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Psicologia hospitalar: teoria, aplicações e casos clínicos

RESENHA

Universidade São Francisco, Itatiba, Brasil

Baptista, M. N., & Dias, R. R. (2010). Psicologia hospitalar: teoria, aplicações e casos clínicos. 2ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 250 p.

O livro organizado por Baptista e Dias vem em sua 2ª edição, ampliada e reformulada, com o objetivo de propiciar ao leitor uma maior proximidade aos assuntos abordados, mediante estudos e discussões de casos em capítulos sobre o trabalho dentro das unidades hospitalares. A obra contempla 15 capítulos, dos quais cinco acrescentados nesta edição, que são: "Avaliação psicológica da saúde: um campo em construção", "Assistência domiciliar e atuação do psicólogo", "Atuação do psicólogo em uma unidade de transplante de fígado", "Serviço de psicologia ambulatorial e hospital geral" e "Neuropsicologia". O prefácio é realizado pela dra. Diana Tosello Laloni, que se sobrepõe à evolução da psicologia da saúde no país, a qual relata sua jornada e desafios na área da saúde como psicóloga, também aborda a inserção do psicólogo nas instituições e universidades, descrevendo a implantação de um serviço de psicologia em hospital geral, e finaliza deixando sua visão otimista quanto ao crescimento da psicologia da saúde no Brasil.

No primeiro capítulo, "Avaliação Psicológica da Saúde: um campo em construção" Capitão e Baptista explicitam aos leitores o que é a psicologia da saúde, seu histórico, a avaliação psicológica da saúde e ainda, a psicologia hospitalar. Tendo em vista a abrangência e multidisciplinaridade da área da saúde, os autores dedicam um subcapítulo para os fatores desencadeadores de problemas de saúde e os efeitos de variáveis como o estresse no processo de adoecimento e recuperação e da cultura. Didaticamente, pontuam as diferenças entre psicologia hospitalar e da saúde, deixando o assunto introduzido para os leitores acompanharem com maior facilidade o segundo capítulo, e o terminam elucidando a utilização de protocolos de atendimento na psicologia da saúde.

Tornando a necessidade de o leitor saber discernir o que é psicologia da saúde e como esta se dá no ambiente hospitalar, Baptista, Baptista e Dias se aprofundam nesse assunto no segundo capítulo, "A psicologia da saúde no mundo e a pesquisa no contexto hospitalar". Nessa parte, são abordados os níveis de atendimento de saúde e a relação da psicologia da saúde com outras áreas, tendo em vista sua visão multidisciplinar. Ainda, os autores dedicam uma parte do capítulo para falar sobre sua evolução, o valor da pesquisa para a atuação profissional. Para encerrar o capítulo, os autores comentam sobre a falta de interesse de alguns profissionais pela pesquisa, e assim aproveitam para ressaltar o quanto hábitos de leitura e conciliação de pesquisa, prática e teoria são essenciais para uma boa atuação profissional.

O terceiro capítulo "Assistência domiciliar e atuação do psicólogo" é assinado por Baptista, Rodrigues e Baptista. Esse tema, que recentemente recebe sua atenção no país, é descrito pelos autores desde seu histórico até sua evolução no exterior e finalmente, no Brasil. Dessa forma, é colocada em pauta a falta de literatura sobre o tema no país, principalmente aquela voltada para a atuação do psicólogo, pelo assunto ser visto como recente, apesar de trabalhos para sua implantação não serem tão recentes assim. São relatadas também as vantagens deste serviço, tanto financeiras quanto para os usuários, além de abordados tópicos acerca dos protocolos de atendimento utilizados, seu conteúdo e procedimentos adequados, finalizando o capítulo com um exemplo de atendimento domiciliar utilizando o protocolo de atendimento.

No quarto capítulo, "Atuação do psicólogo em uma unidade de transplante de fígado: características do trabalho e relato de caso", Miyazaki, Santos Júnior, Domingos e Valerio caracterizam o trabalho do profissional da psicologia em uma equipe multidisciplinar e seu papel de melhorar a qualidade de vida desses pacientes com doenças hepáticas crônicas. Os autores elucidam ao leitor o funcionamento de uma equipe e os papéis que cada um desempenha, desde o encaminhamento até o pós-operatório, e apresentam como o protocolo de atendimento deve ser utilizado. Por fim, discutem a importância de competências e pesquisas coerentes à realidade dessa função para o bom andamento dos atendimentos.

