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Biossegurança no trabalho em frigoríficos: da margem do lucro à margem da segurança

Biosafety of working in cold storage units: from the profit margin to the safety margin

Resumos

A indústria frigorífica e o complexo de carnes fazem do Brasil um dos principais produtores e exportadores mundiais de produtos de origem animal. A ampliação do mercado leva à competitividade do ponto de vista capitalista e, nesta perspectiva, o lucro empresarial, muitas vezes impõe-se à necessidade de adaptar a ação humana às novas funções, procurando minimizar custos e maximizar produção. As atividades de rotina são longas, repetitivas, com acúmulo de tarefas, onde há operação de máquinas e utilização constante de instrumentos perfurocortantes, por isso, são realizadas com o uso de equipamentos de proteção. Dentre os agentes de risco de maior importância está o biológico, com a exposição por contato direto com sangue, vísceras, fezes, urina, secreções, restos placentários, líquidos e fetos, que podem estar infectados com patógenos de caráter zoonótico. Este artigo discute riscos a que estão sujeitos os profissionais de matadouros-frigoríficos, através de uma revisão integrativa da literatura, considerando o arcabouço conceitual da Biossegurança que contribui para a segurança e saúde dos trabalhadores.

Matadouros; Exposição a agentes biológicos; Riscos ocupacionais


The cold storage unit and meat production industry has made Brazil one of the leading suppliers and exporters of products of animal origin. The rapid expansion of the market has led to a rise in competitiveness from a capitalist standpoint, and in this respect corporate profit often leads to the need to adapt human actions to new functions in order to reduce costs and maximize production. These routine activities involve repetitive work, multi-tasking, long hours and operating machines with the use of sharp cutting tools, which is why the work is conducted wearing protective gear. Among the main hazards present, biological risks are the most important due to direct exposure to internal organs, blood, fecal matter, urine and placental or fetal fluids from slaughtered animals that may be infected with pathogens of zoonotic origin. This paper discusses the risks to which slaughterhouse-cold storage unit professionals are exposed, conducting a thorough bibliographical review of the literature that takes into consideration the conceptual framework of Biosafety, which contributes to improve the safety and health conditions of these workers.

Slaughterhouses; Exposure to biological agents; Occupational hazards


REVISÃO REVIEW

Biossegurança no trabalho em frigoríficos: da margem do lucro à margem da segurança

Biosafety of working in cold storage units: from the profit margin to the safety margin

Gabriela Chaves MarraI; Luciana Hugue de SouzaII; Telma Abdalla de Oliveira CardosoI

IEscola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca. Fundação Oswaldo Cruz. R. Leopoldo Bulhões 1480, Manguinhos. 21.041-210 Rio de Janeiro RJ Brasil. gabicmarra@uol.com.br

IICentro Universitário Dinâmica das Cataratas

RESUMO

A indústria frigorífica e o complexo de carnes fazem do Brasil um dos principais produtores e exportadores mundiais de produtos de origem animal. A ampliação do mercado leva à competitividade do ponto de vista capitalista e, nesta perspectiva, o lucro empresarial, muitas vezes impõe-se à necessidade de adaptar a ação humana às novas funções, procurando minimizar custos e maximizar produção. As atividades de rotina são longas, repetitivas, com acúmulo de tarefas, onde há operação de máquinas e utilização constante de instrumentos perfurocortantes, por isso, são realizadas com o uso de equipamentos de proteção. Dentre os agentes de risco de maior importância está o biológico, com a exposição por contato direto com sangue, vísceras, fezes, urina, secreções, restos placentários, líquidos e fetos, que podem estar infectados com patógenos de caráter zoonótico. Este artigo discute riscos a que estão sujeitos os profissionais de matadouros-frigoríficos, através de uma revisão integrativa da literatura, considerando o arcabouço conceitual da Biossegurança que contribui para a segurança e saúde dos trabalhadores.

