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Análise tomográfica para colocação de parafusos em C2 nos pacientes com artrite reumatoide

Resumos

OBJETIVO: A análise morfológica da estrutura óssea de C2, em pacientes com artrite reumatoide, com o objetivo de aumentar a segurança de procedimentos de estabilização desta vértebra. MÉTODOS: Analisamos retrospectivamente 20 tomografias de coluna cervical realizadas em pacientes com artrite reumatoide, foram medidos os seguintes parâmetros: o ângulo espinolaminar, espessura e comprimento da lâmina de C2. RESULTADOS: Os valores médios encontrados são: espessura das lâminas direita 5,92mm e esquerda 5,87mm; comprimento das lâminas direita 27,75mm e esquerda 27,94mm e ângulo espinolaminar 44,7(0). CONCLUSÃO: Os valores obtidos são compatíveis com os de estudos realizados em indivíduos normais publicados por outros autores, não havendo aparente necessidade de alteração na técnica para colocação dos parafusos. Nível de Evidência IV, Série de casos.

Axis; Artrite reumatoide; Artrite reumatoide; Anatomia


OBJECTIVE: A morphological analysis of the bone structure of C2 in patients with rheumatoid arthritis in order to enhance the security of the stabilization procedures for this vertebra. METHODS: We retrospectively analyzed 20 CT scans of the cervical spine performed in patients with rheumatoid arthritis; the following parameters were measured: espinolaminar angle, thickness and length of C2 lamina. RESULTS: The mean values are: 5.92mm and 5.87mm for thickness of right and left laminae retrospectively, 27.75mm for right lamina lenght and 27.94mm for left lamina lenght, and 44.7º for espinolaminar angle. CONCLUSION: The values obtained are consistent with studies in normal subjects published by other groups, with no apparent need for change in the screw placement technique. Level of Evidence IV, Case series.

Axis; Arthritis, rheumatoid; Arthritis, rheumatoid; Anatomy


ARTIGO ORIGINAL

Análise tomográfica para colocação de parafusos em C2 nos pacientes com artrite reumatoide

Rodrigo Schroll Astolfi; Wilson Tadao Tachibana; Olavo Biraghi Letaif; Alexandre Fogaça Cristante; Reginaldo Perilo Oliveira; Tarcísio Eloy Pessoa de Barros Filho

Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Correspondência Correspondência: Rua Teodoro Sampaio, 363, Apto 211 Bairro Pinheiros, 05405-000, São Paulo, SP. Brasil E-mail: aacristante@uol.com.br

RESUMO

OBJETIVO: A análise morfológica da estrutura óssea de C2, em pacientes com artrite reumatoide, com o objetivo de aumentar a segurança de procedimentos de estabilização desta vértebra.

MÉTODOS: Analisamos retrospectivamente 20 tomografias de coluna cervical realizadas em pacientes com artrite reumatoide, foram medidos os seguintes parâmetros: o ângulo espinolaminar, espessura e comprimento da lâmina de C2.

RESULTADOS: Os valores médios encontrados são: espessura das lâminas direita 5,92mm e esquerda 5,87mm; comprimento das lâminas direita 27,75mm e esquerda 27,94mm e ângulo espinolaminar 44,70.

CONCLUSÃO: Os valores obtidos são compatíveis com os de estudos realizados em indivíduos normais publicados por outros autores, não havendo aparente necessidade de alteração na técnica para colocação dos parafusos. Nível de Evidência IV, Série de casos.

Descritores: Axis. Artrite reumatoide/radiografia. Artrite reumatoide/cirurgia. Anatomia.

INTRODUÇÃO

A região cervical é comumente acometida na artrite reumatoide. A frequência de acometimento clínico e radiográfico chega 72,5%.1 Fazem parte da fisiopatologia da doença a sinovite das articulações apofisárias, a frouxidão ligamentar, a perda de cartilagem articular e a erosão óssea.2 As três lesões mais comuns são: subluxação atlanto axial (C1-C2), luxação subaxial (abaixo de C2) e a destruição das articulações atlantoaxial e atlantoccipital levando a assentamento do cranio sobre o odontoide.3 Apesar do acometimento cervical ser frequente apenas uma pequena porcentagem dos pacientes tem indicação cirúrgica. As indicações para artrodese são: dor, instabilidade e déficit neurológico.4

Diversas técnicas de estabilização da coluna cervical alta com parafusos laminares são utilizadas.5-7 Estudos anatômicos8,9 e tomográficos10 anteriores avaliaram a morfologia óssea de C2 em indivíduos normais com o objetivo de otimizar a segurança destes métodos. Outros estudos investigaram as alterações morfológicas desta região em pacientes com artrite reumatoide, mas nenhum deles teve enfoque em caracterizar alterações laminares de C2 que colocassem em risco procedimentos cirúrgicos neste local.1-4 Este estudo trata de medições da estrutura óssea de C2 em tomografias de pacientes com artrite reumatoide.

