistes e sua relação com o inconsciente. In J. Strachey(Ed.), Edição standard brasileira das Obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 8). Rio de Janeiro, RJ: Imago. Originalmente publicado em 1905. traça o seguinte paralelo: uma piada se faz, o cômico se constata antes de tudo nas pessoas; apenas por uma transferência se constata nas coisas, situações etc. No que toca à piada, as fontes do prazer residem no próprio sujeito e não em pessoas externas.

A discussão sobre o humor é retomada em Freud (1996b)Freud,S. (1996b). Humor. In J. Strachey(Ed.), Edição standard brasileira das Obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 11, p. 361-751). Rio de Janeiro, RJ: Imago . Originalmente publicado em 1927. 22 anos após o seu primeiro escrito. Agora essa formação psíquica é vista como o triunfo do narcisismo na afirmação da invulnerabilidade do Eu, ao recusar as provocações traumáticas do mundo externo e demonstrar que elas não passam de ocasiões para obter prazer. Portanto, o humor não é apenas o triunfo do Eu, mas também do princípio do prazer sobre a crueldade das circunstâncias reais, o que permite pensar em suas duas principais características: a invencibilidade do Eu pelo mundo real - narcisismo - e a sustentação do princípio do prazer, mantendo a recusa do indivíduo para o sofrimento, sem ultrapassar o limite da saúde mental.

O funcionamento do humor passa a ser pensado de um modelo econômico para um dinâmico. Essa mudança ocorre quando Freud percebe que, no processo humorístico, a obtenção do prazer pelo riso se dá pelo processo identificatório, não se restringindo apenas à economia do afeto, o que permite enxergar a essência do humor para além de um elemento libertador de energia psíquica, reconhecendo o que lhe é grandioso: o triunfo sobre o narcisismo.

Várias discussões cercam as formações psíquicas que compõem os tipos de comicidade. A diferenciação entre piadas e humor é bastante controversa entre os psicanalistas que se dedicaram ao estudo dessas formações psíquicas. Existe uma tendência em denominá-las ditos espirituosos e não as separar, não apenas pela localização psíquica de ambas no inconsciente, mas também pela realização do processo sublimatório. Dos autores que preferem tratar os dois tipos cômicos em separado, Kehl (2005)Kehl, M. R. (2005). Humor na infância. In A. Slavutzky & D. Kupermann (Orgs.), Seria trágico... se não fosse cômico: humor e psicanálise (p. 51-79). Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira . posiciona-se de forma objetiva a favor dessa separação. Outros, como Slavutzky (2014Slavutzky, A. (2014). Humor é coisa séria. Porto Alegre, RS: Arquipélago Editorial.), os unificam e até mesmo os ampliam, considerando a ironia, tratada por Freud (1996a)Freud, S. (1996a). Os chistes e sua relação com o inconsciente. In J. Strachey(Ed.), Edição standard brasileira das Obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 8). Rio de Janeiro, RJ: Imago. Originalmente publicado em 1905. como subespécie do cômico, como dito espirituoso.

Apesar de diversos autores reafirmarem as ideias de Freud sobre os tipos de comicidade e suas distinções, o reconhecimento do dito espirituoso como um processo sublimatório e não como um mecanismo de defesa é bastante debatido e ampliado, como pode ser percebido nos estudos de Kupermann (2003)Kupermann, D. (2003). Ousar rir: humor, criação e psicanálise. Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira ., Ungier (2001Ungier, A. (2001). Por acaso: o humor na clínica psicanalítica. Rio de Janeiro, RJ: Contra Capa Livraria.), Vasconcelos (2001Vasconcelos, B. P. J. (2001). Só dói quando eu rio: um estudo psicanalítico sobre o cômico, o chiste e o humor (Dissertação de mestrado). Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. Recuperado de:https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/81939/187351.pdf?sequence=1
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/ha...
), Kehl (2005Kehl, M. R. (2005). Humor na infância. In A. Slavutzky & D. Kupermann (Orgs.), Seria trágico... se não fosse cômico: humor e psicanálise (p. 51-79). Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira .), Mezan (2005)Mezan, R. (2005). A ilha dos tesouros: relendo a piada e sua relação com o inconsciente. In A. Slavutzky & D. Kupermann(Orgs.), Seria trágico... se não fosse cômico: humor e psicanálise (p.129-198). Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira ., Pereda (2005Pereda, C. L. (2005). Humor e psicanálise. In A. Slavutzky & D. Kupermann (Orgs.), Seria trágico... se não fosse cômico: humor e psicanálise(p.111-128). Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira .), Ribeiro (2008Ribeiro, M. M. C. (2008). Do trágico ao drama, salve-se pelo humor! Estudos de Psicanálise , 31, 103-112. Recuperado de: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372008000100013
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), Barbieri (2009Barbieri, C. P. (2009). Perversão, humor e sublimação. Estudos de Psicanálise, 32, 39-44. Recuperado de: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372009000100005
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
), Goldenberg e Jablonski (2011)Goldenberg, M., & Jablonski, B. (2011). O gênero da risada. Psicologia Clínica, 23(2), 17-29. Recuperado de: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-56652011000200002
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, Slavutzky (2014Slavutzky, A. (2014). Humor é coisa séria. Porto Alegre, RS: Arquipélago Editorial.) e Francisco (2015Francisco, I. F. M. (2015). Fazer rir para não chorar: estudo psicodinâmico sobre o humor num grupo de humoristas (Dissertação de mestrado). Instituto Universitário Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida, Alfama. Recuperado de:http://repositorio.ispa.pt/handle/10400.12/4556
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).