Palavras-chave: Matadouros, Exposição a agentes biológicos, Riscos ocupacionais

ABSTRACT

The cold storage unit and meat production industry has made Brazil one of the leading suppliers and exporters of products of animal origin. The rapid expansion of the market has led to a rise in competitiveness from a capitalist standpoint, and in this respect corporate profit often leads to the need to adapt human actions to new functions in order to reduce costs and maximize production. These routine activities involve repetitive work, multi-tasking, long hours and operating machines with the use of sharp cutting tools, which is why the work is conducted wearing protective gear. Among the main hazards present, biological risks are the most important due to direct exposure to internal organs, blood, fecal matter, urine and placental or fetal fluids from slaughtered animals that may be infected with pathogens of zoonotic origin. This paper discusses the risks to which slaughterhouse-cold storage unit professionals are exposed, conducting a thorough bibliographical review of the literature that takes into consideration the conceptual framework of Biosafety, which contributes to improve the safety and health conditions of these workers.

Key words: Slaughterhouses, Exposure to biological agents, Occupational hazards

Introdução

A indústria frigorífica e o complexo de carnes fazem hoje do Brasil um dos principais exportadores mundiais de produtos de origem animal. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010 foram abatidos 29.265 milhões de bovinos, representando aumento de 4,3% em relação ao ano anterior1. Com relação ao abate de aves também houve elevação de 4,5% na produção com relação à 2009, perfazendo 4.988 bilhões de unidades. O abate de suínos aumentou em 5,1% com relação ao ano anterior com 32.510 milhões de unidades abatidas. O Brasil registrou, em 2010, exportações recordes no setor agropecuário com 76,4 bilhões de dólares, em comparação com 2009 (64,7 bilhões de dólares), cujo valor é 18% maior e supera em 4,6 bilhões de dólares os 71,8 bilhões de dólares registrados em 2008, até então o melhor ano para as vendas externas do agronegócio, segundo o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento2.

A pressão exercida pelo mercado consumidor externo vem gerando uma expansão da produção e mantendo o Brasil entre os países com maiores taxas de exportação neste ramo.

Este resultado está sendo obtido gradativamente com o passar dos anos através de uma especialização produtiva, onde os métodos e as condições de trabalho encontrado nos estabelecimentos de produção de produtos de origem animal têm sofrido importantes modificações.

O segmento industrial para ser competitivo e alcançar a qualidade dos alimentos de origem animal, necessita cumprir as normas de inspeção e fiscalização sanitárias, assim deve investir continuamente no treinamento dos trabalhadores, manutenção preventiva de equipamentos e instalações, desde a fase de produção dos animais nas propriedades até a comercialização e a industrialização da carne. Para tanto o MAPA, através da Secretaria de Defesa Agropecuária elabora normas e procedimentos técnicos, realiza vigilância epidemiológica e sanitária dos rebanhos animais e assegura o padrão higiênico/sanitário dos produtos e subprodutos de origem animal destinados aos consumidores. Dentre estas normas está o Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal, que regulamenta para todo o território nacional as normas de inspeção industrial e sanitária dos produtos e subprodutos de origem animal3.

As indústrias de produção de alimentos de origem animal, para poderem exercer suas atividades no território brasileiro, precisam estar registradas e sob inspeção do MAPA em suas instâncias federais, estaduais e municipais. Para tanto existe uma classificação dos estabelecimentos em: a) indústrias com Serviço de Inspeção Federal (SIF), quando realiza o comércio de seus produtos internacionalmente ou entre os Estados brasileiros; b) indústrias com Serviço de Inspeção Estadual (SIE), quando comercializa seus produtos dentro do Estado onde está localizado, e c) indústria com Serviço de Inspeção Municipal (SIM), quando realiza comercialização dentro dos limites do Município. Ressalta-se que apesar do tipo de inspeção determinar a abrangência de comercialização do produto, ela não determina a qualidade do mesmo. Portanto não há diferenças entre os SIF, SIE e SIM, no que se refere às normas de qualidade sanitária dos produtos para o consumo humano4.

