Acessibilidade / Reportar erro

O esporte e a cidade na historiografia brasileira: uma revisão crítica

Le sport et la ville dans l'historiographie brésilienne: une analyse critique

El deporte y la ciudad en la historiografía brasileña: una revisión crítica

Resumos

Pesquisas têm apontado a urbanização como um dos principais vetores explicativos da emergência histórica dos esportes. Este trabalho pretendeu revisitá-las criticamente, apontando casos de regiões pouco urbanizadas que conheceram práticas esportivas. Esse processo, além disso, irradiou-se de diferentes pontos, impedindo a identificação de um único centro responsável por isto, como às vezes sugere-se.

história; esporte; urbanização


Recherchers soulignent l'urbanization comme un raison de l'emergence du sport. Ce travail a énuméré et a critiqué le sujet, montrant les cas de zones peu urbanizeés oú les gens font du sport. Ce processus a été diffusé a partir de différents points, donc n'est pas possible de déterminer un seul centre responsable, comme précédemment suggéré.

histoire; Sport; urbanization


Investigaciones han señalado la urbanización como uno de los más importantes factores en la explicación de la aparición histórica de los deportes. Este trabajo se propuso revisar críticamente a ellas, señalando casos de regiones poco urbanizadas que conocieron prácticas deportivas. Eso proceso, todavía, fue diseminado desde diferentes puntos, lo que impidió la identificación de un centro único responsable de esto, como se sugiere en ciertos trabajos.

historia; deporte; urbanización


Researches have pointed urbanization as a major factor explaining the historical emergence of sports. This paper pretended to revisit them critically, analyzing cases from very-little urbanized regions, which also got to know sports practices. This process, moreover, was spread from different points, making the identification of a responsible single centre difficult, as it is sometimes suggested.

history; sport; urbanization


DOSSIÊ

UMA HISTÓRIA DO ESPORTE PARA UM PAÍS ESPORTIVO

O esporte e a cidade na historiografia brasileira: uma revisão crítica

El deporte y la ciudad en la historiografía brasileña: una revisión crítica

Le sport et la ville dans l'historiographie brésilienne: une analyse critique

Cleber Dias

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). E-mail: cag.dias@bol.com.br

RESUMO

Pesquisas têm apontado a urbanização como um dos principais vetores explicativos da emergência histórica dos esportes. Este trabalho pretendeu revisitá-las criticamente, apontando casos de regiões pouco urbanizadas que conheceram práticas esportivas. Esse processo, além disso, irradiou-se de diferentes pontos, impedindo a identificação de um único centro responsável por isto, como às vezes sugere-se.

Palavras-chave: história; esporte; urbanização.

RESUMEN

Investigaciones han señalado la urbanización como uno de los más importantes factores en la explicación de la aparición histórica de los deportes. Este trabajo se propuso revisar críticamente a ellas, señalando casos de regiones poco urbanizadas que conocieron prácticas deportivas. Eso proceso, todavía, fue diseminado desde diferentes puntos, lo que impidió la identificación de un centro único responsable de esto, como se sugiere en ciertos trabajos.

Palabras clave: historia; deporte; urbanización.

RÉSUMÉ

Recherchers soulignent l'urbanization comme un raison de l'emergence du sport. Ce travail a énuméré et a critiqué le sujet, montrant les cas de zones peu urbanizeés oú les gens font du sport. Ce processus a été diffusé a partir de différents points, donc n'est pas possible de déterminer un seul centre responsable, comme précédemment suggéré.

Mots-clés: histoire; Sport; urbanization.

De acordo com a interpretação corrente nos estudos sobre esporte, tanto no Brasil quanto no exterior, esta prática desenvolveu-se em profunda articulação com a urbanização, frequentemente apontada como um dos principais vetores explicativos para a emergência histórica de tal atividade.1 1 Ralph C. Wilcox, David L. Andrews, "Sport in the city: cultural, economic, and political portraits", In: Ralph C. Wilcox, David L. Andrews, Robert Pitter, Richard L. Irwin. (eds.), Sporting Dystopias: the making and meanings of urban sport cultures, New York, State University of New York Press, 2003, p. 1-16. Desde o início da consolidação de uma especialidade de estudos dedicada ao assunto, pesquisas diversas têm concorrido para estabelecer uma espécie de consenso a esse respeito. De diferentes maneiras, esses trabalhos argumentavam que a emergência e a disseminação do esporte têm relações profundas com o processo de crescimento das cidades. Não por acaso, o esporte e as cidades modernas teriam, inclusive, compartilhado várias características entre si.

Em 1972, Dale Somers apresentou uma pesquisa acerca da ascensão do esporte em Nova Orleans entre 1850 e 1900, destacando preocupações com problemas relacionados às tensões da vida urbana como um dos facilitadores para a popularização desse tipo de prática naquele contexto.2 2 Dale Somers, The rise of sports in New Orleans, 1850-1900, Baton Rouge, Lousiana State University Press, 1972. Em 1982, pesquisa de Stephen Hardy apresentou conclusões semelhantes. Hardy afirmava que, em Boston, na transição entre os séculos XIX e XX, campos esportivos apareciam aos olhos de muitos contemporâneos como espaços sociais potencialmente capazes de fornecer disciplina e sentimento de pertencimento comunitário a uma população cada vez mais abalada pelo surgimento de uma série de transformações, decorrentes do novo modo de vida urbano. Nesse sentido, os esportes teriam sido parte de uma resposta coletiva a percepções de desordens social e cultural na cidade daquele período.3 3 Stephen Hardy, How Boston played: sport, recreation, and community, 1865-1915, Boston, Northeastern University Press, 1982.

Todavia, data do final dos anos 1980 um dos mais influentes trabalhos nessa perspectiva: uma espécie de síntese nas formulações referente à relação entre esporte e cidades. Dedicando-se a traçar um grande panorama sobre as relações entre a ascensão dos esportes e a evolução da sociedade urbana norte-americana, Steve Riess argumentava que o desenvolvimento das cidades foi um dos principais fatores a influenciar, talvez mais que qualquer outro, segundo ele, o dos esportes. Para ele, áreas urbanas ofereceram um conjunto de condições propícias a este processo, entre as quais, uma grande e concentrada massa populacional para jogar, assistir e consumir produtos relacionados ao espetáculo esportivo. Por outro lado, continua Riess, o esporte também influenciara, em sentido inverso, o processo de urbanização, incentivando diferentes mudanças na malha urbana da cidade.4 4 Steve Riess, City games: the evolution of American urban society and the rise of sports, Chicago, University of Illinois Press, 1989.

Direta ou indiretamente influenciados por trabalhos assim, algumas conclusões a respeito da história do esporte no Brasil têm seguido, em linhas gerais, esse mesmo esquema argumentativo. O objetivo deste trabalho foi empreender um balanço historiográfico de tais pesquisas, apresentando também algumas críticas. Nesse sentido, o desenvolvimento histórico do esporte no Brasil, de modo geral, desestabiliza, ao menos em certa medida, o modelo teórico que postula a cidade e a urbanização como variáveis privilegiadas para a histórica da emergência do esporte. O caso brasileiro, em outras palavras, mostra algumas situações em que o florescimento de esportes ocorreu e ocorre ainda em ambientes pouco ou nada urbanizados, nos quais não se identifica com facilidade, ou de forma alguma, traços de uma experiência que possa ser chamada propriamente de urbana.

Entretanto, diferentemente do que pareçam à primeira vista, os limites das pesquisas brasileiras sob este aspecto, supondo que é mais ou menos pertinente à crítica que estou formulando aqui, não se devem apenas a uma eventual subserviência intelectual a teorias produzidas no estrangeiro, embora isso possa fazer parte do problema também. Mais que isso, o aprisionamento dos estudos brasileiros a modelos historiográficos que superdimensionam o papel dos principais centros metropolitanos no processo de difusão de práticas e ideias modernizadoras, ao mesmo tempo em que subestimam ou até mesmo ignoram o lugar de regiões cultural, econômica e politicamente periféricas nesse processo, me parece um dos principais, se não o principal fator a obliterar uma renovação mais radical nesse campo de pesquisas.

