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Avaliação funcional dos pacientes portadores de sarcomas ósseos submetidos à tratamento cirúrgico utilizando a endoprótese total ou parcial, na substituição da extremidade distal do fêmur

Resumos

OBJETIVO: O Osteosarcoma e o Sarcoma de Ewing são as principais neoplasias malignas primárias ósseas, que acometem indivíduos menores de 15 anos. O objetivo deste estudo é comparar, retrospectivamente, os resultados funcionais dos pacientes submetidos à ressecção da extremidade distal do fêmur e à reconstrução com endoprótese não convencional, total ou parcial, do joelho. MÉTODOS: Foram analisados 26 pacientes portadores de sarcomas ósseos da extremidade distal do fêmur, acompanhados no Centro Infantil Boldrini, no período de 1990 a 2003. Vinte e quatro eram portadores de Osteossarcoma e 2 de Sarcoma de Ewing. O sistema de avaliação foi o proposto por Enneking (1987), preconizado pela Musculoskeletal Tumor Society. Para a comparação das médias entre cada critério e também entre os escores finais, utilizou-se o teste de Wilcoxon, com erro alfa de 5%. RESULTADOS: A idade variou de 5 a 17 anos, média=11,9 anos. A predominância foi no sexo feminino (61,5%). Na avaliação funcional, a comparação entre as médias de cada critério, foi encontrada diferença estatisticamente significativa somente relacionada ao item estabilidade (p=0,0037). Nos demais critérios, não foi observado diferença estatisticamente significativa: movimento (p=0,7546), dor (p=0,4848), deformidade (p=0,8695), força (p=1,0000), atividade funcional (p=0,9127) e resultado funcional (p=0,5866). CONCLUSÕES: O escore final global da avaliação funcional não apresentou diferença estatisticamente significativa (p=0,6027). O tipo de endoprótese utilizado para reconstrução do fêmur não interferiu nos resultados funcionais dos pacientes.

Neoplasias Ósseas; Criança; Cirurgia; Resultado de Reabilitação


OBJECTIVES: Osteosarcoma and Ewing's sarcoma are the most common malignant primary bone tumors in individuals under the age of 15 years. The purpose of the study is to retrospectively compare functional outcomes of patients submitted to resection of the distal femoral end and to reconstruction with total or partial non-conventional prosthesis of the knee. METHODS: We assessed 26 patients with bone sarcomas in the distal femoral end treated at the Boldrini's Children Center between 1990 and 2003. Twenty-four presented with Osteosarcoma and two had Ewing's sarcoma. The assessment system employed was the one proposed by Enneking (1987) as recognized by the Musculoskeletal Tumor Society. For the statistical analysis between the criteria and final scores, we have used the Wilcoxon test, with an alpha error of 5%. RESULTS: Ages ranged from 5 to 17 years, (mean: 11 years and 9 months); with prevalence being higher in females (61.5%). The only statistically significant difference found in this study was concerned to stability (p=0.0037). No statistical significance was found on any other criteria such as movement (p=0.7546), pain (p=0.4848), deformity (p=0.8695), strength (p=1.0000), functional activities (p=0.9127) and final functional outcome (p=0.5866). CONCLUSIONS: The overall functional end score did not show statistically significant differences (p=0.6027). The type of prosthesis for femoral reconstruction did not affect patients' functional outcomes.

Bone neoplasm; Child; Surgery; Treatment outcome


ARTIGO ORIGINAL

Avaliação funcional dos pacientes portadores de sarcomas ósseos submetidos à tratamento cirúrgico utilizando a endoprótese total ou parcial, na substituição da extremidade distal do fêmur

Sandra Maria Holanda de MendonçaI; Alejandro Enzo CassoneII; Silvia Regina BrandaliseIII

IFisioterapeuta, Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente (FCM/UNICAMP)

IIDoutor em Ortopedia e Traumatologia, Médico Ortopedista do Grupo de Ortopedia Oncológica do Centro Infantil Boldrini - Campinas, S.P

IIIDoutora em Ciências Médicas, Chefe do Serviço de Onco-hematologia Pediátrica da FCM – UNICAMP - Campinas, S.P

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Sandra Maria Holanda de Mendonça Rua Rafael Rinaldi, 284 - Térreo; Bairro Osvaldo Uberlândia, MG - Brasil - CEP 38400-384 Email: shmendonca@ig.com.br

RESUMO

OBJETIVO: O Osteosarcoma e o Sarcoma de Ewing são as principais neoplasias malignas primárias ósseas, que acometem indivíduos menores de 15 anos. O objetivo deste estudo é comparar, retrospectivamente, os resultados funcionais dos pacientes submetidos à ressecção da extremidade distal do fêmur e à reconstrução com endoprótese não convencional, total ou parcial, do joelho.

