Acessibilidade / Reportar erro

Adaptação Brasileira e Estrutura Fatorial da Escala 240-item VIA Inventory of Strengths

Brazilian Adaptation and Factor Structure of the 240-item VIA Inventory of Strengths Scale

Adaptación Brasileña y Estructura Factorial de la Escala 240-item VIA Inventory of Strengths

Resumo

Este estudo objetivou: (1) realizar a adaptação transcultural do 240-item VIA Inventory of Strengths (VIA-IS) para o Brasil; (2) investigar a estrutura fatorial do VIA-IS em uma amostra brasileira; e (3) reportar dados descritivos de escores de forças no VIA-IS nessa amostra. A adaptação da escala para uso no Brasil seguiu diretrizes padronizadas para adaptação transcultural de instrumentos psicológicos, gerando uma versão brasileira do VIA-IS similar à original. As análises de estrutura fatorial e descritivas foram realizadas com uma amostra de 1.975 brasileiros, com média de idade de 35,0 anos (DP = 10,8). Os resultados encontrados sugerem o uso do instrumento como uma medida unidimensional de potencialidades. A amostra apresentou médias altas de escores em todas as forças avaliadas, com mulheres relatando escores mais altos que homens, na maioria delas. São discutidas implicações para a avaliação em Psicologia Positiva de forças e virtudes com o VIA-IS em contexto brasileiro.

Palavras-chave:
inventário de forças; forças de caráter; virtudes; psicologia positiva; estrutura fatorial

Abstract

The aims of this study were: (1) to perform the cross-cultural adaptation of the 240-item VIA Inventory of Strengths (VIA-IS) to use in Brazil; (2) to investigate the factor structure of the VIA-IS in a Brazilian sample; and (3) to conduct descriptive analyses of strengths scores in the VIA-IS in the Brazilian sample. The cross-cultural adaptation provided a Brazilian-Portuguese version of the VIA-IS that is similar to the original version of the instrument. The descriptive and factor structure analysis were conducted in a sample of 1.975 Brazilians, with a mean age of 35.0 years old (SD = 10.8). Results suggest that the instrument should be used as a unidimensional measure of strengths and virtues. The sample presented high scores in all strengths assessed, and women scored higher than men in the majority of the strengths. We discuss implications for the assessment of strengths and virtues in Positive Psychology using the VIA-IS in the Brazilian context.

Keywords:
inventory of strengths; strength of character; virtues; positive psychology; factor structure

Resumen

Este estudio tuvo como objetivo: (1) realizar la adaptación transcultural del inventario 240-item VIA Inventory of Strengths (VIA-IS) para su uso en Brasil; (2) investigar la estructura factorial del VIA-IS en una muestra brasileña; y (3) informar datos descriptivos de las puntuaciones de fuerzas en el VIA-IS en esa muestra. La adaptación de la escala para su uso en Brasil siguió pautas estandarizadas para la adaptación transcultural de instrumentos psicológicos, generando una versión brasileña del VIA-IS similar a la original. Los análisis de estructura factorial y descriptivas se llevaron a cabo en una muestra de 1.975 brasileños, con edad media de 35,0 años (SD = 10,8). Los resultados sugieren que el instrumento debe ser utilizado como una medida unidimensional de potencialidades. La muestra presentó medias altas de puntuaciones en todas las fuerzas evaluadas, y las mujeres tuvieron mayor puntuación que los hombres en la mayoría de ellas. Se discuten las implicaciones para la evaluación en Psicología Positiva de fuerzas y virtudes utilizando el VIA-IS en el contexto brasileño.

Palabras clave:
inventario de fuerza; fuerza de carácter; virtudes; psicología positiva; estructura factorial

Introdução

O conceito de forças de caráter (character strengths) é um dos pilares do campo da Psicologia Positiva, na medida em que sugere a identificação e o desenvolvimento de potencialidades humanas. Como proposto pelos fundadores da área, essas características psicológicas positivas exercem papel fundamental na vivência de outros aspectos positivos (Seligman & Csikszentmihalyi, 2000Seligman, M. E. P., & Csikszentmihalyi, M. (2000). Positive psychology: an introduction. American Psychologist55, 5-14. doi: 10.1037/0003-066X.55.1.5
https://doi.org/10.1037/0003-066X.55.1.5...
). De acordo com essa perspectiva, o indivíduo que conhece suas forças e virtudes pode impulsionar seu "florescimento", ou seja, é uma condição que pode permitir seu desenvolvimento pleno e saudável em todos os níveis - psicológico, biológico e social (Keyes & Haidt, 2003Keyes, C. L. M., & Haidt, J. (2003). Flourishing: positive psychology and the life well lived. Washington, DC: American Psychological Association.). Investigações sobre forças pessoais vêm ganhando espaço e fundamentando intervenções nos campos terapêutico (Seligman, Rashid, & Parks, 2006Seligman, M., Rashid, T., & Parks, A. C. (2006). Positive Psychotherapy. American Psychologist61, 774-788. doi: 10.1037/0003-066X.61.8.774
https://doi.org/10.1037/0003-066X.61.8.7...
), educacional (Park & Peterson, 2009Park, N., & Peterson, C. (2009). Character Strengths: Research and practice. Journal of College and Character10(4), 1-10. doi: 10.2202/1940-1639.1042
https://doi.org/10.2202/1940-1639.1042...
) e organizacional (Peterson & Park, 2006Peterson, C., & Park, N. (2006). Character strengths in organizations. Journal of Organizational Behavior27, 1149-1154. doi: 10.1002/job.398
https://doi.org/10.1002/job.398...
).

A partir de pesquisas iniciais, Peterson e Seligman (2004)Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Character strengths and virtues: a handbook and classification. Washington, DC: American Psychological Association. identificaram seis valores presentes em escritos históricos de Filosofia e religião em diferentes culturas. Desses valores, posteriormente denominados virtudes - sabedoria e conhecimento, coragem, humanidade, justiça, temperança e transcendência - emergiram 24 principais forças de caráter, que estariam presentes em todo indivíduo, em maior ou menor grau. De acordo com os propositores, as virtudes seriam características centrais, universais, valorizadas por filósofos e religiosos, que emergiram de documentos históricos analisados (Dahlsgaard, Peterson, & Seligman, 2005Dahlsgaard, K., Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2005). Shared virtue: The convergence of valued human strengths across culture and history. Review of General Psychology9(3), 203-213. doi: 10.1037/1089-2680.9.3.203
https://doi.org/10.1037/1089-2680.9.3.20...
). Já as forças de caráter seriam os ingredientes psicológicos que definiriam as virtudes (Peterson & Park, 2004Peterson, C., & Park, N. (2004). Classification and measurement of character strengths: Implications for practice. In P. A. Linley; & S. Joseph (Eds.), Positive psychology in practice (pp. 433-446). Hoboken, NJ: Wiley.).

