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As redes de atuação política do associativismo esportivo e recreativo dos portugueses em São Paulo nos anos 1930

The political networks of the Portuguese sports and recreation associations in São Paulo during the 1930s

Resumo:

O artigo, situado no campo da história do esporte, tem por objetivo analisar a atuação política dos três principais clubes e associações portuguesas de caráter esportivo e recreativo na São Paulo nos anos 1930: Clube Português, Portugal Clube e Associação Portuguesa de Desportos. Constituindo como fontes principais os jornais Correio Paulistano e Correio de S. Paulo, o estudo constatou que as instituições citadas integravam-se entre si e também com outras associações portuguesas, compondo redes de atuação política que se expressavam tanto na articulação de ações conjuntas como nas relações interpessoais entre suas lideranças.

Palavras-chave:
Imigração portuguesa; Política; História do esporte

Abstract:

The article, located in the field of the history of sport, aims to analyze the political activities of the three main sports and recreational Portuguese clubs and associations in São Paulo in the 1930s: Clube Português, Portugal Clube and Associação Portuguesa de Desportos. The main sources being constituted by the newspapers Correio Paulistano and Correio de S. Paulo, the study found that the mentioned institutions were integrated with each other and with other Portuguese associations, forming political networks that were expressed both by the articulation of joint actions and the interpersonal relationships between their leaderships.

Keywords:
Portuguese immigration; Politics; Sports history

Um português ou filho de portugueses que vivesse na cidade de São Paulo durante a década de 1930 provavelmente conheceria o Clube Português, o Portugal Clube e a Associação Portuguesa de Desportos, ainda que não os frequentasse. Centradas em atividades recreativas, culturais, artísticas e esportivas, as instituições marcavam presença na vida pública da comunidade luso-brasileira e nas páginas dos grandes jornais paulistanos, configurando-se como espaços de disputa e expressão política.

Em se tratando da São Paulo do período, a compreensão de elementos da organização social de um grupo imigrante não é aspecto menor ou secundário. O censo de 1934 apontava que, dos mais de 1 milhão de habitantes do município, 67% eram estrangeiros ou filhos de estrangeiros. Dos quase 288 mil estrangeiros (em torno de 29% dos habitantes), mais de 79 mil eram portugueses, o que correspondia a mais da metade dos imigrantes lusos vivendo em áreas urbanas no estado (Hall, 2004HALL, Michael. Imigrantes na cidade de São Paulo. In: PORTA, P. (org.). História da cidade de São Paulo: a cidade na primeira metade do século XX, 1890-1954. São Paulo: Paz e Terra, 2004. v. 3.; Bassanezi et al., 2008BASSANEZI, Maria Silvia C. Beozzo et al. Atlas da imigração internacional em São Paulo 1850-1950. São Paulo: Editora Unesp, 2008.).

A população portuguesa em São Paulo era numerosa e protagonizava em muitos aspectos o cotidiano da cidade. Eram comerciantes, jornalistas, intelectuais, operários, empresários, bordadeiras, padeiros, agricultores... torcedores e atletas, personagens relevantes na formação social e cultural da metrópole.

O objetivo deste artigo1 1 Baseado em desdobramentos de Santos Neto (2019). é interpretar a dimensão política do associativismo esportivo e recreativo dos imigrantes portugueses nos anos 1930 (momento de grande atividade associativa em São Paulo, de ebulição política em níveis local e mundial, e de intensos debates acerca das identidades nacionais), com foco nos três clubes citados (Clube Português, Portugal Clube e Associação Portuguesa de Desportos). Para isso, tomamos como fontes principais os jornais paulistanos que circulavam naquele período, notadamente o Correio Paulistano e o Correio de S. Paulo, cuja seleção de excertos foi feita a partir de buscas na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

O Correio Paulistano, um dos maiores do país no período, constituiu-se fortemente influenciado pelo Partido Republicano Paulista, representando princípios liberais filtrados pelo conservadorismo das oligarquias do café. O diário defendia uma liderança paulista no campo político, criando modelos de desenvolvimento que deveriam ser exemplos para o restante do país. Nesse sentido, como porta-voz de uma visão política liberal, foi preservado como parte de uma imprensa representante de uma identidade paulista, que se autoproclamava “anfitrião da história bandeirante” (Thalassa, 2007THALASSA, Ângela. Correio Paulistano: o primeiro diário de São Paulo e a cobertura da Semana de Arte Moderna. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2007., p. 42).

O Correio de São Paulo tinha uma posição política semelhante, sendo um jornal de oposição ao governo Getúlio Vargas. Circulou na década de 1930 e tinha uma linha editorial pautada pelo cotidiano das relações comerciais, em um contexto de crescente diferenciação dos papéis sociais e de maior estruturação dos serviços na capital paulista. Suas páginas tinham seções dedicadas aos esportes, cinema, teatro e atendia preferencialmente aos leitores das classes médias (Cabral, 2014CABRAL, Daniele. Correio de São Paulo: diário noticioso e informativo. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 2014. Disponível em:Disponível em:https://bndigital.bn.gov.br/artigos/correio-de-sao-paulo-diario-noticioso-e-informativo/ . Acesso em: 13 jul. 2021.
https://bndigital.bn.gov.br/artigos/corr...
). São fontes relevantes para uma percepção sobre a visibilidade das práticas esportivas, de sociabilidade e divertimento identificadas com a colônia portuguesa no contexto mais amplo da sociedade paulistana. Além disso, a imprensa como fonte é um suporte inestimável de muitas dessas práticas (Hollanda; Melo, 2012MELO, Victor Andrade de. Causa e consequência: esporte e imprensa no Rio de Janeiro do século XIX e década inicial do século XX. In: HOLLANDA, Bernardo Borges Buarque de; MELO, Victor Andrade de (orgs.). O esporte na imprensa e a imprensa esportiva no Brasil. Rio de Janeiro: 7Letras, 2012.), em particular no periodismo paulistano, como tema recorrente de seus escritos.

Metodologicamente, a constituição e a crítica dessas fontes ativeram-se às condições de produção e à distância discursiva entre acontecimento e narração que, como em outras produções textuais, não deixa de ser presente na imprensa (Luca, 2015LUCA, Tânia Regina de. Fontes impressas: história dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2015. p. 111-153.). Além de buscar construir aspectos pontuais da memória das instituições (eventos, personagens, práticas etc.), objetivou-se também reconhecer as representações produzidas sobre elas, bem como suas relações identificáveis no cruzamento entre as fontes e a literatura de base.

Entende-se aqui que a realidade é sempre mediada por representações, havendo uma indissociabilidade entre as dimensões materiais e simbólicas dos objetos analisados (Chartier, 2011CHARTIER, Roger. Defesa e ilustração da noção de representação. Fronteiras, v. 13, n. 24, p. 15-29, 2011.). Em outras palavras, uma indissociabilidade entre práticas e representações. Desse modo, é possível reconhecer que as representações veiculadas nos jornais sobre as associações são também expressões das dinâmicas e disputas que constituíam tais espaços, suas atividades e relações políticas. Ou, ainda, são parte do substrato cultural pelo qual eram organizadas as “maneiras de fazer” (Certeau, 2014CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 2014.), as práticas cotidianas situadas nas diferentes instituições aqui estudadas.