Brasio dedica o quinto capítulo para escrever sobre "AIDS no contexto hospitalar", em que são relatados vários aspectos da doença, perpassando pelos danos psicológicos que podem acarretar ao paciente. Dessa forma, são discutidas as reações e as fases da doença, adaptação/rejeição, as condições de um aidético e seu processo de tratamento. A autora apresenta também as principais crenças dos pacientes sobre a AIDS, a atuação do psicólogo e as fases da evolução da doença. Do mesmo modo, é relatado como se dá um atendimento psicológico nesse âmbito mediante exemplos e casos, além de descrita a estrutura ambulatorial esperada para a seleção de pacientes, finalizando com reforço ao papel do psicólogo de verificar a relação entre o quadro apresentado e seus sintomas psicológicos.

O sexto capítulo, "Psiquiatria de ligação e interconsulta psiquiátrica na infância e adolescência" é realizado por Assumpção Jr., Kuczinsky e Tarelho, que relatam a evolução histórica da interconsulta psiquiátrica infantil, trazendo dados epidemiológicos que fazem refletir sobre a discrepância entre crianças com transtorno e crianças encaminhadas para atendimento. Dentro desse âmbito, discute-se o campo de atuação da psiquiatria de ligação, a intercolsulta psiquiátrica e a diferença entre elas. Os principais fatores de risco e fatores que dificultam a detecção de doenças também são tratados considerando que a falta de informações condizentes com diagnóstico e a falta de competências do profissional em avaliar corretamente a criança prejudicam o tratamento correto. Os papéis do psiquiatra e do pediatra são descritos, assim como os procedimentos para que uma interconsulta seja realizada, demonstrados posteriormente em um estudo de caso.

O sétimo capítulo é realizado por Moraes e Strauss, denominado "Ambulatório especializado em crianças autistas". Nele, os autores perpassam a definição do autismo, a realização e dificuldades de uma avaliação diagnóstica e o que as classificações diagnósticas trazem sobre o tema. Ainda, o capítulo dedica-se à valorização do diagnóstico precoce e à busca por características clínicas além das mencionadas por manuais. Os autores trazem também uma revisão histórica sobre estudos relacionados a crianças autistas, patologias associadas e os diferentes graus de comprometimento, enfatizando a avaliação neuropsiquiátrica. Por fim, relata-se como funciona um centro de atendimento a casos de autismo, encerrando com um estudo de caso que deixa uma noção clara de como o trabalho com o autista é realizado.

O oitavo capítulo, "Serviço de psicologia ambulatorial e hospital geral", de Laloni e Fernandes, tem como objetivo relatar o funcionamento de um ambulatório em psicologia, desde o encaminhamento, até a forma como pode se trabalhar com os pacientes, exemplificado com casos clínicos que demonstram a evolução e o papel do psicólogo nesse contexto. Dessa forma, destaca-se a atuação do psicólogo em hospitais, da pesquisa, do trabalho com os fatores psicológicos atrelados às doenças e da maneira com que os comportamentos são observados. Por último, os autores relatam como funciona um ambulatório, permitindo, assim, uma ampla visão sobre os principais temas relacionados ao trabalho do profissional de psicologia nesse âmbito.

Baptista, Agostinho, Baptista e Dias são os autores do nono capítulo, "Atuação psicológica em unidade de terapia intensiva neonatal - UTI- Neo". Os autores versam sobre o surgimento e desenvolvimento de uma UTI-Neo, e como os psicólogos podem intervir em um contexto no qual o paciente a ser atendido é o recém-nascido. Expõem também a importância da relação mãe-bebê, demonstrando esta perspectiva mediante teorias e pesquisas de diferentes áreas da psicologia, evidenciando a necessidade de intervenções do psicólogo para o favorecimento da relação mãe-bebê e o quanto esta relação é importante para a prevenção do desenvolvimento de transtornos psicológicos. Ao final, relatam sobre a rotina em uma UTI-Neo e expõem um caso clínico, permitindo uma melhor visualização de como esse trabalho pode ser realizado.

No décimo capítulo, "O psicólogo na unidade de terapia intensiva-adulto", Pregnatto e Agostinho apresentam minuciosamente assuntos sobre o surgimento e funcionamento de uma UTI-A, equipamentos básicos e estrutura física esperada, e a organização das visitas familiares, que trazem angústias que devem ser trabalhadas pelo psicólogo. O capítulo aborda também os sentimentos e as características gerais que podem ser observáveis e esperadas em pacientes, e como cada membro da equipe desempenha seu papel. Outros assuntos referentes à UTI-A, como rotina de atendimento, atuação do psicólogo com a equipe médica e o ambiente, são expostos. Ao final, é descrito um estudo de caso, esclarecendo temas principais com que o psicólogo deverá lidar nesta área, tais como morte, dor, sofrimento e seu importante papel como mediador das relações equipe médica-paciente-família.

