Acessibilidade / Reportar erro

Mobilidade social e tabagismo: uma revisão sistemática

Resumos

Este estudo teve como objetivo revisar a literatura acerca dos estudos longitudinais que tenham avaliado o efeito da mobilidade social sobre a ocorrência de tabagismo em diferentes populações. A pesquisa pelos artigos foi realizada nas bases de dados eletrônicas PubMed e Web of Science usando as palavras: follow up, cohort longitudinal prospective, social mobility, social change life, course socioeconomic, smoking e tobacco. Dos seis estudos identificados na revisão, quatro utilizaram o canal de classificação ocupacional para medir a mobilidade social e todos foram desenvolvidos no continente Europeu. Os resultados apontam para maiores proporções de tabagistas entre aqueles com menor nível socioeconômico durante todo o período de acompanhamento (independente da variável analisada) e aqueles que sofreram mobilidade descendente, ou seja, aquelas pessoas que, mesmo classificadas com melhor nível socioeconômico no começo da vida, ao migrarem para um grupo social mais baixo tenderam a mimetizar hábitos do novo grupo.

Mobilidade social; Estudo longitudinal; Posição socioeconômica; Tabagismo; Revisão sistemática


The purpose of this study is to review the literature on longitudinal studies that have evaluated the effect of social mobility on the occurrence of smoking in various populations. Articles were selected from the web databases PubMed and Web of Science using the words: follow up, cohort longitudinal prospective, social mobility, social change life, course socioeconomic, smoking, and tobacco. Of the six studies identified in this review, four used occupational classification to measure social mobility. All six were carried out on the continent of Europe. The results indicate higher proportions of tobacco users among those with lower socioeconomic level during the whole period of observation (for all variables analyzed); and that people who suffered downward mobility, that is to say people who were classified as having a higher socioeconomic level at the beginning of life, tended to mimic habits of the new group when they migrated to a lower social group.

Social mobility; Longitudinal study; Socioeconomic position; Tobacco use; Systematic review


Introdução

O tabagismo é um importante fator de risco modificável para doenças crônicas não transmissíveis1World Health Organization (WHO). Global status report on noncommunicable diseases 2010. Geneva: WHO; 2011.. O hábito de fumar é responsável por uma em cada seis mortes resultantes de doenças não transmissíveis2Beaglehole R, Bonita R, Horton R, Adams C, Alleyne G, Asaria P, Baugh V, Bekedam H, Billo N, Casswell S, Cecchini M, Colagiuri R, Colagiuri S, Collins T, Ebrahim S, Engelgau M, Galea G, Gaziano T, Geneau R, Haines A, Hospedales J, Jha P, Keeling A, Leeder S, Lincoln P, McKee M, Mackay J, Magnusson R, Moodie R, Mwatsama M, Nishtar S, Norrving B, Patterson D, Piot P, Ralston J, Rani M, Reddy KS, Sassi F, Sheron N, Stuckler D, Suh I, Torode J, Varghese C, Watt J; Lancet NCD Action Group; NCD Alliance. Priority actions for the non-communicable disease crisis. Lancet 2011; 377(9775):1438-1447. e contabiliza aproximadamente 6 milhões de mortes por ano no mundo3Organização Mundial da Saúde. Tobacco. Fact sheet N°339. 2013. [cited 2014 Feb 09]. Available from: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs339/en/
http://www.who.int/mediacentre/factsheet...
.

