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Análise casuística da sindactilia congênita: experiência com 47 pacientes

Resumos

OBJETIVO: Analisar e comparar as características dos pacientes com sindactilia congênita com os dados da literatura. MÉTODOS: Estudo retrospectivo baseado na análise do prontuário médico de 47 pacientes tratados em um período de 10 anos. RESULTADOS: Dos pacientes, 33 (70%) eram do sexo masculino e 14 (30%) do feminino. O número total de sindactilias foi de 116. A mão direita foi acometida em 19 casos (40%), a mão esquerda em 12 (24%) e em 17 (36%) o acometimento foi bilateral. Dezesseis (34%) pacientes possuíam síndromes genéticas. Entre os 31 (66%) não-sindrômicos, 12 (39%) apresentavam sindactilias isoladas e 19 (61%) associação com outras malformações da mão. O terceiro espaço foi acometido 45 (39%) vezes, seguido do quarto espaço com 35 (30%), do segundo com 22 (19%) e do primeiro com 14 (12%). As sindactilias simples foram encontradas 68 (59%) vezes, sendo completas em 44 (65%) situações e parciais em 24 (55%). As complexas foram identificadas 48 (41%) vezes. CONCLUSÃO: Os resultados obtidos na presente série são muito semelhantes aos dados encontrados na literatura. Estudo Epidemiológico.

Deformidades congênitas da mão; Sindactilia; Criança


OBJECTIVE: To assess and report clinical data from patients with syndactyly. METHODS: A retrospective review of 47 patients treated between April 2002 and April 2012. RESULTS: Among the 47 analyzed patients, 33 (70%) were male and 14 (30%) female. The total number of syndactylies was 116. The right hand was affected in 19 patients (40%), the left hand in 12 (24%) and 31 (36%) were bilaterally compromised. Sixteen patients (34%) also presented genetic syndromes. Among the 31 (66%) patients without syndromes, 12 (39%) had isolated syndactyly and 19 (61%) presented association with other hand anomalies. The third web space was affected 45 (39%) times; the fourth, 35 (30%) times; the second, 22 (19%) times and the first web space 14 (22%) times. Simple syndactyly was found 68 (59%) times, complete syndactyly in 44 (65%) and incomplete in 24 (55%). Complex syndactyly was found 48 (41%) times. CONCLUSION: The results in this study are similar to the literature. Epidemiological Study.

Hand deformities, congenital; Syndactyly; Child


ARTIGO ORIGINAL

Análise casuística da sindactilia congênita: experiência com 47 pacientes

Luiz Garcia Mandarano-Filho; Márcio Takey Bezuti; Rubens Akita; Nilton Mazzer; Cláudio Henrique Barbieri

Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, SP, Brasil

Correspondência Correspondência: Departamento de Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Campus Universitário Av. Bandeirantes, 3900.11 andar 14049-900. Ribeirão Preto, SP. Brasil mandarano@fmrp.usp.br

RESUMO

OBJETIVO: Analisar e comparar as características dos pacientes com sindactilia congênita com os dados da literatura.

MÉTODOS: Estudo retrospectivo baseado na análise do prontuário médico de 47 pacientes tratados em um período de 10 anos.

RESULTADOS: Dos pacientes, 33 (70%) eram do sexo masculino e 14 (30%) do feminino. O número total de sindactilias foi de 116. A mão direita foi acometida em 19 casos (40%), a mão esquerda em 12 (24%) e em 17 (36%) o acometimento foi bilateral. Dezesseis (34%) pacientes possuíam síndromes genéticas. Entre os 31 (66%) não-sindrômicos, 12 (39%) apresentavam sindactilias isoladas e 19 (61%) associação com outras malformações da mão. O terceiro espaço foi acometido 45 (39%) vezes, seguido do quarto espaço com 35 (30%), do segundo com 22 (19%) e do primeiro com 14 (12%). As sindactilias simples foram encontradas 68 (59%) vezes, sendo completas em 44 (65%) situações e parciais em 24 (55%). As complexas foram identificadas 48 (41%) vezes.

CONCLUSÃO: Os resultados obtidos na presente série são muito semelhantes aos dados encontrados na literatura. Estudo Epidemiológico.

Descritores: Deformidades congênitas da mão. Sindactilia. Criança.

INTRODUÇÃO

A sindactilia é um defeito na separação entre dois ou mais dedos da mão. É uma das anomalias congênitas mais frequentes do membro superior e ocorre em aproximadamente um a cada 2500 nascimentos.1 Pode ocorrer de forma isolada ou associada a outras malformações. Sua causa é uma falha na diferenciação das estruturas mesenquinais em dígitos individuais, não ocorrendo a necrose interdigital longitudinal entre a sexta e oitava semana de vida intrauterina. Geralmente é bilateral e simétrica, acomete preferencialmente o gênero masculino e é incomum em negros. É mais frequente entre o terceiro e quarto dedos, seguido pelo quarto e quinto e pelo segundo e terceiro. A sindactilia entre o primeiro e segundo dedos é rara, pois o polegar se separa da mão antes do restante dos dedos.2

A deformidade costuma ser resultado de mutações esporádicas, porém há relatos de transmissão autossômica dominante com expressividade variável em até 40% dos casos.3 É classificada como simples, quando a fusão ocorre somente pela pele, sendo subdividida em completa ou incompleta dependendo da extensão da interconexão; e como complexa quando a fusão se dá também através da estrutura óssea dos dedos, nesses casos com a possibilidade de anormalidades tendíneas, vasculonervosas2 e ungueais.4 Inúmeras técnicas cirúrgicas são descritas para corrigir esta deformidade, a maioria delas fazendo uso de enxertos de pele, já que a área da superfície dos dedos separados é maior que a área dos dedos unidos.5-9 Há também a técnica cirúrgica clássica associada ao desengorduramento dos retalhos, com posterior cicatrização por segunda intenção das áreas cruentas, como forma de simplificar o procedimento e evitar possíveis complicações do uso dos enxertos.