As forças de caráter podem ser conceituadas como características positivas que se refletem em pensamentos, sentimentos e comportamentos. Apresentam-se em níveis distintos para cada indivíduo e podem ser mensuradas (Park, Peterson, & Seligman, 2004Park, N., Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Strengths of character and well-being, Journal of Social & Clinical Psychology23, 603-619. doi: 10.1521/jscp.23.5.603.50748
https://doi.org/10.1521/jscp.23.5.603.50...
). Além disso, as forças exerceriam papel fundamental na vivência de outros aspectos positivos, como bem-estar (Seligman & Csikszentmihalyi, 2000Seligman, M. E. P., & Csikszentmihalyi, M. (2000). Positive psychology: an introduction. American Psychologist55, 5-14. doi: 10.1037/0003-066X.55.1.5
https://doi.org/10.1037/0003-066X.55.1.5...
). Para Peterson e Seligman (2004)Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Character strengths and virtues: a handbook and classification. Washington, DC: American Psychological Association., as forças devem preencher alguns critérios para serem consideradas como tais. Esses critérios foram levantados a partir dos estudos teóricos iniciais (ver Peterson & Seligman, 2004Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Character strengths and virtues: a handbook and classification. Washington, DC: American Psychological Association.).

Entende-se, atualmente, que as forças são influenciadas tanto pelo contexto - família, escola, pares e comunidade - quanto pela hereditariedade (Park & Peterson, 2009Park, N., & Peterson, C. (2009). Character Strengths: Research and practice. Journal of College and Character10(4), 1-10. doi: 10.2202/1940-1639.1042
https://doi.org/10.2202/1940-1639.1042...
; Steger, Hicks, Kashdan, Krueger, & Bouchard, 2007Steger, M. F., Hicks, B., Kashdan, T. B., Krueger, R. F., & Bouchard, T. J., Jr. (2007). Genetic and environmental influences on the positive traits of the Values in Action classification, and biometric covariance with normal personality. Journal of Research in Personality41, 524-539. doi: 10.1016/j.jrp.2006.06.002
https://doi.org/10.1016/j.jrp.2006.06.00...
). Além disso, as forças têm-se mostrado relacionadas com os estágios do ciclo vital (Park & Peterson, 2006aPark, N., & Peterson, C. (2006a). Character strengths and happiness among young children: Content analysis of parental descriptions. Journal of Happiness Studies7, 323-341. doi: 10.1007/s10902-005-3648-6
https://doi.org/10.1007/s10902-005-3648-...
, 2006bPark, N., & Peterson, C. (2006b). Moral competence and character strengths among adolescents: The development and validation of the Values in Action Inventory of Strengths for Youth. Journal of Adolescence29, 891-905. doi: 10.1016/j.adolescence.2006.04.011
https://doi.org/10.1016/j.adolescence.20...
; Park, Peterson, & Seligman, 2006Park, N., Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2006). Character strengths in fifty-four nations and the fifty US states. Journal of Positive Psychology1, 118-129. doi:10.1080/17439760600619567
https://doi.org/10.1080/1743976060061956...
). Estudos com jovens e adultos sugerem que as forças de caráter são relativamente estáveis ao longo do tempo, o que é considerado por alguns autores como um indício de que poderiam ser traços (Park & Peterson, 2009Park, N., & Peterson, C. (2009). Character Strengths: Research and practice. Journal of College and Character10(4), 1-10. doi: 10.2202/1940-1639.1042
https://doi.org/10.2202/1940-1639.1042...
). Entretanto, mesmo que apresentem relativa estabilidade ao longo do tempo, não se pode afirmar que são imutáveis (Peterson, 2006Peterson, C. (2006). A primer in positive psychology. New York: Oxford University Press.).

O estudo das forças de caráter deu origem a um manual de forças, uma nova classificação que tem por ponto de partida as potencialidades humanas (Peterson & Seligman, 2004Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Character strengths and virtues: a handbook and classification. Washington, DC: American Psychological Association.). Da mesma forma que há classificações para terminologias patológicas, a classificação de forças - VIA Classification of Strengths (Tabela 1) - propõe-se a ser um contraponto a essa visão, evidenciando a existência de aspectos saudáveis no ser humano e ampliando o olhar exclusivamente direcionado anteriormente para psicopatologias (Snyder & Lopez, 2009Snyder, C. R., & Lopez, S. J. (2009). Psicologia Positiva: Uma abordagem científica e prática das qualidades humanas (R. C. Costa, Trad.). São Paulo, SP: Artmed.). No entanto, essa classificação é descritiva, e não prescritiva, não podendo ser considerada uma taxonomia de forças (Niemiec, 2013Niemiec, R. M. (2013). VIA Character Strengths: Research and Practice (The First 10 Years). In H. H. Knoop & A. Delle-Fave (Eds.), Well-Being and Cultures (pp. 11-29). New York, NY: Springer.). Dessa classificação, por sua vez, foi estruturada uma medida de forças de caráter, a 240-item VIA Inventory of Strengths (VIA-IS). O instrumento é composto por 240 itens - dez itens por força de caráter mensurada - avaliados em uma escala de concordância de cinco pontos (indo de "não tem nada a ver comigo" a "tem tudo a ver comigo"). O preenchimento da escala gera um ranking das forças mais bem pontuadas, chamado pelos propositores de Assinatura de forças (Peterson & Seligman, 2004Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Character strengths and virtues: a handbook and classification. Washington, DC: American Psychological Association.). Pesquisadores salientam que esse ranking é dinâmico (Peterson & Seligman, 2004Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Character strengths and virtues: a handbook and classification. Washington, DC: American Psychological Association.) e pode ser desenvolvido (Park, 2009Park, N. (2009). Building strengths of character: Keys to positive youth development. Reclaiming Children and Youth18, 42-47. Recuperado de http://www.fatih.edu.tr/~hugur/kindnes/BUILDING%20STRENGTH%20OF%20CHARACTER.PDF
http://www.fatih.edu.tr/~hugur/kindnes/B...
; Peterson & Park, 2009Peterson, G., & Park, N. (2009). Classifying and measuring strengths of character. In S. J. Lopez & G. R. Snyder (Eds.), Oxford handbook of positive psychology, (2nd ed., pp. 25-33). New York, NY: Oxford University Press.).

