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“UMA CASA E UMA SANFONA PARA SONHAR”: GRUPO MULTIFAMILIAR MUSICOTERAPÊUTICO NA COMUNIDADE

“UNA CASA Y UN ACORDEÓN PARA SOÑAR”: GRUPO DE MUSICOTERAPIA MULTIFAMILIAR EN LA COMUNIDAD

RESUMO.

Esta pesquisa tem por objetivo investigar o uso do Grupo Multifamiliar Musicoterapêutico (GMM) junto a famílias socialmente vulneráveis. Trata-se de uma pesquisa-intervenção realizada em uma região administrativa do Distrito Federal. Participaram do estudo 30 famílias inscritas no Cadastro Único do governo federal e atendidas no Centro de Referência em Assistência Social. Os instrumentos de coleta de dados foram as visitas domiciliares, as entrevistas semiestruturadas e os registros dos encontros e das supervisões. O GMM foi realizado em seis encontros, com duração de 03 horas cada, com periodicidade quinzenal, intercalados com as supervisões da equipe, formada por 15 profissionais das áreas de psicologia, pedagogia, assistência social e musicoterapia. Após a análise foram identificados dois temas: 1) música, afetos e reminiscências; 2) música e sonhos. Percebeu-se que as experiências musicais auxiliaram as famílias na conscientização das formas violentas de comunicação e na transformação por meio de expressões afetuosas mediadas pela música e seu potencial de evocar memórias e sonhos. A capacidade imaginativa das famílias foi uma estratégia de enfrentamento às adversidades e se constituiu como ponte entre o real e o imaginário, nutrindo a esperança de uma vida melhor. Destaca-se o valor da música que, com rapidez e emocionalidade, acessa e comunica com o tal público, por favorecer intervenções musicoterapêuticas comunitárias.

Palavras-chave:
Musicoterapia; relações familiares; vulnerabilidade

RESUMEN.

Este trabajo tiene como objetivo investigar el uso del Grupo Musicoterapéutico Multifamiliar (GMM) con familias socialmente vulnerables. Se trata de una intervención-investigación realizada en una Región Administrativa del Distrito Federal. Participaron del estudio 30 familias que se encuentran inscritas en el Registro Único del Gobierno Federal y que son atendidas en el Centro de Referencia de Asistencia Social. Los instrumentos de recolección de datos fueron: visitas domiciliarias, entrevistas semiestructuradas y registros de reuniones y supervisiones. El GMM fue realizado en seis encuentros, con una duración de tres horas cada uno. Los encuentros se realizaron cada dos semanas, intercalados con la supervisión del equipo, formado por 15 profesionales en las áreas de psicología, pedagogía, asistencia social y musicoterapia. Después del análisis temático, se identificaron dos temas: 1) música, afectos y reminiscencias; 2) y música y sueños. Se observó que las experiencias musicales ayudaron a las familias en la concientización de las formas violentas de comunicación y en la transformación por medio de expresiones afectuosas mediadas por la música y su potencial para evocar recuerdos y sueños. La capacidad imaginativa de las familias fue una estrategia para enfrentar las adversidades y se constituye como un puente entre lo real y lo imaginario, alimentando la esperanza de una vida mejor. Se destaca el valor de la música que, con rapidez y emotividad, accede en y se comunica con esa población, favoreciendo las intervenciones de musicoterapia comunitaria.

Palabras clave:
Musicoterapia; relaciones familiares; vulnerabilidad

ABSTRACT:

This research aims to investigate the use of Multi-family Music Therapy Group (MMG) with socially vulnerable families. This is an intervention research carried out in an Administrative Region in the Federal District of Brazil. The study included 30 families enrolled in the Federal Government's Single Registry and assisted at the Social Assistance Reference Center. The data collection instruments were: home visits, semi-structured interviews, and records of meetings and supervisions. The MMG was carried out in six meetings, lasting three hours each, every two weeks, interspersed with the supervision of the team, which was formed by 15 professionals from the fields of psychology, pedagogy, social assistance, and music therapy. After the thematic analysis, two themes were identified: 1) music, affections, and reminiscences; and 2) music and dreams. It was noticed that the musical experiences helped the families in the awareness of violent forms of communication and in the transformation through expressions of affection mediated by music and its potential to evoke memories and dreams. The families imaginative capacity was a strategy to face adversities and constitutes a bridge between the real and the imaginary, nurturing the hope of a better life. The value of music is highlighted, which quickly and emotionally accesses and communicates with that audience, favoring community music therapy interventions.

Keywords:
Music therapy; family relations; vulnerability

Introdução

Pessoas, famílias e comunidades estão socialmente vulneráveis quando não dispõem de recursos materiais e imateriais para enfrentar os riscos a que estão submetidas. A vulnerabilidade social também se apresenta na inviabilidade de elaboração de estratégias que permitam que as pessoas alcancem segurança pessoal e coletiva, tais como a exclusão ou instabilidade no mercado de trabalho, a fragilidade das relações sociais e o acesso irregular e/ou precário aos serviços públicos de proteção social (Carmo & Guizardi, 2018Carmo, M. E., & Guizardi, F. L. (2018). O conceito de vulnerabilidade e seus sentidos para as políticas públicas de saúde e assistência social. Cadernos de Saúde Pública, 34(3). Doi: 10.1590/0102-311x00101417
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; Silva, Costa, & Nascimento, 2019Silva, A. J. N., Costa, R. R., & Nascimento, A. M. R. (2019). As implicações dos contextos de vulnerabilidade social no desenvolvimento infantojuvenil: da família à assistência social. Pesquisas e Práticas Psicossociais, 14(2), 1-17. Recuperado de: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-89082019000200007
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).