A maior incidência de tabagismo em homens é observada em países de baixa e média renda, enquanto que para toda a população a prevalência é maior nos países de alta e média renda1World Health Organization (WHO). Global status report on noncommunicable diseases 2010. Geneva: WHO; 2011.. Evidências sugerem que o uso de tabaco está associado ao nível econômico, ocupacional4Laaksonen M, Rahkonen O, Karvonen S, Lahelma E. Socioeconomic status and smoking: analysing inequalities with multiple indicators. Eur J Public Health 2005; 15(3):262-269. , 5Barbeau EM, Krieger N, Soobader MJ. Working class matters: socioeconomic disadvantage, race/ethnicity, gender, and smoking in NHIS 2000. Am J Public Health 2004; 94(2):269-278. e educacional4Laaksonen M, Rahkonen O, Karvonen S, Lahelma E. Socioeconomic status and smoking: analysing inequalities with multiple indicators. Eur J Public Health 2005; 15(3):262-269.

Barbeau EM, Krieger N, Soobader MJ. Working class matters: socioeconomic disadvantage, race/ethnicity, gender, and smoking in NHIS 2000. Am J Public Health 2004; 94(2):269-278.
- 6Cavelaars AE, Kunst AE, Geurts JJ, Crialesi R, Grotvedt L, Helmert U, Lahelma E, Lundberg O, Matheson J, Mielck A, Rasmussen NK, Regidor E, do Rosário-Giraldes M, Spuhler T, Mackenbach JP. Educational differences in smoking: international comparison. BMJ 2000; 320(7242):1102-1107.. Nesse sentido, é interessante investigar se essa relação é pontual ou influenciada pela trajetória dos indivíduos ao longo da vida, evidenciando a importância dos estudos longitudinais para estudar o efeito de exposições que podem mudar em determinado período.

A mobilidade social é uma abordagem utilizada para avaliar a trajetória socioeconômica e pode ser medida através de diversos canais como classe social, renda, riqueza, classificação ocupacional, educação ou outras formas de classificação social7Pero V. Mobilidade social no Rio de Janeiro. Rev Economia Mackenzie 2006; 4(4):136-153. , 8Pero V, Szerman D. Mobilidade intergeracional de renda no Brasil. Pesquisa e Planejamento Econômico 2008; 38(1):1-36.. Ela representa a mudança dos indivíduos de uma classe para outra em um período de tempo e é classificada como nula (quando não ocorre mudança), ascendente (sobe uma ou mais classes) ou descendente (desce uma ou mais classes)9Mishra G, Nitsch D, Black S, De Stavola B, Kuh D, Hardy R. A structured approach to modelling the effects of binary exposure variables over the life course. Int J Epidemiol 2009; 38(2):528-537. , 1010 Dahl E. Social mobility and health: cause or effect? BMJ 1996; 313(7055):435-436. .

Existem dois tipos de mobilidade social: a intrageracional, quando a mobilidade ocorre em uma única geração e a intergeracional, quando a classe social do filho é comparada com a dos pais9Mishra G, Nitsch D, Black S, De Stavola B, Kuh D, Hardy R. A structured approach to modelling the effects of binary exposure variables over the life course. Int J Epidemiol 2009; 38(2):528-537.. A mobilidade social intergeracional é o reflexo da distribuição de oportunidades na população, como a chance de ocupar uma posição social conforme a origem socioeconômica da família7Pero V. Mobilidade social no Rio de Janeiro. Rev Economia Mackenzie 2006; 4(4):136-153..

Neste contexto, o objetivo desta revisão de literatura foi identificar estudos longitudinais que tenham avaliado o efeito da mobilidade social sobre a ocorrência de tabagismo em diferentes populações.

Metodologia

Inicialmente, para identificação dos termos referentes ao objetivo do estudo, foi feita uma busca exploratória com o propósito de identificar palavras-chave consistentemente relatadas em artigos da área. A seguir, a revisão de literatura foi realizada nas bases de dados eletrônicas PubMed e Web of Science. Na PubMed, a busca empregada foi ((("follow up"[All Fields] OR "cohort"[All Fields]) OR "longitudinal"[All Fields]) OR "prospective"[All Fields]) AND (("social mobility"[All Fields] OR "social change"[All Fields]) OR "life course socioeconomic"[All Fields])) AND ("smoking"[All Fields] OR "tobacco"[All Fields]), e na Web of Science, Tópico: ("follow up" or "longitudinal" or "cohort" or "prospective") AND Tópico: ("social mobility" or "social change" or "life course socioeconomic") AND Tópico: ("smoking" or "tobacco"). Não foram utilizados limites de idade, data e idioma.