Tabela 1
Descrição das Forças e Agrupamento em Virtudes, Traduzida para Português Brasileiro (adaptado de Peterson & Seligman, 2004Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Character strengths and virtues: a handbook and classification. Washington, DC: American Psychological Association. , pp. 29-30)

Aplicações do instrumento 240-item VIA Inventory of Strengths em 54 diferentes países indicaram consistência interna adequada (α > 0,70). Análises fatoriais e análises de componentes principais realizadas em estudos anteriores demonstraram diferentes agrupamentos de forças para a interpretação da estrutura do instrumento (Tabela 2). Alguns estudos sugerem uma solução de cinco agrupamentos (MacDonald, Bore, & Munro, 2008Macdonald, Bore, & Munro. (2008). Values in action scale and the Big 5: An empirical indication of structure. Journal of Research in Personality42, 787-799. doi: 10.1016/j.jrp.2007.10.003
https://doi.org/10.1016/j.jrp.2007.10.00...
; Ruch et al., 2010Ruch, W., Proyer, R. T., Harzer, C., Park, N., Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2010). Values in Action Inventory of Strengths (VIA-IS): Adaptation and validation of the German Version and the development of a peer-rating form. Journal of Individual Differences31, 138-149. doi: 10.1027/1614-0001/a000022.
https://doi.org/10.1027/1614-0001/a00002...
; Singh & Choubisa, 2010Singh, K., & Choubisa, R. (2010). Empirical validation of values in Action-Inventory of Strengths (VIA-IS) in Indian context. Psychological Studies55, 151-158. doi: 10.1007/s12646-010-0015-4
https://doi.org/10.1007/s12646-010-0015-...
), corroborando as primeiras análises realizadas (Peterson & Seligman, 2004Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Character strengths and virtues: a handbook and classification. Washington, DC: American Psychological Association.). Cabe salientar que Peterson e Seligman (2004)Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Character strengths and virtues: a handbook and classification. Washington, DC: American Psychological Association., apesar de encontrarem soluções estatísticas de cinco fatores, optaram por propor um modelo de seis fatores - virtudes - baseado em achados teóricos. Em contrapartida, também foram encontradas soluções fatoriais unidimensionais (MacDonald et al., 2008Macdonald, Bore, & Munro. (2008). Values in action scale and the Big 5: An empirical indication of structure. Journal of Research in Personality42, 787-799. doi: 10.1016/j.jrp.2007.10.003
https://doi.org/10.1016/j.jrp.2007.10.00...
) de três componentes (Shryack, Steger, Krueger, & Kallie, 2010Shryack, J., Steger, M. F., Krueger, R. F., & Kallie, C. S. (2010). The structure of virtue: An empirical investigation of the dimensionality of the virtues in action inventory of strengths. Personality and Individual Differences48, 714-719. doi: 10.1016/j.paid.2010.01.007
https://doi.org/10.1016/j.paid.2010.01.0...
) e de quatro componentes (MacDonald et al., 2008Macdonald, Bore, & Munro. (2008). Values in action scale and the Big 5: An empirical indication of structure. Journal of Research in Personality42, 787-799. doi: 10.1016/j.jrp.2007.10.003
https://doi.org/10.1016/j.jrp.2007.10.00...
; Brdar & Kashdan, 2010; Shryack et al., 2010Shryack, J., Steger, M. F., Krueger, R. F., & Kallie, C. S. (2010). The structure of virtue: An empirical investigation of the dimensionality of the virtues in action inventory of strengths. Personality and Individual Differences48, 714-719. doi: 10.1016/j.paid.2010.01.007
https://doi.org/10.1016/j.paid.2010.01.0...
).

Tabela 2
Agrupamentos de Forças por Fatores, Propostos por Estudos que Realizaram Análises Fatoriais do Instrumento VIA-IS

As forças e virtudes propõem-se a ser universais, ou seja, podem ser identificadas em diferentes culturas, países e sistemas de crença (Dahlsgaard et al.,2005Dahlsgaard, K., Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2005). Shared virtue: The convergence of valued human strengths across culture and history. Review of General Psychology9(3), 203-213. doi: 10.1037/1089-2680.9.3.203
https://doi.org/10.1037/1089-2680.9.3.20...
; Park & Peterson, 2010Park, N., & Peterson, C. (2010). Does it matter where we live? The urban psychology of character strengths. American Psychologist65(6), 535-547. doi: 10.1037/a0019621
https://doi.org/10.1037/a0019621...
; Park et al., 2006Park, N., Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2006). Character strengths in fifty-four nations and the fifty US states. Journal of Positive Psychology1, 118-129. doi:10.1080/17439760600619567
https://doi.org/10.1080/1743976060061956...
). Embora as forças sejam atributos que podem ser observados em diferentes culturas, é esperado que seu ranking seja particular do contexto, considerando seus valores, atitudes e comportamentos específicos (Park, et al., 2006Park, N., Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2006). Character strengths in fifty-four nations and the fifty US states. Journal of Positive Psychology1, 118-129. doi:10.1080/17439760600619567
https://doi.org/10.1080/1743976060061956...
). Um estudo realizado com dados de 54 países, incluindo o Brasil, indicou que as forças mais bem pontuadas foram gentileza, justiça, honestidade, gratidão, pensamento crítico, capacidade de amar e ser amado, e bom humor. Em contrapartida, as forças menos pontuadas nessas nações foram temperança, prudência, modéstia e autorregulação (Park et al., 2006Park, N., Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2006). Character strengths in fifty-four nations and the fifty US states. Journal of Positive Psychology1, 118-129. doi:10.1080/17439760600619567
https://doi.org/10.1080/1743976060061956...
). Alguns países apresentaram rankings semelhantes, formando agrupamentos que podem ser justificados por similaridades culturais. Foi o caso do agrupamento de países nórdicos e a aproximação de resultados do Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia (Park et al., 2006Park, N., Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2006). Character strengths in fifty-four nations and the fifty US states. Journal of Positive Psychology1, 118-129. doi:10.1080/17439760600619567
https://doi.org/10.1080/1743976060061956...
). Entretanto, os autores afirmam não ser possível generalizar resultados de cada nação para toda sua população, visto que cada indivíduo apresenta suas particularidades.

Esse dado é corroborado pelo estudo de Biswas-Diener (2006)Biswas-Diener, R. (2006). From the equator to the north pole: A study of character strengths. Journal of Hapiness Studies7, 293-310. doi: 10.1007/s10902-005-3646-8
https://doi.org/10.1007/s10902-005-3646-...
, que analisou forças de caráter de três diferentes culturas - Kenyan Maasai, Inughuit e estudantes universitários americanos. De acordo com os resultados, algumas forças, como Coragem e bravura, podem ser consideradas panculturais, ao passo que outras parecem mais relacionadas com aspectos particulares do contexto. A força Modéstia, por exemplo, apresentou baixos escores para americanos e Inughuits, o que pode estar relacionado mudanças culturais ao longo do tempo (Biswas-Diener, 2006Biswas-Diener, R. (2006). From the equator to the north pole: A study of character strengths. Journal of Hapiness Studies7, 293-310. doi: 10.1007/s10902-005-3646-8
https://doi.org/10.1007/s10902-005-3646-...
; Ellsworth, 1994Ellsworth, P.C. (1994). Sense, culture, and sensibility. In S. Kitiyama & H. R. Markus (Eds.), Emotion and Culture: Empirical Studies of Mutual Influence (pp. 23-50) Washington, DC: American Psychological Association.). Outro aspecto a ser considerado são episódios marcantes na história das nações, os quais podem afetar a forma como as pessoas avaliam a si mesmas e valorizam determinadas forças. É o caso do ataque terrorista de 11 de setembro nos Estados Unidos, associado a mudanças de pontuações de várias forças de caráter, entre elas Liderança, Esperança e Gentileza (Peterson & Seligman, 2003Peterson, C. & M.E.P., Seligman (2003). Character strengths before and after September 11. Psychological Science14, 381-384. doi: 10.1111/1467-9280.24482
https://doi.org/10.1111/1467-9280.24482...
).