Outra grande questão que perpassa os autores citados, em especial, Kupermann (2003)Kupermann, D. (2003). Ousar rir: humor, criação e psicanálise. Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira ., Slavutzky (2014Slavutzky, A. (2014). Humor é coisa séria. Porto Alegre, RS: Arquipélago Editorial.) e Ungier (2001Ungier, A. (2001). Por acaso: o humor na clínica psicanalítica. Rio de Janeiro, RJ: Contra Capa Livraria.), é o papel do supereu na formação humorística. O humor repousa na volta dada ao supereu como instância psíquica benevolente e propulsionadora da ‘tirada espirituosa’, termo cunhado por Lacan (1999Lacan, J. (1999). As estruturas freudianas do espírito. In J. A. Miller, (Ed.), O seminário: as formações do inconsciente - livro 5 (p. 9-145). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. Originalmente publicado em 1957-1958.), ou ainda se sustenta pelo processo sublimatório ao dar voltas no recalque. Ungier (2001)Ungier, A. (2001). Por acaso: o humor na clínica psicanalítica. Rio de Janeiro, RJ: Contra Capa Livraria. aparece como uma defensora consistente dessa última proposta. Alguns autores, inclusive Lacan, contestam a participação do supereu no processo sublimatório, alegando ser o ideal do eu a instância participante desse processo. Tal controvérsia é passível de compreensão, já que as duas instâncias são dificilmente discerníveis na obra de Freud.

Lacan (1999Lacan, J. (1999). As estruturas freudianas do espírito. In J. A. Miller, (Ed.), O seminário: as formações do inconsciente - livro 5 (p. 9-145). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. Originalmente publicado em 1957-1958.), ao tratar do humor e da piada pelo campo da linguística, escora-os de vez no espaço social pela via da linguagem. Os preceitos lacanianos localizam o cômico, a piada e o humor nas representações psíquicas conhecidas como Imaginário, Simbólico e Real, consecutivamente, e contribuem para que estudos psicanalíticos (Vasconcelos, 2001Vasconcelos, B. P. J. (2001). Só dói quando eu rio: um estudo psicanalítico sobre o cômico, o chiste e o humor (Dissertação de mestrado). Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. Recuperado de:https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/81939/187351.pdf?sequence=1
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; Ribeiro, 2008Ribeiro, M. M. C. (2008). Do trágico ao drama, salve-se pelo humor! Estudos de Psicanálise , 31, 103-112. Recuperado de: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372008000100013
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
; Barbieri, 2009Barbieri, C. P. (2009). Perversão, humor e sublimação. Estudos de Psicanálise, 32, 39-44. Recuperado de: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372009000100005
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; Francisco, 2015Francisco, I. F. M. (2015). Fazer rir para não chorar: estudo psicodinâmico sobre o humor num grupo de humoristas (Dissertação de mestrado). Instituto Universitário Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida, Alfama. Recuperado de:http://repositorio.ispa.pt/handle/10400.12/4556
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) evidenciem a construção do discurso humorístico pelo emprego da metáfora e da metonímia. Essas figuras de linguagem são utilizadas como recursos técnicos dos ditos espirituosos e são esclarecidas na cadeia de significante.

A compreensão do humor no campo social pela via da linguagem e sua consequente possibilidade de construção de discurso revelam sua potencialidade em criar um novo sentido para algo que até então se apresentava como um código. Desta forma, a tradução pela linguagem assegura a grande função dos ditos espirituosos, que é confrontar as verdades absolutas mantidas no espaço social. Para melhor compreensão dessa dinâmica, segue-se a descrição da metapsicologia do humor.

Metapsicologia do humor ou o papel do supereu nessa formação psíquica

O termo ‘metapsicologia’, cunhado por Freud em seus estudos sobre as relações entre o aparelho psíquico, leva a um conhecimento que considera as dimensões dinâmicas, tópicas e econômicas reveladas nessas relações. Ao estudar a metapsicologia do humor, destaca os seus elementos (formação de laços sociais, o caráter transgressor e a sublimação), possivelmente por contribuírem para a compreensão da sua função no campo social.

Para Kupermann (2017)Kupermann, D. (2017). Humor, desidealização e sublimação na psicanálise. In Estilos do cuidado: a psicanálise e o traumático (p. 72-86). São Paulo, SP: Zagodoni., Freud avança passos decisivos ao revelar que o humorista, ao rir de si mesmo, é ao mesmo tempo a criança aflita e o adulto superior em relação a essa mesma criança. Reconhecer-se ‘até certo ponto’ é uma modalidade identificatória que permite a elaboração do luto de um objeto que fora imprescindível. O humorista, ao reconhecer-se ‘órfão’ desse pai, diferencia-se da identificação narcísica que, por meio da perpetuação da sombra de um objeto idealizado, promove os quadros melancólicos (e também masoquistas) caracterizados pelo empobrecimento do sujeito.