A seleção dos artigos a serem incluídos no estudo foi realizada de forma independente por dois revisores (JVSM e NPL). A Figura 1 apresenta o fluxograma da seleção de artigos. Primeiramente, foram lidos os títulos de todos os artigos obtidos na busca. A segunda etapa consistiu na avaliação de resumos. Os artigos identificados pelas etapas anteriores foram selecionados para leitura na íntegra. Foram excluídos os estudos que não estimavam o efeito da mobilidade social na ocorrência de tabagismo; publicados em outros idiomas que não português, inglês ou espanhol, e que apresentavam análise transversal na metodologia, ou seja, não consideravam a trajetória ao longo da vida ao avaliar a posição socioeconômica

Figura 1.
Fluxograma do processo de seleção dos estudos.

As divergências entre os revisores foram resolvidas a partir de discussão e consenso entre ambos e o processo de revisão foi finalizado em 15 de fevereiro de 2014.

Resultados

Em um primeiro momento, na fase de identificação, foram detectados 68 artigos, sendo que sete deles eram duplicatas identificadas nas duas bases de dados revisadas. Na fase de rastreamento, com base na leitura de títulos e resumos, 11 estudos foram considerados como potencialmente relevantes para essa revisão e foram lidos na íntegra. Após a leitura, um artigo foi excluído por não estimar o efeito da mobilidade social na ocorrência de tabagismo e quatro por não avaliarem a posição socioeconômica de forma longitudinal. Finalmente, seis artigos foram incluídos no presente estudo (Figura 1).

Os resultados da revisão de literatura estão apresentados no Quadro 1, que descreve os estudos de acordo com o autor, o local, o ano e a amostra, além de resumir a variável de exposição (mobilidade social), o desfecho (tabagismo) e os principais resultados. Os seis artigos foram conduzidos na Europa (3 Escócia, 2 Finlândia e 1 na França), sendo que quatro deles utilizaram a classificação ocupacional como canal sociodemográfico para medir a mobilidade social, enquanto os outros dois utilizaram a variável escolaridade para avaliar a mobilidade social intergeracional.

Quadro 1.
Estudos epidemiológicos sobre mobilidade social e tabagismo segundo autor, local e ano de publicação, faixa etária, tamanho da amostra e principais resultados encontrados. Período 1994-2004.

Dois dos três estudos conduzidos na Escócia apresentam resultados do mesmo estudo de coorte, sendo que um deles avaliou a influência da mobilidade social na mortalidade por doenças cardiovasculares e alguns fatores comportamentais, incluindo o tabagismo. Nesse artigo foram utilizados três pontos no tempo para medida socioeconômica, avaliando a mobilidade social em dois dos três pontos, porém de diferentes maneiras, incluindo a mobilidade inter e intrageracional (classe ocupacional do pai x classe ocupacional do próprio membro no momento da morte, classe ocupacional do pai x classe ocupacional do próprio membro ao entrar no mercado de trabalho, classe ocupacional do próprio membro ao entrar no mercado de trabalho x classe ocupacional no momento da morte)1111 Hart CL, Smith GD, Blane D. Social mobility and 21 year mortality in a cohort of Scottish men. Soc Sci Med 1998; 47(8):1121-1130.. Enquanto o outro avaliou a mobilidade social através da classe ocupacional dividida em quatro categorias, porém em dois pontos do acompanhamento, gerando 16 possibilidades para a trajetória ocupacional e suas contribuições para seis fatores de risco para doenças cardiovasculares1212 Blane D, Hart CL, Smith GD, Gillis CR, Hole DJ, Hawthorne VM. Association of cardiovascular disease risk factors with socioeconomic position during childhood and during adulthood. BMJ 1996; 313(7070):1434-1438..

