Acessibilidade / Reportar erro

Revisitando as origens malgaxes

Les origines malgaches revisitées

Malagasy origins revisited

Resumos

Há muito tempo a origem dos malgaxes intriga os investigadores e, apesar da volumosa pesquisa multidisciplinar realizada nos últimos anos, a questão permanece como um enigma. O autor examina as diferentes interpretações sobre a migração para Madagáscar, em particular as propostas que defendem a presença africana, associada ou não à indonésia, e as que privilegiam a sul-asiática. O artigo analisa ainda as motivações e as rotas utilizadas pelos protomalgaxes para chegar a Madagáscar.

Madagáscar; migração; colonização


Depuis longtemps, la question de l'origine du peuple malgache reste sans réponse, en dépit de multiples recherches. Le texte considère les différentes interprétations élaborées sur la migration et le peuplement de Madagascar, en insistant sur les hypothèses d'une origine africaine - associée ou non à celle en provenance de l'Indonésie - ou encore sud-asiatique. L'auteur étudie également les causes des migrations et les routes prises par les proto-malgaches pour arriver à Madagascar.

Madagascar; migration; colonisation


Despite voluminous scholarship involved, scholars have long grappled with the issues of the unknown origin of the Malagasy people. The author examines several hypothesis on migration, particularly those that focus on the African presence in Madagascar - either by themselves or in conjunction with people from Indonesia - and those that argue that South Asians have colonized the island. The article also analyzes the impulses behind the migration and the routes that the Proto-Malagasy have used to reach Madagascar.

Madagascar; migration; colonization


ÁFRICA

Revisitando as origens malgaxes* * Comunicação apresentada na Conferência Internacional "Monsoons and Migrations: Unleashing Dhow Synergies", realizada durante o oitavo ZIFF, Festival dos Dhow Countries, nos dias 4-6 de julho de 2005.

Malagasy origins revisited

Les origines malgaches revisitées

Gwyn Campbell

Professor do Departamento de História da McGill University, Montreal, Canadá

RESUMO

Há muito tempo a origem dos malgaxes intriga os investigadores e, apesar da volumosa pesquisa multidisciplinar realizada nos últimos anos, a questão permanece como um enigma. O autor examina as diferentes interpretações sobre a migração para Madagáscar, em particular as propostas que defendem a presença africana, associada ou não à indonésia, e as que privilegiam a sul-asiática. O artigo analisa ainda as motivações e as rotas utilizadas pelos protomalgaxes para chegar a Madagáscar.

Palavras-chaves: Madagáscar - migração - colonização

ABSTRACT

Despite voluminous scholarship involved, scholars have long grappled with the issues of the unknown origin of the Malagasy people. The author examines several hypothesis on migration, particularly those that focus on the African presence in Madagascar – either by themselves or in conjunction with people from Indonesia – and those that argue that South Asians have colonized the island. The article also analyzes the impulses behind the migration and the routes that the Proto-Malagasy have used to reach Madagascar.

Key words: Madagascar - migration - colonization

RESUMÉ

Depuis longtemps, la question de l'origine du peuple malgache reste sans réponse, en dépit de multiples recherches. Le texte considère les différentes interprétations élaborées sur la migration et le peuplement de Madagascar, en insistant sur les hypothèses d'une origine africaine - associée ou non à celle en provenance de l'Indonésie – ou encore sud-asiatique. L'auteur étudie également les causes des migrations et les routes prises par les proto-malgaches pour arriver à Madagascar.

Mots-clés: Madagascar – migration - colonisation

Introdução

Um dos últimos grandes mistérios da história que ainda hoje persistem é a origem da moderna população da ilha de Madagáscar, os chamados malgaxes, motivo pelo qual abundam especulações e teorias sobre o tema. Historiadores, antropólogos, arqueólogos, lingüistas, paleobotânicos e geneticistas têm-se debruçado sobre o assunto com o intuito de solucionar ou, pelo menos, contribuir para sua solução. Imitando a expedição Kon-Tiki** ** Nota do editor: A expedição Kon-Tiki foi realizada pelo navegador escandinavo Thor Heyerdahl, que partiu do Peru, em 1947 e percorreu 8 mil Km pelo Pacífico até a Polinésia, numa embarcação similar às utilizadas no Império Inca. , aventureiros reproduziram antigos modelos de canoas e navegaram pelo Oceano Índico e para mais longe, em busca de explicações. Este artigo reexamina estas questões e apresenta o estado atual do debate sobre o tema.

A terra natal dos protomalgaxes

Madagáscar foi avistada por marinheiros portugueses em 1500 e recebeu a primeira visita intencional em 1506. Desde então, os europeus começaram a especular sobre a origem da população desta ilha. Nessa época, excluídos os suaílis (ou swahili) e os indianos (conhecidos como karana), eram poucas as comunidades que participavam das rotas do comércio internacional. Segundo os investigadores, os suaílis chegaram a Madagáscar oriundos da costa leste do continente africano e da Arábia, entre os séculos IX e X; já os indianos vieram da região de Gujarat, na Índia, entre os séculos XI e XII1 1 Paul Ottino, "The Malagasy Andriambahoaka and the Indonesian Leagacy", History in Africa, vol. 9, 1982, pp. 221-222. . Além destes dois grupos, havia também um pequeno grupo malgaxe, assimilado à cultura árabe (chamado de antalaotra) que se mantinha próximo aos suaílis. Assim, parecia existirem em Madagáscar dois grupos étnicos básicos: um de pele mais clara e com características físicas de malaios, ocupando o planalto central; e outro de pele mais escura, negros, habitando as planícies da ilha.

A Escola Britânica

Havia pouca especulação quanto às origens dos malgaxes antes do século XIX. Foi nesta época que, com o estabelecimento da Escola Britânica – que reunia missionários e membros das sociedades eruditas estabelecidas em Londres – se estimulou o interesse pelo tema2 2 Ver C. Staniland Wake, "Notes on the Origin of the Malagasy", Journal of the Anthropological Institute of Great Britain and Ireland, vol. 11, 1882, pp. 21-33; ver também Gwyn Campbell, "Theories concerning the Origins of the Malagasy", Marc Michel e Yvan Paillard (eds.), Australes, Paris, l'Harmattan, 1996, pp. 127-153. . Estes investigadores chegaram à conclusão de que todos os habitantes de Madagáscar falavam variações de uma língua de origem australásia, então classificada como malaia ou malaio-polinésia, o que indicava uma inevitável ligação entre os antepassados dos malgaxes contemporâneos e a região chamada malaio-polinésia. Baseados em fundamentos fisiológicos e culturais – como a clara pigmentação da pele e características físicas reconhecidas como malaias, a construção de cabanas retangulares e o uso da técnica de rizicultura irrigada – os estudiosos associados à Escola Britânica concluíram que os ancestrais dos merinas e possivelmente dos betsileos, que ocupavam as terras montanhosas de Madagáscar, eram malaio-polinésios.

Entretanto, a origem das populações que habitavam a área de planície, as terras mais baixas, e tinham uma aparência dita "negróide", permanecia problemática, já que também eles falavam variações da mesma língua australásia. Esperava-se que as tradições indígenas ajudassem a elucidar o mistério da origem dos protomalgaxes, mas os únicos grupos que possuíam uma idéia clara de suas origens eram os suaílis, os indianos e os zafiraminia da costa sudeste, que reivindicavam terem seus ancestrais vindo de Meca, por via marítima, no século XIV3 3 Pierre Vérin, The History of Civilisation in North Madagascar, Rotterdam/Boston, A.A.Balkema, 1986, p. 27. . As tradições das demais comunidades malgaxes eram vagas, indicando apenas que seus antepassados longínquos migraram para Madagáscar de algum lugar do ultramar. Ao mesmo tempo, o nome Madagáscar oferecia poucas indicações sobre os primeiros habitantes. Tradicionalmente, a ilha era designada Izao rehetra izao (que quer dizer "este conjunto", "tudo isto"), conforme o conceito malgaxe de que a ilha é o centro do universo; ou ainda Nosin-dambo (Ilha dos Javalis) e, durante o período de Radama I, Ny anivon'ny riaka (Terra no Centro da Inundação), segundo James Sibree4 4 James Sibree, "Malagasy Place-Names, Part 1", Antananarivo Annual and Madagascar Magazine, vol. 20, 1896, p. 404. . Em vários textos árabes, a ilha era designada como Kamar ou Komr (Ilha da Lua) ou Bukini; e o arquipélago de Comores, localizado próximo a Madagáscar, era denominado Komair (Pequeno Komr)5 5 Vérin, The History of Civilisation..., op. cit., p. 4; Sibree, "Malagasy Place-Names, Part 1", op. cit., p. 404. . O explorador inglês Richard Burton acreditava ser o nome Madagáscar uma derivação de Mogadíscio, nome adotado depois que o sheik daquela cidade invadiu a ilha6 6 John H. van Linschoten, Voyage to the East Indies I, Londres, Haklut Society, 1885, p. 19. .