A partir dos jornais e pelas próprias necessidades colocadas durante a pesquisa, a delimitação de objetos e o recorte temporal descritos funcionam mais como guias do que como fronteiras intransponíveis. Como destaca Aróstegui (2001ARÓSTEGUI, Julio. La investigación histórica: teoría y método. Barcelona: Crítica, 2001.), não é o tempo que determina a história, mas o comportamento histórico que determina nossa compreensão do tempo. De forma paradoxal, o historiador é refém da necessidade de construir uma periodização e, ao mesmo tempo, superar a fixidez e a homogeneidade dessa construção.

Assim, a discussão neste texto incorpora também outras associações menos ligadas ao esporte (como a Casa de Portugal), na medida em que se relacionavam nos níveis institucional e pessoal (na figura de suas lideranças) com nossos três objetos principais. Incorpora ainda outras fontes constituídas no decorrer da pesquisa, como revistas, livros e correspondências, e eventualmente recua os limites do recorte temporal para momentos da década de 1920, período de fundação da maior parte das associações da comunidade luso-brasileira em São Paulo.

Sinteticamente, as perguntas que nortearam o estudo foram: qual foi a trajetória dessas associações e que tipo de atividades elas desenvolviam? Como essas instituições se situavam nos contextos políticos português e brasileiro dos anos 1930? Quais estratégias de integração política empreendiam entre si e em relação a outras instituições? Por fim, quem eram suas lideranças e de que forma elas se relacionavam no contexto das várias associações existentes?

História, política e a organização social do esporte

A abordagem de temas relacionando esporte e política exige algumas reflexões preliminares. Em seus processos históricos de constituição, sobretudo no contexto europeu do século XIX, o esporte era colocado por parte de seus ideólogos e lideranças como apolítico, isolado das disputas internas das sociedades e dos conflitos dos Estados nacionais. Tratava-se de um meio de legitimação social das práticas. Tal discurso, presente no movimento olímpico com o objetivo declarado de disseminação de valores éticos por meio do esporte, persistiu ao longo de suas transformações no século XX e ainda tenta circular no contexto contemporâneo, mesmo perdendo espaço no engajamento das diferentes juventudes locais (Schnitzer et al., 2018SCHNITZER, Martin et al. Do the Youth Olympic Games promote Olympism? Analysing a mission (im)possible from a local youth perspective. European Journal of Sport Science, v. 18, n. 5, p. 722-730, 2018.).

A separação entre esporte e política é um aspecto que, encarado como objeto à luz da reflexão acadêmica, paradoxalmente evidencia e reforça aquilo que tenta negar. O acúmulo das últimas décadas nos estudos do esporte como fenômeno histórico, cultural e social demonstra sua estreita relação com a vida política: nos movimentos nacionalistas e de classe, nos debates sobre amadorismo e profissionalismo, nos processos de criação das federações e órgãos internacionais, no surgimento de mercados e hábitos de consumo, nas transformações midiáticas, nas dinâmicas de gênero e raça, entre inúmeros outros exemplos.

O tratamento dessas relações na literatura acadêmica, entretanto, é heterogêneo e marcado por diferentes abordagens. Ribeiro (2020RIBEIRO, Luiz Carlos. Futebol e política. In: GIGLIO, Sérgio Settani: PRONI, Marcelo Weishaupt (orgs.). O futebol nas ciências humanas no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp, 2020. p. 25-43.), ao discutir especificamente a relação entre futebol e política, contextualiza essa heterogeneidade e propõe uma concepção polissêmica de política, recusando o essencialismo e as megateorias que, oriundas de visões estruturalistas, dão centralidade ao Estado e tendem a considerar aquilo que lhe é externo como apolítico, pré-político ou protopolítico.

Ainda, Ribeiro critica parte da literatura acadêmica que reduz a dimensão política do futebol aos usos feitos dele pelos Estados autoritários, visão que ratifica uma suposta natureza neutra e despolitizada do esporte, tomando-o por um objeto passivo e manipulável.

Por conta desse uso do futebol por parte dos governos autoritários, a maioria dos estudos acadêmicos considera a transformação do futebol em política como manipulação e exceção, na medida em que se passava a ideia de que os agentes do esporte se encontravam numa seara de pureza, desprovidos de quaisquer interesses políticos ou ideológicos, e que eram tocados, de fora e de cima, por agentes da política (Ribeiro, 2020RIBEIRO, Luiz Carlos. Futebol e política. In: GIGLIO, Sérgio Settani: PRONI, Marcelo Weishaupt (orgs.). O futebol nas ciências humanas no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp, 2020. p. 25-43., p. 35).

Como destaca o autor, a negação da política promovida no movimento esportivo é, precisamente, uma forma de fazer política. Também, a redução acadêmica da relação entre esporte e política às apropriações feitas pelo Estado reforça uma agenda de pesquisa que coloca os esportes em lugar secundário. Mais ainda: o extremo oposto dessas duas posturas (negação e redução da política), traduzível na equivalência “esporte é política”, ainda que represente um avanço do ponto de vista da boa vontade com o objeto de pesquisa, produz o apagamento das especificidades do fenômeno esportivo na história. Se tudo é política, afinal, nada o é.

Partindo de uma visão genealógica, em diálogo com a produção foucaultiana, o que Ribeiro (2020RIBEIRO, Luiz Carlos. Futebol e política. In: GIGLIO, Sérgio Settani: PRONI, Marcelo Weishaupt (orgs.). O futebol nas ciências humanas no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp, 2020. p. 25-43.) recusa são as afirmações gerais e os essencialismos, destacando a necessidade de um ponto de partida empírico para se falar de política e futebol ou, mais amplamente, política e esporte. A associação quase sinonímica do futebol com “paixão nacional”, por exemplo, presente em intérpretes como Mário Filho, Nelson Rodrigues e mesmo na antropologia de Roberto da Matta, retrataria uma essencialização que suprime parte das experiências históricas dos agentes sociais e das instituições esportivas (Ribeiro, 2012RIBEIRO, Luiz Carlos. Futebol e política. In: GIGLIO, Sérgio Settani: PRONI, Marcelo Weishaupt (orgs.). O futebol nas ciências humanas no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp, 2020. p. 25-43.).

Sistemas, modelos, teorias são necessários e mesmo impossíveis de serem evitados, pois toda narrativa é produtora de sínteses, mas eles não podem, em nome da clareza, eliminar o contraditório, as alteridades. É uma dialética radical, que exige do historiador o compromisso com a experiência concreta e polissêmica dos indivíduos e das instituições (Ribeiro, 2012RIBEIRO, Luiz Carlos. Futebol: por uma história política da paixão nacional. História: Questões & Debates, Curitiba, n. 57, p. 15-43, 2012., p. 38).