Apenas um estudo apresentou a média de cigarros consumidos por dia em relação à mobilidade social1313 Pulkki L, Kivimaki M, Elovainio M, Viikari J, Keltikangas-Jarvinen L. Contribution of socioeconomic status to the association between hostility and cardiovascular risk behaviors: A prospective cohort study. Am J Epidemiol 2003; 158(8):736-742., enquanto outros quatro utilizaram a variável tabagismo na forma dicotômica1212 Blane D, Hart CL, Smith GD, Gillis CR, Hole DJ, Hawthorne VM. Association of cardiovascular disease risk factors with socioeconomic position during childhood and during adulthood. BMJ 1996; 313(7070):1434-1438. , 1414 Paavola M, Vartiainen E, Haukkala A. Smoking from adolescence to adulthood: the effects of parental and own socioeconomic status. Eur J Public Health 2004; 14(4):417-421.

15 Ribet C, Zins M, Gueguen A, Bingham A, Goldberg M, Ducimetiere P, Lang T. Occupational mobility and risk factors in working men: selection, causality or both? Results from the GAZEL study. J Epidemiol Community Health 2003; 57(11):901-906.
- 1616 Glendinning A, Shucksmith J, Hendry L. Social class and adolescent smoking behaviour. Soc Sci Med 1994; 38(10):1449-1460., fuma ou não fuma atualmente, e apenas um considerou os ex-fumantes na classificação da variável tabagismo1111 Hart CL, Smith GD, Blane D. Social mobility and 21 year mortality in a cohort of Scottish men. Soc Sci Med 1998; 47(8):1121-1130..

Os artigos incluídos nesta revisão mostraram que aqueles que se mantiveram na classe social mais baixa ao longo da vida foram os que apresentaram maiores frequências de tabagismo1111 Hart CL, Smith GD, Blane D. Social mobility and 21 year mortality in a cohort of Scottish men. Soc Sci Med 1998; 47(8):1121-1130. , 1515 Ribet C, Zins M, Gueguen A, Bingham A, Goldberg M, Ducimetiere P, Lang T. Occupational mobility and risk factors in working men: selection, causality or both? Results from the GAZEL study. J Epidemiol Community Health 2003; 57(11):901-906., assim como aqueles cujos pais, ou eles mesmos, pertenciam a classes sociais mais elevadas no início do acompanhamento do que ao final, apresentando assim uma mobilidade descendente1212 Blane D, Hart CL, Smith GD, Gillis CR, Hole DJ, Hawthorne VM. Association of cardiovascular disease risk factors with socioeconomic position during childhood and during adulthood. BMJ 1996; 313(7070):1434-1438. , 1414 Paavola M, Vartiainen E, Haukkala A. Smoking from adolescence to adulthood: the effects of parental and own socioeconomic status. Eur J Public Health 2004; 14(4):417-421. , 1616 Glendinning A, Shucksmith J, Hendry L. Social class and adolescent smoking behaviour. Soc Sci Med 1994; 38(10):1449-1460., independente do canal de mobilidade social utilizado (escolaridade, renda, classificação ocupacional). Quando avaliado o número de cigarros consumidos por dia, a maior média observada foi entre o grupo que sofreu mobilidade descendente1313 Pulkki L, Kivimaki M, Elovainio M, Viikari J, Keltikangas-Jarvinen L. Contribution of socioeconomic status to the association between hostility and cardiovascular risk behaviors: A prospective cohort study. Am J Epidemiol 2003; 158(8):736-742..