MÉTODOS: Foram analisados 26 pacientes portadores de sarcomas ósseos da extremidade distal do fêmur, acompanhados no Centro Infantil Boldrini, no período de 1990 a 2003. Vinte e quatro eram portadores de Osteossarcoma e 2 de Sarcoma de Ewing. O sistema de avaliação foi o proposto por Enneking (1987), preconizado pela Musculoskeletal Tumor Society. Para a comparação das médias entre cada critério e também entre os escores finais, utilizou-se o teste de Wilcoxon, com erro alfa de 5%.

RESULTADOS: A idade variou de 5 a 17 anos, média=11,9 anos. A predominância foi no sexo feminino (61,5%). Na avaliação funcional, a comparação entre as médias de cada critério, foi encontrada diferença estatisticamente significativa somente relacionada ao item estabilidade (p=0,0037). Nos demais critérios, não foi observado diferença estatisticamente significativa: movimento (p=0,7546), dor (p=0,4848), deformidade (p=0,8695), força (p=1,0000), atividade funcional (p=0,9127) e resultado funcional (p=0,5866).

CONCLUSÕES: O escore final global da avaliação funcional não apresentou diferença estatisticamente significativa (p=0,6027). O tipo de endoprótese utilizado para reconstrução do fêmur não interferiu nos resultados funcionais dos pacientes.

Descritores: Neoplasias Ósseas, Criança, Cirurgia, Resultado de Reabilitação.

INTRODUÇÃO

Os tumores ósseos primários de alto grau de malignidade consistem aproximadamente 7% dos tumores em indivíduos menores de 20 anos de idade. O Osteossarcoma é o tumor mais freqüente nesta faixa etária, ocorrendo em 8,7 casos/ milhão, seguido do Sarcoma de Ewing com 2,9 casos/ milhão(1,2). Acometem preferencialmente o esqueleto apendicular. Em 75% dos casos ocorre predominância pela metáfise dos ossos longos adjacente à placa epifisária, com predileção para extremidade da região distal do fêmur(3,4).

Até a década de 70, o tratamento dos sarcomas ósseos era baseado na amputação. Cerca de 80% dos casos evoluíam para óbito no período máximo de dois anos. As técnicas cirúrgicas consistiam fundamentalmente nas cirurgias de ressecção, cujo principal objetivo era a erradicação do tumor, na tentativa de controle local da doença(5).

A utilização da endoprótese nas cirurgias de ressecção do tumor não interferia nas taxas de sobrevida dos pacientes, tornando-se uma alternativa à amputação. A endoprótese passou a ser utilizada como método de reconstrução visando a preservação dos membros destes pacientes, principalmente aqueles de baixa idade, já que os índices de óbito decorrentes daquelas neoplasias ainda eram altos. Com a baixa expectativa de vida, esta propiciaria boa função e a discrepância dos membros não representaria um problema(6).

Com o desenvolvimento da poliquimioterapia, associada à utilização de novos métodos de diagnóstico por imagem, maior precisão no estadiamento e recentes conhecimentos advindos da avaliação da resposta biológica destes tumores, os pacientes passaram a ter taxas de sobrevida significativamente maiores(4).