O compromisso do autor em olhar para as especificidades políticas do futebol poderia ser estendido para qualquer esporte ou objeto ligado ao contexto esportivo, tal qual o associativismo imigrante que será aqui examinado. Essa abordagem histórica menos modelar, mais empírica e contextualizada, que amplia o escopo da atividade política sem limitá-la às relações com o Estado, representa uma tendência naquilo que se convencionou chamar de novas abordagens em história do esporte.

Como apontam Melo et al. (2013MELO, Victor Andrade de et al. Pesquisa histórica e história do esporte. Rio de Janeiro: 7Letras ; Faperj, 2013.), o campo tem vivenciado nas últimas décadas uma expansão de seus objetos e problemas de pesquisa, de seu aparato conceitual e teórico, de suas possibilidades de fontes e domínios, não sendo mais possível reduzi-lo ao que era em seus primórdios: uma história descritiva de acontecimentos e personagens, muitas vezes apaixonada e sem a crítica metodológica dos documentos.

Influenciada pelo contexto dos anos 1970, sobretudo pelas chamadas novas histórias (cultural e política), a história do esporte foi, de modo geral (mas segundo suas peculiaridades regionais), tornando-se um campo ampliado e empenhado na busca pelo rigor metodológico (Melo et al., 2013MELO, Victor Andrade de et al. Pesquisa histórica e história do esporte. Rio de Janeiro: 7Letras ; Faperj, 2013.). Por história do esporte é possível compreender hoje, em especial nos países anglófonos como sports history, uma área que contempla também a história das práticas corporais (institucionalizadas ou não), da educação física, das danças, das ginásticas, do corpo, entre outras possibilidades (Dyreson, 2019DYRESON, Mark. Looking backward and forward from the 24-million-word mark: A managing editor’s perspective on “The International Journal of the History of Sport” in transition. The International Journal of the History of Sport, v. 36, n. 17, p. 1487-1500, 2019.).

Como exemplificado em Ribeiro (2012RIBEIRO, Luiz Carlos. Futebol: por uma história política da paixão nacional. História: Questões & Debates, Curitiba, n. 57, p. 15-43, 2012.; 2020RIBEIRO, Luiz Carlos. Futebol e política. In: GIGLIO, Sérgio Settani: PRONI, Marcelo Weishaupt (orgs.). O futebol nas ciências humanas no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp, 2020. p. 25-43.), as pesquisas passam a olhar especificamente para a política no esporte também a partir de referenciais internos, daquilo que ocorre nas dinâmicas particulares de uma organização social e cultural do esporte (e não apenas em uma relação vertical oriunda da “grande política” dos Estados-nação).

Mesmo abordagens marxistas mais ortodoxas, marcadas pelo reducionismo de formações culturais complexas a reflexos políticos passivos (o esporte como alienação ou aparelho ideológico do Estado, de caráter manipulável etc.), perdem espaço no campo devido às contribuições da noção gramsciana de hegemonia, mas também às influências teóricas e metodológicas promovidas pela história cultural e por saberes não estruturalistas (Booth, 2011BOOTH, Douglas. História do esporte: abordagens em mutação. Recorde: Revista de História do Esporte, Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, 2011.; 2012BOOTH, Douglas. Theory. In: POPE, S. W.; NAU­RIGHT, John (orgs.). Routledge companion to sports history. New York: Routledge, 2012. p. 12-33.).

Dentro dessa perspectiva ampliada, este artigo elegeu como tema um elemento particular da organização social do esporte: o associativismo esportivo e recreativo, especificamente aquele ligado à imigração portuguesa, cujo exame oferece três potencialidades: a melhor compreensão do desenvolvimento esportivo em um dado contexto; a incursão em um aspecto específico da imigração portuguesa no Brasil, relativamente menos estudada (Matos, 2013MATOS, Maria Izilda Santos de. Portugueses: deslocamentos, experiências e cotidiano SP séculos XIX e XX. Bauru: Edusc, 2013.); e, por fim, a interpretação dos fenômenos políticos ligados aos clubes e associações, instituições que, situadas entre o mundo privado e o mundo público, tiveram papel importante na conformação da noção moderna de cidadania e do que chamamos hoje de esfera pública ou sociedade civil (Burke, 2002BURKE, Peter. A história social dos clubes. Folha de S. Paulo, 24 fev. 2002. Disponível emDisponível emhttps://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs2402200203.htm . Acesso em:24 maio 2021.
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/f...
; Fonseca, 2008FONSECA, Vitor Manoel Marques da. No gozo dos direitos civis: associativismo no Rio de Janeiro, 1903-1916. Niterói: Muiraquitã, 2008.).

Os clubes extrapolavam suas funções recreativas e “funcionavam como um retrato e um termômetro das relações políticas” (Melo, 2007MELO, Victor Andrade de. Clubes. In: MELO, Victor Andrade de. Dicionário do esporte no Brasil: do século XIX ao início do século XX. Campinas: Autores Associados, 2007., p. 36). Mais do que divertimentos e práticas esportivas, eram palco de outras práticas e processos, como a constituição de identidades e laços sociais, o oferecimento de instrução e auxílio, a disputa por grupos sociais organizados (como anarquistas e sindicalistas) etc. (Siqueira, 2009SIQUEIRA, Uassyr de. Clubes recreativos: organização para o lazer. In: AZEVEDO, Elciene et al. (orgs.). Trabalhadores na cidade. Campinas: Editora Unicamp, 2009. p. 271-312.).

Mesmo sua elitização não sendo regra,2 2 Há várias experiências associativas de grupos sociais não elitizados estudadas na literatura recente, por exemplo, o futebol de várzea dos imigrantes italianos (Silva, 2016), os clubes esportivos dos trabalhadores bancários (Oliveira, 2020) e as associações recreativas dos homens de cor no estado de São Paulo (Lucindo, 2020). várias instituições do Brasil urbano eram inacessíveis a grande parte da população. Contudo, é um erro supor que seu alcance político era restrito aos altos círculos sociais ou às iniciativas empreendidas a portas fechadas. Clubes e associações esportivas e de outras naturezas faziam parte do cotidiano das cidades, tendo atividades e discursos repercutidos nas páginas da imprensa profissionalizada, de alta tiragem e circulação. Isso é notável na São Paulo dos anos 1930.

Assim, o que este artigo buscará apresentar, na esteira de pesquisas que analisaram a relação entre clubes e imigração no Brasil,3 3 Como em Araújo (1996), Silva (2016), Moura (2016), Mazo (2003), Quitzau (2011; 2016), Silva (2011; 2015), Assmann (2015), Pereira (2014), Melo e Peres (2014), entre outros. é uma interpretação sobre as relações políticas que ocorreram entre instituições associativas de caráter esportivo e recreativo dos imigrantes portugueses. Para isso, é necessário caracterizar essas organizações.

Os clubes e associações portuguesas em São Paulo

O associativismo foi característica marcante das imigrações na história brasileira nos séculos XIX e XX. Para italianos, alemães, portugueses e outros, clubes e associações serviam a múltiplos propósitos, como a expressão de identidades e valores, o reforço de vínculos sociais, a difusão cultural, a construção de relações familiares e profissionais, a promoção de divertimentos e práticas esportivas e a prestação de assistência médica e previdenciária.