Discussão

Apesar de o tabagismo estar diminuindo em países de alta renda2Beaglehole R, Bonita R, Horton R, Adams C, Alleyne G, Asaria P, Baugh V, Bekedam H, Billo N, Casswell S, Cecchini M, Colagiuri R, Colagiuri S, Collins T, Ebrahim S, Engelgau M, Galea G, Gaziano T, Geneau R, Haines A, Hospedales J, Jha P, Keeling A, Leeder S, Lincoln P, McKee M, Mackay J, Magnusson R, Moodie R, Mwatsama M, Nishtar S, Norrving B, Patterson D, Piot P, Ralston J, Rani M, Reddy KS, Sassi F, Sheron N, Stuckler D, Suh I, Torode J, Varghese C, Watt J; Lancet NCD Action Group; NCD Alliance. Priority actions for the non-communicable disease crisis. Lancet 2011; 377(9775):1438-1447., todos os estudos aqui reunidos são de países europeus, não tendo sido identificados estudos brasileiros que avaliassem a influência da mobilidade social no hábito de fumar. O sistema de vigilância de fatores de risco do Brasil, o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL), é uma série de estudos transversais que possibilita apenas estudo de tendências da prevalência de tabagismo sem a associação com a mobilidade social. Além de mostrar a queda do tabagismo, o VIGTEL aponta o Brasil como um exemplo global pelos avanços na política antitabaco1717 Malta DC, Iser BPM, Sá NNB, Yokota RTC, Moura L, Claro RM, Luz MGC, Bernal RIT. Tendências temporais no consumo de tabaco nas capitais brasileiras, segundo dados do VIGITEL, 2006 a 2011. Cad Saude Publica 2013;29(4):812-822. , 1818 Portes LH, Campos EMS, Teixeira MTB, Caetano R, Ribeiro LC. Ações voltadas para o tabagismo: análise de sua implementação na Atenção Primária à Saúde. Cien Saude Colet 2014; 19(2):439-448..

Na França, em uma coorte com trabalhadores da Companhia Nacional Francesa de Eletricidade e Gás, além de estimarem a ocorrência de tabagismo de acordo com mobilidade social, os autores avaliaram a influência do hábito de fumar sobre a mobilidade social, e os achados mostraram que aqueles que fumavam ascenderam menos dentro da empresa. Assim como em outros estudos, em relação à influência da mobilidade social no fumo, a prevalência de tabagismo foi menor entre aqueles que passaram por mobilidade ascendente e, na análise de incidência, o resultado observado foi no mesmo sentido1515 Ribet C, Zins M, Gueguen A, Bingham A, Goldberg M, Ducimetiere P, Lang T. Occupational mobility and risk factors in working men: selection, causality or both? Results from the GAZEL study. J Epidemiol Community Health 2003; 57(11):901-906..

Nos artigos revisados, a ocorrência de tabagismo se mostrou maior em indivíduos que se mantiveram estáveis no grupo de posição socioeconômica inferior e naqueles que sofreram mobilidade descendente e migraram para esses grupos mais desfavoráveis, sugerindo uma forte relação entre nível socioeconômico baixo e o hábito de fumar, indo ao encontro de evidências já descritas na literatura4Laaksonen M, Rahkonen O, Karvonen S, Lahelma E. Socioeconomic status and smoking: analysing inequalities with multiple indicators. Eur J Public Health 2005; 15(3):262-269.

Barbeau EM, Krieger N, Soobader MJ. Working class matters: socioeconomic disadvantage, race/ethnicity, gender, and smoking in NHIS 2000. Am J Public Health 2004; 94(2):269-278.
- 6Cavelaars AE, Kunst AE, Geurts JJ, Crialesi R, Grotvedt L, Helmert U, Lahelma E, Lundberg O, Matheson J, Mielck A, Rasmussen NK, Regidor E, do Rosário-Giraldes M, Spuhler T, Mackenbach JP. Educational differences in smoking: international comparison. BMJ 2000; 320(7242):1102-1107. , 1919 Barros AJD, Cascaes AM, Wehrmeister FC, Martínez-Mesa J, Menezes AMB. Tabagismo no Brasil: desigualdades regionais e prevalência segundo características ocupacionais. Cien Saude Colet 2011; 16(9):3707-3716..