Cidades às vezes distantes do que se supõe o centro irradiador de um ideário de progresso, pouco ou nada urbanizadas, conheceram também, ainda que à sua maneira, uma sociabilidade ligada aos esportes. Isso difere, portanto, da imagem de isolamento, que tão caracteristicamente marca as representações sobre o sertão brasileiro. Regiões do hinterland mantinham-se às vezes interligadas entre si, bem como articuladas a outras mais populosas e economicamente mais dinâmicas, o que parece ter favorecido, em alguns casos, o surgimento de um campo esportivo, antes mesmo de quaisquer evidências de um processo urbanizador.5 5 Para uma síntese a respeito das relações entre áreas urbanas e rurais, ver Maria Cristina Cortez Wissenbach, "Da escravidão à liberdade: dimensões de uma privacidade possível", In: Nicolau Secvenko (org.), História da vida privada no Brasil, vol. 3, São Paulo, Companhia das Letras, 1998, p. 513-619.

A cidade na historiografia brasileira do esporte

Muitas pesquisas brasileiras têm destacado a afinidade entre o desenvolvimento dos esportes e a urbanização das regiões onde tal processo foi realizado. Segundo tem sido argumentado, entre as décadas finais do século XIX, mas especialmente a partir dos anos iniciais do XX, populações de algumas cidades brasileiras vivenciavam uma nova experiência urbana, marcada por ideais de velocidade, dinamismo e inovação. Essa nova ambiência urbana teria em larga medida favorecido o florescimento do gosto por esportes. Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Aracaju, Recife e Natal são algumas das cidades cujas experiências esportivas têm sido estudadas sob esse ponto de vista.6 6 Sobre a história do esporte nessas cidades, bem como sua relação com o processo de urbanização, ver os artigos da coletânea organizada por Victor Melo (org.), Os sports e as cidades brasileiras: transição dos séculos 19 e 20, Rio de Janeiro, Apicuri/Faperj, 2010.

Apenas muito recentemente, porém, têm sido observadas iniciativas dedicadas a investigar de modo mais regular e sistemático a história do esporte em diferentes cidades brasileiras, como as citadas. De modo geral, prevalece ainda uma super-representação de determinadas regiões, em contraste à sub-representação de outras. De acordo com avaliação de Cesar Torres, o qual realizou recentemente um balanço da historiografia sul-americana sobre esportes, o futebol, os grupos de elite ou as regiões metropolitanas têm recebido "ampla atenção acadêmica", enquanto outras modalidades, o envolvimento de grupos étnicos minoritários, bem como amplas e importantes regiões geográficas têm sido marginalmente estudadas ou às vezes até mesmo totalmente negligenciadas.7 7 Cesar R. Torres, "South America", In: Steven W. Pope, John Nauright (eds.), Routledge companion to sports history, New York, Routledge, 2009, p. 553-569. Nesse contexto, as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo têm sido particularmente exploradas em estudos que reforçam a compreensão que vincula o desenvolvimento histórico de tais práticas a processos de expansão urbana.

De um lado, São Paulo foi a cidade brasileira que conheceu as maiores taxas de crescimento urbano ao longo de todo o século XX. O Rio de Janeiro, por outro lado, foi a primeira cuja população superou a marca dos 500.000 habitantes, ainda em 1890, pelo menos 60 anos antes, portanto, do grande surto de urbanização que faria o fenômeno repetir-se em outras regiões do Brasil. Não por acaso, o Rio manteve-se como a cidade mais populosa do país até 1960, quando foi superada, justamente, por São Paulo.8 8 Para dados até 1920 (nos intervalos de 1872, 1890 e 1900), c.f. Brasil, Anuário estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, Typographia do Departamento de Estatística e Publicidade, 1936, p. 46. Para 1960, ver Brasil, Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1960, p. 22.

Esses dois cenários estiveram desde muito cedo associados ao aparecimento do grande entusiasmo pelas práticas de esportes. No Rio de Janeiro, a transição entre os séculos XIX e XX testemunhou uma verdadeira "febre esportiva".9 9 Nicolau Secvenko, "A capital irradiante: técnica, ritmos e ritos do Rio", In: ______. (org.), História da vida privada no Brasil, vol. 3, São Paulo, Companhia das Letras, 1998, p. 513-619. A reforma urbana que afetou a cidade a partir de 1903 mantinha forte vinculação simbólica com a prática de esportes, sobretudo o remo. O prefeito Pereira Passos, um dos principais articuladores políticos desta reforma, não apenas os incentivava, como também comparecia regularmente às regatas.10 10 Gilmar Mascarenhas, "Construindo a cidade moderna: a introdução dos esportes na vida urbana do Rio de Janeiro", Estudos Históricos, Rio de Janeiro, jun. 1999, p. 17-39. ( http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/viewArticle/2086). Naquela época, ampliando o alcance de tais transformações, a cidade começaria a envolver-se emocionalmente também com o football. Por volta de 1906, já havia mais de 40 equipes, distribuídas entre diferentes bairros e envolvendo diferentes setores.11 11 Leonardo Affonso de Miranda Pereira, " Footballmania: uma história social do futebol no Rio de Janeiro, 1902-1938", Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2000.

Em São Paulo, igualmente, desde 1875, quando a cidade incluía aproximadamente 31.000 habitantes, já havia notícias da fundação de espaços como o Clube de Corrida Paulistano, o São Paulo Athletic Clube, o rinque de patinação e o Velódromo Paulistano.12 12 Fabio Franzini, "Esporte, cidade e modernidade: São Paulo", In: Victor Melo (org.), Os sports e as cidades brasileiras: transição dos séculos 19 e 20, Rio de Janeiro, Apicuri/Faperj, 2010, p. 49-70. Ao longo das primeiras décadas do século XX, à medida que cresciam as escalas urbanas da cidade, a paixão pelo esporte só se intensificava. De acordo com Nicolau Sevcenko, a partir de 1919, "o crescendo das práticas e emoções esportivas é tão palpável, que pode ser acompanhado quase que dia a dia na coluna esportiva, cada vez maior, a cada edição mais vibrante".13 13 Nicolau Secvenko, Orfeu extático na metrópole, São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20, São Paulo, Companhia das Letras, 1992, p. 44. Ainda segundo o autor, quando a cidade testemunhava uma "multiplicação ciclópica das escalas do ambiente urbano", uma inequívoca "metropolização", a Associação Paulista de Sports Athleticos "contava cerca de 150 clubes de organização regular, constituídos com mais de 15.000 moços".14 14 Ibidem, p. 19 e 52, respectivamente.

O suposto pioneirismo no desenvolvimento de práticas esportivas em ambas as cidades e o inegável alcance de tais práticas nos dois contextos têm favorecido a compreensão de que o eixo Rio-São Paulo fora um lugar privilegiado ao impulso para o desenvolvimento histórico do esporte em direção a várias regiões do Brasil. Assim, a explicação histórica do processo de difusão dos esportes no Brasil postula que tais práticas se irradiaram de regiões, cujo processo de urbanização encontrava-se mais desenvolvido, em direção àquelas em que havia menos progresso, de modo que o advento histórico do esporte no hinterland, quando existe, seria tão somente uma espécie de desdobramento daquilo que havia acontecido nos grandes centros. Victor Melo, em seu estudo sobre o desenvolvimento dos esportes no século XIX, expôs de maneira bastante explícita essa compreensão, ao afirmar que a disseminação de esportes por todo o Brasil foi intermediada pelo desenvolvimento pioneiro de tais práticas no Rio de Janeiro. Apontando esta cidade como "locus de grande parte das mudanças" que se processavam no Brasil ao longo daquele período, Melo afirmou que "o esporte chega ao Rio de Janeiro e, de certa forma, ao Brasil. [...] Logo, o caso do Rio de Janeiro é bastante interessante para compreendermos o país como um todo e até mesmo um pouco da América Latina".15 15 Victor Melo, Cidadesportiva: primórdios do esporte no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Relume-Dumará/Faperj, 2001, p. 14.