A posição subjetiva do humorista se contrapõe àquela do triunfo egoico narcísico que, identificado de modo absoluto com o pai idealizado, reflete a arrogância falicista com a qual quer ser investido. Ao contrário dessa figura da heroína, pela crença em sua intangibilidade, a figura do órfão, aqui aproximada do humorista, o levaria pela orfandade à sua própria condição de possibilidade. Assim como Kupermann, Mezan (2005)Mezan, R. (2005). A ilha dos tesouros: relendo a piada e sua relação com o inconsciente. In A. Slavutzky & D. Kupermann(Orgs.), Seria trágico... se não fosse cômico: humor e psicanálise (p.129-198). Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira . ressalta que é sob essa ótica do reconhecimento da orfandade sem reinvindicações falicistas que devemos compreender o supereu benigno previsto em Freud (1996b)Freud, S. (1996a). Os chistes e sua relação com o inconsciente. In J. Strachey(Ed.), Edição standard brasileira das Obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 8). Rio de Janeiro, RJ: Imago. Originalmente publicado em 1905., que encarna a função benévola do pai da infância.

O humorista adota essa atitude paterna em dois momentos: ao sorrir do outro quando reconhece situações triviais que são supervalorizadas por ele, dispensando a esse sujeito tratamento semelhante ao de um adulto a uma criança, e quando ri de si mesmo, afastando possíveis sofrimentos, tratando-se como uma criança. A atitude do humorista consiste em retirar energia do eu e investir no supereu, instância que realiza o papel do pai. Essa dinâmica permite ao supereu pronunciar palavras bondosas ao eu, traduzidas da seguinte maneira: “Olhem! Aqui está o mundo, que parece tão perigoso! Não passa de um jogo de crianças, digno apenas que sobre ele se faça uma pilhéria” (Freud, 1996bFreud,S. (1996b). Humor. In J. Strachey(Ed.), Edição standard brasileira das Obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 11, p. 361-751). Rio de Janeiro, RJ: Imago . Originalmente publicado em 1927., p. 194). O humor, portanto, nos eleva, revertendo o mundo real,por meio da regressão, ao princípio do prazer.

Essa regressão remete o humor ao lugar da rebeldia, por ele se contrapor “[...] a uma realidade deserotizada, à resignação de uma inércia psíquica, à cisão entre os princípios de prazer e de realidade, à melancolia do desinvestimento libidinal, à resignação masoquista, ao real implacável” (Ribeiro, 2008Ribeiro, M. M. C. (2008). Do trágico ao drama, salve-se pelo humor! Estudos de Psicanálise , 31, 103-112. Recuperado de: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372008000100013
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, p. 108). Mas, esse movimento de contraposição provocado pela transferência da carga libidinal aflitiva do eu para o supereu também se torna uma alternativa possível para o masoquismo, que tende a erotizar o sofrimento, colocando-o em primeiro plano em forma de queixas e lamentos intermináveis.

Salles (2011Salles, A. C. T. C. (2011). Humor: dor e sublimação. Reverso, 33(61), 21-27. Recuperado de: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-73952011000100003&lng=pt&tlng=pt
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) reitera a ideia do supereu sádico e rigoroso como o herdeiro dos ideais de perfeição narcísica do complexo de Édipo, sendo o supereu benigno resultante da simbolização da castração. A atuação do supereu benigno somente é possível quando o sujeito se reconhece simbolicamente castrado e admite a falta, levando o supereu a perdoar os fracassos do eu. O triunfo narcísico do eu consiste em ele manter o amor próprio até mesmo diante da castração, diferente do triunfo heroico, que acredita que nada pode atingi-lo. O humorista não nega a realidade dolorosa. Ele se assemelha mais ao órfão do que ao herói, e é essa condição que confere ao humor lucidez e dignidade.

O supereu benevolente se dirige ao eu de forma consoladora e amorosa, permitindo o gozo não proibitivo, vital. Para Ribeiro (2008Ribeiro, M. M. C. (2008). Do trágico ao drama, salve-se pelo humor! Estudos de Psicanálise , 31, 103-112. Recuperado de: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372008000100013
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), nesse caso, o supereu utiliza-se do imperativo: ‘Goze!’, adotando uma tonalidade que difere do seu uso na proibição de gozo pelos pais na infância, quando o indivíduo não se sente autorizado a suplantar as figuras de autoridade.

Entretanto, o papel do supereu como uma instância benevolente na formação do humor é questionada. Para Ungier (2001Ungier, A. (2001). Por acaso: o humor na clínica psicanalítica. Rio de Janeiro, RJ: Contra Capa Livraria.), não é o seu posicionamento benevolente que permite ao sujeito evitar uma posição ou queixa masoquista. Essa evitação é conquistada quando um novo trajeto pulsional promove o registro simbólico sobre uma experiência angustiante. Esse circuito se dá pela criação de uma frase perturbadora que presenteia o sujeito com um prazer estético semelhante à criação de uma poesia. Em outras palavras, essa criação permite ao sujeito combater com o riso o despontar da mortificação na qual seria precipitado em função da inclemência do supereu.

Sendo assim, para Ungier (2001Ungier, A. (2001). Por acaso: o humor na clínica psicanalítica. Rio de Janeiro, RJ: Contra Capa Livraria.), o humor não pretende dar conta da insistência da pulsão: admite o real, e a partir dele cria algo inesperado, que causa prazer não apenas pela economia do afeto, mas também pela experiência estética ocasionada pela reviravolta do discurso. Ele se opõe, e não apenas reinterpreta, à ordem do supereu, ‘Goze!’, e no lugar da angústia coloca o dito espirituoso.