Nas políticas públicas, o termo vulnerabilidade é utilizado para expressar as diferentes situações não só de pobreza, mas as demais formas de desvantagem social, as quais contribuem para a promoção ou a deterioração da saúde (Carmo & Guizzardi, 2018Carmo, M. E., & Guizardi, F. L. (2018). O conceito de vulnerabilidade e seus sentidos para as políticas públicas de saúde e assistência social. Cadernos de Saúde Pública, 34(3). Doi: 10.1590/0102-311x00101417
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). Nessa perspectiva, é essencial transcender a compreensão do termo vulnerabilidade considerando as especificidades de cada comunidade, visando renovar as metodologias de intervenção para atender as necessidades do indivíduo e da coletividade (Musial & Marcolino-Galli, 2019Musial, D. C., & Marcolino-Galli, J. F. (2019). Vulnerabilidade e risco: apontamentos teóricos e aplicabilidade na Política Nacional de Assistência Social. O Social em Questão, 291-306 Recuperado de: http://osocialemquestao.ser.puc-rio.br/media/OSQ_44_SL2%20(1).pdf
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).

As famílias pobres vivem experiências particulares para além da privação econômica, as quais impactam sobremaneira o seu funcionamento (Minuchin, Colapinto, & Minuchin, 2011Minuchin, P., Colapinto, J., & Minuchin, S. (2011). O desafio de trabalhar com famílias de alto risco social (2nd ed.). São Paulo, SP: Roca.). Quanto mais árdua a condição de vida e limitadas as possibilidades e os meios de sobrevivência do grupo familiar, mais rígida é a divisão de papéis e menor o espaço para a individuação. Há o enfrentamento de sucessivas crises que, apesar de adquirirem uma aparência caótica ou instável, revelam a capacidade de resolução de problemas (Goulart, Wagner, Barbosa, & Mosmann, 2015Goulart, V. R., Wagner, A., Barbosa, P. V; & Mosmann, C. P. (2015). Repercussões do conflito conjugal para o ajustamento de crianças e adolescentes: um estudo teórico. Interação em Psicologia, 19(1), 147-159. Doi: 10.5380/psi.v19i1.35713
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). Estudos sobre os fatores que protegem e ameaçam as relações familiares em situação de vulnerabilidade mostram que a pobreza não está associada ao rompimento de vínculos, pois as famílias mantêm o forte vínculo filial, a entreajuda nas tarefas cotidianas e a afetividade como recursos importantes dos quais dispõem (Ramires & Falcke, 2018Ramires, V. R. R., & Falcke, D. (2018). Fatores de risco e proteção para vínculos familiares no sul do Brasil. Psicologia: Teoria e Prática, 20(1), 126-140. Recuperado de: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-36872018000100008&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
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; Silva et al., 2019Silva, A. J. N., Costa, R. R., & Nascimento, A. M. R. (2019). As implicações dos contextos de vulnerabilidade social no desenvolvimento infantojuvenil: da família à assistência social. Pesquisas e Práticas Psicossociais, 14(2), 1-17. Recuperado de: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-89082019000200007
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).

Considerando esses fatores, o trabalho social com famílias em situação de vulnerabilidade requer métodos como o GMM que oferece um olhar multidimensional sobre os conflitos relacionais, os quais se constituem atravessados por questões sociais, econômicas e de gênero (Costa, Penso, Santos, & Moura, 2020Costa, L. F., Penso, M. A., Santos, S. R. M. L. B., & Moura, M. G. (2020). Atuação sistêmica na comunidade: o grupo multifamiliar no contexto do adolescente que cometeu ofensa sexual. In J. A. A. Mendes; & J. B. N. F. Bucher-Maluschke, Perspectiva sistêmica e práticas em psicologia temas e campos de atuação. Curitiba, PR: Editora CRV.). A musicoterapia tem se mostrado uma modalidade de intervenção importante no cuidado a famílias vulneráveis (Nagel & Silverman, 2017Nagel, J. J., & Silverman, M. J. (2017). Experiences and perspectives of music therapists working with families experiencing poverty: a qualitative investigation. Voices, 17(2).; Nemesh, 2017Nemesh, B. (2017). Family therapist’ perspectives on implementing musical interventions in family therapy: a mixed-methods study. Journal of Family Psychotherapy, 28(2), 118-133. Doi: 10.1080/08975353.2017.1285655.
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; Pasiali, 2017Pasiali, V. (2017). Families and children at risk. In S. L. Jacobsen, & G. Thompson (Eds.), Music therapy with families: therapeutic approaches and theoretical perspectives (p. 223-248). London, UK: Jessica Kingsley.).

O musicoterapeuta pode atender individualmente ou em grupo, na promoção da saúde, utilizando para isso experiências musicais e as relações que se desenvolvem por meio delas. Não há exigência de que os participantes tenham conhecimentos musicais prévios, pois se entende que todos possuem uma musicalidade própria, constituída para além dos padrões musicais convencionalmente estabelecidos (Bruscia, 2016Bruscia, K. E. (2016). Definindo musicoterapia (3a. ed.). Dallas, TX: Barcelona Publishers.). A intervenção do musicoterapeuta transcende a prescrição de música e envolve as experiências da/o pessoa/grupo com a música, classificadas em audição, composição, improvisação e recriação musicais. As áreas de prática da musicoterapia são divididas em didática, médica, curativa, psicoterapêutica, recreacional e ecológica (Bruscia, 2016Bruscia, K. E. (2016). Definindo musicoterapia (3a. ed.). Dallas, TX: Barcelona Publishers.). Neste artigo, aborda-se a área ecológica que inclui as aplicações da musicoterapia na promoção da saúde de famílias e comunidades.

A musicoterapia comunitária se desenvolve, assim como na psicologia, por um chamado de ampliação do enquadre clínico. Passa-se a realizar práticas de cuidado, acolhimento e atendimento às pessoas nos seus contextos sociais e culturais (Cunha, 2016Cunha, R. (2016). Uma perspectiva da atividade musical em grupo: musicoterapia social e comunitária. Cadernos de Música, Artes Visuales y Artes Escenicas, 11(2), 239-252. Doi: 10.11144/Javeriana.mavae11-2.upam
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). A palavra comunidade desperta sensações de conforto, aconchego e segurança. Em geral, ao afirmar que uma pessoa está incluída socialmente, usam-se expressões como ‘ter uma comunidade’, ‘estar numa comunidade’ e, em contrapartida, se alguém está privado de uma vida digna, acusa-se a sociedade, seu modo de funcionamento e organização (Perez, 2018Perez Oberg, L. (2018). O conceito de comunidade: problematizações a partir da psicologia comunitária. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 18(2),709-728. Doi: 10.12957/epp.2018.38820
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). A musicoterapia comunitária realiza intervenções sistêmicas focadas em como a música pode construir redes, fornecer meios simbólicos para pessoas desprivilegiadas e contribuir para o fortalecimento de grupos em situação de vulnerabilidade por meio dos recursos musicais (Stige, 2017Stige, B. (2017). Where music helps: community music therapy in action an reflection. Gilsum, NH: Barcelona Publishers.).