Ainda com relação a aspectos associados às forças de caráter, estudos sugerem diferenças entre gênero (Peterson & Seligman, 2004Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Character strengths and virtues: a handbook and classification. Washington, DC: American Psychological Association.; Shimai, Otake, Park, Peterson, & Seligman, 2006Shimai, S., Otake, K., Park, N., Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2006). Convergence of character strengths in american and japanese young adults. Journal of Hapiness Studies7(3), 311-322. doi: 10.1007/s10902-005-3647-7
https://doi.org/10.1007/s10902-005-3647-...
; Shryack et al., 2010Shryack, J., Steger, M. F., Krueger, R. F., & Kallie, C. S. (2010). The structure of virtue: An empirical investigation of the dimensionality of the virtues in action inventory of strengths. Personality and Individual Differences48, 714-719. doi: 10.1016/j.paid.2010.01.007
https://doi.org/10.1016/j.paid.2010.01.0...
). Enquanto as mulheres apresentariam maiores escores para forças como Amor pela aprendizagem, Capacidade de amar e ser amado, Gentileza, Apreciação da beleza, Trabalho em equipe e Gratidão, homens endossaram mais frequentemente as forças Coragem e bravura, Criatividade e Autorregulação.

O presente estudo teve como objetivos: (1) realizar o processo de adaptação transcultural do 240-item VIA Inventory of Strengths (VIA-IS) para uso no Brasil; (2) investigar a estrutura fatorial do VIA-IS em uma ampla amostra brasileira; e (3) reportar dados descritivos de escores de forças no VIA-IS para a amostra brasileira (total e por sexo). As análises deste estudo tiveram caráter exploratório, dado ser este o primeiro trabalho com o instrumento em contexto brasileiro.

Método

Processo de Tradução e Adaptação do Instrumento para Uso no Brasil

A escala 240-item VIA Inventory of Strengths (VIA-IS) foi traduzida e adaptada para utilização brasileira a partir de uma parceria com o Values in Action Institute on Character, estabelecida contratualmente em 2010, conforme sugerido por Gjersing et al. (2010)Gjersing, L., Caplehorn, J. R. M., & Clausen, T. (2010). Cross-cultural adaptation of research instruments: Language, setting, time and statistical considerations. BMC Medical Research Methodology10, 13. doi:10.1186/1471-2288-10-13
https://doi.org/10.1186/1471-2288-10-13...
. O preenchimento foi realizado de forma on-line pelo site www.viacharacter.org. Após recebimento dos dados, a tradução inglês-português foi conduzida por um pesquisador expert em Psicologia, nativo do Brasil e com fluência no idioma inglês. Essa tradução foi encaminhada a juiz, que realizou o processo de retrotradução. Após isso, um terceiro pesquisador expert, também com fluência em ambos os idiomas, realizou a comparação entre a versão original e o resultado dos processos de tradução e retrotradução. Esse método de adaptação de instrumento tem sido sugerido pela literatura, a fim de assegurar que a tradução esteja de acordo com aspectos culturais e contextuais (Borsa, Damásio, & Bandeira, 2012Borsa, J. C., Damásio, B. F., & Bandeira, D. R. (2012). ­Adaptação e validação de instrumentos psicológicos entre culturas: Algumas considerações. Paidéia22(53), 423-432. doi: 10.1590/1982-43272253201314
https://doi.org/10.1590/1982-43272253201...
). Identificou-se concordância gramatical em 222 itens, com pequenas variações de sinônimos (ex. "Pode-se confiar em minhas promessas" foi alterado para "Minhas promessas são confiáveis"). Foram sugeridas modificações de tradução em 18 itens que apresentaram discrepâncias (Tabela 3), a fim de respeitar particularidades do contexto brasileiro. As alterações foram definidas por consenso dos experts, finalizando o processo de tradução do instrumento.

Tabela 3
Processo de Tradução da Escala "240-item VIA Inventory of Strengths" (VIA-IS) - Itens Discrepantes

Participantes

Participaram do estudo 1.975 indivíduos que responderam ao questionário em português-brasileiro no website da instituição parceira. A Tabela 4 apresenta a caracterização sociodemográfica da amostra. A coleta de dados foi realizada entre maio de 2010 e abril de 2013. Os interessados em preencher a escala 240-item VIA Inventory of Strengths (VIA-IS) adaptada para uso no Brasil acessaram o website do Institute on Character e automaticamente foram computados como participantes deste estudo.

Tabela 4
Caracterização Sociodemográfica da Amostra

Instrumento

A escala 240-item VIA Inventory of Strengths (VIA-IS) é uma medida de forças de caráter proposta por Peterson e Seligman (2004)Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Character strengths and virtues: a handbook and classification. Washington, DC: American Psychological Association.. O instrumento é composto por 240 itens que mensuram, em escala de concordância de cinco pontos ("não tem nada a ver comigo" a "tem tudo a ver comigo"), 24 diferentes forças de caráter (ver Tabela 1). A escala é preenchida unicamente em formato on-line. Sua versão original, em contexto americano, apresentou consistência interna adequada (α > 0,70) (Peterson & Seligman, 2004Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Character strengths and virtues: a handbook and classification. Washington, DC: American Psychological Association.).

Procedimentos

A versão traduzida e adaptada da escala foi disponibilizada no website da instituição parceira. Um convite de participação foi encaminhado, por e-mail, a uma rede de contatos previamente organizada. Além disso, interessados de todo o país puderam acessar o instrumento pelo portal da instituição. O link da escala também foi divulgado por profissionais parceiros e pela Associação de Psicologia Positiva da América Latina. Os dados coletados foram repassados pelo Institute on Character, para viabilizar as análises apresentadas neste estudo. A versão brasileira do instrumento continua disponível no mesmo website, na opção de idioma Portuguese Brazil.