O humor percebido como um processo sublimatório o distancia dos processos defensivos, tendo como objetivo transformar o afeto frente à angústia. Para Castro (2014Castro, S. L. S. (2014). O importante papel do humor na direção da cura. Stylus Revista De Psicanálise, 28, 99-107. Recuperado de:http://pepsic.bvsalud.org/pdf/stylus/n28/n28a11.pdf
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), o humor, seja pela arte seja pelo trabalho analítico, possibilita a compreensão do funcionamento de um supereu tirano e sua superação pela via da castração. De qualquer forma, pensar o triunfo narcísico, elemento essencial do humor, em ambos os casos, pelo processo sublimatório ou pela participação do supereu, diz da admissão psíquica pelo sujeito de uma catástrofe eminente e não da sua recusa.

O desvelar da metapsicologia humorística explica, por uma relação de poder entre o oprimido e o opressor, o triunfo do narcisismo sobre a invulnerabilidade do eu, obtido pelo reconhecimento da falta. O sujeito, ao reconhecer a falta, pode acomodá-la em um novo discurso, que o remete ao desejo, e ainda pode avançar sobre o discurso falicista, tão presente no contexto sociopolítico das relações laborais. Reconhecer os elementos políticos e sociais do humor (sendo o social caracterizado pelos laços identificatórios, o caráter transgressor e a sublimação) pode contribuir para pensar o mundo laboral.

Elementos políticos e sociais do humor

Torna-se difícil a tratativa em separado da função social e política do dito espirituoso. Inicialmente ressalta-se que a função social é demarcada pelo compartilhamento de uma mensagem entre o sujeito que propaga o dito e o terceiro que o recebe, permitindo a inauguração de espaços sociais que subvertem o estabelecido. Já a função política fundamenta-se quando o outro é afetado pelo que porta a mensagem do dito espirituoso, afeto revelado pelo riso. Portanto, o papel do terceiro mostra-se como sendo o elo comum entre os elementos político e social do dito espirituoso.

A primeira função que Freud atribui à terceira pessoa seria a de testemunha do sucesso do dito espirituoso, como fosse esse um avalizador do jogo e do nonsense promovido pela primeira pessoa. Kupermann (2003)Kupermann, D. (2003). Ousar rir: humor, criação e psicanálise. Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira . afirma que o dito espirituoso transgride, pela linguagem, os princípios que regem a razão e os códigos sociais que impõem o recalcamento de certas pulsões sexuais e agressivas. Aqui, o outro assume uma função de autorização dessas mesmas transgressões e não apenas de testemunho. Os afetos prazerosos proporcionados pelo dito espirituoso então precisam ser compartilhados: a transgressão criada pelo humorista precisa circular com pelo menos mais alguém que componha com esse uma identidade grupal.

Para ampliar a ideia de compartilhamento do dito espirituoso é destacado aqui como esse ganha o caráter de mensagem e é sancionado pelo outro na teoria lacaniana. O dito espirituoso, para Lacan, ganha o estatuto de uma mensagem justamente por apresentar algo novo e distingue-se do código, diferença essa sancionada pelo outro. Portanto, para que o dito espirituoso ocorra, é preciso que o terceiro reconheça no código uma mensagem, e que essa seja reinscrita como uma tirada espirituosa, provocando um alinhamento da mensagem no código. O dito espirituoso aponta para algo fora do significante, “[...] designa, e sempre de lado, aquilo que só é visto quando se olha para outro lugar” (Lacan, 1999Lacan, J. (1999). As estruturas freudianas do espírito. In J. A. Miller, (Ed.), O seminário: as formações do inconsciente - livro 5 (p. 9-145). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. Originalmente publicado em 1957-1958., p. 29).

É preciso compreender melhor o denominado código e a mensagem em Lacan (1999Lacan, J. (1999). As estruturas freudianas do espírito. In J. A. Miller, (Ed.), O seminário: as formações do inconsciente - livro 5 (p. 9-145). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. Originalmente publicado em 1957-1958.). A fala do sujeito possui dois planos: um, o discurso corrente, do código, que é comum à realidade, em que se produz o mínimo de sentido. Uma vez que aí o sentido já está dado pelos ideais comumente aceitos, fala-se do lugar comum. O outro plano é o da mensagem, em que, pelo resultado da conjunção entre o discurso e a cadeia significante, vem à luz o sentido. Este último é o espaço que o humor utiliza por meio dos seus recursos de linguagem para anunciar algo novo dentre o que é comum.

Fernandes (2008Fernandes, S. A. F. (2008). Freud, Lacan e Witz: a dimensão do prazer e do significante (Tese de doutorado). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.Recuperado de:http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/280574
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), ao discutir como Lacan, pensou os ditos espirituosos em seu Seminário 5, que concorda com a ampliação do papel do outro como defendida por Kupermann e ressalta a importância que Lacan reserva ao outro. Ele é fundamental não apenas para a formação do dito espirituoso, mas por estar ali também como sujeito. Para que haja uma tirada espirituosa, é preciso que o Outro se dê conta de um sentido mais além, capaz de marcar a formulação do desejo.