Como exemplo de experiências da musicoterapia comunitária no mundo, conforme Stige (2017Stige, B. (2017). Where music helps: community music therapy in action an reflection. Gilsum, NH: Barcelona Publishers.), destacam-se: o projeto norueguês voltado à inclusão de pessoas com déficit intelectual em grupos de música comunitários; o projeto inglês Scrap Metal que envolveu adultos com comprometimento neurológico, seus cuidadores e familiares, por meio de atendimentos musicoterapêuticos individuais, ensino de instrumentos musicais e performances culturais; e o projeto sul-africano Music for Life que inclui um coral, uma banda de marimba com a polícia local, um grupo de percussão, um grupo de rap e um acampamento anual de música no fim de semana, em preparação para um show da comunidade.

Em Buenos Aires, a participação de idosos em festejos populares e carnavalescos, especialmente a murga, é um potente meio de transformação de espaços marginalizados. Ao trabalhar com os elementos da cultura, mediante intervenções musicoterapêuticas, podem-se desenvolver processos criativos e expressivos, resgatar a história da comunidade, a liberdade corporal e o humor, que aparecem fortemente como formas de resiliência (Fideleff, 2016Fideleff, L. (2016). No El Carnaval como espacio promotor de la salud en un proyecto con adultos mayores. In Anais do 6º Congresso Latinoamericano de Musicoterapia (Vol. 1). Curitiba, PR. ).

Quanto às experiências de musicoterapia comunitária no Brasil, em um grupo de mulheres negras autodeclaradas em Goiânia, Peixoto (2011Peixoto, M. C. M. (2011). Musicoterapia comunitária em um bairro de Goiânia: uma contribuição para a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Goiás, Goânia.) constatou que o fazer musical contribuiu para o fortalecimento da identidade étnico-racial e ampliou a rede social das participantes. As experiências musicais coletivas possibilitaram a coexistência de temas religiosos e populares, passado e presente, e aspectos típicos de seus lugares de origem e o atual lugar de moradia. Nesse estudo, ficou evidenciada a capacidade de a música evocar memórias e como essas memórias estão associadas às vivências intergeracionais.

Em um grupo com mulheres vítimas de violência doméstica, acolhidas em uma casa-abrigo no interior do Paraná, constatou-se que o fazer musical contribuiu para que elas expressassem suas emoções e dificuldades nas relações cotidianas na casa-abrigo. As experiências musicais coletivas possibilitaram relatos de superação da violência contra a mulher, a coexistência de temas religiosos, passado e presente, e aspectos relacionados à casa-abrigo como atual lugar de moradia. Nesse estudo, é evidenciada a capacidade de a música elucidar as dificuldades nas relações interpessoais, destacando a musicoterapia comunitária como um saber acumulado em memória coletiva, capaz de promover humanização e apoio mútuo (Santos, 2019Santos, H. S. (2019). "Era uma casa bem bagunçada": uma canção de um grupo de mulheres residentes em um abrigo para vítimas de violência doméstica. Revista InCantare, 10(1). https://doi.org/10.33871/2317417X.2019.10.1.3152
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).

A partir do referencial da musicoterapia comunitária, a música é compreendida não como universal ou natural, mas como um fenômeno que se estabelece dentro e por meio de contextos definidos localmente. A música, para além da arte, constitui-se uma linguagem própria de cada território, de cada grupo social, de cada pessoa (Pellizzari & Rodríguez, 2019Pellizzari, P., & Rodríguez, R. (2019). Salud, escucha y creatividad. 2a ed. Buenos Aires: Ediciones Universidad del Salvador.). As experiências musicais coletivas são uma das forças dinâmicas mais importantes para a integração e a formação da subjetividade dos membros de uma comunidade (Bruscia, 2016Bruscia, K. E. (2016). Definindo musicoterapia (3a. ed.). Dallas, TX: Barcelona Publishers.).

Na musicoterapia com famílias, o musicoterapeuta utiliza experiências musicais para melhorar as relações familiares, pois a música oferece um contexto com o qual é possível avaliar os relacionamentos. Cantar e tocar instrumentos musicais juntos conduzem os familiares a um nível simbólico que contorna as resistências habituais nas formas de linguagem e padrões comunicacionais enraizados, e permite que a família se torne mais sintonizada e reviva uma conexão intersubjetiva (Nemesh, 2017Nemesh, B. (2017). Family therapist’ perspectives on implementing musical interventions in family therapy: a mixed-methods study. Journal of Family Psychotherapy, 28(2), 118-133. Doi: 10.1080/08975353.2017.1285655.
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).

O musicoterapeuta deve considerar os diferentes riscos na vida de cada família para avaliar de que maneira uma experiência musical compartilhada entre pais e filhos pode gerar transformação. As experiências musicais funcionam como fator de proteção e a musicoterapia como um sistema de cuidado que favorece que as famílias atendidas mantenham e generalizem os resultados terapêuticos alcançados (Pasiali, 2017Pasiali, V. (2017). Families and children at risk. In S. L. Jacobsen, & G. Thompson (Eds.), Music therapy with families: therapeutic approaches and theoretical perspectives (p. 223-248). London, UK: Jessica Kingsley.).