Uma limitação do presente estudo, assim como da produção bibliográfica da área, é a nomenclatura mobilidade social não ser um consenso entre os estudos que avaliam mudanças de classes. Talvez um dos motivos dessa limitação seja o grande número de canais através dos quais a mobilidade social pode ser medida, mas o certo é que isso dificulta a busca de estudos. Apesar desta revisão ter sido realizada a partir de termos usualmente empregados na literatura, apontados pela busca exploratória, acredita-se que alguns estudos possam não ter sido identificados, pois, além do motivo descrito acima, a estratégia de busca utilizada pode ter sido restrita.

No Brasil há um estudo de coorte de nascimentos que abordou o tema, porém o artigo não foi encontrado na busca, talvez pela nomenclatura utilizada pelos autores para identificar a mobilidade social ser "mudança de renda". Apesar de não fazer parte desta revisão, os resultados desse estudo vão no mesmo sentido dos achados observados em artigos aqui incluídos, uma vez que os autores indicam que há uma alta concentração de tabagistas nos grupos mais pobres2020 Menezes AM, Minten GC, Hallal PC, Victora CG, Horta BL, Gigante DP, Barros FC. Tabagismo na coorte de nascimentos de 1982: da adolescência à vida adulta, Pelotas, RS. Rev Saude Publica 2008; 42(2):78-85..

O conjunto de artigos da revisão mostra que, assim como outras variáveis comportamentais, a prevalência de tabagismo entre aqueles que tiveram uma mobilidade social ascendente tende a ser semelhante à prevalência do grupo estável na parte superior da distribuição, do mesmo modo que a proporção de tabagistas entre aqueles que tiveram uma mobilidade social descendente tende a ser semelhante a do grupo estável na parte inferior da distribuição. Ao final da revisão ficam duas considerações: a importância de uma padronização dos trabalhos que estudam trajetória socioeconômica para utilizarem a terminologia mobilidade social e que as pessoas que migram para um novo grupo social tendem a mimetizar hábitos do novo grupo.