Nas indústrias registradas com SIF, em função de exigências impostas pelo mercado consumidor importador e de atendimento às legislações específicas, as estruturas físicas das instalações, assim como o fluxo de produção e o controle de qualidade, são bem implantados, mantidos e supervisionados, já que deficiências nestes itens poderiam acarretar perdas comerciais importantes para as indústrias exportadoras.

Em contrapartida, em estabelecimentos menores como os abatedouros municipais (registrados com SIM), quando comparados aos estabelecimentos exportadores, fatores como o volume menor de negociações e a característica do mercado consumidor, tornam evidentes a existência de uma pressão para a diminuição dos custos de produção da indústria, influenciando as características do ambiente laboral dos trabalhadores.

Para qualquer tipo de indústria de produção de alimentos de origem animal, o acesso à matéria-prima em termos de quantidade e custo, é fundamental para o seu crescimento. Por sua vez, a sobrevivência desta indústria está condicionada à busca de eficiência operacional, da agregação de valor aos produtos garantindo qualidade e redução de custos no enfrentamento do mercado competitivo, entre outros fatores.

A ampliação do mercado de carnes, inclusive internacional, tem pressionado a chamada competitividade do ponto de vista capitalista e, nesta perspectiva, as atividades dentro das indústrias são intensificadas na busca de maior produtividade, o que resulta, segundo Marx5, em precarização das condições de vida e adoecimento dos trabalhadores e em aumento da acumulação de mais valia pela empresa. O aumento de produtividade gera maior jornada de trabalho, com horas extras excessivas transformadas em rotina, ritmos exageradamente intensos, pressão e controle rigorosos sobre os trabalhadores6. Nestas condições, impõe-se a necessidade de adaptação das ações humanas às funções exigidas, objetivando sempre em minimizar custos e em maximizar a produção, ampliando, desta forma, o lucro das empresas7.

Antunes8 ressalta que o atual mundo do trabalho produz um quadro crítico que tem característica assemelhada em diversas partes do mundo, onde vigora a lógica do capital. A automação e a renovação dos equipamentos com a introdução da informatização e robotização; a modernização das plantas industriais; a redefinição organizacional da empresa com novas técnicas de gestão; o trabalho informal e o desemprego repercutem sobre os acidentes, as doenças do trabalho e os estilos de vida da população e evidenciam novas relações entre a política econômica e a saúde9. A insegurança por medo do desemprego faz com que as pessoas se submetam a regimes de trabalho intensos, em condições precárias, em ambientes insalubres e de alto risco, e a contratos com baixa remuneração. Sendo assim, o processo de trabalho e de produção estabelecidos, nos quais o homem participa como agente, podem compor-se em fatores determinantes para o desgaste da saúde deste trabalhador. Consequentemente, os padrões de morbimortalidade dos trabalhadores estão diretamente relacionados à maneira como estes estão inseridos nas formas de produção capitalista.

As atividades em matadouros-frigoríficos demandam do trabalhador atenção nas operações, que são em sua maioria manuais, rotineiras, fixas e pouco variáveis, em um intenso processo de produção, podendo gerar danos e acidentes, quando medidas preventivas não são adotadas10. Desta forma, analisar os riscos do trabalho nestes locais, para melhor compreender a inter-relação entre o trabalho, o processo saúde/doença do trabalhador e os fatores que o determinam, exigem a participação da Biossegurança como propositora de conhecimentos e formuladora de ações preventivas.

Este trabalho tem como objetivo discutir os riscos presentes, em especial o biológico, no ambiente laboral dos estabelecimentos de produção de produtos de origem animal, onde a busca por redução de custos influencia a forma com que o trabalho é prestado, a fim de evidenciar a necessidade da aplicação dos princípios de Biossegurança, para minimizar o adoecimento dos profissionais.