A musicoterapia com famílias socialmente vulneráveis é capaz de facilitar o desenvolvimento das habilidades parentais positivas, construindo um apego saudável por meio da educação e da interação (Nagel & Silverman, 2017Nagel, J. J., & Silverman, M. J. (2017). Experiences and perspectives of music therapists working with families experiencing poverty: a qualitative investigation. Voices, 17(2).). A música contribui para um ambiente estruturado e confortável para tal aprendizagem. Como terapêutica colaborativa, a musicoterapia se integra com facilidade a outras práticas como fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e serviço social pela flexibilidade inerente à música, completando as lacunas existentes entre os profissionais (Nagel & Silverman, 2017Nagel, J. J., & Silverman, M. J. (2017). Experiences and perspectives of music therapists working with families experiencing poverty: a qualitative investigation. Voices, 17(2).). Dessa forma, esta pesquisa tem por objetivo investigar o uso do Grupo Multifamiliar Musicoterapêutico (GMM) junto às famílias socialmente vulneráveis.

Método

Esta pesquisa-intervenção, de abordagem qualitativa, considera a subjetividade das relações familiares e da música. Essa pesquisa é implicada com processos de emancipação e protagonismo, com intervenção na realidade social, proporcionando aos participantes espaço de discussão para que mudanças aconteçam (Amado & Cardoso, 2017Amado, J., & Cardoso, A. P. (2017). A investigação-ação e suas modalidades. In J. Amado (Coord.), Manual de investigação qualitativa em educação (3a. ed., p. 189-199). Coimbra, PT: Imprensa da Universidade de Coimbra.).

Assim, utilizou-se a metodologia do GMM, desenvolvida por Valentin (2018Valentin, F. (2018). “Não é porque sou pobre que não posso sonhar”: contribuições da musicoterapia em grupo multifamiliar vulnerado pela pobreza (Tese de Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura, Universidade de Brasília, Brasília. Recuperado de: https://repositorio.unb.br/handle/10482/34322
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), uma nova forma de intervenção capaz de atender a grandes grupos de famílias, em modalidade aberta, utilizando recursos musicais como forma preponderante de vinculação e comunicação. Inspirada no Grupo Multifamiliar (Costa, Penso, & Conceição, 2015Costa, L. F., Penso, M. A., & Conceição, M. I. G. (2015). Manual de grupos multifamiliares. Brasília-DF: Central de Produções Gráficas e Editora.), o GMM pauta-se na ideia de que as famílias em grupo aprendem umas com as outras ao presenciarem seus conflitos ou ao compartilharem soluções já encontradas (Costa et al., 2020Costa, L. F., Penso, M. A., & Conceição, M. I. G. (2015). Manual de grupos multifamiliares. Brasília-DF: Central de Produções Gráficas e Editora.).

A metodologia do GMM propõe de cinco a sete encontros quinzenais, com 03 horas de duração cada. A escolha por esse intervalo decorre do entendimento de que as famílias precisam de um tempo para colocar em ação as reflexões realizadas durante os encontros. Também nesse intervalo é realizada a supervisão com a equipe. Cada encontro divide-se em três etapas: aquecimento, discussão e conclusão. Para cada contexto, elegem-se temas específicos ligados à complexidade das circunstâncias vividas pelos participantes.

Recomenda-se que os encontros possam acontecer em um espaço arejado com disposição em que todas as pessoas possam se ver, se escutar e se movimentar. É importante que esse espaço também ofereça condições para a realização de atividades em subgrupos.

Aspectos éticos

Após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília, CAAE nº 55935016.7.0000.0030, os participantes foram convidados para o GMM pela pesquisadora no Centro de Referência em Assistência Social (CRAS), durante os atendimentos individuais e grupais e nas visitas que acompanhou. Como se tratava de um grupo aberto, os novos participantes eram informados a cada encontro sobre a pesquisa e convidados a assinar o TCLE. Ressalte-se que os nomes dos participantes apresentados nos resultados e a discussão são fictícios a fim de proteger suas identidades e manter o sigilo das informações.

Local de pesquisa e participantes

A pesquisa foi realizada em uma ocupação irregular de uma região administrativa do Distrito Federal (DF) próxima a Brasília, a qual é invisibilizada e se configura como um bolsão de pobreza. Participaram do estudo 30 famílias representadas por mulheres inscritas no Cadastro Único do Governo Federal (CadÚnico). Esse é um banco de dados que reúne informações sobre as famílias brasileiras em situação de pobreza e extrema pobreza. Seus parâmetros englobam famílias com renda per capta de até meio salário mínimo; ou até três salários mínimos de renda mensal total, que procuram o CRAS do município a fim de estarem aptas a receberem benefícios sociais (Paiva, Souza, Bartholo, & Soares, 2020Paiva, L. H., Souza, P. H. G. F., Bartholo, L., & Soares, S. (2020). Evitando a pandemia da pobreza: possibilidades para o Programa Bolsa Família e para o Cadastro Único em resposta à Covid-19. Revista de Administração Pública, 54(4).). Essas mulheres recebiam o benefício do Bolsa Família

As participantes tinham histórico de dificuldades no relacionamento familiar e manifestaram o desejo de obter orientações sobre a educação dos filhos. Com idade entre 23 e 64 anos, encontravam-se em diferentes etapas do ciclo de vida familiar, sendo 19 solteiras, sete em união estável e quatro casadas. A maioria é de origem nordestina, especialmente Bahia, Ceará e Pernambuco. Das 30 participantes, 12 não eram alfabetizadas, nove tinham ensino fundamental incompleto, três tinham ensino fundamental completo, uma tinha ensino médio incompleto e cinco tinham ensino médio completo.

Quanto à profissão, 16 estavam desempregadas, nove trabalhavam como catadoras de material reciclável, três como diaristas, uma como vendedora e uma como balconista. Sobre a renda familiar das participantes, 25 delas viviam com renda inferior a R$500,00. Ao considerarmos o número de filhos por família, em geral mais que dois, somados ao cuidado de sobrinhos e netos, a renda por pessoa fica menor. Todas as famílias viviam em área de ocupação irregular, em casas de até dois cômodos. O entorno das habitações não possuía pavimentação, com presença de muitos resíduos sólidos, sem saneamento básico e ambientes insalubres.