MATERIAL E MÉTODOS

Estudo descritivo retrospectivo baseado na análise dos dados do prontuário médico de pacientes com sindactilia tratados pela Disciplina de Cirurgia da Mão e Microcirurgia do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Brasil no período de 10 anos (entre abril de 2002 e abril de 2012). Os casos secundários a trauma e queimaduras foram excluídos, totalizando 47 pacientes com sindactilia congênita. Destes, foram investigadas a presença de síndromes genéticas, outras malformações associadas, o número total de sindactilias, o gênero, lado acometido, espaço acometido, simetria, se simples ou complexas e se parciais ou completas. Os dados foram tabulados e expressos em frequências absolutas e relativas.

O presente estudo foi submetido à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição e aprovado.

RESULTADOS

Dos 47 pacientes com sindactilia congênita, 33 (70%) eram do gênero masculino e 14 (30%) do gênero feminino. Dezesseis (34%) pacientes eram portadores de alguma síndrome genética (seis casos de Apert, dois casos de Down, um de Poland e sete com outras síndromes); 31 (66%) pacientes não apresentavam síndromes associadas.

Em 17 (36%) pacientes o acometimento foi bilateral, com 12 (70%) destes casos sendo simétricos. O lado direito foi acometido em 19 (40%) pacientes; e o lado esquerdo em 12 (24%). (Tabela 1) O número total de sindactilias foi de 116, sendo que o terceiro espaço foi acometido 45 vezes (39%), seguido pelo quarto espaço em 35 vezes (30%), segundo espaço com 22 vezes (19%) e o primeiro espaço com 14 vezes (12%). As sindactilias simples representaram 59% (68) do total, sendo 35% (24) parciais e 65% (44) completas. As sindactilias eram complexas em 41% (48) das vezes. (Tabela 2, Figuras 1 e 2)



Dos 31 (66%) pacientes que não apresentavam síndromes, 12 (39%) possuíam sindactilias isoladas e 19 (61%) associações com outras malformações. A mais comum foi a acrossindactilia, em cinco casos; mão fendida em quatro pacientes; polissindactilia, braquidactilia e agenesias diversas em três situações cada. Apenas um paciente apresentou associação com banda de constricção congênita.

DISCUSSÃO

A importância desse tipo de estudo, análise casuística, é confrontar os dados presentes na literatura com os encontrados na experiência própria do Serviço. O número de casos de sindactilia congênita no presente estudo supera a maioria das publicações relacionadas com o tema. Ekerot publicou em 1996 sua experiência com 11 pacientes e 17 sindactilias em três anos.6 Withey et al.10 apresentaram seus resultados em 19 sindactilias de 12 pacientes em 2001. Deunk et al.4 relataram, em 2003, casuística de 27 pacientes ao longo de 21 anos. Lumenta et al.,11 em 2010, publicaram experiência de 26 sindactilias em 19 pacientes em um período de 42 anos. Greuse et al.,12 em 2001, relataram a avaliação de 16 pacientes e 24 sindactilias em dois anos Trabalhos que contemplam número maior de pacientes são o de Bandoh et al.,8 de 1997, com 58 pacientes em nove anos; de D'Arcangelo et al.,9 de 1996, com 50 casos e 122 sindactilias em período de nove anos; e os impressionantes 681 pacientes em 20 anos no estudo de Muzaffar et al.13 publicado em 2004. Em nosso meio Barboza et al.14 relataram em 2006 experiência com 13 pacientes em dois anos; e Cortez et al.15 com 72 pacientes em cinco anos, em 2010. (Tabela 3)

Quanto a distribuição por gênero os resultados mostram predominância dos casos em meninos, elevada presença de acometimento bilateral e simétrico, e com o terceiro espaço sendo mais afetado, o que está de acordo com os dados da literatura. Mais de um terço dos pacientes eram portadores de alguma síndrome genética e, nos casos sem síndromes, em 61% das vezes a sindactilia estava acompanhada de outras malformações da mão. Esses dados mostram que, quase sempre, o tratamento envolve uma abordagem multidisciplinar e com várias etapas cirúrgicas. Entre todos os casos há leve predominância das sindactilias simples, na maioria das vezes de abordagem cirúrgica mais fácil e com resultados melhores.16,17

O conjunto de dados colhidos permitem que estudos posteriores avaliem a correlação entre a idade no momento do procedimento cirúrgico, a técnica empregada e as malformações e síndromes associadas com a qualidade estética e funcional do resultado final.

CONCLUSÃO

Os resultados obtidos na presente série são muito semelhantes aos dados encontrados na literatura mundial, o que valida o estudo e permite um melhor entendimento desta afecção em nosso meio.

Artigo recebido em 14/04/2013, aprovado em 17/08/2013

Todos os autores declaram não haver nenhum potencial conflito de interesses referente a este artigo.

Trabalho realizado na Disciplina de Cirurgia da Mão e Microcirurgia do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, Brasil.

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  • Correspondência:
    Departamento de Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Campus Universitário
    Av. Bandeirantes, 3900.11 andar
    14049-900. Ribeirão Preto, SP. Brasil
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      05 Nov 2013
    • Data do Fascículo
      2013

    Histórico

    • Recebido
      14 Abr 2013
    • Aceito
      17 Ago 2013
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