No caso da imigração portuguesa, entendida aqui como os fluxos de entrada de portugueses ocorridos no pós-independência do Brasil, é possível estabelecer uma divisão da história do associativismo em duas fases (Freitas, 2006FREITAS, Sônia Maria de. Presença portuguesa em São Paulo. São Paulo: Memorial do Imigrante; Imesp, 2006.; Silva, 1992SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Documentos para a história da imigração portuguesa no Brasil 1850-1938. Rio de Janeiro: Nórdica, 1992.), embora suas características variem de acordo com a cidade analisada.4 4 A cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, é um caso à parte, devido à sua condição de capital no início do século XIX, com uma população portuguesa mais numerosa, influente e diversificada (Melo; Peres, 2014).

A primeira fase, dada a partir de meados do século XIX, foi marcada por instituições de caráter filantrópico e assistencial, como beneficências, caixas de socorro e sociedades de socorro mútuo. De maior interesse para este artigo, a segunda fase do associativismo luso ocorreu em fins do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, caracterizada pelo surgimento mais consistente de instituições de caráter recreativo, esportivo, artístico e cultural, como clubes, casas regionais, bandas, orfeões e associações de futebol.

Independentemente de sua natureza, as diferentes experiências associativas eram parte daquilo que Matos (2013MATOS, Maria Izilda Santos de. Portugueses: deslocamentos, experiências e cotidiano SP séculos XIX e XX. Bauru: Edusc, 2013.) denominou de “redes de apoio” da imigração portuguesa: círculos sociais de lusos e descendentes visando a circulação de informação, o acolhimento econômico e cultural de novos imigrantes, a facilitação de sua integração na sociedade brasileira, bem como a formação de laços familiares, profissionais e políticos.

No caso da cidade de São Paulo e do recorte temporal escolhido, as três instituições constituídas como objeto desta pesquisa foram o Clube Português, o Portugal Clube e a Associação Portuguesa de Desportos.5 5 A Associação Portuguesa de Esportes passou a se chamar Associação Portuguesa de Desportos apenas em 1940. Optou-se aqui por utilizar a nomenclatura mais recente. A escolha se justifica pelas características das associações. Primeiro, ainda que mais enfaticamente no caso da terceira (a Lusa), todas realizavam atividades esportivas e outros gêneros de divertimentos que, como já explicitado, também são constituintes do campo da história do esporte.

Em segundo lugar, tais instituições tinham sua relevância social atestada e também promovida pela constante presença em jornais como o Correio Paulistano, o Correio de S. Paulo, a Gazeta, entre outros, nos quais eram repercutidos não apenas seus eventos sociais e atividades esportivas, mas também seus discursos, publicações e relações institucionais estabelecidas com outras associações e com órgãos de Estado do Brasil e de Portugal. Ainda, nas colunas e notícias se ressaltava o caráter português ou luso-brasileiro dos clubes, contribuindo para torná-los referenciais na vida da população portuguesa.

No contexto da expansão da tiragem e da circulação de periódicos, bem como do aumento no número de alfabetizados do país e notadamente de São Paulo (Luca, 2013LUCA, Tânia Regina de. A grande imprensa na primeira metade do século XX. In: MARTINS, Ana Luiza; LUCA, Tânia Regina de. História da imprensa no Brasil. São Paulo: Contexto, 2013.), estar nos jornais era estar também no cotidiano urbano, fosse pelo acesso direto dos leitores aos conteúdos ou por sua progressiva difusão no debate público. Pelo outro lado, conteúdos esportivos e do mundo dos divertimentos também se tornavam cada vez mais vendáveis. Como destaca Melo (2012MELO, Victor Andrade de. Causa e consequência: esporte e imprensa no Rio de Janeiro do século XIX e década inicial do século XX. In: HOLLANDA, Bernardo Borges Buarque de; MELO, Victor Andrade de (orgs.). O esporte na imprensa e a imprensa esportiva no Brasil. Rio de Janeiro: 7Letras, 2012.), a popularização da imprensa esportiva confunde-se com o próprio crescimento do esporte como fenômeno social, sendo difícil precisar uma hierarquia causal clara entre os dois elementos.

De um modo ou outro, essas amarras entre associações e imprensa reiteram seu alcance cultural e político, que superava os limites de suas sedes e contemplava também parte da população paulistana (portuguesa ou não) que não as frequentava ou, ampliando para a especificidade da Lusa, que não torcia para aquele time de futebol.

A Associação Portuguesa de Desportos foi fundada em 1920 pela fusão de cinco clubes lusos menores que já existiam em São Paulo: Lusíadas F. C., A. A. 5 de Outubro, A. A. Marquês de Pombal, Portugal Marinhense e o E. C. Lusitano. Seu surgimento se deu em um contexto particular do futebol brasileiro, marcado por sua expansão enquanto elemento da cultura popular, o que pavimentou o caminho para o processo de profissionalização que ocorreria a partir dos anos 1930 (Caldas, 1990CALDAS, Waldenyr. O pontapé inicial: memória do futebol brasileiro. São Paulo: Ibrasa, 1990.). Sobre a trajetória da Lusa abundam textos memorialistas (Duarte, 2000DUARTE, Orlando. Lusa: uma história de amor. São Paulo: Livraria Teixeira, 2000.; Calício, 2012CALÍCIO, Everton. Portuguesa: 92 anos de história. Mundo Lusíada, 14 ago. 2012. Disponível em: Disponível em: https://www.mundolusiada.com.br/artigos/portuguesa-92-anos-de-historia/ . Acesso em: 25 maio 2021.
https://www.mundolusiada.com.br/artigos/...
; Loreto et al., 2007LORETO, Érico Faria et al. Almanaque da Lusa: a história da Portuguesa de Desportos contada através de suas 4.027 partidas, 1.327 jogadores e 97 treinadores. Trabalho de conclusão de curso (Jornalismo), Faculdade Cásper Líbero. São Paulo, 2007.) que, a despeito de sua qualidade, são excessivamente descritivos e não realizam uma problematização historiográfica mais aprofundada.

Em termos das práticas esportivas que sediava, além do futebol, em suas primeiras décadas a Portuguesa de Desportos também possuiu times de bola ao cesto, pingue-pongue e hóquei masculino, expandindo para outras modalidades em períodos posteriores. Outra atividade de destaque era a sua tradicional festa joanina, realizada todos os anos a partir de 1925, sendo bastante divulgada pela imprensa e frequentada por um grande público, que não se limitava a imigrantes e filhos de imigrantes.

As festas reproduziam uma seleção de elementos tradicionais da cultura portuguesa: rodeadas por ornamentações típicas da terrinha, barracas vendiam vinhos e pratos típicos (caldo verde, alheira, bolinhos de bacalhau, sardinhada), ao som de bandas de fado e da apresentação de grupos de dança, como o grupo regional da Portuguesa, fundado em 1935.

Além de difundir certas representações do que era ser português, os eventos serviam também ao acúmulo de prestígio social e, igualmente importante, de caixa, o que permitia à associação permanecer realizando suas demais atividades.