A cada encontro do GMM, além dessas mulheres, participaram adolescentes e crianças das respectivas famílias, e profissionais pedagogos, psicólogos, assistentes sociais e musicoterapeutas. A presença nos encontros variou de seis a 21 participantes adultos, zero a nove adolescentes, seis a 23 crianças, e oito a 12 profissionais, com uma média de 40 pessoas, cada.

Instrumentos

Foram realizadas visitas domiciliares às famílias participantes, com registros em diário de campo, e entrevista semiestruturada com perguntas que investigavam sobre a participação qualitativa e quantitativa no GMM. As entrevistas foram realizadas antes e após a intervenção, gravadas em áudio e transcritas.

Nos seis encontros do GMM foram utilizados jogos dramáticos e experiências musicais. Os jogos dramáticos são instrumentos que permitem explorar a dinâmica de diversos papéis a partir de elementos simbólicos. As experiências musicais de improvisação, recriação, composição e audição musicais possuem objetivos específicos, com aplicações diferenciadas, além de terem suas variações e poderem ser utilizadas de forma combinada (Bruscia, 2016Bruscia, K. E. (2016). Definindo musicoterapia (3a. ed.). Dallas, TX: Barcelona Publishers.). Para a realização dessas experiências foram escolhidos, em sua maioria, instrumentos percussivos simples, por sua facilidade de execução, e diversidade de timbres, formatos, cores, materiais e potência sonora, tais como timba, triângulo, pandeiro, tambor, sino, maracas e caxixis. Para cada encontro, foi elaborado um relatório que descreveu as atividades realizadas e os principais temas abordados pelos familiares.

Procedimentos

O primeiro contato com o CRAS foi mediante a gestora que concordou e apoiou a realização do projeto, integrando a equipe do GMM. Várias reuniões entre a equipe e os pesquisadores foram realizadas com o objetivo de estabelecer as ações que seriam desenvolvidas para implantação da proposta.

Foi realizada uma reunião com as famílias interessadas em participar do GMM, a fim de esclarecer a proposta e levantar os temas mais pertinentes a serem trabalhados nos encontros. Estiveram presentes 11 famílias, representadas por 13 mães, um pai, três adolescentes e três crianças. Duas psicólogas, um pedagogo e uma musicoterapeuta conduziram esse encontro, em que foram identificados como principais pontos trazidos pelas famílias: a dificuldade de comunicação; dificuldade em estabelecer limites na educação dos filhos; conflitos decorrentes da diferença no modelo de educação entre gerações; violência das relações intrafamiliares; disputa da guarda dos filhos e falta de vagas nas creches.

Posteriormente a um treinamento, com duração de 08 horas, foi oferecido a 15 profissionais psicólogos, assistentes sociais, pedagogos e musicoterapeutas, para apresentar a metodologia do GMM, o contexto em que a intervenção seria realizada, bem como proporcionar integração na equipe. Quanto ao local do encontro, buscou-se proximidade da comunidade, possibilitando que as famílias fossem a pé. O espaço contava com um grande salão para aproximadamente cem pessoas, com infraestrutura adequada para a atendimento dos subgrupos. Foram realizados seis encontros com os temas: família; regras e organização; comunicação; transgeracionalidade; relacionamento, gênero e sexualidade; e projeto de vida. Tais encontros foram gravados em vídeo e transcritos. Para a análise dos dados, foi utilizada a análise temática em seis estágios: familiarização dos dados, produção de códigos iniciais, busca por temas, revisão de temas, definição e nomeação dos temas, e produção de relatório (Braun, Clarke, & Rance 2014Braun, V., Clarke, V., & Rance, N. (2014). How to use thematic analysis with interview data. In A. Vossler, & N. Moller (Orgs.), The counselling and psychotherapy research handbook (p. 183-197). London, UK: Sage.).

Resultados e discussão

A partir da análise dos GMM, foi possível construir duas categorias: música afeto e reminiscências: “Dança mais um pouquim pra nóis ir embora!”, e música e sonhos: “Uma casa e uma sanfona para eu sonhar”. Elas foram descritas e exemplificadas com trechos extraídos dos discursos dos participantes. A discussão foi fundamentada nos pressupostos da terapia familiar sistêmica, da musicoterapia comunitária e em outros estudos que contribuem para a compreensão do fenômeno.

Música, afeto e reminiscências: “Dança mais um pouquim pra nóis ir embora!”

Nesta categoria, foram identificadas situações de violência nas relações familiares das participantes, com abusos físico, psicológico e sexual. Essas situações de violência aconteceram nas relações entre mãe e filha, pai e filha, incluindo aspectos de gênero associado à violência contra a mulher, tais como “[...] com doze anos eu fui estuprada e meu pai, quando soube, me fez casá com ele” (Maura), “[...] quando eu fazia alguma coisa errada, minha mãe zangava e eu levava era tamancada na cabeça” (Mônica).

Por meio das experiências musicais, pode-se evidenciar que a forma de comunicação das famílias atendidas era marcada pela violência, e fazia-se necessário experimentar formas de comunicação não violentas. Estudos mostram forte relação entre violência e saúde mental familiar, com destaque para o GM como um método de intervenção psicossocial que contribui para a mudança na forma de comunicação entre as pessoas, tornando o ambiente familiar um contexto de aprendizado (Goulart et al., 2015Goulart, V. R., Wagner, A., Barbosa, P. V; & Mosmann, C. P. (2015). Repercussões do conflito conjugal para o ajustamento de crianças e adolescentes: um estudo teórico. Interação em Psicologia, 19(1), 147-159. Doi: 10.5380/psi.v19i1.35713
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; Tavares & Montenegro, 2019Tavares, A. S., & Montenegro, N. M. S. (2019). Intervenção psicossocial com adolescentes que cometeram ofensa sexual e suas famílias: o Grupo Multifamiliar. Nova Perspectiva Sistêmica, 64, 82-104.).

No segundo encontro, foi proposto pelos coordenadores do grupo que as participantes realizassem uma dramatização a partir da situação ‘minha filha adolescente foi à escola e retornou tarde da noite em casa sem avisar’. O grupo se engajou na atividade, definindo personagens, dando ideias, debatendo e sorrindo com a espontaneidade das participantes ao desempenharem seus papéis. A cena começa com a ida da mãe até a escola, que busca a diretora para saber do paradeiro da filha, Ana Laura, nome escolhido pelas participantes, que naquela hora já deveria ter chegado em casa, mas não havia entrado em contato, ou dado nenhum aviso.