Procedimentos metodológicos

No tocante à tipologia relacionada ao objetivo, esta pesquisa consiste de um estudo exploratório. Gil11 destaca que a pesquisa exploratória é desenvolvida no sentido de proporcionar uma visão geral acerca de determinado fato, coloca o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto. "Dessa forma a mesma não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras"12.

No que concerne aos procedimentos, refere-se a uma pesquisa bibliográfica, com abordagem qualitativa. Segundo Martins13, a pesquisa bibliográfica possibilita adquirir conhecimentos ou resolver um problema "... a partir de consultas a livros, artigos, (...). Tem como objetivo recolher, selecionar, analisar e interpretar as contribuições teóricas já existentes sobre determinado assunto". A abordagem qualitativa não procura enumerar e/ou mensurar os eventos estudados, nem utiliza instrumental estatístico na análise dos dados. Envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada, buscando "compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em estudo"14.

A coleta de dados envolveu a técnica de documentação indireta, particularmente dados de fontes secundárias, em razão da opção pela pesquisa bibliográfica. Na análise dos dados coletados optou-se pela técnica de análise qualitativa.

A pesquisa bibliográfica foi conduzida de acordo com os preceitos metodológicos da estatística descritiva, cujo objetivo é a leitura, a seleção e o registro de tópicos de interesse.

Para guiar a revisão, formulou-se a seguinte questão: quais são os principais riscos a que estão sujeitos os profissionais dos estabelecimentos de produção de produtos de origem animal e o que necessitam de aporte da Biossegurança?

Para a seleção dos artigos foram utilizadas as bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs); Medline/PubMed, da US National Library of MedicineNational Institutes of Health; BioMed Central e Scientific Electronic Library Online (SciELO).

A escolha das bases de dados deve-se ao fato delas conterem o maior número de periódicos indexados na área da saúde, o que possibilitou uma visão mais ampla das pesquisas realizadas sobre a temática em questão, disponibilizadas eletronicamente.

Como descritores foram utilizados aqueles empregados pelos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) da Biblioteca Virtual da Saúde (BVS) e os operadores boolianos OR e AND, resultados da seguinte combinação: "matadouros", "abatedouros", "riscos ocupacionais", "ambiente de trabalho", "condições de trabalho", "doenças profissionais" e "acidentes de trabalho". Na busca, os descritores foram utilizados em português, inglês e espanhol. Foi definido como intervalo para a busca o período de 2000 a 2011.

Os critérios de inclusão utilizados foram: os artigos cujas temáticas estão relacionadas à Biossegurança nas atividades laborais em estabelecimentos de produção de produtos de origem animal e disponibilizados na íntegra.

Como critério de exclusão adotou-se: artigos em idioma diferente do português, inglês ou espanhol, resumos, notas prévias, conteúdos de caráter geral e estudos que abordaram o tema Biossegurança, mas sem a especificidade de estabelecimentos de produção de produtos de origem animal.

Uma análise inicial foi realizada com base nos títulos dos manuscritos; nos resumos de todos os artigos que preenchiam os critérios de inclusão ou que não permitiam a certeza de que deveriam ser excluídos. Após análise dos resumos, todos os artigos selecionados foram obtidos na íntegra e posteriormente examinados de acordo com os critérios de inclusão estabelecidos. Em seguida, analisamos os diferentes contextos da temática à luz do referencial de Hinds et al.15 de modo que os artigos fossem integrados em subtemas, conforme a perspectiva conceitual de cada contexto, de forma a atingir o objetivo deste estudo, evidenciando a necessidade da aplicação dos princípios de Biossegurança para minimizar o adoecimento dos profissionais e o risco de acidentes.

Resultados e discussão

Dentre os 289 estudos identificados, foram eliminados 205 por não atenderem aos critérios de inclusão (190) e por repetição (15). Após a leitura dos 84 estudos restantes, foi feito um grupamento, por similaridade e pertinência aos subtemas a serem discutidos.