Com esta maior sobrevida, surgiu a questão da atividade funcional, principalmente naqueles pacientes abaixo de 12 anos de idade, acometidos por neoplasias na região do joelho. Nesta faixa etária, as ressecções que envolvem a articulação do joelho trazem diferença no comprimento final do membro, pois o acometimento metafisio-epifisário do tumor não permite preservar a cartilagem de crescimento(3). Com o aumento da sobrevida dos pacientes, as próteses começaram a necessitar de revisões por problemas de quebra ou soltura, ou ainda por discrepância entre os membros, decorrente do crescimento do membro não acometido pelo tumor. As freqüentes revisões causavam infecções nas endopróteses ou rigidez no joelho, levando a amputações tardias, mesmo na ausência de recidiva local da doença neoplásica(7,8,9). Este, associado às constantes revisões da prótese, têm levado parte dos cirurgiões a preferirem a amputação à cirurgia conservadora, em pacientes com menos de 6 anos de idade, tornando a cirurgia ablativa a técnica mais empregada nesta faixa etária(10).

Embora no passado, a amputação tenha sido o procedimento mais empregado para o controle local do tumor ósseo, os progressos no campo da medicina permitiram que 80% dos pacientes com tumores ósseos de alto grau de malignidade pudessem ter seus membros preservados, contribuindo para a obtenção de resultados funcionais mais satisfatórios(6,7).

Nos pacientes que necessitam de reconstrução do fêmur distal com endoprótese não convencional, pode-se utilizar a endoprótese parcial ou total do joelho. Os critérios adotados pelo cirurgião na escolha do implante variam de acordo com a idade do paciente, localização e extensão do tumor(4). A endoprótese parcial é indicada, principalmente, para pacientes com imaturidade esquelética, pois preserva a cartilagem de crescimento da tíbia, minimizando no futuro a discrepância no comprimento dos membros(10).

Nos pacientes esqueléticamente imaturos com tumores da extremidade distal do fêmur onde a articulação é invadida pelo tumor ou não há margem oncológica de segurança, utiliza-se a endoprótese total. No preparo cirúrgico da extremidade proximal da tíbia é preconizado perfurar a cavidade medular óssea e, conseqüentemente, o centro da cartilagem de crescimento que receberá a haste do componente tibial. A cartilagem articular da tíbia é retirada com os meniscos. Alguns modelos de endopróteses permitem movimentos de flexo-extensão, associado à rotação interna e externa, translação, inclinação em varo e valgo, de cerca de cinco graus. Proporcionam estabilidade articular, já que a remoção dos ligamentos junto ao tumor resulta em instabilidade, comprometendo a marcha e o conforto do paciente(10).

A reconstrução do membro inferior utilizando uma endoprótese não-convencional do joelho permite deambulação precoce, rápida recuperação funcional e reintegração social. No entanto, a durabilidade de uma endoprótese não convencional da extremidade distal do fêmur varia em torno de cinco a dez anos(11,12). Podem ocorrer problemas relacionados à assimetria no comprimento dos membros, e também complicações inerentes ao implante ortopédico, como infecções, solturas assépticas, desgastes, quebra, e degeneração articular, o que freqüentemente implica em revisões. Nas crianças, a vida útil desta prótese é ainda menor, devido a maior atividade física nesta faixa etária, alta demanda biomecânica e remodelação do canal medular, que levam à soltura da fixação da haste intramedular(9,13).

O objetivo deste estudo é analisar, retrospectivamente, os resultados funcionais de pacientes portadores de sarcomas ósseos da extremidade distal do fêmur, submetidos à reconstrução com endoprótese total do joelho, e compará-los aos reconstruídos com endoprótese parcial.

MATERIAL E MÉTODO

Trata-se de um estudo retrospectivo, com 26 pacientes portadores de sarcomas ósseos de alto grau de malignidade localizados na extremidade distal do fêmur, submetidos à ressecção e reconstrução do membro com endoprótese não convencional do joelho, total ou parcial, tratados com quimioterapia pré e pós-operatória, diagnosticados e acompanhados no período de janeiro de 1990 a dezembro de 2003, no Centro Infantil Dr. Domingos A. Boldrini. Foram excluídos do estudo, pacientes sem dados completos no prontuário que permitissem a realização da avaliação funcional e os que foram a óbito ou transferidos para outro serviço antes de completarem um ano de seguimento pós-operatório. O Comitê de Ética e Pesquisa da instituição em que se desenvolveu esta pesquisa isentou os pacientes participantes deste estudo da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Os critérios adotados para a escolha das endopróteses do joelho foram a maturidade esquelética, localização e extensão do tumor.