No décimo primeiro capítulo, "Enfermaria de obstetrícia", Baptista e Furquim visam passar aos leitores a importância de uma visão multifatorial para se trabalhar com a mulher, visto que a gravidez, desejada ou não, possui impactos sociais, biológicos, psicológicos e culturais para a mulher, que devem ser levados em consideração. Ainda, é exposto o quanto vínculos afetivos constituem um fator protetivo a transtornos psiquiátricos ou psicológicos, as fases de uma gravidez e as alterações esperadas em cada uma delas. Sequencialmente, as autoras relatam sobre gestação e alto risco, o parto e o puerpério, citando sempre como o profissional de psicologia poderá intervir durante este período. As autoras terminam exemplificando como pode ser esta intervenção e como dar assistência a essas mulheres.

Em "Enfermaria de pediatria: avaliação e intervenção psicológica" Dias, Baptista e Dias colocam considerações sobre o desenvolvimento humano, e os danos que uma intervenção pode gerar em uma criança quando não se respeitam as características desenvolvimentais. Nesse sentido, os autores abordam temas voltados para o momento da hospitalização, quando vários sentimentos podem ser observados e que, nas crianças, podem gerar traumas futuros quando não trabalhados corretamente. Logo, a postura profissional esperada pelo psicólogo é relatada, tal como a importância em se avaliar corretamente e saber como esse procedimento deverá ser realizado, e como trabalhar com a família, visto que esta também possui angústias e é essencial para dar o suporte à criança hospitalizada e favorecer sua recuperação.

O capítulo "Neuropsicologia", de Merlin, propicia uma releitura dos principais temas referentes a avaliação neuropsicológica, desde sua definição até estudos de caso. O capítulo aborda temas referentes aos principais procedimentos e objetivos de uma avaliação neuropsicológica, que deverá considerar não somente os resultados dos testes, mas o histórico do avaliado, e se os mesmos possuem características psicométricas adequadas. A autora destaca também a necessidade de se redigirem relatórios de forma objetiva e precisa e, na sequência, a consideração que o profissional deve ter em analisar o avaliando com uma visão multidisciplinar, levando em conta a psicologia, psiquiatria e neurologia. Por fim, comenta sobre a importância de estudos voltados para a avaliação neuropsicológica e sobre os fatores de risco que devem ser levados em conta durante uma avaliação.

O penúltimo capítulo, "Sistema familiar de crianças com transtorno global do desenvolvimento", de Sanchez, relata os padrões com os quais as famílias estruturam as relações sociais e o desenvolvimento da criança, conforme uma visão sistêmica, levando em conta, neste caso, crianças esquizofrênicas e autistas. Assim, a autora discute sobre como a família afeta e é afetada por este todo, e como as crianças com tais transtornos estabelecem suas relações. Dessa forma, traz importantes informações sobre como esta abordagem interpreta a família, as dificuldades dos pais ante as limitações dos filhos, até a importância de essas famílias serem mais consistentes para a estruturação da criança que possui esse transtorno.

Por fim, Pregnolatto, Agostinho, Dias e Baptista escrevem sobre "Humanização em ambientes médicos", assunto muito discutido por profissionais da área da saúde e muitas vezes desconhecido. Nesse sentido, os autores discorrem sobre a subjetividade do tema e a necessidade em se considerá-lo como multideterminado. Os autores relatam no capítulo aspectos históricos do termo, seu conceito e utilização na área da saúde, e apresentam uma pesquisa voltada ao estudo de como os profissionais da saúde e pacientes interpretam esse conceito. Dessa forma, a pesquisa relatada no capítulo permitiu aos autores identificar as várias interpretações relacionadas ao tema, a impossibilidade de defini-lo com exatidão e a necessidade que os profissionais da saúde vejam seu trabalho como multidisciplinar/ multifatorial.

O livro possui uma linguagem clara e simples, com referências bem atualizadas e importantes ao se pensar na área da saúde. A ordem escolhida pelos autores para abordar os temas torna a leitura mais interessante, didática e habitual, permitindo, assim, uma melhor visualização de como os conceitos teóricos trazidos pelos autores podem ser aplicados. Dessa forma, o livro proporciona um conhecimento notório que certamente contribuirá para os profissionais e futuros profissionais da área da saúde.

Recebido em setembro de 2009

Reformulado em novembro de 2009

Aprovado em dezembro de 2009

Sobre a autora:

Adriana Munhoz Carneiro é discente em Psicologia pela Universidade São Francisco.

  • Psicologia hospitalar: teoria, aplicações e casos clínicos

    Adriana Munhoz Carneiro
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      02 Jul 2010
    • Data do Fascículo
      Abr 2010
    Universidade de São Francisco, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia R. Waldemar César da Silveira, 105, Vl. Cura D'Ars (SWIFT), Campinas - São Paulo, CEP 13045-510, Telefone: (19)3779-3771 - Campinas - SP - Brazil
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