As tradições merinas acabaram por complicar mais o quadro das populações encontradas em Madagáscar. Os merinas reivindicam que seus ancestrais fizeram parte de um dos últimos grupos de imigrantes que chegaram a Madagáscar, em conseqüência de um naufrágio7 7 A possibilidade de naufrágios na costa de Madagáscar era alta. Entre 1507 e 1528, pelo menos cinco naufrágios de navios portugueses ocorreram próximos à ilha, quase todos na costa sudoeste. Ver A. Grandidier et. al. (eds.), "Republication of all known accounts of Madagascar", Antananarivo Annual and Madagascar Magazine, vol. 22, 1898, pp. 234-5. nas costas da ilha, em princípios do século XVI8 8 Ottino, "The Malagasy Andriambahoaka...", op. cit., pp. 221-2. . Devido à hostilidade da população local e à existência de doenças na região costeira, os protomerinas rapidamente exploraram os caminhos que levavam ao planalto central, onde encontraram os vazimba, uma população da idade da pedra, formada por caçadores-coletores, de pele escura, e que falavam uma língua desconhecida. Como dominavam a tecnologia do ferro, rapidamente conquistaram os vazimba, que fugiram em direção a oeste ou foram assimilados por seus conquistadores. Membros da Escola Britânica assumiram, então, que os vazimba eram um grupo indígena de Madagáscar ou parte dos primeiros imigrantes africanos, possivelmente ligados aos vazimba do leste do continente africano ou ao grupo khoi. Influências das culturas africanas, como a pecuária, também estavam difundidas entre a população de pele mais escura que habitava as planícies das regiões a oeste de Madagáscar, antes da chegada dos merinas. Entretanto, como as populações que ocupavam as planícies falavam dialetos da mesma língua do grupo merina, isto indicava que seus antepassados vieram da Australásia e poderiam ter realizado casamentos exogâmicos com africanos, depois de sua chegada à ilha.

A Escola Grandidier

O domínio da Escola Britânica durou até 1895, quando, com o controle francês sobre Madagáscar, cresceu uma nova ortodoxia, baseada na interpretação de Alfred Grandidier e seu filho, Guillaume Grandidier. Pesquisadores incansáveis, os Grandidiers levantaram a hipótese de que Madagáscar poderia ter sido visitada, em tempos remotos, por babilônios, fenícios, gregos, romanos, judeus e árabes9 9 Alfred Grandidier, Histoire de la Découverte de l'Ile de Madagascar par les Portugais pendant le XVIe siècle, Paris, C. Lamy, 1902, p. 3. Uma moeda cunhada de Constantine (274-337 E.C.) foi encontrada em Mahajanga, porém a data ainda não foi confirmada. Vérin, The History of Civilisation..., op. cit., pp. 26 e 28. , e que seria possível ter havido também uma subseqüente colonização judaica em Nosy Boraha (Santa Maria), uma ilha a nordeste10 10 Vérin, The History of Civilisation..., op. cit., p. 27. . Quanto à questão-chave sobre as origens dos habitantes de Madagáscar, os Grandidiers estavam convencidos de que haviam encontrado a solução do problema. Levando em consideração a extensão geográfica da ilha, o fato de que, com pequenas variações dialetais, toda a sua população falava a mesma língua (fenômeno sem precedente no continente africano), os Grandidiers argumentaram que os antepassados dos malgaxes eram australásios; os ancestrais dos habitantes das terras montanhosas, de pele mais clara, eram malaio-polinésios; e os que habitavam as planícies e que tinham a pele mais escura eram melanésios, chamados "negros melanésios"11 11 Alfred Grandidier, Histoire physique, naturelle et politique de Madagascar IV, Paris, Imprimerie Nationales, 1908; Guillaume Grandidier, "Madagascar", Geographical Review, vol. 10, nº 4, 1920, pp. 197-222. .

Possuidores, desde tempos antigos, de excelentes conhecimentos de navegação, capacidade de construção de embarcações marítimas e movidos de espírito aventureiro, estes grupos teriam navegado pelo Pacífico, colonizando diversas ilhas e chegando até a Ilha da Páscoa. Assim como navegaram para leste, também o fizeram para oeste, percorrendo 4.800 quilômetros através do Oceano Índico até alcançarem Madagáscar, colonizada graças a uma série de ondas migratórias que tiveram início aproximadamente em 1500 A.E.C. e continuaram até a chegada dos protomerinas12 12 A. Grandidier, Histoire physique..., op. cit.; Yu M. Kobishchanow, "On the Problem of Sea Voyages of Ancient Africans in the Indian Ocean", Journal of African History, vol. 6, nº 2, 1965, p. 137. . Esta provável trajetória mostrou-se possível em agosto de 1883, quando correntes equatoriais trouxeram até a costa leste de Madagáscar pedras-pomes lançadas pelo vulcão Krakatoa, na Indonésia, três meses depois de sua erupção13 13 James Sibree, A Naturalist in Madagascar. A Record of Observation Experiences and Impressions made during a period of over Fifty Years' Intimate Association with the Natives and Study of the Animal & Vegetable Life of the Island, Londres, Seeley, 1915, pp. 38-39. . A teoria dos Grandidiers também recebeu o apoio de estudos que demonstraram a difusão de pirogas, ou canoas com um flutuador paralelo, no Oceano Índico, revelando um padrão de difusão em direção oeste: da Indonésia à costa do Sri-Lanka, para então seguir até o sudeste da Índia e Madagáscar. Entretanto, a difusão das embarcações teve alcance limitado no continente africano; somente uma estreita faixa da costa da África Oriental, em frente à região noroeste de Madagáscar, parece ter sido exposta à embarcação14 14 James Hornell, Water Transport. Origin and Early Evolution, Cambridge, Cambridge University Press, 1946; A.C. Haddon, "The Outriggers of Indonesian Canoes", Journal of the Royal Anthropological Institute of Great Britain and Ireland, vol. 50, 1920, pp. 78-79; Michael Mollat, "Les relations de l'Afrique de l'est avec l'Asie: essaie de position de quelques problèmes historiques", Cahiers d'Historique Mondiale, vol. 13, nº 2, 1971, p. 301; James de Vere Allen, Swahili Origins. Swahili Culture and the Shungwaya Phenomenon, Londres, James Currey, 1993, pp. 67-68. .

Alfred e Guillaume Grandidier demonstraram que os africanos orientais, como os khois, os cuxitas e os bantos, não possuíam os conhecimentos necessários para navegar além das águas costeiras e, caso tivessem tentado cruzar o canal de Moçambique (aproximadamente 300 quilômetros nas áreas mais estreitas), encontrariam dificuldades, incluindo as perigosas correntes e as freqüentes rajadas de vento15 15 A. Grandidier, Histoire Physique..., op. cit. que provocaram inúmeros acidentes e a morte de hábeis marinheiros europeus16 16 Os portugueses perderam o primeiro navio em águas malgaxes em 1506, na costa noroeste; em 1507, perderam uma esquadra de quatro navios e, em 1527, dois dos cinco navios naufragados na costa sudoeste. Alfred Grandidier, Histoire de la Découverte..., op. cit., pp. 9, 11 e 15; ver também Maria Emília Madeira Santos, Viagens de Exploração Terrestre dos Portugueses em África, Lisboa, Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga, 1988, pp. 93-94. . Assim, segundo os Grandidiers, a população de Madagáscar de descendência genuinamente africana era um produto de tempos posteriores, predominantemente do século XIX e do comércio de escravos17 17 A. Grandidier, Histoire Physique..., op. cit. .

A teoria dos Grandidier ganhou imediatamente o apoio do governo francês, interessado em distanciar Madagáscar do resto do continente africano e das áreas do sul e do leste da África, que estavam sob controle formal ou informal britânico (incluindo a África oriental portuguesa). A única exceção deste vasto território era a Somália, que se encontrava sob domínio francês. Deste momento em diante, Madagáscar passou a ser classificada pelos franceses, ao lado de suas possessões do Pacífico, e não em conjunto com a África continental, classificação aceita pelos britânicos que, na seqüência, excluíram a ilha do campo de estudos africanos. A teoria dos Grandidier também favorecia os merinas, pois justificava o arraigado racismo contra os africanos e seus descendentes, e fundamentava sua classificação como mainty, ou seja, como pessoas essencialmente impuras e servis, considerados estrangeiros, sem direito a reivindicar a verdadeira ascendência malgaxe.