Vinte e quatro pacientes eram portadores de Osteossarcoma e dois de Sarcoma de Ewing; dez pertenciam ao gênero masculino e 16 ao feminino, com idade variando entre 5 a 17 anos (média de 11,9 e mediana de 11,5 anos). Quanto à etnia, cinco pacientes eram negros e 21 brancos. Quinze casos (57,7%) foram reconstruídos com endoprótese total e onze (42,3%) com a endoprótese parcial do joelho. A Figura 1 demonstra a reconstrução com endoprótese parcial e a Figura 2, demonstra a reconstrução com endoprótese total.



Todos os pacientes foram submetidos ao tratamento de reabilitação fisioterápica nas primeiras 48 horas do pós-operatório onde foram realizados exercícios isométricos e movimentação passiva. A partir da primeira semana foram introduzidos exercícios ativo-assistido, livre, resistidos e proprioceptivos. No ambulatório foi trabalhado alongamento, ganho de ADM e força muscular, treino de marcha, equilíbrio e propriocepção, com o objetivo de promover independência na deambulação. Os pacientes submetidos à reconstrução com endoprótese total de joelho permaneceram sem carga no membro reconstruído durante as duas primeiras semanas de pós-operatório e os submetidos à endoprótese parcial, durante as seis semanas após a cirurgia. Todos os pacientes foram avaliados funcionalmente, com seguimento mínimo pós-operatório de 12 meses.

A avaliação funcional dos 26 pacientes foi de acordo com a classificação preconizada por Enneking(14), adotada pela Musculoskeletal Tumor Society (MSTS), cujos parâmetros são mobilidade do joelho, dor, estabilidade, deformidade, força muscular, atividade funcional e aceitação emocional. Cada parâmetro de avaliação funcional foi avaliado comparativamente entre os dois grupos de endopróteses (total ou parcial). O tempo de seguimento foi calculado considerando-se o período entre a cirurgia e a data da última avaliação.

A comparação dos resultados funcionais obtidos entre os dois grupos de pacientes, foi realizada utilizando-se o teste não paramétrico de Wilcoxon. O mesmo teste foi utilizado para comparar cada parâmetro da classificação estudada, entre os dois grupos de pacientes. O software utilizado para a análise estatística foi o SAS® e o nível de significância adotado foi de 5%.

RESULTADOS

Os 26 pacientes do estudo apresentaram a média de idade de 11,9 ± 3,2 anos, sendo a mediana de 11,5 anos. O grupo de pacientes que tiveram reconstrução com endoprótese total do joelho (n=15), apresentou média de idade de 13,3 ± 3,0 anos. O grupo que recebeu endoprótese parcial de joelho (n=11) apresentou média de idade de 11,0 ± 3,2 anos. Não houve diferença estatisticamente entre os grupos na avaliação da média de idade (p=0,53) (Tabela 1).

O tempo médio de seguimento observado no grupo de pacientes reconstruídos com endoprótese parcial foi, de 48,6 ± 32 meses, enquanto que no grupo com endoprótese total este foi de 38,9 ± 21,4 meses. A diferença dos períodos de seguimento não foi estatisticamente significativa entre os (p=0,60) (Tabela 2).

Quanto à distribuição dos pacientes em relação ao diagnóstico histopatológico, a maior freqüência foi do Osteossarcoma, ocorrendo em 24 casos (92,3%) e os dois casos restantes (7,7%) foram classificados como Sarcoma de Ewing (Tabela 3).

O resultado funcional global obtido foi considerado como excelente em 26,7% dos pacientes reconstruídos com endoprótese total do joelho, bom em 46,7%, regular em 13,3% e ruim em 13,3%. Já os pacientes reconstruídos com endoprótese parcial, 9,1% foram classificados como excelentes, 54,5% bons, 18,2% regulares e 18,2% ruins, em relação ao resultado funcional global.

Dos 15 pacientes reconstruídos com endoprótese total do joelho, 73,4% apresentaram classificação bom/excelente e dos 11 pacientes reconstruídos com endoprótese parcial do joelho, 63,6% apresentaram resultado funcional global bom/excelente (Tabela 4).

Quando se agrupam os pacientes, independente do tipo de reconstrução 19,2% dos pacientes foram classificados como excelentes, 50,0% como bons, 15,4% como regulares e ruins respectivamente. Dos vinte e seis pacientes avaliados, 69,2% obtiveram a classificação bom/excelente enquanto 30,8% regular/ruim, de acordo com o resultado funcional global.