Riscos ocupacionais

A busca do conhecimento a respeito do processo saúde-doença que se sobrepõe aos trabalhadores e que culminam na ocorrência de doenças ocupacionais ou de acidentes de trabalho leva ao estudo dos fatores de risco a que estão sujeitos.

Pereira16 destaca que o "fator de risco" acompanha um aumento de probabilidade de ocorrência do agravo à saúde, sem que o referido fator tenha que interferir, necessariamente, em sua causalidade.

Em 1977, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reforçou a necessidade de maior atenção ao problema da saúde dos trabalhadores, com destaque para os programas de higiene no trabalho, promoção e manutenção da saúde do trabalhador. Nessa ocasião, classificou os riscos ocupacionais em biológicos, físicos, químicos, ergonômicos e psicossociais17.

No Brasil, a criação da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), em 1966, marca o início da preocupação do governo com os altos índices de acidentes e com as doenças do trabalho. Na legislação, expressou-se pela consolidação das Leis do Trabalho (CLT), composta por uma série de Normas Regulamentadoras (NR) relativas à segurança e medicina do trabalho, aprovadas pela Portaria nº 3.214, de 197818.

Os trabalhadores dos estabelecimentos de produção de produtos de origem animal, tais como abatedor, desossador, magarefe e retalhador de carne, assim como os profissionais da limpeza e da manutenção, são contratados pelo regime celetista trabalhista, ou seja, regidos pela CLT. Desse modo, a empresa deve cumprir o que está estabelecido nas NR, como por exemplo, a obrigatoriedade de constituir a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) (NR5), identificar as atividades ou operações insalubres que se desenvolvem acima dos limites de tolerância estabelecidos (NR15), elaboração e implementação do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) (NR9) a fim de identificar e avaliar os riscos ambientais existentes e consequente controle de sua ocorrência.

Os estabelecimentos de produção de produtos de origem animal são unidades industriais compostas por ambientes que podem propiciar aos trabalhadores a exposição a diferentes tipos de riscos, os quais podem acarretar agravos à saúde. Dentre os artigos identificados por esta pesquisa, 32,1% (27) abordaram o tema de riscos ocupacionais dentro desses espaços laborais.

Os matadouros-frigoríficos são locais úmidos, com um nível amplificado de ruído, onde há uma alternância de temperaturas altas e baixas. As operações de abate ocorrem de forma sequencial, como em uma indústria de montagem de carros, na qual a velocidade de trabalho é determinada pelo número de animais que devem ser abatidos por intervalo de tempo19. A análise da rotina de trabalho nestes estabelecimentos demonstra a complexidade dos riscos a que estão sujeitos os trabalhadores durante sua jornada de trabalho, em todas as etapas do fluxograma de abate, desde a recepção dos animais até a expedição dos produtos (Quadro 1).


Este quadro revela uma força de trabalho exposta a uma série de riscos ambientais que podem gerar problemas de saúde de caráter físico e psíquico, destacando-se os cortes, as lesões por esforços repetitivos, a depressão, a angústia, o estresse, a contaminação por agentes biológicos, dentre outros.

Riscos que podem gerar transtornos no quadro de saúde dos trabalhadores

Várias pesquisas demonstraram que, apesar do aumento dos postos de trabalho devido à expansão do setor, houve uma precarização nas condições laborais: expressiva rotatividade nos postos; diminuição do salário de admissão, apesar do aumento da escolaridade dos trabalhadores. Relatam também que há um expressivo aumento no número de casos de acidentes e de adoecimento em função da agressiva investida do setor no aumento da produtividade20-24.

O Ministério do Trabalho e Emprego25 relata que os processos de produção utilizados nas empresas de abate e processamento de carnes são organizados de tal maneira que as atividades desenvolvidas apresentam potencial risco à saúde e à segurança dos trabalhadores. Dentre os diferentes tipos de risco ocupacional a que estão sujeitos os trabalhadores, destacam-se:

. Risco químico - produtos químicos utilizados na higienização dos locais de abate e dos equipamentos; produtos e processos químicos utilizados para a produção da carne, como a salga e a defumação.

