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Osteocondroma acetabular

Resumos

Apresentamos o relato de um caso de osteocondroma solitário acetabular, tumor ósseo comum em diversas regiões do esqueleto porém raro nesta localização. O tratamento realizado foi a ressecção do tumor por uma via posterior ao quadril e o paciente evoluiu com resolução do quadro clínico.

Acetábulo; Osteocondroma; Cabeça do Fêmur; Neoplasias Ósseas; Quadril


This is a case report of a patient with a intra-articular hip osteochondroma, an extremely rare location for this kind of lesion. The patient was treated with resection of the lesion and presented a very good evolution with total recovery of the hip movements.

Acetabulum; Osteochondroma; Femur head; Bone neoplasms; Hip


RELATO DE CASO

Osteocondroma acetabular

Reynaldo Jesus GarciaI; Edmilson Takehiro TakataII; Maria Teresa Seixas AlvesIII; Osvaldo Guilherme Nunes PiresIV; Ricardo BasileIV

IProfessor Adjunto, Livre Docente, Chefe da Disciplina de Ortopedia e Chefe do Setor de Ortopedia Oncológica

IIMestre, Chefe do Grupo de Patologias do Quadril Adulto

IIIDoutora, Chefe da Disciplina de Patologia Geral Sistêmica Forense e Bioética

IVMédico Assistente do Grupo de Patologias do Quadril

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Rua: Tuim, 211 / 61. Telefone: 11 5051-7283 E-mail: rjesusgarcia.dot@epm.br

RESUMO

Apresentamos o relato de um caso de osteocondroma solitário acetabular, tumor ósseo comum em diversas regiões do esqueleto porém raro nesta localização. O tratamento realizado foi a ressecção do tumor por uma via posterior ao quadril e o paciente evoluiu com resolução do quadro clínico.

Descritores: Acetábulo; Osteocondroma; Cabeça do Fêmur; Neoplasias Ósseas; Quadril.

INTRODUÇÃO

Os osteocondromas são exostoses ósseas recobertas por cartilagem e são considerados tumores benignos que se comportam como latentes ou ativos. A ossificação da cartilagem que reveste a exostose promove seu crescimento, deixando atrás de si, osso histologicamente normal.

Os osteocondromas podem acometer todas as regiões do esqueleto, mais comumente os ossos tubulares, escápula e asa do ilíaco e com menor freqüência o carpo, o tarso, as falanges e os corpos vertebrais(1,2,3). São na maioria dos casos lesões extra-articulares. Nos osso longos, localizam-se: na região metafisária (76%); metafisodiafisária (16%); e diafisária (6%)(2). Podem ser sésseis ou pediculados. Aparecem sob a forma solitária ou como osteocondromatose múltipla hereditária.

Algumas vezes, há o desenvolvimento de uma bursa reativa sobre o osteocondroma, como conseqüência do atrito com estruturas adjacentes, músculos e tendões. Apesar de pouco freqüente, pode haver a associação dessa bursa, do osteocondroma e da condromatose sinovial (4).

A malignização ocorre em menos de 1% dos casos(4), geralmente para condrossarcomas.

Dentre os diagnósticos diferenciais da exostose osteo-cartilaginosa estão incluidos os condrossarcomas, neoplasias induzidas por radiação(5) e a displasia epifisária hemimélica(6).

O objetivo deste trabalho é relatar um caso de osteocondroma solitário acetabular, localização extremamente rara deste tipo de lesão.

CASO CLÍNICO

Paciente de13 anos, sexo feminino, branca, com queixa de há 11 meses apresentar dor na região da virilha direita. A dor era insidiosa, de moderada intensidade e sem irradiação. Relatava também limitação gradual do arco de movimento do quadril direito. Foi observado no exame físico inicial, limitação da flexão (20-130º), da adução (0-5º) e diminuição da rotação interna (0-10º) desta articulação. Não apresentava patologias prévias.

Realizadas as radiografias iniciais, observou-se um tumor intra-articular do acetábulo direito (Figuras 1A e 1B). Na tomografia computadorizada observamos imagem compatível com osteocondroma intra-articular na região póstero-inferior do acetábulo (Figura 2) assim como na ressonância nuclear magnética (Figura 3).





Como tratamento optamos pela ressecção da lesão através de uma via póstero-lateral do quadril direito, com osteotomia da borda posterior acetabular. Retiramos a lesão com margem de 1cm. e fixamos a osteotomia com placa de reconstrução e parafusos de 4,5cm.

O tumor ressecado (Figuras 4 e 5) foi encaminhado para exame anátomo-patológico (Figuras 6 e 7) que confirmou o diagnóstico de osteocondroma intra-articular do quadril.





Atualmente a paciente está com 2 anos e três meses de pós-operatório, assintomática e com o arco de movimento normal. Na radiografia (Figuras 8 e 9) e tomografia computadorizada controle, com 2 anos de pós-operatório, não há sinal de recidiva local do tumor (Figura 10).




DISCUSSÃO

O osteocondroma é um tumor ósseo comum, porém sua localização intra-articular é muito rara. Foi descrito no tornozelo(7,8), articulações interfalangianas(2), articulação sacroilíaca e colo femoral(4,9,10). Encontramos na literatura apenas o relato de dois casos de osteocondroma com lesão acetabular na exostose múltipla hereditária(11) e somente um caso de osteocondroma solitário do acetábulo(6).

São sintomáticos quando causam ressaltos tendinosos ou musculares, bloqueio articular, compressão de estruturas neurovasculares, fraturas, ou sofram transformação maligna(4). No caso relatado, além do quadro álgico e limitação de movimentos que tiveram melhora sensível após a cirurgia, havia e ainda há o risco de osteoartrose precoce do quadril operado.

No tratamento é imperiosa a ressecção de toda exostose e de sua capa de cartilagem, junto com o pericôndrio que o recobre, pois a ressecção incompleta dessas estruturas ocasionam a recidiva da lesão.

No paciente relatado, foi realizada a ressecção completa da lesão através da abordagem póstero-lateral do quadril com osteotomia da borda acetabular, o que proporcionou adequada exposição à lesão. Optou-se pela perfuração do acetábulo antes da osteotomia por facilitar a sua fixação no final da cirurgia.

Trabalho recebido em: 07/06/04 aprovado em 24/08/04

Trabalho realizado no Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo.

  • 1. Castillo M, Hudgins PA, Hoffman JC Jr. Lockjaw secondary to skull base osteochondroma: CT findings. Case report. J Comput Assist Tomogr 1989; 13:338-339.
  • 2. Laflamme GY, Stanciu C. Ostéochondromes intra-articulaires isoles des phalanges chez les infants. Ann Chir 1998; 52 :791-794.
  • 3. Paik NJ, Han TR, Lim SJ. Multiple peripheral nerve compressions related to malignantly transformed hereditary multiple exostose. Muscle Nerve 2000; 23: 1290-1294.
  • 4. Peh WCG, Shek TW, Davies AM, Wong JW, Chien EP. Osteochondroma and secondary osteochondromatosis. Case report. Skeletal Radiol 1999; 28:169-174.
  • 5. DeSimone DP, Abdelwahab IF, Kenan S, Klein MJ, Lewis MM. Case report 785: Radiation-induced osteochondroma of the ilium. Skeletal Radiol 1993; 22:289-291.
  • 6. Bleshman MH, Levy RM. An unusual location of an osteochondroma. Case report. Radiology 1978; 127: 456.
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  • Endereço para correspondência
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      27 Jul 2005
    • Data do Fascículo
      2005

    Histórico

    • Aceito
      24 Ago 2004
    • Recebido
      07 Jun 2004
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