Quando cada critério componente do Sistema de Avaliação Funcional proposto por Enneking(14) foi comparado entre os dois grupos de pacientes, de acordo com a endoprótese utilizada na reconstrução óssea, observou-se que somente o critério estabilidade apresentou diferença estatisticamente significativa (p=0,0037) (Tabela 5).

DISCUSSÃO

Sadao(7) realizou um estudo de revisão bibliográfica e observou que a literatura é escassa em relação ao tratamento de sarcomas ósseos de alto grau de malignidade, especialmente no que se refere ao tratamento de pacientes que tenham comprometimento da cartilagem de crescimento. Poucos estudos analisaram os resultados funcionais em pacientes portadores de sarcomas ósseos na extremidade distal do fêmur reconstruídos com endoprótese de joelho, cuja média de idade seja equivalente aos pacientes deste estudo (3,9,15,16,17), portanto considerados esqueléticamente imaturos.

Na casuística estudada, houve um maior número de pacientes pertecentes ao do gênero feminino (61,5%) em relação ao masculino (38,5%), resultado que está de acordo com dados publicados por outros pesquisadores(18,19,20). No entanto, também foram encontados estudos onde a maioria de pacientes pertenciam ao gênero masculino(3,9,15). Foi observado o predomínio da etnia branca em 80,8% dos casos, conforme descrito na literatura(18,19).

A idade dos pacientes variou de cinco a 17 anos, com média de 11,9 anos, e mediana de 11,5 anos. Estes valores estão relacionados às características do hospital onde foi desenvolvido o estudo, que estabelece a idade máxima de 25 anos para admissão dos pacientes. Estudos demonstram que o Osteossarcoma e o Sarcoma de Ewing acometem em maior número crianças e adolescentes(2,4,21,22). Dos 26 pacientes avaliados, apenas um possuía 5 anos de idade, três entre 5 e 10 anos, e os demais se encontravam na segunda década de vida.

No presente estudo os pacientes foram analisados quanto aos resultados funcionais conforme o tipo de endoprótese utilizada, se parcial ou total do joelho. O grupo reconstruído com endoprótese parcial tinha média de idade de 11 anos, enquanto que no grupo com endoprótese total, a média de idade foi de 13,3 anos. Esta diferença não se mostrou estatisticamente significativa (p=0,53). Embora a casuística seja pequena, pode-se inferir que os dois grupos estavam em semelhante período de crescimento ósseo, portanto as diferenças funcionais observadas não podem ser atribuídas às diferenças de idade.

O tempo de seguimento pós-operatório constitui outro fator que poderia influenciar nos resultados funcionais das reconstruções com endopróteses em razão das revisões causadas por complicações de caráter biomecânico(9,12). Do ponto de vista funcional, o período pós-operatório mínimo de 12 meses permitiu uma avaliação adequada dos resultados. O tempo médio de seguimento dos pacientes foi semelhante comparando-se os dois grupos, não se observando diferença estatisticamente significativa (p=0,60). Este dado nos permite inferir que, apesar dos momentos de avaliação não serem uniformes, não houve influência do tempo de seguimento nos resultados funcionais dos pacientes do estudo.

No presente estudo foram encontradas complicações em 54,3% dos pacientes reconstruídos com endoprótese parcial de joelho, e em 46,6% no grupo de pacientes com endoprótese total. Apesar da identificação destas complicações não fazer parte do sistema de avaliação funcional adotado neste estudo, não foi observada associação estatisticamente significativa entre o surgimento das complicações e o resultado funcional (p=0,089), provavelmente porque estas foram abordadas e tratadas no seguimento pós-operatório e já não se encontravam presentes ao tempo da avaliação final dos resultados.

Quanto mais precoce for a intervenção fisioterápica nestes pacientes, maiores as chances de obtenção de resultados funcionais satisfatórios(16). A reabilitação iniciou-se no pós-operatório imediato, representando um desafio para o fisioterapeuta, já que nem sempre o paciente encontrava-se cooperativo com o tratamento.