Resultados

Os dados dos participantes brasileiros foram sumarizados a partir das médias dos itens que compõem cada um dos 24 escores de forças do VIA-IS. Salienta-se que todas as forças tiveram médias acima de três pontos. Esses escores de forças foram, em seguida, submetidos a análises fatoriais exploratórias (AFE) para investigação da estrutura fatorial de virtudes da versão brasileira do questionário. Foram utilizadas AFE ao invés de Análises Fatoriais Confirmatórias (AFC) por conta dos resultados inconsistentes quanto à estrutura fatorial do VIA-IS encontrados em estudos anteriores com o instrumento em outros países e culturas. As análises foram realizadas no software FACTOR 9.2 (Lorenzo-Seva & Ferrando, 2006Lorenzo-Seva, U., & Ferrando, P. J. (2006). FACTOR: A computer program to fit the exploratory factor analysis model. Behavior Research Methods, 38(1), 88-91. doi: 10.3758/BF03192753
https://doi.org/10.3758/BF03192753...
). A investigação da adequação da amostra para a AFE foi feita pela análise do índice de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e pelo teste de esfericidade de Bartlett. Foram utilizados dois métodos diferentes para avaliar o número de fatores ideal para retenção: método de Hull (Lorenzo-Seva, Timmerman, & Kiers, 2011Lorenzo-Seva, U., Timmerman, M. E., & Kiers, H. A. (2011). The hull method for selecting the number of common factors. Multivariate Behavioral Research46(2), 340-364. doi: 10.1080/00273171.2011.564527
https://doi.org/10.1080/00273171.2011.56...
), e método de análises paralelas (Horns, 1965Horn, J. L. (1965). A rationale and test for the number of factors in factor analysis. Psychometrika30, 179-185. doi: 10.1007/BF02289447
https://doi.org/10.1007/BF02289447...
). O método de rotação empregado nos casos de soluções com mais de um fator foi o Varimax. Cabe comentar que diferentes análises fatoriais foram conduzidas com métodos de extração e rotação adequados para fatores comuns e em acordo com estudos anteriores sobre o instrumento. Por questões de convergência (i.e. falha em indicar uma solução após o número estipulado de interações), procedeu-se as análises de componentes principais com rotação Varimax, embora não sejam os métodos mais adequados. Cargas fatoriais estatisticamente significativas (p < 0,05) e com valores acima de 0,40 foram consideradas relevantes para interpretação das forças pertencentes a cada fator extraído. O coeficiente de confiabilidade dos fatores foi avaliado pelo método de Mislevy e Bock (1990)Mislevy, R. J., & Bock, R. D. (1990). BILOG: Item analysis and test scoring with binary logistic models Chicago, IL: Scientific Software.. Embora a maioria dos estudos anteriores com o VIA-IS tenha utilizado o coeficiente de consistência interna alfa de Cronbach como evidência de confiabilidade do instrumento, a opção pelo uso de outro método se deu pelo reconhecimento das limitações do coeficiente alfa quando da análise de instrumentos com grande número de itens (isto é, valores altos de alfa são encontrados quando há um número muito elevado de itens, ainda que não necessariamente o instrumento apresente real consistência interna), limitações essas inerentes à própria fórmula utilizada para o cálculo do coeficiente alfa e reconhecidas por Cronbach (1951)Cronbach, L. J. (1951). Coefficient alpha and the internal structure of tests. Psychometrika16, 297-334. Recuperado de http://kttm.hoasen.edu.vn/sites/default/files/2011/12/22/cronbach_1951_coefficient_alpha.pdf
http://kttm.hoasen.edu.vn/sites/default/...
.

As análises preliminares demonstraram adequação da amostra para a realização das Análises Fatoriais Exploratórias (KMO = 0,95; e índice de Bartlett = 35784,3; gl = 276; p < 0,001). O método de Hull sugeriu a extração de um fator único, enquanto o método de análises paralelas sugeriu a extração de três ou quatro fatores. As soluções de três e quatro fatores correspondem à média e percentil 95% dos autovalores simulados. A Tabela 5 apresenta os resultados encontrados para as três soluções testadas - unifatorial, de três e de quatro fatores - quanto às seguintes propriedades: (1) cargas fatoriais de cada um dos escores das forças agrupadas pela divisão original do VIA-IS (Peterson & Seligman, 2004Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Character strengths and virtues: a handbook and classification. Washington, DC: American Psychological Association.); (2) índices de confiabilidade de cada fator; e (3) porcentagem de variância explicada por cada fator.

Tabela 5
Extração de Fatores com o Método de Análises Paralelas e o Método de Hull

Na solução de três fatores, pode-se notar que o primeiro fator agrupou forças relacionadas à regulação e à criticidade, sugerindo aproximação com a terminologia Forças de regulação (MacDonald et al., 2008Macdonald, Bore, & Munro. (2008). Values in action scale and the Big 5: An empirical indication of structure. Journal of Research in Personality42, 787-799. doi: 10.1016/j.jrp.2007.10.003
https://doi.org/10.1016/j.jrp.2007.10.00...
), Forças de autocontrole (Ruch et al., 2010Ruch, W., Proyer, R. T., Harzer, C., Park, N., Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2010). Values in Action Inventory of Strengths (VIA-IS): Adaptation and validation of the German Version and the development of a peer-rating form. Journal of Individual Differences31, 138-149. doi: 10.1027/1614-0001/a000022.
https://doi.org/10.1027/1614-0001/a00002...
) e Cautela (Brdar & Kashdan, 2010). O segundo fator reuniu forças associadas a tipos de interesse ou envolvimento, o que pode se aproximar das ideias propostas nas virtudes Sabedoria e conhecimento (Peterson & Seligman, 2004Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Character strengths and virtues: a handbook and classification. Washington, DC: American Psychological Association.) e Forças intelectuais (MacDonald et al., 2008Macdonald, Bore, & Munro. (2008). Values in action scale and the Big 5: An empirical indication of structure. Journal of Research in Personality42, 787-799. doi: 10.1016/j.jrp.2007.10.003
https://doi.org/10.1016/j.jrp.2007.10.00...
; Ruch et al., 2010Ruch, W., Proyer, R. T., Harzer, C., Park, N., Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2010). Values in Action Inventory of Strengths (VIA-IS): Adaptation and validation of the German Version and the development of a peer-rating form. Journal of Individual Differences31, 138-149. doi: 10.1027/1614-0001/a000022.
https://doi.org/10.1027/1614-0001/a00002...
; Shryack et al., 2010Shryack, J., Steger, M. F., Krueger, R. F., & Kallie, C. S. (2010). The structure of virtue: An empirical investigation of the dimensionality of the virtues in action inventory of strengths. Personality and Individual Differences48, 714-719. doi: 10.1016/j.paid.2010.01.007
https://doi.org/10.1016/j.paid.2010.01.0...
; Singh & Choubisa, 2010Singh, K., & Choubisa, R. (2010). Empirical validation of values in Action-Inventory of Strengths (VIA-IS) in Indian context. Psychological Studies55, 151-158. doi: 10.1007/s12646-010-0015-4
https://doi.org/10.1007/s12646-010-0015-...
). Já o terceiro fator agrupou forças relativas à socialização e à empatia, tendo aproximação com a virtude Forças interpessoais (Brdar & Kashdan, 2010; MacDonald et al., 2008Macdonald, Bore, & Munro. (2008). Values in action scale and the Big 5: An empirical indication of structure. Journal of Research in Personality42, 787-799. doi: 10.1016/j.jrp.2007.10.003
https://doi.org/10.1016/j.jrp.2007.10.00...
; Ruch et al., 2010Ruch, W., Proyer, R. T., Harzer, C., Park, N., Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2010). Values in Action Inventory of Strengths (VIA-IS): Adaptation and validation of the German Version and the development of a peer-rating form. Journal of Individual Differences31, 138-149. doi: 10.1027/1614-0001/a000022.
https://doi.org/10.1027/1614-0001/a00002...
; Shryack et al., 2010Shryack, J., Steger, M. F., Krueger, R. F., & Kallie, C. S. (2010). The structure of virtue: An empirical investigation of the dimensionality of the virtues in action inventory of strengths. Personality and Individual Differences48, 714-719. doi: 10.1016/j.paid.2010.01.007
https://doi.org/10.1016/j.paid.2010.01.0...
; Singh & Choubisa, 2010Singh, K., & Choubisa, R. (2010). Empirical validation of values in Action-Inventory of Strengths (VIA-IS) in Indian context. Psychological Studies55, 151-158. doi: 10.1007/s12646-010-0015-4
https://doi.org/10.1007/s12646-010-0015-...
). A força Perdão e Misericórdia não apresentou cargas fatoriais satisfatórias para nenhum fator.