A preocupação de representar a portugalidade em terras brasileiras não era exclusiva da Lusa, estando presente também nos princípios fundadores do Clube Português e do Portugal Clube, instituições praticamente gêmeas, mas com trajetórias bastante distintas. Os dois clubes eram de perfil social, recreativo e esportivo. Entre as características em comum, destacam-se a diversidade de práticas e atividades promovidas (competições de esgrima, bailes, jantares, jogos de salão, conferências), o caráter relativamente elitizado e a relação frequente que mantinham com outras associações da comunidade portuguesa, muitas vezes sediando seus eventos.

Fundado em 1920 por portugueses ilustres, entre os quais o engenheiro e intelectual Ricardo Severo e o empresário Antônio Pereira Ignácio, o Clube Português ainda existe e parte de sua trajetória foi registrada na obra memorialista de Neves (2010NEVES, João Alves das(org.). 90 anos do Clube Português. São Paulo: Clube Português, 2010.) e analisada brevemente por Freitas (2006FREITAS, Sônia Maria de. Presença portuguesa em São Paulo. São Paulo: Memorial do Imigrante; Imesp, 2006.). Iniciou suas atividades com 615 sócios e, já em 1929, contava com 1.000 associados.6 6 Álbum da colônia portuguesa no Brasil. Rio de Janeiro: [s.n.], 1929. Sua principal sede foi um palacete na avenida São João, no Centro, em frente à praça do Correio, onde permaneceu de 1926 a 1967.

Entre as principais e mais frequentes atividades do cotidiano do clube, destacamos a esgrima (sua principal atividade esportiva a partir de 1929), a ginástica e o pingue-pongue, além de divertimentos de salão como bilhar, xadrez e jogos de baralho. A instituição sediou ainda, ao longo das primeiras décadas, aulas de francês e inglês, aulas de dança, cursos de literatura, saraus, recitais, apresentações teatrais e de seu grupo de danças regionais (formado no início dos anos 1930), além de festas, bailes, almoços e jantares, palestras, conferências e solenidades.

O Clube Português também possuía uma grande biblioteca, com milhares de obras do Brasil e de Portugal, e editou entre 1930 e 1938 a Revista Portuguesa, dedicada a discussões acadêmicas e aos problemas culturais luso-brasileiros, e que também servia de divulgação das iniciativas do clube e de outras associações.

De perfil bem parecido, o Portugal Clube, que durou de 1921 a 1940, também foi fundado por portugueses ilustres e, assim como as outras instituições, apoiava-se desde o início na condição de representante da população portuguesa em São Paulo. Na solenidade de inauguração do clube, em 1922, o primeiro secretário Manuel Rebello de Andrade sintetizou esse projeto, conforme retratado pelo Correio Paulistano:

O sr. dr. Rebello de Andrade fez varias considerações tendentes a demonstrar que só a mal entendidos ou a explorações opportunistas se devem attribuir as situações equivocas em que por vezes se têm encontrado portuguezes e brasileiros, pois que, entre elles nenhuma inimizade, de facto existe. O Portugal Club destina-se a evitar aquellas situações, esclarecel-as quando creadas, esforçando-se, pelos meios ao seu alcance, por fazer a approximação entre portuguezes e brasileiros, promovendo entre eles a manutenção de uma franca solidariedade. Esclareço que tendo sido portuguezes todos os fundadores desta associação, elles se lembravam de conservar-lhe sempre o cunho de nacionalidade portugueza e dahi a razão do titulo de Portugal Club.7 7 Correio Paulistano, 4 nov. 1921, p. 5.

Cabe ressaltar aqui que as décadas de 1920 e 1930 foram marcadas pela coexistência de duas percepções antagônicas em relação aos portugueses: um sentimento de antilusitanismo, que se manifestava desde as transformações históricas do Brasil no século XIX e associava o português ao atraso e à colonização, e uma retórica de luso-brasilidade, que evidenciava o português como elemento fraterno e provedor de boa parte da herança cultural brasileira. É nesse contexto de repulsa e aproximação que se desenvolveram as relações culturais, políticas e também jurídicas entre portugueses e brasileiros naquele período (Mendes, 2011MENDES, José Sacchetta Ramos. Laços de sangue: privilégios e intolerância à imigração portuguesa no Brasil (1822-1945). São Paulo: Edusp; Fapesp, 2011.).

Assim, não era estranho que o Portugal Clube e as outras instituições navegassem em ambas as frentes em suas práticas e discursos, buscando tanto apaziguar as oposições como exaltar a positividade de uma identidade nacional portuguesa.

Dentre as atividades desenvolvidas pelo clube, a principal prática esportiva era a esgrima, tendo a instituição participado da criação da Federação Paulista de Esgrima em 1925. Jogos de salão, reuniões, bailes, festas, conferências e solenidades também faziam parte de seu cotidiano. Antes de se mudar para sua principal e derradeira sede, no 6º andar do Edifício Martinelli (de 1931 até 1940) e a cerca de 100 metros do Clube Português, o Portugal também havia sediado a prática do tênis.

No processo desta pesquisa, não foi possível encontrar qualquer produção memorialista ou historiográfica sobre o clube, muito embora ele fosse bastante presente no cotidiano retratado pela imprensa paulistana, tanto quanto a Lusa e o Português. Ainda que tivesse seus mais de 500 associados no final dos anos 1920,8 8 Álbum da colônia portuguesa no Brasil. Rio de Janeiro: [s.n.], 1929. o Portugal Clube foi extinto em 1940, e essa talvez seja a razão para ser cercado de silêncios.

O contraste em termos de memória entre o Portugal e seu vizinho, o Clube Português, acentua-se quando chocado com as semelhanças entre os dois. A proximidade geográfica, o perfil parecido dos associados, a retórica de representatividade e o oferecimento de atividades do mesmo gênero durante os anos 1930, notadamente a esgrima, aponta para uma provável rivalidade entre os clubes, visto que nutriam poucas relações institucionais, como atestado na análise das fontes desta pesquisa. Por contraste, nas mesmas fontes abundam indícios de relações de ambos os clubes com diversas outras instituições portuguesas.

A rivalidade entre associações próximas que, em aparente paradoxo, afirmam-se representantes de todos os portugueses em determinada localidade, parece ser um lugar comum em estudos do associativismo entre imigrantes lusos. Reservadas as particularidades de cada estudo, essa tensão foi observada também entre o Clube Filhos de Portugal e o Invicta Sports Club nos anos 1930 em Danbury, nos EUA (Monteiro, 1987MONTEIRO, Paulo Filipe. Luso-americanos no Connecticut: questões de etnicidade e de comunidade. Povos e Culturas, Porto, n. 2, 1987.), e entre o Clube Ginástico Português e o Congresso Ginástico Português em fins do século XIX, no Rio de Janeiro (Melo; Peres, 2014MELO, Victor Andrade de; PERES, Fabio de Faria. Associativismo e política no Rio de Janeiro do Segundo Império: o Clube Ginástico Português e o Congresso Ginástico Português. In: MELO, Victor Andrade de; PERES, Fabio de Faria; DRUMOND, Maurício (orgs.). Esporte, cultura, nação, Estado: Brasil e Portugal. Rio de Janeiro: 7Letras , 2014.).