Vale insistir no papel social do dito espirituoso, o compartilhamento social de um afeto gerado pela transgressão e que solicita emergencialmente a sua transmissão. A experiência afetiva do dito espirituoso não reside apenas na suspensão do recalque, experiência essa mais individualizada, e também não se refere apenas a um contágio psíquico das massas. As novas leituras sobre o humor permitem positivar o afeto coletivo e político promovido por ele, considerando-o um afeto inerente à promoção do laço social. Esse afeto é entusiasta por permitir uma sociabilidade sem destruição da singularidade pulsional e desejante.

Tal leitura torna-se bastante animadora se considerarmos que, na obra de Freud, não há uma teoria stricto sensu da cultura e nem uma teoria política elaborada. Entretanto, há indicativos e reflexões suficientes acerca da problemática crucial na vida social e política, que seria o conflito irreconciliável entre o sujeito, em sua individualidade narcísica e singularidade pulsional, e sua necessária e constitutiva inserção social. Nos ensaios freudianos sobre vida cultural, o que se pode perceber é que a coexistência dos sujeitos em uma vida grupal somente é possível quando essa congregação de individualidades conquista o equilíbrio ideal que permita a proximidade, mas preserve a individualidade. Esse equilíbrio dependerá do desejo singular, bem como do narcisismo aliado à destrutividade dirigida ao outro. Portanto, o laço social implica essa busca de equilíbrio, construindo-se em uma convivência social e política processual, possível somente por um movimento e gestão constantes para melhor adequação de contextos.

Reforçando o exposto anteriormente, o alcance político do humor é ressaltado (Birman, 2005Birman, J. (2005). Frente e verso: o trágico e o cômico na desconstrução do poder. In A. Slavutzky & D. Kupermann (OrgS.), Seria trágico... se não fosse cômico: humor e psicanálise (p. 81-109). Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira.) pelo papel fundamental do interlocutor no dito espirituoso, pois é pela sua risada que o dito espirituoso é reconhecido. Na relação com o outro é que a experiência transgressora do dito espirituoso é enunciada. Ao transcender o recalque e obter prazer, o dito espirituoso permite criar estratégias de desmontes e de desconstrução daquilo que oprime. Essa produção criativa, por ocorrer em uma cena social, oriunda da inserção do terceiro, proporciona a circulação e o compartilhamento do desejo. Portanto, a sua função pode encontrar efetividade no campo social e político.

O sujeito no mundo do trabalho

Os laços sociais criados pelos ditos espirituosos e sua positivação do afeto coletivo e político, ao manter a singularidade pulsional e desejante do sujeito e ainda colocar em xeque as formações idealizadoras, resultam em interessantes reflexões para o mundo do trabalho. Os sujeitos nesse contexto são chamados a agir como empresários de si mesmo, e isso não se faz sem uma relação de concorrência com o outro; aceitam ocupar esse lugar de gestor de si mesmo e concorrem com o outro, pois subjetivamente se relacionam consigo mesmos, como um capital a ser constantemente autovalorizado, comportamento materializado no consumo desenfreado de coisas materiais e imateriais.

A descrição do sujeito inserido no mundo do trabalho é necessária para enxergar a possibilidade do vislumbre do sujeito do desejo, aquele que ainda possui alguma chance de buscar consolidar laços sociais. Submetido às novas formatações de trabalho, o sujeito não apenas converte internamente os valores do sistema, como vivencia uma ‘ultrassubjetivação’ (Dardot & Laval, 2016Dardot, P., & Laval, C. (2016). Neoliberalismo e subjetivação capitalista. Revista Olho da História, 22. Recuperado de: http://oolhodahistoria.ufba.br/wp-content/uploads/2016/04/dlneoliberalismo.pdf
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), em que se busca ir além de si mesmo, não bastassem as exigências do mundo moderno. Essa realidade formuladora de uma nova subjetivação modifica relações do sujeito consigo e com o outro, sendo o próprio sujeito a alavanca dessas mudanças. Frente a essas novas configurações da subjetividade humana, criar um coletivo a partir de um projeto que solape os excessos de desmandos somente é possível a partir de trocas nas relações sociais de algo que circule no campo do desejo, e não apenas no campo do real. Sendo assim, a convivência coletiva, em ambientes de trabalho, teria nos ditos espirituosos um elemento propulsor das ligações sociais.

Elementos sociais do humor

Kupermann (2003) ressalta alguns aspectos sociais do humor que contribuem para a compreensão do seu funcionamento no mundo do trabalho, como os laços sociais, o caráter transgressor e a sublimação.

Laços sociais e o trabalho

A estruturação dos laços sociais deveria suportar a estabilidade própria da junção de individualidades, caracterizada pela insatisfação permanente pela sujeição às constantes variantes da natureza e ao desejo humano de buscar uma satisfação que nunca será completa. Se esse jogo de forças, que confronta vida e morte, permite a construção de uma criativa e permanente transformação, poderia também soar contrário a um projeto civilizatório, já que esse projeto tem como principal sustentáculo a garantia de uma união social sólida e duradoura.

Portanto, qual é a pista que nos deixa a formação de laços via ditos espirituosos? A criação e propagação de um discurso que porte o novo em uma realidade deslibidinada por ser repetitiva e previsível em manter o consolidado. Novo por revelar algo do afeto do desejo e ainda com a potência de inserir o outro nesse discurso, ao denunciar algo que inviabiliza não apenas a individualidade de um, mas de todo um coletivo.