A maior parte dos acadêmicos recebeu positivamente as afirmações do missionário e lingüista Otto Christian Dahl, quando ele reforçou a teoria dos Grandidier, apontando grande afinidade entre a língua malgaxe e a manyaan, falada em Kalimantan, sudeste de Bornéu18 18 Otto Christian Dahl, Malgache et Maanjan. Une comparaison linguistique, Oslo, Egede-Instituttet, 1951. , como um indicador da exata origem dos protomalgaxes. Baseado na ausência de influência do sânscrito na língua malgaxe, Dahl afirmou que os protomalgaxes abandonaram suas terras antes da chamada "indianização" que alcançou a Indonésia aproximadamente em 400 E.C. Num estudo detalhado sobre a expansão da influência indiana na Indonésia, J. C. Van Leur argumentou que os protomalgaxes devem ter saído da Indonésia antes de 41 E.C.19 19 J.C. van Leur, Indonesian Trade and Society, The Hague: W. Vand Hoeve, 1955, pp. 69, 99-100. . Por sua vez, Wolfgang Marshall argumentou ser a língua malgaxe muito próxima da língua franca indonésio-malaia, falada nos primeiros séculos da era comum20 20 Wolfgang Marschall, "Indonesia and Northwest Madagascar", Omaly sy Anio, vol. 17-20, 1983-84, p. 15. . Já J. Innes Miller contribuiu com a teoria de Grandidier, de que as primeiras imigrações aconteceram aproximadamente em 1500 A.E.C., quando o poderio marítimo do reino indiano de Kalinga estava no seu apogeu21 21 J. Innes Miller, The Spice Trade..., op. cit., p. 171. . Para os antalaotras zatiraminia do sudeste de Madagáscar, que reivindicavam ser oriundos da Arábia, Paul Ottino primeiramente chegou a propor uma origem de Mangalore (Índia); depois, atribuiu-lhes uma origem malaio-sumatra22 22 Ottino inicialmente propôs uma origem mangalores para os zatiraminia. Ottino, "The Malagasy Andriambahoaka...", pp. 222-223, 225-246 (incl. 246 nº 16). .

A Escola Africana

Teorias a respeito de uma emigração de africanos para Madagáscar tiveram início com a Escola Britânica, mas foi Gabriel Ferrand, arabista contemporâneo de Alfred Grandidier, o primeiro a propor a idéia de que Madagáscar havia sido colonizada por uma maioria predominante de africanos ou por uma combinação de indonésios e africanos. Ferrand argumentou que a migração dos protomalgaxes para o oeste da ilha foi o resultado do envolvimento dos indonésios no comércio marítimo de longa distância, especialmente durante o apogeu do império comercial de Srivijaya, localizado em Palembang, Sumatra, entre os séculos VII e XII da era comum. Ferrand estimou que as colônias comerciais indonésias surgiram neste período, primeiro na Índia e, depois, na costa leste do continente africano, originárias de um grupo protomalgaxe que havia migrado para Madagáscar.

A chamada Tese Africana, que argumenta a migração do continente para a ilha, permaneceu negligenciada até 1959, quando George Murdock propôs uma nova hipótese. Segundo sua análise, imigrantes indonésios introduziram plantas e técnicas de cultivo oriundas diretamente do sudeste asiático na África Ocidental e Oriental. Os gêneros agrícolas mais significativos foram a banana, o inhame e o taro (Colocasia antiquorum), que se espalharam ao longo do continente africano até a zona de floresta da África ocidental, onde, segundo Murdock, contribuíram de forma fundamental para o início da expansão banto para o nordeste da floresta equatorial23 23 George Murdock, Africa: its peoples and their culture history, Nova Iorque, McGraw-Hill, 1959; ver também Colin Flight, "The Bantu Expansion and the SOAS Network", History in Africa, vol. 15, 1988, pp. 284 e 291. . Em 1962, Roland Olivier sugeriu uma correção à teoria de Murdock, ao propor que os bantos encontraram as plantas e as sementes de origem indonésia no decorrer da sua migração do norte para o sul da floresta equatorial24 24 Oliver, citado em Flight, "The Bantu Expansion...", op. cit., p . 290. .

O Debate Atual

Desde a década de 1970, variações da Tese Africana ganharam apoio crescente dos historiadores de Madagáscar. Raymond Kent (1972) defendeu que os indonésios fundaram o Grande Zimbabue antes de escaparem dos bantos e cruzarem o canal de Moçambique para estabelecerem a dinastia Menabe Sakalava, inaugurando o modelo para os reinos de Boina Sakala e Merina. Outros, como Pierre Vérin, defenderam que os protomalgaxes chegaram a Madagáscar cruzando as ilhas Comores, enquanto, numa versão revista de sua teoria das origens indonésias, Otto Dahl estimou que os protomalgaxes participaram da formação do já mencionado império comercial Srivijaya e emigraram, primeiro de Kalimantan (Bornéu) para Sumatra (Ilha Bangka), e, posteriormente, de Sumatra em direção a oeste, aproximadamente no século VII25 25 Otto Christian Dahl, Migration from Kalimantan to Madagascar, Oslo, Norwegian University Press, 1991. . Além disto, investigações de geneticistas indicaram que todos os malgaxes possuíam características de indonésios e africanos (bantos), ou seja, que houve mistura entre eles em alguma etapa antiga da história dos dois grupos26 26 R. Hewitt et. al., "ß-Globin Haplotype Analysis Suggests that a Major Source of Malagasy Ancestry is Derived from Bantu-Speaking Negroids", American Journal of Human Genetics, vol. 58, 1996, pp. 1303-1308; Idem, "The Origins and Demography of Slaves in Nineteenth Century Madagascar: A Chapter in the History of the African Ancestry of the Malagasy" François Rajaison (ed.), Fanandevozana ou esclavage, Antananarivo, Musée d'Art et d'Archéologie de l'Université d'Antananarivo, 1996, pp. 5-38. .

Diferentemente da posição assumida pelos historiadores de Madagáscar, a maioria dos estudiosos anglófonos da África oriental e austral se mostraram francamente favoráveis a uma posição denominada "afrocêntrica", atitude que diminuía a importância das forças externas e valorizava o dinamismo das comunidades africanas bantos, em especial os cuxitas e os que efetivamente falavam línguas banto. O resultado desta discussão foi que se perpetuou a exclusão de Madagáscar da área de estudos africanos27 27 Michael Pearson excluiu Madagáscar quase completamente no estudo Port Cities and Intruders. The Swahili Coast, India, and Portugal in the Early Modern Era, Baltimore e Londres: The Johns Hopkins University Press, 1998, e deu pouca atenção no The Indian Ocean, Londres e Nova Iorque, Routledge, 2003; enquanto R.L. Barendse considera que Madagáscar estava mais próxima do oceano Índico que da África. R. L. Barendse, The Arabian Seas. The Indian Ocean World of the Seventeenth Century, Armonk, Nova Iorque e Londres, England, 2002, p. 6. e se minimizou o impacto da influência indonésia na África. Ao adiantar a data da primeira leva da imigração banto para aproximadamente 3000 A.E.C., os acadêmicos rejeitaram a possibilidade de qualquer presença indonésia na África em época tão remota. De fato, a ortodoxia recente afirma que as comunidades lingüísticas banto eram constituídas de populações agrícolas altamente empreendedoras, possivelmente os componentes centrais do que Christopher Ehret identifica como "uma era clássica africana", que durou mais de dois mil anos, até, aproximadamente, 400 E.C.28 28 Christopher Ehret, An African Classical Age. Eastern and Southern Africa in World History, 1000 B.C. to A.D. 400, Charlottesville e Oxford, University Press of Virginia & James Currey, 1998. . Ao chegarem à África central e centro-oeste, em aproximadamente 1000 A.E.C., os bantos adotaram e adaptaram as técnicas de pecuária dos vizinhos localizados a nordeste, os cuxitas29 29 Derek Nurse & Thomas Spear, The Swahili. Reconstructing the History and Language of an African Society, 800-1500, Philadelphia, University of Philadelphia Press, 1985, pp. 32-33. , assim como possivelmente também os grãos, como o sorgo e o milhete30 30 Philip D. Curtin, "Africa and Global Patterns of Migration", Wang Gungwu (ed.), Global History and Migrations, Boulder, Westview Press, 1997, p. 66. , e, provavelmente, também desenvolveram ou adotaram a tecnologia do ferro em torno de ou anteriormente a 500 A.E.C.31 31 Peter R.Schmidt, "A New Look at Interpretations of the Early Iron Age in East Africa", History in Africa vol. 2, 1975, pp. 132-133,135; Gadi G.Y.Mgomezulu, "Recent Archeological Research and Radiocarbon dates from Eastern Africa", Journal of African History, vol. 22, nº 4, 1981, p. 436; Colin Flight, "The Bantu Expansion...", op. cit., pp. 280-281 . Os imigrantes bantos expandiram a base de sua economia e, com a utilização de utensílios de ferro, intensificaram a produção agrícola através de técnicas como o desmatamento da floresta para preparar o solo para o cultivo32 32 Peter Robertshaw & David Taylor, "Climatic Change and the Rise of Political Complexity in Western Uganda", Journal of African History, vol. 41, nº 1, 2000, p. 13. . Utilizando uma economia mista, os grupos bantos chegaram ao Oceano Índico aproximadamente no início do primeiro milênio da era comum, depois de uma rápida expansão nas direções leste e sul, pela área de savanas, onde as técnicas de cultivo de sorgo foram introduzidas e alcançaram a região ao norte de Natal (África do Sul), aproximadamente em 250 E.C.33 33 Curtin, "Africa and Global Patterns...", op. cit., p. 66; Ehret, An African Classical Age... , op. cit., p. 295. .