. Risco de acidentes - devido ao manuseio de equipamentos perfurocortantes utilizados no abate e cortes da carne; eletricidade; quedas.

. Risco ergonômico - devido ao ritmo excessivo de trabalho, repetitividade das tarefas, levantamento de pesos e posturas inadequadas no trabalho.

. Risco físico - devido às vibrações do maquinário, variações bruscas de temperatura pela entrada e saída de câmaras frias, umidade constante e equipamentos de escaldadura, com água à alta temperatura.

. Risco biológico - devido à exposição aos agentes biológicos como: bactérias, vírus, fungos, parasitas, dentre outros.

O Quadro 2 apresenta a descrição dos principais problemas que podem afetar estes profissionais.


É importante ressaltar o esforço e a força que os profissionais empregam para executar as atividades rotineiras, no manuseio de produtos e/ou no uso de ferramentas. Este esforço depende da posição do objeto em relação ao corpo. O manuseio de produtos ou equipamentos, mesmo de peso leve, pode exigir esforços respeitáveis, o que gera uma alta prevalência de distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT)16,21,26-29. Este esforço exercido pelas mãos e articulações dos trabalhadores é ainda ampliado pelo uso de luvas, repetitividade de movimentos e pela resistência dos produtos manuseados quando estão sob temperaturas baixas. Ressalta-se que estas podem contribuir também para a incidência de acidentes, uma vez que reduzem a sensibilidade táctil e diminuem a destreza manual.

A manipulação de material perfurocortante é o agente de risco de acidente de maior importância neste tipo de trabalho. Vasconcellos et al.21, em um estudo entre trabalhadores da indústria frigorífica, no estado de Mato Grosso, no período de 2000 a 2005, apontam a faca como o instrumento responsável por 43,3% dos acidentes de trabalho registrados. Estes autores destacam ainda que o setor ocupou a segunda posição em notificação de acidentes de trabalho registrados pelas Comunicações de Acidentes de Trabalho (CAT), representando 10% de todos os casos no período.

Risco biológico

Durante todo o processo de abate os trabalhadores estão em contato direto com: sangue, vísceras, fezes, urina, secreções vaginais ou uterinas, restos placentários, líquidos e fetos de animais; e por esta razão, o risco biológico se torna uma das maiores preocupações, considerando a abrangência rotineira da exposição e o caráter zoonótico das doenças que podem afetar os animais.

Dentre os 84 estudos identificados na pesquisa, 54 (64,3%) abordam diversas doenças infecciosas, subtema relacionado ao risco biológico (Tabela 1).

Os agentes etiológicos são classificados em quatro segundo as classes de risco, tendo como base vários critérios, dos quais destacam-se: a gravidade da infecção que causa, a virulência, a patogenicidade, a dose infectante, o modo de transmissão, a estabilidade do agente, a concentração e o volume, a origem do material patogênico, a disponibilidade de medidas profiláticas e de tratamento eficaz, a resistência a drogas, a endemicidade e a capacidade de disseminação no meio ambiente92. A importância desta classificação está centrada nos aspectos relacionados à determinação de medidas a serem tomadas para a contenção e o controle dos riscos relacionados94. A classe 1 é a de menor risco e a classe 4 a de maior. O Gráfico 1 apresenta a distribuição das classes de risco dos agentes etiológicos causadores das doenças infecciosas abordadas nos artigos identificados neste estudo.


a) Doenças causadas por agentes biológicos da classe de risco 4

São agentes que representam sério risco para o homem e para os animais, provocam doenças fatais, além de apresentarem um elevado potencial de transmissão por aerossóis. Até o momento não há medidas profiláticas ou terapêuticas eficazes para infecções adquiridas.