A solução de quatro fatores indicou agrupamentos semelhantes. O quarto fator relacionou forças associadas à perspectiva e ao futuro, podendo se aproximar do conceito Temperança (Peterson & Seligman, 2004Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Character strengths and virtues: a handbook and classification. Washington, DC: American Psychological Association.; Shryack et al., 2010Shryack, J., Steger, M. F., Krueger, R. F., & Kallie, C. S. (2010). The structure of virtue: An empirical investigation of the dimensionality of the virtues in action inventory of strengths. Personality and Individual Differences48, 714-719. doi: 10.1016/j.paid.2010.01.007
https://doi.org/10.1016/j.paid.2010.01.0...
).

Além de Análises Fatoriais Exploratórias do instrumento VIA-IS, também foram realizadas análises descritivas de médias de pontuação das forças na amostra brasileira. Pode-se perceber que a força Integridade, igualdade e justiça apresentou maior média geral (M = 4,11, DP = 0,50), enquanto a força Autorregulação e autocontrole teve a menor média (M = 3,33, DP = 0,65) no estudo brasileiro. Salienta-se também que a força Espiritualidade, senso de propósito e fé apresentou maior desvio padrão entre os resultados gerais, o que indica maior dispersão dessa força na amostra brasileira.

As análises descritivas por sexo mostraram que as forças Criatividade, engenhosidade e originalidade, Curiosidade e interesse no mundo, Bom humor e diversão e Juízo, pensamento crítico e abertura a novas experiências foram mais bem pontuadas pelos homens. As mulheres demostraram pontuação mais alta nas demais forças. Salienta-se novamente o alto valor de desvio padrão, para ambos os sexos na forçaEspiritualidade, senso de propósito e fé. Os dados estão detalhados na tabela a seguir (Tabela 6).

Tabela 6
Escores Descritivos das Forças numa Amostra Brasileira - Valores de Média e Desvio Padrão Gerais e por Sexo

Discussão

Os resultados da amostra brasileira do VIA-IS indicaram três possíveis interpretações para a estrutura fatorial do instrumento, a depender do tipo de método utilizado para indicação do melhor número de fatores a ser retido: 1) uma solução unifatorial (a partir do método de Hull); 2) uma solução de três fatores; ou 3) uma solução de quatro fatores (itens 2 e 3 extraídos a partir do método de análises paralelas). A solução unifatorial está em consonância com os resultados de estudos anteriores com o VIA-IS (e.g., Brdar & Kashdan, 2009Brdar, B., & Kashdan, T. (2009). Character strengths and well-being in Croatia: An empirical investigation of structure and correlates. Journal of Research in Personality44(1), 151-154. doi: 10.1016/j.jrp.2009.12.001
https://doi.org/10.1016/j.jrp.2009.12.00...
; MacDonald et al., 2008Macdonald, Bore, & Munro. (2008). Values in action scale and the Big 5: An empirical indication of structure. Journal of Research in Personality42, 787-799. doi: 10.1016/j.jrp.2007.10.003
https://doi.org/10.1016/j.jrp.2007.10.00...
). Além disso, outro estudo realizado na África do Sul com a versão para jovens do instrumento (VIA-Youth) também apresentou solução unifatorial (Van Eeden, Wissing, Dreyer, Park, & Peterson, 2008Van Eeden, C., Wissing, M. P., Dreyer, J., Park, N., & Peterson, C. (2008). Validation of the values in action inventory of strengths for youth among South African learners. Journal of Psychology in Africa18, 143-154. doi: 10.1080/14330237.2008.10820181
https://doi.org/10.1080/14330237.2008.10...
).

Já as soluções multifatoriais encontradas no presente estudo apresentaram uma distribuição de forças entre os fatores, relativamente distinta à estrutura de seis fatores original (Peterson & Seligman, 2004Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Character strengths and virtues: a handbook and classification. Washington, DC: American Psychological Association.). Esse resultado é similar aos resultados apresentados por outros estudos (Brdar & Kashdan, 2010; MacDonald et al., 2008Macdonald, Bore, & Munro. (2008). Values in action scale and the Big 5: An empirical indication of structure. Journal of Research in Personality42, 787-799. doi: 10.1016/j.jrp.2007.10.003
https://doi.org/10.1016/j.jrp.2007.10.00...
; Ruch et al., 2010Ruch, W., Proyer, R. T., Harzer, C., Park, N., Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2010). Values in Action Inventory of Strengths (VIA-IS): Adaptation and validation of the German Version and the development of a peer-rating form. Journal of Individual Differences31, 138-149. doi: 10.1027/1614-0001/a000022.
https://doi.org/10.1027/1614-0001/a00002...
; Shryack et al., 2010Shryack, J., Steger, M. F., Krueger, R. F., & Kallie, C. S. (2010). The structure of virtue: An empirical investigation of the dimensionality of the virtues in action inventory of strengths. Personality and Individual Differences48, 714-719. doi: 10.1016/j.paid.2010.01.007
https://doi.org/10.1016/j.paid.2010.01.0...
; Singh & Choubisa, 2010Singh, K., & Choubisa, R. (2010). Empirical validation of values in Action-Inventory of Strengths (VIA-IS) in Indian context. Psychological Studies55, 151-158. doi: 10.1007/s12646-010-0015-4
https://doi.org/10.1007/s12646-010-0015-...
), que também não replicaram a estrutura proposta no modelo original do VIA-IS.

Mesmo as forças extraídas por fator, nos diferentes estudos, não coincidem entre si, ainda que existam soluções com mesmo número de fatores. A Tabela 2 apresenta a comparação das soluções multifatoriais verificadas previamente na literatura, evidenciando a inconsistência entre as soluções multifatoriais encontradas em diversos estudos (Brdar & Kashdan, 2010; MacDonald et al., 2008Macdonald, Bore, & Munro. (2008). Values in action scale and the Big 5: An empirical indication of structure. Journal of Research in Personality42, 787-799. doi: 10.1016/j.jrp.2007.10.003
https://doi.org/10.1016/j.jrp.2007.10.00...
; Ruch et al., 2010Ruch, W., Proyer, R. T., Harzer, C., Park, N., Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2010). Values in Action Inventory of Strengths (VIA-IS): Adaptation and validation of the German Version and the development of a peer-rating form. Journal of Individual Differences31, 138-149. doi: 10.1027/1614-0001/a000022.
https://doi.org/10.1027/1614-0001/a00002...
; Shryack et al., 2010Shryack, J., Steger, M. F., Krueger, R. F., & Kallie, C. S. (2010). The structure of virtue: An empirical investigation of the dimensionality of the virtues in action inventory of strengths. Personality and Individual Differences48, 714-719. doi: 10.1016/j.paid.2010.01.007
https://doi.org/10.1016/j.paid.2010.01.0...
; Singh & Choubisa, 2010Singh, K., & Choubisa, R. (2010). Empirical validation of values in Action-Inventory of Strengths (VIA-IS) in Indian context. Psychological Studies55, 151-158. doi: 10.1007/s12646-010-0015-4
https://doi.org/10.1007/s12646-010-0015-...
). Os resultados do presente estudo também corroboram essas evidências. Isso sugere diferentes interpretações sobre cada fator extraído a depender da cultura em que o instrumento VIA-IS foi aplicado. De fato, mesmo o agrupamento em virtudes, proposto teoricamente no modelo original, não foi confirmado empiricamente pelos autores em análises fatoriais (Peterson & Seligman, 2004Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Character strengths and virtues: a handbook and classification. Washington, DC: American Psychological Association.), sugerindo a necessidade de aprofundar estudos psicométricos do instrumento.