Conclusões assim foram e são até hoje reproduzidas, inserindo-se e reforçando o que Evaldo Cabral de Mello, criticando a centralidade atribuída ao Rio de Janeiro na avaliação dos destinos da nação, chamou de "tradição saquarema da historiografia brasileira", "para a qual tudo o que acontece no Brasil é através do Rio, graças ao Rio e pelo Rio" — no que poderia ser aplicado ao caso dos esportes também.16 16 Evaldo Cabral de Mello, "A festa da espoliação". Jornal do Commercio, Pernambuco, 22 de janeiro de 2008, apud, José Murilo de. Carvalho, "D. João e as histórias dos Brasis". Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 28, n. 56, 2008, p. 557. Segundo a definição oferecida pelo próprio autor, referindo-se, mais especificamente, à constituição do federalismo brasileiro, tradição saquarema da historiografia brasileira seria "a historiografia da corte fluminense e dos seus epígonos na República, para quem a história da nossa emancipação política reduz-se à da construção do Estado unitário. Nesta perspectiva apologética, a unidade do Brasil foi concebida e realizada por alguns indivíduos dotados de grande descortínio político, que tiveram a felicidade de nascer no triângulo Rio-São Paulo-Minas [...]" — Evaldo Cabral de Mello, "Frei Caneca ou a outra Independência", In: ______. (org.), Frei do Amor Divino Caneca, São Paulo, Editora 34, 2001, p. 16. Fabio Franzini, por exemplo, referindo-se ao futebol brasileiro, mas tratando na prática do futebol no Rio de Janeiro e em São Paulo, afirmou que essas duas cidades, "pela sua condição de centro político e econômico do país, vivenciaram de maneira mais próxima e intensa os passos da popularização do futebol e suas consequências".17 17 Fabio Franzini, Corações na ponta da chuteira: capítulos iniciais do futebol brasileiro (1919-1938), Rio de Janeiro, DP&A, 2003, p. 11. Da mesma forma, eu mesmo, tratando sobre a história do surfe, afirmara que:

a gênese do surfe no Brasil encontra-se no Rio de Janeiro, que foi onde a prática ganhou popularidade, gerou um mercado ao seu redor e finalmente, consolidou uma rede de atores que, dali em diante, adotaria o esporte como estilo de vida e marco formador de suas identidades.18 18 Cleber Dias, "O surfe e a moderna tradição brasileira". Movimento, Porto Alegre, vol. 15, n. 4, 2009, p. 258 ( http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/5537). Para uma autocrítica a partir do caso de surfe em Salvador, que se desenvolve sem quaisquer referências aos episódios do Rio de Janeiro, ver Cleber Dias, "Vaca longa: re-pensando a historiografia brasileira do esporte a partir do surfe na Bahia". Recorde, Rio de Janeiro, vol. 4, n. 2, 2011 ( http://www.sport.ifcs.ufrj.br/recorde/pdf/recordeV4N2_2011_21.pdf).

No entanto, o papel do Rio de Janeiro ou de outros centros metropolitanos na disseminação de esportes "por todo o Brasil", país que tem pujante diversidade cultural, além de suas conhecidas dimensões continentais, é no mínimo relativo, se não totalmente questionável. Essas condições, na verdade, impedem mesmo a identificação de um ponto único para a disseminação de esportes.19 19 No Brasil, diversos trabalhos do geógrafo Gilmar Mascarenhas de Jesus têm sublinhado essa multiplicidade de caminhos para o desenvolvimento, especificamente, do futebol no país, o que talvez possa ser estendido, com utilidade, ao estudo de outras modalidades. Como exemplo, ver Gilmar Mascarenhas de Jesus, "A via platina da introdução do futebol no Rio Grande do Sul". Lecturas, Buenos Aires, año 5, n. 26, 2000.

A história da propagação do futebol pelo Rio Grande do Sul é particularmente interessante para ilustrar o quão múltiplo e diversificado foram os caminhos para o desenvolvimento dos esportes no Brasil. De acordo com Gilmar de Jesus, que pesquisou o assunto, a difusão desta modalidade naquela região está "intimamente relacionada à influência platina". O autor também destaca que a região do Prata foi a primeira da América do Sul a conhecer uma grande força ao redor do futebol, organizando clubes e federações, além de realizar campeonatos regularmente. Os motivos para receptividade tão precoce, segundo ele, encontram-se nas próprias circunstâncias históricas que afetavam o Prata. Ao final do século XIX, interesses comerciais britânicos concentraram-se ali de forma particularmente aguda. Por volta de 1890, a Argentina já era a principal fornecedora de matéria-prima da Inglaterra, especialmente carnes, cereais e lã. Nessa época, estima-se que 40.000 ingleses viviam na Argentina, cuja capital, Buenos Aires, contava com uma população composta por 75% de estrangeiros. No Uruguai, testemunhava-se prosperidade econômica semelhante, graças, sobretudo, ao intenso comércio portuário de Montevidéu.

Em 1863, uma sucursal do Banco de Londres instalou-se na cidade, com planos para a construção de ferrovias, que se iniciaram em 1869, espraiando-se pela região platina. Em 1887, cidades como Uruguaiana, no Sudoeste do Rio Grande do Sul, eram atendidas por trilhos da Brazil Great Southern. Junto aos trilhos da estrada de ferro, o costumeiro afluxo de instituições e trabalhadores ingleses. Em pouco tempo, figuras como Lockwod Chompson apareceriam à frente de iniciativas como a criação do Esporte Clube Uruguaiana.20 20 Gilmar Mascarenhas de Jesus, "A via platina da introdução do futebol no Rio Grande do Sul". Lecturas, Buenos Aires, año 5, n. 26, 2000.

Em outros termos, o caso de Belém também é bastante ilustrativo sobre a pluralidade de formas e trajetos para a disseminação dos esportes pelo Brasil. Desde a década de 1870, a região conhece crescimento urbano progressivo, devido à exploração econômica da borracha. Em 1875, o Pará produzia 1.632 toneladas por ano, número que aumentou para mais de 7.700 toneladas em 1900, momento em que o produto passou a representar mais de 20% de todas as exportações brasileiras, ficando atrás apenas do café. Na década de 1890, período áureo da borracha, a produção brasileira, quase toda vinda do Pará, representava mais de 60% da produção mundial.21 21 Ana Maria Daou, A belle époque amazônica, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2008.

O dinamismo econômico, aliado a catástrofes naturais, como as grandes secas nordestinas de 1887 a 1890, atraiu grande contingente populacional para a região. De um lado, trabalhadores indo ao Pará à procura de melhores condições de vida; de outro, proprietários de capitais estrangeiros, fixando-se na região por encontrarem empreendimento rentável na empresa gomífera, concorrendo, dessa forma, para atmosfera de prosperidade que afetava a cidade. "Conta-se que, em Belém ou Manaus, acendiam-se charutos com notas de quinhentos mil-réis, que se tomava champanha como água, que qualquer dor de dente era curada na Europa".22 22 Maria Lígia Coelho Prado, Maria Helena Rolim Cappelato, "A borracha na economia brasileira da Primeira República". In: Sergio Buarque De Holanda (dir.), História geral da civilização brasileira, tomo III, vol. 1, 8. ed. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1989, p. 300.

Particularmente, estreitavam-se os laços do Pará com a Inglaterra — principal importador da borracha no período —, o que favorecia a assimilação de novas ideias e práticas, entre as quais os esportes. Não por acaso, desde os fins do século XIX já se registravam as primeiras práticas esportivas em Belém. Mais do que certa simultaneidade com o desenvolvimento esportivo do Rio de Janeiro e de São Paulo, os esportes, em Belém, eram alheios mesmo a quaisquer influências vindas dessas cidades. Na verdade, Londres e Paris funcionavam como polos de atração para as ambições esportivas das elites paraenses, interessadas, afinal, em plasmar seus modelos de civilidade. Em 1889, no momento em se fundava o Sport-Club do Pará, diante de um público "numeroso e escolhido", jornais locais brindavam a iniciativa como uma "esplêndida ideia". Segundo dizia-se, "esse divertimento [os sports], tão em voga em Paris e Londres, e já tão introduzido na educação, não podia ser olvidado na capital do Pará". A fim de incentivar os protagonistas da iniciativa, Patroni, articulista do jornal O Liberal do Pará, se apressou em recorrer a exemplos de Paris. Nas suas palavras,

o Racing-Club, no Bosque de Bolonha, em Paris, começou apenas com 10 ou 12 sócios e este número elevou-se logo depois a 500. Com trabalho e perseverança se vencem as dificuldades que surgem no começo de qualquer empresa. Avente, pois!23 23 Patroni, "Na arena", O liberal do Pará, Belém, 02 out. 1889, n. 222, p. 3.