Mãe (Maura): Cadê a Ana Laura? (Pergunta à diretora)

Diretora (psicóloga): Ela não apareceu aqui não. Faz uma semana que não a vejo [...]

Mãe (Maura): Uai? E como que faz [...]?

Diretora (psicóloga): O que será que aconteceu? Você quer ajuda para encontrá-la? Vamos até a delegacia […]

A diretora acompanha a mãe até a delegacia. Chegando lá, a mãe pergunta sobre a filha, de maneira tímida e com um volume de voz baixo.

A delegada (assistente social) responde: Não atendemos nenhuma ocorrência de adolescente aqui na delegacia não [...] Só que mais na frente tem um forrózinho [...] Quem sabe ela não tá lá?!

Nesse momento, as musicoterapeutas improvisaram uma base rítmica típica do forró, com uma timba e um ganzá. As participantes começaram a dançar, e mesmo os que estavam fora da cena se aproximaram e moviam-se de acordo com a música. O ambiente foi tomado pelo ritmo e pela dança. Quando a mãe chega até o forró e encontra com a filha, elas se abraçam e a mãe (Maura) diz: “Dança mais um pouquim pra nóis ir embora”.

Acredita-se que o aquecimento, a discussão verbal e o jogo dramático foram elementos que contribuíram para o desfecho da cena. No entanto, destaca-se, especialmente, a experiência de audição musical com movimentação corporal que os participantes vivenciaram. Essa experiência potencializou a inversão de papéis, em que as mães se colocaram no lugar dos filhos e se recordaram de suas próprias vivências quando adolescentes, despertando empatia e memória afetiva, gerando um novo desfecho com uma resposta amorosa.

No momento da discussão, a protagonista da cena, Maura, fala brevemente ao grupo que o forró a fez lembrar da sua época de adolescente. Outras participantes do grupo comentaram como elas desejavam sair mais para dançar na adolescência, mas a família não permitia. A iniciação sexual precoce e a gravidez foram descritas por elas como formas encontradas para saírem de casa e não terem que se submeter às regras da família de origem. Dessa forma, constituíram precocemente suas famílias. No entanto, ao se tornarem mães e esposas ainda adolescentes, depararam-se com uma sobrecarga de responsabilidade agravadas pelo contexto de pobreza. Esta situação fez com que as participantes perdessem a possibilidade de se integrarem em atividades de lazer, divertimento e socialização, típicas dessa fase, e importantes em qualquer fase do ciclo de vida, como os ‘forrozinhos’.

A música é capaz de levar o indivíduo a sentir mais intensamente à medida em que escapa da racionalidade e adentra outros domínios do indizível, da sensibilidade, do inconsciente. As intervenções musicais podem criar um contexto que promova o apego e favoreça a capacidade de os membros da família restaurarem seus relacionamentos. O estímulo musical pode acessar reminiscências e reavivar a vida (Ridder, 2017Ridder, H. M. (2017). Partners in care: a psychisocial approach to music therapy and dementia. In S. L. Jacobsen, & G. Thompson (Eds.), Music therapy with families: therapeutic approaches and theoretical perspectives (p. 272-293). London, UK: Jessica Kingsley.).

Tal capacidade em acessar reminiscências está correlacionada com a seleção de músicas que têm significação para o indivíduo. As músicas populares aprendidas com o grupo familiar ou comunitário proporcionam senso de pertencimento do indivíduo à comunidade da qual participa. Essas músicas são transmitidas, na maioria das vezes, oralmente e, apesar de sofrerem mudanças, transpõem fronteiras. Trata-se de uma criação artística do povo para o povo e com forte caráter social. A marca da música popular está em não haver registros sobre ela, não se saber ao certo quem são os autores e, mesmo assim, sobreviver ao tempo (Trotta, 2014Trotta, F. (2014). No Ceará não tem disso não: nordestinidade e macheza no forró contemporâneo. Rio de Janeiro, RJ: Folio Digital: Letra e Imagem.). Pode-se pensar que o forró, nessa experiência musical vivida no GMM, adquira tais características para essas famílias e, por isso, seja capaz de despertar ressonâncias importantes.

Pensar no forró em um contexto nordestino, origem de muitas das participantes do GMM, é percebê-lo como marco identitário, espaço de compartilhamento de ideias e interação festiva. Os cantos, hinos e repertórios povoam afetivamente os espaços de vivências individuais e coletivas e imprimem nos indivíduos um sentimento de coletividade e de pertencimento, reforçando laços afetivos e simbólicos (Trotta, 2014Trotta, F. (2014). No Ceará não tem disso não: nordestinidade e macheza no forró contemporâneo. Rio de Janeiro, RJ: Folio Digital: Letra e Imagem.). Com a migração de trabalhadores nordestinos em busca de oportunidades econômicas, o forró contribuiu para a manutenção de fortes laços psicológicos com a terra natal, expressando e enfatizando o efeito diásporo desses migrantes (Draper, 2011Draper, J. A. (2011). Forró’s wars of maneuver and position: popular northeastern music, critical regionalism, and a culture of migration. Latin American Research Review, 46(1), 80-101. Doi: 10.1353/lar.2011.0006
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).

O desfecho da cena, protagonizada por Maura, emocionou o grupo e surpreendeu a equipe, por apresentar um comportamento diferente do habitual manifestado pelas mães nesse contexto. A expressão violenta, de pouca paciência e dureza, o corpo rígido, deu lugar a uma expressão amorosa, empática, capaz de se flexibilizar diante da regra descumprida e demonstrar afeto, reconhecendo que o valor em encontrar a filha com vida era maior que castigá-la pela desobediência. Dessa forma, Maura, que era uma mulher introvertida, de pouca fala e que se apresentava sempre cabisbaixa, nesse encontro, participou como protagonista da cena. Ao chegar no forró, ver a filha dançando e ser tomada pelo ritmo, Maura deu um abraço na filha, permitiu que ela mesma aproveitasse um pouco mais o momento de diversão. No final do encontro, percebe-se que o grupo, por meio da concretização dessa cena, viveu um processo de ressignificação da relação mãe-filha.