A existência de várias espécies sul-asiáticas, como a cana-de- açúcar, o inhame asiático, a banana e o taro (um outro tipo de inhame cultivado, também da espécie colocasia esculenta) que chegaram à costa leste do continente africano entre os séculos I e III E.C., permitiu alguns botânicos e lingüistas defenderem a existência de influência indonésia na África Oriental34 34 Clive Ponting, A Green History of the World, Londres, Penguin, 1993, p. 52; M.D.Gwynne, "The Origin and Spread of Some Domestic Food Plants of Eastern Africa", H.N. Chittick & R.I. Rotberg (eds.), East Africa and the Orient: cultural synthesis in pre-colonial times, Nova Iorque, Africana Pub. Co., 1975, p. 252; M.D.D. Newitt, "The Early History of the Sultanate of Angoche", Journal of African History, vol. 13, n º 3, 1972, p. 397; Ralph A. Austen, African Economic History. Internal Development and External Dependency, Londres e Portsmouth, James Currey & Heinemann, 1987, p. 15. , assim como na língua kaskazi, falada na costa suaíli (Tanzânia/Quênia)35 35 Ehret, An African Classical Age..., op. cit., p. 277; Derek Nurse & Thomas Spear, The Swahili. Reconstructing the History and Language of an African Society, 800-1500, Philadelphia, University of Philadelphia Press, 1985, pp. 45-46. . Contudo, a maioria dos acadêmicos que defendiam a Tese Africana – chamados "afrocêntricos" – aponta para uma total ausência de evidência arqueológica que comprove a presença de indonésios na África Oriental. Se tivessem sido os primeiros a chegar, certamente teriam utilizado seus conhecimentos agrícolas e a tecnologia do ferro para colonizar a região, o que não parece ter ocorrido.36 36 Flight, "The Bantu Expansion...", op. cit., p. 292. Assim, J. M. Blaut descartou o argumento de uma contribuição sul-asiática para o desenvolvimento da agricultura na África e para a expansão banto como, no mínimo, remota37 37 J.M. Blaut, The Colonizer's Model of the World. Geographical Diffusion and Eurocentric History, Nova Iorque e Londres, The Guilford Press, 1993, p. 75. . Mais apropriadamente, os acadêmicos defensores da Tese Africana consideram provável que elementos da complexa agricultura sul-asiática tenham chegado à costa leste do continente africano através de dispersão natural, acompanhando as correntes oceânicas. Os cocos, por exemplo, podem boiar em água salgada por quatro meses sem se deteriorar e, com a corrente marítima favorável, poderiam, neste tempo, ter percorrido as 3.000 milhas que separam as duas costas38 38 M.D. Gwynne, "The Origin and Spread...", p. 252. . Outra possibilidade é que estas culturas tenham sido introduzidas no continente africano pelos comerciantes árabes ou indianos, cuja presença é comprovada a partir do primeiro século da era comum39 39 Lionel Casson (trad. e coment), The Periplus Maris Erythraei, Princeton, Princeton University Press, 1989, p. 61 e 140; G.W.B. Huntingford (trad. & ed.), The Periplus of the Erythraean Sea circa AD 95-130, Londres, Hakluyt Society, 1980, pp. 23-24, 26, 28-30; Wilfredd H. Schoff (trad. e ed.), The Periplus of the Erythraean Sea, Nova Delhi, Munshiram Manoharlal, 2001, p.88. . Somente a partir deste momento os grãos sul-asiáticos começaram a chegar à costa leste da África, difundidos lentamente através do território até chegar às terras montanhosas do Quênia e do Malauí, aproximadamente em 800 E.C., após o início da produtividade agrícola e das conseqüentes migrações dos bantos por todo o território da África oriental e austral40 40 Ehret, An African Classical Age..., op. cit., pp. 278-279. .

O Princípio da Colonização em Madagáscar

A maioria dos investigadores aceita que a primeira ocupação de Madagáscar teve início entre o começo da era comum e os anos 300-400, como resultado seja da imigração direta da Indonésia, seja através da Índia, ou ainda via Comores, em direção ao norte de Madagáscar41 41 Marschall, "Indonesia and Northwest Madagascar", op. cit., p. 14; Vérin, The History of Civilisation..., op. cit., p. 33; Henry T.Wright, "Early Communities on the Island of Maore and the Coasts of Madagascar", Conrad Phillip Kottak et al. (eds.), Madagascar. Society and History, Durham, NC, Carolina Academic Press, 1986, pp. 53-54; van Leur, Indonesian Trade..., op. cit., pp. 69, 99-100; Ehret, An African Classical Age..., op. cit., pp. 273, 277; J. Innes Miller, The Spice Trade..., op. cit., p. 159. . Os estudiosos que optam pela Tese Africana aceitam esta possibilidade; inclinam-se, entretanto, para a opção da colonização direta, ao invés daquela através da África Oriental. James Allen defende que os indonésios provavelmente chegaram a Madagáscar no primeiro século da era comum, diretamente da Indonésia, ou fazendo escala nas colônias indonésias, no sul da Índia42 42 James de Vere Allen, Swahili Origins..., op. cit., pp. 64-65. . Embarcações poderiam facilmente zarpar do sudoeste asiático, durante os meses de verão, para o norte e o noroeste de Madagáscar e, para chegar à costa nordeste da ilha, usar a seu favor os ventos ao redor do Cabo Ambre, regressando com os ventos das estações mais frias, quando também era mais fácil velejar do nordeste de Madagáscar até a região noroeste da ilha, assim como para Comores e para a costa leste do continente africano43 43 Vérin, The History of Civilisation..., op. cit., pp. 12-13. .

Alguns estudiosos reivindicam a existência de evidência literária para uma migração ainda mais antiga. Segundo Kobishchanow, Madagáscar era uma ilha ou um arquipélago, mencionado no primeiro século da era cristã por Diodorus Siculus, que velejou pela Somália e afirmou ser este território habitado por pessoas felizes e sábias44 44 Yu.M. Kobishchanow, "On the Problem of Sea Voyages..." , op. cit, p. 138. . Ossos de hipopótamos talhados com utensílios de ferro encontrados em Lamboharana e Ambolisatra, ao norte de Toliara, no sudoeste de Madagáscar, são evidências de presença humana na ilha, entre o começo do século I a.C. e o século IV a.C.45 45 R.D.E. MacPhee e D.A. Burney, "Dating of Modified Femora of Extinct Dwarf Hippopotamus from Southern Madagascar: Implications for Constraining Human Colonization and Vertebrate Extinction Events", Journal of Archaeological Science, vol. 18, nº 6, 1999, pp. 695-706; Daniel Stiles, "The Mikea Hunter-gatherers of Southwest Madagascar: Ecology and Socioeconomics", African Studies Monographs, vol. 19, nº 3, 1998, p. 130; Robert E. Dewar, "Magascar: Early Settlement", John Middleton (ed.), Encyclopedia of Africa South of the Sahara, vol. 3, Nova Iorque, Simin & Schluster Macmillan, 1997, p. 72. . Entretanto, evidências de presença humana na costa nordeste da ilha (datadas entre os séculos I e VIII) apontam para uma presença temporária de caçadores-coletores e não para qualquer tipo de ocupação associada às origens africanas ou protomalgaxes destes grupos46 46 Dewar, "Magascar: Early Settlement", op. cit., p. 72. .

Em Madagáscar (Nosy Mangabe), assim como em Comores, a primeira evidência de fixação humana permanente data do século VIII47 47 Henry T. Wright, "Early Communities...", Dewar, "Magascar: Early Settlement", op. cit., pp. 72-73. . Daí em diante, há evidências de expansão da colonização, algumas vezes temporária, em Comores48 48 Henry T. Wright, "Early Communities...", op. cit., pp. 68-69. e em Madagáscar, ao longo do vale Mananara, 80 quilômetros ao sul de Nosy Mangabe49 49 Vérin, The History of Civilisation..., op. cit., p. 29. , assim como na baía de Irodo, no nordeste da costa50 50 Henry T. Wright, "Early Communities...", op. cit., pp. 84-85. . Entretanto, Henry Wright considera que tais comunidades seriam tão pequenas que não dariam conta da demanda de cônjuges, carecendo de laços externos para garantir a perpetuação do grupo51 51 Idem, p. 85 . Somente a partir do século X desenvolveram-se ao longo da maior parte da costa noroeste malgaxe algumas áreas de fixação permanente, enquanto as primeiras áreas de ocupação permanente significativa nas ilhas Comores e na própria costa noroeste de Madagáscar, tiveram início no século XI, com a incorporação destas regiões à rede comercial islâmica52 52 Idem, p. 84; Robert E. Dewar, "Magascar: Early Settlement", op. cit., p. 73; Vérin, The History of Civilisation..., op. cit., p. 1. . Esta constatação fortalece o ponto de vista defendido por Michael Mollat de que a maior onda migratória protomalgaxe oriunda da Indonésia teria ocorrido durante o apogeu da influência de Srivijaya, o já mencionado império de Sumatra, entre os séculos X e XII53 53 Mollat, "Les relations de l'Afrique...", op. cit., p. 301. .