MATERIAIS E MÉTODOS

Analisamos retrospectivamente 20 tomografias de pacientes com artrite reumatoide adquiridas para o diagnóstico e planejamento cirúrgico. As dimensões e angulações das lâminas foram avaliadas por meio do programa de imagem ImageJ®.

A espessura da lâmina foi medida em milímetros. No corte axial de C2 em que foi notada a maior espessura da lâmina, a medida foi realizada no ponto de menor espessura de cada lâmina no corte escolhido. A medida da espessura da esponjosa foi realizada no espaço entre as corticais. (Figura 1) Cada medida foi realizada de modo específico para cada lado da lâmina. O comprimento das lâminas foi medido neste mesmo corte axial. A medida foi realizada da cortical oposta da lâmina até o limite do comprimento visível naquele corte. (Figura 2) O ângulo espinolaminar foi traçado para ambos os lados, com uma linha no interior da lâmina de C2 paralela às corticais desta lâmina, e uma linha que passa longitudinal ao processo espinhoso desta vértebra. (Figura 3)




RESULTADOS

Das 20 tomografias incluídas no estudo, 17 pertenciam a pacientes do sexo feminino e três a pacientes masculinos, a média de idade dos pacientes do estudo era 59 anos para homens e 60,4 anos para mulheres. A média encontrada para o ângulo espinolaminar foi 44,700 ( IC 95% 41,770 - 47,640), demais médias e seus desvios padrões estão ilustradas na Tabela 1.

A análise comparativa entre os lados direito e esquerdo para espessura total da lâmina, espessura da esponjosa e comprimento da lâmina, não revelou diferença entre os lados (p = 0,852, 0,715, 0,731 respectivamente). A Tabela 2, limites máximo e mínimo de espessura e comprimento laminares. A Tabela 3 apresenta os valores dos mesmos parâmetros em indivíduos sadios obtidos em estudo prévio.10

DISCUSSÃO

Na literatura atual encontramos diversos estudos que utilizam métodos de imagem para caracterizar as degenerações da articulação atlanto-axial dos pacientes com artrite reumatoide.1-3,11,12 No entanto, estes trabalhos têm como enfoque as alterações degenerativas da articulação e o desenvolvimento de instabilidade. Não encontramos trabalho que indica-se a necessidade de cuidados especiais para passagem de parafusos intra-laminares em pacientes com artrite reumatoide, como por exemplo passagem de parafusos de menor diâmetro ou comprimento por deformidades no canal medular das lâminas de C2.

Trata-se de um estudo pequeno, com 20 casos, e que com apenas três pacientes do sexo masculino. Devido à desproporção entre os sexos, não foi possível a análise comparativa entre homens e mulheres. Na comparação não estatística, com os resultados encontrados em indivíduos sadios para os mesmos parâmetros, publicados em trabalho prévio de nosso grupo,10 percebemos que os valores obtidos são equivalentes, sugerindo que; apesar das múltiplas alterações articulares que se desenvolvem com a patologia, não há alteração da morfologia da vértebra de C2 significativa.

Os resultados deste estudo, visam corroborar a idéia de que os procedimentos de estabilização atlanto-axial atualmente considerados seguros para pacientes sadios, também o são para pacientes com artrite reumatoide. Além de demonstrar que a passagem de parafusos intra-laminares de C2 é segura, ao observar que os tamanhos mínimos encontrados são superiores a maioria dos parafusos utilizados nesta região (espessura mínima 3,7mm, comprimento mínimo 26,6mm).

CONCLUSÃO

Os resultados obtidos nas analises morfológicas de C2 em pacientes com artrite reumatoide são semelhantes àqueles de pacientes sadios, sugerindo que não há necessidade de alteração na técnica de colocação de parafusos intra-laminares de C2 em pacientes com artrite reumatoide.

Recebido em 08/08/2011, aprovado em 25/08/2011.

Todos os autores declaram não haver nenhum potencial conflito de interesses referente a este artigo.

Trabalho realizado no LIM 41 - Laboratório de Investigação Médica do Sistema Músculo-Esquelético do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      01 Ago 2012
    • Data do Fascículo
      2012

    Histórico

    • Recebido
      08 Ago 2011
    • Aceito
      25 Ago 2011
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