Desde então, notícias sobre acontecimentos esportivos de Paris, Londres ou Nova Iorque figurariam regularmente nas páginas dos jornais paraenses. O mesmo, contudo, não se pode dizer com relação às notícias esportivas do Rio de Janeiro ou de São Paulo. Para se dimensionar tais diferenças, basta dizer que, em 1904, a biblioteca da sede do Sport-Club dispunha da assinatura de 27 periódicos, dos quais apenas dois eram do Rio de Janeiro. O restante, excetuando-se quatro publicados na própria capital paraense, eram advindos da Europa: dez da França, cinco da Inglaterra, três de Portugal, dois da Alemanha e um da Espanha.24 24 Sport-Club do Pará, Relatório apresentado pela Directoria do Sport-Club do Pará em sessão de Assembleia Geral de 30 de janeiro de 1904, Belém, Secção de Obras d'A Província do Pará, 1904.

Situações como essas, em que o esporte floresce simultaneamente, paralelamente e até independentemente de influências do Rio de Janeiro ou de São Paulo registram-se também, já bem documentadas, em Recife, Salvador e São Luís.25 25 Ver Givanildo Alves, História do futebol em Pernambuco, 2 ed., Recife, Bagaço, 1998; Coriolano Pereira Rocha Junior, Fernando Reis do E. Santo, "Futebol em Salvador: o início de uma história (1899-1920)", Movimento, Porto Alegre, vol. 17, n. 3, p. 2011, p. 79-95 ( http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/17683); Claunísio Amorim Carvalho, Terra, grama e paralelepípedos: os primeiros tempos do futebol em São Luis (1906-1930), São Luis, Café & Lápis, 2009. Aliás, muitas das cidades do Norte e do Nordeste estabeleceram forte intercâmbio entre si. Por volta do início da década de 1920, foram comuns as competições e os festivais entre times de Recife, Belém, Manaus, São Luís e Parnaíba, no Piauí.

Esporte e ruralidade na hinterlândia brasileira

Além da multiplicidade de formas e trajetos para a disseminação dos esportes no Brasil, relativizando a influência dos grandes centros metropolitanos nesse processo, o papel explicativo causal da urbanização também pode ser seriamente reavaliado. Até os dias de hoje, cidades como Jutaí, Amaturá, Olivença, Eirunepé, Carauari ou Manacapuru, no Amazonas, entre muitas outras, com população inferior a 10.000 habitantes e densidade populacional baixa se comparadas às maiores metrópoles brasileiras, conhecem, assim mesmo, o grande entusiasmo e envolvimento com a prática de esportes. Todos os anos, populações dessas cidades mobilizam-se para enviar suas equipes à Copa dos Rios, competição organizada desde 1992 pela Federação Amazonense de Futebol. Estendendo-se por meses, os jogos deste campeonato reúnem centenas de jogadores, de cidades separadas às vezes por mais de 20 horas de viagens de barco de Manaus, que é a região metropolitana mais próxima. A condição essencialmente rural de tais locais, porém, não parece impedir, nem diminuir, o desenvolvimento do gosto pelo esporte, como o prova o próprio sucesso e longevidade da Copa dos Rios, para não citar outras competições.26 26 Para uma descrição da Copa dos Rios, ver Mario Magalhães, Viagem ao país do futebol, São Paulo, DBA Artes Gráficas, 1998. Outro bom exemplo seria o Campeonato de Peladas do Amazonas, popularmente conhecido como "Peladão". Realizado desde 1973, o torneio reúne atualmente mais de 27.000 jogadores, distribuídos em mais de 1.000 equipes, que se enfrentam em 80 campos de futebol por seis meses (c.f. Alex Bellos, Futebol: o Brasil em campo, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2002, especialmente capítulo 11).

Em verdade, o próprio entendimento a respeito da classificação dessas "cidades" pode ser motivo de controvérsia. Embora oficialmente classificadas como "urbanas", tratam-se, no limite, de zonas de povoamento efetivamente distantes de quaisquer indícios de uma experiência social propriamente classificável em tais termos. José Eli da Veiga apresentou um interessante questionamento neste sentido, criticando a definição de cidade adotada pelas pesquisas censitárias no Brasil desde 1938, quando o decreto-lei 311 estabeleceu, em seu artigo terceiro, que as sedes dos municípios considerar-se-iam sempre como "cidades", a despeito de suas funções, tamanhos ou situação. Desde então, um dos efeitos desse dispositivo legal, segundo o autor, tem sido a distorção das reais proporções entre a população brasileira que vive no campo e àquela que vive na zona urbana.

De acordo com a definição usualmente adotada nos censos brasileiros, em 2000, "cidades" como Vitória do Jari, no Amapá, com população inferior a 10.000 pessoas e densidade demográfica de 0,3 habitantes por quilômetro quadrado, são oficialmente classificadas como áreas urbanas. Adotando-se, porém, outros critérios, como os da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico, que prescreve densidade mínima de 150 habitantes por quilômetro quadrado para definir uma área urbana, apenas 411 dos 5.507 municípios brasileiros enquadrar-se-iam em tais termos, diminuindo em pelo menos 10% o índice da população brasileira que vive em "cidades".27 27 José Eli da Veiga, Cidades imaginá rias: o Brasil é menos urbano do que se imagina, Campinas, Autores Associados, 2002.

Se dados pertencentes ao final do século XX podem ser relativizados nesses termos, o que dizer de períodos anteriores ao surto de urbanização que atingiu o país após 1950? Para 1940, por exemplo, já sob os critérios de definição de cidade do decreto-lei 311, dados oficiais registraram 31% da população brasileira vive do em zonas rurais. Naquela época, os esportes, em geral, e o futebol, em particular, eram fenômenos amplamente disseminados por quase todo o país. À luz do modelo teórico que vincula o desenvolvimento do esporte à cidade e à urbanização, nesse contexto, haveria basicamente duas possibilidades: ou essa efervescência esportiva não afetava 31% da população brasileira, restringindo-se a regiões urbanizadas, ou o modelo teórico não se aplicava inteiramente ao Brasil.

A historiografia disponível a esse respeito é limitadíssima, dado que regiões rurais da hinterlândia, em geral, praticamente não foram ainda estudadas. Nesse contexto, um caso como o de Goiás ilustra as possibilidades ou mesmo as necessidades de uma reavaliação das relações teóricas estabelecidas entre esporte e cidade.

Em Goiás, datam de meados da década de 1910 os primeiros registros de práticas esportivas na região, nomeadamente a realização de jogos de futebol. Nesse momento, têm-se notícias de partidas em pelo menos quatro cidades: Pirenópolis, Catalão, Anápolis e Goiás, capital do estado.28 28 Cleber Dias. "Primórdios do futebol em Goiás, 1907-1936". Revista de História Regional, Maringá, vol. 18, n. 1, no prelo. Algumas delas viveram, então, um salto desenvolvimentista, sobretudo Anápolis e mais ainda Catalão — durante algum tempo a cidade mais populosa de Goiás. A proximidade com cidades do Triângulo Mineiro, atendidas por linhas da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro desde 1889, estimulava sobremaneira o crescimento de Catalão. Em 1910, três anos antes da chegada da linha férrea, jornais da cidade já noticiavam "a chegada constante de novo pessoal" e até "a falta de casas para aluguel", devido à aproximação da linha férrea, conforme os próprios contemporâneos diagnosticavam.29 29 Gazeta de Catalão, 20 dez. 1910, apud, Antônio Miguel Jorge Chaud, Memorial do Catalão, Goiânia, Editora do Autor, 2000.