Motivações para migrar

Um tema relativamente pouco abordado por historiadores é o das motivações que teriam levado os protomalgaxes a se estabelecerem em Madagáscar. Migrações têm sido geralmente analisadas em função de fatores como "estímulo" e "competição". Inicialmente, na Escola Britânica prevaleceram as teorias ligadas à idéia do estímulo; já os Grandidier defendiam que o "espírito aventureiro" teria impulsionado os australásios em sua expansão oceânica. Vérin procurou fatores mais pragmáticos, especialmente a tranqüilidade do oceano, que permitia a navegação costeira e em alto-mar, assim como a disponibilidade de produtos florestais, tais como a resina e a pedra-sabão, que foram transformados em vasos e largamente utilizados no sistema de comércio oceânico, o que também relaciona a fixação desta população à expansão do comércio e da cultura suaíli-árabe na região54 54 Vérin, The History of Civilisation..., op. cit., pp. 7-8 e 29; Wright, "Early Communities...", op. cit., p. 84. .

Entretanto, a fixação em território virgem é sempre difícil. Madagáscar está localizada fora das principais rotas comerciais oceânicas, as correntes no canal de Moçambique são problemáticas, a viagem pela costa malgaxe é dificultada por manguezais, falésias, bosques e rios com crocodilos gigantes. Além disto, Madagáscar carecia dos três principais produtos de exportação africanos: marfim, escravos e ouro55 55 Os dois primeiros, devido à ausência de elefantes e de população a ser escravizada, respectivamente; quanto aos depósitos de ouro, só começaram a ser explorados comercialmente no final do século XIX. Gwyn Campbell, "Gold Mining and the French Takeover of Madagascar, 1883-1914", African Economic History, vol. 17, 1988, pp. 1-28. . Como enfatizaram Ottino, Allen e Dahl, diante da ausência de atrativos favorecedores, a motivação para a migração deve ser buscada em outros fatores como, principalmente, o avanço árabe-suaíli pela costa oriental africana56 56 Vere Allen, Swahili Origins..., op. cit., pp. 31-2; Marschall, "Indonesia and Northwest Madagascar", op. cit., p. 14; Otto Christian Dahl, Migration from Kalimantan..., op. cit. . Certamente, havia uma inimizade comercial em 945, quando Buzurg ibn Shahriyar testemunhou o ataque de uma esquadra de mais de mil embarcações waq waq (indonésios ou malgaxes) à ilha de Kanbalu (possivelmente a ilha de Pemba), com o objetivo de controlar e assegurar o comércio, especialmente de marfim, carapaça de tartaruga e âmbar, para vender na Indonésia e na China, além de escravos57 57 Paul Ottino, Madagascar, les Comores et le Sud-Ouest de l'Océan Indien, Université de Madagascar, 1974; Vere Allen, Swahili Origins..., op. cit., p. 68; Mark Horton, Shanga. The archaeology of a Muslim trading community on the coast of East Africa, Londres, British Institute in Eastern Africa, 1996, p. 20. . O que Pierre Vérin denominou "primeira civilização malgaxe" surgiu mais tarde, entre os séculos XII e XV, no nordeste e no noroeste da ilha. Estes primeiros assentamentos populacionais se fundamentavam num comércio internacional vigoroso, que exportava arroz, gado e ardósia para a rede comercial suaíli e importava tecidos, pérolas e cerâmicas de origem chinesa e árabe para Madagáscar58 58 Pierre Vérin, "Madagascar", Encyclopaedia of Islam, CD-ROM Edition, v.10, Leiden, Koninklijke Brill, 1999. .

Os protomerinas

A maioria dos acadêmicos concorda que os protomerinas constituíram a última das diferentes ondas de imigrações indonésias para Madagáscar. As tradições orais59 59 Transcrito e publicado em 1908, por R.P. Callet, Ny tantaran'ny Andriana. merinas enfatizam sua chegada a Madagáscar no começo do século XVI. Entretanto, há que se notar que os portugueses – que chegaram à ilha na mesma época – não assinalam a presença de indonésios na parte ocidental do Oceano Índico, ainda que, paralelamente, existam notícias de que, por volta de 1508, eles tenham incendiado dois portos islâmicos no noroeste de Madagáscar pelos portugueses, indicando uma já importante presença muçulmana60 60 Lodovico di Varthema, Travels in Egypt, Syria, Arabia Deserta and Arabia Felix, in Persia, India and Ethiopia AD 1503 to 1508, trans. J.W. Jones, Londres, Hakluyt Society, 1863, pp. 178, 294-296; Paul Wheatley, Impressions of the Malay Peninsula in Ancient Times, Singapura, Eastern University Press, 1964, pp. 171-176. . Posteriormente, os portugueses inspecionaram a ilha e, em torno de 1518, relataram que os malgaxes não-muçulmanos "não navegam para portos de outrem, nem permitem que outros venham aos seus"61 61 Duarte Barbosa, An Account of the Countries Bordering on the Indian Ocean and their Inhabitants (c.1518), Londres, Hakluyt Society, 1918, p. 25. .

A maioria das análises dos especialistas enfatiza que os protomerinas chegaram a Madagáscar depois dos antalaotra (que chagaram entre os séculos IX e X) e dos indianos karana (que chegarm entre os séculos XI e XII), todavia, precisariam ter chegado muito antes do século XVI62 62 Paul Ottino, "The Malagasy Andriambahoaka...", pp. 221-222 e migrando rapidamente da região costeira para o planalto no interior, que já estava ocupado pelos vazimba. Devido a esta nova cronologia, foi necessário rever a linha do tempo em relação aos protomerinas, localizando sua chegada à ilha no século X, o que combina com a última evidência textual do século XII de uma "viagem indonésia" a Madagáscar63 63 Al-Idrisi Al-Kitab al-Rujari. e a chegada, no século XIV, a Imerina, no planalto central64 64 Ottino defende que Zafiraminia fundou a dinastia na costa leste e, no começo do século XIV, o primeiro Andriana dos Merina. Ottino, "The Malagasy Andriambahoaka...", p. 223; Vérin, The History of Civilisation..., op. cit., p. 35; Marschall, "Indonesia and Northwest Madagascar", op. cit., p. 14. . Entretanto, esta mudança é problemática, pois a evidência arqueológica mais antiga da ocupação humana do planalto central data da metade do século XIV65 65 .Dewar, "Madagascar: Early Settlement", op. cit., p. 73. , e os laços comerciais com os antalaotras remontam apenas ao século XV66 66 Vérin, The History of Civilisation..., op. cit., pp. 7-8. , não havendo nenhuma evidência de grupos anteriores.

Conclusão

Atualmente, predomina entre os acadêmicos a hipótese de que, nos séculos próximos ao começo da era comum, houve uma transformação no grupo relacionado aos manyaan de Bornéu, que controlavam as principais rotas comerciais marítimas da faixa norte do oceano Índico à Índia. Este grupo, então, velejou até a costa leste da África, onde se misturou com os grupos de língua banto, antes de seguir até Madagáscar; outra opção é que estes grupos tenham navegado diretamente até lá. Entretanto, não há evidência de fixação de população de origem indonésia na costa leste da África ou de presença humana permanente em Madagáscar antes do século VIII E.C. Ao lado destas dúvidas mais remotas, como foi mostrado acima, também o período da última migração indonésia (protomerina) continua sendo um problema não solucionado.

Por fim, é importante reconhecer que o momento em que os protomalgaxes saíram de suas terras e chegaram a Madagáscar, as rotas que seguiram e os motivos que os levaram a abandonar o local de origem e migrar permanecem desconhecidos. É possível apenas afirmar que a origem dos malgaxes tem ocupado a atenção dos estudiosos, mas que, apesar da extensão das pesquisas recentes e do acúmulo de informações de diferentes ordens, estas migrações permanecem ainda como um enigma.

Artigo recebido em outubro de 2005 e aprovado para publicação em dezembro de 2005.