Identifica-se aí o estabelecimento de um campo de interações dinâmicas, uma atmosfera afetiva favorável a mudanças relacionais nas famílias. Assim como Andolfi (1996Andolfi, M. (1996). A terapia familiar: um enfoque interacional. São Paulo, SP: Tecnicópias.) aponta na terapia familiar sistêmica, o problema que se localiza nas relações familiares é ampliado para as relações do contexto em que ocorre e, a partir disso, novas propostas são construídas, promovendo, assim, mudanças interacionais.

Música e sonhos: “Uma casa e uma sanfona para eu sonhar”

A capacidade de sonhar das famílias aparece como uma estratégia de enfrentamento às adversidades e traça correlações com a música ao se constituírem como ponte entre o mundo real e o da fantasia, nutrindo a esperança de uma vida melhor. Portanto, no GMM a música se configura como ponte entre o mundo real, concreto, e o mundo da fantasia, do desejo, que guarda a esperança de uma vida melhor.

No sexto encontro do GMM, foi proposto ao grupo de adultos que criassem uma paródia da canção Asa Branca pensando em seus projetos de vida. A paródia é a substituição de palavras, de frases ou da letra inteira de uma canção existente, enquanto se mantém a melodia e o acompanhamento originais (Bruscia, 2016Bruscia, K. E. (2016). Definindo musicoterapia (3a. ed.). Dallas, TX: Barcelona Publishers.). Escrita por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, em um linguajar típico do povo nordestino, esta canção retrata uma ave símbolo da migração, que, ao pressentir a chegada da seca, voa para longe da caatinga em busca de sobrevivência em outras paragens. Ao mesmo tempo em que remete aos sentimentos de tristeza e solidão, também se vincula à ideia de resistência e esperança, elementos identificados no grupo. Tal ave é uma metáfora do povo nordestino, que parte para lugares desconhecidos, retirando-se da sua terra e da sua gente na esperança de uma vida melhor (Pereira, Araújo, & Pereira, 2017Pereira, M. L. S., Araújo, A. A., & Pereira, L. S. (2017). Análise estilística da canção A volta da asa branca. Percursos Linguísticos, 7(14), 64-81.).

A letra criada pelo grupo ressalta tanto o desejo de obter bens materiais, como uma casa nova, um carro, um iate e uma fazenda, quanto bens não materiais, como a conquista desses bens pelo próprio trabalho e não por doação, uma união que seja abençoada por Deus, a possibilidade de passear, viajar e também de descansar, usufruindo desses bens.

‘Paródia Asa Branca’ ‘Vou casar na benção de Deus Para morar na casa nova Com o dinheiro do meu trabalho Comprar um carro para passear E o iate para viajar, viu? E descansar na minha fazenda O importante é sonhar, porque o tempo não parou aqui Não desistir, vou ter uma casa e uma sanfona para eu sonhar’

Na paródia, é visto o valor do sonho como forma de se manter firme diante das adversidades. O sonho de se casar representa, nesse contexto, uma ideia de transição do ambiente familiar de origem, como uma forma de mudança de vida. O sonho da casa própria não é uma temática inédita já que se reconhece como ideal de quase todo brasileiro, principalmente das populações socialmente vulneráveis. Essa ideologia ganhou força entre as décadas de 1960 e 1980, com a criação do Sistema Nacional de Habitação (SNH), o Banco Nacional de Habitação (BNH), as políticas de aquisição da casa própria e, mais recentemente, com o Programa Habitacional Minha Casa Minha Vida, em 2009. Ter uma casa representa proteção e segurança para si e para a família e, muitas vezes, a conquista da uma posição social mais elevada. Envolve dormir sossegado, oferecer um lugar para os filhos morarem, sentir-se valorizado, ter tranquilidade e, ainda, o sentimento de ter algo na vida (Guimarães & Pinto, 2014Guimarães, E. A., & Almeida Pinto, N. M. (2014). O significado da casa própria para os beneficiários do Programa Minha Casa Minha Vida em Viçosa, MG. Oikos: Família e Sociedade em Debate, 25(1), 137-158. Recuperado de: https://periodicos.ufv.br/oikos/article/view/3689
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).

Chama a atenção, no entanto, a referência à sanfona. Tal palavra foi uma sugestão de uma participante do grupo, pois, na cultura nordestina, esse instrumento costuma ser uma herança familiar e um recurso de mobilidade social, levando a outros espaços físicos e simbólicos (Trotta, 2014Trotta, F. (2014). No Ceará não tem disso não: nordestinidade e macheza no forró contemporâneo. Rio de Janeiro, RJ: Folio Digital: Letra e Imagem.). A sanfona, nesse contexto grupal, pode ser vista como o elemento que simboliza a diversão, o prazer e a socialização que a música é capaz de proporcionar às pessoas. Também é símbolo de pertencimento familiar e cultural, no qual se repassa uma herança por meio da prática, cujo rito produz um sentimento de unidade familiar.

O sanfoneiro é um personagem importante na vida do sertão: é aquele que, ao mesmo tempo, conhece a fundo as histórias e tradições de sua gente, viaja e tem várias histórias a contar. Para ele, não falta trabalho que é normalmente papel desempenhado por homens (Barbalho & Calixto, 2013Barbalho, A., & Calixto, T. (2013). Toca o fole, sanfoneiro: memórias e práticas no universo nordestino da sanfona de oito baixos. RIF, 11(24), 109-121.). Assim, o instrumento também pode se aproximar da ideia de protagonismo, reconhecimento, ascensão social e do desejo da mulher em assumir outros papéis naturalizados como do homem.