O início das atividades da Estrada de Ferro Goiás, em 1913, desempenhou papel fundamental numa série de transformações. A partir de 1917, registrar-se-iam crescimentos progressivos nos índices de exportação dos produtos agropastoris em Goiás. Em 1920, tal estado era o quarto maior produtor de arroz no Brasil. Ao mesmo tempo, a população da região chegou a crescer acima da média nacional nessa época. Logo, alterações nos padrões de comportamentos da região seriam notadas.30 30 Barsanufo Gomes Borges, O despertar dos dormentes, Goiânia, Editora da Universidade Federal de Goiás, 1990; Ana Lúcia da Silva, A revolução de 30 em Goiás, 2 ed., Goiânia, Cânone, 2005. Em 1913, fundou-se o Catalão Futebol Clube, uma das primeiras equipes esportivas a criar-se mais formalmente na região. Nove anos depois, em 1922, o Leão do Cerrado, como ficou conhecido o clube, inaugurava, inclusive, sua praça de esportes.

Em que pese essas transformações, notáveis sob muitos aspectos, Goiás ainda era fundamentalmente uma região rural. Em princípios de 1930, quando eram contabilizados mais de 130 automóveis no estado — aparatos tomados quase sempre como índices inequívocos de progresso e modernidade —, sabia-se também da existência de pelo menos 150 carros de boi em cada um dos municípios goianos.31 31 Wilson Cavalcanti Nogueira, Pires do Rio: marco da historia de Goiás, Goiânia, Roriz, 1977, p. 33. Não por acaso, o empenho do poder público em ampliar a malha rodoviária goiana foi acompanhado por preocupações constantes com o estrago provocado pelas pesadas rodas de madeira dos carros de boi.32 32 Nova estrada para carro de bois. Correio Official, Goyaz, 04 de setembro de 1920, n. 287, p. 11.

Até anos avançados do século XX, as formas de ocupação laboral predominantes na região, excluindo-se as atividades domésticas não remuneradas, os inativos ou aqueles ocupados em "condições mal definidas", que juntos somavam 52%, davam ainda testemunhos da natureza rural da vida em Goiás. Segundo dados dos censos demográfico e econômico de 1940, mais de 38% da população goiana economicamente ativa empregava-se em trabalhos diretamente ligados à agricultura e à pecuária. Apesar de serem considerados outros ramos de atividade, mais modernos e simbolicamente ligados ao ambiente urbano das cidades, como o "comércio de mercadorias" ou o setor de "transportes e comunicação", responsáveis por pouco menos de 4% das ocupações laborais em Goiás, encontravam-se, grosso modo, trabalhadores empregados no "transporte à tração animal" ou na "venda de gêneros alimentícios e produtos agropecuários".33 33 Brasil, Recenseamento geral do Brasil, vol. 21, Rio de Janeiro, Serviço Gráfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1952, p. 94. Não é sem motivo, portanto, que diversas cidades goianas permaneceriam por muito tempo ainda sendo representadas como "lugares de poeira e lama", "sem atrativos de ordem urbanística", com suas características construções realizadas com "muros de adobe de barro, revestidos com reboque aqui e ali, feito de areia misturada com bosta fresca de vaca".34 34 Joaquim Rosa, Por esse Goiás afora, Goiânia, Cultura Goiana, 1974, passim.

Apesar disso, a organização de práticas esportivas não deixou de ser realizada. A partir da década de 1920, jogos de futebol ou outras práticas esportivas em alguns casos, como corridas a pé, foram registradas em Natividade, Porto Nacional, Jaraguá, Ipameri, Morrinhos, Santa Rita, Itumbiara, Bela Vista, Leopoldo de Bulhões, Buriti Alegre, Rio Verde e Rio Bonito, sendo algumas delas distantes do raio de transformação que afetava o Estado. Mais que isso, competições esportivas entre equipes dessas cidades agitavam cada vez mais regularmente o cotidiano dessas populações.35 35 c.f. Cleber Dias, Primórdios do futebol em Goiás, 1907-1936, Revista de História Regional, Maringá, vol. 18, n. 1, no prelo

Nesse ambiente, a assimilação de práticas modernas, como os "sports", acontecia perpassada por um sem números de hábitos e costumes tradicionais. Viagens para realização de partidas de futebol, além de valerem-se simultaneamente de cavalos e automóveis, combinando, portanto, o antigo e o moderno, aconteciam com especial júbilo e entusiasmo durante as tradicionais festividades e romarias, notadamente as de São João, Bom Jesus e do Divino Espírito Santo.36 36 Ibidem.

O caso talvez mais paradigmático acerca das possibilidades de desenvolvimento esportivo em situações não urbanas foi o dos indígenas, que se dedicam apaixonadamente aos esportes, sobretudo ao futebol.37 37 Em 1927, o antropólogo Helbert Baldus, em visita à aldeia Guarani do Bananal, no interior do Estado de São Paulo, registrava a existência de um "campo de football que satisfaria a qualquer sport-club branco. Alguns têm até uniformes e sapatos de footballistas" (Herbert Baldus, "Ligeiras notas sobre os índios Guarani do litoral paulista", Revista do Museu Paulista, São Paulo, vol. 16, 1929, p. 88). Entre 1958 e 1964, realizando trabalho de campo entre os Xavantes, no Mato Grosso, David Maybury-Lewis também registrara "a paixão, ou pode-se mesmo dizer, o vício do futebol". De acordo com ele, já naquela época, "todos jogavam, jovens e velhos, e a toda hora" (David Maybury-Lewis, A sociedade xavante, Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1984, p. 61). Para uma síntese de registros etnográficos mais recentes do envolvimento indígena com esportes, ver Cleber Dias, Esporte, lazer e culturas tradicionais, In: Ana Márcia Silva; José Luíz Cirqueira Falcão; Tatiana Tucunduva (orgs.), Práticas corporais em comunidades quilombolas de Goiás, Goiânia, Editora da PUC/GO, 2011, p. 93-117. Em Goiás, especificamente, o Serviço de Proteção aos Índios, criado em 1910, estabeleceu, em 1927, o Posto Redenção Indígena, na Ilha do Bananal, localizado na fronteira entre o Mato Grosso e o Norte de Goiás (atualmente Tocantins). Darcy Bandeira de Mello, funcionário do posto e antigo praticante de natação, remo, atletismo, equitação e tiro na Associação Atlética de São Paulo, começou a animar a prática de esportes entre os "silvícolas do sertão", particularmente a natação, o polo aquático e o futebol. Lauro de Alencar Castello Branco, professor da escola dos meninos que funcionava ali, também se dedicava com muito interesse à organização dos esportes na ilha.38 38 c.f. Cleber Dias, "A Igreja, o Estado e a bola: história do esporte entre os índios do Brasil Central". Pensar a Prática, Goiânia, vol. 15, n. 1, 2012, p. 148-175 ( http://www.revistas.ufg.br/index.php/fef/article/view/17069).

Por volta de 1929, relatórios oficiais reportavam a existência do Esporte Clube Índio Carajá, que havia realizado 31 treinos e 7 jogos oficiais.39 39 Manuel Silvino Bandeira de Mello, Relatório apresentado ao Snr. Tenente-Coronel Alencarliense Fernandes da Costa, Goiás, Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, 1931, parte segunda, quadro número 23, s./p. Rapidamente, tais partidas mobilizaram a atenção, não só dos residentes do posto, que incluía índios e brancos, mas também de órgãos da imprensa e outros interessados, os quais viam nelas uma "curiosa iniciativa cultural", conforme palavras de Durval Borges.40 40 Durval Rosa Sarmento Borges, Rio Araguia: corpo e alma, São Paulo, Ibrasa, 1986, p. 360.

Considerações finais

A crítica que apresentei à urbanização e ao crescimento das cidades como variável explicativa da emergência histórica dos esportes não pretende negar a correlação entre ambas as entidades: os esportes e as cidades. Em várias situações, os dois fenômenos estiveram, de fato, historicamente relacionados, conforme demonstram diversos estudos. Tais elementos, porém, não necessariamente estiveram presentes em todas as situações, como este trabalho esforçou-se por mostrar. O florescimento de práticas esportivas em ambientes pouco ou nada urbanizados às vezes nem sequer sofreu influências significativas de centros metropolitanos. Nesses casos, outras regiões da hinterlândia impulsionavam o incremento do esporte.