  • 1
    1 Paul Ottino, "The Malagasy Andriambahoaka and the Indonesian Leagacy", History in Africa, vol. 9, 1982, pp. 221-222.
  • 2
    2 Ver C. Staniland Wake, "Notes on the Origin of the Malagasy", Journal of the Anthropological Institute of Great Britain and Ireland, vol. 11, 1882, pp. 21-33;
  • ver também Gwyn Campbell, "Theories concerning the Origins of the Malagasy", Marc Michel e Yvan Paillard (eds.), Australes, Paris, l'Harmattan, 1996, pp. 127-153.
  • 3 Pierre Vérin, The History of Civilisation in North Madagascar, Rotterdam/Boston, A.A.Balkema, 1986, p. 27.
  • 4 James Sibree, "Malagasy Place-Names, Part 1", Antananarivo Annual and Madagascar Magazine, vol. 20, 1896, p. 404.
  • 6
    6 John H. van Linschoten, Voyage to the East Indies I, Londres, Haklut Society, 1885, p. 19.
  • 7
    7 A possibilidade de naufrágios na costa de Madagáscar era alta. Entre 1507 e 1528, pelo menos cinco naufrágios de navios portugueses ocorreram próximos à ilha, quase todos na costa sudoeste. Ver A. Grandidier et. al. (eds.), "Republication of all known accounts of Madagascar", Antananarivo Annual and Madagascar Magazine, vol. 22, 1898, pp. 234-5.
  • 9 Alfred Grandidier, Histoire de la Découverte de l'Ile de Madagascar par les Portugais pendant le XVIe siècle, Paris, C. Lamy, 1902, p. 3.
  • 11 Alfred Grandidier, Histoire physique, naturelle et politique de Madagascar IV, Paris, Imprimerie Nationales, 1908;
  • Guillaume Grandidier, "Madagascar", Geographical Review, vol. 10, nº 4, 1920, pp. 197-222.
  • 12 A. Grandidier, Histoire physique.., op. cit; Yu M. Kobishchanow, "On the Problem of Sea Voyages of Ancient Africans in the Indian Ocean", Journal of African History, vol. 6, nº 2, 1965, p. 137.
  • 13 James Sibree, A Naturalist in Madagascar A Record of Observation Experiences and Impressions made during a period of over Fifty Years' Intimate Association with the Natives and Study of the Animal & Vegetable Life of the Island, Londres, Seeley, 1915, pp. 38-39.
  • 14 James Hornell, Water Transport. Origin and Early Evolution, Cambridge, Cambridge University Press, 1946;
  • A.C. Haddon, "The Outriggers of Indonesian Canoes", Journal of the Royal Anthropological Institute of Great Britain and Ireland, vol. 50, 1920, pp. 78-79;
  • Michael Mollat, "Les relations de l'Afrique de l'est avec l'Asie: essaie de position de quelques problèmes historiques", Cahiers d'Historique Mondiale, vol. 13, nº 2, 1971, p. 301;
  • James de Vere Allen, Swahili Origins. Swahili Culture and the Shungwaya Phenomenon, Londres, James Currey, 1993, pp. 67-68.
  • 16 Os portugueses perderam o primeiro navio em águas malgaxes em 1506, na costa noroeste; em 1507, perderam uma esquadra de quatro navios e, em 1527, dois dos cinco navios naufragados na costa sudoeste. Alfred Grandidier, Histoire de la Découverte.., op. cit, pp. 9, 11 e 15; ver também Maria Emília Madeira Santos, Viagens de Exploração Terrestre dos Portugueses em África, Lisboa, Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga, 1988, pp. 93-94.
  • 18
    18 Otto Christian Dahl, Malgache et Maanjan. Une comparaison linguistique, Oslo, Egede-Instituttet, 1951.
  • 19
    19 J.C. van Leur, Indonesian Trade and Society, The Hague: W. Vand Hoeve, 1955, pp. 69, 99-100.
  • 20
    20 Wolfgang Marschall, "Indonesia and Northwest Madagascar", Omaly sy Anio, vol. 17-20, 1983-84, p. 15.
  • 23 George Murdock, Africa: its peoples and their culture history, Nova Iorque, McGraw-Hill, 1959;
  • ver também Colin Flight, "The Bantu Expansion and the SOAS Network", History in Africa, vol. 15, 1988, pp. 284 e 291.
  • 25 Otto Christian Dahl, Migration from Kalimantan to Madagascar, Oslo, Norwegian University Press, 1991.
  • 26 R. Hewitt et. al, "ß-Globin Haplotype Analysis Suggests that a Major Source of Malagasy Ancestry is Derived from Bantu-Speaking Negroids", American Journal of Human Genetics, vol. 58, 1996, pp. 1303-1308;
  • Idem, "The Origins and Demography of Slaves in Nineteenth Century Madagascar: A Chapter in the History of the African Ancestry of the Malagasy" François Rajaison (ed.), Fanandevozana ou esclavage, Antananarivo, Musée d'Art et d'Archéologie de l'Université d'Antananarivo, 1996, pp. 5-38.
  • 27 Michael Pearson excluiu Madagáscar quase completamente no estudo Port Cities and Intruders. The Swahili Coast, India, and Portugal in the Early Modern Era, Baltimore e Londres: The Johns Hopkins University Press, 1998,
  • e deu pouca atenção no The Indian Ocean, Londres e Nova Iorque, Routledge, 2003;
  • enquanto R.L. Barendse considera que Madagáscar estava mais próxima do oceano Índico que da África. R. L. Barendse, The Arabian Seas. The Indian Ocean World of the Seventeenth Century, Armonk, Nova Iorque e Londres, England, 2002, p. 6.
  • 28 Christopher Ehret, An African Classical Age. Eastern and Southern Africa in World History, 1000 B.C. to A.D. 400, Charlottesville e Oxford, University Press of Virginia & James Currey, 1998.
  • 29 Derek Nurse & Thomas Spear, The Swahili. Reconstructing the History and Language of an African Society, 800-1500, Philadelphia, University of Philadelphia Press, 1985, pp. 32-33.
  • 30 Philip D. Curtin, "Africa and Global Patterns of Migration", Wang Gungwu (ed.), Global History and Migrations, Boulder, Westview Press, 1997, p. 66.
  • 31 Peter R.Schmidt, "A New Look at Interpretations of the Early Iron Age in East Africa", History in Africa vol. 2, 1975, pp. 132-133,135;
  • Gadi G.Y.Mgomezulu, "Recent Archeological Research and Radiocarbon dates from Eastern Africa", Journal of African History, vol. 22, nº 4, 1981, p. 436;
  • 32 Peter Robertshaw & David Taylor, "Climatic Change and the Rise of Political Complexity in Western Uganda", Journal of African History, vol. 41, nº 1, 2000, p. 13.
  • 34 Clive Ponting, A Green History of the World, Londres, Penguin, 1993, p. 52;
  • M.D.Gwynne, "The Origin and Spread of Some Domestic Food Plants of Eastern Africa", H.N. Chittick & R.I. Rotberg (eds.), East Africa and the Orient: cultural synthesis in pre-colonial times, Nova Iorque, Africana Pub. Co., 1975, p. 252;
  • M.D.D. Newitt, "The Early History of the Sultanate of Angoche", Journal of African History, vol. 13, nº 3, 1972, p. 397;
  • Ralph A. Austen, African Economic History. Internal Development and External Dependency, Londres e Portsmouth, James Currey & Heinemann, 1987, p. 15.
  • 35 Ehret, An African Classical Age.., op. cit., p. 277; Derek Nurse & Thomas Spear, The Swahili. Reconstructing the History and Language of an African Society, 800-1500, Philadelphia, University of Philadelphia Press, 1985, pp. 45-46.
  • 37 J.M. Blaut, The Colonizer's Model of the World. Geographical Diffusion and Eurocentric History, Nova Iorque e Londres, The Guilford Press, 1993, p. 75.
  • 39 Lionel Casson (trad. e coment), The Periplus Maris Erythraei, Princeton, Princeton University Press, 1989, p. 61 e 140;
  • G.W.B. Huntingford (trad. & ed.), The Periplus of the Erythraean Sea circa AD 95-130, Londres, Hakluyt Society, 1980, pp. 23-24, 26, 28-30;
  • Wilfredd H. Schoff (trad. e ed.), The Periplus of the Erythraean Sea, Nova Delhi, Munshiram Manoharlal, 2001, p.88.
  • 41 Marschall, "Indonesia and Northwest Madagascar", op. cit., p. 14; Vérin, The History of Civilisation.., op. cit., p. 33; Henry T.Wright, "Early Communities on the Island of Maore and the Coasts of Madagascar", Conrad Phillip Kottak et al. (eds.), Madagascar. Society and History, Durham, NC, Carolina Academic Press, 1986, pp. 53-54;
  • 45
    45 R.D.E. MacPhee e D.A. Burney, "Dating of Modified Femora of Extinct Dwarf Hippopotamus from Southern Madagascar: Implications for Constraining Human Colonization and Vertebrate Extinction Events", Journal of Archaeological Science, vol. 18, nº 6, 1999, pp. 695-706;