As soluções multifatoriais, neste estudo, apresentaram índices de confiabilidade adequados. No entanto, é preciso levar em conta a presença de diversas forças com cargas cruzadas (i.e., cargas maiores do que 0,40 em mais de um fator) tanto na solução de três fatores (10 forças com cargas cruzadas) quanto na de quatro fatores (nove forças com cargas cruzadas). Além disso, o percentual de variância explicada pelos outros fatores que não o primeiro foi bastante baixo (< 1,0% para todos os outros fatores). Em conjunto, tais resultados parecem indicar a necessidade de reestruturar a divisão multifatorial do instrumento em virtudes.

Tendo em vista os frágeis resultados extraídos a partir das análises paralelas - que encontraram soluções multifatoriais - e a robustez do método de Hull, a solução unifatorial foi apontada, neste estudo, como melhor resultado. Adotar uma solução unifatorial no uso do VIA-IS implica um entendimento de que todas as forças para os indivíduos estão interligadas de tal forma que não seria empiricamente apropriado separá-las em virtudes. Nesse sentido, o instrumento VIA-IS ofereceria um escore global de forças. O fato de as forças de caráter terem surgido de análises teóricas, e não propriamente da extração de fatores de uma escala, pode indicar que o agrupamento sugerido pelos propositores - formando o conceito de virtudes - é frágil e necessita de investigações futuras.

Considerações Finais

Este estudo apresentou o processo de tradução e evidências de validade para utilização do VIA-IS no Brasil. Cabe salientar, contudo, que alguns pontos não foram contemplados nas análises realizadas. Dados sociodemográficos, tais como escolaridade e renda, não foram incluídos pela ausência dessas informações no banco de dados repassado aos autores. Além disso, também não puderam ser verificadas diferenças regionais das forças no contexto brasileiro, o que poderia contribuir para uma compreensão bioecológica das forças de caráter.

A versão brasileira do VIA-IS pode ser um instrumento útil para auxiliar na avaliação de forças de caráter tanto no contexto de pesquisa quanto no contexto clínico. Embora os resultados trazidos pelo instrumento não devam ser interpretados como prescrições de atendimento ou para psicodiagnóstico, a escala é valida para complementar informações sobre potencialidades da pessoa. Em contexto clínico, nenhuma avaliação psicológica para investigar as potencialidades dos indivíduos deve se restringir ao uso de um único instrumento. Nesse contexto, é necessário complementar os dados oferecidos pelo VIA-IS com dados provenientes de outras fontes, como entrevistas clínicas ou outros instrumentos psicológicos validados para uso no Brasil.

Por fim, cabe salientar que as evidências empíricas apontam para o fato de que o VIA-IS oferece um escore válido e confiável de avaliação global de potencialidades dos indivíduos. Aqueles que pretendem utilizar o instrumento para avaliação de forças específicas ou agrupamentos delas devem ter cautela no processo de interpretação dos resultados, visto que soluções multifatoriais para esse instrumento são mais frágeis em termos psicométricos.