Mas qual seriam então os aspectos a oferecer explicações causais para esses casos, que não a urbanização? Algumas hipóteses alternativas talvez fossem possíveis. No entanto, menos que substituir uma "teoria" por outra, talvez fosse mais adequado apenas abandonar grandes impulsos de generalização, dedicando-se, ao invés disso, à explicação de situações particulares, dentro de suas próprias especificidades, valorizando, assim, a singularidade dos fatos históricos. A explicação histórica causal, diferentemente do modelo explicativo das Ciências Naturais, independe de grandes teorias e enunciados gerais. Aliás, nas Ciências Humanas, em geral, até mesmo o reconhecimento consensual da existência de "teorias" é controverso.41 41 C.f. Luis de Gusmão, O fetichismo do conceito: conhecimento teórico na investigação social. Rio de Janeiro: Topbooks, 2012. Teorias históricas, como bem dissera Isaiah Berlin, nunca ofereceram aos historiadores asas para transpor grandes territórios com rapidez. Ao invés disso, dizia Berlin,

continuamos a confiar nos que passaram suas vidas montando seu conhecimento a partir dos fragmentos de provas reais [...] não importa o quanto fosse estranho o padrão, ou mesmo sem a consciência de qualquer padrão que fosse.42 42 Isaiah Berlin, O sentido da realidade, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1999, p. 24.

Artigo recebido em 03 de agosto de 2012 e aprovado para publicação em 17 de outubro de 2012.