Em relação ao critério movimento, dos 11 pacientes reconstruídos com endoprótese parcial, sete foram classificados como excelentes (63,6%), dois como regulares (18,2%) e dois (18,2%) como ruins. Já entre os 15 pacientes reconstruídos com total, sete foram classificados como excelentes (46,7%), quatro como bons (26,7%), dois como regulares (13,3%) e dois como ruins (13,3%). Eckardt et al.(16) estudaram os resultados funcionais em sete pacientes portadores de Osteossarcoma da extremidade distal do fêmur, com média de idade de 9,3 anos, reconstruídos com endopróteses expansivas totais do joelho, e obtiveram resultados excelentes em 57% dos pacientes. Kenan et al.(17) estudaram os resultados funcionais em onze pacientes imaturos esqueléticamente portadores de Osteossarcoma da extremidade distal do fêmur, reconstruídos com endoprótese expansivas totais do joelho e obtiveram em 63,7% dos pacientes, resultados classificados como excelentes.

Para o critério força muscular, cinco dos 11 pacientes submetidos à reconstrução cirúrgica do joelho com endoprótese parcial foram classificados como excelentes (45,4%), três como bons (27,3%) e três como regulares (27,3%). Quando avaliamos os 15 pacientes cuja reconstrução do joelho foi realizada com endoprótese total, seis foram classificados como excelentes (40%), seis como bons (40%) e três como regulares (20%). Na análise do critério força muscular, Eckardt et al.(16), encontrou resultados classificados como excelentes em 57% dos seus pacientes e bons em 43%. Kenan et al.(17) em um estudo com 11 crianças portadoras de Osteossarcoma na extremidade distal do fêmur e reconstruídas com endoprótese total de joelho encontraram cerca de 80% de resultados satisfatórios em relação à força muscular.

Ao compararmos os resultados entre os grupos reconstruídos com endoprótese total e parcial do joelho, não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas nos critérios movimento (p=0,7546) e força muscular (p=1,000).

Quanto ao critério dor, tanto no grupo reconstruído com endoprótese total, quanto naquele reconstruído com endoprótese parcial, predominaram as classificações bom e excelente. Entretanto não foi encontrada diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos (p= 0,4848). Kenan et al.(17) relataram que em 63% dos pacientes reconstruídos com endoprótese total foram classificados como excelentes, resultados semelhantes obtidos nos pacientes estudados por Eckardt et al.(16) .

Ao analisar o critério deformidade os pacientes reconstruídos com endoprótese parcial do joelho, quatro foram classificados como ruins, quatro como regulares, três como bons. Já os reconstruídos com total, seis foram classificados como ruins, cinco como regulares e quatro excelentes. Não houve diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos analisados (p=0,8695). Como a presença de encurtamento no membro inferior foi um dos itens avaliados neste critério, esperava-se que naqueles submetidos à reconstrução com endoprótese total, a discrepância de comprimento entre os membros fosse maior do que nos pacientes submetidos à reconstrução com a parcial, visto que nesta última se preserva a cartilagem de crescimento da extremidade proximal da tíbia.

Na análise do critério atividade funcional, a maioria dos pacientes foi capaz de desempenhar todas as funções, de acordo com a faixa etária a que pertenciam como deambular, subir e descer escadas, correr, vestir, tomar banho e outras (p=0,9127).

Quando analisado o critério aceitação emocional foi considerado como resultados satisfatórios àqueles classificados como excelentes e bons. Dos pacientes reconstruídos com endoprótese parcial ou total do joelho, sete (63,6%) e onze (73,4%) respectivamente, obtiveram resultados satisfatórios. Na análise comparativa entre os dois grupos, não foi encontrada diferença estatisticamente significativa (p=0,5866). Skaliczki et al.(20) trabalhando com pacientes com média de idade de 24 anos e nove meses, observaram que a maioria dos pacientes com sarcomas ósseos de alto grau de malignidade envolvendo articulação do joelho, reconstruídos com endoprótese total, apresentaram resultados satisfatórios. Resultados também satisfatórios foram publicados por outros autores(3,16,17), Nestes três últimos estudos, os pacientes avaliados também eram esqueléticamente imaturos, com tumores ósseos localizados na extremidade distal do fêmur e reconstruídos com endoprótese total do joelho.