De qualquer modo, os diferentes exemplos ressaltam que o associativismo nem sempre é capaz de aplicar sua retórica de uma identidade coesa sobre os imigrantes reais, com suas particularidades locais, cisões e distinções de diferentes naturezas. Contudo, a despeito das diferenças e eventuais fraturas entre associações, também são notáveis as formas pelas quais, em cada contexto, o associativismo construía teias de relação como forma de aumentar seu grau de penetração política em dada sociedade.

As redes de atuação política do associativismo luso

A década de 1930 foi um período politicamente conturbado, em nível nacional e internacional. Governos autoritários e centralizadores fizeram parte da história brasileira e portuguesa, tendo por expressão máxima o chamado Estado Novo (no Brasil, de 1937 a 1945, na figura de Getúlio Vargas; e em Portugal, na figura de António Salazar, a partir de 1933 e com maior duração, com dissolução definitiva apenas em 1974).

Guardadas as diferenças, como a retórica modernizadora do varguismo em contraste com o apelo tradicionalista católico e rural do salazarismo, ambos os Estados Novos caracterizavam-se como nacionalistas, anticomunistas, antiliberais, com forte presença de repressão política, censura e propaganda estatal.

No caso do Estado Novo português, havia ainda a preocupação em supervisionar e controlar também os portugueses emigrados, inclusive suas associações, como era o caso da grande comunidade lusa no Brasil (Paulo, 2000PAULO, Heloisa. “Aqui também é Portugal”: a colónia portuguesa do Brasil e o salazarismo. Coimbra: Quarteto, 2000.). No Brasil, destacam-se as políticas de vigilância e repressão aos elementos estrangeiros considerados perigosos, como comunistas, anarquistas e, posteriormente, pessoas oriundas de nações inimigas no contexto da Segunda Guerra Mundial, sobretudo alemães e japoneses.

Esse contexto tenso, somado à complexa ambivalência da relação entre brasileiros e portugueses, marcada por afastamentos e aproximações (do antilusitanismo à luso-brasilidade), dava contornos ao cenário no qual se inseriam as associações de todos os gêneros, inclusive recreativas e esportivas como as que são aqui analisadas.

Não é exagero dizer que Clube Português, Portugal Clube e Associação Portuguesa de Desportos eram, nesse sentido, espaços privilegiados para a disputa política dos imigrantes portugueses, fosse na lógica da adesão, da resistência ou da abstenção aos dilemas colocados. Era inevitável que suas lideranças, majoritariamente compostas por indivíduos prestigiados como profissionais liberais, empresários e intelectuais, tivessem que pesar suas decisões em uma equação complexa que envolvia a heterogeneidade da comunidade lusa em São Paulo, mas também o relacionamento com a sociedade paulistana e com os governos brasileiro e português.

Como consequência desse quadro, mesmo com divergências e cisões pontuais, as diferentes associações buscaram formas de integração entre si para potencializarem suas iniciativas políticas. Um modo frequente disso acontecer eram as manifestações conjuntas em correspondências e manifestos, como é o caso abaixo.

O governo portuguez deliberou transferir para São Francisco da California o actual consul geral em São Paulo dr. Jordão Mauricio Henriques.

Conhecida que foi aqui a noticia, as entidades lusas que têm pelo dr. Jordão Henrique a mais sincera estima e admiração pela obra patriotica que o mesmo vem realizando enviaram para Portugal o seguinte telegramma:

“Sr. ministro Negocios Estrangeiros. Lisboa. Associações Portuguezas dolorosamente surpreendidas transferencia dr. Jordão Mauricio Henriques consulado desta cidade interpretando vibrante sentimento colonia rogam v. exc. mesmo seja mantido cargo desempenhava com elevado patriotismo fomentando brilhante exito unidade moral colonia e impondo-a á admiração respeito estranhos honrando sobremodo o nome patria, A bem da nação”. (a.) Real e Benemerita Sociedade Portugueza de Beneficencia, Casa de Portugal, Camara Portugueza de Commercio e Industria de São Paulo, Clube Portuguez, Escolas da Colonia Portugueza, Centro Trasmontano, Centro do Minho, Centro Beirão, Centro do Douro, Centro Republicano Portuguez, União Portugueza de São Paulo, Associação Portugueza de Desportos, Portugal Clube, Sociedade Portugueza dos Desvalidos, Sociedade Portugueza Vasco da Gama e Sociedade Portugueza Saccadura Cabral e Gago Coutinho.9 9 Correio Paulistano, 29 jul. 1937, p. 19.

O telegrama, encaminhado a Lisboa, recebeu resposta pouco tempo depois, assinada em nome do próprio Salazar, na qual se comunicava que a transferência do cônsul seria mantida. Era uma mostra de que interessava ao governo dialogar com as associações portuguesas no além-mar, especificamente, 16 entidades lusas de São Paulo, entre elas, três clubes esportivos.

Como citado, Matos (2013MATOS, Maria Izilda Santos de. Portugueses: deslocamentos, experiências e cotidiano SP séculos XIX e XX. Bauru: Edusc, 2013.) caracteriza a imigração portuguesa como sendo baseada em redes de apoio, que auxiliavam na recepção de novos imigrantes por meio de indivíduos bem estabelecidos, empresas e associações diversas, que serviam como espaço agregador onde o recém-chegado podia aumentar as possibilidades de inserção social e adaptação cultural.

Na atuação das associações, fosse em assuntos menores e institucionais (por exemplo, em homenagens a figuras públicas) ou em posicionamentos sobre questões políticas mais amplas, fica evidente um esforço, nem sempre sem tensões, para que as ações fossem debatidas e levadas adiante de forma integrada.

Era comum que eventos de temática nacionalista fossem realizados em conjunto e com adesão de várias associações, assim como ocorria a elaboração de cartas coletivas para expor demandas ou manifestar posicionamentos junto a órgãos de governo. As associações integravam assim, para além do apoio, tramas de uma rede de atuação política junto aos imigrantes portugueses de São Paulo.

Exemplos abundam nos jornais do período. Em 18 de outubro de 1933, as associações se organizaram para recepcionar o embaixador de Portugal em São Paulo, publicando uma carta convite a todos os portugueses no Correio de S. Paulo, assinada por 14 associações, dentre elas o Clube Português, o Portugal Clube e a Associação Portuguesa de Desportos.10 10 Correio de S. Paulo, 18 out. 1933, p. 3. Estavam presentes também as associações na recepção à missão econômica do Estado Novo português, em 1938, que chegava à cidade para negociações comerciais entre Brasil e Portugal.11 11 Correio Paulistano, 1 set. 1938, p. 1.

