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Agrotóxicos, saúde e ambiente: tema fértil, pertinente, relevante, atual e necessário. Mais que necessário: urgente.

A riqueza e multiplicidade de olhares presentes nos debates de Stotz, Porto, Waissmann e Carneiro & Almeida sobre o artigo de nossa autoria são indicativos do acima observado. Se no artigo nos propusemos a discutir o mais amplamente possível as conseqüências de um modelo político-econômico sobre o perfil do uso de agrotóxicos no país – e suas decorrências à saúde e ao ambiente –, mantendo consistência mínima para não tornar superficial a discussão, os debates nos mostram que ainda há muito mais a ser incluído. Para não frustrarmos nossos colegas debatedores e vocês, nossos leitores, fazemos logo a ressalva que não será possível abarcar todas essas lacunas nesse espaço de réplica, onde nos permitiremos, apenas, dialogar um pouco – mais uma vez mantendo minimamente uma consistência –, com vocês, debatedores e leitores, sobre o artigo e os debates.

Se devemos estabelecer um ponto de partida para nossa breve discussão, talvez este seja a opção da política agrária brasileira pela monocultura exportadora, mais evidenciada, nos últimos anos, pelo incentivo ao plantio de soja – natural e transgênica –, commodity agrícola essa que corresponde – conforme anteriormente apresentado – a 42% das exportações do país. As implicações dessa opção político-econômica são diversas, algumas das quais apropriadamente mencionadas nos debates. Destacamos, aqui, algumas:

1. Em seu debate, Porto nos lembra da insustentabilidade ambiental da produção agrícola monocultora de larga escala, fenômeno esse associado à degradação dos solos, desertificação, contaminação química de solos e mananciais hídricos, queimadas etc. Este modelo de produção agrícola é responsável, ainda, pela franca expansão da fronteira agrícola no país, seja pela remoção de áreas naturais para o plantio da soja, seja por 'empurrar' a pecuária cada vez mais para dentro da Amazônia, reflexo observado em vários estados das regiões Norte e Centro-Oeste. Fato este lembrado, também, por Stotz, quando menciona a "conquista capitalista da Amazônia" pela soja, em particular a soja transgênica;

2. Não obstante a insustentabilidade ambiental, também é possível evidenciar a insustentabilidade social, lembrada por Porto na associação entre o modelo de produção agrícola monocultor e a concentração de renda, redução de empregos etc. E também por Stotz, quando afirma que a soja "pressiona os camponeses desta região (amazônica) a buscar trabalho léguas distantes, nas colheitas de cana-de-açúcar, café e laranja no Estado de São Paulo". Dentre tantas outras importantes decorrências desse fenômeno, destacamos a fragmentação da lógica "campesina" na agricultura – substituída cada vez mais pela empresa rural fundamentada no agrobusiness.

3. Uma terceira dimensão é, sem dúvida, a da saúde. Independente da dificuldade que temos em estimar o numero exato de trabalhadores e outros indivíduos contaminados por agrotóxicos no país – em função de diversos aspectos, como a dificuldade do profissional de saúde em diagnosticar o nexo da relação entre a doença e a exposição e a ausência de um sistema de informações confiável e nacionalmente abrangente, entre tantos outros que poderíamos destacar – a contaminação humana por agrotóxicos no país é um problema de saúde ampliado, complexo e cuja gestão deve ser encarada de forma prioritária no âmbito do Sistema Único de Saúde. Sobre o assunto, Waissmann nos lembra da importância de empreendermos esforços para identificar os efeitos da exposição a longo termo de trabalhadores e população em geral aos agrotóxicos. Os cânceres e as alterações no sistema endócrino, entre outros efeitos, são hoje problemas de saúde cada vez mais identificados na literatura internacional como decorrências da exposição continuada a agrotóxicos.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Jan 2007
  • Data do Fascículo
    Mar 2007
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