Se a letra original de Asa Branca remete à falta de condições mínimas de vida, a letra criada pelo grupo ressalta uma vida cheia de conforto e luxo. As duas, no entanto, guardam em si a esperança de tempos melhores. “O importante é sonhar, porque o tempo não parou aqui [...]” parece ressaltar uma perspectiva futura e uma valorização do presente, do movimento diário de luta para se manter vivo. Pode-se dizer que o sonho se apresenta como uma estratégia de resiliência. Questiona-se se a frase “[...] o tempo não parou aqui [...]” possa estar vinculada à ideia de que o que se vive é uma fase, algo transitório, uma questão de tempo. Preocupa-se, no entanto, com a inexistência de uma reflexão acerca da responsabilidade para que esse cenário sofra mudanças. A consciência da necessidade de um esforço individual para que a realidade seja alterada.

No final deste encontro, as mulheres apresentaram a paródia e cantaram acompanhadas do violão. Em seguida, cada participante falou de suas impressões sobre a temática projeto de vida. O grupo se mostrava agitado, e as mulheres emocionadas por falarem de seus sonhos e também sobre o encerramento do trabalho. Muitas falas de agradecimento à equipe e ao CRAS foram expressas. E, então, a frase de Mônica marcou esse momento: “Não é porque sou pobre que não posso sonhar”. Mônica reivindicava o seu direito de sonhar mesmo em uma condição de vulnerabilidade e pobreza. O sonho é algo que não pode ser considerado como um privilégio de algumas classes, mas como um direito daqueles que, mesmo em uma realidade precária, muitas vezes sem perspectivas promissoras, acreditam em mudanças e usam do sonho como força impulsora.

Ao se trabalhar com famílias em situação de vulnerabilidade social, os profissionais tendem a não considerar alguns aspectos existenciais e profundos dessa clientela por preconizar que, pelo baixo grau de instrução formal, não apresentam tais demandas. Conforme o poeta e escritor Mia Couto (2011Couto, M. (2011). E se Obama fosse africano? e outras intervenções: ensaios. São Paulo, SP: Companhia das Letras., p. 12) considera, “[...] os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer”. Assim como a música, os sonhos podem viabilizar a expressão de conteúdos que não seriam possíveis por meio da linguagem verbal. Música e sonho permitem ascender ao “[...] que não é falável, essa língua cega em que todas as coisas podem ter todos os nomes” (Couto, 2011Couto, M. (2011). E se Obama fosse africano? e outras intervenções: ensaios. São Paulo, SP: Companhia das Letras., p.12). As linguagens artísticas, portanto, dão espaço às sensibilidades, às contradições e às incertezas, permitindo não apenas ter sonhos, mas ser sonhável (Couto, 2011Couto, M. (2011). E se Obama fosse africano? e outras intervenções: ensaios. São Paulo, SP: Companhia das Letras.).

Considerações finais

Neste estudo, investigamos o uso das experiências musicais no GMM, junto a famílias socialmente vulneráveis em uma comunidade no Distrito Federal. Percebeu-se que as famílias apresentaram mudanças importantes quanto à afetividade, à maneira de se comunicarem com seus familiares e à capacidade de sonhar.

Realizar a pesquisa com uma comunidade socialmente vulnerável evidenciou como a desigualdade social gera um distanciamento abismal que separa universos de privilégios de duras realidades e cria bolhas que sustentam discursos de desresponsabilização do compromisso com o outro. Ao intervir em uma comunidade, é preciso que os profissionais que atuam neste contexto reconheçam o seu não saber: é aprender outra língua para se comunicar; é sentir-se fora e usar desse lugar a seu favor, sem perder de vista que o seu lugar de fala (posição social, gênero, idade) produz diferentes efeitos nessa comunicação intersubjetiva.

No GMM, as famílias perceberam que se comunicavam de forma violenta. Entenderam que, apesar de tal comunicação ter sido aprendida em suas famílias de origem, isto é, em um legado transgeracional, elas eram capazes de romper com esse padrão comunicacional, dando lugar ao diálogo e a expressões de afeto. Algumas famílias chegaram progressivamente a realizar, durante os encontros, mais demonstrações de carinho com seus entes queridos. Constatou-se que a música, ao desencadear memórias e emocionalidades, contribuiu para que essas expressões fossem manifestadas.

Foi constatado que a capacidade de sonhar já era própria do grupo e que, no GMM, houve acolhimento e valorização desses sonhos favorecendo que fossem compartilhados no grupo. Por meio dos encontros, de forma lúdica e vivencial, algumas mães ressaltaram que aprenderam sobre como lidar com seus filhos de maneira mais afetuosa e acolhedora e que eles se tornaram menos rebeldes.

A contribuição do GMM na comunidade está em valorizar a musicalidade e a autonomia dos participantes de tal forma que se amplie o repertório de recursos das famílias socialmente vulneráveis, especialmente aquelas não alfabetizadas, pois se orientam mais pela sonoridade do que pela visualidade.

Quanto aos alcances do GMM, destaca-se sua capacidade de proporcionar uma participação espontânea e comprometida, e a diminuição da timidez por parte das famílias. Ao reunir crianças, adolescentes e adultos em um mesmo espaço, fomenta-se o encontro de gerações, no qual os participantes podem dizer seus sofrimentos diretamente uns aos outros, contando com a mediação dos coordenadores. Houve a construção de um espaço de escuta marcado pela confiança e solidariedade, em que as famílias puderam formar redes de apoio e diminuir o isolamento. Por ser uma intervenção breve, foi um investimento pouco oneroso para a política pública. As intervenções grupais de curta duração se constituíram como um fator positivo, que estimularam as famílias na solução de seus problemas. Salienta-se que, mais que o tempo, é a emoção que muda as pessoas. O tempo terapêutico é atemporal e algo que é vivido em uma intervenção grupal gera ressonâncias e se estende a outros espaços e tempos.

Como limitações do GMM, ressalta-se que os coordenadores não mantêm o foco nas demandas de uma família e sim nas do grupo, o que pode exigir a realização de um novo GMM ou outros encaminhamentos para atender as especificidades das famílias, identificadas no próprio GMM. Outra limitação é a necessidade de um número de profissionais proporcional ao número de subgrupos, os quais sejam qualificados e que tenham disposição para o trabalho grupal.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Out 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    15 Maio 2020
  • Aceito
    07 Abr 2021
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