  • Daniel Stiles, "The Mikea Hunter-gatherers of Southwest Madagascar: Ecology and Socioeconomics", African Studies Monographs, vol. 19, nº 3, 1998, p. 130;
  • Robert E. Dewar, "Magascar: Early Settlement", John Middleton (ed.), Encyclopedia of Africa South of the Sahara, vol. 3, Nova Iorque, Simin & Schluster Macmillan, 1997, p. 72.
  • 55 Os dois primeiros, devido à ausência de elefantes e de população a ser escravizada, respectivamente; quanto aos depósitos de ouro, só começaram a ser explorados comercialmente no final do século XIX. Gwyn Campbell, "Gold Mining and the French Takeover of Madagascar, 1883-1914", African Economic History, vol. 17, 1988, pp. 1-28.
  • 57 Paul Ottino, Madagascar, les Comores et le Sud-Ouest de l'Océan Indien, Université de Madagascar, 1974; Vere Allen, Swahili Origins.., op. cit., p. 68; Mark Horton, Shanga. The archaeology of a Muslim trading community on the coast of East Africa, Londres, British Institute in Eastern Africa, 1996, p. 20.
  • 58 Pierre Vérin, "Madagascar", Encyclopaedia of Islam, CD-ROM Edition, v.10, Leiden, Koninklijke Brill, 1999.
  • 60 Lodovico di Varthema, Travels in Egypt, Syria, Arabia Deserta and Arabia Felix, in Persia, India and Ethiopia AD 1503 to 1508, trans. J.W. Jones, Londres, Hakluyt Society, 1863, pp. 178, 294-296;
  • Paul Wheatley, Impressions of the Malay Peninsula in Ancient Times, Singapura, Eastern University Press, 1964, pp. 171-176.
  • 61 Duarte Barbosa, An Account of the Countries Bordering on the Indian Ocean and their Inhabitants (c.1518), Londres, Hakluyt Society, 1918, p. 25.
  • *
    Comunicação apresentada na Conferência Internacional "Monsoons and Migrations: Unleashing Dhow Synergies", realizada durante o oitavo ZIFF, Festival dos Dhow Countries, nos dias 4-6 de julho de 2005.
  • **
    Nota do editor: A expedição Kon-Tiki foi realizada pelo navegador escandinavo Thor Heyerdahl, que partiu do Peru, em 1947 e percorreu 8 mil Km pelo Pacífico até a Polinésia, numa embarcação similar às utilizadas no Império Inca.
  • 1
    Paul Ottino, "The Malagasy
    Andriambahoaka and the Indonesian Leagacy",
    History in Africa, vol. 9, 1982, pp. 221-222.
  • 2
    Ver C. Staniland Wake, "Notes on the Origin of the Malagasy",
    Journal of the Anthropological Institute of Great Britain and Ireland, vol. 11, 1882, pp. 21-33; ver também Gwyn Campbell, "Theories concerning the Origins of the Malagasy", Marc Michel e Yvan Paillard (eds.),
    Australes, Paris, l'Harmattan, 1996, pp. 127-153.
  • 3
    Pierre Vérin,
    The History of Civilisation in North Madagascar, Rotterdam/Boston, A.A.Balkema, 1986, p. 27.
  • 4
    James Sibree, "Malagasy Place-Names, Part 1",
    Antananarivo Annual and Madagascar Magazine, vol. 20, 1896, p. 404.
  • 5
    Vérin,
    The History of Civilisation...,
    op. cit., p. 4; Sibree, "Malagasy Place-Names, Part 1",
    op. cit., p. 404.
  • 6
    John H. van Linschoten,
    Voyage to the East Indies I, Londres, Haklut Society, 1885, p. 19.
  • 7
    A possibilidade de naufrágios na costa de Madagáscar era alta. Entre 1507 e 1528, pelo menos cinco naufrágios de navios portugueses ocorreram próximos à ilha, quase todos na costa sudoeste. Ver A. Grandidier
    et. al. (eds.), "Republication of all known accounts of Madagascar",
    Antananarivo Annual and Madagascar Magazine, vol. 22, 1898, pp. 234-5.
  • 8
    Ottino, "The Malagasy
    Andriambahoaka...",
    op. cit., pp. 221-2.
  • 9
    Alfred Grandidier,
    Histoire de la Découverte de l'Ile de Madagascar par les Portugais pendant le XVIe siècle, Paris, C. Lamy, 1902, p. 3. Uma moeda cunhada de Constantine (274-337 E.C.) foi encontrada em Mahajanga, porém a data ainda não foi confirmada. Vérin,
    The History of Civilisation...,
    op. cit., pp. 26 e 28.
  • 10
    Vérin,
    The History of Civilisation...,
    op. cit., p. 27.
  • 11
    Alfred Grandidier,
    Histoire physique, naturelle et politique de Madagascar IV, Paris, Imprimerie Nationales, 1908; Guillaume Grandidier, "Madagascar",
    Geographical Review, vol. 10, nº 4, 1920, pp. 197-222.
  • 12
    A. Grandidier,
    Histoire physique...,
    op. cit.; Yu M. Kobishchanow, "On the Problem of Sea Voyages of Ancient Africans in the Indian Ocean",
    Journal of African History, vol. 6, nº 2, 1965, p. 137.
  • 13
    James Sibree,
    A Naturalist in Madagascar.
    A Record of Observation Experiences and Impressions made during a period of over Fifty Years' Intimate Association with the Natives and Study of the Animal & Vegetable Life of the Island, Londres, Seeley, 1915, pp. 38-39.
  • 14
    James Hornell,
    Water Transport. Origin and Early Evolution, Cambridge, Cambridge University Press, 1946; A.C. Haddon, "The Outriggers of Indonesian Canoes",
    Journal of the Royal Anthropological Institute of Great Britain and Ireland, vol. 50, 1920, pp. 78-79; Michael Mollat, "Les relations de l'Afrique de l'est avec l'Asie: essaie de position de quelques problèmes historiques",
    Cahiers d'Historique Mondiale, vol. 13, nº 2, 1971, p. 301; James de Vere Allen,
    Swahili Origins. Swahili Culture and the Shungwaya Phenomenon, Londres, James Currey, 1993, pp. 67-68.
  • 15
    A. Grandidier,
    Histoire Physique..., op. cit.
  • 16
    Os portugueses perderam o primeiro navio em águas malgaxes em 1506, na costa noroeste; em 1507, perderam uma esquadra de quatro navios e, em 1527, dois dos cinco navios naufragados na costa sudoeste. Alfred Grandidier,
    Histoire de la Découverte...,
    op. cit., pp. 9, 11 e 15; ver também Maria Emília Madeira Santos,
    Viagens de Exploração Terrestre dos Portugueses em África, Lisboa, Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga, 1988, pp. 93-94.
  • 17
    A. Grandidier,
    Histoire Physique..., op. cit.
  • 18
    Otto Christian Dahl,
    Malgache et Maanjan. Une comparaison linguistique, Oslo, Egede-Instituttet, 1951.
  • 19
    J.C. van Leur,
    Indonesian Trade and Society, The Hague: W. Vand Hoeve, 1955, pp. 69, 99-100.
  • 20
    Wolfgang Marschall, "Indonesia and Northwest Madagascar",
    Omaly sy Anio, vol. 17-20, 1983-84, p. 15.
  • 21
    J. Innes Miller,
    The Spice Trade...,
    op. cit., p. 171.
  • 22
    Ottino inicialmente propôs uma origem mangalores para os zatiraminia. Ottino, "The Malagasy Andriambahoaka...", pp. 222-223, 225-246 (incl. 246 nº 16).
  • 23
    George Murdock,
    Africa: its peoples and their culture history, Nova Iorque, McGraw-Hill, 1959; ver também Colin Flight, "The Bantu Expansion and the SOAS Network",
    History in Africa, vol. 15, 1988, pp. 284 e 291.
  • 24
    Oliver, citado em Flight, "The Bantu Expansion...",
    op. cit., p
    . 290.
  • 25
    Otto Christian Dahl,
    Migration from Kalimantan to Madagascar, Oslo, Norwegian University Press, 1991.
  • 26
    R. Hewitt
    et. al., "ß-Globin Haplotype Analysis Suggests that a Major Source of Malagasy Ancestry is Derived from Bantu-Speaking Negroids",
    American Journal of Human Genetics, vol. 58, 1996, pp. 1303-1308;
    Idem, "The Origins and Demography of Slaves in Nineteenth Century Madagascar: A Chapter in the History of the African Ancestry of the Malagasy" François Rajaison (ed.),
    Fanandevozana ou esclavage, Antananarivo, Musée d'Art et d'Archéologie de l'Université d'Antananarivo, 1996, pp. 5-38.
  • 27
    Michael Pearson excluiu Madagáscar quase completamente no estudo
    Port Cities and Intruders. The Swahili Coast, India, and Portugal in the Early Modern Era, Baltimore e Londres: The Johns Hopkins University Press, 1998, e deu pouca atenção no
    The Indian Ocean, Londres e Nova Iorque, Routledge, 2003; enquanto R.L. Barendse considera que Madagáscar estava mais próxima do oceano Índico que da África. R. L. Barendse,
    The Arabian Seas. The Indian Ocean World of the Seventeenth Century, Armonk, Nova Iorque e Londres, England, 2002, p. 6.