  • 1 Ralph C. Wilcox, David L. Andrews, "Sport in the city: cultural, economic, and political portraits", In: Ralph C. Wilcox, David L. Andrews, Robert Pitter, Richard L. Irwin. (eds.), Sporting Dystopias: the making and meanings of urban sport cultures, New York, State University of New York Press, 2003, p. 1-16.
  • 2 Dale Somers, The rise of sports in New Orleans, 1850-1900, Baton Rouge, Lousiana State University Press, 1972.
  • 3 Stephen Hardy, How Boston played: sport, recreation, and community, 1865-1915, Boston, Northeastern University Press, 1982.
  • 4 Steve Riess, City games: the evolution of American urban society and the rise of sports, Chicago, University of Illinois Press, 1989.
  • 5 Para uma síntese a respeito das relações entre áreas urbanas e rurais, ver Maria Cristina Cortez Wissenbach, "Da escravidão à liberdade: dimensões de uma privacidade possível", In: Nicolau Secvenko (org.), História da vida privada no Brasil, vol. 3, São Paulo, Companhia das Letras, 1998, p. 513-619.
  • 6 Sobre a história do esporte nessas cidades, bem como sua relação com o processo de urbanização, ver os artigos da coletânea organizada por Victor Melo (org.), Os sports e as cidades brasileiras: transição dos séculos 19 e 20, Rio de Janeiro, Apicuri/Faperj, 2010.
  • 7 Cesar R. Torres, "South America", In: Steven W. Pope, John Nauright (eds.), Routledge companion to sports history, New York, Routledge, 2009, p. 553-569.
  • 8
    8 Para dados até 1920 (nos intervalos de 1872, 1890 e 1900), c.f. Brasil, Anuário estatístico do Brasil Rio de Janeiro, Typographia do Departamento de Estatística e Publicidade, 1936, p. 46.
  • Para 1960, ver Brasil, Anuário Estatístico do Brasil Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1960, p. 22.
  • 9 Nicolau Secvenko, "A capital irradiante: técnica, ritmos e ritos do Rio", In: ______. (org.), História da vida privada no Brasil, vol. 3, São Paulo, Companhia das Letras, 1998, p. 513-619.
  • 10 Gilmar Mascarenhas, "Construindo a cidade moderna: a introdução dos esportes na vida urbana do Rio de Janeiro", Estudos Históricos, Rio de Janeiro, jun. 1999, p. 17-39. (http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/viewArticle/2086).
  • 11 Leonardo Affonso de Miranda Pereira, "Footballmania: uma história social do futebol no Rio de Janeiro, 1902-1938", Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2000.
  • 12 Fabio Franzini, "Esporte, cidade e modernidade: São Paulo", In: Victor Melo (org.), Os sports e as cidades brasileiras: transição dos séculos 19 e 20, Rio de Janeiro, Apicuri/Faperj, 2010, p. 49-70.
  • 13 Nicolau Secvenko, Orfeu extático na metrópole, São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20, São Paulo, Companhia das Letras, 1992, p. 44.
  • 14Ibidem, p. 19 e 52, respectivamente.15 Victor Melo, Cidadesportiva: primórdios do esporte no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Relume-Dumará/Faperj, 2001, p. 14.
  • 16 Evaldo Cabral de Mello, "A festa da espoliação". Jornal do Commercio, Pernambuco, 22 de janeiro de 2008, apud, José Murilo de. Carvalho, "D. João e as histórias dos Brasis". Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 28, n. 56, 2008, p. 557.
  • Segundo a definição oferecida pelo próprio autor, referindo-se, mais especificamente, à constituição do federalismo brasileiro, tradição saquarema da historiografia brasileira seria "a historiografia da corte fluminense e dos seus epígonos na República, para quem a história da nossa emancipação política reduz-se à da construção do Estado unitário. Nesta perspectiva apologética, a unidade do Brasil foi concebida e realizada por alguns indivíduos dotados de grande descortínio político, que tiveram a felicidade de nascer no triângulo Rio-São Paulo-Minas [...]" Evaldo Cabral de Mello, "Frei Caneca ou a outra Independência", In: ______. (org.), Frei do Amor Divino Caneca, São Paulo, Editora 34, 2001, p. 16.
  • 17 Fabio Franzini, Corações na ponta da chuteira: capítulos iniciais do futebol brasileiro (1919-1938), Rio de Janeiro, DP&A, 2003, p. 11.
  • 18 Cleber Dias, "O surfe e a moderna tradição brasileira". Movimento, Porto Alegre, vol. 15, n. 4, 2009, p. 258 (http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/5537).
  • Para uma autocrítica a partir do caso de surfe em Salvador, que se desenvolve sem quaisquer referências aos episódios do Rio de Janeiro, ver Cleber Dias, "Vaca longa: re-pensando a historiografia brasileira do esporte a partir do surfe na Bahia". Recorde, Rio de Janeiro, vol. 4, n. 2, 2011 (http://www.sport.ifcs.ufrj.br/recorde/pdf/recordeV4N2_2011_21.pdf).
  • 19 No Brasil, diversos trabalhos do geógrafo Gilmar Mascarenhas de Jesus têm sublinhado essa multiplicidade de caminhos para o desenvolvimento, especificamente, do futebol no país, o que talvez possa ser estendido, com utilidade, ao estudo de outras modalidades. Como exemplo, ver Gilmar Mascarenhas de Jesus, "A via platina da introdução do futebol no Rio Grande do Sul". Lecturas, Buenos Aires, año 5, n. 26, 2000.
  • 20 Gilmar Mascarenhas de Jesus, "A via platina da introdução do futebol no Rio Grande do Sul". Lecturas, Buenos Aires, año 5, n. 26, 2000.
  • 21 Ana Maria Daou, A belle époque amazônica, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2008.
  • 22 Maria Lígia Coelho Prado, Maria Helena Rolim Cappelato, "A borracha na economia brasileira da Primeira República". In: Sergio Buarque De Holanda (dir.), História geral da civilização brasileira, tomo III, vol. 1, 8. ed. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1989, p. 300.
  • 23 Patroni, "Na arena", O liberal do Pará, Belém, 02 out. 1889, n. 222, p. 3.
  • 24 Sport-Club do Pará, Relatório apresentado pela Directoria do Sport-Club do Pará em sessão de Assembleia Geral de 30 de janeiro de 1904, Belém, Secção de Obras d'A Província do Pará, 1904.
  • 25 Ver Givanildo Alves, História do futebol em Pernambuco, 2 ed., Recife, Bagaço, 1998;
  • Coriolano Pereira Rocha Junior, Fernando Reis do E. Santo, "Futebol em Salvador: o início de uma história (1899-1920)", Movimento, Porto Alegre, vol. 17, n. 3, p. 2011, p. 79-95 (http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/17683);
  • Claunísio Amorim Carvalho, Terra, grama e paralelepípedos: os primeiros tempos do futebol em São Luis (1906-1930), São Luis, Café & Lápis, 2009.
  • Aliás, muitas das cidades do Norte e do Nordeste estabeleceram forte intercâmbio entre si. Por volta do início da década de 1920, foram comuns as competições e os festivais entre times de Recife, Belém, Manaus, São Luís e Parnaíba, no Piauí.26 Para uma descrição da Copa dos Rios, ver Mario Magalhães, Viagem ao país do futebol, São Paulo, DBA Artes Gráficas, 1998. Outro bom exemplo seria o Campeonato de Peladas do Amazonas, popularmente conhecido como "Peladão". Realizado desde 1973, o torneio reúne atualmente mais de 27.000 jogadores, distribuídos em mais de 1.000 equipes, que se enfrentam em 80 campos de futebol por seis meses (c.f. Alex Bellos, Futebol: o Brasil em campo, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2002, especialmente capítulo 11).
  • 27 José Eli da Veiga, Cidades imaginárias: o Brasil é menos urbano do que se imagina, Campinas, Autores Associados, 2002.
  • 28 Cleber Dias. "Primórdios do futebol em Goiás, 1907-1936". Revista de História Regional, Maringá, vol. 18, n. 1, no prelo.
  • 29Gazeta de Catalão, 20 dez. 1910, apud, Antônio Miguel Jorge Chaud, Memorial do Catalão, Goiânia, Editora do Autor, 2000.
  • 30 Barsanufo Gomes Borges, O despertar dos dormentes, Goiânia, Editora da Universidade Federal de Goiás, 1990;
  • Ana Lúcia da Silva, A revolução de 30 em Goiás, 2 ed., Goiânia, Cânone, 2005.
  • 31 Wilson Cavalcanti Nogueira, Pires do Rio: marco da historia de Goiás, Goiânia, Roriz, 1977, p. 33.
  • 32 Nova estrada para carro de bois. Correio Official, Goyaz, 04 de setembro de 1920, n. 287, p. 11.
  • 33 Brasil, Recenseamento geral do Brasil, vol. 21, Rio de Janeiro, Serviço Gráfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1952, p. 94.
  • 34 Joaquim Rosa, Por esse Goiás afora, Goiânia, Cultura Goiana, 1974, passim.
  • 35 c.f. Cleber Dias, Primórdios do futebol em Goiás, 1907-1936, Revista de História Regional, Maringá, vol. 18, n. 1, no prelo36Ibidem.
  • 37 Em 1927, o antropólogo Helbert Baldus, em visita à aldeia Guarani do Bananal, no interior do Estado de São Paulo, registrava a existência de um "campo de football que satisfaria a qualquer sport-club branco. Alguns têm até uniformes e sapatos de footballistas" (Herbert Baldus, "Ligeiras notas sobre os índios Guarani do litoral paulista", Revista do Museu Paulista, São Paulo, vol. 16, 1929, p. 88).
  • Entre 1958 e 1964, realizando trabalho de campo entre os Xavantes, no Mato Grosso, David Maybury-Lewis também registrara "a paixão, ou pode-se mesmo dizer, o vício do futebol". De acordo com ele, já naquela época, "todos jogavam, jovens e velhos, e a toda hora" (David Maybury-Lewis, A sociedade xavante, Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1984, p. 61).
  • Para uma síntese de registros etnográficos mais recentes do envolvimento indígena com esportes, ver Cleber Dias, Esporte, lazer e culturas tradicionais, In: Ana Márcia Silva; José Luíz Cirqueira Falcão; Tatiana Tucunduva (orgs.), Práticas corporais em comunidades quilombolas de Goiás, Goiânia, Editora da PUC/GO, 2011, p. 93-117.
  • 38 c.f. Cleber Dias, "A Igreja, o Estado e a bola: história do esporte entre os índios do Brasil Central". Pensar a Prática, Goiânia, vol. 15, n. 1, 2012, p. 148-175 (http://www.revistas.ufg.br/index.php/fef/article/view/17069).
  • 39 Manuel Silvino Bandeira de Mello, Relatório apresentado ao Snr. Tenente-Coronel Alencarliense Fernandes da Costa, Goiás, Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, 1931, parte segunda, quadro número 23, s./p.
  • 40 Durval Rosa Sarmento Borges, Rio Araguia: corpo e alma, São Paulo, Ibrasa, 1986, p. 360.
  • 41 C.f. Luis de Gusmão, O fetichismo do conceito: conhecimento teórico na investigação social. Rio de Janeiro: Topbooks, 2012.
  • 42 Isaiah Berlin, O sentido da realidade, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1999, p. 24.
  • 1
    Ralph C. Wilcox, David L. Andrews, "Sport in the city: cultural, economic, and political portraits",
    In: Ralph C. Wilcox, David L. Andrews, Robert Pitter, Richard L. Irwin. (eds.),
    Sporting Dystopias: the making and meanings of urban sport cultures, New York, State University of New York Press, 2003, p. 1-16.