Referências

  • Biswas-Diener, R. (2006). From the equator to the north pole: A study of character strengths. Journal of Hapiness Studies7, 293-310. doi: 10.1007/s10902-005-3646-8
    » https://doi.org/10.1007/s10902-005-3646-8
  • Borsa, J. C., Damásio, B. F., & Bandeira, D. R. (2012). ­Adaptação e validação de instrumentos psicológicos entre culturas: Algumas considerações. Paidéia22(53), 423-432. doi: 10.1590/1982-43272253201314
    » https://doi.org/10.1590/1982-43272253201314
  • Brdar, B., & Kashdan, T. (2009). Character strengths and well-being in Croatia: An empirical investigation of structure and correlates. Journal of Research in Personality44(1), 151-154. doi: 10.1016/j.jrp.2009.12.001
    » https://doi.org/10.1016/j.jrp.2009.12.001
  • Cronbach, L. J. (1951). Coefficient alpha and the internal structure of tests. Psychometrika16, 297-334. Recuperado de http://kttm.hoasen.edu.vn/sites/default/files/2011/12/22/cronbach_1951_coefficient_alpha.pdf
    » http://kttm.hoasen.edu.vn/sites/default/files/2011/12/22/cronbach_1951_coefficient_alpha.pdf
  • Dahlsgaard, K., Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2005). Shared virtue: The convergence of valued human strengths across culture and history. Review of General Psychology9(3), 203-213. doi: 10.1037/1089-2680.9.3.203
    » https://doi.org/10.1037/1089-2680.9.3.203
  • Ellsworth, P.C. (1994). Sense, culture, and sensibility. In S. Kitiyama & H. R. Markus (Eds.), Emotion and Culture: Empirical Studies of Mutual Influence (pp. 23-50) Washington, DC: American Psychological Association.
  • Gjersing, L., Caplehorn, J. R. M., & Clausen, T. (2010). Cross-cultural adaptation of research instruments: Language, setting, time and statistical considerations. BMC Medical Research Methodology10, 13. doi:10.1186/1471-2288-10-13
    » https://doi.org/10.1186/1471-2288-10-13
  • Horn, J. L. (1965). A rationale and test for the number of factors in factor analysis. Psychometrika30, 179-185. doi: 10.1007/BF02289447
    » https://doi.org/10.1007/BF02289447
  • Keyes, C. L. M., & Haidt, J. (2003). Flourishing: positive psychology and the life well lived. Washington, DC: American Psychological Association.
  • Lorenzo-Seva, U., & Ferrando, P. J. (2006). FACTOR: A computer program to fit the exploratory factor analysis model. Behavior Research Methods, 38(1), 88-91. doi: 10.3758/BF03192753
    » https://doi.org/10.3758/BF03192753
  • Lorenzo-Seva, U., Timmerman, M. E., & Kiers, H. A. (2011). The hull method for selecting the number of common factors. Multivariate Behavioral Research46(2), 340-364. doi: 10.1080/00273171.2011.564527
    » https://doi.org/10.1080/00273171.2011.564527
  • Macdonald, Bore, & Munro. (2008). Values in action scale and the Big 5: An empirical indication of structure. Journal of Research in Personality42, 787-799. doi: 10.1016/j.jrp.2007.10.003
    » https://doi.org/10.1016/j.jrp.2007.10.003
  • Mislevy, R. J., & Bock, R. D. (1990). BILOG: Item analysis and test scoring with binary logistic models Chicago, IL: Scientific Software.
  • Niemiec, R. M. (2013). VIA Character Strengths: Research and Practice (The First 10 Years). In H. H. Knoop & A. Delle-Fave (Eds.), Well-Being and Cultures (pp. 11-29). New York, NY: Springer.
  • Park, N. (2009). Building strengths of character: Keys to positive youth development. Reclaiming Children and Youth18, 42-47. Recuperado de http://www.fatih.edu.tr/~hugur/kindnes/BUILDING%20STRENGTH%20OF%20CHARACTER.PDF
    » http://www.fatih.edu.tr/~hugur/kindnes/BUILDING%20STRENGTH%20OF%20CHARACTER.PDF
  • Park, N., & Peterson, C. (2006a). Character strengths and happiness among young children: Content analysis of parental descriptions. Journal of Happiness Studies7, 323-341. doi: 10.1007/s10902-005-3648-6
    » https://doi.org/10.1007/s10902-005-3648-6
  • Park, N., & Peterson, C. (2006b). Moral competence and character strengths among adolescents: The development and validation of the Values in Action Inventory of Strengths for Youth. Journal of Adolescence29, 891-905. doi: 10.1016/j.adolescence.2006.04.011
    » https://doi.org/10.1016/j.adolescence.2006.04.011
  • Park, N., & Peterson, C. (2009). Character Strengths: Research and practice. Journal of College and Character10(4), 1-10. doi: 10.2202/1940-1639.1042
    » https://doi.org/10.2202/1940-1639.1042
  • Park, N., & Peterson, C. (2010). Does it matter where we live? The urban psychology of character strengths. American Psychologist65(6), 535-547. doi: 10.1037/a0019621
    » https://doi.org/10.1037/a0019621
  • Park, N., Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Strengths of character and well-being, Journal of Social & Clinical Psychology23, 603-619. doi: 10.1521/jscp.23.5.603.50748
    » https://doi.org/10.1521/jscp.23.5.603.50748
  • Park, N., Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2006). Character strengths in fifty-four nations and the fifty US states. Journal of Positive Psychology1, 118-129. doi:10.1080/17439760600619567
    » https://doi.org/10.1080/17439760600619567
  • Peterson, C. (2006). A primer in positive psychology. New York: Oxford University Press.
  • Peterson, C., & Park, N. (2004). Classification and measurement of character strengths: Implications for practice. In P. A. Linley; & S. Joseph (Eds.), Positive psychology in practice (pp. 433-446). Hoboken, NJ: Wiley.
  • Peterson, C., & Park, N. (2006). Character strengths in organizations. Journal of Organizational Behavior27, 1149-1154. doi: 10.1002/job.398
    » https://doi.org/10.1002/job.398
  • Peterson, G., & Park, N. (2009). Classifying and measuring strengths of character. In S. J. Lopez & G. R. Snyder (Eds.), Oxford handbook of positive psychology, (2nd ed., pp. 25-33). New York, NY: Oxford University Press.
  • Peterson, C. & M.E.P., Seligman (2003). Character strengths before and after September 11. Psychological Science14, 381-384. doi: 10.1111/1467-9280.24482
    » https://doi.org/10.1111/1467-9280.24482
  • Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Character strengths and virtues: a handbook and classification. Washington, DC: American Psychological Association.
  • Seligman, M. E. P., & Csikszentmihalyi, M. (2000). Positive psychology: an introduction. American Psychologist55, 5-14. doi: 10.1037/0003-066X.55.1.5
    » https://doi.org/10.1037/0003-066X.55.1.5
  • Seligman, M., Rashid, T., & Parks, A. C. (2006). Positive Psychotherapy. American Psychologist61, 774-788. doi: 10.1037/0003-066X.61.8.774
    » https://doi.org/10.1037/0003-066X.61.8.774
  • Seligman, M. E. P. (2002). Positive psychology, positive prevention, and positive therapy. In C. R. Snyder & S. J. Lopez (Eds.), Handbook of positive psychology (pp. 3-9). New York, NY: Oxford University Press.
  • Shimai, S., Otake, K., Park, N., Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2006). Convergence of character strengths in american and japanese young adults. Journal of Hapiness Studies7(3), 311-322. doi: 10.1007/s10902-005-3647-7
    » https://doi.org/10.1007/s10902-005-3647-7
  • Shryack, J., Steger, M. F., Krueger, R. F., & Kallie, C. S. (2010). The structure of virtue: An empirical investigation of the dimensionality of the virtues in action inventory of strengths. Personality and Individual Differences48, 714-719. doi: 10.1016/j.paid.2010.01.007
    » https://doi.org/10.1016/j.paid.2010.01.007
  • Singh, K., & Choubisa, R. (2010). Empirical validation of values in Action-Inventory of Strengths (VIA-IS) in Indian context. Psychological Studies55, 151-158. doi: 10.1007/s12646-010-0015-4
    » https://doi.org/10.1007/s12646-010-0015-4
  • Snyder, C. R., & Lopez, S. J. (2009). Psicologia Positiva: Uma abordagem científica e prática das qualidades humanas (R. C. Costa, Trad.). São Paulo, SP: Artmed.
  • Steger, M. F., Hicks, B., Kashdan, T. B., Krueger, R. F., & Bouchard, T. J., Jr. (2007). Genetic and environmental influences on the positive traits of the Values in Action classification, and biometric covariance with normal personality. Journal of Research in Personality41, 524-539. doi: 10.1016/j.jrp.2006.06.002
    » https://doi.org/10.1016/j.jrp.2006.06.002
  • Ruch, W., Proyer, R. T., Harzer, C., Park, N., Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2010). Values in Action Inventory of Strengths (VIA-IS): Adaptation and validation of the German Version and the development of a peer-rating form. Journal of Individual Differences31, 138-149. doi: 10.1027/1614-0001/a000022.
    » https://doi.org/10.1027/1614-0001/a000022.
  • Van Eeden, C., Wissing, M. P., Dreyer, J., Park, N., & Peterson, C. (2008). Validation of the values in action inventory of strengths for youth among South African learners. Journal of Psychology in Africa18, 143-154. doi: 10.1080/14330237.2008.10820181
    » https://doi.org/10.1080/14330237.2008.10820181

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Dec 2015

Histórico

  • Recebido
    04 Mar 2014
  • Revisado
    24 Nov 2014
  • Aceito
    11 Fev 2015
Universidade de São Francisco, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia R. Waldemar César da Silveira, 105, Vl. Cura D'Ars (SWIFT), Campinas - São Paulo, CEP 13045-510, Telefone: (19)3779-3771 - Campinas - SP - Brazil
E-mail: revistapsico@usf.edu.br