Caráter transgressor do humor e o contexto laboral

Os ditos espirituosos possuem caráter transgressor do recalcamento ao vislumbrar novas possibilidades identificatórias e sublimatórias, criando novos modos de sociabilidade. Quando se transmite um dito espirituoso, busca-se compartilhar uma crítica social, denunciar hipocrisias comuns a qualquer grupo e evidenciar idealizações. A elaboração de ditos espirituosos promove, mesmo que temporariamente e de forma subversiva, a libertação de imposições sociais anacrônicas. Essa dinâmica, entretanto, cobra um preço angustiante em certa medida: a desterritorialização de algo até então mantido pelo próprio grupo. Sendo assim, o dito espirituoso permite o exercício da liberdade, mas não sem uma experiência de angústia coincidente com a emergência de processos criativos.

A transgressão contida nos ditos espirituosos guarda estreita relação com o poder, já que um de seus alvos são as estruturas que mantêm o status quo de forma repressiva. Para se pensar o manifesto desse dito espirituoso, é preciso reconhecer o momento sócio-histórico em que ele é proferido, compreendendo assim do que o dito trata. Os ditos espirituosos são eminentemente sociais por desafiarem insistentemente o poder e apontarem sua mortalidade; sendo assim, não existem fora do espaço social. Espaços de intimidade absoluta e do silêncio se opõem radicalmente aos enunciados humorísticos “[...] que não são apenas práticas discursivas como também se inscrevem efetivamente na ‘cena social’” (Birman, 2010Birman, J. (2010). O rei está nu: contrapoder e realização de desejo, na piada e no humor. Psicologia Clínica, 22(1), 175-191. Recuperado de:http://pepsic.bvsalud.org/pdf/pc/v22n1/a11v22n1.pdf
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, p. 18, grifo do autor).

A cena social laboral, composta por um cenário antissublimatório, onde espaços de fala não são incentivados, laços sociais são destruídos, a manutenção e reprodução do poder é protegida sobre o invólucro da flexibilidade, lhe permite diversas facetas da opressão e formatação de subjetividades neoliberalistas. Esse cenário é um convite para pensar em saídas transgressivas, como o proposto pelo dito espirituoso.

Mas os obstáculos que esse cenário antissublimatório impõe a esse convite devem ser encarados, especialmente porque uma nova subjetivação nasce desse contexto social (Dardot & Laval, 2016Dardot, P., & Laval, C. (2016). Neoliberalismo e subjetivação capitalista. Revista Olho da História, 22. Recuperado de: http://oolhodahistoria.ufba.br/wp-content/uploads/2016/04/dlneoliberalismo.pdf
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): a subjetivação neoliberalista. E é dos sujeitos imersos nessa composição que podemos esperar o surgimento de formações psíquicas, sejam essas os sonhos, os atos falhos, os sintomas ou o dito espirituoso. Dessas formações psíquicas, o dito espirituoso é a que promove o discurso e por isso é dotada de sociabilidade. Enfim, que tipo de comicidade é possível de ser produzida ao nos depararmos com a nova subjetivação do homem contemporâneo? No primeiro momento, pode-se pensar que resta apenas a ironia, subespécie do cômico, pelo seu poder de confirmar discursos homogêneos.

Entretanto, fica a expectativa de dirigir o olhar para outro lado; o humor ensina isso: ele busca outra faceta da instância tirânica e a contorna. Persiste a esperança em apostar na ambivalência constituinte do sujeito, que o torna capaz de proferir discursos que, mesmos raros, possuem rebeldia suficiente para desterritoriarizar espaços julgados sólidos.

O trabalho da sublimação

O circuito sublimatório, difuso na obra de Freud, é aqui representado em Cruxên (2004Cruxên, O. (2004). A sublimação. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar Editor.). Na sublimação ocorre a deserotização do objeto primário para um objeto artístico e, ao fim desse percurso, o público é chamado a testemunhar esse circuito pulsional. O humor frente ao desamparo, perda do objeto primário, não busca a proteção paterna: o enfrenta sozinho. Essa busca é muito bem representada pela orfandade em Kupermann (2017)Kupermann, D. (2017). Humor, desidealização e sublimação na psicanálise. In Estilos do cuidado: a psicanálise e o traumático (p. 72-86). São Paulo, SP: Zagodoni..

O sujeito órfão, como defendido em Kupermann (2017)Kupermann, D. (2017). Humor, desidealização e sublimação na psicanálise. In Estilos do cuidado: a psicanálise e o traumático (p. 72-86). São Paulo, SP: Zagodoni., reconhece em si e no outro a falência de um atributo que o faça onipresente e onisciente, e essa percepção da ausência permite a condição para o trabalho da imaginação criadora. A percepção da ausência leva o sujeito a investir em objetos, sendo esse o trabalho sublimatório como denomina Mijolla-Mellor (2010Mijolla-Mellor, S. (2010). Os ideais e a sublimação. Psicologia USP, 21(3), 501-512. Doi: 10.1590/S0103-65642010000300003
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): trabalho que satisfaz e mantém o sujeito produtivo, renovado e inovador. Esse movimento criativo do sujeito mantém a sua saúde mental, mesmo quando confrontado com realidades limitantes. Essa é a perspectiva da sublimação: o movimentar-se criativamente frente a situações adversas, contrariamente ao comportamento paralisante, idealizador e/ou identificatório com contextos ameaçadores.