Foi encontrado 1 artigo que discute a febre hemorrágica causada por um nairovirus, Crimean Congo Hemorrhagic Fever Vírus. Williams et al.88 demonstram a soroconversão de 30% dos profissionais que lidavam diretamente com o abate de animais e o processamento de carnes.

b) Doenças causadas por agentes da classe de risco 3

O patógeno pode provocar infecções graves no homem e nos animais, podendo propagar-se de indivíduo para indivíduo através de aerossóis, pelas vias respiratórias. Dentre os 54 artigos identificados, que abordam aspectos de algumas das doenças infecciosas ocupacionais para os trabalhadores dos estabelecimentos de produção de produtos de origem animal, 19 possuem os agentes etiológicos da classe de risco 3.

A brucelose foi a doença ocupacional mais representativa, tendo sido identificados 12 estudos (22,2%) entre os artigos analisados. Este dado corresponde ao que é relatado pela literatura, ou seja, de que a brucelose no homem é principalmente de caráter profissional (tratadores, proprietários, médicos veterinários) ou aqueles que trabalham com produtos de origem animal (matadouros, laboratoristas)91,92.

Também foram encontrados artigos de doenças causadas por outros agentes etiológicos pertencentes à classe de risco 3. 7,4% (4) dos artigos foram sobre Coxiella burnetii, demonstrando que é um agente que possui um risco representativo entre os profissionais de matadouros e de frigoríficos. Acha e Szyfres95 relatam uma epidemia ocorrida no Uruguai em uma indústria frigorífica, em 1976, que acometeu um total de 310, dos 630 operários e de inspeção sanitária e, ao final, estabeleceram como as maiores fontes de contágio, os aerossóis contaminados, ocasionados pela manipulação de placentas e de líquido amniótico. Além disto, determinaram que estes profissionais estão entre os mais susceptíveis a contrair ocupacionalmente a febre Q.

Os aerossóis são partículas de tamanho que pode variar de 0,001 a 100 mm, sólidas e líquidas, suspensas em um gás, geralmente o oxigênio, que podem permanecer em suspensão por várias horas96. Os aerossóis infectantes podem ser gerados pela manipulação de materiais biológicos e pela utilização incorreta de alguns equipamentos, como centrífugas e homogenizadores. Via de regra, a rota de maior risco, nas infecções acidentais, é aquela causada pelas partículas contaminadas transportadas pelo ar97. É o modo de transmissão de maior dificuldade de prevenção e, assim, em determinadas atividades, a utilização de proteção respiratória é obrigatória.

A encefalite ou pneumonia causada pelo Vírus Nipah representa 3,7% (2) dos artigos. Sahani et al.98 e Chew et al.83 relatam surtos de encefalite e de pneumonia ocorridas na Malásia nos anos de 1998 e 1999, onde houve o contágio de pessoas, cães e gatos por carne de suínos infectados. Entre as pessoas afetadas haviam cinco trabalhadores de matadouros. O estudo demonstrou uma taxa de soroconversão de 4,8% entre os trabalhadores de abatedouros de suínos. Sugerem ao final a necessidade da utilização de equipamentos de proteção individual e um controle rígido através da vigilância de infecções pelo vírus nas granjas produtoras, uma vez que a detecção do vírus no matadouro é muito difícil.

Biffa et al.85 relatam que os trabalhadores dos estabelecimentos de produção de produtos de origem animal estão entre as classes profissionais mais susceptíveis à doença, pela exposição aos aerossóis provenientes de bovinos infectados. Apesar da tuberculose causada pelo M. bovis ser uma doença zoonótica importante, ela só representou 1,9% (1) dos artigos encontrados. Porém, ressalta-se que existe uma estimativa de que aproximadamente 3% dos casos de tuberculose e 17,2% de linfadenite cervical em humanos são devidos ao M. bovis84.

c) Doenças causadas por agentes da classe de risco 2

Os agentes da classe de risco 2 podem provocar infecções no homem ou nos animais, porém possui potencial de propagação limitado e dispõe-se de medidas terapêuticas e profiláticas eficientes. Nesta classe de risco estão os agentes etiológicos de aproximadamente 72% das patologias identificadas no Brasil99.