Somente o critério estabilidade apresentou diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos (p=0,0037). Treze pacientes recontruídos com endoprótese total do joelho (86,7%) e 2 com parcial (18,2%) obtiveram a classificação excelente. O grupo reconstruído com endoprótese total obteve média de escore de 4,6±1,1, enquanto que o grupo reconstruído com endoprótese parcial apresentou média de 2,8±1,7. Esta diferença mostrou-se diferença estatisticamente significativa (p=0,0037). Este resultado está de acordo com Camargo e Croci(8) que descrevem sobre o fato da endoprótese total do joelho proporcionar maior estabilidade que a endoprótese parcial com o componente femoral. Não foram encontrados estudos na literatura que comparassem a estabilidade entre estes dois grupos. No entanto, como não houve diferença nos resultados funcionais globais, é possível inferir que a estabilidade da endoprótese do tipo parcial do joelho não influenciou na função global dos pacientes avaliados.

Na avaliação pós-cirúrgica, o resultado funcional global apresentou o predomínio da classificação bom e excelente nos dois grupos (69,2%). No grupo reconstruído com endoprótese total 11/15 pacientes apresentaram a classificação bom e excelente (73,4%) e nos com endoprótese parcial 7/11 como bons e excelentes (63,6%). Esses resultados estão de acordo com os publicados por Tunn et al.(9), que estudaram crianças portadoras de Osteossarcoma na extremidade distal do fêmur região de joelho reconstruídos com endoprótese total, e por Cassone(15) que realizou um estudo multicêntrico e comparativo da avaliação oncológica e funcional em 62 pacientes portadores de saromas ósseos, esqueléticamente imaturos, submetido à ressecção transepifisária com enxertia óssea ou ressecção osteoarticular com prótese na região do joelho. No grupo reconstruídos com endoprótese total 7/13 foram classificados como bons (53,8%) e no com endoprótese parcial 11/16 como bons ou excelentes (68,7%). Houve predomínio das classificações bom e excelente nos dois grupos, quando analisados os resultados funcionais globais. Outros autores que estudaram crianças portadoras de sarcomas ósseoa na extremidade distal do fêmur e reconstruídas com endoprótese total do joelho apresentaram resultados funcionais globais classificados como bons e excelentes(3,9,16). Os estudos acima descritos utilizaram o Sistema de Avaliação Funcional proposto por Enneking(14).

Ao compararmos os resultados funcionais globais entre os dois grupos, não foi encontrada diferença estatisticamente significativa entre eles (p=0,6027).

Os resultados funcionais do estudo reforçam os benefícios da reconstrução da extremidade distal do fêmur, quer com a endoprótese total o com a parcial do joelho. Embora a estabilidade seja maior naqueles submetidos à reconstrução com a endoprótese total, os resultados funcionais globais foram semelhantes. A escolha pelo cirurgião, de um outro tipo de reconstrução é influenciada pela idade do paciente, localização exata do tumor e sua extensão. A técnica reconstrutiva, sem dúvida contribui para melhor qualidade de vida do paciente, e miniminiza as dificuldades para sua reinserção psicosocial.

CONCLUSÕES

Dos 26 pacientes portadores de sarcomas ósseos da extremidade distal do femur, o tipo de endoprótese utilizada na reconstrução, parcial ou total, não influenciou no resultado funcional global (p=0,6027).

Quando comparados os critérios específicos da avaliação funcional, somente o critério estabilidade mostrou diferenças entre os dois grupos, o grupo reconstruído com endoprótese total do joelho obteve pontuação média de 4,6±1,1, enquanto que o grupo reconstruído com endoprótese parcial apresentou média de 2,8±1,7. Esta diferença mostrou-se diferença estatisticamente significativa (p=0,0037).

Trabalho recebido em 14/01/07

aprovado em 19/03/07

Trabalho realizado no Centro Infantil Boldrini - Campinas - SP

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  • Endereço para correspondência:
    Sandra Maria Holanda de Mendonça
    Rua Rafael Rinaldi, 284 - Térreo; Bairro Osvaldo
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      05 Maio 2008
    • Data do Fascículo
      2008

    Histórico

    • Aceito
      19 Mar 2007
    • Recebido
      14 Jan 2007
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