A criação humorística, assim como o trabalho sublimatório, transmite a postura afirmativa do sujeito diante do real, o jeito de dizer ou bendizer a vida, produzindo o efeito da graça. Revela-se pela dimensão da estética e, finalmente, encontra dimensão política no posicionamento do sujeito frente aos ideais e idealizações compartilhadas na vida cultural.

Todavia, se o caminho da sublimação é interrompido, outros caminhos podem ser traçados. A dessexualização da libido sofre uma desfusão pulsional, acarretando a presença no eu da pulsão de morte, que será utilizada para o movimento, necessariamente agressivo, de constituição de novos objetos de investimento sexual. Se a criação desses objetos se torna inviável, pela idealização do objeto perdido, a pulsão de morte não contribuirá para o movimento de ‘desterritorialização’ (Kupermann, 2017Kupermann, D. (2017). Humor, desidealização e sublimação na psicanálise. In Estilos do cuidado: a psicanálise e o traumático (p. 72-86). São Paulo, SP: Zagodoni.) necessário ao processo sublimatório, mas alimentará o supereu, incrementando sua fúria sádica e mortífera.

O humor, por via da criação, convida o sujeito a pensar o que se oculta no pré-estabelecido socialmente. Esta é sua função, teimar com o status quo, alertando ao público que ele pode ocupar um lugar diferente daquele idealizado socialmente. Essa desterritorialização social, o convite ao laço social e a transgressão ao imposto socialmente é que torna o estudo do humor tão importante no campo social.

Humor e trabalho: uma discussão possível

O distanciamento da patologia seria o legado do humor ao trabalho, mesmo que Freud tenha estruturado conceitualmente o primeiro e pouco versado sobre o trabalho ordinário. Safatle (2016Safatle, V. (2016). O trabalho do impróprio e os afetos da flexibilização. In V. Safatle. O circuito dos afetos: corpos políticos, desamparo e o fim do indivíduo (p. 159-192). Belo Horizonte, MG: Autêntica.), entretanto, lembra que o inconsciente é sobretudo uma modalidade de trabalho, que nada tem a ver com o trabalho enquanto expressão das representações da consciência. Ainda assim, esse autor entende que Freud foi o grande responsável pelo aparato conceitual que leva a compreender como o capitalismo pela gestão do trabalho desenvolve-se por uma matriz de sofrimento psíquico.

Não existe nada em comum entre o labor (trabalho de força) e o opus (a obra). Aquele nunca foi pensado como trabalho: ele está na ordem da criação e deriva da sublimação. Tal distinção salienta o fato de que nem todo trabalho leva à sublimação. Em uma releitura de distinção tão radical, é importante a existência de um número elevado de empregos que se caracterizam pelo confronto com os constrangimentos organizacionais. Estes tornam impossível o emprego da inteligência e não dão oportunidade à criatividade, à descoberta e à engenhosidade. Sendo assim, para esses empregos, a clivagem radical entre labor e opus se aplica e merece o epíteto de tarefas antissublimatórias e, consequentemente, provocam efeitos dramáticos para a saúde mental (Dejours, 2012Dejours, C. (2012). Trabalho vivo: sexualidade e trabalho. Brasília, DF: Paralelo 15.).

O trabalho como estruturado na contemporaneidade, vinculado aos modos de produção cada vez mais flexíveis do capital, perde o seu valor psíquico e social e ganha um valor instrumental. Contraditoriamente, os modelos de gestão oferecem ao sujeito o lugar da plenitude, que por sua vez se engaja nesse discurso à busca do sucesso e é remetido à onipotência, pronto a atender a demanda que se apresenta e falsamente lhe acena com o cessar do desamparo. Discurso que leva ao fracasso do laço social, humaniza o que é industrial e afasta o sujeito do desejo, rendido à promessa da plenitude e negando o desamparo (Mendes, Takaki, & Gama, 2016Mendes, A. M., Takaki, K., & Gama, L. P. (2016). Do sujeito invocado ao sujeito invocante: a violência no trabalho como recusa do desamparo. In F. B. Leal (Org.), Assédio moral organizacional: novas modalidades do sofrimento psíquico nas empresas contemporâneas (p. 135-144). São Paulo, SP: LTr.), enredando-se em um discurso imperioso sem lugar para o desejo.

O circuito imperioso do gozo possível em ambientes que evocam a plenitude/onipotência torna propícia a violência por conter em suas bases a recusa do desamparo, conforme defendido por Mendes et al. (2016Mendes, A. M., Takaki, K., & Gama, L. P. (2016). Do sujeito invocado ao sujeito invocante: a violência no trabalho como recusa do desamparo. In F. B. Leal (Org.), Assédio moral organizacional: novas modalidades do sofrimento psíquico nas empresas contemporâneas (p. 135-144). São Paulo, SP: LTr.). As consequências diante esse cenário em que o laço social é arruinado, de insensibilidade progressiva ao sofrimento do próprio sujeito e dos demais, é a solidão que leva aos ambientes de trabalho o uso de defesas, práticas desleais com os colegas baseadas em condutas como ‘cada um por si’ e/ou ‘tapar os olhos’, e o ativismo que, de forma exacerbada, transforma-se em práticas articuladas a uma violência patológica. Assim, a violência patológica é consequência das formas de dominação social no trabalho e da recomposição das defesas, as quais precisam ser mais eficazes para dar conta dos efeitos das relações de poder.