Destacam-se ainda iniciativas anteriores, durante os conflitos constitucionalistas de 1932, quando parte do associativismo luso atuou na assistência aos soldados paulistas feridos em combate, sendo eleitos os salões do Clube Português para a organização dos trabalhos.12 12 Correio de S. Paulo, 12 jul. 1932, p. 1. Também a Portuguesa de Desportos, à ocasião, cedeu a sede para o alistamento de esportistas na causa constitucionalista, atendendo à solicitação do Departamento de Educação Physica de São Paulo13 13 A Gazeta, 14 jul. 1932, p. 2. naquela que ficou conhecida como mobilização esportiva, que envolveu diversos outros clubes da cidade (Dalben; Palma, 2021DALBEN, André; PALMA, Lucas Polli da. A mobilização esportiva promovida pelo Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo na guerra civil de 1932. Movimento, v. 27, e27034, jul. 2021.).

A integração entre as associações de São Paulo acompanhava esforços maiores em nível nacional por parte das associações de outros estados, notadamente do Rio de Janeiro. Em 1931 foi realizado o Primeiro Congresso dos Portugueses no Brasil, sediado no Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro, com a presença de representantes de dezenas de associações de beneficência, instrução e recreio (Rego, 1966REGO, António da Silva. Relações luso-brasileiras (1822-1953). Lisboa: Panorama, 1966.). Compareceram também Getúlio Vargas e seu ministro das Relações Exteriores, Afrânio de Melo Franco, evidenciando o possível interesse do governo provisório em disputar a colônia portuguesa.

No congresso, 52 entidades aprovaram a criação da Federação das Associações Portuguesas do Brasil, instituição alinhada com o salazarismo (Paulo, 2000PAULO, Heloisa. “Aqui também é Portugal”: a colónia portuguesa do Brasil e o salazarismo. Coimbra: Quarteto, 2000.), cuja inauguração oficial aconteceu no ano seguinte.

Em São Paulo, em 1933, uma iniciativa em menor escala foi empreendida: um almoço no Clube Português, com a presença do cônsul de Portugal e representantes de 14 associações, propunha a criação de uma confederação de associações portuguesas de São Paulo.14 14 Correio de S. Paulo, 9 set. 1933, p. 2. Ao que indicam as fontes, as reuniões passaram a ocorrer mensalmente e, em fevereiro de 1934, o mesmo clube sediou o sexto encontro, tendo sido ele elogiado em publicação do Correio de S. Paulo por sua finalidade de “promover a unidade moral e espiritual da colonia, através dos liames patrioticos em que se inspira a sua orientação associativa, que é sem duvida, o caminho mais rápido, para a união definitiva de todos os portuguezes”.15 15 Correio de S. Paulo, 9 fev. 1934, p. 3.

O fato de haver um discurso de unidade propagado pela imprensa e pelas instituições não implica a ausência de atritos nas iniciativas de integração. Entre a fundação da Federação das Associações Portuguesas do Brasil, no Rio de Janeiro, em 1932, e a realização do almoço entre as associações de São Paulo, em 1933, há uma pequena nota, publicada no Correio de S. Paulo, que indica uma tensão entre o movimento associativo paulista e o de nível nacional, liderado pelo associativismo fluminense.

Existe no Rio uma entidade, recentemente creada, não se sabe bem com que objetivo, visto que nenhuns tem de real utilidade, que se intitula Federação das Associações Portuguesas no Brasil. Algumas das associações portuguesas de S. Paulo consentiram na sua filiação ou federação, á entidade carioca. Temos agora informação segura de que todas as associações portuguesas de S. Paulo se desligaram da Federação e com ela cortaram relações. Os motivos? Não conseguimos sabe-los, mas não é difícil adivinha-los dada a sua transparencia. O caso, por enquanto, tem-se circunscrito á troca de oficios.16 16 Correio de S. Paulo, 24 out. 1932, p. 3.

Antes de confirmar alguma cisão permanente, a nota, assim como boa parte dos conteúdos dos jornais, fornece indícios das diferenças maquiadas pelas retóricas de unidade e, ainda, aponta para como os problemas políticos da vida associativa portuguesa possuíam relevância pública. O tom pouco imparcial de alguns textos, muitas vezes reproduzindo discursos oriundos de grupos ou associações específicas, também indica a provável presença de jornalistas portugueses nas redações.

Os diálogos das associações de São Paulo com o movimento nacional continuaram ocorrendo. Em 1936, em correspondência da Federação das Associações Portuguesas do Brasil endereçada ao governo de Portugal com objetivo de demonstrar solidariedade e apoio ao Estado Novo, constava ainda a assinatura de seis instituições da capital paulista, dentre elas o Clube Português e a Associação Portuguesa de Desportos.17 17 Mensagem ao Govêrno de Portugal da Federação das Associações Portuguesas no Brasil. Rio de Janeiro: [s.n.], 1936.

Os indícios confirmam que mesmo associações de natureza recreativa, artística e esportiva pareciam estar bastante envolvidas na articulação política da comunidade portuguesa em São Paulo, sendo espaços estratégicos para a circulação de ideias e projetos. Por isso, os cargos de liderança eram também objeto de disputa, inclusive recebendo atenção do consulado salazarista. Nesse aspecto, as redes de atuação política expressavam-se também no entrecruzamento de cargos em diferentes associações, frequentemente ocupados por homens ilustres.

O caso do engenheiro Ricardo Severo é emblemático: era um exilado do movimento republicano aportado no Brasil em 1891, que participou da fundação do Centro Republicano Português (1908), da Câmara Portuguesa de Comércio e Indústria de São Paulo (1912) e do Clube Português (1920), onde dirigiu as atividades da biblioteca e a publicação da Revista Portuguesa nos anos 1930. Fez parte ainda da mobilização que levou à fundação da Casa de Portugal (1935). Para todos os efeitos, Severo era um intelectual referencial, alguém com centralidade e capacidade de aglutinar os imigrantes em torno de determinadas iniciativas, um tipo de figura comumente presente também em outros contextos, como no caso da comunidade portuguesa no Rio de Janeiro (Triches, 2011TRICHES, Robertha Pedroso. Os sentidos do Atlântico: a revista Lusitânia e a colônia portuguesa do Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado em História), Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2011.). Mesmo sem ocupar muitos cargos de presidência nas associações que ajudou a criar, Severo era influente nos círculos decisórios do associativismo luso.

Há mais casos de destaque. Antônio Pereira Ignácio, empresário do Grupo Votorantim, participou da fundação do Clube Português e foi seu primeiro presidente, entre 1920 e 1923. Em 1935, presidiu a Associação Portuguesa de Desportos. Já o comerciante Isidro Pedro dos Santos Costa, outro exemplo, foi presidente da Lusa entre 1932 e 1933, vice-presidente da Casa de Portugal em 1933 e presidente do Clube Português de 1938 a 1940.

O capitão João Sarmento Pimentel, exilado da revolta de 1927 que tentou derrubar a ditadura precursora do Estado Novo português, ocupou secretarias na Casa de Portugal nos anos 1930 e a presidência da instituição em 1940. Também presidiu o Centro Republicano Português em 1933, foi membro do Clube Português e redator da Revista Portuguesa, além de ter sido um dos principais opositores vigiados pelo salazarismo em terras brasileiras (Schiavon, 2007SCHIAVON, Carmem G. Burgert. Estado Novo e relações luso-brasileiras (1937-1945). Tese (Doutorado em História), Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2007.).