  • 2
    Dale Somers,
    The rise of sports in New Orleans, 1850-1900, Baton Rouge, Lousiana State University Press, 1972.
  • 3
    Stephen Hardy,
    How Boston played: sport, recreation, and community, 1865-1915, Boston, Northeastern University Press, 1982.
  • 4
    Steve Riess,
    City games: the evolution of American urban society and the rise of sports, Chicago, University of Illinois Press, 1989.
  • 5
    Para uma síntese a respeito das relações entre áreas urbanas e rurais, ver Maria Cristina Cortez Wissenbach, "Da escravidão à liberdade: dimensões de uma privacidade possível",
    In: Nicolau Secvenko (org.),
    História da vida privada no Brasil, vol. 3, São Paulo, Companhia das Letras, 1998, p. 513-619.
  • 6
    Sobre a história do esporte nessas cidades, bem como sua relação com o processo de urbanização, ver os artigos da coletânea organizada por Victor Melo (org.),
    Os sports e as cidades brasileiras: transição dos séculos 19 e 20, Rio de Janeiro, Apicuri/Faperj, 2010.
  • 7
    Cesar R. Torres, "South America",
    In: Steven W. Pope, John Nauright (eds.),
    Routledge companion to sports history, New York, Routledge, 2009, p. 553-569.
  • 8
    Para dados até 1920 (nos intervalos de 1872, 1890 e 1900), c.f. Brasil,
    Anuário estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, Typographia do Departamento de Estatística e Publicidade, 1936, p. 46. Para 1960, ver Brasil,
    Anuário Estatístico do Brasil. Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1960, p. 22.
  • 9
    Nicolau Secvenko, "A capital irradiante: técnica, ritmos e ritos do Rio",
    In: ______. (org.),
    História da vida privada no Brasil, vol. 3, São Paulo, Companhia das Letras, 1998, p. 513-619.
  • 10
    Gilmar Mascarenhas, "Construindo a cidade moderna: a introdução dos esportes na vida urbana do Rio de Janeiro",
    Estudos Históricos, Rio de Janeiro, jun. 1999, p. 17-39. (
  • 11
    Leonardo Affonso de Miranda Pereira, "
    Footballmania: uma história social do futebol no Rio de Janeiro, 1902-1938", Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2000.
  • 12
    Fabio Franzini, "Esporte, cidade e modernidade: São Paulo",
    In: Victor Melo (org.),
    Os sports e as cidades brasileiras: transição dos séculos 19 e 20, Rio de Janeiro, Apicuri/Faperj, 2010, p. 49-70.
  • 13
    Nicolau Secvenko,
    Orfeu extático na metrópole, São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20, São Paulo, Companhia das Letras, 1992, p. 44.
  • 14
    Ibidem, p. 19 e 52, respectivamente.
  • 15
    Victor Melo,
    Cidadesportiva: primórdios do esporte no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Relume-Dumará/Faperj, 2001, p. 14.
  • 16
    Evaldo Cabral de Mello, "A festa da espoliação".
    Jornal do Commercio, Pernambuco, 22 de janeiro de 2008,
    apud, José Murilo de. Carvalho, "D. João e as histórias dos Brasis".
    Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 28, n. 56, 2008, p. 557. Segundo a definição oferecida pelo próprio autor, referindo-se, mais especificamente, à constituição do federalismo brasileiro, tradição saquarema da historiografia brasileira seria "a historiografia da corte fluminense e dos seus epígonos na República, para quem a história da nossa emancipação política reduz-se à da construção do Estado unitário. Nesta perspectiva apologética, a unidade do Brasil foi concebida e realizada por alguns indivíduos dotados de grande descortínio político, que tiveram a felicidade de nascer no triângulo Rio-São Paulo-Minas [...]" — Evaldo Cabral de Mello, "Frei Caneca ou a outra Independência",
    In: ______. (org.),
    Frei do Amor Divino Caneca, São Paulo, Editora 34, 2001, p. 16.
  • 17
    Fabio Franzini,
    Corações na ponta da chuteira: capítulos iniciais do futebol brasileiro (1919-1938), Rio de Janeiro, DP&A, 2003, p. 11.
  • 18
    Cleber Dias, "O surfe e a moderna tradição brasileira".
    Movimento, Porto Alegre, vol. 15, n. 4, 2009, p. 258 (
    http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/5537). Para uma autocrítica a partir do caso de surfe em Salvador, que se desenvolve sem quaisquer referências aos episódios do Rio de Janeiro, ver Cleber Dias, "Vaca longa: re-pensando a historiografia brasileira do esporte a partir do surfe na Bahia".
    Recorde, Rio de Janeiro, vol. 4, n. 2, 2011 (
  • 19
    No Brasil, diversos trabalhos do geógrafo Gilmar Mascarenhas de Jesus têm sublinhado essa multiplicidade de caminhos para o desenvolvimento, especificamente, do futebol no país, o que talvez possa ser estendido, com utilidade, ao estudo de outras modalidades. Como exemplo, ver Gilmar Mascarenhas de Jesus, "A via platina da introdução do futebol no Rio Grande do Sul".
    Lecturas, Buenos Aires, año 5, n. 26, 2000.
  • 20
    Gilmar Mascarenhas de Jesus, "A via platina da introdução do futebol no Rio Grande do Sul".
    Lecturas, Buenos Aires, año 5, n. 26, 2000.
  • 21
    Ana Maria Daou,
    A belle époque amazônica, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2008.
  • 22
    Maria Lígia Coelho Prado, Maria Helena Rolim Cappelato, "A borracha na economia brasileira da Primeira República". In: Sergio Buarque De Holanda (dir.),
    História geral da civilização brasileira, tomo III, vol. 1, 8. ed. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1989, p. 300.
  • 23
    Patroni, "Na arena",
    O liberal do Pará, Belém, 02 out. 1889, n. 222, p. 3.
  • 24
    Sport-Club do Pará,
    Relatório apresentado pela Directoria do Sport-Club do Pará em sessão de Assembleia Geral de 30 de janeiro de 1904, Belém, Secção de Obras d'A Província do Pará, 1904.
  • 25
    Ver Givanildo Alves,
    História do futebol em Pernambuco, 2 ed., Recife, Bagaço, 1998; Coriolano Pereira Rocha Junior, Fernando Reis do E. Santo, "Futebol em Salvador: o início de uma história (1899-1920)",
    Movimento, Porto Alegre, vol. 17, n. 3, p. 2011, p. 79-95 (
    Terra, grama e paralelepípedos: os primeiros tempos do futebol em São Luis (1906-1930), São Luis, Café & Lápis, 2009. Aliás, muitas das cidades do Norte e do Nordeste estabeleceram forte intercâmbio entre si. Por volta do início da década de 1920, foram comuns as competições e os festivais entre times de Recife, Belém, Manaus, São Luís e Parnaíba, no Piauí.
  • 26
    Para uma descrição da Copa dos Rios, ver Mario Magalhães,
    Viagem ao país do futebol, São Paulo, DBA Artes Gráficas, 1998. Outro bom exemplo seria o Campeonato de Peladas do Amazonas, popularmente conhecido como "Peladão". Realizado desde 1973, o torneio reúne atualmente mais de 27.000 jogadores, distribuídos em mais de 1.000 equipes, que se enfrentam em 80 campos de futebol por seis meses (c.f. Alex Bellos,
    Futebol: o Brasil em campo, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2002, especialmente capítulo 11).
  • 27
    José Eli da Veiga,
    Cidades imaginá
    rias: o Brasil é menos urbano do que se imagina, Campinas, Autores Associados, 2002.
  • 28
    Cleber Dias. "Primórdios do futebol em Goiás, 1907-1936".
    Revista de História Regional, Maringá, vol. 18, n. 1, no prelo.
  • 29
    Gazeta de Catalão, 20 dez. 1910,
    apud, Antônio Miguel Jorge Chaud,
    Memorial do Catalão, Goiânia, Editora do Autor, 2000.
  • 30
    Barsanufo Gomes Borges,
    O despertar dos dormentes, Goiânia, Editora da Universidade Federal de Goiás, 1990; Ana Lúcia da Silva,
    A revolução de 30 em Goiás, 2 ed., Goiânia, Cânone, 2005.
  • 31
    Wilson Cavalcanti Nogueira,
    Pires do Rio: marco da historia de Goiás, Goiânia, Roriz, 1977, p. 33.
  • 32
    Nova estrada para carro de bois.
    Correio Official, Goyaz, 04 de setembro de 1920, n. 287, p. 11.
  • 33
    Brasil,
    Recenseamento geral do Brasil, vol. 21, Rio de Janeiro, Serviço Gráfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1952, p. 94.
  • 34
    Joaquim Rosa,
    Por esse Goiás afora, Goiânia, Cultura Goiana, 1974,
    passim.
  • 35
    c.f. Cleber Dias,
    Primórdios do futebol em Goiás, 1907-1936, Revista de História Regional, Maringá, vol. 18, n. 1, no prelo
  • 36
    Ibidem.
  • 37
    Em 1927, o antropólogo Helbert Baldus, em visita à aldeia Guarani do Bananal, no interior do Estado de São Paulo, registrava a existência de um "campo de
    football que satisfaria a qualquer
    sport-club branco. Alguns têm até uniformes e sapatos de footballistas" (Herbert Baldus, "Ligeiras notas sobre os índios Guarani do litoral paulista",
    Revista do Museu Paulista, São Paulo, vol. 16, 1929, p. 88). Entre 1958 e 1964, realizando trabalho de campo entre os Xavantes, no Mato Grosso, David Maybury-Lewis também registrara "a paixão, ou pode-se mesmo dizer, o vício do futebol". De acordo com ele, já naquela época, "todos jogavam, jovens e velhos, e a toda hora" (David Maybury-Lewis,
    A sociedade xavante, Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1984, p. 61). Para uma síntese de registros etnográficos mais recentes do envolvimento indígena com esportes, ver Cleber Dias, Esporte, lazer e culturas tradicionais,
    In: Ana Márcia Silva; José Luíz Cirqueira Falcão; Tatiana Tucunduva (orgs.),
    Práticas corporais em comunidades quilombolas de Goiás, Goiânia, Editora da PUC/GO, 2011, p. 93-117.
  • 38
    c.f. Cleber Dias, "A Igreja, o Estado e a bola: história do esporte entre os índios do Brasil Central".
    Pensar a Prática, Goiânia, vol. 15, n. 1, 2012, p. 148-175 (
  • 39
    Manuel Silvino Bandeira de Mello,
    Relatório apresentado ao Snr. Tenente-Coronel Alencarliense Fernandes da Costa, Goiás, Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, 1931, parte segunda, quadro número 23, s./p.
  • 40
    Durval Rosa Sarmento Borges,
    Rio Araguia: corpo e alma, São Paulo, Ibrasa, 1986, p. 360.
  • 41
    C.f. Luis de Gusmão,
    O fetichismo do conceito: conhecimento teórico na investigação social. Rio de Janeiro: Topbooks, 2012.
  • 42
    Isaiah Berlin,
    O sentido da realidade, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1999, p. 24.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      30 Jul 2013
    • Data do Fascículo
      Jun 2013

    Histórico

    • Recebido
      03 Ago 2012
    • Aceito
      17 Out 2012
    EdUFF - Editora da UFF Instituto de História/Universidade Federal Fluminense, Rua Prof. Marcos Waldemar de Freitas Reis, Bloco O, sala 503, 24210-201, Niterói, Rio de Janeiro, Brasil, tel:(21)2629-2920, (21)2629-2920 - Niterói - RJ - Brazil
    E-mail: tempouff2013@gmail.com