Acessibilidade / Reportar erro

Saúde suplementar no Brasil: dinâmica, práticas e tendências

EDITORIAL

Saúde suplementar no Brasil: dinâmica, práticas e tendências

Algumas premissas orientaram a abordagem deste tema ao mesmo tempo complexo e polêmico. A primeira foi a de reunir contribuições de pesquisadores com distintas origens, enfoques e tradições metodológicas. A segunda, diz respeito a realizar um mapeamento da extensão e características desse segmento, trazendo elementos para a reflexão acerca da configuração do sistema de saúde brasileiro como um todo. Houve também o empenho de selecionar trabalhos que tratassem tanto da esfera macrossocial quanto das práticas em âmbito microssocial. Se esta última opção poderia implicar o risco do não aprofundamento adequado de nenhuma dessas temáticas, trazia, por outro lado, a possibilidade de evitar uma discussão excessivamente teórica. Consideramos que o objetivo foi plenamente alcançado, graças ao esforço realizado por todos que colaboraram nesta tarefa delicada, longa e exigente que é a editoração científica, aos quais somos imensamente gratas.

O número começa com o debate corajoso acerca da unificação do sistema público e da expansão do segmento suplementar, seguido da seção de artigos que inicia com uma análise seminal para situarmos o crescimento do segmento suplementar à luz do processo mais geral de reprodução econômica da sociedade capitalista. Na seqüência, há um aporte descritivo sobre a importância e características desse o segmento e um conjunto de trabalhos sobre as políticas de regulação, complementados por um estudo sobre o mix público-privado na oferta, utilização e financiamento dos serviços.

Após essa parte, a qual se refere à esfera macrossocial, o número traz um conjunto diversificado de pesquisas que investigam o reflexo dessas questões no modelo assistencial, nas práticas dos prestadores e nas experiências dos usuários. Assim, são abordados temas como os procedimentos e as percepções de profissionais e grupos atuantes no mercado de planos de saúde, os fatores associados ao uso de diretrizes clínicas e a incorporação de novas modalidades de prestação de serviço, tais como o atendimento domiciliar. Alguns trabalhos tratam de modelos assistenciais e um artigo aborda as preocupantes taxas de parto cirúrgico que caracterizam esse segmento. Duas pesquisas introduzem temáticas inovadoras investigando itinerários terapêuticos e o imaginário da atuação profissional pois, embora o olhar sobre os processos saúde-doença-cuidados se insira em macro-contextos determinados econômica e socialmente, também envolve uma importante dimensão subjetiva e cultural.

A seção Opinião enfoca a consolidação do capital financeiro nos anos 1990 com o reposicionamento imposto ao complexo médico-industrial e os desafios que esses processos representam para as agências regulatórias e para mudanças no projeto tecnoassistencial.

A seção de resenhas organizada pela professora Consuelo Sampaio Meneses sugere algumas leituras para o aprofundamento de questões acerca da temática do público e do privado no campo da saúde, tais como o caráter polissêmico dessas categorias ao longo da história, a dinâmica na realidade brasileira, a dependência de trajetória nas políticas e a dualidade institucional da assistência e o fenômeno denominado de "transição tecnológica" no setor suplementar.

Portanto, ao mapear e sistematizar a diversidade dos estudos existentes, esperamos ter contribuído na atualização de um debate cujo enfrentamento nos parece imprescindível para garantia e defesa do próprio Sistema Único de Saúde.

Eleonor Minho Conill, Maria Alicia Dominguez Ugá

Editores convidados

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Ago 2008
  • Data do Fascículo
    Out 2008
ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva Av. Brasil, 4036 - sala 700 Manguinhos, 21040-361 Rio de Janeiro RJ - Brazil, Tel.: +55 21 3882-9153 / 3882-9151 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: cienciasaudecoletiva@fiocruz.br