  • 28
    Christopher Ehret,
    An African Classical Age. Eastern and Southern Africa in World History, 1000 B.C. to A.D. 400, Charlottesville e Oxford, University Press of Virginia & James Currey, 1998.
  • 29
    Derek Nurse & Thomas Spear,
    The Swahili. Reconstructing the History and Language of an African Society, 800-1500, Philadelphia, University of Philadelphia Press, 1985, pp. 32-33.
  • 30
    Philip D. Curtin, "Africa and Global Patterns of Migration", Wang Gungwu (ed.),
    Global History and Migrations, Boulder, Westview Press, 1997, p. 66.
  • 31
    Peter R.Schmidt, "A New Look at Interpretations of the Early Iron Age in East Africa",
    History in Africa vol. 2, 1975, pp. 132-133,135; Gadi G.Y.Mgomezulu, "Recent Archeological Research and Radiocarbon dates from Eastern Africa",
    Journal of African History, vol. 22, nº 4, 1981, p. 436; Colin Flight, "The Bantu Expansion...",
    op. cit., pp. 280-281
  • 32
    Peter Robertshaw & David Taylor, "Climatic Change and the Rise of Political Complexity in Western Uganda",
    Journal of African History, vol. 41, nº 1, 2000, p. 13.
  • 33
    Curtin, "Africa and Global Patterns...",
    op. cit., p. 66; Ehret,
    An African Classical Age...
    , op. cit., p. 295.
  • 34
    Clive Ponting,
    A Green History of the World, Londres, Penguin, 1993, p. 52; M.D.Gwynne, "The Origin and Spread of Some Domestic Food Plants of Eastern Africa", H.N. Chittick & R.I. Rotberg (eds.),
    East Africa and the Orient: cultural synthesis in pre-colonial times, Nova Iorque, Africana Pub. Co., 1975, p. 252; M.D.D. Newitt, "The Early History of the Sultanate of Angoche",
    Journal of African History, vol. 13, n
    º 3, 1972, p. 397; Ralph A. Austen,
    African Economic History. Internal Development and External Dependency, Londres e Portsmouth, James Currey & Heinemann, 1987, p. 15.
  • 35
    Ehret,
    An African Classical Age...,
    op. cit., p. 277; Derek Nurse & Thomas Spear,
    The Swahili. Reconstructing the History and Language of an African Society, 800-1500, Philadelphia, University of Philadelphia Press, 1985, pp. 45-46.
  • 36
    Flight, "The Bantu Expansion...",
    op. cit., p. 292.
  • 37
    J.M. Blaut,
    The Colonizer's Model of the World. Geographical Diffusion and Eurocentric History, Nova Iorque e Londres, The Guilford Press, 1993, p. 75.
  • 38
    M.D. Gwynne, "The Origin and Spread...", p. 252.
  • 39
    Lionel Casson (trad. e coment),
    The Periplus Maris Erythraei, Princeton, Princeton University Press, 1989, p. 61 e 140; G.W.B. Huntingford (trad. & ed.),
    The Periplus of the Erythraean Sea circa AD 95-130, Londres, Hakluyt Society, 1980, pp. 23-24, 26, 28-30; Wilfredd H. Schoff (trad. e ed.),
    The Periplus of the Erythraean Sea, Nova Delhi, Munshiram Manoharlal, 2001, p.88.
  • 40
    Ehret,
    An African Classical Age...,
    op. cit., pp. 278-279.
  • 41
    Marschall, "Indonesia and Northwest Madagascar",
    op. cit., p. 14; Vérin,
    The History of Civilisation...,
    op. cit., p. 33; Henry T.Wright, "Early Communities on the Island of Maore and the Coasts of Madagascar", Conrad Phillip Kottak
    et al. (eds.),
    Madagascar. Society and History, Durham, NC, Carolina Academic Press, 1986, pp. 53-54; van Leur,
    Indonesian Trade...,
    op. cit., pp. 69, 99-100; Ehret,
    An African Classical Age...,
    op. cit., pp. 273, 277; J. Innes Miller,
    The Spice Trade...,
    op. cit., p. 159.
  • 42
    James de Vere Allen,
    Swahili Origins...,
    op. cit., pp. 64-65.
  • 43
    Vérin,
    The History of Civilisation...,
    op. cit., pp. 12-13.
  • 44
    Yu.M. Kobishchanow, "On the Problem of Sea Voyages..."
    , op. cit, p. 138.
  • 45
    R.D.E. MacPhee e D.A. Burney, "Dating of Modified Femora of Extinct Dwarf Hippopotamus from Southern Madagascar: Implications for Constraining Human Colonization and Vertebrate Extinction Events",
    Journal of Archaeological Science, vol. 18, nº 6, 1999, pp. 695-706; Daniel Stiles, "The Mikea Hunter-gatherers of Southwest Madagascar: Ecology and Socioeconomics",
    African Studies Monographs, vol. 19, nº 3, 1998, p. 130; Robert E. Dewar, "Magascar: Early Settlement", John Middleton (ed.),
    Encyclopedia of Africa South of the Sahara, vol. 3, Nova Iorque, Simin & Schluster Macmillan, 1997, p. 72.
  • 46
    Dewar, "Magascar: Early Settlement",
    op. cit., p. 72.
  • 47
    Henry T. Wright, "Early Communities...", Dewar, "Magascar: Early Settlement",
    op. cit., pp. 72-73.
  • 48
    Henry T. Wright, "Early Communities...",
    op. cit., pp. 68-69.
  • 49
    Vérin,
    The History of Civilisation...,
    op. cit., p. 29.
  • 50
    Henry T. Wright, "Early Communities...",
    op. cit., pp. 84-85.
  • 51
    Idem, p. 85
  • 52
    Idem, p. 84; Robert E. Dewar, "Magascar: Early Settlement",
    op. cit., p. 73; Vérin,
    The History of Civilisation...,
    op. cit., p. 1.
  • 53
    Mollat, "Les relations de l'Afrique...",
    op. cit., p. 301.
  • 54
    Vérin,
    The History of Civilisation...,
    op. cit., pp. 7-8 e 29; Wright, "Early Communities...",
    op. cit., p. 84.
  • 55
    Os dois primeiros, devido à ausência de elefantes e de população a ser escravizada, respectivamente; quanto aos depósitos de ouro, só começaram a ser explorados comercialmente no final do século XIX. Gwyn Campbell, "Gold Mining and the French Takeover of Madagascar, 1883-1914",
    African Economic History, vol. 17, 1988, pp. 1-28.
  • 56
    Vere Allen,
    Swahili Origins...,
    op. cit., pp. 31-2; Marschall, "Indonesia and Northwest Madagascar",
    op. cit., p. 14; Otto Christian Dahl,
    Migration from Kalimantan...,
    op. cit.
  • 57
    Paul Ottino,
    Madagascar, les Comores et le Sud-Ouest de l'Océan Indien, Université de Madagascar, 1974; Vere Allen,
    Swahili Origins...,
    op. cit., p. 68; Mark Horton,
    Shanga. The archaeology of a Muslim trading community on the coast of East Africa, Londres, British Institute in Eastern Africa, 1996, p. 20.
  • 58
    Pierre Vérin, "Madagascar",
    Encyclopaedia of Islam, CD-ROM Edition, v.10, Leiden, Koninklijke Brill, 1999.
  • 59
    Transcrito e publicado em 1908, por R.P. Callet,
    Ny tantaran'ny Andriana.
  • 60
    Lodovico di Varthema,
    Travels in Egypt, Syria, Arabia Deserta and Arabia Felix, in Persia, India and Ethiopia AD 1503 to 1508, trans. J.W. Jones, Londres, Hakluyt Society, 1863, pp. 178, 294-296; Paul Wheatley,
    Impressions of the Malay Peninsula in Ancient Times, Singapura, Eastern University Press, 1964, pp. 171-176.
  • 61
    Duarte Barbosa,
    An Account of the Countries Bordering on the Indian Ocean and their Inhabitants (c.1518), Londres, Hakluyt Society, 1918, p. 25.
  • 62
    Paul Ottino, "The Malagasy
    Andriambahoaka...", pp. 221-222
  • 63
    Al-Idrisi
    Al-Kitab al-Rujari.
  • 64
    Ottino defende que Zafiraminia fundou a dinastia na costa leste e, no começo do século XIV, o primeiro
    Andriana dos Merina. Ottino, "The Malagasy
    Andriambahoaka...", p. 223; Vérin,
    The History of Civilisation...,
    op. cit., p. 35; Marschall, "Indonesia and Northwest Madagascar",
    op. cit., p. 14.
  • 65
    .Dewar, "Madagascar: Early Settlement",
    op. cit., p. 73.
  • 66
    Vérin,
    The History of Civilisation...,
    op. cit., pp. 7-8.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      09 Out 2007
    • Data do Fascículo
      Jan 2006

    Histórico

    • Aceito
      Dez 2005
    • Recebido
      Out 2005
    EdUFF - Editora da UFF Instituto de História/Universidade Federal Fluminense, Rua Prof. Marcos Waldemar de Freitas Reis, Bloco O, sala 503, 24210-201, Niterói, Rio de Janeiro, Brasil, tel:(21)2629-2920, (21)2629-2920 - Niterói - RJ - Brazil
    E-mail: tempouff2013@gmail.com