Quem recepcionou Sarmento Pimentel em São Paulo foi Ricardo Severo. O encontro dos personagens é um exemplo prático do que se entende por redes de apoio e também de atuação política. Foi Severo quem o inseriu nos círculos do Centro Republicano Português, onde exerceria liderança, e também no grupo que encabeçava o Clube Português e editava sua revista. Anos depois, Sarmento Pimentel faria o mesmo com outro exilado, José Manuel Sarmento de Beires, colocando-o na direção do periódico (Lopes, 1976LOPES, Norberto. Sarmento Pimentel, ou uma geração traída: diálogos de Norberto Lopes com o autor das “Memórias do capitão”. Lisboa: Aster, 1976.).

Assim como as ações de integração a nível institucional, os laços interpessoais das lideranças e sua circulação apontam para uma intensa atividade política no associativismo português, incluindo os clubes recreativos e esportivos. Conflitos explícitos ou mais sutis, como sugere, por exemplo, a ausência do Portugal Clube em diversas iniciativas, apontam para o descompasso entre o discurso de coesão entre os portugueses e sua experiência concreta na cidade e na vida associativa.

Considerações finais

Os clubes e associações portuguesas de caráter recreativo e esportivo da cidade de São Paulo tiveram presença constante nos jornais de grande circulação durante os anos 1930, repercutindo para além de seus círculos de associados. Mais do que espaços de divertimento e sociabilidade, eram peças-chave em um sistema amplo de articulação e disputa política dos imigrantes portugueses da cidade, envolvendo diferentes grupos da comunidade e os Estados brasileiro e português.

Compreendendo o associativismo como objeto de interesse da história do esporte e partindo de uma concepção ampliada de política (Ribeiro, 2020RIBEIRO, Luiz Carlos. Futebol e política. In: GIGLIO, Sérgio Settani: PRONI, Marcelo Weishaupt (orgs.). O futebol nas ciências humanas no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp, 2020. p. 25-43.), este trabalho realizou uma interpretação das ações e relações de ordem política dadas a partir das instituições estudadas, destacando as especificidades dessas instituições e de suas lideranças, bem como do modo pelo qual eram representadas na imprensa do período. Reforça-se aqui o caráter necessariamente político do associativismo recreativo e esportivo, já apontado em outras pesquisas.

Em Silva (2016SILVA, Diana Mendes Machado da. Futebol de várzea em São Paulo: a Associação Atlética Anhanguera (1928-1940). São Paulo: Alameda; Fapesp, 2016.), por exemplo, o estudo da Associação Atlética Anhanguera, fundada por imigrantes italianos em São Paulo, aponta para a relação entre a organização do futebol de várzea e processos mais amplos de disputa pelo espaço urbano e de produção de identidades étnicas e locais. Siqueira (2009SIQUEIRA, Uassyr de. Clubes recreativos: organização para o lazer. In: AZEVEDO, Elciene et al. (orgs.). Trabalhadores na cidade. Campinas: Editora Unicamp, 2009. p. 271-312.), em sentido semelhante, destaca as tensões políticas como constitutivas dos clubes recreativos e de suas práticas. Longe de serem espaços “neutros”, supostamente afastados das tensões do mundo do trabalho e da grande política, nos clubes se expressavam disputas e conflitos raciais, étnicos, de classe e regionais. Não à toa, formas de controle policial sobre atividades recreativas existiram desde o século XIX.

Nesse sentido atesta-se, a partir do presente trabalho, a relevância dos clubes e associações para a compreensão das dinâmicas da população luso-brasileira em São Paulo. Associação Portuguesa de Desportos, Clube Português e Portugal Clube apresentaram, sobretudo os dois primeiros, considerável grau de integração no meio associativo, tanto quanto às suas atividades como na ocupação de seus cargos de direção. Era comum que homens de prestígio fizessem parte de várias associações e ocupassem cargos em mais de uma, simultaneamente ou não. Eles e as instituições eram presença frequente nos jornais, sendo também suas atividades acompanhadas de perto por representantes do consulado português como parte da preocupação política do salazarismo em monitorar os portugueses do além-mar.

Mais do que elementos de uma rede de apoio, como caracteriza Matos (2013MATOS, Maria Izilda Santos de. Portugueses: deslocamentos, experiências e cotidiano SP séculos XIX e XX. Bauru: Edusc, 2013.), os clubes e associações esportivas e recreativas também faziam parte de uma rede de atuação política dos imigrantes portugueses em São Paulo. Assim, os resultados deste estudo evidenciam a relevância da organização social do esporte e dos divertimentos para se pensar as dinâmicas políticas de um dado contexto.

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  • 1
    Baseado em desdobramentos de Santos Neto (2019).
  • 2
    Há várias experiências associativas de grupos sociais não elitizados estudadas na literatura recente, por exemplo, o futebol de várzea dos imigrantes italianos (Silva, 2016), os clubes esportivos dos trabalhadores bancários (Oliveira, 2020) e as associações recreativas dos homens de cor no estado de São Paulo (Lucindo, 2020).
  • 3
    Como em Araújo (1996), Silva (2016), Moura (2016), Mazo (2003), Quitzau (2011; 2016), Silva (2011; 2015), Assmann (2015), Pereira (2014), Melo e Peres (2014), entre outros.
  • 4
    A cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, é um caso à parte, devido à sua condição de capital no início do século XIX, com uma população portuguesa mais numerosa, influente e diversificada (Melo; Peres, 2014).
  • 5
    A Associação Portuguesa de Esportes passou a se chamar Associação Portuguesa de Desportos apenas em 1940. Optou-se aqui por utilizar a nomenclatura mais recente.
  • 6
    Álbum da colônia portuguesa no Brasil. Rio de Janeiro: [s.n.], 1929.
  • 7
    Correio Paulistano, 4 nov. 1921, p. 5.
  • 8
    Álbum da colônia portuguesa no Brasil. Rio de Janeiro: [s.n.], 1929.
  • 9
    Correio Paulistano, 29 jul. 1937, p. 19.
  • 10
    Correio de S. Paulo, 18 out. 1933, p. 3.
  • 11
    Correio Paulistano, 1 set. 1938, p. 1.
  • 12
    Correio de S. Paulo, 12 jul. 1932, p. 1.
  • 13
    A Gazeta, 14 jul. 1932, p. 2.
  • 14
    Correio de S. Paulo, 9 set. 1933, p. 2.
  • 15
    Correio de S. Paulo, 9 fev. 1934, p. 3.
  • 16
    Correio de S. Paulo, 24 out. 1932, p. 3.
  • 17
    Mensagem ao Govêrno de Portugal da Federação das Associações Portuguesas no Brasil. Rio de Janeiro: [s.n.], 1936.
  • +
    [] O presente trabalho contou com o apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), processos 144128/2017-9 e 304575/2021-6.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Abr 2023
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2023

Histórico

  • Recebido
    16 Jul 2021
  • Aceito
    08 Fev 2022
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