References

  • 1
    World Health Organization (WHO). Global status report on noncommunicable diseases 2010. Geneva: WHO; 2011.
  • 2
    Beaglehole R, Bonita R, Horton R, Adams C, Alleyne G, Asaria P, Baugh V, Bekedam H, Billo N, Casswell S, Cecchini M, Colagiuri R, Colagiuri S, Collins T, Ebrahim S, Engelgau M, Galea G, Gaziano T, Geneau R, Haines A, Hospedales J, Jha P, Keeling A, Leeder S, Lincoln P, McKee M, Mackay J, Magnusson R, Moodie R, Mwatsama M, Nishtar S, Norrving B, Patterson D, Piot P, Ralston J, Rani M, Reddy KS, Sassi F, Sheron N, Stuckler D, Suh I, Torode J, Varghese C, Watt J; Lancet NCD Action Group; NCD Alliance. Priority actions for the non-communicable disease crisis. Lancet 2011; 377(9775):1438-1447.
  • 3
    Organização Mundial da Saúde. Tobacco. Fact sheet N°339. 2013. [cited 2014 Feb 09]. Available from: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs339/en/
    » http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs339/en/
  • 4
    Laaksonen M, Rahkonen O, Karvonen S, Lahelma E. Socioeconomic status and smoking: analysing inequalities with multiple indicators. Eur J Public Health 2005; 15(3):262-269.
  • 5
    Barbeau EM, Krieger N, Soobader MJ. Working class matters: socioeconomic disadvantage, race/ethnicity, gender, and smoking in NHIS 2000. Am J Public Health 2004; 94(2):269-278.
  • 6
    Cavelaars AE, Kunst AE, Geurts JJ, Crialesi R, Grotvedt L, Helmert U, Lahelma E, Lundberg O, Matheson J, Mielck A, Rasmussen NK, Regidor E, do Rosário-Giraldes M, Spuhler T, Mackenbach JP. Educational differences in smoking: international comparison. BMJ 2000; 320(7242):1102-1107.
  • 7
    Pero V. Mobilidade social no Rio de Janeiro. Rev Economia Mackenzie 2006; 4(4):136-153.
  • 8
    Pero V, Szerman D. Mobilidade intergeracional de renda no Brasil. Pesquisa e Planejamento Econômico 2008; 38(1):1-36.
  • 9
    Mishra G, Nitsch D, Black S, De Stavola B, Kuh D, Hardy R. A structured approach to modelling the effects of binary exposure variables over the life course. Int J Epidemiol 2009; 38(2):528-537.
  • 10
    Dahl E. Social mobility and health: cause or effect? BMJ 1996; 313(7055):435-436.
  • 11
    Hart CL, Smith GD, Blane D. Social mobility and 21 year mortality in a cohort of Scottish men. Soc Sci Med 1998; 47(8):1121-1130.
  • 12
    Blane D, Hart CL, Smith GD, Gillis CR, Hole DJ, Hawthorne VM. Association of cardiovascular disease risk factors with socioeconomic position during childhood and during adulthood. BMJ 1996; 313(7070):1434-1438.
  • 13
    Pulkki L, Kivimaki M, Elovainio M, Viikari J, Keltikangas-Jarvinen L. Contribution of socioeconomic status to the association between hostility and cardiovascular risk behaviors: A prospective cohort study. Am J Epidemiol 2003; 158(8):736-742.
  • 14
    Paavola M, Vartiainen E, Haukkala A. Smoking from adolescence to adulthood: the effects of parental and own socioeconomic status. Eur J Public Health 2004; 14(4):417-421.
  • 15
    Ribet C, Zins M, Gueguen A, Bingham A, Goldberg M, Ducimetiere P, Lang T. Occupational mobility and risk factors in working men: selection, causality or both? Results from the GAZEL study. J Epidemiol Community Health 2003; 57(11):901-906.
  • 16
    Glendinning A, Shucksmith J, Hendry L. Social class and adolescent smoking behaviour. Soc Sci Med 1994; 38(10):1449-1460.
  • 17
    Malta DC, Iser BPM, Sá NNB, Yokota RTC, Moura L, Claro RM, Luz MGC, Bernal RIT. Tendências temporais no consumo de tabaco nas capitais brasileiras, segundo dados do VIGITEL, 2006 a 2011. Cad Saude Publica 2013;29(4):812-822.
  • 18
    Portes LH, Campos EMS, Teixeira MTB, Caetano R, Ribeiro LC. Ações voltadas para o tabagismo: análise de sua implementação na Atenção Primária à Saúde. Cien Saude Colet 2014; 19(2):439-448.
  • 19
    Barros AJD, Cascaes AM, Wehrmeister FC, Martínez-Mesa J, Menezes AMB. Tabagismo no Brasil: desigualdades regionais e prevalência segundo características ocupacionais. Cien Saude Colet 2011; 16(9):3707-3716.
  • 20
    Menezes AM, Minten GC, Hallal PC, Victora CG, Horta BL, Gigante DP, Barros FC. Tabagismo na coorte de nascimentos de 1982: da adolescência à vida adulta, Pelotas, RS. Rev Saude Publica 2008; 42(2):78-85.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Maio 2015

Histórico

  • Recebido
    13 Mar 2014
  • Aceito
    24 Jun 2014
ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva Av. Brasil, 4036 - sala 700 Manguinhos, 21040-361 Rio de Janeiro RJ - Brazil, Tel.: +55 21 3882-9153 / 3882-9151 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: cienciasaudecoletiva@fiocruz.br