O humor é um dom raro, precioso e rebelde, não apenas por ser uma formação do inconsciente que eleva o eu à tirania do supereu, como inicialmente postulou Freud ao ressaltar o triunfo narcísico, pela conquista da risada. O humor se firma pela invencibilidade do eu no mundo real. E o faz a partir da inauguração do circuito sublimatório, que transforma desamparo em arte e assim sustenta o princípio do prazer.

Esse objeto artístico, introduzido no mundo simbólico, inaugura um novo discurso, tendo em sua origem o desamparo e o afeto que lhe cerca. Ao falar de desamparo, indica-se a condição humana, e não apenas uma identidade específica, o convite para o Outro começa a ser endereçado. Discurso porque artisticamente apresenta-se como uma linguagem embrulhada pelo nonsense e no encontro com o outro é desembrulhada pelo riso, e finalmente interpretada como um Dis-curso.

O humor guarda essa função social, mas persegue a política, sem a qual não se eleva. Portanto, porta a denúncia social de hipocrisias comuns a um grupo e idealizações. Desterritorializa algo previamente estabelecido por um sujeito, uma instituição ou forma de governo. Desafia diretamente o poder: a relação entre o oprimido e o opressor é causa de angústia e guarda facetas que o humor desconsidera (o masoquismo e a identificação são algumas delas). Frente à angústia, o humor triunfa, e o faz por que o sujeito humorista reconhece a falta, reconhece-a e aceita-a. Assim sendo, é capaz de construir o discurso faltante, do qual o dito espirituoso elevadamente participa, discurso da falta, que o remete ao seu desejo.

Ao compreender a metapsicologia do humor, pode-se avançar com mais amplitude sobre uma forma de discurso falicista, expresso no contexto social das relações do trabalho. Conhecer o cenário político neoliberal onde se assenta o discurso falicista, ou discurso gerencialista do mundo do trabalho contemporâneo, permite reconhecer nos elementos sociais do humor - laços identificatórios, caráter transgressor e sublimação - contribuições ao mundo laboral.

O sofrimento questionador, aquele que simbolizado pela dor é portador do desejo e expulso dos ambientes laborais pelas estratégias de gestão, é a discussão a ser pautada, e que Mendes e Ghizoni (2016Mendes, A. M., & Ghizoni, L. D. (2016). Sofrimento como potência política para o trabalho do sujeito vivo. Trabalho (En)Cena, 1(2), 1-3. Recuperado de:https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/encena/article/view/3342/9691
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) sustentam ao tratar da temática e reiterar a importância do confronto do real pelo desejo, único modo de o sujeito suportar e aceitar a condição do vazio.

Não há tradução na linguagem para a dor que representa o sofrimento como força questionadora do querer. Novos discursos necessitam ser desenvolvidos e outros já ocorrem pelas formações psíquicas, como o dito espirituoso.

O humor empresta o seu vigor ao cenário contemporâneo do trabalho ao instaurar uma nova sociabilidade, criada por novos pensamentos, o que permite criar novos laços sociais que sustentam a erótica e as singularidades. Coloca em xeque, por seu caráter transgressor, situações consolidadas, criando estratégias de desmonte e de descontinuidade daquilo que oprime, desterritorializando o consolidado em ambientes marcados pela repetição. Por fim, trilhar esse caminho requer criatividade, sob o olhar auspicioso do outro. A postura humorística reconhecedora do vazio, sem o império do gozo da queixa, certamente é uma das maiores contribuições para o cenário contemporâneo.

Considerações finais

Pelo presente estudo, é percebido que o humor e o seu ato desterritorializante, promotor de elo entre a função social e política, reveste-se na contemporaneidade de maior importância política, ajudando a denunciar as formas de apropriação cada vez mais sutis, e em desenvolvimento na sociedade, seja pelas instituições e o seu exercício homogêneo a favor de um modelo econômico, seja pela própria forma de tratamento que o sujeito dispensa a si e ao outro, como objetos autovaloráveis. Essa massificação social leva os sujeitos a uma total incapacidade de reconhecer o que é bem comum e o que lhe é usurpado, minando cada vez mais as possibilidades de laços sociais, o que inaugura um ciclo incapacitante de saídas políticas.

A subjetivação neoliberalista, que abarca todas as esferas sociais, parece cegar e ensurdecer os sujeitos para o riso que denuncia o afeto, assim como, possivelmente, para outras alternativas reveladoras do que é singular. Entretanto, a ambivalência psíquica comum à natureza humana pode apontar saídas. A saída localiza-se na insistência em querer denunciar aquilo que por diversas maneiras é reprimido. Se hoje o riso não é conquistado com facilidade, pela brutalidade com que manifestações autênticas são coibidas ou adulteradas, é preciso estar atento para o que a subjetivação neoliberalista pretende calar, ou seja, os interditos.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Dez 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    20 Jun 2019
  • Aceito
    09 Out 2020
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