Este estudo identificou 35 artigos entre os 54 estudos sobre doenças infecciosas ocupacionais entre os trabalhadores de matadouros, cujos agentes etiológicos são pertencentes à classe de risco 2. Entre eles, a lepstospirose foi a doença ocupacional mais relatada (13%), como particularmente perigosa aos profissionais de matadouros, médicos veterinários, trabalhadores de arrozais, canaviais, minas, esgotos e militares. Isto se deve à possibilidade de exposição à água contaminada com urina de animais infectados. Causada pela Leptospira interrogans, pode surgir esporadicamente ou em surtos epidêmicos. Outro patógeno relatado com mais frequência foi o Toxoplasma gondii (11,1%). Apesar dos bovinos serem considerados hospedeiros mais resistentes ao T. gondii, houve relatos de alta prevalência de reagentes em bovinos e em funcionários de matadouros e frigoríficos.

Outros patógenos levantados com menor frequência foram: Streptococcus (7,4%), Campylobacter (5,6%), Virus da hepatite E (5,6%), Salmonella (3,7%), Taenia solium (3,7%) e Virus hepatitis B, Trichophyton verrucosum, Trichinella, Cryptosporidium Babesia e Toxocara com 01 artigo (1,9%) cada.

Considerações finais

A ampliação do mercado de carnes tem pressionado a chamada competitividade do ponto de vista capitalista e, nesta perspectiva, o lucro empresarial, muitas vezes, se impinge em detrimento da saúde dos trabalhadores. As exigências para o aumento de produtividade, traduzidas na ampliação da jornada de trabalho, ritmo de trabalho, pressão e controle rigorosos, impõem aos trabalhadores uma adaptação às funções requeridas. Os processos de produção utilizados nas empresas de abate e processamento de carnes estão organizados de tal maneira que as atividades de trabalho desenvolvidas apresentam potencial risco à saúde e à segurança dos trabalhadores.

A prevenção é a melhor maneira de se evitar qualquer tipo de acidente ou de adoecimento no trabalho. A identificação e a compreensão dos riscos a que estão sujeitos os profissionais de matadouros-frigoríficos é uma abordagem de relevância para a saúde ocupacional destes profissionais, uma vez que elenca os problemas a serem discutidos, tornando-se o passo inicial para resolvê-los. Bem como o mapeamento e identificação dos riscos, um sistema de vigilância em saúde; utilização de equipamentos de segurança, de proteção individual e de proteção coletivos; treinamento dos trabalhadores, com relação à atividade, higiene pessoal e riscos são essenciais para a prevenção e a diminuição do número de acidentes e patologias associadas a estes riscos. Todos estes elementos fazem parte de um programa de Biossegurança, de atuação transdisciplinar, que somente com a sua aplicação é possível estabelecer medidas eficazes de prevenção, a fim de reduzir os custos associados ao absenteísmo e ao tratamento dos trabalhadores que adoecem, o sofrimento e a incapacidade que podem gerar.

Torna-se urgente identificar a dimensão do problema nas indústrias brasileiras e desenvolver programas de Biossegurança, no sentido de prevenir os riscos presentes.

Colaboradores

GC Marra e TAO Cardoso trabalharam na concepção e no delineamento do estudo, na pesquisa e no levantamento de material bibliográfico, na análise dos dados, na redação e revisão crítica do artigo e na aprovação de sua versão final. LH Souza trabalhou no delineamento do estudo, na análise dos dados, na redação e revisão crítica do artigo e na aprovação de sua versão final.

Artigo apresentado em 15/05/2012

Aprovado em 01/07/2012

Versão final apresentada em 08/07/2012

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Maio 2013
  • Data do Fascículo
    Nov 2013

Histórico

  • Recebido
    15 Maio 2012
  • Aceito
    08 Jul 2012
  • Revisado
    01 Jul 2012
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